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PEIXE GRANDE, LIVRO DE DANIEL WALLACE ( PAI )

Nossa época está jogando no lixo um dos símbolos mais sublmes que a humanidade amou: O Pai. Por culpa de homens fracos e acomodados, ruiu a beleza desse ser que se dividia em dois papéis: O Provedor protetor e o Homem da Lei. Ele era o duro mestre do conceito de realidade e ao mesmo tempo o Maravilhoso Mago que promovia milagres. Lembro que meu pai era o cara que trouxe um dia uma tartaruga pra casa, e isso foi um milagre. Ele apareceu com um grande carro vermelho e nos levou pela cidade inteira à noite, nos conduzindo por luzes e sombras e vazios imensos. Isso era magia. Quando doente eu me curava ao escutar sua voz em casa e era mandado ao inferno quando ele brigava comigo e me dava um de seus olhares frios. Sim, eu odiei meu pai profundamente. Não houve no mundo alguém que eu tenha odiado tanto. Me senti morrer de tanto ódio. E no entanto, morto a já 12 anos, é dele o amor mais constante e vivo e claro e bonito que sinto. O amor entre pai e filho é sagrado. Diferente do amor de mãe que é só carinho e aconchego, é um amor feito de raiva e disputa, ciúmes e dor, ódio e bondade. A nobreza vive neste campo. Tim Burton leu este livro quando seu pai morrer e fez o filme para ele. Daniel Wallace o publicou em 1998 e não é um grande livro. Mas é bonito. E eu chorei lendo as últimas cinco páginas. E enquanto chorava tudo que conseguia pensar era Pai eu Te Odeio! Como te odeio, amor da minha vida, desgraça da minha vida, exemplo da minha vida, estúpido, teimoso, frio, amoroso, meu pai. O livro fala de um filho. Seu pai está à morte e ele recorda das incríveis histórias que seu pai lhe contava. Um pai distante, que viajava só, que voltava e ria de sua próprias piadas. Wallace usa o exagero e a fábula. As histórias são fantásticas. Wallace acerta o tom: é um filho de 40 falando com o sentimento de um filho de 7. E aos 7 anos, até os centavos que seu pai te dá para os doces são moedas mágicas. Elas vêm do mundo lá de fora, daquele mundo vasto e incrível onde seu pai vive. Ele tem a chave. Meu pai morreu brigado comigo. E a última coisa que ele me disse, horas antes de partir, foi : Filho, me dê um copo de água....Quem ler o livro entenderá porque chorei tanto.