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SOBRE OS VÍDEOS ABAIXO

Bruckner escrevia para Deus. O Deus luterano, sério, grave, adulto. Ouvir sua obra é ter a chance da transcendência. Ouça o final da sinfonia número 4, que postei. Ela dura uma hora e vinte. Parece durar seis horas. É longa e exigente. Mas vale muito a pena. Porque ela é som de outro cosmos. Ela eleva. Ela acusa. Assusta. E nos enobrece. Bruckner é generoso. Mas jamais simpático. Sibelius fala da história de seu país. Da escuridão da Finlandia, o nascer da raça e a eterna ameaça russa. É um hino gelado. É sombrio e é heroico. E temos Mendelssohn, música que recorda sua origem primeira: celebração. Que arte martavilhosa a música pode ser!

One of the best symphonic endings (Bruckner 4th, Celibidache)

FELIX MENDELSSOHN. UMA VIDA FELIZ.

Mendelssohn nasceu numa família rica no começo do século XIX. Viveu pouco, mas foi uma vida onde ele pode ser e fazer aquilo que quis. A música foi seu grande amor, e além de compor e tocar, ele ajudou muito músico em apuros. Dizem algumas pessoas que Mendelssohn não foi genial por não ter sentido a necessidade de lutar e não ter sofrido a dor de grandes perdas. Acho isso uma grande bobagem. Mendelssohn foi aquilo que ele pode ser, feliz, um homem feliz que fez música alegre, brilhante, revigorante, solar. Os primeiros minutos de SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO são a trilha sonora perfeita para uma mágica noite de vinho em bosque cheio de vida. A orquestra em Mendelssohn soa como encontro de amigos. Sua música é uma benção. ------------------ Ele é o contraponto exato de Bruckner. Se um é grave e sempre sério, o outro é risonho e sempre esfuziante. Bruckner é o final do romantismo, uma espécie de retorno; já Mendelssohn é o final do classicismo, ele é um coração romântico dentro de uma forma ainda clássica. ------------------------ Hoje Bruckner é bastante valorizado, já Mendelssohn está sendo esquecido. Coisas da psique do tempo que passa. ------------------------------- Me ocorre que música erudita ou clássica deveria ser chamada de música europeia. A arte que vai de Monteverdi à Stravinski, de Bartok à Lassus é 100% fruto do continente europeu. A sinfonia, a ópera, quarteto, concerto para instrumento solo, trios, lieder, são formas e criações europeias. Gershwin ou Villa Lobos lutavam para fazer da música tão europeia uma arte americana. O jazz, o samba, o blues, o tango, o calipso, a rumba ou o reggae são música das américas, 100% daqui. Depois tudo se mistura, mas música clássica com pitadas de jazz ou cumbia sempre soa como um europeu em visita a América. -------------------------- Tão europeia que nem mesmo a raiz grega, por ser oriental, entrou na receita. A música das sinfônicas é italiana, depois francesa, alemã, austríaca, russa, inglesa e polonesa; tcheca e húngara, espanhola e norueguesa. Sim, cabe uma pitada judaica, algo mouro, mas são judeus e mouros que vivem na Europa, que aprenderam piano tocando Bach e violino tocando Vivaldi. --------------------------------- Mendelssohn era judeu. Mas não ouço nada de judaico nele. ----------------- Ah! Ouvi o finlandês Sibelius. Sua música é como chuva. Nunca ouvi nada com tanto sabor de rajadas de chuva fria sobre um convés em brumas marítimas. As notas caem sobre a madeira, voam em forma de gotas, castigam as coisas e as purificam. Adorei.

ANTON BRUCKNER

Bruckner é a prova de que genialidade musical independe de cultura refinada. Nasceu no interior da Austria, viveu até os 40 anos na pobreza, trabalhando como professor de aldeia e tocando orgão na igreja local. Então, de repente, descobrem suas composições, e sua vida muda ( mas não sua mente ). Wagneriano, ele faz sucesso entre alguns músicos e escritores, e se não se torna uma estrela, se faz um sucesso entre entendidos. Morre ao fim do século XIX e durante o século seguinte sua fama cresce. Ouço-o hoje. --------------------------- A Quarta Sinfonia de Bruckner. Dizem ser longa e dificil. Dizem que toda sua música é hiper cristã, Bruckner é o único compositor de sua época que crê sem duvidar jamais. Ele compôe para Deus. Não o Deus bonzinho, mas o Deus combativo e guerreiro. Dizem também que ele, devido a sua pouca instrução musical, compôe para a orquestra como se fosse para o orgão. Ou seja, tudo soa em uníssono, cada naipe orquestral soando como um acorde no teclado. ---------------- Consigo Bruno Walter e a Orquestra da Columbia. Gravação de 1960. --------------------------- A sinfonia dura 78 minutos. Longa. Mas nunca cansativa. É grave, extremamente sisuda, e séria, muito séria. As cordas soam como uma armada de anjos com espadas e punho. É belo e é original, Bruckner tem um som só dele. Mas....há um momento, quando os metais entram....é maravilhoso! Nunca escutei nada parecido. Imagine as trombetas dos anjos do apocalipse. É isso. A orquestra invade nossa mente com uma sonoridade bíblica. Estupendo! -------------------- Então somos pegos pela obra. E ela é árida, seca, dura, e linda. Movimentos se repetem ao infinito, ela faz um looping sem porque, mas voce não desiste de a seguir até seu final. É uma das mais originais sinfonias de seu tempo. Obrigatória.