Aprendi a ler poesia com Whitman. Até então, eu lia poemas como se lesse prosa. Com o mesmo tempo, o mesmo ritmo. Whitman me ensinou o tempo e o ritmo da leitura da poesia. Tempo poético. E então eu me encantei com seu ego. Tudo nele é ele e ele está em tudo. O poeta canta a América, a América é ele.
Walt Whitman é masturbatório, e sim, alguns poemas são descrições cifradas da masturbação. A geografia do amor é a geografia de seu próprio corpo. Como ele fala, ele se basta.
Nosso tempo nasceu não na primeira guerra mundial, ele nasce na construção da América e a América nasce na guerra civil. É a primeira guerra moderna, a primeira com jornalistas, metralhadora, tanques, máquinas; e ainda hoje há quem diga ter sido a pior. Walt estava lá, enfermeiro, viu a morte de perto e cantou. Soube ver o renascimento na dor.
Seu estilo é o do pregador. O poeta sobe ao púlpito e prega aos crentes. Crentes que são americanos, de todas as Américas.
A Europa jamais poderia ter um Whitman. Ele precisa de espaço, de virgindade, de começos. A Europa é pequena, é velha, está viciada.
Wordsworth é a Inglaterra e Goethe a Alemanha. Dante é o mundo latino e Petrarca é a Itália. Pois Whitman é os EUA. Ele fala de um presente eterno, ele olha o futuro, ele deixa o passado. Ama o movimento, o ir-se, o individualismo, a coragem, a comunhão. Acima de tudo, ele se ama. Ele olha para si-mesmo e cai de paixão. Mas jamais uma paixão sofrida, ele a goza. Da folha de grama ao soldado que passa, tudo lhe é irmão, e tudo ele ama.
Whitman teve uma visão e passou a vida inteira descrevendo-a. Reescrevia sua obra sem cessar. Mas desde 1855 sua palavra se afirmara. Um canto a si-mesmo que era um canto a todas as Américas. Todas as terras onde vivessem homens que amassem a democracia, onde as mulheres andassem a cavalo e soubessem atirar, onde os seres fossem camaradas. Onde os horizontes não tivessem fim.
Os EUA acreditaram em Whitman até 1949. Depois disso, apenas beats e hippies e hoje os ecológicos tentaram manter viva a voz do poeta. Até pouco depois da segunda-guerra voce percebe em filmes e discos e livros americanos a voz de Whitman. A confiança absoluta na vida americana. Mas a partir da guerra da Coréia, da caça aos comunistas, voce começa a notar um desencanto, uma farsa, a América deixa de ser a terra do agora e do porvir e se torna a terra do medo e da nostalgia. Walt Disney e sua fantasia é o Walt desde então. Distração e diversão.
Os homens que Whitman amou, os simples homens que sabiam atirar e plantar e caçar e domar e amar, esses se foram. As simples mulheres de Whitman, aquelas que eram como cavalos, essas se foram. A América endeusa esses homens e mulheres, porque sabe que eles jamais voltarão. E canta esses heróis no blues, no country, e nos westerns. O individuo que faz parte, o original que é nós-mesmos, o americano.
Whitman me ensinou a ser eu-mesmo. A olhar o caminho e a cantar. Não é mais meu poeta favorito, mas a ele devo a entrada da poesia em minha vida. Viva Walt!
Walt Whitman é masturbatório, e sim, alguns poemas são descrições cifradas da masturbação. A geografia do amor é a geografia de seu próprio corpo. Como ele fala, ele se basta.
Nosso tempo nasceu não na primeira guerra mundial, ele nasce na construção da América e a América nasce na guerra civil. É a primeira guerra moderna, a primeira com jornalistas, metralhadora, tanques, máquinas; e ainda hoje há quem diga ter sido a pior. Walt estava lá, enfermeiro, viu a morte de perto e cantou. Soube ver o renascimento na dor.
Seu estilo é o do pregador. O poeta sobe ao púlpito e prega aos crentes. Crentes que são americanos, de todas as Américas.
A Europa jamais poderia ter um Whitman. Ele precisa de espaço, de virgindade, de começos. A Europa é pequena, é velha, está viciada.
Wordsworth é a Inglaterra e Goethe a Alemanha. Dante é o mundo latino e Petrarca é a Itália. Pois Whitman é os EUA. Ele fala de um presente eterno, ele olha o futuro, ele deixa o passado. Ama o movimento, o ir-se, o individualismo, a coragem, a comunhão. Acima de tudo, ele se ama. Ele olha para si-mesmo e cai de paixão. Mas jamais uma paixão sofrida, ele a goza. Da folha de grama ao soldado que passa, tudo lhe é irmão, e tudo ele ama.
Whitman teve uma visão e passou a vida inteira descrevendo-a. Reescrevia sua obra sem cessar. Mas desde 1855 sua palavra se afirmara. Um canto a si-mesmo que era um canto a todas as Américas. Todas as terras onde vivessem homens que amassem a democracia, onde as mulheres andassem a cavalo e soubessem atirar, onde os seres fossem camaradas. Onde os horizontes não tivessem fim.
Os EUA acreditaram em Whitman até 1949. Depois disso, apenas beats e hippies e hoje os ecológicos tentaram manter viva a voz do poeta. Até pouco depois da segunda-guerra voce percebe em filmes e discos e livros americanos a voz de Whitman. A confiança absoluta na vida americana. Mas a partir da guerra da Coréia, da caça aos comunistas, voce começa a notar um desencanto, uma farsa, a América deixa de ser a terra do agora e do porvir e se torna a terra do medo e da nostalgia. Walt Disney e sua fantasia é o Walt desde então. Distração e diversão.
Os homens que Whitman amou, os simples homens que sabiam atirar e plantar e caçar e domar e amar, esses se foram. As simples mulheres de Whitman, aquelas que eram como cavalos, essas se foram. A América endeusa esses homens e mulheres, porque sabe que eles jamais voltarão. E canta esses heróis no blues, no country, e nos westerns. O individuo que faz parte, o original que é nós-mesmos, o americano.
Whitman me ensinou a ser eu-mesmo. A olhar o caminho e a cantar. Não é mais meu poeta favorito, mas a ele devo a entrada da poesia em minha vida. Viva Walt!