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A BELEZA DENTRO DA REALIDADE: A NEW WAVE INGLESA NO CINEMA.
Aqui no Brasil a cultura francesa sempre mandou. Hoje, 2020, a americana tem seu poder, mas em lugares como a USP quem manda é ainda a França. Quando voce pega a lista de artigos a serem lidos no semestre, 70% são de autores franceses. O resto é dividio por russos e americanos. Ingleses quase não há. Por isso herdamos o desprezo, aqui absoluto, ao bom senso e a praticidade. Amamos complicar. Amamos leis. Amamos o selo de aprovação. -------------------------------------- Se em 1959 a Nouvelle Vague teve início, em 1958 começou a New Wave inglesa. Críticos como Godard e Truffaut nunca cansaram de criticar o cinema inglês. Pegamos essa opinião de carona. Nossos críticos da época, e nossos novos diretores, nada viam de novo no cinema britânico de então. Preferiam seguir Godard e às vezes o neo realismo italiano. Pena. Os filmes ingleses seriam perfeitos se usados como influência sobre o cinema paulista, por exemplo. Walter Hugo Khoury imitava Bergman e Antonioni em 1963. Seria muito bom se alguém imitasse John Schlesinger ou Tony Richardson. Mas não rolou. -------------------------------------------------- O cinema inglês sempre foi brilhante. Mas, diziam alguns, era um cinema que só tinha olhos para a classe média e para as cidades do sul. Ainda hoje percebemos isso. Quando se fala em cinema inglês se pensa em mais um filme baseado em Jane Austen ou Henry James. Mais um Shakespeare. Mais uma biografia de alguma rainha. Ou mais um Churchill na tela. Históricos, sempre filmes históricos. Quando não, são classe média. Filmes sobre um jovem publicitário ou uma jovem estilista, um morador do Soho ou de Chelsea. E mesmo quando fazem algo sobre crime ou drogas, veja bem, é algo sobre crime e drogas e não sobre a vida comum de gente nada especial. Não se faz nada sobre o povo real. Os 80% que trabalham nos pubs, fábricas e taxis. Somente Ken Loach e Mike Leigh têm obras sobre esse povo. Nas séries de TV nada é muito diferente. Downtown Abbey é cinema inglês dos anos 50. ---------------------------------------------------------- No Brasil não é diferente. Voce verá muito filme sobre gente pobre. Mas apenas sobre traficantes, travestis ou a favelada cômica, a Dona Jura do pedaço. Preconceito terrível: o pobre só importa quando se pode rir dele. Ou quando ele é marginal. Fora isso, os 90% restantes são irrelevantes. Não existem para os bacanas que fazem cinema. ---------------------------------------- Na Inglaterra era assim em 1957. Pobres só quando cômicos. ------------------------------------------------ Carol Reed. Michael Powell. Os filmes da Ealing Studios. Na Inglaterra dos anos 40 e 50 foram feitos alguns dos melhores filmes da história. David Lean. Hitchcock. Mas, é fato, são filmes hsitóricos ou policiais, filmes de fantasia ou sobre as dores dos muito ricos. Todos têm sotaque da BBC. Todos são very, very english. --------------------------------------------------------- Então surge a new wave. E ontem termino de ver 4 filmes do movimento. LOOK BACK IN ANGER. É a peça de Joe Osborne. O texto sobre um jovem em revolta contra tudo. Richard Burton passa o filme todo exalando ódio. O teatro dos angry young man. TUDO COMEÇOU NUM SÁBADO. De Karel Reisz. Albert Finney como o operário que não admite ser menos que um líder e um sedutor. Ele não ri. Ele tem desejo e só desejo. A KIND OF LOVING, o melhor dos quatro filmes, Alan Bates como o educado e muito jovem trabalhador de futuro, que vê sua vida mudar por causa de uma gravidez. THE ENTERTAINER, de Tony Richardson. Laurence Olivier como um ator passado, ridículo, sem talento, que insiste em não mudar. ----------------------------------------------------------------- A tábua de passar roupa. Quando a peça de Joe Osborne estreou foi um choque. No palco, no centro, apenas uma tábua de passar roupa e uma cadeira. O espetáculo consistia em um casal se agredindo. --------------------------------------------------------------------------------- Que Inglaterra era essa? Mal se entende o que Albert Finney fala!!! TUDO COMEÇOU NUM SÁBADO se passa em Nottingham. E a fala de Finney é a de lá. KIND OF LOVING é feito em Bolton. E a vida no norte, e no país norte é tudo que fica acima de Londres, é outra. -------------------------------------------------------- Nos extras um crítico diz que só se pode entender bandas como Smiths ou Joy Division, se olhar-se esses filmes. Morrissey fez todo o primeiro album de sua banda baseado em apenas um filme, A TASTE OF HONEY, e todas as capas e clips remetem ao norte do país. Segundo esse crítico, a cultura do norte, de Manchester, Liverpool, Newcastle, Bristol, Hull, deu origem à toda raiva e ansiedade da onda pop dos anos 60-70 e 80. A Inglaterra que se vê nesses filmes, cheia de fuligem, suja, pobre, repleta de crianças, perdurou até os anos 90. Quem tem 50 anos ou mais viveu essa cultura new wave. A onda do trabalhador que quer se divertir, que briga na rua, que exige respeito, que deseja coisas e não para de arrumar encrenca. E se deprime por não conseguir. A poesia desses filmes. O crítico fala da beleza que irrompe insuspetia dessas imagens. E termino falando disso. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Eu cresci anglófilo. Não sei o motivo. Quando brincava de soldado, aos 6, 7 anos, eu era sempre um soldado inglês, nunca americano e nunca um cowboy. Talvez tenha sido a beleza da bandeira. Ou os filmes de piratas. Não sei. O rock não foi, pois eu amava os Monkees e sabia que eram americanos. Talvez tenha sido o Joe 90? Não sei. ---------------------------------- Quando comecei a ver filmes de adultos, foi natural me apaixonar pelos filmes ingleses. E o que eu mais gostava é que achava a paisagem dos filmes parecida com aquela onde eu vivia. Não eram as calçadas largas de Los Angeles nem os prédios de New York, não era a classe média rica da Feiticeira ou de Jeannie. Nos filmes ingleses a paisagem era a dos bandos de crianças com nariz sujo. As cozinhas entupidas de caixas, e roupas e panelas sem lavar. As ruas cinzentas, estreitas, acanhadas e os imensos terrenos vazios ocupados por tijolos, mato, ratos, latas e muita lama. As camas parecem molhadas e os lençois usados demais. Banheiro não há. Se lavam na pia da cozinha. TV, quando existe, está no canto, na sala que serve como cozinha e lavanderia. Todos falam alto. Todos gritam. Voce sente o cheiro: suor. Meias sujas. Peixe frito. Muito cigarro. Nos pubs, apertados, eles bebem cerveja preta e gritam muito. Se ofendem. Apostam. Sonham. O sexo nunca é bom como foi pensado. As mulheres são feias. Frias. Sofridas. E mesmo assim, há beleza e vitalidade em tudo. As paisagens são de terrificante beleza. Wordsworth revivido. --------------------------------------------------------- Escrevi várias vezes que não há arte sem pobreza. É a fome o combustível da criação. Após os anos 90, quando finalmente toda ruína da segunda guerra foi reparada e a lembrança da fome morreu, a Inglaterra se tornou esse país meio frouxo que é hoje. Somente o imigrante tem ainda alguma vitalidade. Porque ele lembra da pobreza de seu país de origem. Ver esses filmes é ver um mundo que não existe mais.
INTOCÁVEIS/ TIM BURTON/ MIB III/ JOHN WAYNE/ LANG
SOMBRAS DA NOITE de Tim Burton com Johnny Depp, Michelle Pfeiffer, Eva Green, Helena Bonham-Carter
Dificil falar deste filme. Foi injustamente desprezado. Não é ruim e não é nada bom. Ele é tolo, inacreditávelmente infantilóide e sem graça. Mas ao mesmo tempo há algo nele que convida a diversão. Talvez seja o belo visual gótico-cafona, talvez uma atuação tão ruim de Depp que se torne interessante. O roteiro, péssimo, fala de um homem enfeitiçado e que séculos depois volta como vampiro. Boa lembrança de Burton em abrir o filme com o Moody Blues e sua nights in white satin. Um dos filmes mais mal feitos de Burton....E com tudo isso, eu ainda assim gostei. Nota 6.
UM parênteses: Zero-ridiculo, 1-péssimo, 2-fraco, 3-medíocre, 4- uma pena, 5- razoável, 6-médio, 7- bom, 8-um ótimo filme, 9 grande!, 10- sensacional, Obra-Prima- único.
UM GOSTO DE MEL de Tony Richardson com Rita Tushingham
Adorei. Num p/b muito cinzento, vemos a história ( ou apenas um flash ), na vida de uma mocinha pobre, feia e sem graça. O que a redime é sua raiva e sua juventude. É a Londres que já tinha os Beatles, mas ainda não sabia disso. 1961. Ando vendo sites de cinema, e num deles há uma critica em que um idiota chama este filme de "chatice desinteressante". Nunca vi respostas tão iradas dos leitores. O tal critico não tolerou a exibição de um passado inglês que não casa com aquilo que ele quer imaginar ser sua história. É uma Londres feia, suja e de gente que discute todo o tempo. Escrevi mais sobre este filme logo abaixo. Destaque para a trilha esquisita de John Addison. Nota 7.
MAN HUNT de Fritz Lang com Walter Pigeon e Joan Bennet
O filme foi feito em plena segunda-guerra, antes da entrada dos EUA na guerra. Temos um inglês que é pego na Alemanha no momento em que ia atirar em Hitler. Ele foge e na Inglaterra, agentes alemães tentam trazê-lo de volta. O filme começa muito bem, mas tem um problema, o roteiro. Dificil aceitar a facilidade com que os agentes nazistas trabalham em Londres. Lang era um excelente diretor, às vezes genial, mas não era Hitchcock. Inexiste suspense. Nota 5.
OS COMANCHEROS de Michael Curtiz com John Wayne e Stuart Whitman
No começo dos anos 60, John Wayne era o astro mais famoso do mundo. Mas não era um dos de maior prestigio. A crítica preferia Lancaster, Peck, Newman, Quinn ou Brando. E pior que isso, Wayne estava falido. Chegou a fazer cinco filmes em um ano para tentar se reerguer. E já com o câncer que o levaria quase vinte anos depois. Este é o último filme de Curtiz, diretor mítico de Casablanca e dos hits de Erroll Flynn. É um western cômico, sobre caçador de recompensas e vendedores de armas mexicanos. Nada de especial, mas nada que envergonhe a carreira de Wayne. Nota 5.
HOMENS DE PRETO III de Barry Levinson com Will Smith, Tommy Lee Jones e Josh Brolin
O primeiro foi maravilhoso. O segundo muito chato. Este é irregular. Toda a primeira parte é sem ritmo, sem humor, parece forçada. Melhora depois graças ao bom tipo de Josh Brolin. Smith volta a 1969 para salvar seu amigo Lee Jones. Estranho, foi-se o bom humor. O filme chega a ser triste. O contraste de 69 com 2012 não é explorado. Temos a impressão de que nada havia de diferente então ( a não ser o tamanho maior dos gadgets ). Nota 4
WATCHMEN de Zack Snyder
Comprei esse dvd a séculos mas não me animara a ver. Ei-lo. Começa prometendo muito. Um visual deslumbrante e um clima de filme noir anos 40. Além do bom uso da música de Dylan. Mas logo se revela seu problema número um: a falta de um bom herói. Não há ninguém que nos interesse. E depois nasce mais um problema, vemos que toda aquela complicação é só para disfarçar a mensagem simplória: a América é um lixo. Mais uma dessas peças que tratam dos males do país ao mesmo tempo em que vendem o modo de vida americano. Ele fala mal da América sendo hiper-americano. Uma contradição, um golpe de publicidade como tanto se faz. Se voce quer ser anti-americano, tenha a coragem de criar ou seguir um estilo não-hollywoodiano. Machismo, violência, crime, tudo glamurizado. Nota 1.
INTOCÁVEIS de Toledano e Nakache com Omar Sy e François Cluzet
Cássio Starling escreveu na Folha que este filme trata o negro como macaco. Mentira! Omar Sy dá um show como um africano da periferia de Paris. Um homem que começa como um malandro desajustado e que aos poucos percebe que dá pra tentar se dar bem sendo um cara do bem. O filme é antiquado, conservador e banal. Essa história de homem rico e triste que descobre a alegria com alguém pobre é velha como um filme de Julia Roberts. Mas há um mérito não desprezível aqui: o filme evita a chantagem melô. Nada de ceninhas pra chorar. É triste, mas não é chorão. Aliás, podiam ter tirado a péssima trilha de pianinho tipícamente noveleiro. Fenômeno na França, parece que vai bem aqui. Filme comum que com certeza será refilmado e destruído em Hollywood. Nota 5.
PARAÍSOS ARTIFICIAIS de Marcos Prado
Poucos filmes tem personagens tão babacas. Tudo aqui é um porre de classe média em seu pior aspecto. Ele é falso, vazio, sem porque e mal intencionado. Todas as cenas chegam a constranger. O diretor parece ter o dom de sempre escolher o pior enquadramento. O tipo de filme que deseja ser moderno e acaba sendo apenas um péssimo produto. Zerão!
Dificil falar deste filme. Foi injustamente desprezado. Não é ruim e não é nada bom. Ele é tolo, inacreditávelmente infantilóide e sem graça. Mas ao mesmo tempo há algo nele que convida a diversão. Talvez seja o belo visual gótico-cafona, talvez uma atuação tão ruim de Depp que se torne interessante. O roteiro, péssimo, fala de um homem enfeitiçado e que séculos depois volta como vampiro. Boa lembrança de Burton em abrir o filme com o Moody Blues e sua nights in white satin. Um dos filmes mais mal feitos de Burton....E com tudo isso, eu ainda assim gostei. Nota 6.
UM parênteses: Zero-ridiculo, 1-péssimo, 2-fraco, 3-medíocre, 4- uma pena, 5- razoável, 6-médio, 7- bom, 8-um ótimo filme, 9 grande!, 10- sensacional, Obra-Prima- único.
UM GOSTO DE MEL de Tony Richardson com Rita Tushingham
Adorei. Num p/b muito cinzento, vemos a história ( ou apenas um flash ), na vida de uma mocinha pobre, feia e sem graça. O que a redime é sua raiva e sua juventude. É a Londres que já tinha os Beatles, mas ainda não sabia disso. 1961. Ando vendo sites de cinema, e num deles há uma critica em que um idiota chama este filme de "chatice desinteressante". Nunca vi respostas tão iradas dos leitores. O tal critico não tolerou a exibição de um passado inglês que não casa com aquilo que ele quer imaginar ser sua história. É uma Londres feia, suja e de gente que discute todo o tempo. Escrevi mais sobre este filme logo abaixo. Destaque para a trilha esquisita de John Addison. Nota 7.
MAN HUNT de Fritz Lang com Walter Pigeon e Joan Bennet
O filme foi feito em plena segunda-guerra, antes da entrada dos EUA na guerra. Temos um inglês que é pego na Alemanha no momento em que ia atirar em Hitler. Ele foge e na Inglaterra, agentes alemães tentam trazê-lo de volta. O filme começa muito bem, mas tem um problema, o roteiro. Dificil aceitar a facilidade com que os agentes nazistas trabalham em Londres. Lang era um excelente diretor, às vezes genial, mas não era Hitchcock. Inexiste suspense. Nota 5.
OS COMANCHEROS de Michael Curtiz com John Wayne e Stuart Whitman
No começo dos anos 60, John Wayne era o astro mais famoso do mundo. Mas não era um dos de maior prestigio. A crítica preferia Lancaster, Peck, Newman, Quinn ou Brando. E pior que isso, Wayne estava falido. Chegou a fazer cinco filmes em um ano para tentar se reerguer. E já com o câncer que o levaria quase vinte anos depois. Este é o último filme de Curtiz, diretor mítico de Casablanca e dos hits de Erroll Flynn. É um western cômico, sobre caçador de recompensas e vendedores de armas mexicanos. Nada de especial, mas nada que envergonhe a carreira de Wayne. Nota 5.
HOMENS DE PRETO III de Barry Levinson com Will Smith, Tommy Lee Jones e Josh Brolin
O primeiro foi maravilhoso. O segundo muito chato. Este é irregular. Toda a primeira parte é sem ritmo, sem humor, parece forçada. Melhora depois graças ao bom tipo de Josh Brolin. Smith volta a 1969 para salvar seu amigo Lee Jones. Estranho, foi-se o bom humor. O filme chega a ser triste. O contraste de 69 com 2012 não é explorado. Temos a impressão de que nada havia de diferente então ( a não ser o tamanho maior dos gadgets ). Nota 4
WATCHMEN de Zack Snyder
Comprei esse dvd a séculos mas não me animara a ver. Ei-lo. Começa prometendo muito. Um visual deslumbrante e um clima de filme noir anos 40. Além do bom uso da música de Dylan. Mas logo se revela seu problema número um: a falta de um bom herói. Não há ninguém que nos interesse. E depois nasce mais um problema, vemos que toda aquela complicação é só para disfarçar a mensagem simplória: a América é um lixo. Mais uma dessas peças que tratam dos males do país ao mesmo tempo em que vendem o modo de vida americano. Ele fala mal da América sendo hiper-americano. Uma contradição, um golpe de publicidade como tanto se faz. Se voce quer ser anti-americano, tenha a coragem de criar ou seguir um estilo não-hollywoodiano. Machismo, violência, crime, tudo glamurizado. Nota 1.
INTOCÁVEIS de Toledano e Nakache com Omar Sy e François Cluzet
Cássio Starling escreveu na Folha que este filme trata o negro como macaco. Mentira! Omar Sy dá um show como um africano da periferia de Paris. Um homem que começa como um malandro desajustado e que aos poucos percebe que dá pra tentar se dar bem sendo um cara do bem. O filme é antiquado, conservador e banal. Essa história de homem rico e triste que descobre a alegria com alguém pobre é velha como um filme de Julia Roberts. Mas há um mérito não desprezível aqui: o filme evita a chantagem melô. Nada de ceninhas pra chorar. É triste, mas não é chorão. Aliás, podiam ter tirado a péssima trilha de pianinho tipícamente noveleiro. Fenômeno na França, parece que vai bem aqui. Filme comum que com certeza será refilmado e destruído em Hollywood. Nota 5.
PARAÍSOS ARTIFICIAIS de Marcos Prado
Poucos filmes tem personagens tão babacas. Tudo aqui é um porre de classe média em seu pior aspecto. Ele é falso, vazio, sem porque e mal intencionado. Todas as cenas chegam a constranger. O diretor parece ter o dom de sempre escolher o pior enquadramento. O tipo de filme que deseja ser moderno e acaba sendo apenas um péssimo produto. Zerão!
A TASTE OF HONEY- TONY RICHARDSON, FREE CINEMA
A Inglaterra sempre teve ótimo cinema. David Lean, Carol Reed, Michael Powell, Anthony Asquith...Mas seu cinema foi sempre acusado de passadista, de cinema de sala de chá. Bonito, artístico, cheio de excelentes atores e de boas frases, mas sem verdade e sem "atualidade". Isso tudo mudou em 1958 com a eclosão do movimento do "free cinema". John Schlesinger, Karel Reisz e Tony Richardson foram os primeiros nomes. Mas logo a eles se uniram Richard Lester, Ken Russell, John Boorman, Michael Winner e Ken Loach. Como eram esses filmes?
Mostravam a Inglaterra real, a jovem Inglaterra. E o que seria o tal "real"? E "jovem", era o que? Para explicar, vejamos este excelente filme.
Mãe e filha. A mãe tem vários namorados, a filha está sempre de mal humor. Vivem discutindo. Se agridem e são pobres. E feias. Quantos mitos caíam aqui? Nada de salas de chá. São casas sujas, apertadas, escuras e cheias de mal cheiro. Nada da famosa elegância. São mal vestidos, sujos e sem boas maneiras. E falam alto. Têm muita raiva. A base desses filmes é a raiva.
Antes do free cinema houve a revitalização do teatro. Os "angry young men". Tony Richardson começou com eles, dirigindo Osborne no West End. Raiva, eles queriam tudo e nada tinham. Raiva. Jovem era a raiva.
Voltando ao filme.
A mãe vai morar com um namorado. A filha tem caso com marinheiro negro. Ele parte e ela vai morar sózinha. Mas acaba por dividir o espaço com um novo amigo, gay assumido. E por aí vamos. Feito em 1962, eis uma Inglaterra que não existe mais. Primeira surpresa: bandos de crianças nas ruas. Elas são donas de tudo. Entre 1945 e 1960 houve um surto de nascimentos na Europa. E nos EUA. O "baby boom". Dizem que crianças nascem quando o mundo está otimista. Elas aqui dominam a vida. Correm, pulam, são sujas e têm espaço. A cidade é cheia de vielas, prédios aos pedaços, ruas sem gente, terrenos baldios. Ainda há marcas da guerra, restos e muita poluição. Todos são muito pobres, mas já pressentem o surto de crescimento dos anos que viriam ( 63/72 ). Aquelas crianças nas ruas serão os hippies de 69 e os glitters de 72.
A câmera se enerva. Nada é bonitinho, mas não se apela ao drama. Não temos pena da menina. E de ninguém. Assistimos e gostamos deles, de todos eles, sabemos que eles irão sobreviver. Todos eles. São vivos, ansiosos, nunca deprimidos. Falam, andam. O filme tem muito de documentário, acompanhamos suas idas a parques, a praias, a diversões vulgares. Vemos a verdade, se é que ela existe. Se existir, estará aqui.
Antecipações do futuro. O namorado negro, o amigo gay, a vontade de ser um designer, o querer ser só, a raiva jovem. Ela é uma menina de 2012. Sem a pasmaceira de 2012. Com a ansiedade de 1962.
Tony Richardson acertou nos seus cinco primeiros filmes. E Tom Jones, em 1963,o quinto filme em quatro anos, lhe deu Oscars de filme e direção. Voces têm de ver Tom Jones! Mas a partir desse sucesso ele só errou. Seu casamento com Vanessa Redgrave acabou e todos os seus filmes fracassaram. Mas este não.
Voce vê o filme com muito prazer e sente algo de muito volátil em cada cena. A transformação se anunciava. Londres iria se erguer, voltar a ser moda, criar, inovar, ousar. E essas crianças sentem isso em meio a toda miséria.
Que filme lindo!
PS: Arte brota na sujeira. Sempre.
PS2: O pessoal da nouvelle vague adorava odiar todo o cinema inglês. Tolice! Velha rivalidade entre bulldogs e galos.
PS3: As ruas hoje são de quem? Carros? Õnibus? Ou estão desertas? São de pessoas adultas ocupadas.
Mostravam a Inglaterra real, a jovem Inglaterra. E o que seria o tal "real"? E "jovem", era o que? Para explicar, vejamos este excelente filme.
Mãe e filha. A mãe tem vários namorados, a filha está sempre de mal humor. Vivem discutindo. Se agridem e são pobres. E feias. Quantos mitos caíam aqui? Nada de salas de chá. São casas sujas, apertadas, escuras e cheias de mal cheiro. Nada da famosa elegância. São mal vestidos, sujos e sem boas maneiras. E falam alto. Têm muita raiva. A base desses filmes é a raiva.
Antes do free cinema houve a revitalização do teatro. Os "angry young men". Tony Richardson começou com eles, dirigindo Osborne no West End. Raiva, eles queriam tudo e nada tinham. Raiva. Jovem era a raiva.
Voltando ao filme.
A mãe vai morar com um namorado. A filha tem caso com marinheiro negro. Ele parte e ela vai morar sózinha. Mas acaba por dividir o espaço com um novo amigo, gay assumido. E por aí vamos. Feito em 1962, eis uma Inglaterra que não existe mais. Primeira surpresa: bandos de crianças nas ruas. Elas são donas de tudo. Entre 1945 e 1960 houve um surto de nascimentos na Europa. E nos EUA. O "baby boom". Dizem que crianças nascem quando o mundo está otimista. Elas aqui dominam a vida. Correm, pulam, são sujas e têm espaço. A cidade é cheia de vielas, prédios aos pedaços, ruas sem gente, terrenos baldios. Ainda há marcas da guerra, restos e muita poluição. Todos são muito pobres, mas já pressentem o surto de crescimento dos anos que viriam ( 63/72 ). Aquelas crianças nas ruas serão os hippies de 69 e os glitters de 72.
A câmera se enerva. Nada é bonitinho, mas não se apela ao drama. Não temos pena da menina. E de ninguém. Assistimos e gostamos deles, de todos eles, sabemos que eles irão sobreviver. Todos eles. São vivos, ansiosos, nunca deprimidos. Falam, andam. O filme tem muito de documentário, acompanhamos suas idas a parques, a praias, a diversões vulgares. Vemos a verdade, se é que ela existe. Se existir, estará aqui.
Antecipações do futuro. O namorado negro, o amigo gay, a vontade de ser um designer, o querer ser só, a raiva jovem. Ela é uma menina de 2012. Sem a pasmaceira de 2012. Com a ansiedade de 1962.
Tony Richardson acertou nos seus cinco primeiros filmes. E Tom Jones, em 1963,o quinto filme em quatro anos, lhe deu Oscars de filme e direção. Voces têm de ver Tom Jones! Mas a partir desse sucesso ele só errou. Seu casamento com Vanessa Redgrave acabou e todos os seus filmes fracassaram. Mas este não.
Voce vê o filme com muito prazer e sente algo de muito volátil em cada cena. A transformação se anunciava. Londres iria se erguer, voltar a ser moda, criar, inovar, ousar. E essas crianças sentem isso em meio a toda miséria.
Que filme lindo!
PS: Arte brota na sujeira. Sempre.
PS2: O pessoal da nouvelle vague adorava odiar todo o cinema inglês. Tolice! Velha rivalidade entre bulldogs e galos.
PS3: As ruas hoje são de quem? Carros? Õnibus? Ou estão desertas? São de pessoas adultas ocupadas.
CLINT/ RICHARD BURTON/ DAVID LEAN/ SIDNEY LUMET/ WILLIAM HOLDEN
ALÉM DA VIDA de Clint Eastwood com Matt Damon Crítica abaixo. É um bom filme. Inclusive tem a coragem de deixar tudo no ar. Todas as cenas com Matt Damon são excelentes. A trilha sonora é de Clint. Há algum diretor americano atual mais irriquieto? Nos últimos dez anos ele falou de boxe, de pedofilia, de imigração, de falsos heróis e do Japão e a guerra. Tudo com seu estilo low profile, discreto, sério, sem afetação nenhuma. É o cara. Nota 7. ....................................UM DOCE OLHAR de Semin Kaplanoglu Muito elogiado, este filme mostra a bela relação entre pai e filho na Turquia. O pai colhe mel de abelhas que vivem no alto das árvores. O menino é isolado na escola e se solta com o pai. É bom ver um filme turco. Outra paisagem, outros rostos. A fotografia é bonita, o filme tem poucos cortes e boas intenções. Mas não há nada nele que não tenha sido feito antes ( e melhor ). De qualquer modo, para aqueles que começam a ver filmes agora, é recomendado. Nota 5. ...................................................................GREAT BALLS OF FIRE de Jim McBride com Dennis Quaid, Winona Ryder e Alec Baldwin Foi um aguardado lançamento no fim da década de 80 esta bio de Jerry Lee Lewis, o bombástico "novo Elvis" que arruinou sua carreira ao se casar com a própria prima de 13 anos. Dennis Quaid é tão elétrico quanto Jerry Lee, sua atuação, à cartoon, é esfuziante. Quaid, ainda jovem, é um ator que nos dá prazer em ver. Winona, beem jovem, tem aqui o melhor papel de sua desperdiçada carreira. Vê-la aqui e em seguida na bomba ridicula de Aronofski chega a ser um choque! McBride estudou no Rio. Um apaixonado pelo cinema brazuca, seus filmes são sempre muito coloridos, exagerados, vivos, quase excessivos. Este é um tipo de brincadeira festiva sobre um dos mais dionisíacos astros do rock. Alec Baldwin está muito correto como Jimmy Swaggart, o muito bem sucedido primo de Jerry Lee, um pastor evangélico. O conflito entre os dois é o melhor do filme. Se a bio de Ray Charles foi uma patuscada caretésima, e se a bio de Cash foi muito pouco rock, esta é totalmente cartoon, irreal, frenética e vazia. É obrigatório para fãs de rocknroll. Nota 7. ..........................................................................................ODEIO ESSA MULHER de Tony Richardson com Richard Burton, Mary Ure e Claire Bloom Burton faz raios caírem na Terra com este texto irado de John Osborne. É sobre raiva e desespero, sobre desencanto e machismo. Nada há de agradável ou de bonito no filme inteiro. A Inglaterra reconhece sua irrelevância neste momento ( e ao reconhecer seu fim dá seu último berro de criação ). Por que atores ingleses são tão bons? Shakespeare no breakfast? Nota 7. .............................................................................................GRANDES ESPERANÇAS de David Lean com John Mills, Valerie Hobson, Jean Simmons Os primeiros vinte minutos deste filme são das melhores coisas já feitas na história do cinema. Um clima de medo, confusão e solidão levado com maestria pelo seguro David Lean. Depois o filme deixa de ser tão genial e se torna apenas ótimo. Há quem considere este o maior filme baseado em Dickens já feito ( e sabemos o quanto a refilmagem de Cuarón com Gwyneth e Hawke é ruim...), Oliver Twist do mesmo Lean é melhor, mas este é totalmente absorvente. As cenas na casa abandonada, a relação da familia do menino, o modo como a menina o trata, tudo é inesquecível, feito com a competência de quem sabe do que fala. A fotografia é de Guy Green, fotografia da soberba escola inglesa de 1940/1960. David Lean é o mais bem sucedido diretor inglês da história, ele é o modelo e sonho de Spielberg e que tais. Eu prefiro Powell, mas dizer o que de quem fez estes filmes dickensinianos, e ainda Lawrence da Arábia e A Ponte do Rio Kwai? O homem era nobre, detalhista, perfeccionista, culto e sempre valorizava a finesse de seu público. Cinema que nos trata bem, que nos valoriza. Nota 8. ..................................................................................................................................................LADRÕES DE CASACOS de Robert Asher com Terry Thomas e Billie Whitelaw Grupo de aposentados passa a roubar estolas e casacos de peles. O objetivo é doar o dinheiro a caridade e dar nova vida a suas medíocres existências. Comédia inglesa tradicional: um pouco excêntrica, muito convencional. Os Atores a salvam e o texto é agradável. Nota 5. ....................................................EM UM MUNDO MELHOR de Susanne Bier O tema é "relevante", mas o filme é terrivelmente nórdico: anódino, bonzinho, sem tempero. Típico produto que agrada àqueles que vão ao cinema ver uma tese, um telejornal, algo de "bom", não Cinema. Não dá para se falar de direção, de atores, de falas, de alguma arte; o que se pode é falar do tema, apenas do tema. Como cinema é paupérrimo. Nota (............).................................................................... SUCKER PUNCH-MUNDO SURREAL de Zack Snyder O diretor disse em entrevista ser fã de Kurosawa. Nada aprendeu com seus filmes ( terá mesmo visto algum? ). O filme, bem moderninho, é uma mixórdia de efeitos espertos, mocinhas fashion e teorias pseudo-bem sacadas. Que saco!!!!!!! Nota Zeeeeeero! ...........................................................................................REDE DE INTRIGAS de Sidney Lumet com Faye Dunaway, Peter Finch e William Holden Quem quiser saber o que é um bom filme do moderno cinema americano veja este. Dizer mais o que? O roteiro de Paddy Chayefski é uma porrada na cara de todos nós. Não há um herói, o que há é um louco, uma ambiciosa escrota e um bom-coração bundão. A TV manda e a TV é ninguém. Lumet dirige como um gênio ( que não foi, mas chegou perto disso ), várias cenas são antológicas. Em 1976, em minha primeira noite de Oscar ( eu era uma criança... ) torci muito por este filme ( mesmo sem o assistir ), deu Rocky de Stallone... esse foi meu primeiro contato frustrante com o tal prêmio. Trinta e cinco anos depois e Lumet morre nos deixando este filme ainda vivo e relevante. E que atuação é essa de Peter Finch????? Chega a dar medo de tão poderosa!!! ( ele venceu postumamente como best actor, morreu logo após este filme ). Nota 9.
LOOK BACK IN ANGER ( ODEIO ESSA MULHER )- TONY RICHARDSON
A Inglaterra vai abaixo nos anos 50 quando se cria o teatro dos Angry Young Men. E ninguém foi mais angry que John Osborne. Look Back in Anger é a peça que mudou tudo, e este é o filme. História: Teatro inglês era aquela coisa de sempre ( como o cinema também era ), podia às vezes ser genial ( como em Wilde ) mas era sempre aquele bando de lords dizendo coisas inteligentes e wit. Mais que isso, todos pareciam feitos de papelão. Nada de paixão ou de sangue verdadeiro. Os tempos de Marlowe e de Shakespeare eram então recriados como tempo afetado. Mas veio esta peça e a coisa caiu. Gírias, sujeira, violência, jazz, sexo e gente pobre. Vida real? Nem tanto, vida vazia. Jimmy Porter, o personagem, torna-se o ícone da geração que daria ao mundo os Beatles e os Stones ( o teatro de Osborne é bem mais i can't get enough ). Jimmy trabalha na feira e toca piston. É casado e arruma amante, mas o principal: Jimmy odeia a vida. Ele passa todo o tempo agredindo tudo a seu redor. Ele odeia os velhos, odeia as mulheres, odeia o sol e a lua, odeia o passado colonial e a guerra, odeia a paz. No filme, esse papel é feito por Richard Burton e não poderia haver atuação melhor. A cena em que ele murmura a palavra: " Horror" após um enterro é terrificante. O filme aliás, é das coisas mais desagradáveis que já vi. Se voce abomina a Inglaterra de reis gagos e de irmãs fofinhas, este é seu filme. O tal do "filme inglês" ( que aliás eu adoro ) é cruelmente assassinado aqui. Nada é vitoriano, elegante, bonito. O que se mantém de inglês são as falas soberbas e os atores, magistrais. O artificialismo está exatamente nessas falas. Jimmy fala como um menestrel, ele sabe falar bem. E contra o que ele se revolta? Contra tudo. E porque? Eis a força do texto: por nada. Jimmy diz ter ódio de viver, e esse ódio não tem motivo. Quando pensamos descobrir uma razão ela se esvai na cena seguinte. Isso dá o caráter desagradável do filme: esse mal estar, essa raiva é inerente a vida. Viver seria sentir raiva de viver. A fotografia de Oswald Morris, toda em vielas com céus nublados é coisa do mestre que ele é. Junto de Jack Cardiff, são meus dois fotógrafos de cinema favoritos. Claire Bloom faz a amante com rasgos de esperteza. Há algo de muito diabólico nela. Mary Ure é a esposa. Ela sofre sem motivo, é agredida sem reagir e ama quem a destrói. Tony Richardson faria após esta bomba incendiária, Tom Jones, que lhe daria um muito justo Oscar. 1960.... Brilhante momento da arte inglesa. A consciencia de que o império se foi e o ódio a herança deixada pelas gerações passadas. Jimmy Porter abomina o tempo em que nasceu. Mal sabia ele o que viria a seguir. O filme é o epitáfio de um império feito na época em que alguém ainda se importava com isso. Incômodo, desagradável e árduo. Obrigatório. PS: Em tempo de homenagens a Elizabeth Taylor ( merecidas ) cabe reavaliar Richard Burton. Ele surgiu nos anos 50 em palcos ingleses como a esperança de um novo Olivier. Mas Hollywood logo o pescou e lá seu talento foi paralisado. Às vezes, em meio ao alcoolismo, o verdadeiro Burton renascia. Há quem veja nele o melhor ator inglês do século. Jimmy Porter é ele.
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