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A NOVA ERA
Não vou advogar a defesa da astrologia, pois embora eu leia sobre o assunto e goste de o discutir, nada há que prove ser ela mais que uma superstição. Não há porque eu ser agressivo por ter nascido em abril ou dissimulado por ser de novembro. Se por ser geminiano me mostro curioso, nervoso e jovial, eu nasci em gemeos, também sou caseiro, sensível e fiel, e isso nada tem a ver com geminianos. Porém eu gostaria de falar sobre algo que acho bem interessante no tema: a tal nova era. Estamos na porta da era de aquário e observo que muita gente quer nos fazer entrar nessa era na marra. -------------------- Saímos de peixes e antes de peixes houve áries. Sim, em contagem de eras a roda astrológica anda em sentido inverso. Não sei o motivo, mas é assim. Aries teria sido entre 2000 ac até o ano zero. Seria um tempo em que militarismo, guerra, coragem, fogo, virilidade e impulsividade dariam o tom. Claro que havia religião, arte, amor, mas eram temas bastante secundários. Julio Cesar, Alexandre, Dario, são os grandes nomes desse tempo. Todos soldados. E mesmo os deuses têm um aspecto guerreiro. A partir do nascimento de Cristo começa o tempo de peixes e esse tempo é o tempo da religião, da arte, do sonho, do auto sacrifício. Guerra continua a ser central, mas não mais é vista com a admiração de antes. O santo e o artista são o centro do planeta. ------------------- Ora, aquário se define pela ciência e pela inumanidade e se tudo se confirmar, estes serão dois mil anos de robótica. E já notamos alguns sinais. Santos já a muito deixaram de existir e artistas são hoje uma coisa fantasiosa. Aquário prega o coletivo e notamos que a individualidade é agora abominada. Todos iguais e todos com o mesmo objetivo, esse o mundo de aquário. Dois mil anos de ditadores anônimos e de negação a tudo que seja humano. A maior característica de aquário é sua desumanidade. Assim serão séculos de luta contra nosso lado animal, básico, instintivo. Se em aries o ideal era o heroi viril e em peixes o santo ou poeta que se sacrifica, em aquário é o inumano, um ser frio. O uso de olhos artificiais para melhorar a visão ou pernas postiças para correr mais depressa será comum, mas muito mais importante é a mudança mental que se opera. Um planeta de mascarados é já um planeta de seres anônimos anti indivíduo, assim como a obrigação em não se falar certas palavras são regras do "bem aquariano", um bem que na verdade é um objetivo anti humano. -------------- Aquario é um signo estranho, pois ele ama a democracia mas não suporta a contradição, se diz humanista mas odeia tudo que sai do planejado. É um solitário que conhece centenas de pessoas, um angustiado que não aceita sua fraqueza. Será um mundo limpo, conformado em ser moderno, formatado para ser igual no diverso, pacífico com monte de violência escondida. --------------- Eu odeio esse mundo.
AR FOGO TERRA ÁGUA, ELEMENTOS E MÚSICA
Eu me divirto com astrologia. Voce deve estar pensando: Como um cara que tenta parecer racional vem falar aqui de uma superstição como essa tolice astrológica? Bem, ela, a astrologia, não tem a menor base lógica, mas nos meus 40 anos de diversão parece funcionar. Ou dizendo melhor, as coincidências se acumulam. Não, não vou discorrer sobre o tema, ando neste ano de 2021 apaixonado por música e assim como na astrologia existem quatro elementos básicos, água, terra, ar e fogo, dá pra dizer que no mundo musical em cada obra há um elemento que é dominante. Eu sei que Bach era do signo de áries, portanto seu signo era do elemento fogo, mas sua música é como terra, terra marrom cheia de pedras, de raízes e com cheiro forte de folhas decompostas. Beethoven é fogo, seja o fogo que consome a lenha, seja o fogo que irrompe do vulcão e dos raios. Mozart é ar. pois ele não só voa como leva o barco adiante. Nunca sólido, ele está em todo lugar. ------------------ Tenho um CD duplo com algumas obras de Maurice Ravel e ao ouvir LA VALSE, mas não só ela, penso em como ele é aquático. Recordo que em 1988, na TV Cultura, 88 foi o grande ano dessa TV, houve um programa sobre a BELLE ÉPOQUE. Não, Ravel não é dessa época, Debussy que é, Ravel veio depois, mas no dito programa, belíssimo, há um episódio, o último, em que se descreve o fim dessa época de luxo e de prazer ( 1890-1914 ). A câmera mergulha em um lago e no fundo desse lago, iluminado por raios de sol que dançam na água, há um bar submerso. Vemos as portas de vidro, as janelas quebradas, agora com peixes, as mesas, os quadros. Creia, é das coisas mais bonitas que vi na TV. O texto, narrado por uma mulher esnobe e um homem bastante afetado, é cheio de imagens poéticas. A Primeira Guerra afundou aquele mundo de calma e de civilidade. --------------------- LA VALSE, como toda obra de Ravel, me faz lembrar dessas cenas. La Valse é, como diz o título, uma valsa vienense, mas Ravel, um dos maiores orquestradores da história, subverte o gênero. Ele desequilibra a valsa, a faz cambalear, o chão falseia. É como um valsa aquática. Entre o ritmo passeiam maremotos, peixes, ondas, marés. É lindo, mas na sequência vem DAFNIS E CHLOÉ, SUITE 2. Aí a coisa pega! Há tanta beleza aqui que o efeito em nosso coração é de torpor. O sol nasce como se fosse o primeiro sol da eternidade. A massa orquestral irrompe, há um coro de vozes distantes, tudo passeia dentro de nosso espírito. Ravel brinca com os sons, são milhares, timbres, tons, harmonias. Uma obra prima do século XX. Oceano que nos afoga e em seguida nos conduz ao sol. ALBORADA DEL GRACIOSO vem em seguida. Mais beleza, rio que não corre, chuva que não chove. Um gota de água do tamanho do universo. --------------------- No segundo CD temos Martha Argerich solo. GASPARD DE LA NUIT é das obras mais famosas de Ravel. A pianista argentina consegue tocar essa obra tão dificil. São miríades de correntes submarinas que se chocam. O piano repercute ao limite. Uma festa para os ouvidos da alma. Depois o Melos Quartet toca o QUARTETO EM FÁ MENOR. O outro lado de Ravel: mistério. Sua obra, imensa, evoca mistérios. A música, forma de arte tão abstrata, é mistério sem solução. O segundo movimento é a consumação. ------------------------ A orquestra é a de Montreal e o regente é Charles Dutoit. Bravo!
O DISCO FAVORITO DE MACCARTNEY: PET SOUNDS, A OBRA TRÁGICA DOS BEACH BOYS
Quando Paul lançou RAM, um de seus melhores discos, em 1970, muita gente se surpreendeu com a foto de capa: Paul e um carneiro. Não ficariam tão surpresos se soubessem que PET SOUNDS era seu disco favorito. Além do que, Paul sempre falara que God Only Knows era a mais bela canção de amor já feita. Pena que a paranóia de Brian Wilson tenha destruído sua carreira. Ele via Paul como um rival e apenas como um rival. O engraçado é que os dois eram "almas gêmeas", os dois gênios em melodia, em arranjos, em conseguir fazer do pop algo de sinfônico, de usar tudo o que um estudio oferece para aumentar o som. Os dois são também igualmente assexuados, apoliticos e donos de uma certa infantilidade ingênua, dado que os enriquece e não limita. Os dois viveram em mundo à parte, mundo feérico em que Paul jamais perdeu a chave de retorno e no qual Brian perdeu não só a chave como a consciência de lá estar. Falei que são gêmeos? Engraçado...ambos são do signo dos irmãos atados, gêmeos ( Dylan também é, o gêmeo amargo e mal-humorado ). Filhos de Maio/Junho, como são Morrissey, João Gilberto, Prince, Yeats, Lorca, Whitman e Pessoa....Mas este não é um texto astrológico!
Phil Spector inventou o estúdio como instrumento. Em suas luxuriantes produções feitas em 1962, 63, 64... ele usava uma instrumentação absurda, wagneriana: trompas, timpanos, flautas, harpas, orgão, saxes, violinos, xilofones, acordeon, tubas....tudo para fazer musica pop e tudo soando como uma coisa coesa, única, ritmada e sutil. É desse produtor que Brian Wilson aprendeu tudo, o single Good Vibrations é o apogeu de seu talento e o lp Pet Sounds é a sinfonia de Brian.
Não é rock. Os Beach Boys sempre tiveram dificuldade com esse rótulo. Desde Surfin USA, o que eles faziam era Pop. Burt Bacharach, Gershwin e as pop songs das bandas vocais negras dos anos 50 foram suas influências. I Only Have Eyes For You tem tudo aquilo que Brian faria. Brian, lider e cérebro do grupo, não se encaixa no rock porque nada nele remete a raiva, ao sexo ou a ação adolescente. É música polida, educada, de bom-tom, o que ele procura nunca é o dissonante, ele procura ( e encontra ) a beleza, a pura beleza. Mas, que surpresa, a gente percebe uma fissura nessa beleza, uma nota de angústia. Brian quer crer no sonho teen da Califórnia solar, mas topa em cada manhã com a névoa fria de San Francisco.
A música de Pet Sonds é TomJobiniana. Brian, como Paul, não consegue ser "feio". Naturalmente ele harmoniza. Combina os sons, enriquece, aumenta, suaviza, arredonda. Ele usa montes de instrumentos, dúzias de timbres e o que poderia soar como uma tempestade, tem sempre o som de uma cantiga, de uma canção de ninar. A bateria não é usada para dar ritmo, ela pontua as emoções da música, o baixo não estilinga, ele embeleza a harmonia, a guitarra não sola ou cria riffs, ela comenta. Há uma canção, minha favorita, I Know There's An Answer, em que ele mistura banjo e sax. São dois instrumentos impossíveis de misturar. Mas Brian os casa a perfeição. O banjo não soa como banjo e o sax não se parece com um sax. Como ele faz isso?
Se o pop-rock teve gênios, Brian Wilson é um gênio. Ele criou um estilo só dele, voce percebe que aquilo é de Brian só de escutar dois acordes. E levou esse estilo ao limite da criação. Após Pet Sounds só podia lhe restar o silêncio. Aturdido pelas vozes e melodias que ele não conseguia transformar em partitura, Brian se fechou para o mundo e passou a ser a nota dissonante do pop, em uma vida que jamais produziu dissonância.
Pet Sounds é trágico.
Phil Spector inventou o estúdio como instrumento. Em suas luxuriantes produções feitas em 1962, 63, 64... ele usava uma instrumentação absurda, wagneriana: trompas, timpanos, flautas, harpas, orgão, saxes, violinos, xilofones, acordeon, tubas....tudo para fazer musica pop e tudo soando como uma coisa coesa, única, ritmada e sutil. É desse produtor que Brian Wilson aprendeu tudo, o single Good Vibrations é o apogeu de seu talento e o lp Pet Sounds é a sinfonia de Brian.
Não é rock. Os Beach Boys sempre tiveram dificuldade com esse rótulo. Desde Surfin USA, o que eles faziam era Pop. Burt Bacharach, Gershwin e as pop songs das bandas vocais negras dos anos 50 foram suas influências. I Only Have Eyes For You tem tudo aquilo que Brian faria. Brian, lider e cérebro do grupo, não se encaixa no rock porque nada nele remete a raiva, ao sexo ou a ação adolescente. É música polida, educada, de bom-tom, o que ele procura nunca é o dissonante, ele procura ( e encontra ) a beleza, a pura beleza. Mas, que surpresa, a gente percebe uma fissura nessa beleza, uma nota de angústia. Brian quer crer no sonho teen da Califórnia solar, mas topa em cada manhã com a névoa fria de San Francisco.
A música de Pet Sonds é TomJobiniana. Brian, como Paul, não consegue ser "feio". Naturalmente ele harmoniza. Combina os sons, enriquece, aumenta, suaviza, arredonda. Ele usa montes de instrumentos, dúzias de timbres e o que poderia soar como uma tempestade, tem sempre o som de uma cantiga, de uma canção de ninar. A bateria não é usada para dar ritmo, ela pontua as emoções da música, o baixo não estilinga, ele embeleza a harmonia, a guitarra não sola ou cria riffs, ela comenta. Há uma canção, minha favorita, I Know There's An Answer, em que ele mistura banjo e sax. São dois instrumentos impossíveis de misturar. Mas Brian os casa a perfeição. O banjo não soa como banjo e o sax não se parece com um sax. Como ele faz isso?
Se o pop-rock teve gênios, Brian Wilson é um gênio. Ele criou um estilo só dele, voce percebe que aquilo é de Brian só de escutar dois acordes. E levou esse estilo ao limite da criação. Após Pet Sounds só podia lhe restar o silêncio. Aturdido pelas vozes e melodias que ele não conseguia transformar em partitura, Brian se fechou para o mundo e passou a ser a nota dissonante do pop, em uma vida que jamais produziu dissonância.
Pet Sounds é trágico.
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