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O LOBO SOLITÁRIO ( BABY CART IN PERIL ), FILME DE SAITO BUICHI

Um moderno filme de samurai feito a cores em 1972. Restaurado, as cores, fortes, brilham nas cenas que logo de cara mostram uma luta entre uma samurai, com os seios de fora, e uma gangue de bandidos. O heroi passa o filme todo empurrando um carrinho onde ele leva seu filho. É uma aventura como toda aventura deveria ser, tem ação, tem humor, tem história e tem capricho. Grande sucesso na sua época, o filme não envelheceu nada. O heroi quer vinganç, lavar sua desonra, e as lutas, absurdas, sangrentas, exageradas, são pura diversão. É daquele tipo de filme onde tudo pode acontecer, cheio de personagens marcantes, sempre beirando a tragédia, sempre redimido pelo heroi, teimoso e temerário. Tomisaburo tem uma atuação perfeita, é o Yojimbo de Mifune levado ao limite do circense ( isto é um elogio ). Faça um favor a voce mesmo e veja esse filme.

Ninjō kami fūsen (AKA Humanity and Paper Balloons AKA 人情紙風船) (1937) (Eng...

SADAO YAMANAKA, HUMANIDADE E BALÕES DE PAPEL. O MAIS AZARADO DIRETOR DE CINEMA DA HISTÓRIA

Este filme foi lançado em 1937. Está em um dos boxes da Versatil, aqueles sobre Cinema Samurai. Mas este não é um filme de samurais. Penso que a Versátil o colocou neste box por não saber onde o lançar. ------------------- Nada sabia sobre esse diretor ou sobre o filme. Coloco pra rodar. Pelas imagnes percebo logo ser um filme muito antigo. Uma fotografia em preto e branco enevoado, lindo. O que vejo? Um beco, um tipo de favela do Japão antigo. Muita gente lá. Alguém se enforcou numa das casas. O cenário é fascinante. O filme não tem apenas um personagem central, são vários. O samurai falido. O cego. O vendedor com sua carroça. O empregado que irá raptar uma mulher rica. O milionário indiferente. O senhorio. E ainda as pessoas que vivem e se observam naquele lugar. As várias pequenas histórias que se cruzam. E a surpresa que é esse filme! Não se parece com o cinema que se fazia então, cinema que eu amo, o dos anos de 1930, e que por isso conheço bem. Este filme, em tema e estilo, lembra muito mais o cinema dos anos 50 e 60. É realista. É duro. Mas ao mesmo tempo é pleno de beleza e de amor. ----------------- Pesquiso sobre Yamanaka. E fico surpreso. Ele fez mais de 20 filmes em apenas seis anos de carreira! De toda essa produção, hoje existem apenas 3. Os outros se perderam. Este foi seu último filme. Yamanaka morreu aos 28 anos, na China, onde servia o exército japonês de ocupação. Morreu de desinteria. Há críticos que consideram este um dos maiores filmes já feitos. ------------------------ Yamanaka influenciou Kurosawa. E Naruse. É hoje um cult. Um cineasta para poucos. Mas penso, quantas coisas maravilhosas ele poderia ter feito até os anos 80? Pelo ano em que nasceu, ele poderia estar filmando até 1980, 1985... Que azar, que pena, que desastre do destino! ----------------- O filme, hora e meia de duração, nunca tem uma só cena que não seja sublime. Se há um paraíso de cineastas, Yamanaka vive nele, ao lado de Vigo. O modo como ele orquestra os grupos de atores, e saiba que dirigir muita gente em cena é o teste crucial de todo diretor, o modo como ele corta, são cenas curtas, o jeito com que ele prepara o drama sem nunca ser piegas, o uso dos sets e da chuva, tudo tem a marca de um gênio do cinema. ---------------------- Que grande filme!!!!!!!

MINHA QUERIDA SPUTNIK - HARUKI MURAKAMI

1. A língua. Leio muitos livros da literatura japonesa atual. E, apesar de Murakami ser o mais famoso, este é apenas o primeiro livro dele que leio. Me surpreendo com a linguagem. Ele também tem o estilo dos outros que já li. Como posso o definir? Leve? Conciso? Nada verborrágico? Simples ao extremo? Não há descrições violentas. Não há febre. As frases parecem educadas. Estranho...então penso que isso é a língua. Que, mesmo em tradução, toda literatura francesa tende ao verborrágico, porque essa é uma característica da língua francesa. Assim como livros americanos parecem sempre rápidos e agressivos e a literatura alemã é discritiva. A língua é a característica de uma cultura, são duas coisas que se fazem uma. 2. Enredo. Nessa linguagem simples, concisa, Murakami conta a história de três pessoas. Uma menina de 22 anos que se veste mal, quer ser escritora e tem um amigo. O amigo é um professor que na verdade é apaixonado por ela. Mas nada diz. Ela liga pra ele sempre, de um telefone público, de madrugada. Então ela se apaixona por uma mulher que negocia vinhos. E vai trabalhar com essa mulher. Ela muda. Se veste bem agora. A mulher, a negociante de vinhos, é fria, elegante, bela, não é lésbica. 3. Então a coisa acontece. Todos terminam na Grécia. E Murakami, magicamente, transforma aquilo que era uma bela história japonesa sobre o amor, em uma aterrorizante e simbólica história de transfromação. Um dos três desaparece sem deixar vestígios. Um outro sofre uma divisão em dois. E um terceiro personagem cai dentro do espelho. 4. Murakami cita muitos ícones da cultura POP, Marc Bolan do T.Rex por exemplo. Se fala muito de música clássica. E o sumiço na ilha grega remete ao filme A Aventura, de Antonioni ( alguém notou isso? ). 5. Há um espelho e nele há um outro voce. Esse outro é voce mas não é voce. E sim, voce pode se perder lá dentro. 6. A cena no parque de diversões grego é uma das coisas mais fantásticas que li na vida. 7. O final do livro, em aberto, cortou meu coração. 8. Murakami é um grande escritor. 9. Eu amo a menina do livro. Sem número. Nos anos 80 eu estive um dia, uma semana, um mês?, perdido de mim mesmo. Como se eu fosse outro. Eu queria voltar a ser eu e não conseguia. Eu não queria ser esse outro. O livro fala disso. 10. Para quem o ler: acho que ela nunca voltou.

NUVENS DE PÁSSAROS BRANCOS - YASUNARI KAWABATA

    Mais um Kawabata, este o mais curto romance que li até agora. Presente nele o estilo simples e objetivo do mestre. Um jovem vai à uma cerimônia de chá. Lá estão presentes duas das amantes de seu pai já falecido. Deverei contar o resto? Melhor não.
   Mulheres conduzem a história. Em Kawabata o ponto de vista é do homem, mas esse personagem masculino é sempre passivo. Ele vê. Ele sofre a ação. Mas são as mulheres que movem a história. E que mulheres! Kawabata é o mais sensual dos autores. Em poucas palavras vemos e gostamos de suas jovens mulheres. Há nele um certo desprazer pela idade. Algo de grotesco em toda personagem idosa. Já em relação às jovens há sempre o amor pela flor e pela estação do ano. Isso me leva a pensar que Kawabata ainda é editado por ser japonês. Entenda, eu amo Kawabata e sempre leio tudo dele que encontro, mas é o tipo de literatura fora de moda. Penso que por ser "de outra cultura" o beneficia. É bacana ler um japonês. Como é bacana ler um turco ou um finlandês.
  Me irritei muito com a passividade do personagem central. Ele não age. Se deixa levar. Quando resolve sair da letargia já é tarde demais. Kawabata, jamais um autor comprometido com o velho Japão de antes da guerra, não deixa de espelhar o mundo da gueixa. A mulher como o ser que faz, que serve, que se dá. E o homem como o senhor que espera ser servido. Senhor gentil, mas sempre um senhor. A tara do Japão pós moderno por mulheres de rosto infantil revela muito isso.
  É o menos bom dos livros desse autor. Mas isso não é pouco.

HISTÓRIAS DA OUTRA MARGEM - NAGAI KAFU

   Nos anos 30, em Tokyo, um solteirão começa a andar pelas ruas sujas do bairro das putas. Não das gueixas, das putas. Ele vaga por lá para escapar do calor de seu apartamento e dos ruídos dos vizinhos. Conhece então uma prostituta e começa a visitar essa moça ainda ingênua.
 Ele é escritor e ao mesmo tempo escreve um livro sobre um homem casado que abandona a família.
 O escritor solteiro e a jovem puta conversam e ela se apaixona por ele. Ele resiste, não vê futuro.
 Fim.
 Nunca li um romance mais simples que este. As frases de Kafu são esquálidas e o que mais lemos no livro são descrições das ruas e conduções do local. O texto é quase um guia de endereços.
 Se eu gostei? Acho que sim.

O LIVRO DO CHÁ - KAKUZO OKAKURA

   Kakuzo Okakura foi ministro da cultura do Japão. Era o tempo, fim do século XIX, começo do XX, em que o Japão se ocidentalizava. Tendo morado em Boston, sendo conhecedor da Europa, o autor tenta com este livro, lançado em 1909, mostrar ao ocidente o que faz do Japão aquilo que ele é. Ao mesmo tempo, Okakura quer fazer eterno o país que ele ama.
   Para isso ele escolhe a cerimônia do chá como o costume mais típico e que melhor simboliza sua nação. Pois para ele, é o chá que fez do Japão aquilo que ele é. A cerimônia transformou a arquitetura das casas, a pintura, o costume, e até mesmo o modo como o japonês se vê. Para isso, ele começa falando da China, da India, e por fim do país em plena modernidade.
   O livro, de apenas 100 páginas, mais uma bela edição da Estação Liberdade, fala de Zen, de budismo, de viver bem. Mas acima de tudo nos fala do que é a beleza. E das diferenças entre o belo ocidental e o belo oriental.
   No ocidente é belo o que é rico, farto, complexo, chamativo. No oriente é belo o que é precário, simples, incompleto, discreto. A cerimonia do chá se faz num aposento precário, de bambú e papel; usa elementos simples e perfeitos, incompletos e sublimes. Um arranjo de flores, uma pintura em seda, o bule e o fogo, o silêncio, a água em ebulição. Cada gesto é pensado e exato. Os elogios são comedidos, porém, obrigatórios. Cortesia e etiqueta. Criada em 1540, a cerimonia do chá cresceu séculos afora.
   Para Zen, o vazio é onde a beleza vive. Em tudo que fazemos há de se deixar espaço para a ausência, para o nada. Daí a incompletude. Pois é no vazio que a transformação pode ocorrer. Sem espaço vazio não pode haver imaginação. Sem imaginação não existe criação. Sem criação não há vida. Nada dura, nada faz sentido, a não ser a eterna mudança que se opera dentro do nada.
   Nosso corpo é um objeto sensitivo criado para podermos experimentar a matéria. O chá é matéria cercada por vazios. Espaços para se observar. E apreciar. O livro de Okakura é apreciação que se aprecia.

RETRATOS DA INFÂNCIA, NA IMIGRAÇÃO JAPONESA DO BRASIL.

   Sai agora esse livro, bonito, sobre a vida das crianças japonesas em seu cotidiano brasileiro. Fotos, muitas, lindas! Há uma em que a mãe, no porto, vê o navio perdido na névoa, que é de uma sublime beleza. Fico um tempão olhando e viajando com essa imagem. Mas tem mais, muito mais: Crianças e seus brinquedos, escolas, e trabalho, muito trabalho, pois elas trabalhavam como adultos a partir dos 10 anos de idade. Destaco duas histórias:
  Morando em fazendas, nos cafundós do nada, muitas crianças morriam sem tempo de chegar ao médico. Fico sabendo de um doutor que percorria, de carro, apenas ele e seu motorista, 112 escolas em 112 cidades, para atender os alunos. Que belo filme não daria a bio desse japonês!!!! Mas...sabemos que esse tipo de filme não interessa aos "gênios" do cinema brazuca. Então deixa pra lá.
  Mamagoto, um jogo japonês que era jogado nas escolas da colônia. Percebo que na minha escola se jogava muito isso! É mais um costume nipônico que pensei ser coisa de meu país.
  Impressiona uma foto da orla de São Vicente, os hotéis parecendo coisa de Cannes...Hoje vemos no lugar os espigões tortos e sem estilo. A cidade teria sido salva se as construções "europeias" tivessem sido preservadas...Mas não.
  O livro tem muito mais fotos que texto, é todo pautado pelo acervo do museu da Liberdade, na rua São Joaquim.
  Indico a quem se interessa por história, por fotografia e claro, pelo Japão.

HARU E NATSU, CARTAS QUE NÃO CHEGARAM.- SUGAKO HASHIDA.

Em 2005 a NHK do Japão fez uma série em cinco partes tendo por base este livro. A série passou aqui e assisti apenas o último capítulo ( não sabia do que se tratava ). Gostei do que vi, tinha aquele emocionalismo travado, bem nipônico. Agora acho o livro, por acaso, em um sebo. Ele é de 2002, escrito por uma japonesa e foi traduzido por 3 pessoas. O texto, o estilo é árido e não sei se é um problema da tradução ou se ele foi composto desse modo hiper direto em sua origem. Vamos ao tema:
Nos anos 30, o Japão em fome absoluta, uma família resolve vir ao Brasil. Mas uma das meninas fica no porto, pois ela tem uma doença transmissível. São trocadas correspondências, mas os endereços estão errados, e assim, se passam 70 anos. A história das duas irmãs, uma no Japão e outra no interior de SP é o que se conta.
Os japoneses eram enganados. Vinham para cá com a promessa de enriquecer em 3 anos. Ao contrário de portugueses e italianos, que se mudavam para o Brasil sem a ideia de retorno à pátria, todo japonês vinha com a intenção de retornar o mais rápido possível. E acabavam ficando presos aqui. Se endividavam, eram explorados, nunca conseguiam juntar dinheiro. Tentavam manter a identidade japonesa, tentavam fugir das fazendas, quando fugiam, passavam a plantar aquilo que aqui não se plantava então: flores, caqui, pimenta, peras. O drama corre solto, e quando começa a guerra tudo piora ainda mais.
A irmã do Japão enriquece, e amarga, pensa ter sido esquecida.
Para quem se importa ainda com história e com relações familiares, é um livro bacana. Pena ser uma edição tão mal cuidada.

QUINQUILHARIAS NAKANO - HIROMI KAWAKANI. A discreta beleza da banalidade.

   Li no ano passado, em janeiro, A Valise do Professor, livro desta mesma autora. Achei que havia ali alguma coisa. Então, agora neste janeiro, termino de ler este Quinquilharias Nakano. E posso dizer: eis uma escritora que permanecerá.
  Hiromi Kawakami é da minha geração. Ganhou prêmios no Japão. E possui um segredo: sua escrita é mágica. Temos uma história simples, quase simplória. Há um local que vende quinquilharias. Coisas que não chegam a ser de antiquário. O dono namora algumas mulheres. Sua irmã é uma artista que faz bonecas. Na loja temos dois funcionários, um rapaz tímido e a narradora da história, uma jovem de 25 anos. Nada acontece de extraordinário. Clientes entram e saem, casos amorosos começam e terminam, gente morre, leilões ocorrem, faz frio e faz calor. Mas a autora faz com que nada disso pareça chato. O livro é de uma leveza e de um humor delicado que conquistam. É uma escrita erótica. Não por falar de sexo, mas porque a autora nos seduz com suas frases objetivas, refinadas, exatas.
  Quando um livro é bem traduzido, este é por Jefferson José Teixeira, temos contato com ritmo da língua original. Desse modo, um livro bem traduzido do francês, traz aquele caráter divagante e ao mesmo tempo racional da língua. Do russo se mantém a cadência dura, e do alemão a perspectiva sempre analítica. Pois aqui, do japonês, percebemos a delicadeza da linguagem. Há nas frases um pudor que não vejo em nenhuma outra. O que se fala é 90% referente a imagens e objetos. Pouco se fala sobre estados mentais. Mal se analisa o que se sente. Isso cria encanto. Respiramos as imagens. Nos sentimos livres do excesso de psicologismo da literatura do ocidente moderno.
  Nos apaixonamos pela loja e pelos quatro personagens centrais. Sentimos pena quando o livro termina. São apenas 220 páginas que poderiam ser 500. Poderia ser uma série. Poderia ser cartoon. Poderia ficar décadas no ar.
  Preciso de mais traduções dessa autora encantadora. É um livro-tesouro.

CINEMA JAPONÊS NA LIBERDADE- ALEXANDRE KISHIMOTO. O JAPÃO FOI AQUI.

   Dois dados: entre 1955 e 1965, o Japão era o país que mais fazia filmes no mundo. Foram 600 só em 1960. Outro fato: fora do Japão, São Paulo tinha a maior concentração de japoneses do mundo.
   É hora do almoço em 2017. Ando pelas ruas de meu bairro e cruzo com oito japoneses. E na fila do Carrefour reparo em cinco senhoras idosas. Esses imigrantes irão sumir um dia. Seus descendentes perderão suas raízes a cada nova geração. Mas ficaram marcas. Somos o país que primeiro descobriu as séries japonesas. National Kid explodiu aqui em 1962. E Naruto é de agora e será de sempre.
  O livro é bem ruim. Ele é escrito no estilo "tese da USP". Um monte de parênteses com as fontes usadas, milhares de citações e aquela mania de dar valor ao que se fala citando filósofos e sociólogos que dão peso ao texto. Além de se dar um jeito de sempre falar da velha luta de classes....aff....
  O cinema japonês foi descoberto pelo mundo em 1951 com Rashomon de Kurosawa. Mas aqui, e só aqui, ele já era xodó dos críticos desde 1936. Se conhecia Mizoguchi, Ozu, Naruse, Gosha, desde sempre. Isso porque calhambeques itinerantes exibiam filmes em Bastos, Piracicaba, São Carlos, em fazendas onde imigrantes viviam. E depois, a partir do fim da guerra, na Liberdade.
  A Liberdade não era um bairro japonês. Se tornou isso com as salas de cinema. Cada uma tinha mais de mil lugares. E viviam lotadas. No começo eram filmes sem legenda. E mesmo assim, alguns brasileiros iam ver. Piravam nas imagens. No ritmo lento. E viraram cinéfilos.
  ( Filme japonês é lento porque a vida é vista no Japão em pequenos detalhes. A ação não importa, o que vale é a preparação para a ação. Daí um filme como Céu e Inferno. Duas horas de lentidão para uma luta final que dura meio segundo. E te mata de surpresa e prazer ).
  Lendo fico sabendo que na guerra os japoneses ficaram proibidos de falar japonês na rua. E tiveram casas e terrenos confiscados. Que chegou a haver 20 jornais. E todos foram fechados. E 600 escolas de japonês. Destruídas. Como tudo que é japonês, foi um drama silencioso. Nunca se recuperaram desse atraso getulista.
  Em 1988 fechou o último cinema da Liberdade. Eu lembro que em 1977 sempre estreava um filme de lá. Toda semana tinha um novo filme nipônico pra se ver. Quando não, dois ou três. Isso acabou. Agora são dois ou três...por ano...
  Mas ficou a marca. Brasileiro ama arte marcial. Comida japonesa. Mangá. E série de tv japonesa. E as meninas mais bonitas têm cara e jeitinho de nisseis. Mesmo sendo da Bahia.
 

LIVROS AO LIXO.

   A biblioteca da escola coloca livros no pátio para que os alunos os levem. Como eu já esperava, eles os pegam e rasgam, chutam, fazem guerra de livros voadores. Livros, para a maioria deles, são como celulares para babuínos.
  Os livros, velhos, considerados inúteis, despertam minha pena. Eles são como amigos para mim, amigos sempre a postos, cães. Antes desse massacre eu salvei alguns. Um velho livro completamente desatualizado sobre linguística. MEMÓRIAS DE UM BURRO, de Herberto Sales, um delicioso livro sobre um burro mais inteligente que os homens burros. O livro ensina ética, bons sentimentos, moral, ou seja, tudo aquilo que não tem mais valor. Leio em duas gostosas horas e o trago para casa.
  Trago também NO PAÍS DAS FORMIGAS, de Menotti del Pichia, um esquecido autor brasileiro. Esquecido porque, ao contrário de seus amigos Mario de Andrade e Oswald, ele disse ser católico e conservador. O livro fala de duas crianças que são enfeitiçadas e diminuem de tamanho. São salvos pelas formigas. Legal.
  Encontro um modesto livro-homenagem. O filho dos Nogami escreveu um livro, COLETÂNEA, em que ele fala da sua família japonesa. De como vieram ao Brasil, da história de seu pai engenheiro. Não é um bom livro, mas é interessante. E doloroso.
  Uma joia é por mim garimpada: CONVERSAÇÃO COMPARADA PORTUGUÊS DO BRASIL E INGLÊS. É um livro vermelho, capa dura e papel macio e brilhante. Quando o abro encontro um lindo selo grudado nele. Escrito em japonês, é o selo da casa imperial. Entendo então que o livro ensina japoneses imigrantes a se comunicar ao chegar no Brasil. Para isso ele usa os dois ideogramas japoneses, os traduz para o inglês e então para o português. Mas o melhor vem em seguida: a data de publicação é de outubro de 1944 ! Ou seja, aquele livro foi editado para japoneses que fugiam da guerra. Em dez meses as bombas cairiam em Hiroshima e Nagasaki.
  Ele ensina coisas bem 1944, como ir ao chapeleiro, pedir tabaco, mandar fazer um sobretudo...me pego imaginando um Toshiro ou um Jun andando pela Liberdade, perdido, e mostrando o livro aberto, apontando com o dedo uma frase tipo: "Por favor, poderia me dizer onde fica um hotel..."
  É um tesouro.

CHARLIE CHAN, FILMES DE SAMURAI

   CHARLIE CHAN E A MALDIÇÃO DA RAINHA DRAGÃO de Clive Donner com Peter Ustinov, Lee Grant, Michelle Pfeiffer, Roddy McDowell e Richard Hatch.
Oh God! Em 1980 fizeram esta comédia com o venerável Chan feito por um sonolento Ustinov. Ainda pegaram a novata Michelle para fazer uma noiva burrinha. O filme é uma tentativa de criar um novo inspetor Clouseau ( que seria Hatch, o neto de Chan ). Correrias e gritos que nunca são engraçadas. O filme é um fracasso completo.
   A ÚLTIMA ESPADA de Yojiro Takida
Um recente épico samurai. Que, apesar de bonito, nunca consegue emocionar.
   JURAMENTO DE OBEDIÊNCIA de Tadashi Imai
Ganhador do festival de Berlin em 1963, este filme cruel exibe o sistema japonês de obediência. Conta a história, através de várias gerações, de uma família que sempre deve obedecer um senhor. Vemos homossexualismo, estupro e muito sangue. O filme é um pesadelo e tem uma ira absoluta.
Forte, muito forte.
   LOBO SAMURAI 2 de Hideo Gosha
Continua a saga. Este é menos louco que o primeiro. É um convencional filme de samurai em que o Lobo está um pouco mais tranquilo.
   CRÔNICAS DOS SHINSENGUMI de Kenji Misumi
Fala de um samurai de honra que se decepciona com seu líder. Um belo filme com aqueles atores japoneses tão desconhecidos no ocidente e tão maravilhosamente bons.
   GUERRA DE ESPIÕES de Masahiro Shinoda
Este conta a era em que o Japão era uma teia de espiões. O tempo dos Tokugaua, século XV. Bastante confuso, com um clima sombrio bastante invulgar.

SILÊNCIO...O MAIS DURO FILME DE MARTIN SCORSESE.

   Cada vez menos gente sabe história, então conto aqui o contexto do filme: No século XVII, com medo do protestantismo, Roma dava força total aos jesuítas. Os jesuítas foram uma criação do século XVI que visava converter almas. Guerreiros de Deus, sua missão era levar a fé para o máximo de pessoas pagãs. Assim, eles se espalharam pelo mundo. Futuramente, o próprio catolicismo os tornaria proscritos. Portugal, país ocidental que primeiro tocou o Japão, tomou para sí a missão de catequizar os japoneses. No fundo dessa questão havia o desejo de provar aos protestantes que a igreja de Roma era a verdadeira. Para os marxistas, que tudo gostam de simplificar, tudo era mera questão de mercado. Mas não era só isso. Na verdade o cristianismo começava a duvidar de si-mesmo. Converter era um modo de reafirmar-se. Mas, e o filme mostra isso também, ao ter contato com outras culturas, o jesuíta entrava em questionamento. E, se forte, saía com uma nova certeza.
  Scorsese consegue mostrar tudo isso. E sem nunca parecer didático. O filme, feito sem orgulho, sem espetáculo, humilde, simples e extremamente triste, é difícil de assistir. As cenas de sofrimento são insuportáveis; as torturas absurdas e revoltantes, a dor se espalha por todo lado. Mas Scorsese é honesto. Ele mostra, exibe, fala, e nunca se exibe. O filme é isento de "arte". É uma obra de fé.
  Generoso, o filme pode ser visto como refutação de Deus. Passamos quase 3 horas com o desespero da dúvida. Deus não fala, tudo é dor e silêncio. Mas há o final...O belo e exato final. O fim do filme tudo clareia. Não o contarei. Que assista quem puder.
  O tema do filme é, percebemos então, a humildade. Todo mal vem do orgulho e da vaidade. E um homem só percebe isso quando é humilhado. Scorsese dá uma esperança a nós, seres vazios do século XXI. Na figura do japonês tolo, aquele que peca sem parar e se confessa após cada erro, vejo a nossa época. Somos todos aquele traidor. Todos tentamos manter o que podemos dos dois mundos: o mundo da alma e o mundo da carne. Não somos de todo maus. Apenas confusos e covardes. Ou, é isso que o filme diz, filhos favoritos.
  Para não revelar o final do filme falarei que Bergman tem um filme chamado O Silêncio. Nesse filme um padre se mata por não poder ouvir Deus. Bergman, que foi um homem de fé que acreditava não a possuir, fez um filme que o trai. Ele não tem final. Fica em suspenso. Já Scorsese repete esse desespero. Mas vai além e lhe dá uma nota final. O americano aceita sua crença ancestral. Bergman, sempre adolescente genial, não pode fazer isso. Bergman, que eu adoro, morreu ainda adolescente. Scorsese atinge a velhice. Reconcilia-se.
  Para mim, sangue luso que passou 40 anos brigado com meu passado, o filme mostra além de tudo, mais um dos brilhantes desastres portugueses. Por insistir em catequizar, os lusos perdem o Japão para a Holanda, que desejam apenas vender e comprar. Portugal, um dos mais complicados dos países, não pode e não quer apenas vender. Ele precisa batizar, salvar, mudar a alma do Japão. E, como o filme mostra, os lusos não percebem que um japonês não é um europeu. Ele vê o mundo de outra forma.
  Essa a grande chave do filme. E é a imagem que fica, que me ficou entre lágrimas. Um japonês não consegue ver o mundo sem o molde budista-taoísta. Para ele Deus é a natureza e as estações. Um tipo de nada anímico. Pois para nós, mesmo nós, materialistas herdeiros do ocidente, tudo sempre é tocado por um Deus único e humanizado, que se sacrifica e morre, e ressuscita e pode falar conosco. Essas imagens conduzem a cultura. Inclusive da ciência. Da história. Dos nossos sentimentos. O renascer é a condição de todo herói. E de cada homem vivo.
  Nós sabemos disso. Tudo nos é familiar. E talvez, Scorsese diz isso, sejamos parte da Verdade. O Silêncio da natureza é a voz de Deus.
  Perto deste filme, falho e chato, lindo e inesquecível, todos os filmes do Oscar são obras de crianças.
 

A VALISE DO PROFESSOR - HIROMI KAWAKAMI

   Japoneses comem coisas assustadoras. E bebem demais. Este livro, de uma das escritoras mais premiadas do Japão atual, fala de um bar em Tokyo. Lá, uma moça e um velho professor conversam. E comem. E bebem.
  Nunca marcam um encontro, mas sempre se encontram nesse balcão, por acaso, acaso que não é acaso. Ela tem 38 anos e é uma solitária bem resolvida. Ele tem 70, e é formal, rígido, professoral ao extremo.
  Hiromi escreve ao modo nipônico típico: curto, direto, seco. E estranhamente singelo. ( Primeira vez que uso essa palavra. Singelo é uma mistura de beleza simples com delicadeza não afetada ).
  Os dois viajam, caminham, se hospedam em hotel e voltam ao bar.
  E tudo termina como tem de terminar.
  Leia.

TSUGUMI - BANANA YOSHIMOTO

   Ela é da minha geração e é uma das grandes escritas do Japão de hoje. Seu nome verdadeiro é Mahoko, adotou Banana porque ela adora as flores de bananeira. E no Japão banana se chama banana. É uma das muitas palavras de influência portuguesa.
  Eu amei este livro! Conta a simples história de uma garota de 18 anos que passa férias em Izu, uma praia japonesa. Lá, ela convive com sua prima, Tsugumi, uma garota que fala o que pensa, é agressiva e tem uma doença que pode a matar a qualquer momento.
  O enredo é apenas esse. O mar, manhãs, um namoro, a volta do pai ausente, amizade feminina, cães. Mas tudo é contado de um modo tão simples, tão sincero, tão bonito, que a gente se encanta e se apaixona. Tsugumi é já uma das minhas paixões ficcionais. Uma personagem má, cínica, doentia e sedutora ao extremo. Dona de uma inocência celestial. Linda.
  Cada capítulo traz uma pequena aventura das amigas, e cada aventura é uma mistura de excentricidade e vida comum, banal. Habitamos aquela cidade, a pousada, e também a casa em Tokyo, onde se passa uma parte do romance. Yoshimoto escreve claro, solar como o verão que ela descreve tão bem.
  Leia este livro. Leia neste verão.
  E quantos livros voce já leu em que ao final a autora te agradece por tê-lo lido...Só no Japão mesmo.

UM DIA F &**%$## NA VIDA DE TONY ROXY.

   Sei lá porque o cara sentou ao meu lado no banco e perguntou se eu havia assistido MATRIX. O primeiro é um filme absoluto e os outros um lixo. Então a gente falou de que no espaço não existe alto e baixo ou ir para a esquerda ou para cima. E que se a gente acha que esses conceitos são universais é porque existe uma matrix que conforma nosso cérebro ou mente ou o que for.
 Conto pra ele o papo da escrita em linha. Por causa da gente ler em linha reta a gente acha que todo pensamento é uma linha, linear. Mas não. O pensamento nosso é conformado numa linha para poder ser lido pela nossa mente racional e lógica. Mas pensar é circular. Explosivo.
 Vou pra casa e boto uma pulseira que muito raramente uso. Volto à escola e de noite um garoto chinês vem falar comigo. Pergunto se a menina que ele namora é japonesa. Ele diz que não. Mas que ela parece japa de tanto ler mangá. Então a gente fala do Japão e ele me pergunta se conheço Akira. E daí ele pergunta se já assisti MATRIX. É, ele pergunta.
 Então a gente conversa de física. Ele quer ser físico nuclear. Falamos do tempo como conceito abstrato, das distâncias ilusórias. Ele fala que Jesus Cristo pode ter sido uma ilusão colocada em nossa mente. Ou o contrário, que o milagre pode ter sido obstruído de nossa mente. Nunca saberemos ou talvez a gente já saiba.
  Um homem deixa a chave de sua moto cair na grade de um bueiro. Então ele pergunta se um de nós tem um gancho, uma corrente, um imã...Lembro que o fecho da minha pulseira é um imã. Pego a chave dele e noto que o comprimento da pulseira é exatamente o mesmo da profundidade onde a chave caiu.
  Volto pra casa e minha ex escreve que a vida é uma luta. Cabe a nós perceber a linguagem.
  Tá.

A PARTIDA# BILL MURRAY# CHARIOTS# WHITE SNOW# DRACULA

   A PARTIDA de Yojiro Takita com Masahiro Motoki e Ryoko Hyrosue.
Ele toca cello mas a orquestra onde trabalha fecha e assim ele retorna a sua cidade natal. Lá ele arruma um emprego: maquiador de cadáver. Mas é o Japão e lá essa profissão tem uma importância ritual e estética que não existe aqui. O filme com esse tema poderia ser pesado ou tenso, é antes de tudo leve e relaxado. Mérito da direção mas também de um roteiro perfeito. O círculo se fecha e este filme anda ao redor da morte como vida. A simbologia da pedra nunca foi tão bem explicada. É um filme delicado. O cinema japonês tem um caráter, este filme o exibe. Um dos grandes do século.
   TIRANDO O ATRASO de Dan Mazer com Zac Efron, Robert De Niro e Zoey Deutch.
Começa muito ruim. Depois melhora e a lembrança acaba sendo ok. De Niro é um viúvo que sai com o neto em viagem. Esse neto, super careta, vai se soltar e muda sua vida ao final da trip. O roteiro é óbvio, Zac mostra a bunda o quanto pode, mas De Niro salva o filme. Seu personagem é tão vivo que dá energia ao filme. Ah sim...no mundo de hoje ser livre é se drogar e fazer sexo. Ok. Nota 6.
   BRANCA DE NEVE E O CAÇADOR de Rupert Sanders com Kristen Stewart, Charlize Theron e Chris Hemsworth.
Bem melhor do que parece. Num clima dark, Branca é a força vital, a natureza e a madrasta é a destruição daquilo que seja vivo, natural, do sol. Isso é desenvolvido com ação e sem nada de pedante ou didático. Cinema americano puro. O cinema que em seu melhor diz muito sem ostentar nada. Envolvente e bonito. Nota 7.
   ROCK EM CABUL de Barry Levinson com Bill Murray, Kate Hudson, Bruce Willis, Zooey Deschanel.
Um lixo. E o mais triste é que desta vez Bill Murray acordou. Mas o roteiro é tão ruim que nada poderia o salvar. Ele é um empresário de rock fracassado que agenda show em Cabul. Lá fica sem sua cantora e se envolve com cantora islâmica que canta Cat Stevens. Willis é um mercenário e Kate Hudson uma prostituta. Ambos estão constrangidos. Levinson foi um diretor bem bom. Vinte anos atrás.
   MOMENTUM de Stephen com Olga Kurylenko e Morgan Freeman
O ponto mais baixo.
   CARRUAGENS DE FOGO de Hugh Hudson
Em 1981 eu assisti ao Oscar. Foi a grande zebra da década. Uma das maiores da história. Naquele tempo ninguém entendeu porque um filme tão bobo vencera o filme de Warren Beatty, Reds. Fácil saber: Beatty era odiado por seus pares, Reds era um filme de esquerda e filmes ingleses sempre agradavam os velhinhos da academia. O filme é chato e o pior de tudo é sua trilha sonora. Foi o começo das horrendas trilhas com synth, moda nos anos 80. Reds é um filme cheio de defeitos, mas medíocre ele nunca é.
   DRÁCULA, O PRINCIPE DAS TREVAS de Terence Fisher com Christopher Lee
Produção Hammer. Dois casais se hospedam em castelo. Lá estão as cinzas de Dracula e ele volta a beber seu sangue...Apenas ok para quem adora castelos e vampiros.

A TERRA INTEIRA E O CÉU INFINITO- RUTH OZEKI

   Um livro de uma tristeza sem fim, longo e melancólico, representou para mim uma luta para ser lido. Ele é belo, mas é um buraco fundo, pois seu assunto mais fremente é o suicídio e todos os personagens, em crise, rodam nesse questionamento: até onde vale a pena persistir.
   No Canadá, uma escritora chamada Ruth, encontra na praia um diário abandonado. O diário era de uma adolescente japonesa em crise. Essa menina, chamada NAO, morava nos EUA e o pai, despedido na crise econômica de 2000, volta ao Japão. Na escola, a menina sofre bullying.  Frequenta um bar "francês" e passa as férias com sua bisavó de 110 anos, uma monja zen. O pai tenta se matar 3 vezes, a menina é estuprada, e o tio do pai foi piloto kamikaze na segunda-guerra. Esse o enredo do livro, mas seu tema central acaba por ser a física quântica e o zen-budismo.
  Seria uma tremenda mancada se eu revelasse a chave do livro. Espero que você passe pela árdua leitura. Ele não é fácil, mas compensa. O que posso dizer é que ele acaba por filosofar sobre escolha, tempo e claro, a vida. O que posso revelar é o choque que foi para mim tomar contato com a podridão do Japão de hoje. A menina sofre coisas inimagináveis por ser uma "estrangeira". Diz a autora que lá não existe a possibilidade de imigração, uma vez estrangeiro, estrangeiro sempre. É uma molecada competitiva, agressiva, vaidosa e mais que tudo materialista. Há um imenso vale que divide o país entre o tempo da guerra e o tempo de 1980 em diante. E nessa amnésia, até o profundo instinto guerreiro do Japão é renegado. Para os jovens, é uma lugar de paz e de calma, quando na realidade sempre foi um país de guerra e de crueldade.
  A vida no Canadá também se revela fraturada. As pessoas são apáticas, caladas e bastante intrometidas. O marido de Ruth, Oliver, é um homem do mato. A floresta e seus seres ameaçam sempre invadir tudo e todos.
  Livro forte.
  PS: Estudantes americanos de Stanford tentam banir do currículo todos os livros que "fazem mal". Virginia Woolff, Joyce e Proust, dentre vários, trazem depressão e tristeza para as pessoas, e por isso atrapalham a vida. É a primeira vez na história que a censura vem dos estudantes e também é a primeira vez que se fala em censura por questões de saúde mental e não moral.
  O livro de Ruth Ozeki, escuro e triste, é um alvo dessas crianças que negam o lado escuro da força.
 

JORI IVENS- KEVIN KLINE-HENDRIX-MAN RAY-ERROL FLYNN-SAMURAI

   A ESPADA DA MALDIÇÃO de Kihachi Okamoto com Tatsuya Nakadai
Primeiro filme da caixa número dois Cinema Samurai. Bastante forte este filme sobre um samurai que tem forte impulso de matar. Pessimista, o final fica na memória. Nota 7.
   A LÂMINA DIABÓLICA de Kenji Misuni com Raizo Ichikawa
Um grande ator faz o papel de um órfão que tem o apelido de homem-cachorro. Humilde, ele é humilhado por todos. Achei este o menos bom da caixa. Nota 6.
   SAMURAI ASSASSINO de Kihachi Okamoto com Toshiro Mifune
Um grande filme! Mifune brilha como um samurai desencanado, e o enredo trata de traição e vingança. Cenas de luta maravilhosas e uma fotografia estupenda! Nota 8.
   A ESPADA DO MAL de Hideo Gosha com Mikijiro Hira
Uma obra-prima. Um samurai mata um inocente e a partir daí se desenrola toda a trama. O clima do filme, lama, chuva, closes, remete a Kurosawa. Tenso, dark, é um filme de aventuras que humilha os filmes de aventuras. O requinte estético é sublime. Nota DEZ.
   TIRANIA de Hideo Gosha com Tetsuro Tamba
Uma belíssima obra-prima! Passado todo á beira de um mar de inverno, corvos, as imagens ficam na memória. Pescadores são massacrados. Um samurai discorda disso. O resto é uma rede de medos e de segredos que deixam o espectador ligado e excitado. Forte componente erótico e forte componente de drama. Um filme belíssimo! Tem de ser visto. Nota DEZ!!!!
   O FILHO DO DESTINO de Kenji Misuni com Shigeru Amachi
O mais curto. São apenas 70 minutos, mas quanto drama há aqui! Um órfão e seu triste destino. Ele falha em tudo! Duro e tristíssimo. Nota 7.
   A ÚLTIMA AVENTURA DE ROBIN HOOD de Richard Glatzer e Wash Westmoreland com Kevin Kline, Susan Sarandon e Dakota Fanning
Errol Flynn merecia coisa melhor! O filme mostra o último amor de Flynn. Já decadente, drogado, ele se apaixona por uma aspirante a atriz de 17 anos ( na vida real ela tinha 15 ). A mãe da menina é a megera ambiciosa que se espera. Dakota está muito fraca e Kevin tenta dar vida à um papel muito raso. O filme é feio, desagradável, árido. Talvez o filme mais esquisito do ano. E creia, por mais que o assunto seja ótimo e pudesse dar um grande filme, este é muito, muito ruim.
   JIMI, TUDO A MEU FAVOR de John Ridley com André Benjamin, Hayley Atwell e Imogen Poots.
Ridley fez a opção certa! Apesar de poder frustrar os fãs, ele escolheu mostrar apenas dez meses da vida de Hendrix. A transição de 66 para 67. O estilo do filme tenta copiar o tipo de cinema moderno da época e temos um ator fazendo Clapton que é sósia dele. Jimi é bem interpretado e apesar de fisicamente ele ser muito mais "viril", André segura o papel. A atirz que faz Linda Keith é de uma beleza mágica. Não vi mulher mais bonita no cinema atual. Um detalhe: o filme é dela. O roteiro centra na relação dela com Jimi. Ponto ruim: os herdeiros não liberaram música nenhuma. Só ouvimos covers que Jimi gravou. Hey Joe, Like a Rolling Stone... Eu gostei bastante e acho este um dos melhores filmes de rock entre os mais recentes. Nota 7.
   LE COQUILLE ET LE CLERGYMAN de Germaine Dullac
Estou revendo o box dos filmes avant-garde. São curtas feitos por artistas que tentaram transformar o cinema em outra coisa. Nos anos 20 a arte teve uma escolha a fazer: ou a narração realista, ou a poesia sonhadora. Todos os filmes aqui optam pelo sonho. O partido do realismo venceu. Mesmo nossos filmes mais ousados têm sempre um pe´ no sentido do real. Eles devem fazer sentido. Ter começo e fim. Este que destaco do disco um, é belíssimo! Um delírio que mistura igreja, mar, natureza, mulher, medo e desejo. Não procure sentido. Não procure simbolismo. Ele é exatamente o que parece ser. Nada mais. Nota DEZ.
   L'ETOILE DU MER de Man Ray
Sim, Ray foi um grande fotógrafo avant garde, amigo de Duchamp e dos surrealistas. Este delírio é de uma beleza refulgente. Kiki de Montparnasse é a atriz. As imagens fazem com que sonhemos acordados. Nem Bunuel fez imagens tão próximas do que é um sonho. Nota MIL.
   MENILMONTANT E BRUMA DE OUTONO de Dimitri Kirsanoff
Este é um filme que virou mito. A história trágica de uma mãe solteira. A atriz principal beira o milagroso. O filme parece um documento do sofrimento. Ela fica na rua, com o bebê....é doloroso. É real e é estranho. Impossível fazer hoje um filme tão pouco cínico. Nota DEZ. Bruma de Outono é apenas bonito.
   REGEN de Jori Ivens
Chove em Rotterdan. Apenas isso. Documentário em estado puro. A chuva cai. E é só. E com isso, o famoso doc holandês fez um dos mais belos filmes já feitos. A beleza, simples, banal, se torna eternidade e magia. Ivens amava a vida. Muito. E o que nos resta é amar seu filme. Muito. Uma obra-prima. Como dar nota.....