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DEAD BEES ON A CAKE - DAVID SYLVIAN
Chique. David Sylvian faz parte daquela geração que cultuou Roxy Music. Ingleses nascidos entre 1958-1970, gente que viu o Roxy surgir quando tinham 14, 16 anos, ou que viram seus herdeiros estourar nas paradas quando tinham 9, 10 anos de idade. Sylvian formou a banda Japan em 1976, aos 16 anos e em 1978 lançaram seu primeiro disco. Em meio a dezenas de grupos que seguiam a trilha Roxy, o Japan era o mais xerox de todos. O melhor de então era o Ultravox. Melhoraram com o tempo e em 1981 lançam seu melhor disco e encerram carreira. Sylvian passa a ter uma das mais interessantes carreiras solo da Inglaterra, trabalhando com Robert Fripp e Ryuchi Sakamoto. Seu alvo deixa de ser o Roxy Music e passa a ser Brian Eno. -------------------- Este disco, de 1999, é de uma elegância fria e melancólica hipnotizante. Não é POP, mas não chega a ser hermético. O som é nú, Sylvian expõe o esqueleto do som, é angular, espaçado, lânguido. Todas as faixas poderiam ser gravadas por Bryan Ferry solo, Bryan, lógico, faria delas algo mais encorpado e balançante, mas o tipo de canção é a mesma. Sylvian tem classe, é um tipo de cantor POP muito fora de moda em 2023, pois ele ama a beleza, o chique, a coisa refinada ao máximo. Ouvir este disco, que nada tem de saudoso, o som é todo século XXI, é lembrar algo perdido, uma espécie de apreço, de gosto por aquilo que vale mais, que é superior. ------------- Hoje somos obrigados a falar que amamos o comum e o vulgar. --------------------- Observe o modo como todo o disco é mixado. Ele não facilita, nos obriga à estranheza, mas nunca é o original desequilibrado, sujo, é a originalidade da beleza. O espírito de Sylvian é aquele da poesia simbolista, a Torre de Marfim, o artista que não advoga da vida vulgar, o esteta. É fascinante este disco.
THIS IS HARDCORE - PULP
Pulp é, em meio a onda do Britpop, a mais adulta entre seus pares. E isso faz com que Pulp seja, sim, sem dúvida alguma, muito melhor que Oasis, Blur, Suede ou Stone Roses. Jarvis Cocker é um intelectual refinado se colocado ao lado de Noel, Damon, Ian ou Brett. This Is Hardcore, de 1998, é seu último grande disco e como ser inteligente que é, Cocker percebeu sua maturação e fala por toda a obra de finais, despedidas, desvanecimentos, apagamentos e sumiços. A banda, mega competente, que sempre foi witty ( esperta e alegre ), é aqui melancólica. Mas sem jamais perder a elegância. ---------------- Cocker sempre teve uma queda pelo POP francês e esse é seu diferencial. Faz anos que ele vive em Paris e já lançou disco solo com canções francesas. Isso tempera sua alma. Enquanto os Gallagher sonhavam com Lennon, e Albarn pensava em Marc Bolan, Jarvis seguia Serge Gainsbourg e Jacques Dutronc. Para um inglês, isso faz toda diferença. Como Yeats e Shelley, há nele um forte cheiro de vinho e de Camembert. Neste disco, belíssimo, ele derrama todo seu romantismo sem pieguice, um romantismo irônico, inteligente, que mais que Bowie, remete à Bryan Ferry e John Cale. Vejo que o album teve a produção de Chris Thomas, o cara que produziu os melhores discos do Roxy Music e de Pretenders. Entenda...não falo que Pulp lembre Roxy, não lembra, mas é o mesmo espírito. Voce ouve este disco do mesmo modo como ouve Siren ou For Your Pleasure: com uma taça de champagne e uma lembrança diáfana na cabeça. ------------------------ Há no Oasis uma vulgaridade de operários de Manchester que às vezes enjoa. Há no Blur uma sombra juvenil que não cessa. O Stone Roses é, para mim, uma banda comum hiper valorizada. E o Suede escorre vaidade insuportável em cada acorde copiado do pior do glam rock. O Pulp, ao lado deles, parece maduro, chique, consciente, no tom exato. Tem suas influências, mas as usa com sabedoria. Junta tudo mas deixa, acima de todo som, a voz de Cocker brilhar, uma voz que casa perfeitamente com aquilo que se diz. Os arranjos são ricos, quase sinfônicos. A impressão geral é de estarmos diante de algo invulgar: um desses discos que ficam, que permancecem. Passados 25 anos ele ainda impressiona. Muito. Ouça. E não esqueça de suas feridas.
RAMONES, ROXY MUSIC, KEITH RICHARDS E OUTRAS COISAS. DROGAS INCLUSIVE.
Ouvindo os 3 primeiros discos dos Ramones. É incrível o fato de que até hoje eles influenciam, ou são copiados. É o rock mais primário possível, não há como ser mais simples e esse é o segredo. Depois dos Ramones sempre que voce pegar uma guitarra a tentação de soar como eles será grande. Porque é fácil de tocar e divertido de fazer. O primeiro disco é tão influente como é Velvet Undergorund and Nico. Na época zombavam deles. Entenda, em 1976 a norma era solos de bateria de meia hora. Exibição de técnica. Sex appeal explícito. Os Ramones eram amadores, não sabiam tocar, era isso que se dizia. "Como alguém grava algo tão amador"? A gente ouve e percebe que aquilo é The Stooges mais acelerado com imensas doses de rock dos anos 50. Os Ramones criaram um estilo. Imitado ao extremo. Inclusive no visual, não há capa de disco mais cool que a do primeiro disco. O "erro" deles foi terem durado demais. Tivessem acabado em 1980 seriam tão chique e míticos como Velvet e Stooges. O que acho do disco? É perfeito. Uma festa teen movida a amores frustrados, muita adrenalina e uma simplicidade comovente. -------------- Roxy Music faz excursão em comemoração aos 50 anos da banda. 1972 teve o lançamento de sua primeira obra prima. Voce deve achar que vou cantar loas ao Roxy né? Pois não vou. O show é triste de doer. É quase como ver Elvis no fim. O que era ousadia feliz morreu faz muito tempo ( em 1976 ), e o luxo chique dos anos 80 e 90 se tornou cansaço entediado. Bryan Ferry não passa convicção nenhuma. É burocrático. A voz acabou. A banda é ótima, mas até a banda de Robbie Willians é ótima. Pior é o público. Gente de 70 anos lembrando da música de seu casamento. Nada é mais triste que ver uma banda moderna se tornar karaokê. É o destino de 90% das bandas que um dia foram modernas: perder o tesão e virar uma caricatura de si mesmos. A sensação é de ver um bando de senhores imitando o Roxy Music. As cenas antigas nos telões deixam a coisa ainda mais esquisita. --------------- Os Ramones não passaram por isso. Nunca pareceram tristes. Por amar o Roxy eu sinto pena. O único que parece vivo é Phil Manzanera, o guitarrista soberbo e extra cool. As backing vocals são puro Elvis 1975. Well...o sonho de Bryan sempre foi ser Elvis. --------------------- Keith, o auto destruidor de sua própria lenda, falou bobagens de novo. Numa entrevista ele disse não ver nada de muito bom em Bowie, Prince, Led Zeppelin, Oasis, Metallica e Black Sabbath. A reação de quem odeia os Stones ( são muitos ) foi gigantesca. A mais leve diz que ele é o Ringo Starr da guitarra, um músico ok que teve sorte de estar numa banda famosa. ( Injusto. Keith é metade dos Stones, ele compõe, Ringo era menos que 25% dos Beatles ). De qualquer modo a verdade é que Keith é a muito tempo uma caricatura de si mesmo. Insiste em elogiar apenas reggae e blues antigo. Sua criatividade e curiosidade, enterradas sobre toneladas de drogas, deixaram de existir desde 1972. Keith Richards sem drogas teria criado arte magnífica nos últimos 50 anos. Mas ele meio que morreu. Desvalorizar Bowie, Prince ( como pode alguém desvalorizar Prince? Ele é inatacável caramba ), Led Zeppelin, soa a inveja. Imaginar Keith ouvindo Sabbath e Metallica é meio cômico. Os Stones perderam a chance de ter acabado em 1981. A excursão do disco Tattoo You é um marco. Depois foi ladeira abaixo. ----------------------------- Saber envelhecer é dificil, é doloroso e imagino que a adulação dos fãs torna isso ainda pior. Bryan Ferry, na carreira solo, envelhece bem, mas o Roxy hoje é um embuste, a banda foi tão especial que não pode ser revivida. Keith nunca soube envelhecer. Ele é um ser em formol. E os Ramones? Tiveram sorte de certo modo. Jamais foram estrelas, muito menos sex symbols. Optaram por jamais mudar e desse modo a cobrança era nenhuma. Modestos. Simples. Sem expectativas. Nesse ponto posso dizer: isso se chama sabedoria.
OS NEW ROMANTIC E SUA OBRA PRIMA: AVALON, DISCO DO ROXY MUSIC DE 1982.
Toda ação tem sua reação, e em 1981 a Inglaterra, para reagir ao pessimismo violento dos punks, criou o new romantic ( mas não só ele ). Politicamente conservadores, fantasiosos e em eterno estado de festa, eles colocavam o estilo acima da substância. John Taylor, o excelente baixista do Duran Duran, dizia que suas calças eram muito mais importantes no palco que o modo como ele tocava. ( E eu, crescido nesse meio, ainda fico chocado com calças sem estilo num palco de rock ). Na realidade o que eles eram: fãs do Bowie pós 1974, de Marc Bolan e de Bryan Ferry. Misturaram o som dos três com beats disco music e climas Kraftwerk e voilá! Eis o new romantic. -------------- Visage com The Anvil e Ultravox com Vienna talvez sejam os mais representativos discos do movimento. Ambos são ótimos, mas Avalon, do Roxy, é a obra prima da coisa toda. Único caso em que a influência produziu algo mais moderno que a própria cria. Isso porque Ferry e seus amigos entenderam que o new romantic almejava ser Young Americans e não Low. Avalon é soul music branca, funk gelado, modernismo contido, e acima de tudo é luxo explícito. É o chique assumido no rock. É o pico do estilo. E nos anos 80, é a cartilha de tudo de classudo feito após 1982. ------------ É um disco, então tudo isso está no som e não numa calça. Lembro quando o escutei pela primeira vez. Senti algo novo alí e a novidade não era a invenção, não era um novo tipo de composição, a novidade era o estilo. Belas canções pop embaladas em seda. E a seda era a mixagem. Rhett Davies e Bob Clearmountain, cada um em seu campo. Rhett vindo da escola Fripp e Eno de som, ou seja, teclados embrulhando guitarras, gelo nos amplificadores, e Bob vindo do sucesso da mixagem da bateria de Start me Up dos Stones. Bob mixaria, por toda década, todo disco com som de bateria no talo, Born in The USA é obra dele também. --------------- Avalon é isso: um emaranhado de percussão e bateria, sutil, volumoso, angular, com um contra baixo que rege o todo. Na época eu nunca escutara baixo e bateria tão bem mixados. Acho que ainda não ouvi. A guitarra, o sax, a voz, o teclado, existem em função do baixo, rodeiam sua linha, nunca comandam. E do que fala Avalon? Amor e só amor. Punks não falam dele. Punks odeiam ( era o que se dizia ). Os new romantics amam. Tudo se resume a um casal. O resto é distração. ------------- To Turn me On exemplifica o disco inteiro. Eis o baixo à la Chic- Bernard Edwards ( o baixo aqui é Alan Spenner ). A voz de Ferry em seu auge e um solo de Manzanera que não pode ser melhorado. Acordes de um grande piano que é imenso e a volta do baixo que pontua e dialoga. Obra prima. -------------- Lembro de a escutar no carro, madrugada de chuva, novembro de 1984, apaixonado......não há como ser mais feliz que isso. O final da canção brilha como miragem inalcansável. O cume do estilo. ---------------- Ouvir Avalon em 2021 é estranho. Ele está tão distante de nosso mundo atual como Mozart está. Fala de uma sensibilidade e de valores perdidos. Hoje o estilo se chama escândalo e a sensibilidade é a do histerismo. Falo como velho? Eu o sou baby. Sou do tempo de Avalon. Tenho uns 97 anos de idade...
OS INGLESES SÃO POBRES E A MEMÓRIA NÃO MORRE
A geração inglesa que hoje tem entre 70-80 anos conheceu a fome em seus primeiros anos de vida. Eles têm memória da ração em lata ( spam ), do um ovo por semana, do leite em pó. Memórias felizes de quarteirões derrubados, espaços livres, vida na rua e centenas de milhares de crianças ( era o baby boom pós guerra ). Cresceram nas ruínas da guerra e jamais esquecem isso. Apaixonados pela comida farta da América, seus carros imensos, as casas grandes, a confiança na vida. O sol. Portanto, quando voce analisar um rock n roll star inglês dessa geração, tenha sempre isso em mente, ele foi pobre, muito pobre. E portanto, seu maior medo, eterno, é não só passar necessidade, como ver um dos seus em apuros. Eles festejam poder ter uma casa imensa, vários carros, mulheres ricas, joias e comida, muita comida. -------------- E apesar da boa educação da Inglaterra de então, são ex-suburbanos, ex-famintos, ex-moleques da rua. Para entender o que é sua história, tenha essa certeza: sua carreira é uma luta contra a carência. ---------------- Nenhum rock star inglês é realmente chique. Mesmo Bryan Ferry e David Bowie, os ícones do glamour, possuem uma breguice extrema. Ferry exagera tanto no chique, no ar de aristocrata, que trai sua insegurança. E Bowie sempre teve, principalmente em seus melhores momentos, algo do rapaz deslumbrado pela vida na cidade grande. Ele era exibicionista. Nada menos chique que isso. Isso que falo explica gente como Mick Jagger, que simplesmente não consegue parar de fazer dinheiro, que mesmo com tanto nos cofres ainda mantém um jeito brega de vestir e de ser. Não preciso falar de Elton John, Rod Stewart, Ozzy, Robert Plant, Ian Gillan e todo o resto. O próprio rock progressivo é uma tentativa de parecer culto e superior, atitude só prezada por quem se sente caipira e acossado por snobs. O rock inglês é filho de moleques famintos, crianças que ficaram ricas mais tarde. Nos EUA a história é completamente diferente. Toda esta minha conversa não faz sentido lá. -------------- O piano brega de Paul MacCartney, com um pano cheio de cores, é a lembrança do jovem faminto que ele foi. Assim como a carreira de Rod Stewart pós 1975, toda voltada para fazer dinheiro e ganhar mulheres. Mas não só eles. É brega Van Morrison com suas roupas ridículas, Pete Townshend e sua insegurança social, Ray Davies tentando parecer um dandy de 1910. Todos seguiram o mesmo caminho: um começo sincero e soberbo, confessional, ainda dentro do mundo duro e pobre da juventude inglesa de então, mas depois, quando a grana começa a chegar aos quilos e quilos, o desejo de não mais voltar a ser pobre toma conta e ser rico se torna mais importante que ser autêntico. -------------- Nada há aqui que os desabone. Eu sou como eles são. São humanos. Estão longe da estranha desumanidade mimada dos stars de 2021. -------------------- Há neles o orgulho de quem venceu. E isso é o mais importante. Em todos há o espírito do "VEJA MÃE! OLHA ONDE ESTOU!" Jeff Beck compra dúzias de carros antigos, aqueles que ele sonhava aos 12 anos e Jimmy Page mora em castelos, os que ele via no cinema e sonhava em morar. Não há muito espaço para compor um novo Immigrant Song quando seus dias são dedicados a usufruir seu novo status. ----------------- Rod Stewart foi um dos mais pobres, e por isso, seu deslumbre foi o maior. Quando se viu rico ele mergulhou na farra. O gênio, sim gênio, de seus primeiros discos morreu. Saiba que entre 1970-1974 era ele o artista mais nobre da ilha ( não, não era Bowie ). Pego aqui um CD do cara: GREAT ROCK CLASSICS OF OUR TIME. O Rod dos insuportáveis AMERICAN SONGBOOKS, caso voce não saiba ele vendeu toneladas da série de CDs que revivem as cançõea americanas clássicas, coisas que Sinatra e Fred Astaire cantavam. Esses Cds são de uma breguice soberba. Música para quem quer ser chique e não consegue ouvir os originais. Pois bem, aqui ele faz o mesmo com alguns rocks e pops. Um disco para vender mais alguns milhões. --------------------- Rod é o melhor cantor cover da história. Ao contrário de Bryan Ferry, outro cantor famoso por gravar covers, Rod não muda as canções radicalmente. Ferry as torna canções de Bryan Ferry, todas ficam parecendo composições dele mesmo. Rod não, ele canta dentro do formato imaginado pelo compositor. O diferencial é que ele canta sempre muito melhor que qualquer um. Por isso ele é o melhor intérprete de Bob Dylan da história. Ele dá à Dylan aquilo que Bob não tem: poder vocal para falar tudo que a canção pode dizer. IF NOT FOR YOU é o Dylan deste CD. Simples, alegre, confiante. Se com Dylan era ela uma linda canção, com Rod ela é perfeita. OH ROD!!!!! QUanta coisa maravilhosa voce não poderia ter feito!!!!! ---------------- O disco abre com Have you ever seen the rain, e não dá pra ser melhor que John Fogerty. Nem precisava ter gravado essa. Mas a gente sempre imaginou como seria Rod cantando Creedence, então okay. Depois vêm dois pontos baixos: Elvin Bishop e Chrissie Hynde. Fooled Around de Bishop é só uma cançãozinha boba, e I'll stand by you é daquelas coisas pavorosas que Chrissie fez depois que virou vegetariana e militante do bem. A Chrissie punk morreu em 1981. ------------------ Bob Seger é cantado com Still The Same, um linda canção e apesar de Bob ser um grande vocal, Rod a melhora. Profissional. Rod está ganhando dólares com dignidade. Mas às vezes não....cantar Its a Heartache, a horrenda música de Bonnie Tyler beira o apelativo. Rod canta uma peça de uma imitadora dele mesmo! Pra que? Por Caipirice.--------------- Day After Day é um dos amores da minha vida. Rod canta exatamente como na versão original. Não há um acorde diferente. A canção é uma obra prima, Rod a repete. Bem....em 1975 Rod Stewart nos deixou às lágrimas com uma versão mágica de First Cut is The Deepest, de Cat Stevens. Tantos anos depois ele revisita Stevens e canta Father and Son. Não é nem sobra do cantor de então, mas a composição de Cat é também menos genial. Então temos os Eagles e Best of My Love. Alguém disse que Rod canta com uma sedução maravilhosa, não houve cantor mais sedutor para as mulheres, sua voz as leva à cama. Aqui temos um cara que aos 70 anos ainda dá seus botes. E então vem If Not For You e a verdade se revela. É a única faixa onde Rod é ele mesmo. Um simples e ingênuo cantor. Vale todo o resto. ---------------- Não vou ouvir Love Hurts. Gram Parsons a gravou do modo perfeito e o Nazareth a destruiu para sempre. --------------- Na minha infância e adolescência, já disse isso, fomos educados a sofrer por amor. Os grandes sucessos, 80% deles, eram músicas feitas para chorar. Everything I Own é uma linda canção da mais chorosa das bandas, Bread. É uma canção tão linda que é impossível a estragar. Até Boy George ganhou dinheiro com ela. Rod nos dá um presente. ( Fico ainda mais tocado ao saber que a letra não é sobre uma mulher que deu tudo ao homem, é sobre o pai do autor, que havia morrido sem ver seu sucesso. David Gates, o compositor, agradece por tudo que o pai lhe deu ). Para fechar do CD, o óbvio: Van Morrison e mais uma de suas canções de motel. ----------------- A seleção diz muito sobre quem Rod é. Simples e direto. E fala mais sobre o que ele faz desde 1975: Produtos que vendem muito. Mas as faixas sobre Dylan, Bob Seger e o Bread mostram que ainda há um sopro de magia nele. E eu amo esse cara.
O DIA EM QUE NICK CAVE ENCONTROU SEU ÍDOLO
Ele teve a chance de visitar seu ídolo. Na casa do cantor, do compositor que ele admirava desde tanto. Entrou então na casa branca, imensa, decorada numa mistura de simplicidade clean e toque de luxo dos anos de 1930. Quem o levou fora sua amiga, uma fotógrafa que conhecia a atual esposa do ídolo. Será que ele não veria o homem? A casa parecia vazia. Silencio vindo de toda sala que ele ousava olhar. ------------ A amiga sumira com a esposa do ídolo. Foram ver alguma coisa no jardim lateral. Sozinho, ele sentiu que aquela casa parecia não ter alma. Sentiu medo. Então, como fazia sol, um dos raros dias de sol no sul da Inglaterra, ele saiu da casa e andou pela quadra de tênis. Foi então que ele percebeu o ídolo. O homem estava só, cabisbaixo, olhando a água da piscina que havia ao lado da quadra de grama. Sentiu-se tímido. Ia embora quieta quando o ídolo o notou e acenou para ele. Se cumprimentaram e se sentaram. Sem falar nada. Um longo momento de ausência. Então o ídolo falou a ele uma frase que ele jamais iria esquecer: " Bonito não é? Esta casa, esta piscina, este lugar....Faz dez anos, dez anos que não consigo compor uma única canção....é o preço, o preço não é? ". -------------- Ele foi embora sentindo que nunca percebera com tanta nitidez a tragédia de chegar ao topo e lá encontrar a impotência. ( Não costumo fazer isto, mas este é meu modo de descrever um encontro, real, que houve entre Nick Cave e Bryan Ferry, na casa de Ferry. Li sobre isto e a frase de Ferry foi essa, e Nick é quem contou esse encontro. ) Substitua o nome de Bryan por Mick, Rod ou quem voce quiser. Não há maior musa que a necessidade.
A BELEZA SALVARÁ O MUNDO....CONSIDERAÇÕES SOBRE DOIS FILMES QUE TENTAM SER BELOS
Me admira o fato de como a esquerda vive em um mundo completamente diferente do meu. Então, se voce for de esquerda, provavelmente voce não sabe que uma das frases mais amadas pela direita, e que virou mania na rede, é aquela que diz : NADA É MAIS REVOLUCIONÁRIO NO MUNDO DE HOJE QUE A BELEZA. Claro que como esquerdista voce deverá perguntar: DEFINA BELEZA. Nossa resposta é simples: SUA PERGUNTA É FEIA. O fato de voce precisar que alguém te explique o que é belo prova que desse assunto voce nada sabe. Touché! --------------------------- A quantidade de gente hoje, no meio do cinema, que diz amar os filmes de Michael Powell serve apenas para o desvalorizar. É muito provável que o amem pelo motivo errado. Ou pior, digam que sentem amor quando na verdade querem apenas provar ter raízes cinematográficas. Scorsese o amou muito antes da moda. Nos anos 70 ninguém lembrava de Powell porque politicamente ele é direitista. Mas Martin já entendia que a beleza é o bem supremo. O americano nunca mais deixou de crer nisso. Powell felizmente morreu velho. Houve tempo de ganhar homenagens. E se casou com a montadora de Scorsese, a multi premiada Thelma Schoomaker. ( Se escrevi errado é porque voce sabe quem ela é ). ------------------- Rubens Ewald Filho odiava Powell. Ele dizia que o inglês era brega, datado e risível. Sempre gostei do anti intelectualismo de Rubens, ele gostava de filmes por serem bons e apenas por isso. Mas nessa ele nada entendeu. Powell é acima de tudo bonito e logo em seguida divertido. ------------------------ Ontem revi CONTOS DE HOFFMAN, pela quarta vez. Quando o asssiti pela primeira vez, uns dez anos atrás, dormi no meio da exibição. Na segunda tentativa gostei muito e na terceira me emocionei. Ontem pensei no ROXY MUSIC. ------------------------- Roxy Music é uma banda inglesa de rock progressivo e pop. Em seus melhores discos voce nunca sabe se eles estão falando a sério ou se estão brincando. O alvo deles é sempre a beleza, e, como todo homem que entende o que o belo seja, eles jogam ao lixo o pudor e o bom gosto. Bryan Ferry e seus asseclas não temem ser brega. Eles sabem que a beleza moldada em bom tom nunca é totalmente convincente. Se é para chorar, o Roxy derrama rios de dor, e se é pra ser chique, eles misturam tuxedos com purpurina. Os clips de Ferry nos anos 80 e 90 são incrivelmente lindos. E soberbamente bregas. Auto confiança. Ferry é formado em artes plásticas, ele conhece Klimt. --------------------- CONTOS DE HOFFMAN é o maior clip de Bryan Ferry já feito e é a mais bela capa do Roxy Music imaginada. Powell e seu camarada, Pressburger, sempre em dupla, Powell dirigia, Pressburger produzia, os dois escreviam, usam as duas formas de arte mais demodé do século XX: Opera e ballet clássico, e ousam fazer um filme que é um desfile gay de afetação e breguice explícita. É lindo, e por isso é profundamente revolucionário. ------------------------ Scorsese ousou dizer, mais de uma vez, que entre 1942-1952, Powell e Pressburger fizeram a sequência de filmes mais ousada de TODA A HISTÓRIA DO CINEMA. Nem Bergman em 1954-1968 ou Godard em 1959-1967 foram tão longe. Porque isso? ---------------------------- Nessa sequência de filmes não há duas obras que se pareçam. Eles vão de contos das mil e uma noites à romance espiritualista, filme sobre religião e fé e filme sobre o sentido da arte, filme sobre guerra e filme sobre viagem interior. Todos os gêneros, todos os estilos, mas sempre dentro do mundo criado pelos dois, Powell e Pressburger ( assinavam The Archers ): Beleza e fantasia, nobreza e sonho. ------------------------------- CONTOS DE HOFFMAN não hestia em usar pérolas penduradas em óculos cor de rosa, batom e lamê, sedas e veludos às toneladas, penteados esquisitos, vapores e cores berrantes, efeitos sonhadores. É uma busca de beleza epifânica sem trégua. A flecha viaja e o alvo a espera. ------------------- THomas Beecham, talvez o maior maestro da história inglesa rege Jacques Offenbach. Hoffman é uma opereta, e o fato de Powell não ter optado pelos mais "finos" Mozart ou Verdi diz muito sobre sua arte. Ele busca a imagem cinematográfica. Não importa onde. --------------------------- A música é bela, às vezes divina, mas jamais complexa. È o pop do seculo XIX. A fotografia, technicolor farto e generoso, é de Christopher Challis. Moira Shearer dança, Ashton faz a coreografia, Ludmila Tcherina tem uma beleza imorredoura. -------------------- Eu não gosto de ballet clássico e ainda não aceito a ópera, e mesmo assim amo este filme. Porque ele não faz sentido. Não é elegante. Não exibe filosofices. É apenas e tão somente bonito. E é dos poucos filmes que realmente atingem o mundo onírico. É um vasto sonho. E sonhos meu bebê, são bregas. --------------------------------- Depois, com insonia, assisti FANTASIA, o de 1940. Como já esperava, Paul Dukas, Mickey e o Aprendiz de Feiticeiro são a melhor coisa. Stravinsky quase chega lá. E Beethoven é assassinado. A Sexta Sinfonia com unicórnios coloridos, arco íris, crianças com bundinhas de fora, centauros atléticos e centaurinhas de 13 anos, a natureza escorrendo mel e a bondade fake mandando nesse mundo de algodão doce? Deus meu! Eis o mundo PC de 2021 em 1940 !!!!! Quase vomito vendo tamanha bobagem. Pobre Beethoven....
1984
Este foi meu primeiro ano na faculdade. E foi o ano mais "bonito" da minha vida. Eu era esnobe. Muito esnobe.
Me achava o cara mais especial do mundo. E percebo agora que meu radar sempre foi muito forte. ( Mais esnobismo ? )
Pois se eu fui tão esnobe, devo dizer que 1984 foi um ano esnobe em geral. Basta dizer que todo mundo naquela faculdade
se via como artista. Eram dúzias de artistas plásticos, de video makers ( era a coisa mais IN da época ), líderes de
bandas, modelos, fotógrafos, futuros gênios da propaganda. O Brasil era bem isolado do mundo então, e 1984 foi nosso
1968 atrasado. Um desbunde. Quem era new wave usava roxo e rosa, quem era dark usava preto e maquiagem, quem pegava
onda vestia calça limão e blusa da Sundek. Se dava bandeira, se ostentava uniforme da tribo.
Foi nesse ano que criei meu conceito de Roxy. Eu virei maníaco pelo Roxy Music e tudo que eu gostava tinha de ser Roxy.
Música Roxy, meninas Roxy, filmes Roxy. Embora as sombras dessa bobagem juvenil me acompanhem até hoje, 1984 foi o
único ano Roxy em minha vida. Não houve tempo em que eu tenha escrito tanto, e relendo tudo agora, levo um susto:
quem era aquele eu tão afetado?
Em 1984 explodiram Madonna e Michael Jackson. Foi ano do Purple Rain do Prince e da trilha de Ghost Busters. O cinema
tinha sucesso sobre sucesso: Dirty Dancing, Máquina Mortífera, Mad Max 2, Entre Dois Amores, Amadeus, Paris Texas.
As coisas rolavam depressa. Duran Duran já era brega. Police não existia mais. Human League parecia passado. Nesse
ano comprei o Low do Bowie e me apaixonei pelo Transformer do Lou Reed. Eu comprava cerca de 8 LPs por semana. A
maioria de bandas recém nascidas. 90% das quais ninguém mais lembra. Mas o meu disco do ano foi Avalon, do Roxy Music,
disco de 1982 na verdade.
Domingos, no fim da tarde, tinha o programa New Beat,apresentado por Kid Vinil e Fernando Naporano. Só novidades de
Londres. Foi onde ouvi Steve Strange e Orange Juice. Era um mundo bastante gay, mesmo sendo hetero, a gente gostava
de viver entre dois mundos.
Tive uma paixão em novembro desse ano que destruiu toda fantasia. O mundo real veio me buscar em 1985.
Mas como disse, 84 foi bonito. Para todos nós.
GNARLS BARKLEY - ST. ELSEWHERE
Cee Lo tem uma voz maravilhosa. Ele não canta soul, ele é puro gospel. Danger Mouse é veloz. Seu ritmo é
acelerado e os timbres procuram a originalidade. O que mais me enjoa na música eletrônica são seus timbres.
Acho um crime ver gente lidando com aparelhagem que possibilita milhôes de timbres, usarem sempre o mesmo velho
som padronizado. 99% dos discos que usam sons digitais possuem uma espécie de sonoridade que nunca muda. O 1%
restante eu adoro. Danger Mouse busca sons diferentes. Mistura graves e agudos, tons atonais e acelerações súbitas,
e a voz de Cee Lo combina maravilhosamente. O disco foi sucesso imenso em 2009. Merecido.
Fui formado na escola Brian Eno. E Eno, no tempo em que ele era Eno, buscava de forma obssessiva o tom exato, úncio,
perfeito. Eno brincava com sons. Seu synth no Roxy parecia um pernilongo psicótico. Produzindo o Devo, ele lhes
dava um estranho som de brinquedo. O Ultravox era luxuoso, sons de violinos de vidro. Nos Talking Heads ele botou
sons elétricos usado de forma percussiva. E em seu trabalho solo ele nunca parou de tentar soar como ele mesmo.
Eno em nada se parecia com Kraftwerk. Que nada tinha de Giorgio Moroder, que em nada lembrava Gary Numan ou Jarre.
Então com o U2 Eno se acomodou no timbre "ventania". Estagnou.
Danger Mouse não usa nenhum desses timbres citados. Ele não tenta parecer vintage. Assume o som digital de 2009.
Muita gente hoje tenta soar analógico. Como muita guitarra tenta parecer valvulada. Não enganam. Muito melhor explorar
o limite do som digital. Não há nada pior que grupo de teens tentando lembrar o Depeche Mode.
VOCÊ É AQUILO QUE VOCÊ LÊ, OU PORQUÊ EM 1975 A MELHOR COISA DO ROCK NÃO ERA PATTI SMITH MAS FAZIA DE CONTA QUE ERA.
Ana Maria Bahiana. José Emilio Rondeau. Pepe Escobar. E Zeca Jagger ( Ezequiel Neves ). Zeca era o melhor. E eu amava o cara. Mas, Jeca que eu era, algo em mim, inseguro pra caramba, queria ser alta classe-intelectual. Então os outros críticos me diziam: O rock tá um lixo e só Patti Smith conta. Patti e Bruce. Mas muito mais Patti. Nos anos seguintes eles diriam que o Clash era a maior banda da história do rock e que Stones, Led, Dylan estava mortos e esquecidos. Bem....eu acreditei neles. Eu queria ser chique. Então me obrigava a escutar o que eles achavam relevante: Talking Heads. Gang of Four. Elvis Costello. Clash Clash e Clash.
Zeca elogiava esses caras. Mas ele dizia, só ele, que os Stones estavam vivos e bem. Lendo os críticos cabeça, eu achava que o Led vendia uns 2000 discos e olhe lá. E que as paradas eram dominadas pelo Joy Division e Bow Wow Wow. Minha cabeça tava feita. Muito bem formatada.
Bem mais tarde eu me informei melhor e vi que entre 1975 e 1980 o que mais vendia na Inglaterra era Queen e Iron Maiden, Dire Straits e bandas de ska. Elton John e das mais novas, The Police. Tudo o que eles mais desprezavam. E diziam, forçando a barra, que estavam no gelo, esquecidas. Estranhei quando em 1981 fui no Morumbi e vi 100 mil pessoas delirando com Freddie Mercury. Mas, eles tinha a resposta pronta: só no Brasil atrasado o Queen enchia estádio. Deus, quanta mentira! No Rock in Rio falaram que só aqui Iron e AC DC existiam. É 2020 e eles ainda lotam arenas. Já Nina Hagen e B 52s...por onde andarão?
Fui enganado. Muita gente foi. Nos tempos pré internet, um jornalista era a lei. E se ele queria nos fazer crer que Bob Dylan já era ( em 1978 ), a gente engolia como fato. Elton John tava esquecido pelos fãs e relevante era Boy George. Pois é...
Escrevo isso após ouvir de novo Toys in The Attic e dizer aqui e agora, sem vergonha nenhuma, que em 1975 o Aerosmith tinha lançado um disco perfeito. Toys não tem uma só faixa menos que ótima e em 2020 continua a ser um sincero convite à alegria, ao sexo e a sacanagem geral. Como diria Zeca, é descaralhante. Os críticos metidos nem se deram ao trabalho de ouvir. Estavam desvendando Van der Graaf Generator e Warren Zevon. Enquanto isso Joe Perry detonava riffs perfeitos e Tyler esburacava mentes e cinturas. E vendiam toneladas. Em 1975 era Aerosmith nos USA e Queen nos UK. Mas fazia de conta que não.
O tempo mostra a verdade. 45 anos depois você sabe de quem o mundo lembra.
PS: a melhor banda de 1975 era o Roxy Music. Os tais críticos nunca falaram do Roxy. Zeca sim. Uma crítica dele no Jornal da Tarde mudou minha vida.
Zeca elogiava esses caras. Mas ele dizia, só ele, que os Stones estavam vivos e bem. Lendo os críticos cabeça, eu achava que o Led vendia uns 2000 discos e olhe lá. E que as paradas eram dominadas pelo Joy Division e Bow Wow Wow. Minha cabeça tava feita. Muito bem formatada.
Bem mais tarde eu me informei melhor e vi que entre 1975 e 1980 o que mais vendia na Inglaterra era Queen e Iron Maiden, Dire Straits e bandas de ska. Elton John e das mais novas, The Police. Tudo o que eles mais desprezavam. E diziam, forçando a barra, que estavam no gelo, esquecidas. Estranhei quando em 1981 fui no Morumbi e vi 100 mil pessoas delirando com Freddie Mercury. Mas, eles tinha a resposta pronta: só no Brasil atrasado o Queen enchia estádio. Deus, quanta mentira! No Rock in Rio falaram que só aqui Iron e AC DC existiam. É 2020 e eles ainda lotam arenas. Já Nina Hagen e B 52s...por onde andarão?
Fui enganado. Muita gente foi. Nos tempos pré internet, um jornalista era a lei. E se ele queria nos fazer crer que Bob Dylan já era ( em 1978 ), a gente engolia como fato. Elton John tava esquecido pelos fãs e relevante era Boy George. Pois é...
Escrevo isso após ouvir de novo Toys in The Attic e dizer aqui e agora, sem vergonha nenhuma, que em 1975 o Aerosmith tinha lançado um disco perfeito. Toys não tem uma só faixa menos que ótima e em 2020 continua a ser um sincero convite à alegria, ao sexo e a sacanagem geral. Como diria Zeca, é descaralhante. Os críticos metidos nem se deram ao trabalho de ouvir. Estavam desvendando Van der Graaf Generator e Warren Zevon. Enquanto isso Joe Perry detonava riffs perfeitos e Tyler esburacava mentes e cinturas. E vendiam toneladas. Em 1975 era Aerosmith nos USA e Queen nos UK. Mas fazia de conta que não.
O tempo mostra a verdade. 45 anos depois você sabe de quem o mundo lembra.
PS: a melhor banda de 1975 era o Roxy Music. Os tais críticos nunca falaram do Roxy. Zeca sim. Uma crítica dele no Jornal da Tarde mudou minha vida.
ULTRAVOX! , UM GRANDE, GRANDE PRIMEIRO DISCO.
Em 1976 o Ultravox começa a gravar seu primeiro disco. A sonoridade irá lembrar a banda pela qual eles têm profundo amor: Roxy Music. E o acento de exclamação no nome ( ! ), é homenagem a banda alemã NEU!
Brian Eno produz os caras. Mas larga a produção antes do final para viajar à Berlin, onde vai encontrar Bowie voce sabe pra que. Em seu lugar assume o jovem Steve Lyllywhite, que será o produtor dos primeiros 4 discos do U2. Depois será Eno. A vida é ironia.
O disco sai pela Island em 1977. Dois produtores, Eno e Steve. E, que azar, é o ano do punk. A banda será chamada de muito velha para ser punk e muito nova para o glam rock. Entre 1977 e 1979 lançam 3 discos. Todos incensados pelos críticos. Todos amados pelos futuros músicos dos anos 80. Todos ignorados pelo público de então, povo que ouvia punk, ska e a new wave de Costello e Ian Dury. Este primeiro disco, Ultravox! antecipa em cinco anos a música de 1981, a música da primeira metade da década de 80.
John Foxx é o vocal. Ele sairia em 1980. Midge Ure entraria no lugar e a banda estouraria nas paradas com Vienna. Mas este disco é melhor. Bem melhor. Foxx era mais ousado, mais "do mal", mais sexy. O som do disco é puro Roxy. Um Roxy em que Phil Manzanera tocasse menos e Eddie Jobson muito mais. O som do disco é o som do violino elétrico de Rusty Egan. Imagine Ferry cantando estas canções e voce imagina um disco do Roxy de 1976. ( Em 76 a banda não existia mais. Voltaria em 79 modificada ).
Nick Rhodes diz que o disco é seu favorito. Rhodes fundaria em 1979 o Duran Duran. O Ultravox! é um Duran menos pop e bem mais perigoso. A faixa My Sex é uma obra prima. E termina cortada pelo meio, como Eno faria em Low. Mas o disco é mais que ela. São oito canções tristes. E ao mesmo tempo desafiantes. Ouça.
Brian Eno produz os caras. Mas larga a produção antes do final para viajar à Berlin, onde vai encontrar Bowie voce sabe pra que. Em seu lugar assume o jovem Steve Lyllywhite, que será o produtor dos primeiros 4 discos do U2. Depois será Eno. A vida é ironia.
O disco sai pela Island em 1977. Dois produtores, Eno e Steve. E, que azar, é o ano do punk. A banda será chamada de muito velha para ser punk e muito nova para o glam rock. Entre 1977 e 1979 lançam 3 discos. Todos incensados pelos críticos. Todos amados pelos futuros músicos dos anos 80. Todos ignorados pelo público de então, povo que ouvia punk, ska e a new wave de Costello e Ian Dury. Este primeiro disco, Ultravox! antecipa em cinco anos a música de 1981, a música da primeira metade da década de 80.
John Foxx é o vocal. Ele sairia em 1980. Midge Ure entraria no lugar e a banda estouraria nas paradas com Vienna. Mas este disco é melhor. Bem melhor. Foxx era mais ousado, mais "do mal", mais sexy. O som do disco é puro Roxy. Um Roxy em que Phil Manzanera tocasse menos e Eddie Jobson muito mais. O som do disco é o som do violino elétrico de Rusty Egan. Imagine Ferry cantando estas canções e voce imagina um disco do Roxy de 1976. ( Em 76 a banda não existia mais. Voltaria em 79 modificada ).
Nick Rhodes diz que o disco é seu favorito. Rhodes fundaria em 1979 o Duran Duran. O Ultravox! é um Duran menos pop e bem mais perigoso. A faixa My Sex é uma obra prima. E termina cortada pelo meio, como Eno faria em Low. Mas o disco é mais que ela. São oito canções tristes. E ao mesmo tempo desafiantes. Ouça.
UM DISCO SOBRE SEXO, E SÓ SOBRE SEXO= RAW POWER-IGGY POP.
Conheci alguns Iggys na minha vida. Garotos com pirocas gigantes. Não que as tenha visto, mas suas vidas eram, desde os 14 anos, totalmente dirigidas pela cabeça peniana. Um Leonardo que comia velhos gays em troca de uns trocados e comida. Ele tinha 16. Francisco Eduardo, rico e bonito, que transava com qualquer coisa que tivesse um buraco úmido e quente. André, o que comia toda pessoa que o tocasse. E outros mais. Todos eram pequenos Iggys. O desejo físico puro. Um ódio terrível por esse desejo. Pois eles sabiam, intuitivamente, que o gozo pleno jamais viria.
Detroit nos anos 60 era uma cidade doida. Capital da black music e ao mesmo tempo berço do MC5, dos Stooges e de Alice Cooper. O metal das fábricas de carros deu metal às guitarras estúpidas. Iggy sempre foi estúpido. Mas sua estupidez virou estilo: Iggy nunca foi intuitivo. Seu ódio era consciente. Ele sabe que o gozo é ilusório.
Raw Power foi às lojas no ano de 1973. E 1973 foi um ano cú. Ele começa com Dark Side of The Moon e acaba com Goodbye Yellow Brick Road. No meio tem Houses of The Holy. E Sabbath Bloody Sabbath. Tem dois discos do Roxy: For Your Pleasure em janeiro e Stranded em novembro. E ainda solos de Eno e Ferry. Tem o Alladin Sane e Pin Ups. E nos EUA, passando bem despercebido, tem Raw Power. E Berlin, do Lou Reed. Alice Cooper, que lançou o brilhante Billion Dollar Babies, era o king. Iggy era semi morto. Bowie o salvou da morte.
Bowie mixou o disco todo errado. Um canal com bateria, guitarra e tudo mais. Som de radinho de pilha. O outro canal com voz e guitarra solo. O canal "ruim" é punk. O canal bom é hard rock. Os dois juntos são Iggy Pop. Bowie fez de propósito? Ninguém vai saber.
A voz de Iggy é a mais explícita voz do sexo já gravada. Sexo sem amor, digamos assim. O ato físico. Um vale tudo entre dois ou três corpos. Essa voz tem tons de sadomasoquismo. Mas também de masturbação, de orgasmo e de estupro. Não é sedutora. Adolescentes tarados não são sedutores. É uma voz que deseja agora. E onde o outro não importa nada. Nos anos 70, onde tudo era feito "numa boa", essa voz falava quase sozinha. No fim dessa década ela anunciaria os anos 80, a década do "voce que se foda, eu quero é mais".
Raw Power NÃO PODE E NÃO DEVE ser analisado como música. Não procure harmonia, melodia ou criação. Ele é um ato. Um testemunho. Deve ser sentido e pensado como afirmação de uma verdade. Antecipa o punk por ser um posicionamento político. Não música. ( O Roxy já era também isso, mas a política do Roxy era esnobar o mundo real e viver na redoma do romance ).
Iggy faria pelo resto da vida novos testemunhos sobre o sexo. Às vezes com uma pitada de romance e de alma. Mas sempre com a velha fome da carne imperfeita. O cara é foda. O disco é foda. E nós somos todos uns fodidos.
Detroit nos anos 60 era uma cidade doida. Capital da black music e ao mesmo tempo berço do MC5, dos Stooges e de Alice Cooper. O metal das fábricas de carros deu metal às guitarras estúpidas. Iggy sempre foi estúpido. Mas sua estupidez virou estilo: Iggy nunca foi intuitivo. Seu ódio era consciente. Ele sabe que o gozo é ilusório.
Raw Power foi às lojas no ano de 1973. E 1973 foi um ano cú. Ele começa com Dark Side of The Moon e acaba com Goodbye Yellow Brick Road. No meio tem Houses of The Holy. E Sabbath Bloody Sabbath. Tem dois discos do Roxy: For Your Pleasure em janeiro e Stranded em novembro. E ainda solos de Eno e Ferry. Tem o Alladin Sane e Pin Ups. E nos EUA, passando bem despercebido, tem Raw Power. E Berlin, do Lou Reed. Alice Cooper, que lançou o brilhante Billion Dollar Babies, era o king. Iggy era semi morto. Bowie o salvou da morte.
Bowie mixou o disco todo errado. Um canal com bateria, guitarra e tudo mais. Som de radinho de pilha. O outro canal com voz e guitarra solo. O canal "ruim" é punk. O canal bom é hard rock. Os dois juntos são Iggy Pop. Bowie fez de propósito? Ninguém vai saber.
A voz de Iggy é a mais explícita voz do sexo já gravada. Sexo sem amor, digamos assim. O ato físico. Um vale tudo entre dois ou três corpos. Essa voz tem tons de sadomasoquismo. Mas também de masturbação, de orgasmo e de estupro. Não é sedutora. Adolescentes tarados não são sedutores. É uma voz que deseja agora. E onde o outro não importa nada. Nos anos 70, onde tudo era feito "numa boa", essa voz falava quase sozinha. No fim dessa década ela anunciaria os anos 80, a década do "voce que se foda, eu quero é mais".
Raw Power NÃO PODE E NÃO DEVE ser analisado como música. Não procure harmonia, melodia ou criação. Ele é um ato. Um testemunho. Deve ser sentido e pensado como afirmação de uma verdade. Antecipa o punk por ser um posicionamento político. Não música. ( O Roxy já era também isso, mas a política do Roxy era esnobar o mundo real e viver na redoma do romance ).
Iggy faria pelo resto da vida novos testemunhos sobre o sexo. Às vezes com uma pitada de romance e de alma. Mas sempre com a velha fome da carne imperfeita. O cara é foda. O disco é foda. E nós somos todos uns fodidos.
ENO DISSE: AMBIENTE-SE!
Ambientação é timbre e timbre é o que diferencia música pop-elétrica de música antiga, acústica. Melodia e harmonia independem de novas sonoridades. Música pós 1950 tem como diferencial-original o timbre. O ato de gravar e de mixar passa a ser parte da criação. E isso será levado aos extremos nos anos 80 via eletrônicos e RAP ( que são os estilos que salvam a década e a glorificam ).
Posto e aqui e em posts mais adiante as músicas que me fizeram despertar para essa riqueza de tons, ecos, efeitos, detalhes. Tempere seus ouvidos.
First Hand in Experience - Giorgio Moroder.
Era agosto de 1977, e o fato de lembrarmos datas e lugares onde estávamos prova a importância do evento. Na rádio Bandeirantes FM, novidade na época, som estéreo, eu escutei numa tarde fria, cinzenta, este som. E senti pela primeira vez na vida a frieza ambiental da música feita só por synths. O engraçado é que eu não sabia como aquele som era feito. Achei que havia algo acústico ali. Lembro de estranhar o timbre da "bateria", não entender como ela podia soar tão contida, plástica, exata. O futuro nascia neste quatro minutos de charme sexy gelado. A melhor biografia de música que li, a dos Kraftwerk, fala da importância central deste LP. Giorgio era o italiano louco que misturava Kraftwerk com disco. Depois os próprios alemães copiariam o italiano. Se voce quer saber o que se criou de revolucionário em gravações após a era de Phil Spector, esta é a faixa.
A Poet - Sly and The Family Stone
E depois, em 1985, eu descobri que o pop negro sempre foi a ponta de lança do negócio. Sempre foram eles que inventaram troços novos. Basta observar que esse povo que NÃO ESCUTA música negra nunca sai da mesma lenga lenga, não mudam. Foi a black music que fez Bowie, Mick e tantos outros evoluírem. E em 1985 descobri que em 1970 havia um LP que fazia TUDO o que havia sido gravado em 1970 parecer muito, muito velho. Esta faixa em especial é uma porrada na cara de sonados e emparedados. Sly levou uma ano em estúdio para conseguir esses efeitos sonoros. Teclados que zumbem como abelhas, guitarras que ricocheteiam e o baixo de Larry Graham que é uma arma. Mata tudo. Os vocais ecoam como trovões nos céus. Tem eco e tem peso, tem swing e tem presença. Isto é o máximo de ambição que um produtor pode ter. E ele se chama Sylvester Stewart: um gênio.
Avalon - Roxy Music
No último disco do Roxy, de 1982, encontrei a sonoridade de cristal que me seduziria forever. Tudo aqui decola e voa, numa leveza que te leva junto. Ferry desenvolveria pelo resto da vida este tipo de som: Um pop imaterial, diáfano, o máximo de romantismo com o mínimo de peso. Avalon é o pop mais perfeito possível, tão sublime que a gente sente que a música pode se desmanchar em um sopro mais forte. Há milhares de toques de percussão, uma guitarra quase silenciosa, um sax que hipnotiza e a voz de Mr Ferry no grau máximo de cetim e veludo. De Madonna à George Michael, de D'Angelo à Timberlake, todos tentariam essa sonoridade ultra mega chique.
Never My Love - The Association
É este o disco. Em 1967 nasce o pop chique. Never My Love é tão bonita que dá pra ouvir pra sempre. O Wrecking Crew acompanha. As vozes antecipam I'm Not in Love e o instrumental anuncia Avalon. O teclado é tocado com a ponta das unhas. A canção parece vir das nuvens de um paraíso grego. É Platão inventando pop music. Achei a chave: esta música é platônica! É o molde-ideal de todas as canções com timbres e ambientação sublime. Nunca mais se faria nada tão etéreo.
Voices Inside My Head - The Police.
Ninguém fala, mas Stewart Copeland é o maior baterista da história do rock. A gente esquece disso porque sua carreira durou apenas 5 anos. Depois sei lá...sumiu. Esta faixa, obra do estúdio de Chris Blackwell, é uma sinfonia de ecos, sons do deserto, miragens de harmonias e muito beat. Potencialmente o Police foi uma das dez maiores bandas da história. Eles tinham tudo. Mas se odiavam. Andy Summers tocava as partes da bateria e Copeland fazia na bateria os riffs da guitarra: esse o segredo do som. Sting tinha mãos de negro= swing de jazz. Esta faixa, de 1980, é uma duna.
E Mais:
Eu poderia falar do som pelado de Big Pink, de The Band; do timbre de guitarra único de J J Cale. Poderia comentar a sonoridade "ruim", de asilo, do Satanic dos Stones. Ou o som limpo, clean, de quarto de dormir de Chris Isaak. O timbre do synth em The Law, dos Human League ( nunca ouvi timbre tão bonito, tão perfeito ). E compor, eu poderia, uma enciclopédia exaltando os timbres nunca repetidos dos solos de Jimmy Page e de Jeff Beck, os guitarristas mais irrequietos do rock. Ou fazer odes ao timbre sempre igual, e sempre perfeito, da guitarra de Robbie Robertson, de Peter Green, de Steve Cropper. Ah e tem o timbre fácil de reconhecer, por ser uma assinatura, dos couros de Ginger Baker. Mas paro por aqui. Caso voce não saiba, menos é mais, e deu né.
Posto e aqui e em posts mais adiante as músicas que me fizeram despertar para essa riqueza de tons, ecos, efeitos, detalhes. Tempere seus ouvidos.
First Hand in Experience - Giorgio Moroder.
Era agosto de 1977, e o fato de lembrarmos datas e lugares onde estávamos prova a importância do evento. Na rádio Bandeirantes FM, novidade na época, som estéreo, eu escutei numa tarde fria, cinzenta, este som. E senti pela primeira vez na vida a frieza ambiental da música feita só por synths. O engraçado é que eu não sabia como aquele som era feito. Achei que havia algo acústico ali. Lembro de estranhar o timbre da "bateria", não entender como ela podia soar tão contida, plástica, exata. O futuro nascia neste quatro minutos de charme sexy gelado. A melhor biografia de música que li, a dos Kraftwerk, fala da importância central deste LP. Giorgio era o italiano louco que misturava Kraftwerk com disco. Depois os próprios alemães copiariam o italiano. Se voce quer saber o que se criou de revolucionário em gravações após a era de Phil Spector, esta é a faixa.
A Poet - Sly and The Family Stone
E depois, em 1985, eu descobri que o pop negro sempre foi a ponta de lança do negócio. Sempre foram eles que inventaram troços novos. Basta observar que esse povo que NÃO ESCUTA música negra nunca sai da mesma lenga lenga, não mudam. Foi a black music que fez Bowie, Mick e tantos outros evoluírem. E em 1985 descobri que em 1970 havia um LP que fazia TUDO o que havia sido gravado em 1970 parecer muito, muito velho. Esta faixa em especial é uma porrada na cara de sonados e emparedados. Sly levou uma ano em estúdio para conseguir esses efeitos sonoros. Teclados que zumbem como abelhas, guitarras que ricocheteiam e o baixo de Larry Graham que é uma arma. Mata tudo. Os vocais ecoam como trovões nos céus. Tem eco e tem peso, tem swing e tem presença. Isto é o máximo de ambição que um produtor pode ter. E ele se chama Sylvester Stewart: um gênio.
Avalon - Roxy Music
No último disco do Roxy, de 1982, encontrei a sonoridade de cristal que me seduziria forever. Tudo aqui decola e voa, numa leveza que te leva junto. Ferry desenvolveria pelo resto da vida este tipo de som: Um pop imaterial, diáfano, o máximo de romantismo com o mínimo de peso. Avalon é o pop mais perfeito possível, tão sublime que a gente sente que a música pode se desmanchar em um sopro mais forte. Há milhares de toques de percussão, uma guitarra quase silenciosa, um sax que hipnotiza e a voz de Mr Ferry no grau máximo de cetim e veludo. De Madonna à George Michael, de D'Angelo à Timberlake, todos tentariam essa sonoridade ultra mega chique.
Never My Love - The Association
É este o disco. Em 1967 nasce o pop chique. Never My Love é tão bonita que dá pra ouvir pra sempre. O Wrecking Crew acompanha. As vozes antecipam I'm Not in Love e o instrumental anuncia Avalon. O teclado é tocado com a ponta das unhas. A canção parece vir das nuvens de um paraíso grego. É Platão inventando pop music. Achei a chave: esta música é platônica! É o molde-ideal de todas as canções com timbres e ambientação sublime. Nunca mais se faria nada tão etéreo.
Voices Inside My Head - The Police.
Ninguém fala, mas Stewart Copeland é o maior baterista da história do rock. A gente esquece disso porque sua carreira durou apenas 5 anos. Depois sei lá...sumiu. Esta faixa, obra do estúdio de Chris Blackwell, é uma sinfonia de ecos, sons do deserto, miragens de harmonias e muito beat. Potencialmente o Police foi uma das dez maiores bandas da história. Eles tinham tudo. Mas se odiavam. Andy Summers tocava as partes da bateria e Copeland fazia na bateria os riffs da guitarra: esse o segredo do som. Sting tinha mãos de negro= swing de jazz. Esta faixa, de 1980, é uma duna.
E Mais:
Eu poderia falar do som pelado de Big Pink, de The Band; do timbre de guitarra único de J J Cale. Poderia comentar a sonoridade "ruim", de asilo, do Satanic dos Stones. Ou o som limpo, clean, de quarto de dormir de Chris Isaak. O timbre do synth em The Law, dos Human League ( nunca ouvi timbre tão bonito, tão perfeito ). E compor, eu poderia, uma enciclopédia exaltando os timbres nunca repetidos dos solos de Jimmy Page e de Jeff Beck, os guitarristas mais irrequietos do rock. Ou fazer odes ao timbre sempre igual, e sempre perfeito, da guitarra de Robbie Robertson, de Peter Green, de Steve Cropper. Ah e tem o timbre fácil de reconhecer, por ser uma assinatura, dos couros de Ginger Baker. Mas paro por aqui. Caso voce não saiba, menos é mais, e deu né.
STOOOOOOPID !
São 10 LPs vindos diretos de Kookaburra, Australia! Edições de 1980, eles seguem adiante do lugar onde Lenny Kaye havia parado. Sim, voce sabe né, Lenny Kaye era crítico de rock e guitarrista da banda de Patti Smith e em 1972 ele conseguiu lançar um disco chamado Peebles. Era uma coletânea de bandas americanas que tinham desaparecido sem deixar rastro. Mais importante, eram bandas de garagem e em 1972 NINGUÉM MAIS lembrava do que era uma banda de garagem!
Garagem era o tipo de som mal tocado, mal gravado e mal divulgado. Todas as bandas bebiam na fonte de Yardbirds e Them. E por causa da sinceridade, da energia, do desejo a flor da pele, era rock na mais pura alma. A molecada, alguns com 14 anos de idade, botava o fígado pra fora. Pois bem, esse som ameaçou estourar nas paradas entre 1966 e começo de 1967, mas a história foi cruel com eles. Veio em junho de 67 o sargento Pimenta e o rock mudou. Agora a moda era som pretensioso, bem arranjado ou solos longos inacabáveis. Faixas de dois minutos eram velharia agora...
Em 1972, no auge do rock sinfônico e do hard rock hedonista, Lenny lança então esse Peebles. Fazia apenas 6 anos que aquilo tudo fora gravado, mas parecia um século. O mundo das garagens ficava a anos luz de Steely Dan e Roxy Music ( as grandes novidades de 72, e eu amo as duas ). Era tosco. Era juvenil. Era sublime.
Peebles não vendeu nada, mas certos críticos amaram. E muito moleque de Akron, Detroit, Los Angeles e Londres pirou ao ouvir aquilo. Era exatamente o que eles queriam ouvir. Era um som que eles podiam fazer.
Em 1979 um maluco Aussie, um tal de Seltzer, sai pelos USA a procura de discos perdidos em coleções, lojas antigas, porões cheios de tralhas. E nessa procura ele encontra material para 10 LPs!!! Todas as bandas que ele encontra têm em comum, além da sonoridade pré-punk, o fato de não terem vendido quase nada e nunca terem gravado um LP. Fizeram apenas um ou três singles, venderam de mão em mão, sonharam com o sucesso e sumiram sem deixar pistas.
Algumas faixas têm péssimo som. Discos que foram achados semi destruídos, riscados, jogados em meio a vitrolas e bikes abandonadas. Um tipo de aventura de garimpo impossível de ser feita hoje. Uma aventura atrás de pérolas, de pepitas.
A edição, os 10 discos com lindas capas acondicionados em uma pasta de vinil, com poster e uma carta de Lenny Kaye, é linda.
Andei pensando se na história do rock existe um só nome que seja amado por todas as tribos. Um nome que possa ser escutado com gosto por góticos, hippies, punks, metaleiros, folks, indies, eletrônicos, blueseiros, rockabillies, countries, e etc sem fim...pensei que Hendrix chega perto dessa unaminidade...mas acho que uma banda como essa The 12 a.m. tem esse poder. O som vai de Sonic Youth e Mudhoney à Buddy Holly e Monkees. Ninguém sabe quem são, para onde foram, nada. Ficou o disco. Um milagre.
Garagem era o tipo de som mal tocado, mal gravado e mal divulgado. Todas as bandas bebiam na fonte de Yardbirds e Them. E por causa da sinceridade, da energia, do desejo a flor da pele, era rock na mais pura alma. A molecada, alguns com 14 anos de idade, botava o fígado pra fora. Pois bem, esse som ameaçou estourar nas paradas entre 1966 e começo de 1967, mas a história foi cruel com eles. Veio em junho de 67 o sargento Pimenta e o rock mudou. Agora a moda era som pretensioso, bem arranjado ou solos longos inacabáveis. Faixas de dois minutos eram velharia agora...
Em 1972, no auge do rock sinfônico e do hard rock hedonista, Lenny lança então esse Peebles. Fazia apenas 6 anos que aquilo tudo fora gravado, mas parecia um século. O mundo das garagens ficava a anos luz de Steely Dan e Roxy Music ( as grandes novidades de 72, e eu amo as duas ). Era tosco. Era juvenil. Era sublime.
Peebles não vendeu nada, mas certos críticos amaram. E muito moleque de Akron, Detroit, Los Angeles e Londres pirou ao ouvir aquilo. Era exatamente o que eles queriam ouvir. Era um som que eles podiam fazer.
Em 1979 um maluco Aussie, um tal de Seltzer, sai pelos USA a procura de discos perdidos em coleções, lojas antigas, porões cheios de tralhas. E nessa procura ele encontra material para 10 LPs!!! Todas as bandas que ele encontra têm em comum, além da sonoridade pré-punk, o fato de não terem vendido quase nada e nunca terem gravado um LP. Fizeram apenas um ou três singles, venderam de mão em mão, sonharam com o sucesso e sumiram sem deixar pistas.
Algumas faixas têm péssimo som. Discos que foram achados semi destruídos, riscados, jogados em meio a vitrolas e bikes abandonadas. Um tipo de aventura de garimpo impossível de ser feita hoje. Uma aventura atrás de pérolas, de pepitas.
A edição, os 10 discos com lindas capas acondicionados em uma pasta de vinil, com poster e uma carta de Lenny Kaye, é linda.
Andei pensando se na história do rock existe um só nome que seja amado por todas as tribos. Um nome que possa ser escutado com gosto por góticos, hippies, punks, metaleiros, folks, indies, eletrônicos, blueseiros, rockabillies, countries, e etc sem fim...pensei que Hendrix chega perto dessa unaminidade...mas acho que uma banda como essa The 12 a.m. tem esse poder. O som vai de Sonic Youth e Mudhoney à Buddy Holly e Monkees. Ninguém sabe quem são, para onde foram, nada. Ficou o disco. Um milagre.
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