Mostrando postagens com marcador spielberg. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador spielberg. Mostrar todas as postagens

I WANNA HOLD YOUR HAND, O COMEÇO DO FILME SEM HISTÓRIA

Deixo claro desde já, gosto deste filme. O título acima não significa que não goste. É apenas uma constatação. Posto isso, vamos à história. ------------------ I WanNA To Hold Your Hand é o primeiro sucesso de Robert Zemeckis, é de 1978, e é produzido por Spielberg. É portanto o começo da tomada de poder dos amigos de Spielberg no cinema POP. A sacada do roteiro, Bob Gale, outro da turma, é genial: Estamos no começo de 1964, em NY, mais especificamente no dia em que os Beatles iam tocar no programa de Ed Sullivan e mudariam o mundo para sempre. O filme foca em quatro meninas e seus amigos, elas fâs do ingleses, eles relutantes ou hostis. Temos a histérica, a romântica que vai se casar, a fotógrafa que quer fotos boas e uma seguidora do folk, que odeia os conformistas e alienados Beatles, mas que mudará de ideia oa final do filme. ----------- Eu disse que é o começo do filme sem história. Explico agora: Até então eu só me lembro de um único filme desse tipo: UM CONVIDADO BEM TRAPALHÃO ( THE PARTY ), o filme de Blake Edwards, ótimo, com um Peter Sellers diabolicamente genial. Em seu lançamento, 1967, foi um fracasso absoluto. Público e crítica não aceitavam um filme SEM HISTÓRIA. ----------- Mas o que é isso de FILME SEM HISTÓRIA? Lembram de ESQUECERAM DE MIM? O RATINHO ENCRENQUEIRO? DURO DE MATAR? É isso. Uma única situação, uma única trama, que se desenvolve sem história paralela alguma, sem variações, sem desvios, um tipo de situação que daria um curto mas que se estica em hora e meia. O que este filme conta ou narra? Jovens que querem ver os Beatles. Onde se passa? No hotel dos Beatles. O que os personagens fazem? Tentam ver os Beatles. E SÓ QUEREM VER OS BEATLES. Esse o motivo do filme sem história: um único desejo move todo o filme. Centenas ou milhares de filmes desde então podem ser encaixados nesse estilo. Inclusive, lembro agora, TUBARÃO ( JAWS ), um filme que não tem hsitória alguma, é apenas uma ação esticada ao máximo. -------------- Este filme é bom porque é maravilhosamente bem dirigido. Para esse tipo de filme ser aceito é preciso ritmo, leveza, bom humor, e tudo isso há aqui. Além disso vemos, pelo outro lado, o lado dos fãs, o que era a Beatlemania, e tomamos consciência de como, ao lado de Elvis ou de Jerry Lee, os ingleses pareciam efeminados, dandys, nada rock n roll. ------------ E por fim há o fator Nancy Allen, único nome no elenco que fez uma carreira. Ela tem uma das cenas mais sexys e pornôs que já vi no cinema americano ao fazer sexo oral com o contra baixo de Paul MacCartney. Veja para crer. E depois gozando e se molhando ao ver os caras tocando. Só por isso o filme já vale. ---------------- PS: não é ficção. Várias meninas tinham seu primeiro orgasmo nos shows da banda. Alguém no filme diz que aqueles jovens amavam os Beatles e ao amar o grupo SE AMAVAM. Os gritos das fãs eram uma afirmação de amor a si mesmo. -------------- Sem história, mas com repercussão.

DÉCADAS

Vivi já as quatro décadas centrais da minha vida. Todo mundo as vive se não morrer antes dos 50. São as décadas do apogeu de seu amor às novidades da vida. Depois dessa fase, voce usufrui com mais calma aquilo em que se sente "em casa". Minha décadas foram os anos 80, 90, 2000 e 2010. Uma pena. O tempo que os deuses me deram não foi dos mais ricos. Interessante sim, rico, não. --------------- O momento mais importante desses quarenta anos foi a queda do muro de Berlin. E disso não há dívida alguma. O grande avanço da ciência foi a internet. Imenso avanço. Mas me parece que se eu fosse vinte anos mais velho eu poderia dizer que a chegada do homem à Lua e a televisão eram os tais momentos top. A geração do meu pai, as décadas dele foram os anos 40, 50, 60 e 70, foi mais dramática. Para eles o maior momento foi a bomba sobre o Japão. E o avanço da ciência, a invenção dos antibióticos. Mas é de arte que vou falar, e sem saudosismo, digo que pra minha geração a coisa foi de uma pobreza extrema. --------------------- Qual o grande escritor que escreveu seus mais importantes livros entre 1980-2019? Difícil né? Existem dezenas de bons escritores. Dezenas. Li nesses anos muito contemporâneos. Gente boa como Cees Noteboom, Le Clézio ou Transtromer. Há muito mais. Mas o único que me impressionou como gênio, que eu colocaria na altura de Nabokov, Saul Bellow ou Kawabata, é o alemão Sebald. Em seus livros topamos com a inteligência criativa que faz de um ótimo escritor um ser genial. Não há mais ninguém desse naipe. Temo que no futuro algum idiota diga que minhas décadas foram as de Saramago ou Mia Couto. Jamais! Se a inteligência ainda existir em 2050, meu tempo será de Sebald. ------------------ Já o tempo de meu pai foi de Nabokov, Bellow, Murdoch e Greene. E de um monte de poetas eternos. Não citarei mais seu tempo. Deixe meu pai em paz. ( Ele nasceu em 1926 e se foi em 2008 ). ---------------------- De 1980 até 2019 vários diretores de cinema tiveram auges de cinco ou dez anos e depois se foram. Infelizmente sou obrigado a dizer que Spielberg é o único que esteve no topo por todo esse tempo. Scorsese vem perto. E é só. Não me diga que Bergman ou Kurosawa fizeram ainda grandes filmes em 1983 ou 1985. Suas obras são dos anos 40 até os anos 80. Falo de quem se fez nos anos 80 em diante. Não há muito o que olhar. Adoro Eastwood, mas ele não é um gênio. Adoro Tarantino ou os Coen, mas eles são terrivelmente irregulares. Em 2050 dirão, se ainda houver algo parecido com cinema, aquela foi a época de Spielberg. ------------------ Não dirão ter sido, minha época, a era do jazz e nem a do rock. Todos pensarão que todo mundo ouvia rap. Voce pode me dizer que Basquiat ou Bacon ou Freud foram os artistas plásticos deste tempo. Mas há aí um problema que já se fazia sentir em 1960-1970 e que hoje se hiper amplificou: o mundo tem tanta imagem, tanta foto, gravação, reprodução, cópia, colagem, edição, que nenhum artista que lide com imagem conseguirá ser o retratista de uma época. Não haverá o Klimt de 1990 ou o Matisse de 2006. Em 2050 pouco valor se dará a qualquer foto ou pintura de 2020. Pois tudo será demasiado. ------------------------- Queda do muro, torres gêmeas e a tal Pandemia. Mais nada. Quedas. Três quedas. A invenção da internet e sua popularização. Observe: é uma invenção que não é criada para salvar vidas ou alimentar o mundo. É informação e diversão. Pobre por si mesma. E anuncia mais algumas quedas: jornais. Grandes redes de midia. Meu tempo será lembrado como época de muitos finais. ----------------------- A geração de meu pai sofreu mais. Mas me parece que também sonhou mais e fez mais. Não há progresso real e coragem inovadora em sociedades bem alimentadas. A fome nos faz desejar e tentar. Minha época teve estômagos cheios como nunca antes na história do mundo. E desejos futeis. Tripa cheia esvazia o cérebro. É isso aí.

TUBARÃO JAWS SPIELBERG

   Em 1975-76, quando a mania Jaws se instalou, eu não tinha idade para o ver. Depois assisti trechos em Sessões da Tarde. Um final aqui, um meio alí. Mas nunca sentei para ver inteiro. Vi ontem.
   Visto em 2020, 45 anos depois, o que é este filme? Quase nada. Não vou falar do suspense ou do medo, não há. E não vemos um filme antigo em busca de medo ou suspense. Medo e suspense envelhecem rápido. Quando procuramos um filme antigo desse estilo o que procuramos é entretenimento, diversão, algum tipo de encanto com a combinação imagens, música e roteiro. É isso que faz com que Hitchcock sobreviva bem, mesmo despido do suspense, e é isso que faz com que Jaws pareça sem graça, visto agora e para sempre.
  Ele parece um filme de TV dos anos 70. Parece estranhamente pobre. Modesto. Encurralado, Duel, o filme de Spielberg de 1972, seu primeiro filme, é modesto e é feito para a TV, mas visto hoje, eu o revi, mantém seu encanto intacto. Já Tubarão parece um prato sem tempero. Será por ser conhecido demais? Psycho é conhecido ao extremo e ainda nos perturba. E aí posso apontar o primeiro problema: Psycho tem uma grande atuação, Anthony Perkins, Tubarão não. Roy Scheider, ator que admiro por causa de ALL THAT JAZZ, é um policial covarde bem mal desenvolvido. Richard Dreyfuss faz Richard Dreyfuss, o cara boa praça de sempre, e Robert Shaw é uma caricatura que beira a paródia. Tivesse um cachimbo seria Popeye em versão bêbada. Filmes antigos sobrevivem lindamente quando contam com grandes atuações. Não é o caso. O que resta então? O bicho? Que bicho? O pobre Tubarão não tem nenhuma personalidade. esqueceram de lhe dar um caráter. Ele não causa medo, apenas espanto por ser tão pouco assustador. Mas há a trilha sonora. John Willians se tornou um mito com ela. O tã tá tã é realmente excelente. Mas escute....o resto da trilha....que lixo é esse? Não, não me xingue, escute de novo! Música de desenho Disney, super feliz e brilhosa em cenas do barco perdido no mar? Um irritante exibicionismo sinfônico em cenas que ficariam muito melhor sem música nenhuma! Spielberg ama John Willians e deixa o volume da trilha no máximo. É quase risível. É muito ruim...
  Tubarão é longo, longo demais. A gente se cansa de ver as boias amarelas arrastadas pelo bicho. Com uma trilha que ficaria melhor em Dumbo ou Peter Pan. Este filme pode sobreviver se voce o assistir como apenas mais um filme dos anos 70. Mas se voce o encarar como um famoso clássico dos anos 70...Deus meu! Que coisa chata!
  É isso.

CONTATOS IMEDIATOS DO TERCEIRO GRAU. A INFANTILIZAÇÃO DO CINEMA.

   Tenho este dvd desde 2006, mas só agora o assisti. São 3 discos, versões de cinema 1977, de cinema 1981 e do diretor. Não há prova maior do fetiche que se tem por esse diretor.
   Eu não o assistia desde que o vira no cinema, em 1978, com meu irmão. Cine Festival, na rua Lacerda Franco em Pinheiros. Quem não frequentou cinema de bairro em dia de semana não sabe o prazer que isso dava. Era como ver um filme na sala de casa. Era familiar. Era muito barato. Era como um clube. As pessoas da rua na sala. Sair da sessão, que foi mágica, nós ficamos hipnotizados pelo filme, e cair na rua, luz do sol e carros. Era um choque. Não era como sair da sala de cinema e dar de cara com luzes artificiais e vitrines de lojas. Não. Era sair da sala e ver o céu aberto, as vozes da rua, buzinas e fachadas de casas. Uma realidade penetrando outra realidade. Bem...chega, vamos à minha experiência de ontem.
  42 anos depois eu ainda lembrava de várias cenas. Provavelmente por terem se tornado ícones do cinema. Os brinquedos se movendo no quarto do menino, as luzes no carro de Richard Dreyfuss, toda a sequência final. Me surpreendo em como os primeiros minutos são fracos, uma sequência de aviões e barcos que surgem em locais estranhos. Me surpreendo também em como o filme é ótimo entre os 30 e os 70 minutos. Quase sem diálogos, é um primor de narrativa e de encanto. Esse ótimo filme dentro do filme acompanha todo o encontro na estrada até o começo da construção da "montanha" dentro de casa. O filme desaba outra vez e me lembro então como todo filme de Spielberg é sempre irregular. É um cinema feito de grandes cenas, mas nunca de filmes perfeitos.
  Eu havia esquecido a imensa quantidade de crianças no filme. É um filme infantil. Os ETs são crianças e o adulto que eles levam é fã de Pinochio. Nada há no roteiro de filosófico, não perca seu tempo procurando uma mensagem. O filme é o que vemos: um cientista criança, Truffaut, não podia ser outro, um pai criança e viajantes do espaço crianças. A mensagem é : Paz e Amor. Mais nada.
  Nos extras causa decepção ver o Spielberg de anos depois dizer que mudaria o filme se feito agora. Penso então que ele o deixaria mais complexo. Mas não. O que ele diz é que hoje não deixaria o pai ir com os ETs e largar seus filhos na Terra. Ele era um pai irresponsável. Well....
  Mesmo hoje, em filmes ditos adultos, como Schindler ou Lincoln, Spielberg não muda. Abusa da música para nos seduzir. Luta para criar grandes cenas que nos impressionem. Se esforça por agradar. E acaba fazendo filmes rasos. Um diretor com um talento imenso, com um senso de imagem tão perfeito, acabará sua carreira sem uma só obra prima. Mais frustrante ainda, ele, como Tarantino, nada tem a dizer. Ambos têm como único pensamento o amor ao cinema e uma grande cultura cinematográfica. Ambos passam a impressão de que tudo o que sabem sobre paternidade ou violência, guerra ou heroísmo, foi aprendido e vivido diante de telas de cinema. Todos os seus filmes, como de tantos outros diretores deste momento histórico, são filmes sobre filmes, histórias imaginadas enquanto se via um filme, relatos sobre experiências sentidas em filmes. Contatos Imediatos é 2001 em desenho Disney. É O Dia em que a Terra Parou como superprodução. A nave é a baleia de Pinochio.
  Muito já se falou sobre o mal que Spielberg causou ao cinema dos últimos 45 anos. A infantilização. Foi ele quem notou primeiro que o cinema seria salvo pelas crianças e não pelo público adulto. Essa foi uma guinada da qual jamais nos recuperamos. Todo grande filme, toda grande produção, graças à ele e Lucas, passou a ser dirigida à um público de 10-12 anos de idade. Mesmo que esse público tenha 40. Lucas e Spielberg não tiveram culpa nenhuma. Fizeram sempre os filmes que amaram ver. O problema foram os outros. A geração Coppola e Scorsese, com seus filmes excessivamente amargos que alienaram o público do cinema. Após Tubarão, e com Star Wars, o cinema se dividiu de vez entre filmes grandes e filmes pequenos, filmes de sucesso e filmes de festivais, filmes para todos e filmes para a elite. O Poderoso Chefão, em 1972, foi o último big big hit adulto. Feito para todos e com pretensões de elite. Nunca mais. Titanic é para meninas de 13 anos. Adultos de 35 choram. Voce entendeu....
  A sequência final deste filme foi estranha de rever. Em 1978 eu e meu irmão a assistimos como se aquilo fosse um tipo de cerimônia religiosa. Eu lembrava dela como algo longo, imenso, misterioso, incrível. Lembro que saímos do cinema nas nuvens. Foi uma experiência inesquecível. Mas visto hoje me pareceu muito curto, simples, bonito porém simplório. Gostei, mas não fui tocado.
  Bem...eis o porque: em 1978 eu era uma criança. Hoje não mais. Simplesmente isso.
  Sempre vou agradecer Spielberg por aquela tarde. Mas se quero magia e encanto...não são em seus filmes que vou procurar.
  No sir!

NWA- SPIELBERG- HERZOG- TOM HANKS

   STRAIGHT OUTTA COMPTON, A HISTÓRIA DO NWA
Escrevi sobre esse bom filme abaixo. O assunto é muito interessante e o roteiro não se prende a draminhas chorosos, coisa tão comum em biografias na tela. O elenco está afiado e o filme flui. Melhor que os dois vencedores do Oscar. Nota 8.
   SNOOPY E CHARLIE BROWN, PEANUTS O FILME
Eu adoro as tiras de Schulz. Estou lendo sua bio nestes dias, ele foi um grande homem. Mas este longa é muito estranho. Tempos caretas estes em que Charlie Brown acaba se dando bem e sendo feliz...Mais estranho ainda são os traços do desenho....com detalhes e belos cenários a impressão fica fake. É como se os personagens estivessem disfarçados, vestidos com roupas erradas. Well...o melhor é Snoopy, ele é um personagem tão forte que se mostra indestrutível. Charlie Brown perde aqui seu amargor e Linus quase desaparece. Entendam, é uma linda homenagem, mas não parece Schulz.
   PONTE DOS ESPIÕES de Steven Spielberg com Tom Hanks, Mark Rylance e Amy Ryan.
Um belo filme!!!! Nos EUA dos anos 50 um espião é pego. Hanks é o advogado que o defende. Depois acontece uma troca de espiões. Spielberg faz um de seus melhores filmes. A primeira parte é drama sóbrio e depois temos suspense e clima fatalista. Hanks é o Spencer Tracy de sua geração, faz tudo parecer fácil. O filme tem classe, é uma aula de elegância e discrição. Nota 9.
   RAINHA DO DESERTO de Werner Herzog com Nicole Kidman, James Franco e Robert Pattinson.
Deus! Herzog!!!! O filme fala de uma aventureira que trabalha como um tipo de Lawrence da Arábia. Nada funciona aqui. O filme é desinteressante, chato, tolo, mal interpretado, vazio, e o pior de tudo: tenta ser um épico estilo David Lean....Inacreditavelmente ruim....

MASTROIANNI/ SOPHIA/ 1941/ JOSH BROLIN/ ANTHONY QUINN/ DEANNA DURBIN

   GI JOE, RETALIAÇÃO de Jon M Chu com Channing Tatum e Dwayne Johnson
A equipe é traída pelo governo. Aquelas coisas, voce disfarça a patriotada com alguns politicos "do mal". O enredo é primário, mas a ação é bem ok. Dá pra ver sem se irritar. Depois de dois minutos terminado voce não lembra de mais nada. Não é exatamente isso que o povo quer? Nota 3.
   O PREÇO DE UM COVARDE de Andrew V. McLaglen com James Stewart, Dean Martin, Raquel Welch e George Kennedy
Martin é um ladrão. Pego pelo xerife é salvo da forca pelo irmão, Stewart. O xerife, que é um puritano, os persegue pelo deserto. Os bandidos levam Welch com eles, como refém. Stewart e Martin formam um boa dupla. Um já velho e bom moço, o outro amargo e rebelde. Concordo com Tarantino, Dean Martin foi um ator subestimado. O filme é legal e de todos os westerns de McLaglen que vi, diretor que erra muito, é o melhor. Bela diversão! Nota 7.
   1941 de Steven Spielberg com Dan Akroyd, John Belushi, Toshiro Mifune
É o filme que quase destruiu a carreira de Spielberg. Caríssimo, foi um hiper fracasso de bilheteria e de crítica. É um comédia histérica e muito sem graça. O humor parece aquele de meninos de 11 anos. Mais que grosseiro, ele é bobo. Bons atores são desperdiçados e atores ruins ganham papéis grandes. Após os sucesso de Jaws e de Close Encounters, Spielberg se dava mal. ET seria sua salvação na sequência. Fuja!
   UM RAIO DE SOL de Henry Koster com Deanna Durbin, Charles Laughton e Robert Cummings
O maravilhoso ator inglês Charles Laughton faz um milionário que está morrendo. Seu filho apresenta uma desconhecida como sua noiva ( ele não encontra a noiva verdadeira que está fazendo compras ). O velho se apaixona pela falsa noiva. O filho precisa manter a farsa. Henry Koster, o diretor do sublime Harvey, faz aqui aquilo que fazia melhor, filmes para se sentir bem. Tudo é artificial, falso, ingênuo? Que bom! Porque não podemos crer em nossa própria ingenuidade? Durbin foi a atriz que salvou a Universal da falência nos anos 30. Aqui, adulta, ela exibe sua leveza etérea de sempre. O filme é uma delicia. Nota 7.
   A 25# HORA de Henri Verneuil com Anthony Quinn e Virna Lisi
Quinn faz mais uma vez Zorba. Impressionante! Não conheço caso de ator que ficou mais preso a um grande papel. Após 1964, quando fez Zorba, Quinn passou trinta anos fazendo variações sobre Zorba. Aqui ele é um romeno que na segunda guerra é confundido com um judeu. Vai preso. Depois o confundirão com várias "raças" até que ao final vai a julgamento como um nazista!!! O filme é tão improvável, tão absurdo que se torna até cômico. Uma bobagem gigantesca. Ah! No começo Quinn dança! Como Zorba, claro! Nota 4.
   SOLARIS de Andrei Tarkovski
Poucos filmes mexeram tanto comigo. Ele me deixou muito introspectivo, triste, me sentindo isolado. A verdade é que me identifiquei com o personagem central. O filme fala das coisas que mais me absorvem: tempo, memória, amor e imaginação. É um filme chato, preciso dizer isso. Mas que consegue nos dar alguns momentos de beleza sublime. Romântico então, verdadeiramente romântico. Nota 9.
   CAÇA AOS GANGSTERS de Ruben Fleischer com Josh Brolin, Ryan Gosling, Sean Penn e Nick Nolte
Pessoas que nada entendem de filmes falaram que este era um film noir. Onde? É um filme de gangster! O filme noir tem um homem sózinho, confuso, tentando desvendar um mistério. O filme de gangster, que foi criado em 1930 com Scarface e Public Enemy, fala de grupo de tiras lutando contra uma organização criminosa. É este o caso. E devo falar que é um bom filme. O roteiro é bastante fraco mas ele é salvo pela direção cheia de ritmo e sem frescuras de Ruben. Josh Brolin é perfeito. Tem voz e rosto de homem, passa a sensação de verdade. Já Ryan está no filme errado. Parece um menino vestido com o terno do pai e fumando escondido. Sean Penn imita De Niro em seus piores dias. Parece Dustin Hoffman em Dick Tracy. Mesmo assim este filme, de visual lindo, diverte e nunca cansa. Um adendo: Que época é esta em que vivemos? Cenas de violência são mostradas em detalhes pornô e cenas de sexo são feitas com lingerie e puritanismo. Why? Porque sexo só pode existir em filme "doentio"? Sempre vindo em embalagem de mal, de distúrbio e de doença? Porque seios, bundas e pênis nunca surgem em filmes alegres, leves e pop? Mas corpos dilacerados e sangue jorrando podem? Welll....Dito isto, este filme vale um 6.
   UM DIA MUITO ESPECIAL de Ettore Scola com Sophia Loren e Marcello Mastroianni
Quase um milagre. Scola consegue fazer um filme tristíssimo que não entristece. Um filme hiper dificil que nunca aborrece. Um filme tipo teatro que não parece sufocar. Ele se passa em dois apartamentos e a trilha sonora é feita pelos sons do dia em que Hitler veio visitar a Itália de Mussolini. Sophia é mãe de filhos fascistas e tem um marido do partido. Marcello é um homossexual que foi expulso do trabalho por não ser " marido, pai e soldado". Os dois se conhecem e uma mudança acontece nela. Ou não? Scola dirige com uma delicadeza exuberante. Toda cena é suave, dolorida, desbotada. Nos assustamos com um fato: Como pode aquilo ocorrer? Todos, alegremente fascistas, comentando a beleza de Hitler, a sabedoria do Duce. Bem, falo agora dos dois atores. Sophia é uma grande atriz. Nas cenas finais ela comove em sua derrota. Ela está vencida, presa, humilhada. Mas é Marcello que atinge o sublime. Nunca assisti um retrato tão perfeito de um homossexual. Em cada movimento de suas mãos, de seus olhos, percebemos sua homossexualidade, sem caricatura, sem exagero, sem nada de ofensivo, natural. Quanta melancolia naquele homem, quanta raiva muda. Lembro que em 1977 ele concorreu ao Oscar e o perdeu para Richard Dreyfuss em The Goodbye Girl. Dreyfuss estava ótimo, mas isso aqui é histórico! Um belo filme. Nota 8.

007/ LINCOLN/ COLE PORTER/ WILLIS/ TOM HANKS

   A VIAGEM de Tykwer e os Wanchowski com Tom Hanks, Halle Berry, Jim Broadbent, Hugh Grant
Em 1998 nada era mais excitante que Run Lola Run e Matrix. Em 2013 nada é mais cool que meter o pau nos diretores desses dois filmes ( Shyalaman é outro ex gênio daquela geração ). Este filme não tem pé nem cabeça! Faz uma mistureba de espiritismo, fisica, futurologia e termina como apenas uma ode óbvia a all you need is love. São três horas de profundo tédio. Tom Hanks se diverte em imitar Alec Guiness, faz um monte de personagens.  É a única diversão do filme, descobrir quem é quem debaixo daquela montanha de maquiagem. Nota 1.
   LINCOLN de Spielberg com DD Lewis e Tommy Lee Jones mais a grande Sally Field
Escrevi sobre ele abaixo. Como aula de história, vale. Como cinema é enfadonho. Lincoln fala e fala e murmura. Salas escuras e negociações. Lewis está ok. Tommy é o único que dá vida ao filme. Longe de ser um grande filme, não diverte e jamais emociona. Mas dá dignidade a profissão de politico. O que hoje é louvável. Cavalo de Guerra era bem melhor. Quem quiser saber mais sobre o presidente, veja o muito superior filme de John Ford. Nota 6.
   SKYFALL de Sam Mendes com Daniel Craig
Ó James Bond...então é esse o nosso Bond versão 2013? Craig não é mal ator de todo, ele apenas nada tem a ver com o personagem. Fleming sonhava em ver Cary Grant como Bond e ninguém é menos Cary Grant que Craig. Esse Bond tem cara de burro com suas orelhas de abano. Nada sedutor, ele parece sempre estar fingindo ser James Bond. Well...cada época tem o Bond que a reflete, Danny é um pseudo-Bond numa época de virtualidades. O filme tem ação banal, enredo pobre e nunca mostra aquela coisa divertida e sacana que fez a lenda de Bond. Alguns criticos o elogiaram. Com certeza são aqueles que nunca gostaram de 007. Nota 1
   E A VIDA CONTINUA  de George Stevens com Jean Arthur, Cary Grant e Ronald Colman
Este roteiro é muito esquisito. Começa como drama, vira comédia leve e termina como drama novamente. A impressão é a de que as 3 partes não se unem. Fala de um acusado de assassinato que foge e se esconde na casa de ex-namorada. Um famoso juiz se hospeda lá... Stevens foi um dos gigantes de Hollywood e o fato deste filme ser agradável, mesmo tendo roteiro tão confuso, mostra o quanto Stevens sabia dirigir. Ele começou como montador nos filmes de Laurel e Hardy, sabia dar ritmo aos filmes. Nos anos 50 Stevens faria clássicos como Giant, e Shane. Cary está meio fora de papel e Colman domina o filme com muito tato e humor. Agradável. Nota 6.
   ALTA SOCIEDADE de Charles Walters com Bing Crosby, Frank Sinatra e Grace Kelly
Um filme com Bing e Frank cantando ótimas canções de Cole Porter. O que mais se quer? Grace Kelly, bonita como uma deusa. E ainda tem Louis Armstrong fazendo Louis Armstrong. O filme, modelo de chique, fala de uma moça frigida que vai se casar. O ex-marido fica por perto e a perturba. O roteiro é uma simplificação da peça de Philip Barry que fez a glória de Kate Hepburn. Hollywood teve duas aristocratas atrizes: Kate e Grace, as duas fizeram este papel. O filme é alegre, leve, colorido, elegante, um exemplo do que antes se chamava de "diversão civilizada". As canções de Porter são sensacionais, saltitam. True Love foi um hit depois regravado por George Harrison. Grace brilha intensamente. Frank nunca esteve tão simpático. Nota 9.
   HUDSON HAWK de Michael Lehmann com Bruce Willis, Danny Aielo e Andie MacDowell
O filme que quase acabou com a carreira de Willis. Superprodução, foi um fracasso em 1991. É uma comédia sem graça que fala de plano para roubar pedras que formariam uma máquina de Leonardo da Vinci que transformaria chumbo em ouro. As piadas não têm graça, Willis está exagerado e a ação é confusa. De qualquer modo há a bela Itália e o estilo de Andie. Nota 4.
   ZOOLANDER de Ben Stiller com Stiller e Owen Wilson
Fuja! Nada aqui tem graça. Nota Zero.
  

LINCOLN

   Leio hoje que o século XX não mereceu o século XIX. Eu jamais havia pensado isso. Que o século XIX preparou o mundo para ser um lugar muito melhor. Que o ano de 1900 prometia paz, progresso e cada vez mais justiça. O século XIX desenvolveu a ciência, trouxe a ideia de democracia de volta às mentes, popularizou as artes, e acabou com a escravidão. Mas meu século, o XX, destruiu quase todas essas ideias. Tudo o que os sonhadores do século anterior sonharam, o XX desfez.
  Lincoln não é um grande filme. Spielberg depois de velho resolveu ser John Ford. Mas ele não pode ser Ford porque o mundo onde Ford foi formado foi o idealista mundo do século XIX. Mas Spielberg tenta e devo dizer que pelo menos nesta época de cinismo e de negativismo blasé, Spielberg insiste em nos oferecer humanismo. O filme é digno, solene, seco e não faz concessões. Fala do tempo em que os homens faziam politica.
   Politica...Voce pode não acreditar mas a politica já foi a coisa mais importante da vida. Hoje ela não existe. Não se faz politica, se administra um banco. A economia tomou seu lugar. Porque politica não é pensar em termos de lucro e divida. Politica é ter projetos, pensar o futuro, acreditar em ideologias e saber fazer aliados e calar inimigos. Não há um só lider nacional que pense em termos politicos hoje. Pensam em conseguir lucros e assim garantir mandatos. São gerentes de bancos.
   Lincoln nos mostra a politica. E recordo de outra coincidência. Não faz mais de dois dias que li que o sexo tomou o lugar da politica na vida dos jovens. Nenhum jovem pensa em politica e isso é bom para quem odeia a politica mas ama o poder. Pois Lincoln amava a politica.
   Cheguei a acompanhar o último politico grande vivo: Maggie Thatcher foi pura politica. Uma raposa, uma gênial mistura de crueldade e de visão a longo prazo. Depois dela...vácuo.
   Terá a geração teen a consciência da importância histórica do que lá é recordado? De que enquanto nós aqui pagávamos o mico de ter uma familia real de sangue europeu, os EUA, na vanguarda, continuavam a construir seu projeto de nação? ( Que foi traído no século XX ). Podemos odiar os yankees, mas é a verdade, os EUA do século XIX são um projeto racional, duro, teimoso de nação. O filme mostra isso. Se Lincoln errasse o país negaria seu destino, ele não errou. O erro viria em 1898 com o começo do imperialismo nas Filipinas e Porto Rico. Como dizia Gore Vidal, a partir daí os militares passariam a ser o poder do país. No tempo de Lincoln não. Há o projeto civil, republicano e representativo. Um projeto que ousa, em 1864, dar a liberdade aos negros africanos.
   Spielberg apenas filma, nada inventa. O filme não tem uma grande cena. Daniel Day-Lewis está pegando todos os grandes papéis. Além de ser grande ator, tem concorrentes fracos. Quem mais poderia ser Lincoln? Sean Penn? Não temos mais Gregory Peck, Gary Cooper ou Henry Fonda. Esse tipo de ator, digno, viril, elegante, de voz poderosa, ponderado, desapareceu. Então quando precisamos desse tipo de ator temos Daniel. E Daniel. Ele está muito bem. Assim como Sally Field, melhor que ele, menos composta, mais quente que o inglês. E o grande Tommy Lee, cada vez melhor ator, que na verdade é o que mais me agradou, fazendo uma interpretação natural, matreira, cheia de nuances.
   Não é um grande filme. Longe disso. Espertamente Spielberg fez o filme certo na hora certa. O tema é muito bom. ( O roteiro é de Tony Kutchner. É aquele Tony, de Angels in America? ).
   Na verdade Cavalo de Guerra, como filme, me agradou bem mais. Mas todos devem ver este filme. Nem que seja para saber que um dia se fez politica no mundo. Que ela não é apenas isso que agora vemos, a administração de dinheiro e de negócios. Foi uma ideia, um plano e uma visão.
   Tá dito.

HUGO/ SPIELBERG/ KIRK DOUGLAS/ JOHN WAYNE/ MUPPETS

   A INVENÇÃO DE HUGO CABRET de Martin Scorsese com Ben Kingsley
São os mais belos cenários digitais da história. E Martin demonstra um amor inocente ao cinema. O filme é um imenso cartão postal para Georges Méliés. E tem cenas comoventes com Buster Keaton. Mas eu duvido que alguém vá gostar do cinema que Martin homenageia só por ter gostado deste filme. O público que predomina nas salas de hoje está pouco se lixando para o que seja a tal "arte cinematográfica". Se lixa menos ainda para o que seja sua história, sua origem. Eles querem emoções simples, rasteiras e óbvias. De agora. Mas devo dizer que com toda essa beleza e nobres intenções, é um filme com miolo enjoativo, cheio de momentos chatos. De qualquer modo seu terço final é bastante bom. Para cinéfilos é fascinante ver a recriação dos estúdios de Méliés e dos bastidores de seus filmes. Nota 7.
   O CAVALO BRANCO de Albert Lamorisse
Curta de diretor que depois se tornaria famoso com O Balão Vermelho. Aqui ele fala de garoto que tenta domar cavalo selvagem. De melhor há a paisagem da Camargue, região do estuário do rio Rône. Um pântano sem fim, plano e muito agreste. Nota 5.
   TINTIM de Steven Spielberg
Se voce gosta de Hergé, fuja. Nada há aqui do visual limpo, elegante, solar do desenhista belga. Pior que isso, o capitão Haddock se tornou um patético alcoólatra. O filme nem sequer usa suas blasfêmias. Em tempos moralistas, fizeram de um bêbado simpático, um doente chato. O filme é barulhento, histérico, excessivo. A ação nunca consegue empolgar, o filme não tem humor e não tem suspense. Pior que tudo, o roteiro acaba por se revelar mal cosido. Nota 2 por algumas belas paisagens.
   GIGANTES EM LUTA de Burt Kennedy com Kirk Douglas e John Wayne
Já foi feito no ocaso do western. É sobre um plano de assalto a diligência. Wayne e Kirk são ex-inimigos que resolvem agir juntos. O filme é ok. Tem ação e tem leveza. Mas tem principalmente a verve safada de Kirk Douglas. Ele adora fazer esse tipo de mulherengo sujo, mentiroso e sorridente. Gostamos de vê-lo na tela. Wayne está cansado. Deixa que o filme fuja de suas mãos. Apenas está lá, sendo o mito da velha América. Para quem ama westerns é uma bela diversão. Nota 6.
   OS MUPPETS de James Bobin
É o recente filme dos geniais bonecos de Jim Henson. E este filme prova o dom único de Jim. Caco é comandado por outra pessoa, Henson já morreu. E juro que dá pra notar que não é ele. Caco perde em humanidade, os movimentos estão mais duros, a mão se move com menos precisão. O filme em si é muito fraco. O problema não é o fato das novas gerações não conhecerem os bonecos, o problema é o roteiro muito ruim. Nota 1.
   O CAÇADOR de Daniel Nettheim com Willem Dafoe
Como cinema é banal. Filmado sem emoção e sem criatividade. Mas ele tem duas coisas que o notabilizam: o cenário e o tema. É filmado na Tasmânia, um lugar que não se parece com nehum outro do planeta. E fala de um caçador que é contratado por uma corporação cientifica para matar o último Tigre da Tasmânia e recolher suas vísceras e sangue para pesquisas. O que vemos é toda a caçada desse homem calado, e sua súbita tomada de consciência. O final é bem triste. O tema mexeu bastante comigo. É o tipo de filme comum ( mas nada ruim ), que dá margem a horas de conversa. Nota 5.
   QUASE FAMOSOS de Cameron Crowe
Não gosto de pensar neste filme e revê-lo foi uma experiência ruim. Ele me dói. Fico louco de saudades daquilo que fui, daquilo que presenciei e daquilo que a gente perdeu. A inocência só se perde uma vez. O mundo nunca mais será ingênuo. Restam as músicas, a trilha do filme é covardia, tá tudo aqui, de Neil Young à Thin Lizzy. Absolutamente deslumbrante. Mas me dá uma tristeza cruel.... Nota 9.
   JOVEM NO CORAÇÃO de Richard Wallace com Janet Gaynor, Douglas Fairbanks Jr e Paulette Goddard
Uma familia que vive de golpes malandros, envolve uma velhinha solitária em suas tramóias. Os atores são excelentes e fazem tudo aquilo que dele se espera. Temos Douglas sendo jovial, Janet como uma doce mulher e ainda Roland Young fazendo seu ótimo tipo excêntrico. É gostoso de ver, mas às vezes cai num melô forçado. A senhora solitária é boazinha demais. Nota 5.

CLINT/ BOB FOSSE/ FORD/ WILLIAM POWELL/ SPIELBERG/ STEVE MARTIN

   O DESAFIO DAS ÁGUIAS de Brian G. Hutton com Richard Burton e Clint Eastwood
Tudo dá errado. Pelo menos este filme serve pra valorizarmos ainda mais a Dirty Dozen. Fala sobre grupo de soldados que deve invadir a Alemanha para resgatar general. Burton está passivo, com expressão de completo tédio. Clint nada tem a fazer. Seu personagem é apenas um enfeite, um americano bonitão zanzando pelo set. Uma aventura que não tem suspense, não tem humor, não tem nada. Nota 1.
   LENNY de Bob Fosse com Dustin Hoffman e Valerie Perrine
A vida do humorista Lenny Bruce é contada como uma febre de jazz. Em luxuoso P/B, Dustin Hoffman dá uma interpretação frenética, se entrega ao personagem. O filme tem uma falha: não revela a alma de Lenny. Mas suas qualidades, a criativa ousadia de Fosse, homem que conhecia o ambiente de cabaret onde Lenny viveu. Valerie Perrine tem uma atuação à altura, sexy e vulnerável. Belo filme. Nota 8.
   SANGUE POR GLÓRIA de John Ford com James Cagney
Talvez seja o pior filme de Ford. Não se decide entre drama e comédia. Passado na guerra, brinca com situações espinhosas, nunca convence. Nota 3.
   O RAPTO DA MEIA-NOITE de Stephen Roberts com William Powell e Ginger Rogers
O diretor é fraco, mas Powell e Ginger são excelentes, e então se torna um prazer ver o filme. Feito em 1935, ele lembra muito Thin Man, sucesso de Powell na época. Ele é um advogado que desvenda um rapto. Ginger é sua namorada. Powell desfila seu humor fino, sua classe, a voz que baila pelos diálogos. Ginger, o rosto cheio de ironia, é sexy em todas as cenas. Os olhos zombeteiros e a voz em desafio constante. O filme é para os dois. Nota 6.
   O ARTISTA de Michel Hazanavicius com Jean Dujardim e Bérenice Bejo
Ele é corajoso, excêntrico e tem uma atuação genial de Dujardim. Ele faz uma mistura de Douglas Fairbanks com Gene Kelly que é comovente. Mas tem suas falhas, a foto em P/B é pobre e a história é simplória. De qualquer modo, é um filme realmente diferente, que ousa não apostar em efeitos, em sexo e violência. O Oscar 2012 toma partido, tenta valorizar filmes de bons sentimentos. Missão inglória, nosso tempo é de bad feelings. Nota 7,
   O GRANDE ANO de David Frankel com Steve Martin, Owen Wilson e Jack Black
O diretor fez o Diabo veste Prada e Marley e Eu. Se esses dois filmes eram ainda agradáveis, este é irritante. Consegue se deslocar do Alasca até o Texas e mesmo assim não ter uma só imagem memorável. Isso porque tudo é feito em close e com uma insistência ridicula em cortar e cortar e mover o foco. Todos os cortes são exagerados, eles são errados todo o tempo. E tome movimento, tome mudança de cena, tome narração de fundo ( pelo Monty Python John Cleese ). Histerismo, nulidade. A história, que fala sobre 3 homens apaixonados por observar pássaros, é desperdiçada. O que dizer de um filme sobre a natureza que exibe muito mais celulares e carros que paisagens e bichos? Steve Martin, que foi um talento imenso, destruiu seu rosto: as plásticas eliminaram seu talento facial. Jack Black faz as mesmas caras e bocas de sempre e Owen é o mais esforçado, o que não significa muito aqui. Eis um filme que demonstra o tipo de cinema televisivo que está matando o cinema cinema. Nota ZERO.
   CAVALO DE GUERRA de Steven Spielberg
Careta, conservador, pouco ousado, e delicioso. Um mestre fazendo um filme de mestre. Há idiotas que reclamaram da guerra ser "mal mostrada"... Como? É coisa daquela gente que só consegue se emocionar às porradas. Precisa de visceras e sangue para sentir. Coitados.... Outra crítica é ao encontro do soldado inglês com o soldado alemão. Para mim é uma cena belíssima. Fantasiosa, hilária, corajosa. Viagem de Steven? Sim! Que bom! É um prazer assistir esta história. Plenamente satisfatória, seu não-sucesso atesta a decadência do público de cinema e não de seu diretor. Ele nos relembra o prazer de se ver e ouvir uma história bem contada. Nota 9.

CAVALO DE GUERRA- SPIELBERG, CINEMA PURO

   Como é bom assistir um mestre em ação! Um diretor que sabe desenvolver sua história, sem atropelos, pausando as imagens, mostrando as paisagens, longe de qualquer estética que não seja a da tela grande. Gente filmada à distância, corpos inteiros, grandes multidões, cenas com vários personagens agindo ao mesmo tempo, céu e chão no mesmo take. Ah.... que coisa boa....um filme que se parece com cinema!
   Steven Spielberg adora David Lean, mas apesar de alguns criticos muito mal informados falarem que este filme lembra Lean, ele na verdade é puro "Hollywood Clássica". David Lean faria cenas muito mais longas, colocaria a ênfase no pacifismo e usaria menos diálogos. O que vemos aqui é um filme como os de Clarence Brown ou Sam Wood, competência e entertainment.
   O filme é lindo e satisfatório. O fato de não ser um big sucesso mostra onde estamos. Hoje ET seria um fiasco. Bons sentimentos não fazem mais bilheteria e Spielberg ainda acredita no ser-humano. Ele insiste em ver beleza na vida e em tentar compreender as pessoas. Não tem medo de parecer careta ( sempre foi ), infantil ou piegas. Ele é tudo isso, e hoje em tempos de cinismo chique, Spielberg se torna um original, um diferente. Daí seu não-sucesso. Seu filme, hiper-pop, parecerá de outro planeta para quem cresceu com video-games e Guy Ritchie. Ele fala de familia, de bondade e de nobreza. Alguém se importa?
   Plasticamente o filme é o mais belo do ano. Não há sovinismo, ele mostra e sabe mostrar. Poucos closes, sem efeitos modernosos, sem frescuras. Desde a primeira cena voce sabe do que se trata: uma narrativa, uma clássica e bela narrativa, com começo, meio e fim, simples e bem contada, e eu percebo: como isso é hoje raro!
   Adorei o filme! Fiquei absorvido por cada minuto. Queria que ele durasse mais. Mas vamos à história.
   Ela vai de uma fazenda pobre da Inglaterra à França durante a primeira guerra. E tudo é brilhantemente mostrado. O cavalo, que jamais é humanizado, é testemunha passiva da loucura dos homens. Vítima. Como também são os alegres soldados. Aquela guerra foi a pior por ter sido a primeira guerra mecanizada. Foi uma guerra em que os soldados e as defesas eram ainda de 1880, mas o armamento e as crueldades já eram as do século XX. Quando os soldados ingleses avançam à cavalo, de surpresa, contra as metralhadoras alemãs, vemos toda a tragédia. A quebra de um código de conduta ( ataque sem aviso ), e o absurdo de se usar espada e cavalo contra metralhadora e canhões. É um massacre. É patético. Spielberg consegue ser veemente sem mostrar uma só cena de sangue jorrando ou de membros voando. Isso é arte.
   O cavalo vive então quatro etapas: na fazenda com arreios, na guerra, numa fazenda francesa e na guerra de novo. Em todas ele sofre como um animal. Mas repito, nada há de humano nele, é sempre um cavalo, e isso faz dele algo de muito mais terrível: ele nos acusa. Seu olho natural nada pode entender, ele apenas sofre, e vai em frente. Ao contrário de O ARTISTA, que é um filme nobre mas com uma história muito pobre; aqui temos nobresa com história, o roteiro é bem articulado, sabe criar tipos críveis, sabe avançar. E temos o belo animal.
   Fato estranho acontece no Oscar deste ano. Temos dois filmes radicalmente antiquados, que optam corajosamente por não ser "como se deve ser agora". Nada de cortes e mais cortes e de cenas com dois personagens no máximo. Bennet Miller e o filme sobre beisebol com Brad Pitt é a antitese deste filme. Mundo minúsculo, pobre, nervoso e labirintico, versus o universo vasto, rico, observador e observado, cheio de história.
   Volto a dizer: Como é bom ver um filme assim. Observe a casa onde Joey, o potro, nasce. Como ela é rica em detalhes e em como Spielberg a exibe com calma, carinhosamente. Depois veja as trincheiras, os jovens soldados. Eles têm chance de se tornar gente, o diretor permite que eles falem, que seus rostos sejam conhecidos. O mesmo com a fazenda na França. Vemos a menina e seu avô por apenas vinte minutos. Mas Spielberg consegue fazer com que os conheçamos, entendemos quem são e o que fazem. Como Steven Spielberg consegue isso? Porque ele ama os personagens, ama aquele cavalo, ama o cinema. Onde a câmera toca ele cria vida. O filme se torna admirável.
   Há uma cena ao final. A silhueta do cavalo e do jovem,  finalmente de volta pra casa. O que vemos é um imenso horizonte amarelo. Isso me lembrou John Ford. É o tipo de cena que um diretor televisivo jamais fará. É o tipo de cena que fica grudada na memória de quem a vê.
   CAVALO DE GUERRA não ganhará o Oscar. Mas ficará como etapa belissima da história do cinema. Um dos últimos filmes a contar um conto à beira da fogueira. Tem de se ver. É de verdade.

BUSTER KEATON/TAVIANI/SPIELBERG/PAUL NEWMAN

FLIPPER de James B. Clark
A história do garoto da Florida que faz amizade com golfinho. O filme se tornou série de Tv ecológica. Muita gente passou a conhecer golfinhos via Flipper. O filme é ingênuo, doce, meio enjoado. Mas o cenário é lindo. Nota 4.
FREE AND EASY de Clyde Brucknam com Buster Keaton, Robert Montgomery e Anita Page
Buster Keaton em filme falado... ele tem uma voz séria, fria, pouco engraçada. Seu corpo fica subjugado aos diálogos e o filme se torna um grande vazio. É triste assistir ao começo do fim deste mago da poesia. Como ver um pássaro sem asas. Hitchcock disse que " todo filme ruim é igual : são duas pessoas falando e mais nada. " Keaton falando cala seu corpo e amordaça seu rosto. Fim. Nota 3.
NOITES COM SOL de Vittorio e Paolo Taviani com Julian Sands, Nastassja Kinski e Charlotte Gainsbourg
Se voce se interessa por religião e fé este filme é obrigatório. Trata da luta de um homem por conhecer Deus. Ele se entrega ( ou tenta se entregar ) a solidão total. Cenário, música e atores exatos. Há uma cena de chuva de doer de tão bela. Nota 8.
CIÚMES de Clarence Brown com Clarck Gable, Jean Harlow e Myrna Loy
Eu adoro Myrna Loy. Para mim, ela é a mulher perfeita. Aqui ela é esposa feliz de homem apaixonado e romântico. Mas um dia ela põe na cabeça que ele a trai com secretária. O tipo de deliciosa besteira que Hollywood fazia às dúzias, num tempo em que cinema era indústria de "diversão civilizada ". Todos os atores transpiram charme, os diálogos são leves e espertos e o filme corre como trem de prata. Relaxe...... Nota 7.
CASANOVA E A REVOLUÇÃO de Ettore Scola com Marcello Mastroianni, Jean-Louis Barrault, Hanna Schygula e Jean-Claude Brialy
Em que pese um Mastroianni soberbo como um Casanova velho, e um Barrault apimentado como um escritor libertino, este mastodôntico filme do belo diretor Scola, tem os piores defeitos do cinema europeu : ele se acha mais brilhante do que de fato é. Nota 3.
CAVADORAS DE OURO de Mervyn Leroy com Joan Blondell, Dick Powell, Ruby Keeler, Ginger Rogers e Aline MacMahon
Garotas na miséria tentam fazer sucesso na Broadway. É musical coreografado por Busby Berkeley, ou seja, é ridículo, exageradamente carnavalesco, é o máximo do kistch, e é divertidíssimo !!!! Joan é sedutora, Dick é o bom rapaz, Ruby a menina inocente, Ginger faz a gostosa interesseira e Aline diz as melhores piadas. Só vendo para crer neste musical onde ninguém dança ( até o surgimento de Astaire o que se fazia era mover a câmera pegando atores quase parados. Musical era uma sucessão de "quadros" posados, onde o ritmo era dado na edição. Astaire paralisou a câmera e soltou os pés. ) As músicas são ótimas. Nota 7.
LOUCA ESCAPADA de Steven Spielberg com Goldie Hawn e Ben Johnson
Moça "obriga" marido a escapar da prisão para que possam raptar o próprio filho e salvá-lo da adoção. O filme é todo on the road. É divertido ver este muito jovem Spielberg filmando de modo solto, sem nenhum melado, engatilhando algumas cenas pouco "perfeitas", mas já exibindo sua fixação pela infância. O filme foi grande fracasso e nada fazia prever o que Spielberg se tornaria. Um belo road-movie dos 70's. Nota 7.
VALE TUDO de George Roy Hill com Paul Newman
Que belo filme e que bela surpresa ! Nesta história de um fracassado time de hockey no gelo, Paul Newman brilha no papel do técnico-jogador que se convence de que para vencer é preciso ser muito sujo, jogar feio e com violência absoluta. O filme não tem vergonha : o que importa é vencer. Trata-se de uma comédia que se tornou cult, que foi péssimamente refilmada e que diverte muito. O time todo é feito de desajustados e o trio dos Hanson, três atores amadores descobertos para o filme, é hilário. De certa forma este é o primeiro filme de "Adam Sandler ou de Will Ferrell" da história. É o mesmo tipo de humor mal caráter e sujo, mas aqui, ainda com resquícios de roteiro e direção. Nota 8.
O PAI DA NOIVA de Vincente Minelli com Spencer Tracy, Joan Bennet, Elizabeth Taylor e Don Taylor
Refeito em 95 com Steve Martin, Diane Keaton e Martin Short. É incrível, mas o roteiro é quase exatamente o mesmo ! Muito pouco foi mudado, talvez apenas as cenas com Short. Apesar de eu adorar Steve, Spencer Tracy está a anos-luz dele, assim como comparar Elizabeth Taylor com a mocinha que fez a filha em 95 chega a ser cruel. Minelli também não pode ser comparado à Charles Shyer. Então pra que o refilmaram ? Nota 7.
INTRIGA INTERNACIONAL de Alfred Hitchcock com Cary Grant, Eva Marie Saint, James Mason e Martin Landau
Dizer o que ? Este é o filme que me fez descobrir Hitchcock. Trata-se de um dos dois ou três filmes mais divertidos já feitos. Ele é leve, engraçado, cheio de ação, de suspense e de clima de pesadelo também. Um banquete, onde o mestre inglês esbanja genialidade em fazer o que quer com seu público. Se existe um filme perfeito, este é o filme. NOTA ACIMA DE TODAS AS NOTAS.
A TORTURA DO SILÊNCIO de Alfred Hitchcock com Montgomery Clift, Anne Baxter e Karl Malden
O lado negro de Hitch. Filmado em Quebec, cheio de sombras, este filme trata de padre que é acusado de crime. Ele sabe quem é o assassino, mas não pode dizer quem é sem quebrar seus votos de segredo de confessionário. Este filme original trata de religião, de culpa, de paranóia, de razão contra fé e de um ator extraordinário : Clift, o ator que abriu caminho para Brando. É também um dos filmes que melhor usa o truque favorito de Hitchcock : as tomadas em que os olhos dos atores falam conosco; são momentos soberbos. Não é um filme fácil, é desprovido de humor, mas é um grande filme. Nota 9.

SPIELBERG/FATAL/MEL BROOKS/BETTY HUTTON/2001-KUBRICK

ENCURRALADO de Steven Spielberg
Steven estréia neste tv-movie para a NBC. Fez tanto sucesso que acabou passando nas telas de cinema também. Ele faz aqui aquilo que sabe : entreter. Um caminhão persegue um carro. Obsessivamente. E é só isso. Alguns bons momentos num tipo de "Os Pássaros" sem o gênio de Hitchcock. nota 5.
FATAL de Isabel Coixet com Ben Kingsley, Penelope Cruz, Dennis Hopper.
O interesse único é o belo trabalho dos atores. São humanos. Nem bons, nem ruins: imperfeitos. O final, melodrama óbvio, estraga o tom. Baseado em Philip Roth, mostra o que acontece com uma história contada sem a escrita refinada de Roth : pobreza. O cinema não se adapta à Roth. nota 5.
UM CONTO DE CANTERBURY de Michael Powell
Um dos milagres de nosso mercado de DVDs é a bela quantidade de filmes de Powell lançados no Brasil. Alguém os compra ? Eu compro todos. Powell é um tesouro, um troféu que dignifica o cinema. Todos os seus filmes guardam discretas surpresas. Nunca são aquilo que prometem, sempre são mais. Este parece ser sobre a segunda-guerra. Depois parece uma comédia e então se torna um conto policial. Mas ao final mostra o que é : um poema sobre Canterbury, berço espiritual da Inglaterra. As cenas que mostram o cotidiano da cidade, os sotaques, a geografia do lugar, são magistrais. Uma pedra preciosa. Uma sonata de piano. Raro. --- uma curiosidade: há uma cena com o seguinte diálogo entre dois soldados americanos : - como voce conseguiu se acostumar com esse chá preto? é horrível!!!! - ora, questão de hábito. É COMO MARIJUANA. UM SIMPLES HÁBITO!!!!----- o filme foi feito antes da criminalização da erva. nota 9.
O CONFORMISTA de Bernardo Bertolucci com Jean-Louis Trintignant, Stefania Sandrelli, Dominique Sanda e Gastone Mosquin.
De uma irritante tolice. O pior dos anos 60 está todo aqui : um esquematismo revolucionário em que tudo cheira a panfletagem. Nada tem sentido psicológico, nada tem clareza, tudo é pesado, veemente, exarcebado. Chato, cansativo, infantil. nota ZERO.
O JOVEM FRANKENSTEIN de Mel Brooks com Gene Wilder, Marty Feldman, Teri Garr, Madeline Kahn, Cloris Leachman, Kenneth Mars, Peter Boyle e Gene Hackman.
Brooks, com sua grossura e falta de finesse, criou a comédia atual. Tudo pode ser feito, desde que faça rir. Seu trunfo são seus atores. A troupe que ele tinha em mãos era realmente talentosa. Todos brilham, todos fazem rir. Os americanos consideram esta uma das cinco maiores comédias da história. Não sei se é tanto. Mas é uma soberba diversão. nota 8.
ANNIE GET YOUR GUN de George Sidney com Betty Hutton e Howard Keel.
Um musical sobre shows de western que aconteciam no início do século XX. Um musical sobre a maior atiradora da história : Annie Oakley, uma caipira dos cafundós. Um musical com uma estrela que eu nunca assistira : Betty Hutton. Um musical que fez com que eu me apaixonasse por Hutton. Ela é um fenômeno!!!! Muito engraçada, cheia de caretas de moleque sujo, bonita, rouba o filme e nos encanta. Uma festa! Ah... músicas ( excelentes ) de Irving Berlin. nota 8.
PRIMAVERA PARA HITLER de Mel Brooks com Zero Mostel e Gene Wilder.
A estréia de Brooks no cinema lhe deu o Oscar de melhor roteiro. Uma comédia maravilhosa sobre a Broadway que teve uma refilmagem infame com Nathan Lane/ Mathew Broderick/ Uma Thurman. O autor nazista, o diretor gay, o cantor glitter-hippie, são personagens hilários!!!! Um enorme prazer. nota 8.
MORE de Barbet Schroeder
Um alemão vai de carona à Paris. Conhece junkie. A segue à Ibiza. Se droga. Sexo à três. Só isso. Trilha sonora do Pink Floyd. É a estréia de Barbet como diretor. Séculos depois ele faria " O reverso da Fortuna" e "Mulher solteira procura". Foi produtor de Rhomer e Rivette antes deste filme. Que poderia não ser tão ruim se tivesse algum ator que soubesse interpretar. É tudo de um amadorismo absurdo. Para piorar, todas as falas são improvisadas. De bom, uma Ibiza ainda espanhola, parecida com uma Ilhabela-junk. A trilha é ok, mas a música daquele momento era feita pelo Soft Machine! nota 1.
ORFEU de Jean Cocteau com Jean Marais, Maria Casarés, François Périer e Marie Déa.
Primeiro fato: Cocteau não tem vergonha. Ele pensa ser um gênio e expõe isso sem pudor algum. Ele foi um gênio ? Bem... quase. Poeta, pintor, desenhista, cenógrafo, cineasta, músico... ele foi tudo isso. Como não se concentrou em nada, acabou não sendo gênio em nada. Mas foi grande. Orfeu adapta o mito grego para nosso tempo. ( Será que o muito elegante tempo do filme- Paris 1950- ainda é nosso tempo ? ). O filme é sobre a morte, a poesia, o amor, os espíritos. Mas no fundo é sobre Cocteau. Seu ego está em cada segundo filmado. Este filme é também, possívelmente, o que melhor soube mostrar a falta aparente de lógica dos sonhos. Mas atenção : é um filme fácil de entender. Não é hermético. É aberto. Como todo Cocteau, belo de se ver. nota 8.
2001-UMA ODISSÉIA NO ESPAÇO de Stanley Kubrick
Isto não é um filme. É um conceito. Com isso em mente, assita-o.
Primeiro fato: como é possível ter sido um sucesso em 68 um filme tão dificil ?
Segundo: muita gente tomava LSD no saguão e viajava todo o filme. Dizem que ele dá uma bela viagem.
Terceiro: Kubrick nunca foi tão ambicioso. Ele tenta explicar a vida. Para nosso tempo, em que tudo que um bom diretor deseja é mostrar um pouquinho de seu coraçãozinho, isso é irritante.
Quarto: os primeiros vinte minutos são soberbos. Kubrick filma, talvez, os mais emocionantes momentos do cinema. A aurora do Homem. O medo, a agressividade, o nascimento de nós mesmos. Há algo de profundamente comovente naqueles seres. Em seu primitivismo. Nós os olhamos não como nossos avôs. Parecem nossos desamparados filhos. A breve cena que mostra seu terror noturno sempre me comove. Como me comove também a cena em que Kubrick se exibe gênio que é, aquela com os ossos.
Quinto: tédio. O filme se torna lento. Toda a missão espacial é glacial. Mas impressiona um fato : o acerto no modelo do computador com câmera. Os efeitos ( pré-digitais, feitos mecanicamente ) são perfeitos.
Sexto: o computador enlouquece. Muito trágico o fato de que a sabedoria humana se concentra numa máquina.
Sétimo: a morte e a entrada em outra dimensão. A melhor sequencia ( longa ) sobre o que seria o xamanismo. O astronauta morre. O que ocorre ? Uma viagem de LSD numa cena ultra psicodélica. Sons de sintetizador. ( num tempo de sintetizadores do tamanho de armários- sem teclados! )
Oitavo: o final. Não vou contar. ( Alguém ainda não viu 2001 ? ). Mas é intrigante, surpreendente, e faz, estranhamente, sentido.
Nono: a última imagem. Faz chorar. É linda. Talvez a mais linda possível.
O QUE É ESTE FILME?
Para Kubrick, o homem só viveu dois momentos chave : a descoberta de sua singularidade, que se deu através da descoberta da arma; e a viagem espacial, a saída deste planeta. O terceiro passo evolutivo, ainda não dado, seria o encontro com uma inteligência fora deste mundo. O monolito é o que? Pode ser Deus. Pode ser a razão ( observe que na natureza não existe a linha reta, ele é chocante para os trogloditas por ser retilineo, polido, perfeito ), pode também ser um ET. O monolito simboliza a novidade, o ponto de morte/renascimento. Mas daí vem outro enigma : porque a sala Luis XV ?
Pauline Kael, que não gostava do filme, o chamava de aula de filosofia alemã dada por um chato professor calvinista. Nem tanto. Como disse, voce não pode julgá-lo como cinema, é arte conceitual, uma instalação. Dificil, árido, árduo, mas acredite, inesquecível. nota DEZ.

SODERBERGH/FELLINI/JAMES STEWART/CLINT/OZ

A ÚLTIMA CARROÇA de Delmer Daves com Richard Widmark e Felicia Farr
Um assassino condenado lidera grupo de religiosos através de terras de índios. Ele próprio é um índio. Simples, como todo western deve ser. Belas paisagens, bons personagens. Widmark agrada sempre, com seu ar de psicopata. Daves foi um dos bons diretores de ação dos anos 50. Diversão sem compromisso. nota 6.
A TRAPAÇA de Federico Fellini com Broderick Crawford e Richard Basehart
Se Bogart não houvesse tido seu câncer fatal, teríamos aqui um momento de antologia. Pois era Bogey quem iria fazer o papel do pequeno malandro, explorador de pobres diabos que nada têm. Com Crawford, este filme, feito entre La Strada e Cabíria, perde seu sentido. Um Fellini que não parece Fellini, pois é realista, documental, quase um Rosselini. nota 5.
IRRESISTÍVEL PAIXÃO de Steven Soderbergh com George Clooney e Jennifer Lopez
Reassistí este muito agradável filme. Do tempo em que Soderbergh era bom. Do tempo em que Clooney parecia querer ser um novo Cary Grant ( hoje é um novo Gregory Peck ). Do tempo em que Jennifer prometia ser uma futura comediante... O filme, sobre malandragens e trapaceiros, é delicioso. Junto com The Limey, é meu Soderbergh favorito. nota 7.
O GATO PRETO de Edgard G. Ulmer com Bela Lugosi e Boris Karloff
Inacreditávelmente picareta!!!! Um absurdo de diálogos ridículos, imagens de fru-fru, atores sem direção e roteiro amador. Bela tem o pior desempenho da história do cinema. Um tipo de ator pretensioso recitando má poesia colegial. Mas por tudo isso...nota 6.
SUBLIME DEVOÇÃO de Henry Hathaway com James Stewart e Richard Conte
Existem certos atores que nos fazem vibrar quando os vemos e ouvimos suas vozes. São como gente da família. Gente que visitamos por toda a vida e não nos cansamos de rever. Atores que fizeram muitos filmes bons e que portanto nos dão muitos motivos para visitar. James Stewart é um dos mais amados. Ele é simpático. ele parece confiável, ele jamais dá uma interpretação ruim, ele é um ícone. Aqui ele é um repórter que investiga um caso de assassinato. Ele não crê na inocência do condenado, mas acaba, lentamente, mudando de opinião. Este filme, sem trilha sonora, seco, duro e ágil, quase um documentário; é maravilhosamente bem dirigido pelo muito competente Hathaway, diretor de quase cem filmes e um dos gigantes que fizeram a glória da Fox. Um filme que te deixará muito tenso, ligado, interessado e torcendo muito. Roteiro e fotografia de gênio. nota 8.
COMEÇOU EM NÁPOLES de Melville Shavelson com Clarck Gable e Sophia Loren
Apesar do nome o filme se passa quase todo em Capri. Isso dito... que linda ilha!!!!! E como Sophia era bonita de se ver! Tão bela que chega a parecer irreal, um milagre da natureza. Ela hipnotiza nosso olhar, vulcaniza a tela e explode em vida e alegria. Genuinamente. O filme, uma comédia romântica, trata do contraste entre a América, fria, rica, eficiente; e a Itália, quente, pobre, preguiçosa. Felizmente toma o partido da Itália. Um dos primeiros filmes que ví em minha vida, numa velha Sessão da Tarde, no tempo em que filmes de Loren, Elvis, Jerry Lewis e Lucille Ball abundavam na tv. nota 6.
ALWAYS de Steven Spielberg com Richard Dreyfuss, Holly Hunter e John Goodman
Muito estranho o ano de 89. Enquanto Stephen Frears filmava uma obra-prima chamada Ligações Perigosas, Milos Forman fazia Valmont, baseado no mesmo livro. E enquanto se filmava Ghost, Spielberg fazia Always- o mesmo filme, porém, passado entre aviadores e sem metade do interesse do filme com Swayze e Demi. Um diretor do tamanho de Steven não tem o direito de fazer algo tão primário, tão mal construído, tão inútil. Cheio de romance que não emociona, ação que nada move, diálogos que nada dizem. Um desastre! nota zero.
COMO AGARRAR UM MARIDO de Frank Oz com Steve Martin e Goldie Hawn
Eu adoro Steve Martin. Como Jim Carrey, Will Smith, Kevin Kline, Clint Eastwood; adoro ver seu rosto na tela. Ele não precisa fazer muito para agradar. Basta estar lá. Este roteiro, bobíssimo, trata do velho tema de opostos que se descobrem apaixonados. Não faz rir. Mas se deixa ver sem problema algum. nota 5.
BRONCO BILLY de Clint Eastwood com Clint e Sondra Locke
Um tipo de Beto Carrero dos pobres. Essa é a história de Billy, um cowboy que com sua trupe de ex-detentos faz shows pelo interiror dos EUA. Um filme on the road, uma comédia amarga. O filme, bastante feito nas coxas, é barato, quase amador. E mal escrito. Clint, no tempo em que parecia sem grande talento, não se dá ao trabalho de dirigir os atores. Erros se acumulam. Faltam cortes, faltam segundas tomadas. Um filme muito estranho... nota 3.
O SOL É PARA TODOS de Robert Mulligan. com Gregory Peck, Mary Badham. roteiro de Horton Foote e música de Elmer Bernstein
Não é uma obra-prima. Não tem essa pretensão. Mas é um dos mais lindos filmes que já assistí. Comovente em profundidade, tudo funciona à sublime perfeição. Leia meu comentário logo abaixo. Coloco aqui um adendo : o filme tem a estréia de Robert Duvall no cinema. Entra mudo e sai calado. Seu personagem fica 3 minutos em cena. Veja o milagre que ele faz. Um discurso com os olhos... Quanto a Gregory e Mary... se houvesse nota maior que dez eu a daria.