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NEIL YOUNG, A AUTOBIOGRAFIA
Neil Young é um cara muito mais legal do que eu esperava. Mas ele escreve como fala. E o que ele fala é muitas vezes repetitivo. O que nos seria agradável numa conversa na praia, em uma página escrita fica sem graça.
Cresci lendo que Neil era um "artista atormentado". Outra das baboseiras impostas pela crítica ideológica dos anos 70-80! Essa crítica, fantasiosa, me fez crer não só que Neil era um tipo de mártir, mas que o AC DC era um lixo e que os discos de Peter Gabriel eram bons. Haja!!!
Neil não é sofredor. Ele se divertia muito nos anos 60, 70 e 80. A gente imaginava que ele estava sofrendo como uma personagem de Bergman, e na verdade ele estava colecionando carros velhos e conhecendo "meninas cósmicas". Ele é um hippie assumido. Um hippie dos bons. Não a caricatura bicho grilo dos anos 70, mas o autêntico, o místico. Um dude. No livro, as melhores partes, são quando ele se derrama em elogios, como um hippie, aos amigos e meninas que lhe trouxeram boas vibes. Neil é sempre sincero. Um cara que a gente adoraria ter como amigo.
Ele tem suas dores. Como todos temos. Um filho com paralisia cerebral. Casamentos desfeitos. Sua epilepsia. Mas ele não para nessas dores. Mesmo o tempo em que não saía de casa por medo de ter ataques ( sei bem o que é isso ), é deixado de lado em favor de suas lembranças felizes. Neil é profundamente otimista.
Ele passa dezenas de páginas em um idealismo bastante anos 60: vencer a Apple e trazer de volta à música a qualidade sonora. Veja bem, não é saudosismo. Ele não fala que a música de hoje é mal composta. Ele diz, e basta ter ouvidos para perceber, que ela é mal gravada. A molecada ouve som em celulares e esse som não tem definição, profundidade, riqueza de timbres e de detalhes. A experiência cósmica de se ouvir música é rebaixada a uma atividade tão vazia como correr no parque ou fazer palavras cruzadas.
Tenho uma experiência recente sobre isso. Após anos ouvindo dos discos de Hendrix em cd, ouço os 3 primeiros em vinil e me arrepio ao sentir que naquele som há uma profundidade, alcance, eco, ruído, chiado, agudez, que o cd não consegue reproduzir. Em stream ou mp3 a coisa é ainda pior.
Neil fala do Pone, um sistema digital que ele e sócios desenvolveram que traz de volta o som cósmico. Como o livro é de 2012 e em 2018 esse Pone ainda não está por aí...acho que a Apple fodeu com eles. Neil também financia carros elétricos.
Ele teve fazendas, barcos, iates, mulheres, drogas, bebidas, sucessos, fiascos, bandas, lutos, sexo, se dava bem com a família. É rico e viveu bem. É só isso. Mas ele é bem mais caloroso e bacana do que esperava. É cósmico.
PS: A mudança no Hall da Fama, de cerimônia íntima em show de TV, é uma das coisas mais tristes no livro.
Cresci lendo que Neil era um "artista atormentado". Outra das baboseiras impostas pela crítica ideológica dos anos 70-80! Essa crítica, fantasiosa, me fez crer não só que Neil era um tipo de mártir, mas que o AC DC era um lixo e que os discos de Peter Gabriel eram bons. Haja!!!
Neil não é sofredor. Ele se divertia muito nos anos 60, 70 e 80. A gente imaginava que ele estava sofrendo como uma personagem de Bergman, e na verdade ele estava colecionando carros velhos e conhecendo "meninas cósmicas". Ele é um hippie assumido. Um hippie dos bons. Não a caricatura bicho grilo dos anos 70, mas o autêntico, o místico. Um dude. No livro, as melhores partes, são quando ele se derrama em elogios, como um hippie, aos amigos e meninas que lhe trouxeram boas vibes. Neil é sempre sincero. Um cara que a gente adoraria ter como amigo.
Ele tem suas dores. Como todos temos. Um filho com paralisia cerebral. Casamentos desfeitos. Sua epilepsia. Mas ele não para nessas dores. Mesmo o tempo em que não saía de casa por medo de ter ataques ( sei bem o que é isso ), é deixado de lado em favor de suas lembranças felizes. Neil é profundamente otimista.
Ele passa dezenas de páginas em um idealismo bastante anos 60: vencer a Apple e trazer de volta à música a qualidade sonora. Veja bem, não é saudosismo. Ele não fala que a música de hoje é mal composta. Ele diz, e basta ter ouvidos para perceber, que ela é mal gravada. A molecada ouve som em celulares e esse som não tem definição, profundidade, riqueza de timbres e de detalhes. A experiência cósmica de se ouvir música é rebaixada a uma atividade tão vazia como correr no parque ou fazer palavras cruzadas.
Tenho uma experiência recente sobre isso. Após anos ouvindo dos discos de Hendrix em cd, ouço os 3 primeiros em vinil e me arrepio ao sentir que naquele som há uma profundidade, alcance, eco, ruído, chiado, agudez, que o cd não consegue reproduzir. Em stream ou mp3 a coisa é ainda pior.
Neil fala do Pone, um sistema digital que ele e sócios desenvolveram que traz de volta o som cósmico. Como o livro é de 2012 e em 2018 esse Pone ainda não está por aí...acho que a Apple fodeu com eles. Neil também financia carros elétricos.
Ele teve fazendas, barcos, iates, mulheres, drogas, bebidas, sucessos, fiascos, bandas, lutos, sexo, se dava bem com a família. É rico e viveu bem. É só isso. Mas ele é bem mais caloroso e bacana do que esperava. É cósmico.
PS: A mudança no Hall da Fama, de cerimônia íntima em show de TV, é uma das coisas mais tristes no livro.
BUFFALO SPRINGFIELD AGAIN
Buffalo Springfield Again é o segundo disco da banda canadense e é bem melhor que o primeiro disco, de 1966. A química entre Stephen Stills e Neil Young começa a criar atritos aqui e esse atrito faz com que os dois se afastem ainda mais. Os sons de Young começam a ficar cada vez mais ácidos, tanto na voz como na guitarra, enquanto Stills desenvolve seu tipo de blues-folk-estradeiro-suave. Eles brigariam logo no próximo disco e estranhamente passariam toda a carreira em idas e voltas. O Crosby, Stills, Nash e Young é um eterno recomeço.
Richie Furay é o outro ângulo do grupo, um talentoso autor Pop e uma voz linda. Depois ele formaria o Poco, a banda que criou o som de LA nos anos 70. Acreditem em mim, em 1967 esses canadenses faziam um som novo. Desenvolviam o que os Byrds haviam prometido e abriam o caminho para The Band. A linha evolutiva é essa: Byrds-Buffalo-Band-etc etc etc.....
Vilões com guitarras, vozes em trio. E uma mixagem esperta, redonda. Eis o som.
Mr. Soul abre o disco. Que é todo delicioso. Stills é um grande guitarrista e um ótimo compositor. E tem uma voz áspera e suave, rascante e soft. Aqui ele nos dá três grandes canções e mais algumas ótimas.
Liga o carro, desce a Serra e bota esse cd pra rolar. Você vai gostar.
Richie Furay é o outro ângulo do grupo, um talentoso autor Pop e uma voz linda. Depois ele formaria o Poco, a banda que criou o som de LA nos anos 70. Acreditem em mim, em 1967 esses canadenses faziam um som novo. Desenvolviam o que os Byrds haviam prometido e abriam o caminho para The Band. A linha evolutiva é essa: Byrds-Buffalo-Band-etc etc etc.....
Vilões com guitarras, vozes em trio. E uma mixagem esperta, redonda. Eis o som.
Mr. Soul abre o disco. Que é todo delicioso. Stills é um grande guitarrista e um ótimo compositor. E tem uma voz áspera e suave, rascante e soft. Aqui ele nos dá três grandes canções e mais algumas ótimas.
Liga o carro, desce a Serra e bota esse cd pra rolar. Você vai gostar.
BUFFALO SPRINGFIELD- AGAIN / THE BAND
Richie Furay, Neil Young e Stephen Stills. Este é o segundo disco e é uma delicia.
Urgência e um riff que lembra Jumpin Jack Flash. A voz é a de Young, com suas costeletas de Wolverine. Mr Soul é um rock meio psicótico, urgente e tem um solo da guitarra maníaca de Neil Young que é inesquecível. Um detalhe: não sou fã dele. Acho Stills melhor. Neil Young oscila demais, entre excessos de pretensão e algumas canções simples e realmente lindas. Mas não é o gênio que tanta gente diz. Mr Soul é das excelentes. Uma bela porrada.
Mas o melhor deste disco são as músicas de Stephen Stills. Com seu violão de cristal, às vezes uma guitarra escorregadia. O vocal rouco de estradeiro, uma pitada de dor, uma dose vasta de espaço vazio. Stills cria o rock made in California, que infestaria os anos 70 ( ele não tem culpa ) e em seu grupo seguinte, o Crosby, Stills, Nash and Young, seria ele também o salvador da pátria. Por causa da idolatria à Young, ficou Stills desvalorizado pela história. Mas suas músicas aqui são deliciosas, e melhor, envelheceram muito bem.
Esta banda que ainda tem Richie Furay, um baladeiro pop, nunca vendeu tanto assim. Mas acabou se tornando histórica pelo futuro de seus componentes, e por ter anunciado o som que seria dominante. Pegaram o legado dos Byrds e o amplificaram. Ouça que vale muito a pena. Além do que sua influência é sentida ainda agora, quarenta anos depois.
Mas quero falar do segundo disco do grupo de Robbie, Richard, Rick, Garth e Levon. The Band. A perfeição em forma de música. É este que os levou a capa da Time.
Across the great Divide abre com alegria. Muita alegria. Vocais unidos e um piano caminhante. Está feita a comunhão, coração à coração. Daí explode o rabecão de Rag mama Rag. Caraca! É como um cavalo bêbado de bourbon!!!!! E a voz de Levon é a voz de todo cowboy !!!! Se o disco continuar nesse nivel é de matar de tão bom... The Night they drove old dixie Down. Majestática. Aqui chega a melancólica tristeza. Eles descem a estrada rumo ao sul derrotado e consolam todos os losers do mundo. É uma obra-prima. Uma daquelas para se cantar berrando e em grupo de amigos. Eis um hino!!!!!! Up on Cripple Creek é alegre. E gruda no cérebro. Voce fica por aí a cantarolando. Não sei porque ela me lembra ressaca feliz. Aquelas manhãs em que voce sorri de sua dor de cabeça e do gosto azedo. Tem um vocal desafinado do cacete. É bom demais. Jemima Surrender, a mulher que geme como um porco e ama como um cão. É suja, bem suja. O riff inicial é pesado e caótico e o vocal é gemido em alto e bom som. Eles reclamam e nos dão pura diversão: música fun. Look out Cleveland é um apelo. O disco não cai de sua altura. Como pode? Jawbone é estranha. Tinha tudo pra dar errado. Ela entra atravessada, torta, e dá certo! Vira canção pop!!! King Harvest fecha o disco. Lá nas alturas. E fecha o círculo: tem o clima de Great Divide ( mas em nada se parece ). O disco é simples e muito rico, cheio de meandros e muito pop, parece banal e é inesgotável.
Pulei as canções de Richard Manuel. When you Wake, Whispering Pines...são tristes, tristes...Richard era um poeta da melancolia. São a outra cara de The Band, a cara que os fez parar sem brigar, se aposentar quando viram que a enganação podia chegar. São canções de tristeza verdadeira.
Na capa marrom estão os cinco. Todos com barbas e cabelos curtos. Parecem confederados ou mineradores do Alasca. Nada têm de meninos ( embora jovens então ). Eles trouxeram a dor e a alegria de adultos so rock.
Urgência e um riff que lembra Jumpin Jack Flash. A voz é a de Young, com suas costeletas de Wolverine. Mr Soul é um rock meio psicótico, urgente e tem um solo da guitarra maníaca de Neil Young que é inesquecível. Um detalhe: não sou fã dele. Acho Stills melhor. Neil Young oscila demais, entre excessos de pretensão e algumas canções simples e realmente lindas. Mas não é o gênio que tanta gente diz. Mr Soul é das excelentes. Uma bela porrada.
Mas o melhor deste disco são as músicas de Stephen Stills. Com seu violão de cristal, às vezes uma guitarra escorregadia. O vocal rouco de estradeiro, uma pitada de dor, uma dose vasta de espaço vazio. Stills cria o rock made in California, que infestaria os anos 70 ( ele não tem culpa ) e em seu grupo seguinte, o Crosby, Stills, Nash and Young, seria ele também o salvador da pátria. Por causa da idolatria à Young, ficou Stills desvalorizado pela história. Mas suas músicas aqui são deliciosas, e melhor, envelheceram muito bem.
Esta banda que ainda tem Richie Furay, um baladeiro pop, nunca vendeu tanto assim. Mas acabou se tornando histórica pelo futuro de seus componentes, e por ter anunciado o som que seria dominante. Pegaram o legado dos Byrds e o amplificaram. Ouça que vale muito a pena. Além do que sua influência é sentida ainda agora, quarenta anos depois.
Mas quero falar do segundo disco do grupo de Robbie, Richard, Rick, Garth e Levon. The Band. A perfeição em forma de música. É este que os levou a capa da Time.
Across the great Divide abre com alegria. Muita alegria. Vocais unidos e um piano caminhante. Está feita a comunhão, coração à coração. Daí explode o rabecão de Rag mama Rag. Caraca! É como um cavalo bêbado de bourbon!!!!! E a voz de Levon é a voz de todo cowboy !!!! Se o disco continuar nesse nivel é de matar de tão bom... The Night they drove old dixie Down. Majestática. Aqui chega a melancólica tristeza. Eles descem a estrada rumo ao sul derrotado e consolam todos os losers do mundo. É uma obra-prima. Uma daquelas para se cantar berrando e em grupo de amigos. Eis um hino!!!!!! Up on Cripple Creek é alegre. E gruda no cérebro. Voce fica por aí a cantarolando. Não sei porque ela me lembra ressaca feliz. Aquelas manhãs em que voce sorri de sua dor de cabeça e do gosto azedo. Tem um vocal desafinado do cacete. É bom demais. Jemima Surrender, a mulher que geme como um porco e ama como um cão. É suja, bem suja. O riff inicial é pesado e caótico e o vocal é gemido em alto e bom som. Eles reclamam e nos dão pura diversão: música fun. Look out Cleveland é um apelo. O disco não cai de sua altura. Como pode? Jawbone é estranha. Tinha tudo pra dar errado. Ela entra atravessada, torta, e dá certo! Vira canção pop!!! King Harvest fecha o disco. Lá nas alturas. E fecha o círculo: tem o clima de Great Divide ( mas em nada se parece ). O disco é simples e muito rico, cheio de meandros e muito pop, parece banal e é inesgotável.
Pulei as canções de Richard Manuel. When you Wake, Whispering Pines...são tristes, tristes...Richard era um poeta da melancolia. São a outra cara de The Band, a cara que os fez parar sem brigar, se aposentar quando viram que a enganação podia chegar. São canções de tristeza verdadeira.
Na capa marrom estão os cinco. Todos com barbas e cabelos curtos. Parecem confederados ou mineradores do Alasca. Nada têm de meninos ( embora jovens então ). Eles trouxeram a dor e a alegria de adultos so rock.
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