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AOS 7 E AOS 40- JOÃO ANZANELLO CARRASCOZA

   O menino narra, em primeira pessoa, sua história. O homem tem narrada sua vida. O fato do menino dizer tudo como um "eu", e o homem como um "ele" já dá a pista. A vida do menino é agora. É o fazer sem questionar. Estar e ver tudo sem a distância da análise. O homem vive longe das coisas. E para nós, adultos, o agora é sempre um depois.
   Cada capítulo tem por centro uma voz. Fala o menino. Fala o homem. ( Que é o menino aos 40 anos ). O menino faz amigos, vai à escola, tem contato com a morte. Alguns capítulos beiram a magia. O do vizinho com suas gaiolas de passarinhos é de antologia. Aos 40 o homem se separa da mulher. Sem brigas, apenas um desgaste. A dor da solidão e da distância do filho. O final é um retorno que não se faz. As coisas não voltam. Morreram. Ou não?
   O autor é grande. No Brasil ninguém escreve hoje assim. Ele sabe olhar. Nada de neuroses. O homem sofre, o menino tem medo, a mãe chora, o pai é humilhado, mas tudo é "normal". Não é a tal literatura da falta de sentido. Não existe exagero, hiper-drama e também não há a pequenez de gente morta-viva. São pessoas como eu, como voce, gente comum, simples, da média. E na visão de João, elas são dignas, fracas, grandes, bonitas, banais, únicas.
   Tem de ler.

AQUELA ÁGUA TODA- JOÃO ANZANELLO CARRASCOZA

   Lembrei de Katherine Mansfield lendo este pequeno-grande livro. São contos sobre coisas pequenas. Pequenas coisas que são as grandes horas da vida. Os momentos que ficam.
    Marcelo Coelho chamou minha atenção sobre este autor. Com 50 anos de idade, ele é um mestre. Logo na primeira narrativa ( todos são contos curtos, 3 ou 4 páginas pequenas ), um menino vai á praia. Senti toda a alegre ansiedade do garoto. A espera do sábado, a descida da Serra, a ida ao mar, as ondas. João descreve tudo como eu o senti. Fui um menino que ansiava pela ida a praia. E pegava onda de peito também. A felicidade do menino era a mesma-minha. Mas mesmo que voce não tenha essa memória, o conto vai te fazer entendê-la e mais que isso, senti-la. Os outros contos não são coisas que vivi, mas são tão bons quanto. Especialmente um, onde um menino vê a mãe em desespero após receber uma carta, e aturdido, não sabe o que fazer para ajudar a mãe a voltar a sorrir. Esse conto, inesquecível. é a obra-prima do livro. Aliás, raros autores atuais têm tanta habilidade para descrever a relação mãe e filho. Isso porque João não escreve apenas bonito, escreve delicado, escreve leve e mesmo nos momentos tristes, sua escrita é feliz. Apesar das dores, da morte, os personagens vivem, são gratos e poder existir e estar aqui. Isso porque eles sentem, olham e contam. João crê na linguagem, nisso ele é um clássico.
   Lançado em 2011 pela Cosac e Naify, vale muito a pena. E ainda tem ilustrações lindas.