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JUDE LAW JUDI DENCH HELEN MIRREN JOHN WAYNE ROGER MOORE EWAN MCGREGOR COLIN FIRTH NICOLE KIDMAN

   O MESTRE DOS GÊNIOS de Michael Grandage com Colin Firth, Jude Law, Nicole Kidman, Laura Linney e Guy Pearce.
Baseado no livro que conta a história de Max Perkins, o editor da Scribner and Sons que lançou Fitzgerald, Heminguay, Caldwell entre muitos outros. Seu favorito era Thomas Wolfe e é ele que o filme retrata. Primeiro devemos dizer que um editor nos EUA nada tem a ver com um editor daqui. Ele pega um texto e o adapta, muda título, corta, modifica. Claro que com a ajuda do autor, que pode ou não aceitar as sugestões. Perkins cortava. Colin Firth é um muito grande ator. Que está sendo requisitado demais para fazer tipos reprimidos. Esse papel ele tira de letra. Jude Law está brilhante. Ele faz Thomas Wolfe sem jamais cair no artificial. O que seria fácil, já que Wolfe parecia uma caricatura viva. Ele falava sem parar e seus livros chegavam a ter 5000 páginas!!! Perkins cortava e cortava e então os editava com um tamanho decente. O filme é a história dessa relação de amizade e de dependência. Se o filme cai às vezes na chatice é graças a personalidade de Wolfe, um chato completo. Guy Pearce faz um Fitzgerald delicado e muito real, e é um alivio a hora em que surge Heminguay. Em 3 minutos somos cativados por uma personalidade que parece vitalista, forte e adulta. Engraçado....vemos um filme sobre Wolfe e saímos dele querendo reler Heminguay... Eu li Thomas Wolfe uns 20 anos atrás. E lembro que pensei: Eis um gênio! E também: Eis um tolo! O filme fala de gente criativa num estilo quadrado, esse um problema comum do cinema atual. Mas é um filme que deve ser visto. E é obrigatório para quem ama livros. Nicole Kidman faz o papel da esposa de Wolfe. Fácil pra ela: a esposa de Wolfe se parece com Nicole Kidman.
   007 CONTRA O FOGUETE DA MORTE de Lewis Gilbert com Roger Moore e Lois Chiles.
Um dos mais debochados 007. É aquele que tem cenas no Rio, no carnaval de 1978. Um bandidão rouba ônibus espacial para destruir a Terra e começar uma nova raça. Roger Moore era impagável. Ele leva tudo na brincadeira, um cara inteligente que sabe todo o tempo que aquilo tudo é uma gostosa bobagem. E nos faz participar do brinquedo. Não é um dos bons 007, é um dos mais sem sal, mas Roger quase salva o filme. Quase.
   SEXO, DROGAS E JINGLE BELLS de Jonathan Levin com Joseph Gordon-Levitt, Seth Rogen e Anthony Mackie.
Reencontro de amigos na véspera do Natal. Um fica doidão demais, outro é o bonzinho que reencontra amor perdido e o outro é um ricaço que se humaniza. Comédia que não faz rir apesar de apelar a tudo o que seria "engraçado". O humor acontece quando a coisa nos pega de surpresa, riso está ligado a inesperado. Aqui tudo é esperado.
   ÚLTIMOS DIAS NO DESERTO de Rodrigo Garcia com Ewan McGregor, Ciaran Hinds
Sim, Ewan faz Jesus Cristo em seus dias de solidão no deserto, momento em que Ele se lança ao sacrifício. É um dos piores filmes do ano e tem uma das piores atuações da história do cinema. O pobre Ewan parece o tempo todo um britânico bem louco vagando pelo deserto à procura de uma rave. O texto é pobre, as imagens são banais e a mensagem é nula. Tenta ser Terrance Malick e é apenas mais um filme lento sobre nada com coisa nenhuma.
   O GRANDE AMOR DE NOSSAS VIDAS de David Swift com Hayley Mills, Maureen O ´Hara e Brian Keith.
Um filme Disney de 1961. E é uma delicia de filme fofo. Hayley faz dois papéis, duas irmãs que nunca se viram. As duas se encontram num camping de verão, se odeiam, se tornam amigas e descobrem serem irmãs. Uma foi criada pelo pai, a outra pela mãe, e agora farão de tudo para unir os pais novamente. Esse argumento, que tem tudo para ser um desastre, dá maravilhosamente certo. Dá certo porque os atores são adoráveis, e principalmente porque em 61 ainda se podia crer num filme deste tipo. É filme família, daqueles que nos deixam de bem com a vida.
   DESBRAVANDO O OESTE de Andrew V. McLaglen com Kirk Douglas, Robert Mitchum, Sally Field, Richard Widmark.
Algumas pessoas gostam de dizer que McLaglen só fez tantos filmes por ser filho de um ator muito querido. Vendo este lixo se dá razão a esses caras. Uma mixórdia sem sentido onde todos os personagens agem sem um motivo e a ação sempre aparece fake e frouxa. Se voce quiser saber o que é uma direção ruim veja este filme. O elenco, que não poderia ser melhor, apenas está lá, a cabeça longe daquela bagunça toda.
   A LONGA VIAGEM DE VOLTA de John Ford com John Wayne, Thomas Mitchell, Ian Hunter
Escrevi abaixo sobre Ford e este filme. Talvez seja seu melhor. Ele pega 3 contos de Eugene O'Neill, todos sobre o mar, e os une em uma história de amizade, dor e luta pela vida. Difícil falar de algo tão sublime. Gregg Toland fez a fotografia e é uma das mais inspiradas de todo o cinema. Conto um fato: Orson Welles foi convidado pela RKO para fazer um filme. Orson já era famoso aos 24 anos, no rádio e no teatro, chamado de gênio da mídia. Ele foi para Hollywood então, sem nenhuma experiência em filmes. Se trancou numa sala e assistiu 'A Longa Viagem de Volta", e só ele, várias vezes. Saiu da sala e disse: " Pronto, já sei tudo o que se deve saber sobre cinema". Esperto, Orson chamou Gregg Toland para fotografar Kane e o resto é lenda. Este filme tem as sombras, as angulações e o clima de Kane, mas ao mesmo tempo é completamente diferente, é melhor. Uma obra-prima irretocável, sem nem um segundo de tédio ou de bobagem.
   GAROTAS DO CALENDÁRIO de Nigel Cole com Helen Mirren e Julie Walters
Um filme bem inglês, ou seja, pequeno, simples, engraçadinho e meio bobinho. E nada ruim. E com grandes atores. Adoro Helen, e aqui ela se diverte fazendo uma senhora meio maluquinha que tem a ideia de fazer um calendário para dar dinheiro ao hospital da cidade. Um calendário de senhoras nuas. Nada glamorosas. ( Apesar dela ser muito glamorosa ). O filme não é grande coisa porque a história é curta e o filme se alonga. Mas é ok.
   SRA. HENDERSON APRESENTA de Stephen Frears com Judi Dench, Bob Hoskins e Kelly Reilly, Christopher Guest.
Um bom filme sobre uma história real, do tipo que Frears adora. Nos anos 30 uma entediada milionária, sem ter o que fazer, compra um teatro. Contrata um gerente e resolve fazer um show de nús. Na época não se podia mostrar mulheres nuas nos palcos ingleses, só se fossem como estátuas, e é o que ela faz. Convence um ministro e vai adiante. O filme mostra isso e mais a segunda-guerra, pois o local é bombardeado, a relação difícil entre ela e o gerente e as meninas nuas e seus problemas. Judi está ótima, vulnerável e fútil e Hoskins tem mais um papel nervosinho e agitado. Christopher Guest quase rouba o filme como o ministro que é sempre enrolado por Miss Henderson. Veja.

 

LOSEY/ PINTER/ DISNEY/ EMMA THOMPSON/ STEPHEN FREARS

   UMA VIDA DIFICIL de Dino Risi com Alberto Sordi e Lea Massari
Risi, um dos diretores mais populares da Itália dos anos 50/60/70, faz aqui um de seus mais ambiciosos filmes. Sordi é um idealista, um panfleteiro da segunda-guerra que se adapta mal a vida do pós-guerra. Ele é um socialista anti-americano, e o filme não tem pudor em mostrar que ele é na verdade um preguiçoso. Massari é a jovem que ele abandona. O filme não satisfaz. Risi não faz humor e nem drama, fica num meio termo amorfo. Nota 3.
   LINHA DE FRENTE de Gary Fleder com Jason Statham, James Franco, Winona Ryder
Stallone escreveu este roteiro desagradável. Jason é um ex agente federal. No sul dos EUA ele tenta criar a filha longe de problemas. Mas ela começa a ser ameaçada por mãe de aluno com que ela brigou. Logo um traficante se envolve e a coisa esquenta. O roteiro é absurdo, como um pai tão amoroso deixaria a filha correr tantos riscos? Não faz sentido. O filme tem pouca ação, nenhuma leveza e se faz muito sufocante. Todo caipira é uma besta ou um idiota. Ah vá... Nota 3.
   THOR O MUNDO SOMBRIO de Alan Taylor com Chris Hemsworth, Natalie Portman e Anthony Hopkins
O primeiro foi legal. Era leve, despretensioso. Este sofre por se levar a sério. Chris é ok, mas eu abomino Natalie Portman. Um porre.
Nota 1.
   WALT NOS BASTIDORES DE MARY POPPINS de John Lee Hancock com Emma Thompson, Tom Hanks, Colin Farrell, Paul Giamatti e Jason Schwartzman
O filme corre atrás das lágrimas e consegue algumas ao final apelativo. Alguns caras reclamaram que o retrato de Disney é superficial. Ora, o filme é sobre PL Travers, não sobre Walt, ele é mero coadjuvante. O tolo título em português cria uma expectativa falsa. O original é Saving Mr. Banks, título que revela o tema do filme, o resgate do pai de Travers. Emma está ótima, faz uma neurótica muito chata sem jamais parecer um cartoon. Hanks está ok e Colin exagera. Ele é o pai de Emma, um alcoólatra na Austrália. Giamatti dá um show como o motorista. O filme exagera, Travers parece ser a mulher mais infeliz do mundo. Mary Poppins é uma obra-prima em música, beleza e poesia, isto aqui é um troço esquisito, torto, sem razão ou porque. Ah sim, a gente chora no final. Nota 4.
   PHILOMENA de Stephen Frears com Judi Dench, Steve Coogan, 
Um horror acontece: freiras iralndesas, nos anos 50, vendem crianças de mães solteiras. No tempo atual, Judi procura seu filho. Um jornalista que está em baixa a ajuda. O filme se concentra na relação entre os dois. Ela manteve sua fé. É otimista, alegre e simpática. Ele é ateu. Amargo e cheio de rancor. Frears consegue equilibrar isso. Mostra o crime das freiras e não faz uma tese contra a igreja. O ateu também não é mostrado como um materialista raivoso. O elenco brilha. Steve exala simpatia e calor, Judi, em papel dificil, consegue passar a confiança da senhora teimosa. O final é exato. Frears é um dos grandes. Sua carreira é exemplar. Nota 7.
   ESTRANHO ACIDENTE de Joseph Losey com Dirk Bogarde, Stanley Baker, Michael York
O roteiro de Harold Pinter é assombroso. E o cd tem extras com entrevista com Pinter e Losey juntos. É uma obra-prima. Seco, silencioso e cruel. Árido. Dirk, estupendo em seu papel de tolo enganado, faz um professor casado que se apaixona por jovem aluna. Tímido, atrapalhado, ele é tutor de um jovem rico que flerta com ela. Mas Dirk logo descobre que a moça é diferente do que ele pensava. O filme não tem ação nenhuma, não tem um só personagem agradável e não tenta jamais parecer bonito. E mesmo assim nos fascina. Poucos diretores foram melhores que Losey, esse americano que se fez o mais inglês dos diretores. Original, é o tipo de obra que voce quer ver de novo e de novo. Nota DEZ.
  

DAVID FRANKEL/ GRACE KELLY/ WOODY/ FREARS/ BETTE DAVIS

   TODOS DIZEM EU TE AMO de Woody Allen com Alan Alda, Julia Roberts, Goldie Hawn, Edward Norton, Tim Roth, Natalie Portman
É sempre um prazer ver esse povo dos filmes de Woody Allen. São intelectuais bem de vida, com suas casas bem decoradas, suas roupas confortáveis e seus dramas sob controle. É gostoso ver esse povo espelhar aquilo que a gente pensa ser. Este é dos que mais gosto. Lembro que em 1999, na tv, ele me ajudou a superar uma grande dor de cotovelo. O filme tem belas cenas em Paris e Veneza. O elenco é deslumbrante. E eles cantam!!! As canções são ótimas. E no fim, em reveillon, eles cantam Hooray For Captain Spaulding, bela homenagem aos irmãos Marx. Nota 8.
   UM DIVÃ PARA DOIS ( HOPE SPRINGS ) de David Frankel com Meryl Streep, Tommy Lee Jones e Steve Carell.
O povo da Folha adorou este filme. Eu achei chato de doer! Frankel faz carreira sólida com filmes tipo nada. Fez o Prada, o Marley e agora este. Seu estilo é nojento, taca música pop em toda cena. O cara tá andando no mercado e lá vem vozinha com piano; o cara tá dirigindo e tome voz e violão...um saco! Usar música pop em filme adianta quando o diretor entende que a música é secundária, ela comenta, não carrega a cena nas costas. Ah, o filme fala de um casal de meia idade que não transa mais. Todo o filme são sessões de terapia. Meryl faz caricatura, está nada bem. Tommy está excelente, a hora em que ele se abre é a única cena boa do filme. Típico filme que tenta ser sério e adulto. Erra. Todo adolescente pensa que ser adulto é ser chato e triste. Frankel é um adolescente. Nota 1.
   OS GALHOFEIROS de Victor Heerman com Groucho, Chico, Harpo, Zeppo e mais Lilian Roth
Groucho é anunciado como o grande Capitão Spaulding. Sua entrada é digna do melhor de Bugs Bunny. Adoro este filme caótico! É o segundo da turma, e tem de bônus a adorável Lilian Roth. História? Tem alguma coisa a ver com roubo de pintura. Talvez seja meu filme favorito dos irmãos. Nota DEZ.
   O DOBRO OU NADA de Stephen Frears com Bruce Willis, Rebecca Hall, Catherine Zeta-Jones
Não dá pra dizer que Frears está em decadência, afinal, recentemente ele fez o ótimo A Rainha. Em seu crédito temos ainda Alta Fidelidade, Ligações Perigosas, Os Imorais, Minha Adorável Lavanderia; e meu favorito, The Hit. Mas neste seu mais recente filme, não sei se passou aqui este ano, ele erra feio. O filme não é ruim, é desinteressante. Fala de uma stripper que passa a trabalhar com um agenciador de jogatina. O filme não chega a irritar, Frears sabe dar ritmo, mas nenhum dos personagens importa. São mal escritos. O roteiro é muito, muito ruim. Bruce faz o seu tipo número dois, o "brega meio doido", Zeta-Jones está com um rosto irreconhecível e Hall, filha do grande Peter Hall, um dos maiores do teatro inglês, mostra ser muito boa atriz, mas pouco tem a fazer. O filme é vazio. Nota 2.
   UM BARCO PARA A ÍNDIA de Ingmar Bergman
É o terceiro filme do mestre, de 1947, tempo em que ele ainda aprendia. Bons tempos, um diretor novato podia aprender-fazendo. Bergman só encontrou seu estilo no sétimo filme. Mas aqui já está em semente todo o futuro do estilo Bergman de cinema: mar,  isolamento, conflito com pai, sexo. Neste filme, que em seu tempo jamais poderia ser feito em Hollywood, temos um filho que apanha e bate no pai, esse pai traz a amante para morar com a familia, o filho a rouba do pai. O filme é forte e lembra os amados filmes do realismo poético francês, filmes de Carné, de Vigo, que Ingmar via muito então. Sinto que ninguém sabe filmar praias como ele. Visualmente o filme é primoroso. Nota 7.
   O QUE TERÁ ACONTECIDO A BABY JANE? de Robert Aldrich com Bette Davis, Joan Crawford e Victor Buono
Foi um imenso sucesso nos anos 60, e nos 70 passava muito na tv. Causou um choque em seu lançamento por seu mal-gosto. Hoje parece até elegante. Bette é irmã de Joan. Joan está presa a uma cadeira de rodas. Bette tortura Joan. Motivo? Joan fazia sucesso no cinema dos anos 30, Bette não. O filme é brilhante. Ficamos duas horas presos num misto de horror e admiração, prazer e medo. Aldrich, que logo depois faria a obra-prima The Dirty Dozen, faz miséria. O filme tem ritmo, tem ousadia e um humor hiper negro delicioso. Mas devemos dar vivas a grande, grande, grande Bette Davis. Mal maquiada, velha, suja, ela assusta com sua voz rouca, seu modo bêbado de andar, seus olhos esbugalhados. E melhor, percebemos o quanto ela se diverte em fazer aquilo. É um desempenho fascinante. Se Kate Hepburn foi a única a lhe fazer frente, devo dizer que Kate não conseguia fazer esses tipos tão vulgares. Tudo em Kate parece sempre "alta-classe", mesmo ao fazer gente pobre. Bette não, talvez por não ter a origem "nobre" de Kate, ela fazia mendigas, bebadas e prostitutas como ninguém. Este filme fica com voce. Repercute. Nota 9.
   O CISNE de Charles Vidor com Grace Kelly, Alec Guiness e Louis Jourdan
Na curta carreira de Kelly, este é de seus piores filmes. Em 1910, a mãe de Grace, tenta casa-la com o herdeiro da coroa. Filmado em belo palácio, claro que o filme é bom de se ver. Mas a história é chata, aborrecida, sem nenhuma atração. Guiness está ótimo. E Grace Kelly foi dentre as belas a mais bela das atrizes. Mas...o que fazer com roteiro tão perdido? Nota 2.

LEAN/ FREARS/ MALKOVICH/ LANG/ WOODY ALLEN/ POLLACK/ MERYL STREEP

   UM GATO EM PARIS de Felidoli e Bagnol
Melancólico. As crianças que assistirem esse desenho terão péssimas lembranças. Tem uma menina meia-muda que está deprê por causa da mãe, tem um ladrão de jóias meio down, tem um gato cool...Os traços do desenho são simples, esquisitos, feios. Este desenho parece servir apenas para preparar as crianças para os filmes que assistirão em sua vida adulta. Argh! Nota Zero.
   ADEUS, PRIMEIRO AMOR de Mia Hansen-Love
A jovem diretora francesa diz em entrevistas que Truffaut e Rhomer são seus mestres. De Rhomer não há nada em seu filme, de Truffaut há muito: delicadesa nas imagens, suavidade na edição, interesse genuíno pelos sentimentos. Na história simples e dolorida de um amor adolescente ( inocente ), há a constatação de que bom cinema é ainda possível. Bonito. Nota 7.
   LAWRENCE DA ARÁBIA de David Lean com Peter O'Toole, Omar Shariff, Alec Guiness, Anthony Quinn, Jack Hawkins
Qual o segredo de Lean? Este filme tinha tudo pra dar errado: um herói antipático, um enredo que fala de um momento histórico que poucos conhecem, excesso de metragem, pouca ação para um filme pop e caro. E milagrosamente tudo deu certo: o herói se faz um enigma, o roteiro diz o que quer com clareza, a duração do filme parece a exata, e a ação é percebida como ação-interior. Sucesso de público, sucesso de crítica, sucesso de premiação. A união de arte e entretenimento. A beleza plástica e boas atuações. Peter O'Toole era um desconhecido, aqui se tornou uma estrela ( e esse é outro procedimento que graças a Lawrence se tornou uma regra, fazer uma super produção com vasto elenco de astros, mas colocando um novato promissor no centro ), sua atuação é multi-facetada, complexa, por mais que o vejamos, menos o entendemos. Peter seria sempre um ator especialista em homens divididos, um grande ator. Nota MIL.
   AS LIGAÇÕES PERIGOSAS de Stephen Frears com Glenn Close, John Malkovich, Michelle Pfeiffer, Uma Thurman, Keanu Reeves
A trilha sonora de George Fenton é feita de belas fugas. A fotografia é do melhor fotógrafo de cinema dos últimos vinte anos, Philippe Rousselot, e o roteiro de Christopher Hampton ganhou todos os prêmios em todos os festivais. Este filme concorreu a vários Oscars, mas era o ano de Rain Man... De qualquer modo, revendo-o agora, após tanto tempo, seu impacto fica bastante diminuído. Em 1989 o considerei fascinante, hoje, após tantas obras-primas vistas em dvd, me parece apenas um bom filme. Glenn Close está maravilhosa em sua maldade, e na hora em que sente ciúmes, a transformação em seu rosto é fantástica. Malkovich não está tão bom. Seus olhos passam maldade, obsessão, mas não possuem a sedução que Valmont deve transparecer. Falta-lhe sexo envolvente, absorvente, o sexo que ele promete é frio e desinteressante. Michelle nunca foi tão bela ( poucas mulheres foram tão bonitas de um modo tão inocente ). O roteiro se baseia no famoso livro de Choderlos de Laclos, a história de um sedutor que é seduzido ( no livro, que é uma obra-prima, Valmont é muito mais cruel ), é o século XVIII, era de hiper racionalismo cínico, Valmont e sua amiga se divertem em seduzir e destruir. Stephen Frears continua a ser um dos mais interessantes dos diretores. Após este seu sucesso, ele voltaria ás produções pequenas ( por escolha pessoal ) e nos daria Os Imorais e Alta Fidelidade. Mas seu melhor filme é ainda The Hit, com Terence Stamp e John Hurt. Nota 7.
   O SEGREDO ATRÁS DA PORTA de Fritz Lang com Joan Bennett e Michael Redgrave
Uma milionária se casa com homem misterioso e passa a temer esse mesmo homem. Ele será um assassino? Este filme de suspense, que lembra dois ou três filmes de Hitchcock, não dá certo por vários motivos, os principais sendo o fraco roteiro e o desinteresse de Michael Redgrave. Ele é um excelente ator, às vezes mais que excelente, mas aqui dá pra perceber seu ar de tédio e sua expressão de sono. Joan se empenha, mas a mulher que ela faz é um cliché. Lang, é até ridiculo dizer, foi um dos grandes do cinema. Mas teve uma longa e irregular carreira. Ele era capaz de fazer uma obra-prima em janeiro e um lixo indesculpável em dezembro. Este não é um lixo, dá para se assistir até com algum prazer, mas não faz justiça a quem nele trabalhou. Nota 5.
   DESCONSTRUINDO HARRY de Woody Allen com Woody e mais Judy Davis, Billy Cristal, Tobey Maguire, Elizabeth Shue, Demi Moore, Paul Giamatti e Kirstie Alley
Quando o vi pela primeira vez, adorei. Mas ele não resiste a uma revisão. É enfadonho ( sou fã de Woody Allen, é triste dizer que ele é chato ), irritante até. Isso porque Allen nunca fez um "Woody Allen" tão sem graça. Ele passa do ponto e a história desse pequeno Dom Juan se torna um tipo de auto-elogio a uma alma atormentada. Quando ao final ele descobre que o culpado por seus fracassos afetivos não era ele, mas elas, a sensação que temos é de engodo. Ele era o culpado sim. Passamos hora e meia na companhia de um ser extremamente egoísta que nos entope com suas confissões nada interessantes. O pior lado de Woody Allen se mostra aqui: um hiper-narcisista que usa o cinema como sala de analista. Não me interessa sua dor, seu pessimismo. A familia que ele critica é um tiro pela culatra, eles parecem mais interessantes que ele mesmo. A relação com Shue chega a ser constrangedora. Judy Davis, grande atriz australiana, tenta e consegue dar vida ao fiapo de papel que lhe deram. Ela deveria ser Harry. Fujam!!!!! Nota 2.
   OUT OF AFRICA ( ENTRE DOIS AMORES ) de Sydney Pollack com Meryl Streep e Robert Redford
Os primeiros dez minutos anunciam uma obra-prima que ele não é. Nessas primeiras cenas há poesia e sentimento. Assim como no excelente final, digno de um grande filme. Mas as duas horas e meia que recheiam esses dois ótimos extremos, são "quase" grande cinema. Apesar de ter ganho um caminhão de prêmios, e de ter levado milhões de adultos ao cinema, Pollack erra em sua tentativa de fazer um filme à "David Lean". Pollack usa todos os ingredientes de Lean: uma longa história passada em lugar misterioso e exótico, ótimos atores, belíssima fotografia e trilha sonora grandiosa. Pontua tudo com cenas típicas de Lean, sol se pondo, um rio, um trem que passa. Mas porque, mesmo seguindo a receita, este filme nunca parece ser de David Lean? Qual o segredo de Sir David? Coragem. Pollack teme ser pouco pop e corta onde Lean deixaria alongar e alonga cenas que Lean cortaria. Quando Lean exibe uma paisagem ele se deixa relaxar, usufrui a beleza, nos faz entrar no filme. Pollack mostra a paisagem como quem exclama: -Olhem que bonito! E corta. Já Pollack estica diálogos sem interesse, cenas que Lean sempre interrompe para mostrar a vida lá fora. Bem...Pollack levou seu Oscar com este filme. Filme que se deixa ver, baseado em livro da grande Isak Dinesen, livro que conta sua experiência de plantadora de café na África. Meryl faz bem a escritora, mas há uma qualidade em Meryl que nunca mudou, a frieza. Admiramos Meryl Streep, não amamos. Redford é um caçador amigo e amante, homem radicalmente livre que adora ouvir as histórias que Dinesen lhe conta. Ele é a melhor coisa do filme. Redford é sempre bom de se ter numa produção. Nota 6.

ALTMAN/ LEONE/ FORD/ STEVE MCQUEEN/ MAX VON SYDOW

ERA UMA VEZ NO OESTE de Sergio Leone com Henry Fonda, Jason Robards, Claudia Cardinale e Charles Bronson
Impressiona e muito. Raros filmes são tão bonitos de se olhar. Cada gesto e cada ângulo de tomada é um primor. Apesar de por vezes cansar ( é longo e lento ) não conseguimos desistir de o acompanhar. Seus primeiros trinta minutos são das melhores coisas ( em termos de diversão ) da história da arte. O final deixa saudades. Após ver este filme, o Bastardos de Tarantino lhe parecerá bem menos atraente. Nota DEZ!!!!!!!!!!!!!
ONDE OS HOMENS SÃO HOMENS de Robert Altman com Warren Beatty e Julie Christie
Foi Pauline Kael quem disse que este filme é como viagem de ópio. Revendo-o agora percebo isso. As vozes vêm não se sabe de onde, todos os diálogos parecem distantes, murmurosos. As imagens são embaçadas, desfocadas, estrábicas. Tudo no filme se parece com sonho, é um tipo de longo devaneio sobre o fracasso e sobre a melancolia de se viver sem ninguém. Beatty ( excelente ) é um pseudo-malandro, que chega a vila do Alasca ( o filme tem muita neve ) e monta um bordel. Interesses capitalistas irão lhe destruir. Warren está comovente, seu tipo é de uma doçura/malandrice cativante. Julie faz uma puta pretensiosa e esperta. Sem coração. A trilha sonora é feita por canções de Leonard Cohen. São amargas baladas sobre a solidão e a estrada. Cortam nosso coração, são de uma beleza absurda. Todo o filme é como a música de Cohen: bela preparação para o fracasso. E o filme, feito no auge do sucesso pop de Altman, foi um proposital fiasco. Altman desejou destruir sua chance de ser mainstream. Conseguiu. O filme é das coisas mais originais já feitas. Nota 8.
O HOMEM QUE MATOU O FACÍNORA de John Ford com James Stewart, John Wayne, Vera Miles, Lee Marvin e Edmond O'Brien
Este, que é o último grande filme de Ford, trata de dois tipos de herói. O individualista e o comunitário. Stewart é o senador que vai a enterro de velho amigo. Conta-se sua história. De como ele foi um jovem advogado e de como foi ajudado por Wayne, que faz o solitário e duro herói cowboy. O filme chora o fim desse tipo de homem, o homem que fez os EUA. Stewart é o homem politico, o homem da lei, do futuro. Há muito de elegia neste filme e tem a famosa frase: Se a lenda é melhor, que se publique a lenda! Mas não é um tipo de western que empolgue. Ele é muito mais uma revisão de todo o Ford que uma obra vital e criativa. De qualquer modo, é adorado por todos os fãs de western. John Wayne está soberbo e o filme peca por usá-lo menos do que queríamos. A cena do incendio é o ponto alto. Nota 7.
FUGINDO DO INFERNO de John Sturges com Steve McQueen, James Garner, Charles Bronson, Richard Attenborough, James Coburn
O rei do cool se tornou rei neste filme. Steve McQueen faz um prisioneiro de campo nazista que é conhecido por ser o rei do cooler ( solitária ). O filme é isso, prisioneiros que tentam fugir e alemães que tentam impedir. Dirigido com profissionalismo, o filme vai crescendo conforme avança e sua hora final é extremamente empolgante. É mais um dos top 20 de Tarantino. É este tipo de filme que faz falta hoje: muito popular, simples, sem nenhum tipo de enfeite, mas de produção cara, divertido, sem grandes tolices, que vale cada centavo gasto. É dos filmes mais queridos dos anos 60 e foi grande sucesso. Nota 8.
O MENINO E O SEU CACHORRO de LQ Jones com Don Johnson e Jason Robards
Como lançam este dvd? É um muito obscuro filme doido dos anos 70 que exemplifica o ponto de piração que a época chegou. Em mundo do futuro, destruído pela radiação, um garoto anda pelo deserto com seu cão. O cão fala, e fala como um muito prático e ranzinza conselheiro. O garoto o usa para conseguir mulheres, que são estupradas e descartadas. O cão quer comida, e no fim o garoto lhe dá uma moça para comer. Um pesadelo mal feito e muito doentio. Nota 1.
ANUSKA de Francisco Ramalho Jr. com Francisco Cuoco e Jairo Arco e Flexa
Um jornalista se divide entre o mundo politizado do jornal e o mundo da moda de sua paixão, Anuska. O tema é bom, o filme é inacreditávelmente amador. Simplesmente o diretor não sabe como contar uma história. E ainda tem patética homenagem a Jules et Jim!!!!! ZERO!!!!!
O LOBO DA ESTEPE de Fred Haines com Max Von Sydow e Dominique Sanda
Baseado em Hesse e tendo o bergmaniano Sydow no elenco. O ator é o certo, o filme é errado. Não li o livro, mas dá pra notar que tudo se torna confusão neste filme que não tem uma só cena criativa. Um blá blá blá sem fim. Andam por bares e cabarets, mulher oferece sexo e por aí vai. Incompreensível. Nota ZERO
THE HIT de Stephen Frears com Terence Stamp, Tim Roth e John Hurt
Grande Frears!!!! O talentoso diretor de Ligações Perigosas, fez em 1984 este muito bom policial. É sobre dedo-duro que é caçado na Espanha por enviados do dedurado. O filme é a viagem pela Espanha dos dois assassinos e do capturado. Conseguirão executá-lo em Paris? Os três atores estão excelentes. Stamp, ex-sex symbol inglês que optou pela boemia, faz um blasé dedo-duro. Nas mãos dos executores, ele jamais demonstra medo. Hurt faz o calado matador. Frio. E Roth, bem jovem, é o bandidinho novato, bobo e afobado. O filme é diversão de primeira linha ( apesar de barato ). Frears sabe tudo. Nota 7.
DUPLO SUICIDIO EM AMIJIMA de Masahiro Shinoda
A nouvelle vague de Godard fez com que brotassem nouvelles vagues mundo afora ( foi o último movimento em cinema a fazer isso ). Tivemos uma nouvelle alemã, uma brasileira, australiana e até a japonesa. Na Alemanha ela se caracterizava pelo seu esquerdismo radical, e no Japão por sua fascinação por morte e sexo. A nouvelle vague made in Japan é toda calcada nisso: sexo e morte. Este filme fascinante e original trata disso. Uma paixão sexual que leva a morte. As imagens são belíssimas e desde seu incio vemos que o filme é especial. Nota 7.
FILHOS DE HIROSHIMA de Kaneto Shindo
Moça volta a Hiroshima. Estamos em 1951. A cidade é ainda uma cicatriz. Ruínas e gente abandonada. O filme é quase um documentário. Fortemente influenciado pelo neo-realismo italiano. Nota 5.
O VINGADOR de F.Gary Gray com Vin Diesel
Continuo tentando. Este trata de policial que tem a esposa morta por traficante e parte pra vingança. As cenas de ação são tão rápidas que mal se vê o que acontece. Mas o filme não é ruim. A gente assiste sem sentir tédio ou sono. O único problema é que depois que ele termina nada resta para ser recordado. Será que ninguém sabe mais escrever diálogos bons em filmes de ação??? Nota 5.
RAW DEAL de Anthony Mann com Claire Trevor e Dennis O'Keefe
Um dos primeiros filmes de Mann, é um noir barato que funciona bem. Um cara foge da prisão com duas mulheres: sua garota e a outra. Uma é do mal, a outra é do bem. Com trama tão frágil, é construído um sólido filme sem uma cena fraca. Rápido e viril. Cinema noir com suas sombras, suas noites quietas e seus tipos perdidos. Muito cigarro e carrões. Uma tremenda diversão! John Alton fez a foto contrastada. Nota 7.

FREARS/CLAUDETTE COLBERT/BOORMAN/HITCHCOCK

OS IMORAIS de Stephen Frears com John Cusak, Anjelica Huston e Annete Bening
Entre 1990/1998 foi moda o filme de malandragem. Aquele tipo de filme que mostrava gente desonesta ( e muito charmosa ) em seu "trabalho" diário. Era um tipo de filme delicioso e este é dos primeiros ( e dos mais amargos e cruéis ). Frears, grande e irriquieto diretor, dirige com sua costumeira correção e apesar de Cusak não ser o ator ideal para o papel ( e aqui começa a amizade dos dois, que os levariam a fazer juntos " Alta Fidelidade" ) o filme sobrevive muito bem, graças ao excelente roteiro de Westlake e as perfeitas Anjelica ( um fenômeno ) e Anette ( linda e maldosa ). Diversão de alto nível. nota 7.
O GENERAL MORREU AO AMANHECER de Lewis Milestone com Gary Cooper e Madeleine Carrol.
Passado na China ( soberbo cenário labiríntico ) é uma aventura sobre americano que luta contra tirano chinês ( tirano de direita ). Impressiona o carisma do elenco conhecido, a fotografia expressionista cheia de sombras e um clima de suspense absorvente. O tipo de filme pop que justifica a existência do dvd e o resgate dos filmes dos anos 30. nota 7.
A OITAVA ESPOSA DO BARBA-AZUL de Ernst Lubistch com Gary Cooper e Claudette Colbert.
O roteiro de Billy Wilder e Charles Brackett é, talvez, o mais perfeito roteiro alegre já escrito. E quem dirige é Lubistch, o mais admirado dos diretores de comédia. O tema : na Paris da Paramount ( ou seja, é a Paris que deveria ter existido ), um americano muuuuito rico e muito ocupado, conhece numa loja, uma francesa de sangue azul, porém, falida. O pai dessa francesa é um malandro de marca maior. É lógico que os dois irão se apaixonar, é lógico que se detestarão no começo. E é lógico que o filme é maravilhoso ! Tudo funciona : Cooper está no auge do carisma, faz um americano como todo americano desde então pensa ser- bonito, esperto e educado. Claudette está belíssima e com um jeito de malicia ingênua exuberante. Todos os coadjuvantes brilham e as falas têm o cinismo alegre que Wilder sempre exibiu. Não tem um só momento arrastado, jamais parece forçado e corre leve como espuma. Se um filme fosse champagne, este seria um Dom Perignon. Nota DEZ !!!!! É uma obra-prima.
UMA HORA COM VOCÊ de Ernst Lubistch com Maurice Chevalier, Jeanette MacDonald e Genevieve Tobin.
Não tão bom. Mas bastante amoral : o marido ama a esposa, mas a trai alegremente com sua melhor amiga. A esposa dá o troco. É um musical de opereta, bastante austríaco, e isso quase estraga o filme. Chevalier, que foi super estrela, fala com biquinho. Os franceses até hoje pagam o pato : todos pensam que falar francês é fazer bico. Chevalier fazia bico, os franceses na verdade falam soprando fumaça ( como Jean Gabin ). È um filme antigo como carruagens ou valsas. Nota 5.
UM BOM ANO de Ridley Scott com Russel Crowe e Albert Finney
Um horror !!!!! O livro de Peter Mayle ( que me fez adorar todos os seus livros. Eu lí todos eles. ), é uma alegre e saborosa ode à Provence, terra de prazeres sensoriais. O personagem, no livro, é um homem meio insípido, que d escobre o prazer na mesa provençal. No filme ele é um hiper-yuppie, hiper ambicioso, hiper-chato. O filme é uma bomba!!!!! Scott e Crowe se tornaram amigos ao fazer Gladiador. Ambos adoram a Provence e seus vinhos e comidas. Tal região merecia algo melhor. nota 2.
REGEN de Joris Ivens
A vida transcorre na Holanda. ( Amsterdã ? Rotterdã ? ). Chove na cidade. Volta o sol. O filme ( 30 minutos ) é apenas isso. A chuva caindo e gente se abrigando. Água nas telhas e nas ruas, nos rios, no chão. Mas há tanta poesia aqui que chega a comover. Ivens foi um dos criadores do cinema holandês; este pequeno filme é mitológico. Merece sua fama. Nota 9.
JUAREZ de William Dieterle com Paul Muni, Brian Aherne e Bette Davis
O roteiro é de John Huston. Eis um fato raro : o filme é sobre Juarez, libertador do México, mas ele exibe seu rival, Maximiliano, como um homem tão fascinante quanto ele. Ambos erram, ambos têm boas razões. O filme é exemplar em sua visão multi-facetada da história. Faz o que CHE não faz, olha com coragem e isenção. Nota 7.
SALOMÉ de Ken Russell com Nickolas Grace e Glenda Jackson.
Russell foi diretor famoso nos 70/80. Famoso por sua ruindade e sua pretensão. Todos os seus filmes fazem força para chocar, para serem esquisitos. Se tornam "Joãozinho Trinta". Aqui vemos Oscar Wilde assistindo em sua sala a uma apresentação de sua peça Salomé. O ator que faz Oscar está ótimo, mas o filme é lixo oitentista da pior espécie. É afetado, metido, fake luxuoso, hiper gay e muito chato. Nota Zero!!!!!!
INFERNO NO PACÍFICO de John Boorman com Lee Marvin e Toshiro Mifune.
Atenção !!!!! Este filme mostra tudo aquilo que um diretor deve saber ! Dois soldados, um americano e um japonês, estão sós numa ilha do Pacífico. Brigam por água, por comida, por tudo. Conhecem o inferno máximo e acabam se aceitando ao tentar fugir da tal ilha. O filme é só isso : sem nenhum diálogo, os dois atores grunhem, brigam, sofrem e enfrentam o mar. Boorman, diretor inglês da brilhante geração de Anderson, Richardson e Schlesinger, dá uma aula de movimento de câmera, de ação, de clima. São duas horas que nunca cansam, que emocionam. Ele faz tanto com tão pouco !!!! Quanto aos atores... repito o comentário de Pauline Kael - " Um filme cheio dos lamentos de Lee Marvin e dos grunhidos de Mifune é como algo parecido com o paraíso de todo fã de cinema. " O filme é cheio de Lee e de Toshiro. Não precisa de mais nada. Viril, belamente fotografado ( Conrad Hall ) e com boa trilha de Lalo Schifrin. Nota 9.
DISQUE M PARA MATAR de Hitchcock com Ray Milland e Grace Kelly
O mestre pega uma peça de sucesso e a filma. Simples, sem ambição. Ele precisava de um sucesso e o conseguiu. O filme é perfeito em seu tom. Milland esbanja maldade elegante, Grace está linda e assustada e a câmera de Hitch desliza pelo cenário único sem nunca nos cansar. Entramos na trama, torcemos por Ray, depois por Grace, por Ray de novo e afinal aplaudimos o mestre por sua alegre genialidade. Alfred Hitchcock, como aqui, dirigindo sem esforço, só pra relaxar, coloca 99.999999% dos outros diretores no bolso do colete. Um filme para se ver, rever e sorrir de prazer. Nos extras, belo comentário do fã M. Night Shyalaman. Nota 9.
A VERDADE NUA E CRUA de Mike Chadway com Katherine Heigl e Gerard Butler
O roteiro poderia ter sido escrito por qualquer semi-analfabeto do Arkansas ( e creio que foi ). Tudo é falso, tolo, forçado e o pior, sem graça. Esse tal de Butler é tão mal ator que chega a ser cômico seu esforço para fazer alguma expressão. Não consegue. Tudo o que consegue é posar como se um anúncio de desodorante fosse o tema do filme. Para quem se dirige esta coisa ? Com certeza para aqueles que vivem em anùncios de desodorantes e de cervejas. O filme tem o valor de um copo de cerveja quente e passada. A atriz é bonitinha mas inócua. Nota menos mil.