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CAMERON CROWE- WILLIAM POWELL- MYRNA LOY- PAUL RUDD- WILLIAM H. MACY- DISCO MUSIC

DEU A LOUCA NOS ASTROS de David Mamet com William H. Macy, Alec Baldwin, Sarah Jessica Parker, Philip Seymour Hoffman, Julia Stiles e Charles Durning.
Uma equipe de cinema invade uma cidade para fazer um filme. O diretor não sabe o que fazer e só pensa em dinheiro. O ator estrela é pedófilo. O escritor é inseguro. E a cidade se vende baratinho....É um anti-A Noite Americana, de Truffaut. Ao contrário do filme francês, aqui o cinema é apenas um ato de histeria. E no oposto a Oito e Meio, o diretor é somente um burocrata. O filme é tão desencantado que se torna vazio. Os atores dão o máximo, mas sei lá...é um filme bastante frouxo. Nota 3.
FÉRIAS FRUSTRADAS de Goldstein e Daley com Ed Helms e Christina Applegate.
Oh God! Uma semi refilmagem do velho filme de Chevy Chase ( que aparece aqui chocantemente mudado ). Seria ok se tivesse uma cena engraçada...Não tem. Algumas até nos deixam constrangido. A comédia, esse filho bastardo, está num de seus piores momentos neste século sofrido. Christina foi a Bundy-filha na maravilhosa série Um Amor de Família...bons tempos do politicamente incorreto. ZERO.
A CEIA DOS ACUSADOS de W.S.Van Dyke com William Powell, Myrna Loy e Maureen O'Sullivan.
Revi, pela quarta vez, o filme alcoólico baseado no livro de Hammett que criou o moderno casal americano. Os dois, Powell e Loy, inventam sem querer, aqui, o modelo daquilo que todo casal almeja, ou o modo como se vê: alegre, meio infantil, elegante e apaixonado de um modo irônico. É um prazer ver os dois na tela. Eles brilham como luar em oceano. Pena a história, policial, ser tão fraca...Mas há genialidade na construção, intuitiva, desse casal divisor de águas. Uma boa introdução ao cinema dos anos 30.
THANKS GOD! IT'S FRIDAY! de Robert Klane com Donna Summer, Jeff Goldblum, Debra Winger, Terri Nunn, Commodores.
Um lixo adorável. Pura nostalgia neste filme barato de 1978 que foi malhado então e que continua sendo desprezado como aquilo que ele é: lixo. Mas ao mesmo tempo ele é um retrato tão fiel do que era estar vivo e solto e leve em 1978! Goldblum e Debra estreiam aqui e ambos estão muito bem. A trilha sonora é um desbunde e a pobreza da produção favorece o documentarismo involuntário do momento. È um dos piores filmes da história que eu adoro. Questão pessoal: eu estava lá. O mundo era outro nos anos 70, e apesar de sempre desejar voltar a ser tão livre e tolo como foi, nunca mais o será.
BRIDESHEAD, DESEJO E PODER de Julian Jarrold com Mathew Goode, Ben Whishaw, Hayley Atwell, Michael Gambom e Emma Thompson.
Apesar de bonito de se olhar, esta nova adaptação ( de 2008 ) do livro de Evelyn Waugh não se compara a mítica série de 1981. Escrevi em outro post, longamente, sobre as duas versões. Aqui tudo é mais bobo, Sebastian vira uma bicha louca e a mãe uma histérica carola. Meu medo é: será que hoje tudo tem de ser explicitado ou então ninguém mais consegue perceber nada... Mas, se você não teve o prazer de ver a série, irá gostar deste desfile de belos cenários e de emoções reprimidas.
HOMEM FORMIGA de Peyton Reed com Paul Rudd, Michael Douglas
Muito bom. O melhor filme Marvel do ano. Tem humor, ótimos efeitos e um herói muito gostável. E um bom vilão. Não é longo demais e a impressão que tenho é que os melhores filmes de herói são aqueles que se levam menos a sério. Um filme para ser visto numa tarde de férias. Pode confiar. Paul Rudd faz com leveza o "cara do bem" que vive uma vida "não tão legal". É um perdedor. Assista.
A BELA DO PALCO de Richard Eyre com Billy Crudup, Claire Danes, Rupert Everett.
Eyre deve se achar um grande talento. Todos os seus filmes caem sob o peso desse talento pretensioso. Este é tão pedante que nos esmaga. Tudo é "arte". E tudo aqui é chatice sem fim. Os atores estão risíveis, o roteiro é desinteressante, as cenas são longas e vazias. Fuja correndo!
THE CHOCOLATE SOLDIER de Roy Del Ruth com Nelson Eddy, Rise Stevens
Jeannette e Nelson brigaram e então a MGM o uniu a cantora de ópera Rise. E ela se revelou uma atriz amadora. Fica todo o filme com a mesma expressão: um sorriso de não-atriz. Nelson se esforça. O filme, opereta barata, é menos ruim do que eu temia. Bobo. Mas bem feito.
SOB O MESMO CÉU de Cameron Crowe com Bradley Cooper, Emma Stone, Rachel McAdams e Bill Murray
Crowe e mais um de seus filmes "alto astral". É muito bom ter um cara que ainda faz filmes genuinamente alto astral. Crowe crê no bem, na bondade, na alegria. Pena que seus filmes façam tão pouco sentido. A história parece muito mal escrita, tudo rola sem rumo, sem muito porquê. Mas então surge o trunfo: os personagens. São gente legal, gente que gostamos de ver, pessoas que adoraríamos ter por perto. Crowe não sabe criar uma trama, mas sabe imaginar pessoas. Ele é o último dos hippies no cinema, seu estilo é "paz e amor". Tão sincero que terminamos de ver o filme e queremos amar mais. Ele não tem vergonha de apostar no bem. Adorei.

XINGU/ GEORGE STEVENS/ KON ICHIKAWA/ CAMERON CROWE/ ELECTRA EURIPIDES/ GARY COOPER/ ZÉ TRINDADE

   COMPRAMOS UM ZOOLÓGICO de Cameron Crowe com Matt Damon e Scarlett Johansson
Há algo de errado com a gente. Simplesmente somos incapazes de levar "o bem" a sério. O século XX entupiu nossa cabeça com a ideia ( absurda ), de que apenas aquilo que é "do mal" pode ser verdadeiro. Quem viu este filme? Fala do luto, da morte, da reconstrução. Mas tudo sob a ótica de gente do bem. Pessoas que são como eu ou como as que eu conheço. Mas o doentio em nosso mundo é que essas pessoas que conheço só se interessariam por este filme se ele fosse do mal. Se o pai fosse um viciado em heroína e pedófilo talvez eles o assistissem. Se o papel de Scarlett fosse o de uma maníaca tarada e ladra, eles fizessem fila para ver. O estilo Jornal Nacional é o que predomina. Para as massas, prédios explodindo e viagens fabulosas, para os pseudo-cultos, a exposição de podridão e de personagens "do mundo real". Mundo real de quem, cara pálida? O meu não é. Este filme é melancólico pra caramba, não foge de assuntos dark, mas tudo sob a ótica da bondade, do ser legal. Senti aversão em 3/4 dele, tudo me parecia fofo, bobo, mas só no fim percebi que aquilo tudo era muito mais eu-mesmo que baboseiras metidas a artesinha-para-principiantes que abundam por aí. Em um mundo mais saudável este filme seria um hit. E meus amigos teriam corrido para vê-lo e depois o discutido comigo. Mas ele não tem auto-punição, sangue, sexo doentio, drogas pesadas, necrofilia...Tem apenas um cara tentando sobreviver e uma familia com problemas sérios de uma familia banal. Como a minha. E provávelmente como a sua. Damon está ótimo e Scarlett, desglamurizada, tenta atuar. É sua melhor interpretação. Crowe não desiste. Desde Singles ele tem um interesse: gente legal em mundo errado. O final deste filme é lindo de chorar. Mas alguém ainda procura a beleza na arte? Nota 7.
   UM LUGAR AO SOL de George Stevens com Montgomery Clift, Elizabeth Taylor e Shelley Winters
Monty faz um desajustado. Em seu rosto vemos que ele não tem lugar, mal sabe o que é. Mas para seu azar ele sabe o que quer. E desajeitadamente tenta obter esse objeto. E paga pelo erro. O filme não faz nenhuma concessão. É duro. E maravilhosamente bonito. Stevens sempre buscava a perfeição. Cena a cena ele trabalhava duro para ser perfeito. Conseguia. Tudo aqui é superlativo: atores, fotografia e roteiro. Jovens diretores costumam estudar este filme nas escolas de cinema. O que conseguem aprender? Ou melhor, o que a Sony e a Viacom deixam ser tentado? Filme de crime sem vilão e sem mocinho. Tragédia que beira a magnitude. E composta de gente comum, normal, o que o torna mais forte ainda. Nota DEZ!!!!!!!
   ARROWSMITH de John Ford com Ronald Colman, Helen Hayes e Myrna Loy
Um dos primeiros filmes sonoros de Ford, tem um visual cheio de sombras e belos cenários expressionistas. Começa devagar, mas vai crescendo até seu final dramático. Fala de um médico que exita entre ser um pesquisador ou um sanitarista. No final vai para o Caribe enfrentar epidemia. Apesar do Caribe ser um país de fantasia, é lá que o filme atinge seu melhor ponto. Há clima, magia e suspense. Colman parece artificial demais, um Melvyn Douglas cairia melhor. Myrna Loy infelizmente aparece pouco, seu charme e sofisticação parecem de outro universo. É um filme bom, mas longe da gigantesca estatura de Ford. Se parece muito com as bios que a Warner faria em seguida. Nota 6.
   FOGO NA PLANÍCIE de Kon Ichikawa
É o mais próximo do inferno que podemos chegar. Nas Filipinas em 1945, soldados japoneses, cercados por soldados americanos, não têm o que comer. Acompanhamos um soldado tuberculoso vagando pela floresta. No caminho ele encontra desesperados como ele. O homem em seu limite. Canibalismo. Alguns começam a comer os feridos e um deles chega a comer a si-mesmo. O cinema japonês é rico em filmes que vão ao limite. E aqui Ichikawa filma sem sensacionalismo. Tudo é como é. Eles não são do mal ou do bem, são organismos que tentam viver. O objetivo da vida seria a própria vida. É um dos filmes mais desagradáveis já feitos. Mas atenção, Ichikawa nunca busca o sensacional ou a chantagem emocional, não faz escãndalo, o filme é elegante. Chocantemente elegante, ele prova que isso pode ser feito. Nota 8.
   ELECTRA de Michael Cacoyannis com Irene Papas
Impressionante. Numa vasta planicie, Cacoyannis filma a tragédia de Euripides do modo como tudo deveria ser 2500 anos atrás. Cabanas, roupas de lã grossa, gente feia. Irene está assustadora. Sua Electra é infelicidade completa. Ela precisa e deve se vingar. O irmão, Oreste, exita, mas acaba por cometer o crime. A trilha sonora de Mikis Theodorakis é uma obra-prima. A fotografia de Walter Lassally também. Se eu fosse freudiano diria que todo nosso inconsciente mora aqui. Se eu fosse jungiano, diria que este filme mostra nossos arquétipos. E se eu acreditasse em pura biologia, diria que nossos gens foram poluídos por essas experiências. Como sou apenas eu-mesmo, digo que é um filme digno de um texto chave de nossa cultura e de nosso senso do que seja o trágico. Jamais se farão filmes como este novamente. Nota 9.
   THE PRIDE OF THE YANKEES de Sam Wood com Gary Cooper e Teresa Wright
Eis o que seria um filme pop antigo. A biografia do jogador de beisebol Lou Gehrig, seu sucesso e sua aposentadoria ao se descobrir com doença fatal. Sinal dos tempos, o filme mostra sua infancia pobre, sua escalada e seu estouro. Os primeiros sinais da doença também, e NÃO mostra a doença. A cena final, linda, mostra Lou entrando no túnel dos vestiários, sumindo no escuro, e fim. Tempo em que havia o pudor de se poupar a crua exposição de intimidades intimidantes. Quem teria prazer em assistir a dor de um câncer? Gary Cooper é um monstro de carisma. A gente o segue com os olhos, gosta de olhar pra ele e de o escutar. Sam Wood era o diretor dos grandes hits ds MGM. Este foi um dos maiores. Absolutamente ultrapassado, totalmente familia, e uma deliciosa nostalgia. Nota 7.
   ENTREI DE GAIATO de JB Tanko com Zé Trindade, Dercy Gonçalves, Costinha e Chico Anísio
Brasil dinossauro. Zé Trindade é meu humorista brasileiro mais querido. Passei a infancia repetindo seus bordões ( "O que é a natureza...."), um malandro simpático. Ainda se pode crer em malandros simpáticos? Dercy é outra malandra. Os dois tentam enganar um ao outro, e depois resolvem roubar um hotel. Ingênuo e bobinho, quando termina deixa uma sensação de "quero mais". Cauby Peixoto aparece cantando e tem Moacyr Franco com "Me dá um dinheiro aí!". Nota 5.
   MINHAS TARDES COM MARGUERITTE de Jean Becker com Depardieu
Já falei deste filme alguns meses atrás. Mas ele voltou a cartaz e devo dizer que é o melhor filme para se ver em SP. Tudo o que falei do filme de Crowe vale para este com uma diferença, este é melhor. Simples, triste, solar ao mesmo tempo, é cinema sobre gente e não sobre bailarinas de cartoon dark ou viciados em sexo de manual de arte-para-iniciantes. Tomo radical posição ao lado de O Artista e de Hugo contra a moda emo. E sei que esse cinema que hoje combato é culpa do meu heroi Bergman. O gênio da Suécia criou o cinema como arte-da-crise existencial, e um bando de pseudo-artistas tenta a 50 anos repetir seus passos. Acabam por fazer uma versão teen dos dramas bergmanianos. Fazem um tipo de PERSONA para iletrados. Aqui não. Becker faz um filme longe desse mundo de baboseiras. Depardieu é apenas um bronco que descobre a cultura. É lindo, é real e é profundamente humano. Imperdível!!!!! Nota 8.
   XINGU de Cao Hamburger com Felipe Camargo e João Miguel
O que deu errado? O tema é o melhor. Os cenários de sonho. Mas não emociona jamais. Voce vai ver um filme como este para sentir frisson, adrenalina e até lágrimas. Nada disso ocorre. Voce se interessa e não se entedia, mas nunca seu coração dispara. Uma entrevista com os heróicos irmãos funciona muito mais. Creio que somos um país de documentários. Não entendemos o espetáculo. Um doc com este tema funciona como show mais que este filme. O que é uma contradição. Mas merece ser visto pela beleza plástica e a nobreza de seu tema. E a coragem de Cao ao empreender uma obra tão dificil. Mas devo dizer, é frustrante. Nota 6.

HUGO/ SPIELBERG/ KIRK DOUGLAS/ JOHN WAYNE/ MUPPETS

   A INVENÇÃO DE HUGO CABRET de Martin Scorsese com Ben Kingsley
São os mais belos cenários digitais da história. E Martin demonstra um amor inocente ao cinema. O filme é um imenso cartão postal para Georges Méliés. E tem cenas comoventes com Buster Keaton. Mas eu duvido que alguém vá gostar do cinema que Martin homenageia só por ter gostado deste filme. O público que predomina nas salas de hoje está pouco se lixando para o que seja a tal "arte cinematográfica". Se lixa menos ainda para o que seja sua história, sua origem. Eles querem emoções simples, rasteiras e óbvias. De agora. Mas devo dizer que com toda essa beleza e nobres intenções, é um filme com miolo enjoativo, cheio de momentos chatos. De qualquer modo seu terço final é bastante bom. Para cinéfilos é fascinante ver a recriação dos estúdios de Méliés e dos bastidores de seus filmes. Nota 7.
   O CAVALO BRANCO de Albert Lamorisse
Curta de diretor que depois se tornaria famoso com O Balão Vermelho. Aqui ele fala de garoto que tenta domar cavalo selvagem. De melhor há a paisagem da Camargue, região do estuário do rio Rône. Um pântano sem fim, plano e muito agreste. Nota 5.
   TINTIM de Steven Spielberg
Se voce gosta de Hergé, fuja. Nada há aqui do visual limpo, elegante, solar do desenhista belga. Pior que isso, o capitão Haddock se tornou um patético alcoólatra. O filme nem sequer usa suas blasfêmias. Em tempos moralistas, fizeram de um bêbado simpático, um doente chato. O filme é barulhento, histérico, excessivo. A ação nunca consegue empolgar, o filme não tem humor e não tem suspense. Pior que tudo, o roteiro acaba por se revelar mal cosido. Nota 2 por algumas belas paisagens.
   GIGANTES EM LUTA de Burt Kennedy com Kirk Douglas e John Wayne
Já foi feito no ocaso do western. É sobre um plano de assalto a diligência. Wayne e Kirk são ex-inimigos que resolvem agir juntos. O filme é ok. Tem ação e tem leveza. Mas tem principalmente a verve safada de Kirk Douglas. Ele adora fazer esse tipo de mulherengo sujo, mentiroso e sorridente. Gostamos de vê-lo na tela. Wayne está cansado. Deixa que o filme fuja de suas mãos. Apenas está lá, sendo o mito da velha América. Para quem ama westerns é uma bela diversão. Nota 6.
   OS MUPPETS de James Bobin
É o recente filme dos geniais bonecos de Jim Henson. E este filme prova o dom único de Jim. Caco é comandado por outra pessoa, Henson já morreu. E juro que dá pra notar que não é ele. Caco perde em humanidade, os movimentos estão mais duros, a mão se move com menos precisão. O filme em si é muito fraco. O problema não é o fato das novas gerações não conhecerem os bonecos, o problema é o roteiro muito ruim. Nota 1.
   O CAÇADOR de Daniel Nettheim com Willem Dafoe
Como cinema é banal. Filmado sem emoção e sem criatividade. Mas ele tem duas coisas que o notabilizam: o cenário e o tema. É filmado na Tasmânia, um lugar que não se parece com nehum outro do planeta. E fala de um caçador que é contratado por uma corporação cientifica para matar o último Tigre da Tasmânia e recolher suas vísceras e sangue para pesquisas. O que vemos é toda a caçada desse homem calado, e sua súbita tomada de consciência. O final é bem triste. O tema mexeu bastante comigo. É o tipo de filme comum ( mas nada ruim ), que dá margem a horas de conversa. Nota 5.
   QUASE FAMOSOS de Cameron Crowe
Não gosto de pensar neste filme e revê-lo foi uma experiência ruim. Ele me dói. Fico louco de saudades daquilo que fui, daquilo que presenciei e daquilo que a gente perdeu. A inocência só se perde uma vez. O mundo nunca mais será ingênuo. Restam as músicas, a trilha do filme é covardia, tá tudo aqui, de Neil Young à Thin Lizzy. Absolutamente deslumbrante. Mas me dá uma tristeza cruel.... Nota 9.
   JOVEM NO CORAÇÃO de Richard Wallace com Janet Gaynor, Douglas Fairbanks Jr e Paulette Goddard
Uma familia que vive de golpes malandros, envolve uma velhinha solitária em suas tramóias. Os atores são excelentes e fazem tudo aquilo que dele se espera. Temos Douglas sendo jovial, Janet como uma doce mulher e ainda Roland Young fazendo seu ótimo tipo excêntrico. É gostoso de ver, mas às vezes cai num melô forçado. A senhora solitária é boazinha demais. Nota 5.

QUASE FAMOSOS-CAMERON CROWE

   Andei acompanhando a coluna de André Barcinski pós-Oscar. O que ele mais falou foi sobre o fato de que filmes que nos anos 70 fariam sucesso hoje passam batido. São poucos bons filmes que se produzem agora, e esses poucos são ignorados. O gosto se tornou tão medíocre, que Chinatown ou Mash hoje seriam provávelmente, um fracasso. E os dois foram big-hits em seu tempo. Scorsese, Altman, Polanski ou Bergman tiveram muita sorte de nascer quando nasceram. Nascidos vinte anos mais tarde seriam hoje diretores "alternativos" com uma filmografia minúscula. O cinema se tornou coisa de quem tem 12 anos.
   Existe um momento na vida de um diretor em que ele dá a grande cartada. É o momento em que sua carreira se define. Se acertar, nasce uma nova etapa, nova vida. Se errar, sua carreira se torna confusa, irregular, e pode até se encerrar. Bergman viveu isso ao fazer Persona, Fellini com Oito e Meio e Kurosawa com Os Sete Samurais. Acertaram, se fizeram novos artistas. Mas há os que erraram, e pagaram o preço. Scorsese errou em O Rei da Comédia, e se perdeu por quase dez anos. Coppolla fez Apocalypse e morreu como diretor popular. Tim Burton jogou tudo em Big Fish e desde então está preso a refilmagens e perdeu seu fogo. E há o caso trágico deste Quase Famosos.
   Quando foi lançado a expectativa de crítica e estúdio era de um super sucesso. Já se contava com seu Oscar de melhor direção. Mas o fracasso de público foi tão grande que tudo que a academia pode lhe dar foi o prêmio de roteiro. Foi a partir daí que eu comecei a perceber que o filme que seria um sucessão em 1973, em 2003 seria um fiasco. Desde então Cameron se perdeu e Kate, Billy... todos tiveram sua ascensão interrompida. Porque? Eu não sei.
   Nunca o Led Zeppelin permitiu que suas músicas fossem usadas em cinema, aqui temos várias. Isso porque Cameron foi aquele garoto do filme. Ele seguiu o Led na adolescência cobrindo a excursão da banda para a Rolling Stone. E é maravilhoso vermos aquele bando de doidos fazendo uma revista que se mantém até hoje. O filme tem dezenas de cenas maravilhosas, dúzias de músicas soberbas, e interpretações inspiradas. Voce se apaixona pelas goupies, pelos músicos, pelo rapaz e até pela mãe. É um filme solar, claro, dourado, pra cima, e jamais parece tolo. Trata a adolescência com respeito. É um grande filme, mesmo para quem não gosta de rock. ( Assisti na época com minha namorada que odiava rock. Ela adorou o filme ).
   A banda retratada combina a fama do Led com o jeitão dos Eagles. No roteiro há pitadas de Who e The Band. O cantor que foge e se joga na piscina é Robert Plant e o batera que se diz gay no avião em pane é Keith Moon. Cameron estava lá, ele sabe o que diz. O filme não pega pesado em drogas, em sexo e não tem violência e nem gente no hospital... acho que é por isso que fracassou.
   Rod Stewart e Elton John são resgatados em duas cenas poéticas e tristes, mas Sparks do Who está na cena símbolo do filme: quando ele descobre os discos da irmã. É lindo.
   O filme deveria ter feito de Kate uma estrela e de Billy um star. Não fez. Pena. Eles brilham como astros. Amam seus papéis. O tempo fará justiça a este filme como faz a suas músicas. Não, não vou falar de minhas lembranças pessoais desse tempo. Foi o tempo em que o rock era uma religião, e em que ele ditava as regras da arte. Ao mesmo tempo, foi o momento em que o lixo de hoje se instituiu: drogas, infantilidade e individualismo extremado. O filme mostra isso: amamos aquela banda porque eles fazem o que sempre sonhamos em fazer- ser adolescentes para sempre. Um playground do tamanho de um estádio. Estamos no furgão deles até hoje.
   É um puta filme.