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SER HOMEM. SOBRE UMA FALA DE CAMILLE PAGLIA

Houve um tempo, anos 80-90, em que Paglia era a líder das feministas. Mas, por ser mais complexa do que o desejado, ela é hoje incompreendida pelas atuais moçoilas iradas. Este é um tempo que não admite a dúvida. Só se aceita gente que afirma coisas de modo radical e sem nenhuma sofiticação. ------------------------------------- Pois bem. Leio uma fala, linda, de Paglia. Ela diz que os homens tiveram de matar parte de seus sentimentos. E que esse foi um processo doloroso. Fizeram isso para poder defender suas mulheres e filhos. Pagaram o preço da amputação emocional. Paglia termina dizendo que "feministas são incapazes de reconhecer isso". O que ela diz é para mim de uma obviedade cristalina. Mas para a geração que grunhe e nunca raciocina, é apenas uma ofensa. -------------------------------- Em vez de comentar Paglia, descreverei uma cena que se repetiu milhares de vezes na minha casa: São 3 horas da manhã. Faz 8 graus nesse inverno paulistano de 1980. Garoa e ventania. Meu pai, sob 40 graus de febre, espirra e tosse. Se veste e se lava. As 4 horas ele tem de abrir a padaria. Sai para a rua, liga o carro que insiste em não dar a partida. Ouço o motor se afastar. No meu peito eu sinto pena e alívio. Pena dele e alívio por ele existir. Meu pai voltará só as 6 da tarde. Suando e de mal humor. Ele partiu, de madrugada, enquanto eu, minha mãe e meu irmão ficamos na cama quente, viramos de lado e voltamos a dormir. ------------------------------------------- Centenas de milhares de anos atrás, debaixo de neve, no escuro, homens saíam da caverna para caçar. E mais recentemente, eles tinham de defender filhas do estupro. Para poder viver nesse mundo, feito de medo, sangue, facas, violência sem fim, suas emoções tiveram de ser contidas, apagadas, foi a tal da mutilação de que fala Paglia. Creia, o preço foi alto. Perdemos muito da capacidade de ouvir, compartilhar, ser delicado. Não havia escolha. Era a mutilação ou a morte. ---------------------------------- Hoje não precisamos mais nos mutilar. Podemos viver em casa, cultivando flores e ouvindo música folk. Estamos reaprendendo a ser inteiros. Ah....claro....isso se voce for de classe média e viver em um país civilizado. Vai contar isso para um homem que vive no meio do crime, da guerra ou da fome total. --------------------- Eu desenvolvi algumas das emoções amputadas porque tive um pai que FEZ O TRABALHO SUJO. Se ouço ópera e leio poesia, é porque antes de mim um homem duro, agressivo e sem frescuras entrou na luta. Foi trabalhar no frio e na febre, ignorando o próprio coração que ansiava por cama, calor e até mesmo carinho. Sentir gratidão por esses herois é uma obrigação. Atacar esse tipo de homem é imperdoável.

CAMILLE PAGLIA E OS GRUPOS DE PRESSÃO

Paglia é a melhor das feministas. Voce a conhece. Até os anos 90 ela era amada por 100% delas. Hoje ela é posta de lado. Leio um texto de agora dela. Paglia diz, com sua elegância habitual, que o feminismo se radicaliza e assim perde força. Ela diz que o alvo do feminismo sempre foi justo. Tão justo que não havia como ser contra ele sem parecer idiota. Feministas queriam salários iguais. Oportunidades iguais. Jamais serem dominadas pela maior força física do homem. Liberdade sexual. Reconhecimento de sua capacidade intelectual. Todas essa reinvindiações eram justas, óbvias, sinceras e ponderadas. Irrefutáveis. Porém, como acontece em todo grupo forte, pessoas doentes, desequilibradas, perturbadas, começaram a se juntar ao grupo. E, como esse tipo de gente é imbuída de teimosia, começaram a dominar o grupo. A pauta deixou de ser igualdade, passou a ser superioridade, e por fim, vingança. Como consequência, pessoas racionais começaram a se afastar do feminismo, quando não se tornaram adversárias. Paglia diz que isso está acontecendo também com a esquerda. A radicalização dos companheiros obtusos, dos que tentam mudar língua, sexo, modo de amar e até a compreensão da vida, faz com que muitos, os mais racionais, se voltem à direita em busca de algo que faça sentido. Nenhum direitista me fez ser conservador. Li Roger Scrutton e Chesterton por ser conservador, e não para me tornar um. O que me fez fugir da esquerda foram os esquerdistas. Estudar na USP. Ouvir Marilena Chauí falar. Trabalhar ao lado de esquerdistas militantes. Foram experiências que me fizeram sentir a tal ansia por algum sentido, por alguma razão, por algo de sincero. Na USP eu vi greves burras, estúpidas, imbecis. Em Marilena presenciei o esnobismo nojento da classe média que se vê como dona absoluta do saber. E no trabalho presenciei o cinismo dos que falam uma coisa e fazem seu oposto. Paglia sabe o que fala.