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ASSASSINOS POR NATUREZA

Um dos filmes chave dos anos 90 é este Assassinos por Natureza. Ele é um retrato da época e uma antecipação do futuro.
Neste século, Assassinos é o único tipo de filme possível, relevante. Ele é ágil, vazio, nervoso, tolo, e profundamente neurótico. E desprovido de qualquer sinal de humor ( que às vezes surge meio " sem querer " ).
Não há diretor mais desagradável que Oliver Stone. Ele é sempre exagerado, irado e parece estar com o dedo em riste toda a vida. Porém ele tem coragem. Porém ele tem ambição. E isso destoa do cineminha-para-meninos-entediados de hoje.
Sua crítica à TV é ingênua, mas é sincera. Interessante ver a história de uma família incestuosa contada como série de tv ( Um amor de Família ). E é uma cena de gênio aquela em que a entrevista do assassino é bruscamente interrompida pela singela imagem do urso polar ( Coca-Cola ). Essa cena diz tudo sobre a vulgarização, a falta de seriedade que a tv sempre tem e terá. A rebelião no presidio vale tanto e tem tanto espaço como o ursinho bebendo Coca.
Stone é profundamente niilista, seus filmes são crispados, secos e é por sua falta de humor que ele sempre parece limitado e desagradável. Tarantino renega este seu roteiro exatamente por isso : Stone exagera na fúria e no peso, leva tudo muito a sério, está sempre nos incomodando. Tarantino teria feito o filme mais fluido, mais sutíl.
Outro erro está na escolha do elenco. Woody Harrelson e Juliette Lewis são bons, simpáticos, porém quando Robert Downey Jr. aparece como o repórter de Tv, o casal desaparece. O filme se desequilibra então, pois vemos um grande ator, em papel secundário, roubar todas as cenas. Sua fuga com os dois é momento de antologia.
Se Downey Jr. rouba as cenas, falar de Tommy Lee Jones chega a ser covardia. No papel do diretor da prisão ele nos dá o desempenho mais delicioso da década. Ele é depravado, careteiro, profundamente engraçado e patético. Um ator de gênio que nos hipnotiza, e o filme valeria só por sua atuação.
Na trilha sonora, Cowboy Junkies, Janies Addiction, Specials, Barry Adamson, L7...e Leonard Cohen, coisa maravilhosa!
Oliver Stone não crê em seu público. Não crê no homem. Sua visão de mundo é a de um adolescente irado. Ele joga as imagens na nossa cara. Não tem nenhuma elegancia, nenhuma poesia, não tem tato e é pouco inteligente.
Mas ele é grande. Ele é diferente. Ele é original. E ele não é chorão.
Assassinos é então um monumento ao cinema atual, ao cinema dos 90 e ao devastado mundo amoral e fútil de hoje.
O casal de Bonnie e Clyde de Stone é inevitável.