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O MESTRE E MARGARIDA - MIKHAIL BULGAKOV

Desde os anos de 1960, quando foi publicado em Paris ( proibido pelos soviéticos desde os anos 30 ), este romance só tem visto sua fama aumentar. Hoje é considerado um dos grandes de seu século e eu acabo de o ler. Como posso o definir? Desesperado. Irrespirável. Terrível. E sim, genial. ----------- Leitores jovens tendem a achar o livro apenas "engraçado" ou "doido". As coisas acontecem e não têm nenhum sentido. Fugas, aparições, cenas inteiras, quedas, mortes, desaparecimentos, tudo ocorre sem causa e sem efeito visível. Para quem nunca viveu uma realidade assim, o livro parecerá uma aula de criativade ilimitada. Mas, para quem observa certos governos, onde se soltam assassinos e se prendem protestantes não violentos, tudo faz sentido dentro do mundo que o livro descreve. Há em todo ele um clima desagradável, de delação, de não confiança, de medo. Todos são de algum grupo, seja de escritores, jovens socialistas, trabalhadores, ou simples funcionários estatais. O Diabo, um alemão com elegância e que é o único que crê em Jesus, pois o viu, é um indivíduo e poucos críticos perceberam isso. Em regime que forçava a negação do individual, surge o Demo como o Ultra Indivíduo. Ele surge, ele faz, ele não engana, ele fala. E com ele, toda a ordem de Moscou cai por terra. A mensagem do romance é cristalina: O Poder deve cair, ele não tem como se manter. E esse poder será derrubado diabolicamente. -------------- Não há porque descrever seu enredo, ele engloba amor, pavor, ódio, loucura pura, vai de parques à hospícios ( a saúde mental foi muito usada como padrão social por Stalin ). Mas agora, sinto muito, devo dizer que não amei esta obra tão forte. -------------- Sinto por ele o que sinto por tantos outros livros que primam pela criatividade e pouco pelo engenho. É árido. É frio. Duro como gelo. E é russo. E russos, eles são outros que não nós. ------------ Lendo-o penso ainda em crápulas como Sartre ou Saramago, espíritos ruins, vaidosos, obtusos que morreram sem condenar o stalinismo. Lendo-o penso no despedício da vida do autor. O trabalho imenso para o escrever, a morte sem o ver publicado, o silêncio obrigatório, o cala a boca dito pelo burocrata do ministério da informação ( das fake news ). Tivesse tido a sorte de ter nascido em Londres, quantos livros ele teria escrito? --------------- É um grito este livro.