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MALLE E GODARD, DE VOLTA À FRANÇA
Volto à pensar na França e lembro o quanto eu amava sua cultura. Isso por causa de alguns filmes policiais que vi, feitos nos anos 50 e 70. Lembrei, os vendo, dos Gitanes que eu fumava. Fiz as pazes com parte do meu passado então. E revejo dois filmes da Nouvelle Vague. ---------------------- ASCENSOR PARA O CADAFALSO é de Louis Malle. É o filme que tem uma trilha sonora, sublime, de Miles Davis. A única que ele fez na vida. Malle lhe mostrava as imagens e ele ia improvisando. Miles sabia que na França, desde os anos 20, músicos de jazz tinham o respeito que não tinham nos EUA. O filme fala de um crime que não dá certo. Tem muito suspense e é moderno. Jeanne Moreau e Maurice Ronet. As ruas de Paris de 1959 transpiram poesia, uma poesia dura, cinza, fria, maravilhosa. Os carros pequenos, os sobretudos escuros, as janelas abertas. Malle teve uma carreira invulgar. Nunca se repetiu, sabia filmar, sabia dirigir atores. A partir de 1977 virou um diretor americano. Fez obra POP e outras de absoluta vanguarda. Casou com Candice Bergen. Nasceu e morreu rico. ------------------ A BOUT DE SOUFLE, ACOSSADO de Godard. O maoísmo matou o cinema de Godard. Sua militância, feroz, castrou o cineasta que respirava amor ao cinema neste seu primeiro e disparado melhor filme. Ainda, mais de 60 anos depois, parece filme de alguém muito jovem. Ele faz o que quer, se exibe como diretor dono de sua obra, por isso, por essa liberdade de fazer e criar, é ele tão influente. Cortes abruptos que até então seriam considerados um erro fatal, atores que saem do personagem, a flagrante consciência de que aquilo que vemos é um filme, não é real, a quebra do ritmo, hora rápido hora lento, e Belmondo, exalando charme como o heroi que é um ladrão. Todo cinema brasileiro chupou TUDO desta hora e meia de Godard. Voce aponta, em cada cena, um filme brasileiro plagiando Acossado. Toda a turminha deve ter visto isto dúzias de vezes. Me divirto, é um filme bom. Detalhe, em 1960 Bogart ainda não era um mito. Belmondo quer ser ele no filme e isso foi uma percepção de Godard, a de que Bogart era um possível heroi existencial. A moda pegou. Bogart desbancaria James Dean e Marlon Brando como maior mito do cinema. A trilha sonora é perfeita e Raoul Coutard foi um monstro na câmera flutuante, isso antes da invenção da steady cam. Tivesse uma câmera leve ele voaria com ela. ------------------ Pena que a partir de 1962 Godard ficaria muito mais ligado em discurso político que em cinema. Dois bons grandes filmes. Malle é melhor.
GODARD MORREU EM 68
Jean Luc Godard pediu para ser morto hoje, aos 91 anos. Mas na verdade ele morreu em 1968. Foi o mais "anos 60" dentre os diretores dos anos 60 e o mais marxista dentre os diretores marxistas. Em 1968 ele desistiu do cinema e o cinema desistiu dele. Depois disso, como fosse uma banda de rock tipo Grateful Dead, ele passou mais de 50 anos repetindo e vivendo do passado criativo. Godard, ao contrário de Truffaut, Malle ou mesmo Chabrol, nunca fez um grande filme. Ele fez filmes fortes como Acossado ou interessantes como Pierrot Le Fou, mas jamais um filme como A Noite Americana ou Trinta Anos Esta Noite. Godard foi influente pelo modo de filmar, pelo tipo de produção, pela maneira nova de usar o meio, mas não foi jamais um grande cineasta. Não criou grandes personagens, grandes diálogos ou cenas inesquecíveis ( Talvez o final de Acossado apenas ). A beleza de algumas imagens se deve ao seu câmera, o genial Raoul Coutard e o charme à sua musa, Anna Karina. ------------- Tinha uma personalidade incongruente, amava os direitistas John Ford e Howard Hawks, e ao mesmo tempo era um maoísta radical. Não hesitou em acusar Truffaut e em dedurar Malle. Era incapaz de poesia e incapaz de criar uma cena profundamente humana. Mas sabia cortar, dar velocidade, escolher o ângulo exato. Seus filmes são matemáticos. --------------- Agora uma porção de críticos chamará Godard de gênio e jovens da PUC vão dizer que ele era O Cara. Ele não foi. Seus filmes parecem clips perto das obras primas de Bergman, Fellini, Kurosawa ou Hitchcock. E mesmo os mais velhos Melville, Becker ou Ophuls são muito mais interessantes. ------------- O melhor de Godard são seus filhos. E o pior também são seus filhos. Godard deu álibi para uma multidão de cineastas que não sabem filmar e não possuem talento algum. Gente que faz "um godard", achando que para isso basta câmera ligada e soltar o verbo. Mas ao mesmo tempo Godard deu ideias a diretores como Arthur Penn, Scorsese ou William Friedkin. Nisso ele lembra o Velvet Underground, banda que deu vida a milhares de bandas ruins e centenas de bandas geniais. --------------- Godard morreu hoje mas não foi hoje. Fim.
O SÉTIMO SELO. UM FILME QUE VOCE NÃO DEVERIA VER.
Sempre que algum jovem cinéfilo quer ver UM Bergman, ele se aproxima do SÉTIMO SELO. O que é um erro. Erro tão bobo como querer conhecer cinema francês assistindo Godard. Assim como Godard está longe de ser o melhor da França, procure ver Jacques Becker, Jean Pierre Melville ou Henri Georges Clouzot; O SÉTIMO SELO não é o melhor Bergman. Em minha vida, não fica nem entre os 10 melhores do sueco. -------------- Ao contrário dos criticozinhos eu explico o meu motivo e não emito apenas uma sentença. Este filme não está entre os melhores, embora seja um filme muito bom, por ser didático. Artificial. E isento de emoção verdadeira. ------------- Escrevi que Bergman consegue ser um dos poucos diretores que nos faz entrar na idade média. Pelo menos um tipo de era medieval possível, do tipo que parece real sem forçar no pseudo realismo. Aqui não. Tanto o cavaleiro como o escudeiro são homens do século XX. Nada há neles, seja em atitude, seja em pensamento, que lembre vagamente aquilo que seria um ser medieval. Eles se auto analisam, eles refletem com distanciamento. Isso não existia naqueles tempos. Não existe nem em Chaucer e nem em Bocaccio. Tudo então tem o clima de uma lição de moral, de filosofia, de modo de ser. Cada personagem é explicitamente uma única voz: Bergman. É um filme de arte naquilo que filmes de arte têm de pior: panfletagem. --------------- Woody Allen ama este filme por ser o mais simples dos filmes de Bergman. Como nos filmes de Allen, tudo é simplificado. Bergman nos diz: A vida é isso. E pronto. Tá dito. Não há sutileza. Não há o "talvez". Bergman fez um filme que afirma. Por isso seu sucesso. Ao contrário de filmes enigmas como O ROSTO ou NOITES DE CIRCO, aqui tudo é claro. --------------------- Esquematismo? Sim. A turma dos atores mambembes faz parte do mesmo problema. São pessoas da Suecia dos anos 50. ------------- Por favor, não pense que eu não goste do filme. Não estou aqui a criar problema para parecer original. Gosto do filme. Como não gostar das cenas icônicas e de um ator como Max Von Sydow? O que digo é que ele não é um dos melhores Bergman. Não possui o piscar de olhos de seus melhores filmes. Não nos engana, é apenas o que parece ser. ------------------------ Então não veja este filme se voce quiser conhecer Bergman. Vá de JUVENTUDE. O ROSTO. NOITES DE CIRCO. Para começar a conhecer o melhor Bergman, estes são os caminhos ideais.
ADEUS JOHN WAYNE ( PORQUÊ O NAZISMO VENCEU )VOLTAIRE!
Uma comissão na cidade de Orange County vai retirar a estátua de John Wayne. Ela ficará num porão. Eis um assunto difícil de falar.
Cresci em um mundo cultural com espaço. Espaço é a palavra. Havia espaço para Eliot e para Marianne Moore. Para James Baldwin e para Mishima. O que se amava era a excelência. Podia-se lamentar a posição de Ezra Pound durante a guerra, podia-se odiar o que Elia Kazan fez, mas JAMAIS se imaginava censurar ou apagar da história alguém que tivesse contribuído para a diversidade cultural do planeta. Desde 1960 John Wayne era chamado, injustamente, de fascista. Mas seus filmes passavam normalmente na TV, ele era homenageado em festivais e respeitado por seu legado. Isso não poderia ser apagado, pois apagar a cultura seria como empobrecer nosso espírito. Porém, a partir dos anos 80 esse amor se perdeu.
Uso a palavra amor de forma bastante apropriada. O amor pela cultura faz com que eu ame Acossado, mesmo odiando a posição política de Godard. Faz com que eu leia Heminguay, mesmo sabendo que eu o detestaria como pessoa. Esse amor a cultura morreu e não estou sendo exagerado ao dizer isso. Os fariseus tomaram o museu e compraram a editora. Eles não amam a cultura, eles amam o seu PRÓPRIO ESPELHO e esse espelho não aceita nada que não seja ele mesmo.
Perversamente a diversidade está matando a....diversidade. Essa diversidade, made in 2020, é uma festa entre iguais, inclusive no modo de vestir e falar. Penso que eles estão tão profundamente condicionados que perderam a capacidade de perceber essa armadilha. Diversidade pequena, limitada, diversidade que tem pauta, censura, manual de bom comportamento. Uma festa que não permite a entrada de quem foge a seus ditames, e pior, uma festa que expulsa fantasmas.
Aldous Huxley já dizia em 1930 que a pior opressão parte de quem diz defender o bem. Vegetarianos, pacifistas, naturistas, liberais, além de oprimir com suas regras, nos fazem mal por nos legarem a culpa. Se eles são bons, então somos o mal. Eles produzem o mesmo efeito do cristianismo que dizem odiar. Erguem o nariz arrotando sua superioridade. São anjos. E têm má digestão.
Agora, neste exato momento, eles estão limpando a história do mundo. Desinfetam páginas e páginas do passado, tudo em nome do bem e da justiça. Desde a inquisição não se via tamanho fanatismo. Não é coincidência usarem a fogueira. O que os move é o ódio. Eles não compreendem o passado, não entendem a arte fora do utilitarismo político e por isso vivem em ressentimento. Discursam contra o racismo, mas dão cor à todo espírito e toda arte. Para eles um ser humano se resume a cor de sua pele. A raça condiciona toda arte que podemos produzir, tudo o que podemos falar. Segundo eles, não há como escapar do seu condicionamento racial. Se voce é branco voce só pode produzir arte de branco. Eles negam a alma, sem cor e sem sexo, e se prendem ao conceito que dizem exterminar. Bem...desde Hitler não se vê e ouve nada tão estúpido. Não à toa nazistas também se viam como puros.
Alguns anos atrás eu li alguém que dizia que na verdade os nazis venceram a guerra. Leio dois livros por semana e é difícil lembrar todo autor, baby. Mas ele dizia que depois da guerra vivemos em um mundo armado, vigiado e desencantado, e por isso os nazis haviam vencido por terem mudado o mundo. Pois agora a coisa piorou. O modo nazi, inconsciente, toma conta da diversidade perversa. O ódio ao diferente é absoluto, e pior, é visto como O BEM.
Não, não estou exagerando e explico mais um pouco.
Sim, voce sempre teve sua turma. Vamos a chamar de turma da Vila Madalena. Ou galera do Baixo Leblon. Ou jovens de Greenwich Village. Voce odiava, digamos, os caras da Mooca, ou da Barra, ou de Boston. Havia um atrito. Uma discussão. Mas não havia a tentativa de fazer com que a Barra deixasse de existir. Voce odiava Roberto Carlos ou o general Geisel, mas não pensava em queimar seus discos ou apagar seus anos de governo da história. Pois é isso que agora se apresenta. A absoluta negação da cultura. Pois cultura é história e história é passado.
Roger Scrutton diz que o conservadorismo se resume a amar as coisas do passado e lutar para as preservar. Nunca na história recente, a civilização, que eu amo, aquela criada por judeus e gregos, romanos e celtas, foi tão atacada. Há um plano óbvio de a cancelar.
Não é a primeira vez que isso ocorre. Crises culturais cíclicas, em que todo o mundo cultural parece afundar, são inevitáveis. Houve isso nas invasões bárbaras, na crise da reforma, na guerra contra os nazistas. A diferença é que agora é uma guerra não declarada, uma guerra sem batalhas, de guerrilha, de pequenas e constantes destruições.
Eu defenderei sempre o direito de voce assistir o filme que voce quiser. Mesmo que eu o deteste.
Isso é Voltaire.
E ontem vandalizaram sua estátua em Paris. Nela escreveram: Racista.
Meu amor chora.
Cresci em um mundo cultural com espaço. Espaço é a palavra. Havia espaço para Eliot e para Marianne Moore. Para James Baldwin e para Mishima. O que se amava era a excelência. Podia-se lamentar a posição de Ezra Pound durante a guerra, podia-se odiar o que Elia Kazan fez, mas JAMAIS se imaginava censurar ou apagar da história alguém que tivesse contribuído para a diversidade cultural do planeta. Desde 1960 John Wayne era chamado, injustamente, de fascista. Mas seus filmes passavam normalmente na TV, ele era homenageado em festivais e respeitado por seu legado. Isso não poderia ser apagado, pois apagar a cultura seria como empobrecer nosso espírito. Porém, a partir dos anos 80 esse amor se perdeu.
Uso a palavra amor de forma bastante apropriada. O amor pela cultura faz com que eu ame Acossado, mesmo odiando a posição política de Godard. Faz com que eu leia Heminguay, mesmo sabendo que eu o detestaria como pessoa. Esse amor a cultura morreu e não estou sendo exagerado ao dizer isso. Os fariseus tomaram o museu e compraram a editora. Eles não amam a cultura, eles amam o seu PRÓPRIO ESPELHO e esse espelho não aceita nada que não seja ele mesmo.
Perversamente a diversidade está matando a....diversidade. Essa diversidade, made in 2020, é uma festa entre iguais, inclusive no modo de vestir e falar. Penso que eles estão tão profundamente condicionados que perderam a capacidade de perceber essa armadilha. Diversidade pequena, limitada, diversidade que tem pauta, censura, manual de bom comportamento. Uma festa que não permite a entrada de quem foge a seus ditames, e pior, uma festa que expulsa fantasmas.
Aldous Huxley já dizia em 1930 que a pior opressão parte de quem diz defender o bem. Vegetarianos, pacifistas, naturistas, liberais, além de oprimir com suas regras, nos fazem mal por nos legarem a culpa. Se eles são bons, então somos o mal. Eles produzem o mesmo efeito do cristianismo que dizem odiar. Erguem o nariz arrotando sua superioridade. São anjos. E têm má digestão.
Agora, neste exato momento, eles estão limpando a história do mundo. Desinfetam páginas e páginas do passado, tudo em nome do bem e da justiça. Desde a inquisição não se via tamanho fanatismo. Não é coincidência usarem a fogueira. O que os move é o ódio. Eles não compreendem o passado, não entendem a arte fora do utilitarismo político e por isso vivem em ressentimento. Discursam contra o racismo, mas dão cor à todo espírito e toda arte. Para eles um ser humano se resume a cor de sua pele. A raça condiciona toda arte que podemos produzir, tudo o que podemos falar. Segundo eles, não há como escapar do seu condicionamento racial. Se voce é branco voce só pode produzir arte de branco. Eles negam a alma, sem cor e sem sexo, e se prendem ao conceito que dizem exterminar. Bem...desde Hitler não se vê e ouve nada tão estúpido. Não à toa nazistas também se viam como puros.
Alguns anos atrás eu li alguém que dizia que na verdade os nazis venceram a guerra. Leio dois livros por semana e é difícil lembrar todo autor, baby. Mas ele dizia que depois da guerra vivemos em um mundo armado, vigiado e desencantado, e por isso os nazis haviam vencido por terem mudado o mundo. Pois agora a coisa piorou. O modo nazi, inconsciente, toma conta da diversidade perversa. O ódio ao diferente é absoluto, e pior, é visto como O BEM.
Não, não estou exagerando e explico mais um pouco.
Sim, voce sempre teve sua turma. Vamos a chamar de turma da Vila Madalena. Ou galera do Baixo Leblon. Ou jovens de Greenwich Village. Voce odiava, digamos, os caras da Mooca, ou da Barra, ou de Boston. Havia um atrito. Uma discussão. Mas não havia a tentativa de fazer com que a Barra deixasse de existir. Voce odiava Roberto Carlos ou o general Geisel, mas não pensava em queimar seus discos ou apagar seus anos de governo da história. Pois é isso que agora se apresenta. A absoluta negação da cultura. Pois cultura é história e história é passado.
Roger Scrutton diz que o conservadorismo se resume a amar as coisas do passado e lutar para as preservar. Nunca na história recente, a civilização, que eu amo, aquela criada por judeus e gregos, romanos e celtas, foi tão atacada. Há um plano óbvio de a cancelar.
Não é a primeira vez que isso ocorre. Crises culturais cíclicas, em que todo o mundo cultural parece afundar, são inevitáveis. Houve isso nas invasões bárbaras, na crise da reforma, na guerra contra os nazistas. A diferença é que agora é uma guerra não declarada, uma guerra sem batalhas, de guerrilha, de pequenas e constantes destruições.
Eu defenderei sempre o direito de voce assistir o filme que voce quiser. Mesmo que eu o deteste.
Isso é Voltaire.
E ontem vandalizaram sua estátua em Paris. Nela escreveram: Racista.
Meu amor chora.
GODARD E SEU DESPREZO.
Como disse em algum outro post, ando me livrando de bagagem. Objetos e também modos de pensar. DVDs são alvos simples e bastante simbólicos. São mais de 500 que já viraram pó.
Então no começo de uma noite, resolvo dar uma chance para Godard e BB. Muitos críticos ainda tecem loas à este filme. Vamos ver...
Uma câmera aponta para seu rosto, o rosto de voce, espectador. Isso após Godard recitar os créditos do filme. Em seguida temos a bunda de Brigitte Bardot. Ela pergunta para Michel Piccoli se sua derriére é bonita. Fritz Lang anda pela rua, Jack Palance é um produtor americano. Cartazes ao fundo, Hatari! de Howard Hawks, filme que Godard adora. Numa sala de edição, fala-se de Homero. Até aí são 20 minutos de filme. O que achei?
Em 1963 havia surpresa em apontar a câmera para meus olhos. E era uma brincadeirinha de criança divertida o diretor recitar os nomes dos atores. Mas quando ele discursa sobre Homero a coisa fica chata demais. Vemos um intelectual se exibindo para um público, que por saber quem foi Homero, se acha mega especial. Godard é um adolescente. Masturbatoriamente, enamorado de seu ego, ele alegremente mostra que sabe muito, não nem aí pra nada, faz o que deseja. Seu público, ávido por se sentir adolescente e inteligente, usa seus filmes como diploma de superioridade mental. Hoje, em 2020, me dá nojo.
Já tentei fazer videos e peças de teatro. E sei o quanto é árduo o trabalho de se criar personagens críveis. Nada em um filme é mais brilhante, e mais imune ao tempo, à ferrugem do tempo, que uma personagem viva, com respiração, ficcional e ao mesmo tempo real. Godard " genialmente" abre mão disso. Ele não cria personagens, ele fala "a verdade". Oh God. Nem vou falar de como me compliquei e entendi então como é difícil a arte de se inventar uma trama. Um gancho que nos faça amar o enredo, nos emocionar. O enredo de Godard é sempre seu cérebro. Ele não cria, discursa. E quem discursa é ele, somente ele. Único assunto: Eu.
Se os filme de Kurosawa ou de Bergman sobrevivem melhor, isso se deve ao fato de que eles criaram personagens. Mesmo que esses personagens falem aquilo que o autor quer dizer, eles falam dentro de outras máscaras, e dentro de uma situação criada. Kurosawa usa reis, samurais e velhos pobres para falar; Bergman cria professores, crianças e adolescentes para exibir sua neurose. Acima de tudo eles narram uma história. Penso que Godard não sabe narrar. Então ele discursa.
Todo discurso fica velho. Porque depois que sua mensagem é absorvida, tudo que resta são palavras. Uma boa história nunca fica velha. Porque ela se renova ao ser vista pela primeira vez por uma outra pessoa. Nós amamos histórias desde quando ficávamos à fogueira, em círculo, esperando o lobo ir embora. Um discurso é útil em seu momento. Depois morre e vira pó. Penso que o excesso de biografias feitas hoje revela a incapacidade de se criar personagens.
O Desprezo já está no lixo.
Nem o corpo de BB o salva.
Então no começo de uma noite, resolvo dar uma chance para Godard e BB. Muitos críticos ainda tecem loas à este filme. Vamos ver...
Uma câmera aponta para seu rosto, o rosto de voce, espectador. Isso após Godard recitar os créditos do filme. Em seguida temos a bunda de Brigitte Bardot. Ela pergunta para Michel Piccoli se sua derriére é bonita. Fritz Lang anda pela rua, Jack Palance é um produtor americano. Cartazes ao fundo, Hatari! de Howard Hawks, filme que Godard adora. Numa sala de edição, fala-se de Homero. Até aí são 20 minutos de filme. O que achei?
Em 1963 havia surpresa em apontar a câmera para meus olhos. E era uma brincadeirinha de criança divertida o diretor recitar os nomes dos atores. Mas quando ele discursa sobre Homero a coisa fica chata demais. Vemos um intelectual se exibindo para um público, que por saber quem foi Homero, se acha mega especial. Godard é um adolescente. Masturbatoriamente, enamorado de seu ego, ele alegremente mostra que sabe muito, não nem aí pra nada, faz o que deseja. Seu público, ávido por se sentir adolescente e inteligente, usa seus filmes como diploma de superioridade mental. Hoje, em 2020, me dá nojo.
Já tentei fazer videos e peças de teatro. E sei o quanto é árduo o trabalho de se criar personagens críveis. Nada em um filme é mais brilhante, e mais imune ao tempo, à ferrugem do tempo, que uma personagem viva, com respiração, ficcional e ao mesmo tempo real. Godard " genialmente" abre mão disso. Ele não cria personagens, ele fala "a verdade". Oh God. Nem vou falar de como me compliquei e entendi então como é difícil a arte de se inventar uma trama. Um gancho que nos faça amar o enredo, nos emocionar. O enredo de Godard é sempre seu cérebro. Ele não cria, discursa. E quem discursa é ele, somente ele. Único assunto: Eu.
Se os filme de Kurosawa ou de Bergman sobrevivem melhor, isso se deve ao fato de que eles criaram personagens. Mesmo que esses personagens falem aquilo que o autor quer dizer, eles falam dentro de outras máscaras, e dentro de uma situação criada. Kurosawa usa reis, samurais e velhos pobres para falar; Bergman cria professores, crianças e adolescentes para exibir sua neurose. Acima de tudo eles narram uma história. Penso que Godard não sabe narrar. Então ele discursa.
Todo discurso fica velho. Porque depois que sua mensagem é absorvida, tudo que resta são palavras. Uma boa história nunca fica velha. Porque ela se renova ao ser vista pela primeira vez por uma outra pessoa. Nós amamos histórias desde quando ficávamos à fogueira, em círculo, esperando o lobo ir embora. Um discurso é útil em seu momento. Depois morre e vira pó. Penso que o excesso de biografias feitas hoje revela a incapacidade de se criar personagens.
O Desprezo já está no lixo.
Nem o corpo de BB o salva.
HOBBIT/REX HARRISON/ AL PACINO/ RAY/ SODERBERGH/ DORIS DAY
JUMBO de Charles Walters com Doris Day, Jimmy Durante, Martha Raye.
A vida no circo, onde Doris é a filha do dono, que por sua vez gasta tudo em jogo. O filme é simples, alegre, e entretém. O trio central brilha com sua simpatia. Nota 6.
O ENXAME de Irwin Allen com Michael Caine, Henry Fonda, Richard Widmark.
Abelhas africanas botam pra quebrar no Texas. Caine é um cientista. O filme tem uma direção inábil. Tão trash que fica até funny.
O ÚLTIMO ATO de Barry Levinson com Al Pacino
Birdman? Ator em crise tem ataque no palco. Fica preso do lado de fora, vai morar isolado, se envolve com gente doida... O filme é o mais árido da boa carreira de Levinson, e Pacino está interessado. Confuso, não é um bom filme, mas é interessante. Nota 4.
ADEUS À LINGUAGEM de Godard
Incompreensível. Cenas de um casal, muita nudez, frases inteligentes, imagens trêmulas, confusão. Godard aina é difícil, rebelde, ácido. Atira contra tudo e parece concluir que a linguagem se desfez, não faz mais sentido.
O HOBBIT, TODOS OS TRÊS. de Peter Jackson com Martin Freeman, Ian McKellen
Jackson tem coragem! Após os anéis ele arrisca os dedos. Volta à Tolkien e usa um livro muito mais pobre do autor. E o estica em quase nove horas de cinema. A parte um é boa, a segunda é ruim e a terceira é a melhor. Um erro está no elenco. Freeman é um hobbit ótimo, mas o líder dos anões é fraco. De todo modo, há uma beleza estética que não cansa. O maravilhamento dos anéis se perdeu, mas é boa diversão. Nota 6, 3 e 6.
FULL FRONTAL de Soderbergh com Julia Roberts, David Duchovny,Catherine Keener
Soderbergh e seu medíocre lado artístico. Ele brilha quando pop, mas, inseguro, acha que precisa provar ser arteiro, e faz suas besteiras metidas à Cassavetes ou Godard. Aqui é um filme dentro de um filme. Só what?
THE CHESS PLAYERS de Satyajit Ray
No século dezenove enquanto a Inglaterra se apossa da Índia, dois nobres se distraem jogando xadrez. O filme é chato e é forte. Ficamos entediados, mas depois que ele acaba não nos larga. Lembramos dele com admiração. Isso é arte. Nota 7.
ASFALTO de Joe May
Filme mudo alemão de um dos mais poderosos nomes da época. Um tenente de policia é seduzido por uma mulher fatal. O filme tem um belo clima sensual. Pode ser um bom começo para aqueles que desejam adentrar o mundo do cinema dos anos vinte. Nota 6.
ANNA E O REI DO SIÃO de John Cromwell com Irene Dunne e Rex Harrison.
Primeira versão da historia da professora que vai à Tailândia ensinar rei a ser moderno. Lindo, dramático, serio e muito bem interpretado. Rex consegue ser duro, frio, e frágil ao mesmo tempo. Envelheceu nada esta produção Fox. Nota 8.
A vida no circo, onde Doris é a filha do dono, que por sua vez gasta tudo em jogo. O filme é simples, alegre, e entretém. O trio central brilha com sua simpatia. Nota 6.
O ENXAME de Irwin Allen com Michael Caine, Henry Fonda, Richard Widmark.
Abelhas africanas botam pra quebrar no Texas. Caine é um cientista. O filme tem uma direção inábil. Tão trash que fica até funny.
O ÚLTIMO ATO de Barry Levinson com Al Pacino
Birdman? Ator em crise tem ataque no palco. Fica preso do lado de fora, vai morar isolado, se envolve com gente doida... O filme é o mais árido da boa carreira de Levinson, e Pacino está interessado. Confuso, não é um bom filme, mas é interessante. Nota 4.
ADEUS À LINGUAGEM de Godard
Incompreensível. Cenas de um casal, muita nudez, frases inteligentes, imagens trêmulas, confusão. Godard aina é difícil, rebelde, ácido. Atira contra tudo e parece concluir que a linguagem se desfez, não faz mais sentido.
O HOBBIT, TODOS OS TRÊS. de Peter Jackson com Martin Freeman, Ian McKellen
Jackson tem coragem! Após os anéis ele arrisca os dedos. Volta à Tolkien e usa um livro muito mais pobre do autor. E o estica em quase nove horas de cinema. A parte um é boa, a segunda é ruim e a terceira é a melhor. Um erro está no elenco. Freeman é um hobbit ótimo, mas o líder dos anões é fraco. De todo modo, há uma beleza estética que não cansa. O maravilhamento dos anéis se perdeu, mas é boa diversão. Nota 6, 3 e 6.
FULL FRONTAL de Soderbergh com Julia Roberts, David Duchovny,Catherine Keener
Soderbergh e seu medíocre lado artístico. Ele brilha quando pop, mas, inseguro, acha que precisa provar ser arteiro, e faz suas besteiras metidas à Cassavetes ou Godard. Aqui é um filme dentro de um filme. Só what?
THE CHESS PLAYERS de Satyajit Ray
No século dezenove enquanto a Inglaterra se apossa da Índia, dois nobres se distraem jogando xadrez. O filme é chato e é forte. Ficamos entediados, mas depois que ele acaba não nos larga. Lembramos dele com admiração. Isso é arte. Nota 7.
ASFALTO de Joe May
Filme mudo alemão de um dos mais poderosos nomes da época. Um tenente de policia é seduzido por uma mulher fatal. O filme tem um belo clima sensual. Pode ser um bom começo para aqueles que desejam adentrar o mundo do cinema dos anos vinte. Nota 6.
ANNA E O REI DO SIÃO de John Cromwell com Irene Dunne e Rex Harrison.
Primeira versão da historia da professora que vai à Tailândia ensinar rei a ser moderno. Lindo, dramático, serio e muito bem interpretado. Rex consegue ser duro, frio, e frágil ao mesmo tempo. Envelheceu nada esta produção Fox. Nota 8.
VINTE ANOS DE PULP FICTION ( SIM, VI O PÂNICO ONTEM )
Eu não sei se Pulp Fiction é o melhor filme dos últimos vinte anos, o que sei é que nenhum outro filme me deu tanto prazer.
Lembro bem de quando o vi pela primeira vez. Foi em maio de 1995. Uma amiga me emprestou o filme e a trilha sonora. O impacto foi tão grande que me apaixonei por ela. Sim, pela menina. Desde a primeira cena até a última eu gozei um prazer que misturava esteticismo, humor, citações e amor ao cinema. Seus atores nunca mais foram os mesmos. Travolta, Jackson, Uma, Keitel, todos se tornaram ícones de um filme que passou a simbolizar uma geração, a minha. ( Bruce Willis passou ileso. De certo modo ele já era desde sempre o cara que fala "Zed is Dead")
Diálogos do filme eram repetidos entre amigos, as músicas tocavam em festas, e assisti o filme 3 dias seguidos. Sempre com prazer. Cada vez maior.
Não sei se ele é o melhor porque me lembro de A Grande Beleza, Branca de Neve, os filmes dos irmãos Coen, me lembro de Todd Haynes, de Resnais, Cidade de Deus, e mesmo de Kill Bill. Mas eu tenho a certeza que já há quem olhe para o Oscar de 1995 e pense: O que???? Coração Valente venceu Tarantino? Ele é o nosso Citizen Kane.
Porque tudo nele foi uma zebra. Ele passou em Cannes e causou espanto. Surpresa. Era um filme independente. Tarantino abriu caminho para uma onda de filmes jovens com ideias jovens. Onda que logo virou marola, mas que teve méritos enquanto durou. Produtores jogaram grana na mão de uma galera esperta na esperança de ter um novo Tarantino em produção. Nunca surgiu. Mas foi legal pacas.
1994 foi um momento de TRANSIÇÃO no cinema. Antes de Matrix e antes dos X Men. Não havia a onda Marvel e nem a onda de efeitos exagerados. Um filme barato ainda podia render muita, muita grana. E Pulp Fiction ficou meses em cartaz. Não nos esqueçamos, John Travolta estava em baixa e Jackson era apenas um ator cult. Travolta, que adoro, teve a honra de fazer cenas icônicas para duas gerações, as cenas de Saturday Night Fever/ Grease e aqui. Hoje ele voltou a ser um ator "do passado". Mas é um cara que todo mundo que ama cinema respeita e tem carinho. É um grande cara. Neste filme ele está brilhante. Mas...quem não está? Há ator melhor que Samuel L. Jackson citando a bíblia?
No mundo de 2014 Tarantino é o Scorsese, o Eastwood e o Godard que nos resta. E não cito eles a toa. Pulp Fiction cita os três ( mais Leone, Woo, Hawks e uma porrada de filmes de Hong Kong ). Quentin é um nerd de cinema. Como eu. Ele ama o que faz e mais importante, tem prazer em filmar. Isso faz enorme diferença. Porque vivemos hoje a era de diretores que filmam como se estivessem em trabalho de parto. Ou em confissão numa igreja. Argh!
Nos anos seguintes a 1994 virou moda falar que Tarantino era diretor de um filme só. Não quiseram ver que Jackie Brown era ótimo. Esperavam outro Pulp Fiction. Ora, jamais teremos outro Pulp como nunca veio outro Taxi Driver, outro Rio Bravo ou um novo Josey Wales. São filmes que espelham um momento do mundo e da vida de quem os escreve. São únicos. Quando Quentin lançou Kill Bill e afirmou para todos sua grandeza, provou que Pulp não era filho único, o momento já era outro e Kill Bill é filho deste século artificial. Virtual.
Pulp Fiction faz vinte anos e o mundo está completamente diferente. Em 1994 eu não tive como partilhar minhas impressões. O sucesso de Tarantino foi sem net. Nisso melhoramos. Adoro poder escrever aqui. Mas que filme feito em 2014 chega perto de seu poder? Da alegria jovem de uma descoberta? Da festa criativa que nos surpreendeu cena sobre cena? Cada tomada sendo uma aula de liberdade, de inventividade, de se ir sempre contra a expectativa.
Cada geração tem o filme que merece. Talvez esta tenha a tristeza dos filmes de Von Trier ou a cor fake dos filmes de Wes Anderson. Eu prefiro a viril auto-confiança de Quentin Tarantino. Tenho orgulho de ser de sua fornada.
Lembro bem de quando o vi pela primeira vez. Foi em maio de 1995. Uma amiga me emprestou o filme e a trilha sonora. O impacto foi tão grande que me apaixonei por ela. Sim, pela menina. Desde a primeira cena até a última eu gozei um prazer que misturava esteticismo, humor, citações e amor ao cinema. Seus atores nunca mais foram os mesmos. Travolta, Jackson, Uma, Keitel, todos se tornaram ícones de um filme que passou a simbolizar uma geração, a minha. ( Bruce Willis passou ileso. De certo modo ele já era desde sempre o cara que fala "Zed is Dead")
Diálogos do filme eram repetidos entre amigos, as músicas tocavam em festas, e assisti o filme 3 dias seguidos. Sempre com prazer. Cada vez maior.
Não sei se ele é o melhor porque me lembro de A Grande Beleza, Branca de Neve, os filmes dos irmãos Coen, me lembro de Todd Haynes, de Resnais, Cidade de Deus, e mesmo de Kill Bill. Mas eu tenho a certeza que já há quem olhe para o Oscar de 1995 e pense: O que???? Coração Valente venceu Tarantino? Ele é o nosso Citizen Kane.
Porque tudo nele foi uma zebra. Ele passou em Cannes e causou espanto. Surpresa. Era um filme independente. Tarantino abriu caminho para uma onda de filmes jovens com ideias jovens. Onda que logo virou marola, mas que teve méritos enquanto durou. Produtores jogaram grana na mão de uma galera esperta na esperança de ter um novo Tarantino em produção. Nunca surgiu. Mas foi legal pacas.
1994 foi um momento de TRANSIÇÃO no cinema. Antes de Matrix e antes dos X Men. Não havia a onda Marvel e nem a onda de efeitos exagerados. Um filme barato ainda podia render muita, muita grana. E Pulp Fiction ficou meses em cartaz. Não nos esqueçamos, John Travolta estava em baixa e Jackson era apenas um ator cult. Travolta, que adoro, teve a honra de fazer cenas icônicas para duas gerações, as cenas de Saturday Night Fever/ Grease e aqui. Hoje ele voltou a ser um ator "do passado". Mas é um cara que todo mundo que ama cinema respeita e tem carinho. É um grande cara. Neste filme ele está brilhante. Mas...quem não está? Há ator melhor que Samuel L. Jackson citando a bíblia?
No mundo de 2014 Tarantino é o Scorsese, o Eastwood e o Godard que nos resta. E não cito eles a toa. Pulp Fiction cita os três ( mais Leone, Woo, Hawks e uma porrada de filmes de Hong Kong ). Quentin é um nerd de cinema. Como eu. Ele ama o que faz e mais importante, tem prazer em filmar. Isso faz enorme diferença. Porque vivemos hoje a era de diretores que filmam como se estivessem em trabalho de parto. Ou em confissão numa igreja. Argh!
Nos anos seguintes a 1994 virou moda falar que Tarantino era diretor de um filme só. Não quiseram ver que Jackie Brown era ótimo. Esperavam outro Pulp Fiction. Ora, jamais teremos outro Pulp como nunca veio outro Taxi Driver, outro Rio Bravo ou um novo Josey Wales. São filmes que espelham um momento do mundo e da vida de quem os escreve. São únicos. Quando Quentin lançou Kill Bill e afirmou para todos sua grandeza, provou que Pulp não era filho único, o momento já era outro e Kill Bill é filho deste século artificial. Virtual.
Pulp Fiction faz vinte anos e o mundo está completamente diferente. Em 1994 eu não tive como partilhar minhas impressões. O sucesso de Tarantino foi sem net. Nisso melhoramos. Adoro poder escrever aqui. Mas que filme feito em 2014 chega perto de seu poder? Da alegria jovem de uma descoberta? Da festa criativa que nos surpreendeu cena sobre cena? Cada tomada sendo uma aula de liberdade, de inventividade, de se ir sempre contra a expectativa.
Cada geração tem o filme que merece. Talvez esta tenha a tristeza dos filmes de Von Trier ou a cor fake dos filmes de Wes Anderson. Eu prefiro a viril auto-confiança de Quentin Tarantino. Tenho orgulho de ser de sua fornada.
O MAIS ATUAL CINEASTA DE 2013 ( INFELIZMENTE )
A revista Bravo! fala o óbvio: todo diretor de "arte" de 2013 tem paixão por Godard. Pffff...temos um cinema todo auto-consciente, frio, distanciado, godardiano. Câmera na mão, cenários naturalistas, atores desglamurizados, tempo pego na sua fruição, o Agora e o Aqui. Até mesmo o estilo fotográfico é aquele de Raoul Coutard, o câmera de Jean-Luc. Uma pena....Eu gosto de Godard por ele ter sido o primeiro a fazer o cinema de Godard. Mas essa obsessão de 2013 me cansou a muito tempo. Eu preferia que a influência fosse de Max Ophuls ou de René Clair, para citar só os europeus. Mais beleza e menos crueza.
Casablanca foi eleito o melhor roteiro do cinema. Antes que as crianças reclamem de não ser Homem de Ferro ou Cisne Negro, eu lembro: Existe filme com mais falas citadas em outros filmes? Quando voce vê ou revê Casablanca fica surpreso, cada linha de diálogo é conhecida de "algum lugar". Mais que isso, o roteiro criou o ambiente clássico de "covil de traidores", uma galeria de tipos inesquecíveis e um final trágico-irônico que ainda mantém seu frescor. Eu penso que Bogart-Rick Blaine na verdade nunca amou Ingrid Bergman. É o roteiro dos roteiros. E um bom roteiro my dear, é acima de tudo um compêndio de cenas que não se esquece e de falas que serão citadas.
Um amigo pede que eu indique um bom filme em cartaz para ele ir ver. Vixi! Deus me livre! Melhor guardar a grana e esperar pelo novo Alexander Payne ou Joel Coen.
Casablanca foi eleito o melhor roteiro do cinema. Antes que as crianças reclamem de não ser Homem de Ferro ou Cisne Negro, eu lembro: Existe filme com mais falas citadas em outros filmes? Quando voce vê ou revê Casablanca fica surpreso, cada linha de diálogo é conhecida de "algum lugar". Mais que isso, o roteiro criou o ambiente clássico de "covil de traidores", uma galeria de tipos inesquecíveis e um final trágico-irônico que ainda mantém seu frescor. Eu penso que Bogart-Rick Blaine na verdade nunca amou Ingrid Bergman. É o roteiro dos roteiros. E um bom roteiro my dear, é acima de tudo um compêndio de cenas que não se esquece e de falas que serão citadas.
Um amigo pede que eu indique um bom filme em cartaz para ele ir ver. Vixi! Deus me livre! Melhor guardar a grana e esperar pelo novo Alexander Payne ou Joel Coen.
ANNA KARINA, GUILLAUME CANET, BATMAN E CINEMA FRANCÊS
Brasilia se torna uma cidade quase bonita amanhã. A mais que perfeita ANNA KARINA virá abrir o festival de cinema da cidade. Anna Karina é a mais fascinante atriz da história do cinema. Godard foi gênio enquanto teve essa musa dinamarquesa a seu lado. Depois que se separaram Jean Luc se tornou um chato. Anna era timida, sexy, esperta, enigmática e pensativa. Os olhos mais lindos do mundo com a boca mais perfeita da história.
O Estadão diz que ela virá cantar. A voz é aquela que toda cantora "tristinha" de 2012 queria ter. Só que Anna nunca foi tristinha. Na vida real ela era cheia de ideias, de ideais e de atitudes. Fugiu de casa aos 16 e foi pra Paris. Logo era modelo da Chanel e daí para o cinema de Godard.
Ela conta que o problema do cinema de hoje é simples: todos querem ser ricos e famosos. Eles se contentavam em ter um carro velho e um canto pra morar. Mas Anna mostra sua inteligência ao dizer que "Godard, de forma alegre e descompromissada, fazia filmes muito sérios; hoje, gente muito séria e metida faz filmes bobos e sem porque".
Anna Karina se diz feliz por ainda ser lembrada e por morar no Quartier Latin. Fico feliz por saber que ela é feliz. Na verdade ela é mais que lembrada, é referência para elegantes e estilosos de todas as idades.
Falando em Anna, falo em Guillaume Canet. ATÉ A ETERNIDADE é o melhor filme em cartaz. Mas, é lógico, por ser francês não terá público. Não deixa de ser cômico o fato de que meus colegas "rebeldes" da USP terem um forte preconceito contra filmes franceses. Eles se dizem contra o consumo e a moda, mas acham Tim Burton, Chris Nolan e Wes Anderson "gênios". Só assistem filmes made in usa. Como diria Francis, weeeeeelllll.....
Esse povo teen acredita quando o sr. Nolan posa de "cineasta com ideias", esquecendo que Batman é uma franquia de uma mega produtora. Nada há de risco em Batman. Todo Batman deu lucro. Não foram ver o magnífico CONVERSAS COM MARGUERITTE, e perderam a chance de ver O ARTISTA.
Pela enésima vez me explico: Adoro cinema pop-bobo. Mas só quando esse cinema pop se assume como tal. Tipo Tarantino ou Soderbergh. Quando o cara vem tentar me enganar salto fora. Não me venha com papo cabeça em filme pop. Não venha posar de artista sem ter coragem ou ideias para ser. Não me venha pegar um título popular e de apelo teen, e envergonhado, tentar me convencer de que aquilo é mais do que de fato é. Isso se chama "coisa de jeca". Só americano inseguro é assim. Vergonha de ser pop.
Respeito muito mais Levinson com seu HOMENS DE PRETO assumidamente bobo, que um jeca tentando me fazer crer que Batman é mais do que é. Meus colegas teen entram nessa como ovelhas inteligentes. Eu vou atrás de Guillaume Canet.
Em sua entrevista Canet tece loas à O REENCONTRO de Lawrence Kasdan. Tenho amigos que não conheciam esse filme e foram apresentados a ele por mim. Adoraram. Como Canet adorou. Viva o DVD.
O Estadão diz que ela virá cantar. A voz é aquela que toda cantora "tristinha" de 2012 queria ter. Só que Anna nunca foi tristinha. Na vida real ela era cheia de ideias, de ideais e de atitudes. Fugiu de casa aos 16 e foi pra Paris. Logo era modelo da Chanel e daí para o cinema de Godard.
Ela conta que o problema do cinema de hoje é simples: todos querem ser ricos e famosos. Eles se contentavam em ter um carro velho e um canto pra morar. Mas Anna mostra sua inteligência ao dizer que "Godard, de forma alegre e descompromissada, fazia filmes muito sérios; hoje, gente muito séria e metida faz filmes bobos e sem porque".
Anna Karina se diz feliz por ainda ser lembrada e por morar no Quartier Latin. Fico feliz por saber que ela é feliz. Na verdade ela é mais que lembrada, é referência para elegantes e estilosos de todas as idades.
Falando em Anna, falo em Guillaume Canet. ATÉ A ETERNIDADE é o melhor filme em cartaz. Mas, é lógico, por ser francês não terá público. Não deixa de ser cômico o fato de que meus colegas "rebeldes" da USP terem um forte preconceito contra filmes franceses. Eles se dizem contra o consumo e a moda, mas acham Tim Burton, Chris Nolan e Wes Anderson "gênios". Só assistem filmes made in usa. Como diria Francis, weeeeeelllll.....
Esse povo teen acredita quando o sr. Nolan posa de "cineasta com ideias", esquecendo que Batman é uma franquia de uma mega produtora. Nada há de risco em Batman. Todo Batman deu lucro. Não foram ver o magnífico CONVERSAS COM MARGUERITTE, e perderam a chance de ver O ARTISTA.
Pela enésima vez me explico: Adoro cinema pop-bobo. Mas só quando esse cinema pop se assume como tal. Tipo Tarantino ou Soderbergh. Quando o cara vem tentar me enganar salto fora. Não me venha com papo cabeça em filme pop. Não venha posar de artista sem ter coragem ou ideias para ser. Não me venha pegar um título popular e de apelo teen, e envergonhado, tentar me convencer de que aquilo é mais do que de fato é. Isso se chama "coisa de jeca". Só americano inseguro é assim. Vergonha de ser pop.
Respeito muito mais Levinson com seu HOMENS DE PRETO assumidamente bobo, que um jeca tentando me fazer crer que Batman é mais do que é. Meus colegas teen entram nessa como ovelhas inteligentes. Eu vou atrás de Guillaume Canet.
Em sua entrevista Canet tece loas à O REENCONTRO de Lawrence Kasdan. Tenho amigos que não conheciam esse filme e foram apresentados a ele por mim. Adoraram. Como Canet adorou. Viva o DVD.
GODARD/ TRUFFAUT/ RALPH FIENNES/ SOKUROV/ CUKOR/ ROSALIND RUSSELL
BANDE À PART de Jean-Luc Godard com Frey, Karina e Brasseur
Livre como o fogo e filmado em locais gelados. Tem cenas em escola de inglês e nas ruas feias. Filmado em poucos dias, fala de uma dupla de ladrões que envolvem moça ingênua em crime. Várias cenas históricas: a corrida no Louvre, a dança no bar, o olhar para a câmera de Anna Karina. Adorado pelos diretores jovens dos anos 2000, confesso não ser dos meus Godard favoritos. Irregular ao extremo, perde o foco em vários momentos. Mas vale conhecer. Nota 6.
FARENHEIT 451 de Truffaut com Oskar Werner e Julie Christie
Em sua bio Truffaut diz ter tido problemas nas filmagens. Falava mal o inglês e Werner tinha ataques de estrelismo. O filme é frio, distante, sem emoção. Mas está longe de ser um erro. No futuro os livros são proibidos. A TV é a grande ditadora. O livro de Bradbury acerta em várias antecipações: a ditadura do "bem estar", a tela sempre presente, o sexo como ginástica. Ainda recordo da impressão que me causou quando visto na TV Cultura, aos 15 anos. Hoje é apenas um curioso drama frio. Nota 6.
PRINCESA POR UM MÊS de Marion Gering com Silvya Sidney e Cary Grant
Uma atriz fracassada se passa por princesa da Europa. O plano, armado por seus ministros, visa fazer dessa "nova" princesa algo de mais simpático aos americanos. Grant faz um repórter que se envolve com ela. Na época Cary Grant ainda não era Cary Grant. A Paramount ainda não sabia do star que tinha em contrato. O filme, classe B, é apenas uma bobagenzinha fofa. Nota 3.
OS 3 MOSQUETEIROS de Paul WS Anderson
Dumas para teens. O visual é da França de Richelieu, mas as pessoas e os fatos são dos EUA de 2012. Absolutamente desinteressante. Nota ZERO.
CORIOLANO de Ralph Fiennes com Ralph Fiennes, Gerard Butler e Vanessa Redgrave
O texto de Shakespeare transposto para hoje. O mundo como lugar de conflitos e de revoltas. Estranho ouvir os versos ditos em 2012.... Eles acabam por funcionar. Dão ao drama a profundidade e a eloquência do bardo inglês. O problema é que o visual do filme é excessivamente rebuscado, ofusca o trabalho dos atores. Bela tentativa de Fiennes. Nota 6.
O SOL de Sokurov
Nenhum diretor em atividade é mais corajoso que o russo Sokurov. Ele não faz a mínima concessão. Aqui ele acompanha o imperador do Japão nos dias em que é obrigado a se mostrar como "humano". O que vemos é um homem-criança perdido em dias e salas. Lento, simples, solene, real, rebuscado. A arte de Sokurov não conhece limites. Nota 7.
OS REIS DO SOL de J.Lee Thompson com Yul Brynner
Um desastre! Tribo Maia viaja aos Eua e toma contato com indios de lá. Brynner, hiper-vaidoso, é esse indio. Uma chatice.... Nota Zero
ESCOLA DE SEREIAS de George Sidney com Red Skelton e Esther Willians
Um rapaz volta a escola para tentar convencer a esposa, que lá trabalha, a voltar para ele. O filme é um musical sem vergonha. Brega ao extremo, mistura comédia, dança, jazz, burlesco e carnaval. Me lembrou chanchadas da Atlântida. Antes da TV, um filme como este era o equivalente a zapear por vários canais. Nota 6.
AS MULHERES de George Cukor com Norma Shearer, Joan Crawford, Rosalind Russell, Joan Fontaine e Paulette Godard
Caso único: um filme que só tem mulheres. Em duas horas não vemos o rosto de um só homem. Nem como figurante. O que se mostra são as fofocas, os dramas e as invejas de um bando de mulheres ricas e casadas. O centro é uma "boa esposa" que perde o marido para uma predadora. É óbvio que a boazinha é Shearer e a má só podia ser Joan Crawford. De pior o filme tem seu moralismo tolo e atrizes irritantemente compostas ( Shearer e Fontaine, duas estrelas insuportáveis ), de melhor há a presença da esfuziante Rosalind Russell ( uma das maiores comediantes da história, ela é adorável ), e o sex-appeal de Paulette Godard, uma das mais interessantes atrizes da época. Cukor foi um grande diretor de mulheres, ele penetra no mundo de salões de beleza, almoços entre amigas e quartos de vestir. Bom gosto e bons diálogos. Nota 7.
Livre como o fogo e filmado em locais gelados. Tem cenas em escola de inglês e nas ruas feias. Filmado em poucos dias, fala de uma dupla de ladrões que envolvem moça ingênua em crime. Várias cenas históricas: a corrida no Louvre, a dança no bar, o olhar para a câmera de Anna Karina. Adorado pelos diretores jovens dos anos 2000, confesso não ser dos meus Godard favoritos. Irregular ao extremo, perde o foco em vários momentos. Mas vale conhecer. Nota 6.
FARENHEIT 451 de Truffaut com Oskar Werner e Julie Christie
Em sua bio Truffaut diz ter tido problemas nas filmagens. Falava mal o inglês e Werner tinha ataques de estrelismo. O filme é frio, distante, sem emoção. Mas está longe de ser um erro. No futuro os livros são proibidos. A TV é a grande ditadora. O livro de Bradbury acerta em várias antecipações: a ditadura do "bem estar", a tela sempre presente, o sexo como ginástica. Ainda recordo da impressão que me causou quando visto na TV Cultura, aos 15 anos. Hoje é apenas um curioso drama frio. Nota 6.
PRINCESA POR UM MÊS de Marion Gering com Silvya Sidney e Cary Grant
Uma atriz fracassada se passa por princesa da Europa. O plano, armado por seus ministros, visa fazer dessa "nova" princesa algo de mais simpático aos americanos. Grant faz um repórter que se envolve com ela. Na época Cary Grant ainda não era Cary Grant. A Paramount ainda não sabia do star que tinha em contrato. O filme, classe B, é apenas uma bobagenzinha fofa. Nota 3.
OS 3 MOSQUETEIROS de Paul WS Anderson
Dumas para teens. O visual é da França de Richelieu, mas as pessoas e os fatos são dos EUA de 2012. Absolutamente desinteressante. Nota ZERO.
CORIOLANO de Ralph Fiennes com Ralph Fiennes, Gerard Butler e Vanessa Redgrave
O texto de Shakespeare transposto para hoje. O mundo como lugar de conflitos e de revoltas. Estranho ouvir os versos ditos em 2012.... Eles acabam por funcionar. Dão ao drama a profundidade e a eloquência do bardo inglês. O problema é que o visual do filme é excessivamente rebuscado, ofusca o trabalho dos atores. Bela tentativa de Fiennes. Nota 6.
O SOL de Sokurov
Nenhum diretor em atividade é mais corajoso que o russo Sokurov. Ele não faz a mínima concessão. Aqui ele acompanha o imperador do Japão nos dias em que é obrigado a se mostrar como "humano". O que vemos é um homem-criança perdido em dias e salas. Lento, simples, solene, real, rebuscado. A arte de Sokurov não conhece limites. Nota 7.
OS REIS DO SOL de J.Lee Thompson com Yul Brynner
Um desastre! Tribo Maia viaja aos Eua e toma contato com indios de lá. Brynner, hiper-vaidoso, é esse indio. Uma chatice.... Nota Zero
ESCOLA DE SEREIAS de George Sidney com Red Skelton e Esther Willians
Um rapaz volta a escola para tentar convencer a esposa, que lá trabalha, a voltar para ele. O filme é um musical sem vergonha. Brega ao extremo, mistura comédia, dança, jazz, burlesco e carnaval. Me lembrou chanchadas da Atlântida. Antes da TV, um filme como este era o equivalente a zapear por vários canais. Nota 6.
AS MULHERES de George Cukor com Norma Shearer, Joan Crawford, Rosalind Russell, Joan Fontaine e Paulette Godard
Caso único: um filme que só tem mulheres. Em duas horas não vemos o rosto de um só homem. Nem como figurante. O que se mostra são as fofocas, os dramas e as invejas de um bando de mulheres ricas e casadas. O centro é uma "boa esposa" que perde o marido para uma predadora. É óbvio que a boazinha é Shearer e a má só podia ser Joan Crawford. De pior o filme tem seu moralismo tolo e atrizes irritantemente compostas ( Shearer e Fontaine, duas estrelas insuportáveis ), de melhor há a presença da esfuziante Rosalind Russell ( uma das maiores comediantes da história, ela é adorável ), e o sex-appeal de Paulette Godard, uma das mais interessantes atrizes da época. Cukor foi um grande diretor de mulheres, ele penetra no mundo de salões de beleza, almoços entre amigas e quartos de vestir. Bom gosto e bons diálogos. Nota 7.
BANDE À PART - JEAN LUC GODARD E ANNA KARINA
Para se gostar de Godard em sua primeira época, aquela que vai de 1959 até 1965, fase que termina com o rompimento com sua musa, Anna Karina, é preciso se ter senso de humor. Isso porque seus filmes de então são desconstruções de tradições, leves reflexões sobre a absoluta liberdade de filmar e de viver. E se voce não possuir esse descompromisso e essa juventude libertária, nada feito. Voce vai procurar portos seguros nestes filmes-oceanos e nada irá encontar. Pensará então que este é um filme a deriva. Voce é que pensa como âncora.
O filme foi feito em 25 dias e nesse ano Godard lançou 3 filmes. E meio.
É sobre uma dupla de gatunos que envolve uma mocinha ingênua em crime. Roubarão a casa onde ela vive com a tia. Isso dito, o filme é tudo o que um filme de crime não deve ser. Ele divaga, se desvia. Quando surge a vontade de falar de um livro, se fala de um livro. Se há o desejo de dançar, se dança. E se surge o vazio de ideias, nasce o silêncio. Longe do realismo e longe de Hollywood, o filme é um quase nada, uma desconstrução que diz em alto e bom som: -Fazer um filme é uma brincadeira!!!! Nada há de sagrado nisto!!!!!
Bem, se voce é Godard a coisa anda. O problema é que um monte de gente acreditou neste filme e passou a filmar tudo o que vinha à cabeça. Voce conhece o resultado...
Quando vejo este filme sempre penso em meus jovens colegas de USP. O espírito do filme é o mesmo. Uma ingênua vontade de tentar coisas diferentes. Só que o filme veio 50 anos antes. E ainda é magnificamente jovem.
Quentin Tarantino nomeou sua produtora com o nome deste filme. E em Pulp Fiction várias cenas são homenagens a o que vemos aqui. O papo furado dos bandidos no carro, a dança dos bandidos em uma lanchonete, a mocinha ingênua e de voz de criança, o jeitão relaxado e improvisado do filme inteiro. Aliás a cena na lanchonete é inesquecível. Ela nada tem de especial e incrivelmente tem tudo de que o cinema precisa. Antes eles fazem um minuto de silêncio por não ter nada de bom para dizer ( certos filmes deveriam ter duas horas de silêncio ), e depois improvisam a dança que é encantadora. O sorriso de Anna Karina ao final é deleite puro.
É neste filme também que ocorre a famosa cena do Louvre, que é visto pelos três em nove minutos ( cena que Bertolucci cita em seu filme com Eva Green ). É outro improviso entre vários outros.
Destaco também a fotografia natural de Raoul Coutard e esse é um segredo de Godard. Seus filmes naturais davam certo porque Raoul sabia filmar tudo em todo lugar com qualquer luz e em qualquer situação. Este filme é todo de rios sujos, ruas feias, árvores nuas, neblina e lama. Talvez o personagem mais importante seja esse ambiente úmido e pobre.
Eu sou apaixonado por Anna Karina. Então prefiro nada mais dizer a não ser que Jean Luc Godard foi grande enquanto ela esteve a seu lado. Depois dela, o quase nada.
Imperfeito, chato, rustico, improvisado e muito inspirador. Assistir este filme é injeção de vontade de criar. Godard não fazia grandes filmes, fazia peças de desejo de se fazer. Este filme dá esse desejo.
Não é pouco.
O filme foi feito em 25 dias e nesse ano Godard lançou 3 filmes. E meio.
É sobre uma dupla de gatunos que envolve uma mocinha ingênua em crime. Roubarão a casa onde ela vive com a tia. Isso dito, o filme é tudo o que um filme de crime não deve ser. Ele divaga, se desvia. Quando surge a vontade de falar de um livro, se fala de um livro. Se há o desejo de dançar, se dança. E se surge o vazio de ideias, nasce o silêncio. Longe do realismo e longe de Hollywood, o filme é um quase nada, uma desconstrução que diz em alto e bom som: -Fazer um filme é uma brincadeira!!!! Nada há de sagrado nisto!!!!!
Bem, se voce é Godard a coisa anda. O problema é que um monte de gente acreditou neste filme e passou a filmar tudo o que vinha à cabeça. Voce conhece o resultado...
Quando vejo este filme sempre penso em meus jovens colegas de USP. O espírito do filme é o mesmo. Uma ingênua vontade de tentar coisas diferentes. Só que o filme veio 50 anos antes. E ainda é magnificamente jovem.
Quentin Tarantino nomeou sua produtora com o nome deste filme. E em Pulp Fiction várias cenas são homenagens a o que vemos aqui. O papo furado dos bandidos no carro, a dança dos bandidos em uma lanchonete, a mocinha ingênua e de voz de criança, o jeitão relaxado e improvisado do filme inteiro. Aliás a cena na lanchonete é inesquecível. Ela nada tem de especial e incrivelmente tem tudo de que o cinema precisa. Antes eles fazem um minuto de silêncio por não ter nada de bom para dizer ( certos filmes deveriam ter duas horas de silêncio ), e depois improvisam a dança que é encantadora. O sorriso de Anna Karina ao final é deleite puro.
É neste filme também que ocorre a famosa cena do Louvre, que é visto pelos três em nove minutos ( cena que Bertolucci cita em seu filme com Eva Green ). É outro improviso entre vários outros.
Destaco também a fotografia natural de Raoul Coutard e esse é um segredo de Godard. Seus filmes naturais davam certo porque Raoul sabia filmar tudo em todo lugar com qualquer luz e em qualquer situação. Este filme é todo de rios sujos, ruas feias, árvores nuas, neblina e lama. Talvez o personagem mais importante seja esse ambiente úmido e pobre.
Eu sou apaixonado por Anna Karina. Então prefiro nada mais dizer a não ser que Jean Luc Godard foi grande enquanto ela esteve a seu lado. Depois dela, o quase nada.
Imperfeito, chato, rustico, improvisado e muito inspirador. Assistir este filme é injeção de vontade de criar. Godard não fazia grandes filmes, fazia peças de desejo de se fazer. Este filme dá esse desejo.
Não é pouco.
DIVAGANDO, ANDANDO, COMPRANDO, LENDO
Cheguei então aos 2.500 dvds. Todos devidamente divididos em gêneros. Está dificil comprar novos títulos. Vários que já tenho são relançados e as caixas que eu tanto gostava não são mais produzidas. Olho e olho as novidades e não há nada....
Estou na livraria. Ouço um cara falar que finalmente terminou "EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO". E uma mulher, bonita, pergunta por "A NOITE DE SÃO LOURENÇO" dos irmãos Taviani. Um menino olha um livro sobre Billy Wilder e um barbudo leva tudo de Buster Keaton.
Alguém escreveu que o cinema ( adulto ), é hoje um tipo de "teatro". Meia dúzia de adoradores que estão sempre discutindo e revendo os Beckett/ Pinter e Brecht de sempre. Uma espécie de igreja pagã. Acho que todos os fiéis estavam hoje na livraria. Uma menina comprou um filme silencioso de Griffith.
Madonna dirigiu um filme e o roteirista diz que ela é louca por Jean-Luc Godard. Madonna não é baladeira, fica em casa vendo filmes. Já viu "tudo" e adora a nouvelle-vague. Tenho saudades de quando comprei meus dvds de nouvelle-vague. Redescobrir a NV é uma experiência deliciosa. Dá a sensação de que dá pra se fazer tudo em cinema. Voce se sente livre. Tem um monte de diretores de quarenta anos que endeusam BANDE A PART ou WEEK-END. É a sedução da liberdade.
Vejo numa revista que Hilda Hist morava isolada com 90 cães. Ela leu um livro de Niko Kazantzakis que dizia que a solidão é primordial ao criador. Então ela largou amores e badalações e se isolou pra criar. E conseguiu. Eu conheço esse livro do Kazantzakis. É TESTAMENTO PARA EL GRECO, um livro que todo mundo devia ler. Nele, Niko está em crise. Deixa de ser cristão e vira budista. Mas descobre que Cristo, Buda, Maomé são todos o mesmo. Ele se isola, e tenta conciliar com esse isolamento seu interesse pelo mundo. Ele segue Lenine, ele se interessa pela história, conhece a guerra. O livro exibe esse conflito. Uma alma que deseja a solidão para encontrar a criação e o Criador. E um homem que deseja a vida ativa, o mundo, os seres. Preciso reler. Li esse livro em 1989. Nunca o reli.
Walter Carvalho fala que toda a criatividade de um cara se faz entre o fim da infância e o inicio da adolescência. Entre os 11 e os 13 anos. É verdade. É a genuína verdade.
Compro A NOVIÇA REBELDE. Nunca vi esse filme. É aquele que bateu o recorde de bilheteria de E O VENTO LEVOU, em 1965. Nunca tive vontade de ver. Mas ele está sendo reavaliado e estou curioso. Julie Andrews é adorável. E compro também o DIVÓRCIO À ITALIANA, que saiu finalmente em dvd e que aconselho a todo mundo. É uma obra-prima da comédia humanista italiana. E tem um dos três maiores desempenhos de Mastroianni. Ele faz um conquistador de cidade pequena, super vaidoso, machista, tolo. É uma coisa de impressionar. Marcello foi um rei dos reis. O bigode que ele usa já vale o filme.
Lançaram as bios de Pedro Nava. São milhares de páginas com as lembranças de Pedro. Ele escreve à Proust. Lerei um dia.
Tudo sempre passa por Marcel Proust. Nosso mundo é um círculo em que as coisas retornam e se desfazem. Para depois serem retomadas. E reinterpretadas. É como se tudo fosse sempre agora.
Tem um Henry Fielding em capa dura e ilustrado que muito me interessa. Fielding de luxo no Brasil....É um país estranho pacas.
Terminei de ler MINHA VIDA DE MENINA, de Helena Morley.
Helena era filha de ingleses. Escreveu entre os 12 e os 13 anos um diário. O livro, extraordinário, é esse diário. É hoje um clássico, traduzido entre outros por Elizabeth Bishop para o inglês. Morley mostra o que era o interior de Minas em 1895. Muita igreja, muita fruta roubada no pé, pescarias e uma familia imensa.
Os filhos eram criados por mãe, pai, tia, avó, primos, vizinhos, padres e professores. Hoje quem os cria? Na época do livro ficar só no quarto era uma coisa de gente louca. Comer sózinho era impensável. São conversas longas à noite, idas às festas, casamentos e enterros. E os negros.
As pessoas pegavam negrinhos pra criar em casa. A escravidão não existia mais, mas os negros estavam sem posição, meio perdidos. Então a gente lê sobre montes de negros, alguns morando nas casas grandes, fazendo bicos, e tendo filhos que os brancos recolhem.
É um mundo longe de nós. Tudo o que as meninas querem é comida. Doces e brincadeiras são toda a felicidade da vida. E a figura paterna, sempre distante. Livro bonito.
Estou na livraria. Ouço um cara falar que finalmente terminou "EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO". E uma mulher, bonita, pergunta por "A NOITE DE SÃO LOURENÇO" dos irmãos Taviani. Um menino olha um livro sobre Billy Wilder e um barbudo leva tudo de Buster Keaton.
Alguém escreveu que o cinema ( adulto ), é hoje um tipo de "teatro". Meia dúzia de adoradores que estão sempre discutindo e revendo os Beckett/ Pinter e Brecht de sempre. Uma espécie de igreja pagã. Acho que todos os fiéis estavam hoje na livraria. Uma menina comprou um filme silencioso de Griffith.
Madonna dirigiu um filme e o roteirista diz que ela é louca por Jean-Luc Godard. Madonna não é baladeira, fica em casa vendo filmes. Já viu "tudo" e adora a nouvelle-vague. Tenho saudades de quando comprei meus dvds de nouvelle-vague. Redescobrir a NV é uma experiência deliciosa. Dá a sensação de que dá pra se fazer tudo em cinema. Voce se sente livre. Tem um monte de diretores de quarenta anos que endeusam BANDE A PART ou WEEK-END. É a sedução da liberdade.
Vejo numa revista que Hilda Hist morava isolada com 90 cães. Ela leu um livro de Niko Kazantzakis que dizia que a solidão é primordial ao criador. Então ela largou amores e badalações e se isolou pra criar. E conseguiu. Eu conheço esse livro do Kazantzakis. É TESTAMENTO PARA EL GRECO, um livro que todo mundo devia ler. Nele, Niko está em crise. Deixa de ser cristão e vira budista. Mas descobre que Cristo, Buda, Maomé são todos o mesmo. Ele se isola, e tenta conciliar com esse isolamento seu interesse pelo mundo. Ele segue Lenine, ele se interessa pela história, conhece a guerra. O livro exibe esse conflito. Uma alma que deseja a solidão para encontrar a criação e o Criador. E um homem que deseja a vida ativa, o mundo, os seres. Preciso reler. Li esse livro em 1989. Nunca o reli.
Walter Carvalho fala que toda a criatividade de um cara se faz entre o fim da infância e o inicio da adolescência. Entre os 11 e os 13 anos. É verdade. É a genuína verdade.
Compro A NOVIÇA REBELDE. Nunca vi esse filme. É aquele que bateu o recorde de bilheteria de E O VENTO LEVOU, em 1965. Nunca tive vontade de ver. Mas ele está sendo reavaliado e estou curioso. Julie Andrews é adorável. E compro também o DIVÓRCIO À ITALIANA, que saiu finalmente em dvd e que aconselho a todo mundo. É uma obra-prima da comédia humanista italiana. E tem um dos três maiores desempenhos de Mastroianni. Ele faz um conquistador de cidade pequena, super vaidoso, machista, tolo. É uma coisa de impressionar. Marcello foi um rei dos reis. O bigode que ele usa já vale o filme.
Lançaram as bios de Pedro Nava. São milhares de páginas com as lembranças de Pedro. Ele escreve à Proust. Lerei um dia.
Tudo sempre passa por Marcel Proust. Nosso mundo é um círculo em que as coisas retornam e se desfazem. Para depois serem retomadas. E reinterpretadas. É como se tudo fosse sempre agora.
Tem um Henry Fielding em capa dura e ilustrado que muito me interessa. Fielding de luxo no Brasil....É um país estranho pacas.
Terminei de ler MINHA VIDA DE MENINA, de Helena Morley.
Helena era filha de ingleses. Escreveu entre os 12 e os 13 anos um diário. O livro, extraordinário, é esse diário. É hoje um clássico, traduzido entre outros por Elizabeth Bishop para o inglês. Morley mostra o que era o interior de Minas em 1895. Muita igreja, muita fruta roubada no pé, pescarias e uma familia imensa.
Os filhos eram criados por mãe, pai, tia, avó, primos, vizinhos, padres e professores. Hoje quem os cria? Na época do livro ficar só no quarto era uma coisa de gente louca. Comer sózinho era impensável. São conversas longas à noite, idas às festas, casamentos e enterros. E os negros.
As pessoas pegavam negrinhos pra criar em casa. A escravidão não existia mais, mas os negros estavam sem posição, meio perdidos. Então a gente lê sobre montes de negros, alguns morando nas casas grandes, fazendo bicos, e tendo filhos que os brancos recolhem.
É um mundo longe de nós. Tudo o que as meninas querem é comida. Doces e brincadeiras são toda a felicidade da vida. E a figura paterna, sempre distante. Livro bonito.
BERGMAN/ JOHN FORD/ BOORMAN/ GODARD/ CHABROL/ CAROL REED/ ANTHONY MANN
PERSONA de Ingmar Bergman com Bibi Andersson e Liv Ullman
Dificil classificar este filme. Todas as notas que dou têm relação com o prazer. Não dou um dez porque o filme é importante ou complexo. O dez é dado ao filme que me dá um supremo prazer, seja estético, seja emotivo, seja moral. Mas como falar de Persona? O filme tem a profundidade simbólica dos melhores sonhos, mas ao mesmo tempo é árido. Nenhum prazer existe em sua visão. Assistir este filme é sentir desconforto, medo e até mesmo angústia. Não há como em outros filmes do mestre, o alívio prazeroso da bela imagem e dos atores geniais. Aqui tudo é dor. Impossível a mim dar uma nota.
OS DEZ MANDAMENTOS de Cecil B.de Mille com Charlton Heston, Yul Brynner e Anne Baxter
Aqui tudo é circo. Cecil se despede do cinema com imensa produção. São milhares de figurantes, bichos e cenários gigantes. Heston é Moisés e Brynner é o faraó. Anne está uma delícia como Nefertiti. Tem tudo nesse enredo de crioulo doido: tempestades, milagres, a voz de Deus, escravos, estupro e lutas. Profundo como um episódio de cartoon. Estranhamente é ainda divertido em sua cafonice esperta. Nota 6.
A VIDA ÍNTIMA DE SHERLOCK HOLMES de Billy Wilder com Robert Stephens e Colin Blakely
Na primeira parte vemos Holmes como um tipo de dandy gay viciado em cocaína. Watson é seu simplório amigo que como bom vitoriano finge nada perceber. É um tipo de comédia suave. Mas quando acontece o crime e Holmes passa a tentar o resolver o filme se perde. O caso é óbvio e simples demais para um detetive tão genial. È um dos últimos filmes de Billy e foi imenso fracasso. Nota 4.
DEPOIS DO VENDAVAL de John Ford com John Wayne, Maureen O'Hara e Victor McLaglen
Deixa eu contar: este é o filme favorito de meu pai. Assisti com ele quando eu tinha 10 anos de idade, na Globo, sábado às 21 horas. Lembro que achei o filme muito bobo, muito alegre e muito cheio de socos. Na adolescência passei a detestar esse tipo de filme ( como detestei tudo que lembrasse meu pai ). Mas após os 30 anos comecei a aceitar esses filmes, a ver sua poesia, seu imenso valor mitico. É o maior sucesso em bilheteria de Ford e ganhou Oscar. Conta a história de americano que vai a Irlanda ( Galway ) comprar casa que foi de seu pai. Lá, ele se enamora de vizinha ( Maureen maravilhosa ) e briga com grande valentão do lugar. O filme mostra a Irlanda do folclore, onde todos bebem e brigam, riem e fazem tudo beeeem devagar. Ford cria seu universo fordiano, mundo onde os mitos e os símbolos vivem. O filme é de uma comovente simplicidade e de uma esfusiante beleza. Wayne irrompe como rei da masculinidade e Maureen é a fêmea ideal. Lembrete de outro mundo possível ( extinto? ). Nota DEZ!!!!!!!!!!!!!!!
XEQUE-MATE de Paul McGuiguan com Josh Hartnett e Lucy Liu
O que significa este filme? O ponto mais baixo em que uma diversão pode chegar? Observem: um filme ruim, antes, era um filme mal feito. Um filme ruim agora, como é este, é um filme mau. Violência pornográfica, roteiro imbecil e atores deploráveis ( o tal Josh mal sabe falar ). Há participações de atores de verdade ( infelizmente muito curtas ): Ben Kingsley e Morgan Freeman e de dois bons tipos: Bruce Willis e Stanley Tucci. Mas este lixo é inominável. Nota ZERO.
EXCALIBUR de John Boorman com Helen Mirren, Cherie Lunghi, Liam Neeson, Nicol Williamson
Uma fascinante viagem por mundo interior. Percebemos por entre as brumas nosso mundo e nossos símbolos mais imorredouros. Jung mora em cada personagem. Quando esta saga termina, sentimos que alguma coisa nos foi fixada. Há uma riquesa imensa nestas imagens. As cenas de Lancelot são as melhores, exemplos simples do que é o amor cortês. Nota 8.
FEDORA de Billy Wilder com William Holden e Marthe Keller
Último filme de Billy. Sem dúvida é o pior filme já feito por um grande diretor. Chega a dar pena. Trata-se de uma gororoba mal temperada sobre atriz anciã que tenta voltar ao cinema. Diálogos risíveis e interpretações lamentáveis. Nota Zero.
BANDE À PART de Jean-Luc Godard com Anna Karina, Sammi Frey e Claude Brasseur
Liberdade em forma de filme. Jean-Luc pega tudo que esperamos e nos devolve transformado. Os atores brincam e nos encantam, Anna dá um show no papel de uma bobona. O filme é leve, jovem, solto e soberbamente anárquico- mas atenção! É para amantes de cinema, sua magia está no filme em sí, não em sua "história". Nota 9.
ALPHAVILLE de Jean-Luc Godard com Anna Karina e Eddie Constantine
Godard consegue nos levar à ficção científica sem criar cenários ou efeitos. Ele filma a Paris de 1965 de um modo "esquisito", e nos faz crer que aquilo é um "outro mundo". Em que pese essa habilidade, este é de todos os seus filmes da primeira fase ( a fase Anna Karina ), o menos interessante. Um James Bond de vanguarda, ou um Godard em sci-fi. Nota 4.
MULHERES FÁCEIS de Claude Chabrol com Bernadette Lafond e Stephane Audran
É a história de 4 moças em Paris. Seus amores ( ou não ), bebedeiras, orgias e seu trabalho alienante. O filme é bastante ousado para a época e tem um final hitchcockiano. Lafond é uma comediante maravilhosa, tudo nela é ironia. Chabrol jamais foi um gênio, mas era um cineasta seguro, afiado, instigante. Nota 7.
O ÍDOLO CAÍDO de Carol Reed com Ralph Richardson e Michele Morgan
Na embaixada da França em Londres, um menino apegado a mordomo, presencia sua infidelidade e no processo descobre o que significa a palavra "verdade". Este filme, feito por um dos 3 maiores diretores ingleses, é uma obra-prima de suspense. O final me deixou com o coração na mão!!!! Detestamos o menino cada vez mais e nos compadecemos do mordomo e de sua amante. Cenários belos e labirínticos e fotografia exemplar de Georges Périnal. O grande ator shakespeareano, Ralph Richardson, mostra todo o medo e toda a aceitação do destino do patético mordomo. O filme, original e asfixiante, é uma jóia do melhor momento do cinema inglês. Veja e se apaixone por esse muito grande diretor. Nota DEZ!!!!
O HOMEM DOS OLHOS FRIOS de Anthony Mann com Henry Fonda e Anthony Perkins
Mann nunca errava???? A primeira cena deste western já é antológica, um passeio em grua, num preto e branco brilhante, pela cidade. Mas o filme é todo assim, uma aula de cinema. Fonda está estupendo como o herói amargo e quieto, exemplo de virilidade bem resolvida. Seus olhos são os olhos de um anjo caído. Tudo neste filme caminha para seu final catártico. Quem desejar saber o que é um herói e para que serve uma aventura, que veja este monumento. Anthony Mann, mestre de westerns que se fazem mitos, dava estatura de arte filosófica a filmes aparentemente banais. Um diretor perfeito. Nota DEZ!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Dificil classificar este filme. Todas as notas que dou têm relação com o prazer. Não dou um dez porque o filme é importante ou complexo. O dez é dado ao filme que me dá um supremo prazer, seja estético, seja emotivo, seja moral. Mas como falar de Persona? O filme tem a profundidade simbólica dos melhores sonhos, mas ao mesmo tempo é árido. Nenhum prazer existe em sua visão. Assistir este filme é sentir desconforto, medo e até mesmo angústia. Não há como em outros filmes do mestre, o alívio prazeroso da bela imagem e dos atores geniais. Aqui tudo é dor. Impossível a mim dar uma nota.
OS DEZ MANDAMENTOS de Cecil B.de Mille com Charlton Heston, Yul Brynner e Anne Baxter
Aqui tudo é circo. Cecil se despede do cinema com imensa produção. São milhares de figurantes, bichos e cenários gigantes. Heston é Moisés e Brynner é o faraó. Anne está uma delícia como Nefertiti. Tem tudo nesse enredo de crioulo doido: tempestades, milagres, a voz de Deus, escravos, estupro e lutas. Profundo como um episódio de cartoon. Estranhamente é ainda divertido em sua cafonice esperta. Nota 6.
A VIDA ÍNTIMA DE SHERLOCK HOLMES de Billy Wilder com Robert Stephens e Colin Blakely
Na primeira parte vemos Holmes como um tipo de dandy gay viciado em cocaína. Watson é seu simplório amigo que como bom vitoriano finge nada perceber. É um tipo de comédia suave. Mas quando acontece o crime e Holmes passa a tentar o resolver o filme se perde. O caso é óbvio e simples demais para um detetive tão genial. È um dos últimos filmes de Billy e foi imenso fracasso. Nota 4.
DEPOIS DO VENDAVAL de John Ford com John Wayne, Maureen O'Hara e Victor McLaglen
Deixa eu contar: este é o filme favorito de meu pai. Assisti com ele quando eu tinha 10 anos de idade, na Globo, sábado às 21 horas. Lembro que achei o filme muito bobo, muito alegre e muito cheio de socos. Na adolescência passei a detestar esse tipo de filme ( como detestei tudo que lembrasse meu pai ). Mas após os 30 anos comecei a aceitar esses filmes, a ver sua poesia, seu imenso valor mitico. É o maior sucesso em bilheteria de Ford e ganhou Oscar. Conta a história de americano que vai a Irlanda ( Galway ) comprar casa que foi de seu pai. Lá, ele se enamora de vizinha ( Maureen maravilhosa ) e briga com grande valentão do lugar. O filme mostra a Irlanda do folclore, onde todos bebem e brigam, riem e fazem tudo beeeem devagar. Ford cria seu universo fordiano, mundo onde os mitos e os símbolos vivem. O filme é de uma comovente simplicidade e de uma esfusiante beleza. Wayne irrompe como rei da masculinidade e Maureen é a fêmea ideal. Lembrete de outro mundo possível ( extinto? ). Nota DEZ!!!!!!!!!!!!!!!
XEQUE-MATE de Paul McGuiguan com Josh Hartnett e Lucy Liu
O que significa este filme? O ponto mais baixo em que uma diversão pode chegar? Observem: um filme ruim, antes, era um filme mal feito. Um filme ruim agora, como é este, é um filme mau. Violência pornográfica, roteiro imbecil e atores deploráveis ( o tal Josh mal sabe falar ). Há participações de atores de verdade ( infelizmente muito curtas ): Ben Kingsley e Morgan Freeman e de dois bons tipos: Bruce Willis e Stanley Tucci. Mas este lixo é inominável. Nota ZERO.
EXCALIBUR de John Boorman com Helen Mirren, Cherie Lunghi, Liam Neeson, Nicol Williamson
Uma fascinante viagem por mundo interior. Percebemos por entre as brumas nosso mundo e nossos símbolos mais imorredouros. Jung mora em cada personagem. Quando esta saga termina, sentimos que alguma coisa nos foi fixada. Há uma riquesa imensa nestas imagens. As cenas de Lancelot são as melhores, exemplos simples do que é o amor cortês. Nota 8.
FEDORA de Billy Wilder com William Holden e Marthe Keller
Último filme de Billy. Sem dúvida é o pior filme já feito por um grande diretor. Chega a dar pena. Trata-se de uma gororoba mal temperada sobre atriz anciã que tenta voltar ao cinema. Diálogos risíveis e interpretações lamentáveis. Nota Zero.
BANDE À PART de Jean-Luc Godard com Anna Karina, Sammi Frey e Claude Brasseur
Liberdade em forma de filme. Jean-Luc pega tudo que esperamos e nos devolve transformado. Os atores brincam e nos encantam, Anna dá um show no papel de uma bobona. O filme é leve, jovem, solto e soberbamente anárquico- mas atenção! É para amantes de cinema, sua magia está no filme em sí, não em sua "história". Nota 9.
ALPHAVILLE de Jean-Luc Godard com Anna Karina e Eddie Constantine
Godard consegue nos levar à ficção científica sem criar cenários ou efeitos. Ele filma a Paris de 1965 de um modo "esquisito", e nos faz crer que aquilo é um "outro mundo". Em que pese essa habilidade, este é de todos os seus filmes da primeira fase ( a fase Anna Karina ), o menos interessante. Um James Bond de vanguarda, ou um Godard em sci-fi. Nota 4.
MULHERES FÁCEIS de Claude Chabrol com Bernadette Lafond e Stephane Audran
É a história de 4 moças em Paris. Seus amores ( ou não ), bebedeiras, orgias e seu trabalho alienante. O filme é bastante ousado para a época e tem um final hitchcockiano. Lafond é uma comediante maravilhosa, tudo nela é ironia. Chabrol jamais foi um gênio, mas era um cineasta seguro, afiado, instigante. Nota 7.
O ÍDOLO CAÍDO de Carol Reed com Ralph Richardson e Michele Morgan
Na embaixada da França em Londres, um menino apegado a mordomo, presencia sua infidelidade e no processo descobre o que significa a palavra "verdade". Este filme, feito por um dos 3 maiores diretores ingleses, é uma obra-prima de suspense. O final me deixou com o coração na mão!!!! Detestamos o menino cada vez mais e nos compadecemos do mordomo e de sua amante. Cenários belos e labirínticos e fotografia exemplar de Georges Périnal. O grande ator shakespeareano, Ralph Richardson, mostra todo o medo e toda a aceitação do destino do patético mordomo. O filme, original e asfixiante, é uma jóia do melhor momento do cinema inglês. Veja e se apaixone por esse muito grande diretor. Nota DEZ!!!!
O HOMEM DOS OLHOS FRIOS de Anthony Mann com Henry Fonda e Anthony Perkins
Mann nunca errava???? A primeira cena deste western já é antológica, um passeio em grua, num preto e branco brilhante, pela cidade. Mas o filme é todo assim, uma aula de cinema. Fonda está estupendo como o herói amargo e quieto, exemplo de virilidade bem resolvida. Seus olhos são os olhos de um anjo caído. Tudo neste filme caminha para seu final catártico. Quem desejar saber o que é um herói e para que serve uma aventura, que veja este monumento. Anthony Mann, mestre de westerns que se fazem mitos, dava estatura de arte filosófica a filmes aparentemente banais. Um diretor perfeito. Nota DEZ!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
BANDE À PART- GODARD E ANNA KARINA
Ainda é mais moderno que os muderninhos. Basta dizer que Tarantino não se cansa de o homenagear. Gus Van Sant, Soderbergh (às vezes ), Reittman.
Primeiro: dois caras andam de carro falando abobrinhas. Eles planejam roubo. Para isso irão envolver uma muito tola menina. Mas os três são de uma idiotice absurda. O filme não tem "inteligência". Tudo que é chavão em filmes de roubo : planificação, esperteza, charme e elegância; é aqui subvertido.
Segundo: Surge a menina. Linda como Anna Karina é. A mais bela. Mas é uma tolinha ingênua que se deixa levar. Seu caso de amor com um dos ladrões é o contrário de todo caso de amor em cinema: é estúpido e sem poesia.
Terceiro: A casa da família rica onde ela trabalha. É mal decorada e feia. O filme é cheio de cenários sujos. O carro dos bandidos nada tem de cool. Mas atenção: essa inversão de expectativas não é uma sátira. Nem é a tal "vida real". É apenas a carinhosa brincadeira de um cineasta de gênio que ama o cinema. E a vida. Em Jean-Luc a vida é sempre valorizada.
Quarto: Cena em bar. Falta assunto e eles fazem um minuto de silêncio. O filme começa a virar anarquia. Uma dança dos 3 ( que foi homenageada voce sabe onde ). O avesso de uma cena de musical: não tem ensaio, ninguém sabe dançar, não há cenário. Mas é um momento dos mais "cinematográficos" da arte visual. Aqui se inventa o video-clip bacaninha. A saia xadrez de Anna, com meias pretas, é tão atual quanto é todo mangá.
Quinto: O crime é o contrário de todo crime em filme. Começa pelo cão amigo. Tudo dá certo e tudo é errado. Nada de suspense, nada de ação, nada de nervosismo. Uma violência sem crueldade. O fim é um fim sem final.
Para se amar Godard é preciso amar o cinema. Ele não fala nada que não seja filme. Tudo em sua obra é homenagem a cinemas e a películas. Cada fotograma é exibição de talento, esbanjamento de um dom. Ele tem prazer em ir sempre contra a expectativa, ele brinca, sorri, e nos convida a não levar o filme a sério. Ele quer que amemos os personagens e o ato de filmar.
E é isso que sinto e vejo em seus filmes: sinto o prazer que houve em o fazer, e vejo Godard detrás da cãmera, brincando de filmar e soltando idéias ( novas então ) atrás de idéias.
Ele foi grande enquanto teve Anna a seu lado. Quando ela parte, seus filmes se tornam sérios demais. Perde o humor.
Se vão os closes no rosto de Anna Karina, os imensos olhos que sabem se mover e olhar para o lado, se vão as piscadelas que ela dá à câmera, se vai o corpo ágil e flexível de Anna, a boca que sorrí delicadamente. A mais bela.
Este é o mais árido dos oito filmes iniciais de Godard, mas talvez seja o mais genial. É um caderno de rabiscos de um grande artista. Coisa assim, jamais.
Primeiro: dois caras andam de carro falando abobrinhas. Eles planejam roubo. Para isso irão envolver uma muito tola menina. Mas os três são de uma idiotice absurda. O filme não tem "inteligência". Tudo que é chavão em filmes de roubo : planificação, esperteza, charme e elegância; é aqui subvertido.
Segundo: Surge a menina. Linda como Anna Karina é. A mais bela. Mas é uma tolinha ingênua que se deixa levar. Seu caso de amor com um dos ladrões é o contrário de todo caso de amor em cinema: é estúpido e sem poesia.
Terceiro: A casa da família rica onde ela trabalha. É mal decorada e feia. O filme é cheio de cenários sujos. O carro dos bandidos nada tem de cool. Mas atenção: essa inversão de expectativas não é uma sátira. Nem é a tal "vida real". É apenas a carinhosa brincadeira de um cineasta de gênio que ama o cinema. E a vida. Em Jean-Luc a vida é sempre valorizada.
Quarto: Cena em bar. Falta assunto e eles fazem um minuto de silêncio. O filme começa a virar anarquia. Uma dança dos 3 ( que foi homenageada voce sabe onde ). O avesso de uma cena de musical: não tem ensaio, ninguém sabe dançar, não há cenário. Mas é um momento dos mais "cinematográficos" da arte visual. Aqui se inventa o video-clip bacaninha. A saia xadrez de Anna, com meias pretas, é tão atual quanto é todo mangá.
Quinto: O crime é o contrário de todo crime em filme. Começa pelo cão amigo. Tudo dá certo e tudo é errado. Nada de suspense, nada de ação, nada de nervosismo. Uma violência sem crueldade. O fim é um fim sem final.
Para se amar Godard é preciso amar o cinema. Ele não fala nada que não seja filme. Tudo em sua obra é homenagem a cinemas e a películas. Cada fotograma é exibição de talento, esbanjamento de um dom. Ele tem prazer em ir sempre contra a expectativa, ele brinca, sorri, e nos convida a não levar o filme a sério. Ele quer que amemos os personagens e o ato de filmar.
E é isso que sinto e vejo em seus filmes: sinto o prazer que houve em o fazer, e vejo Godard detrás da cãmera, brincando de filmar e soltando idéias ( novas então ) atrás de idéias.
Ele foi grande enquanto teve Anna a seu lado. Quando ela parte, seus filmes se tornam sérios demais. Perde o humor.
Se vão os closes no rosto de Anna Karina, os imensos olhos que sabem se mover e olhar para o lado, se vão as piscadelas que ela dá à câmera, se vai o corpo ágil e flexível de Anna, a boca que sorrí delicadamente. A mais bela.
Este é o mais árido dos oito filmes iniciais de Godard, mas talvez seja o mais genial. É um caderno de rabiscos de um grande artista. Coisa assim, jamais.
SHANE/GODARD/DON CAMILLO/PETER O'TOOLE
TROCANDO AS BOLAS de John Landis com Dan Akroyd, Eddie Murphy e Jamie Lee Curtis
Uma dupla de velhos milionários ( Don Ameche e Ralph Bellamy ) faz uma aposta e transforma o sem-teto Murphy em rico executivo. Não é muito engraçado. Causa tristeza ver nos extras Eddie dizer hoje, que desde esse filme ( de 1983 ) tudo o que ele fez foi só por dinheiro. O prazer de atuar se encerrou nesse filme... De qualquer modo, este é um exemplo de uma grande época da comedia americana, a da geração de Steve Martin, John Belushi, Chevy Chase, Leslie Nielsen, Bill Murray e Martin Short. Nota 5.
DON CAMILLO de Julien Duvivier com Fernandel e Gino Cervi
A série de Don Camillo fez enorme sucesso popular na Europa dos anos 50. Fernandel era um superstar por lá e assisiti este dvd recém lançado pensando em ver uma comédia tolinha e ingênua, bem nostálgica. Qual não foi minha surpresa ( boa ) ao me deparar com uma comédia profundamente humana, real e com enorme viés político !!!! Fernandel é um padre de direita, Cervi é o prefeito, comunista, e o filme trata das birras dos dois. Didaticamente se mostra o lado "rato de igreja" da direita e o lado "só nós sabemos a verdade" da esquerda. O roteiro é maravilhosamente criativo, coisas acontecem todo o tempo, o filme surpreende e jamais aborrece. Este é o tipo de filme familiar, popular e inteligente cuja receita foi perdida no histerismo do mal gosto atual. ( Claro que existem excessões ! Mas são tão poucas.... ) Nota 7.
VELOZES E FURIOSOS de Rob Cohen com Vin Diesel e Paul Walker
O fato de em 2000 eu não ter morrido na avenida Giovanni Gronchi às 3 da manhã de um sábado atesta a existencia de anjos da guarda. Após ver este filme em estréia no cinema, saí dirigindo feito um doido, insandecido pela adrenalina que o filme tem. Revendo-o agora, noto que filmes de muita adrenalina ( como Matrix, que é o melhor exemplo ) tendem a parecer embustes na segunda olhada. É como se já estivéssemos vacinados contra a adrenalina do filme e ela não mais fizesse efeito. Na verdade são filmes feitos com esse propósito : veja e jogue fora. Mas que os carros são legais, são !!!!!! A trilha sonora é do cacete também. Nota 5.
KES de Ken Loach
Um poema sobre um garoto tentando sobreviver em meio a aridez geral. O filme chega a doer de tão belo. Tem também uma partida de futebol que é comédia magnífica ! ( Porque os garotos escolhem o Totenham ? Porque os Hotspurs, assim como o Newcastle, sempre foi o time dos proletários ). Filme que dignifica o cinema, enobrece a profissão de diretor e nos faz felizes como espectadores. O segredo é só um : Loach crê no ser-humano. Seu filme é vivo como o adolescente central. Loach vê todo o mal que existe, mas também percebe uma saída. Seu filme é uma luz. Nota Dez.
O RETORNO DE DON CAMILLO de Julien Duvivier com Fernandel e Gino Cervi
Humanismo há neste filme também. Tão bom quanto o primeiro da série, aqui Fernandel mostra quão grande ele foi. Seres humanos de verdade em filme caloroso. Uma delícia ! Nota 7.
CINEMA PARADISO de Giuseppe Tornatore com Philippe Noiret, Brigitte Fossey
Devo ser o único apaixonado por cinema que não gosta deste filme. São 3 intermináveis horas... A primeira parte ainda se mantém, graças aos trechos de grandes filmes e aos cômicos sicilianos que dão um show como o público da sala. A segunda hora é medíocre. Uma boba história de amor adolescente. O filme fica um pouco menos ruim no final, quando o menino já maduro ( feito pelo grande Jacques Perrin ) reencontra seu antigo amor ( é a bela Brigitte Fossey, de Brinquedo Proibido ). Mas já se passaram as 3 horas e estamos chateados. O filme mostra aquilo que se tornou o cinema italiano ( que foi o melhor do mundo entre 45/65 ) : belas imagens e excesso de sentimento. Nota 2.
A CLASSE GOVERNANTE de Peter Medak com Peter O'Toole e Alastair Sim
Este é um exemplo daquilo que sempre repito : que entre 62/78 o mundo esteve completamente louco. Que é isto ? A história é a de um herdeiro inglês ( Peter, ótimo como sempre ) que pensa ser Jesus Cristo. Ele dorme numa cruz e abençoa todo mundo. Seus parentes fazem de tudo para o internar, mas então ele se torna um ferrenho aristocrata conservador. Crítica a classe dominante inglesa, crítica ao próprio cinema. O filme é doido, torto, exagerado e até ridículo. Mas não deixa de ser corajoso. Quando o ví na TV, aos 15 anos, fiquei muito tocado. Hoje, após tantos filmes melhores e piores... Nota 4.
O GATO E O CANÁRIO de Paul Leni
Cada vez mais percebo que do cinema mudo o que sobrevive são suas comédias e seus filmes de aventuras ( piratas e sheiks ). Este suspense de terror é chato chato chato... Um excesso de diálogos, excesso de pretensão, excesso de tudo. Nota 1.
UMA MULHER É UMA MULHER de Jean-Luc Godard com Anna Karina, Jean-Claude Brialy e Jean-Paul Belmondo
Nada, ainda hoje, é mais jovem em cinema que o jovem Godard. Ele brinca com filmes. Aqui ele destrói o som, destrói o romance, rí dos cenários. Anna está apaixonante, linda como o paraíso. Belmondo É o cara ! E Brialy exibe seu mal-humor costumeiro. O filme mostra o que é a alma feminina ? Sei lá ! Isso importa ? Temos aqui uma alegoria sobre a felicidade de se viver e de se fazer um filme. Que mais pode importar ? As cores são de sonho ( Raoul Coutard ) a trilha sonora é genial ( Michel Legrand ) e tem Anna Karina.... Nota Dez.
O CAMPO DOS SONHOS de Phil Alden Robinson com Kevin Costner, Ray Liotta e Amy Madigan
Vamos aos fatos : este filme é um cult na América. Como os filmes de Capra, ele é sempre reprisado no natal, e é o que restou da carreira de Costner. É a história de um cara que ouve uma voz lhe mandar construir um campo de beisebol. Ele o faz... James Earl Jones é um escritor recluso e Burt Lancaster ( ele é o cara ! ) faz o fantasma de um ex-jogador. Nos primeiros vinte minutos temos dificuldade em engolir tamanha asneira, mas depois, vemos que o filme é feito com tamanha convicção que nos rendemos : ok, vou me emocionar. O filme é bonito. Nota 6.
MAIS ESTRANHO QUE A FICÇÃO de Marc Foster com Will Ferrell, Maggie Gyllenhall...
Um cara metódico e nerd entra em crise e se apaixona ( como todo chavão ) por maluquinha carente. O filme é só isso. Nada há de original em sua alma. Mas como esta é a era em que se vende o velho maquiado de novo, vamos colocar um rótulo moderninho : vamos fingir que é um filme original e colocar uma escritora ( Emma Thompson, soberbamente excelente, como sempre ) que escreve aquilo que ele vive ! PÕ cara ! Não faz o menor sentido, mas é genial !l cara !!!!! Dustin Hoffman, presença calorosa num filme gélido, faz um professor viciado em café e doces melados. Ferrell foi chamado aqui de bom ator... onde ? Tudo que ele faz é parecer com muito sono. Maggie é mais uma dessas atrizes que desconhecem sabonete. O filme é enganação braba ! Mas serve como retratinho miúdo da depressão atual : cenários frios, luz fraca, gente vazia. Um horror!!!! Nota ZERO!!!!!!
MARES DA CHINA de Tay Garnett com Clarck Gable, Jean Harlow, Rosalind Russel
A Metro não corria riscos. Capitão beberrão conduz navio pelo mar chinês infestado de piratas malaios. De quebra, uma mulher duvidosa o disputa com outra sofisticada. Temos tempestades, ataque pirata, bêbados cômicos, mocinha sexy, fracasso redimido, tiros e piadas. O cinema compensava cada tostão gasto pelo povão em suas salas. Os atores dão aquilo que esse povo espera : Gable é o macho, Jean a vagabundinha engraçada, Russel a classuda e ainda tem Wallace Beery como o vilão e Robert Benchley de porre. Isto era a TV da época, um produto fácil de vender. Mas que belo produto!!!! Nota 7.
SHANE de George Stevens com Alan Ladd, Jean Arthur, Van Heflin, Jack Palance
Esta crítica é para meu amigo Fernando. É a quarta vez que vejo Shane ( OS BRUTOS TAMBÉM AMAM ) e é a quarta vez que me emociono. Tudo é mito neste filme : o herói é Lincoln e será Kennedy, a esposa é toda esposa fiel, o marido é o pioneiro, o garoto é o filho arquétipo e o vilão é o MAL. Tem gente que acha que Shane é um fantasma, ou um anjo. Pode ser que sim. Para mim, ele significa o que temos de melhor em nós. Mas vamos ver o trabalho de Stevens. Note como cada tomada se parece com uma pintura. O cão no canto esquerdo, o cavalo no direito, o menino ao centro, o céu imaculado. A morte do cara na lama : o marrom em contraste com o azul, a imagem baixa, o vilão enorme. Plasticamente o filme é irretocável. Mas há mais : os diálogos são curtos, básicos, o que entendemos está no gestual dos atores e nos olhares que se cruzam todo o tempo. Ouvimos milhares de coisas que nunca serão ditas. Shane é amado pela mulher do fazendeiro, mas jamais será dito.
O filme é, depois de CIDADÃO KANE, aquele que mais teve livros publicados sobre seu significado. George Stevens foi, com David Lean, o mais perfeccionista dos diretores. Shane é um monumento ao cinema, um monumento ao western. Seu final, após aquele duelo que é uma aula de edição, é uma ode ao homem e ao heroísmo. Shane se encerra como aquilo que sempre foi, um mito. O roteiro pega todos os chavões e os limpa, purifica. Nos dá a raiz das coisas, o que importa. Não enfeita, revela. Shane é aula de honestidade, tanto de Stevens como diretor, como de Shane como personagem. O filme é aula de saúde.
Enquanto o mundo valer a pena Shane será cultuado. Com os filmes de Ford e Capra, ele mostra o que temos de melhor. Amar este filme é amar o bem. Nota ZILHÕES DE MILHÕES.
Uma dupla de velhos milionários ( Don Ameche e Ralph Bellamy ) faz uma aposta e transforma o sem-teto Murphy em rico executivo. Não é muito engraçado. Causa tristeza ver nos extras Eddie dizer hoje, que desde esse filme ( de 1983 ) tudo o que ele fez foi só por dinheiro. O prazer de atuar se encerrou nesse filme... De qualquer modo, este é um exemplo de uma grande época da comedia americana, a da geração de Steve Martin, John Belushi, Chevy Chase, Leslie Nielsen, Bill Murray e Martin Short. Nota 5.
DON CAMILLO de Julien Duvivier com Fernandel e Gino Cervi
A série de Don Camillo fez enorme sucesso popular na Europa dos anos 50. Fernandel era um superstar por lá e assisiti este dvd recém lançado pensando em ver uma comédia tolinha e ingênua, bem nostálgica. Qual não foi minha surpresa ( boa ) ao me deparar com uma comédia profundamente humana, real e com enorme viés político !!!! Fernandel é um padre de direita, Cervi é o prefeito, comunista, e o filme trata das birras dos dois. Didaticamente se mostra o lado "rato de igreja" da direita e o lado "só nós sabemos a verdade" da esquerda. O roteiro é maravilhosamente criativo, coisas acontecem todo o tempo, o filme surpreende e jamais aborrece. Este é o tipo de filme familiar, popular e inteligente cuja receita foi perdida no histerismo do mal gosto atual. ( Claro que existem excessões ! Mas são tão poucas.... ) Nota 7.
VELOZES E FURIOSOS de Rob Cohen com Vin Diesel e Paul Walker
O fato de em 2000 eu não ter morrido na avenida Giovanni Gronchi às 3 da manhã de um sábado atesta a existencia de anjos da guarda. Após ver este filme em estréia no cinema, saí dirigindo feito um doido, insandecido pela adrenalina que o filme tem. Revendo-o agora, noto que filmes de muita adrenalina ( como Matrix, que é o melhor exemplo ) tendem a parecer embustes na segunda olhada. É como se já estivéssemos vacinados contra a adrenalina do filme e ela não mais fizesse efeito. Na verdade são filmes feitos com esse propósito : veja e jogue fora. Mas que os carros são legais, são !!!!!! A trilha sonora é do cacete também. Nota 5.
KES de Ken Loach
Um poema sobre um garoto tentando sobreviver em meio a aridez geral. O filme chega a doer de tão belo. Tem também uma partida de futebol que é comédia magnífica ! ( Porque os garotos escolhem o Totenham ? Porque os Hotspurs, assim como o Newcastle, sempre foi o time dos proletários ). Filme que dignifica o cinema, enobrece a profissão de diretor e nos faz felizes como espectadores. O segredo é só um : Loach crê no ser-humano. Seu filme é vivo como o adolescente central. Loach vê todo o mal que existe, mas também percebe uma saída. Seu filme é uma luz. Nota Dez.
O RETORNO DE DON CAMILLO de Julien Duvivier com Fernandel e Gino Cervi
Humanismo há neste filme também. Tão bom quanto o primeiro da série, aqui Fernandel mostra quão grande ele foi. Seres humanos de verdade em filme caloroso. Uma delícia ! Nota 7.
CINEMA PARADISO de Giuseppe Tornatore com Philippe Noiret, Brigitte Fossey
Devo ser o único apaixonado por cinema que não gosta deste filme. São 3 intermináveis horas... A primeira parte ainda se mantém, graças aos trechos de grandes filmes e aos cômicos sicilianos que dão um show como o público da sala. A segunda hora é medíocre. Uma boba história de amor adolescente. O filme fica um pouco menos ruim no final, quando o menino já maduro ( feito pelo grande Jacques Perrin ) reencontra seu antigo amor ( é a bela Brigitte Fossey, de Brinquedo Proibido ). Mas já se passaram as 3 horas e estamos chateados. O filme mostra aquilo que se tornou o cinema italiano ( que foi o melhor do mundo entre 45/65 ) : belas imagens e excesso de sentimento. Nota 2.
A CLASSE GOVERNANTE de Peter Medak com Peter O'Toole e Alastair Sim
Este é um exemplo daquilo que sempre repito : que entre 62/78 o mundo esteve completamente louco. Que é isto ? A história é a de um herdeiro inglês ( Peter, ótimo como sempre ) que pensa ser Jesus Cristo. Ele dorme numa cruz e abençoa todo mundo. Seus parentes fazem de tudo para o internar, mas então ele se torna um ferrenho aristocrata conservador. Crítica a classe dominante inglesa, crítica ao próprio cinema. O filme é doido, torto, exagerado e até ridículo. Mas não deixa de ser corajoso. Quando o ví na TV, aos 15 anos, fiquei muito tocado. Hoje, após tantos filmes melhores e piores... Nota 4.
O GATO E O CANÁRIO de Paul Leni
Cada vez mais percebo que do cinema mudo o que sobrevive são suas comédias e seus filmes de aventuras ( piratas e sheiks ). Este suspense de terror é chato chato chato... Um excesso de diálogos, excesso de pretensão, excesso de tudo. Nota 1.
UMA MULHER É UMA MULHER de Jean-Luc Godard com Anna Karina, Jean-Claude Brialy e Jean-Paul Belmondo
Nada, ainda hoje, é mais jovem em cinema que o jovem Godard. Ele brinca com filmes. Aqui ele destrói o som, destrói o romance, rí dos cenários. Anna está apaixonante, linda como o paraíso. Belmondo É o cara ! E Brialy exibe seu mal-humor costumeiro. O filme mostra o que é a alma feminina ? Sei lá ! Isso importa ? Temos aqui uma alegoria sobre a felicidade de se viver e de se fazer um filme. Que mais pode importar ? As cores são de sonho ( Raoul Coutard ) a trilha sonora é genial ( Michel Legrand ) e tem Anna Karina.... Nota Dez.
O CAMPO DOS SONHOS de Phil Alden Robinson com Kevin Costner, Ray Liotta e Amy Madigan
Vamos aos fatos : este filme é um cult na América. Como os filmes de Capra, ele é sempre reprisado no natal, e é o que restou da carreira de Costner. É a história de um cara que ouve uma voz lhe mandar construir um campo de beisebol. Ele o faz... James Earl Jones é um escritor recluso e Burt Lancaster ( ele é o cara ! ) faz o fantasma de um ex-jogador. Nos primeiros vinte minutos temos dificuldade em engolir tamanha asneira, mas depois, vemos que o filme é feito com tamanha convicção que nos rendemos : ok, vou me emocionar. O filme é bonito. Nota 6.
MAIS ESTRANHO QUE A FICÇÃO de Marc Foster com Will Ferrell, Maggie Gyllenhall...
Um cara metódico e nerd entra em crise e se apaixona ( como todo chavão ) por maluquinha carente. O filme é só isso. Nada há de original em sua alma. Mas como esta é a era em que se vende o velho maquiado de novo, vamos colocar um rótulo moderninho : vamos fingir que é um filme original e colocar uma escritora ( Emma Thompson, soberbamente excelente, como sempre ) que escreve aquilo que ele vive ! PÕ cara ! Não faz o menor sentido, mas é genial !l cara !!!!! Dustin Hoffman, presença calorosa num filme gélido, faz um professor viciado em café e doces melados. Ferrell foi chamado aqui de bom ator... onde ? Tudo que ele faz é parecer com muito sono. Maggie é mais uma dessas atrizes que desconhecem sabonete. O filme é enganação braba ! Mas serve como retratinho miúdo da depressão atual : cenários frios, luz fraca, gente vazia. Um horror!!!! Nota ZERO!!!!!!
MARES DA CHINA de Tay Garnett com Clarck Gable, Jean Harlow, Rosalind Russel
A Metro não corria riscos. Capitão beberrão conduz navio pelo mar chinês infestado de piratas malaios. De quebra, uma mulher duvidosa o disputa com outra sofisticada. Temos tempestades, ataque pirata, bêbados cômicos, mocinha sexy, fracasso redimido, tiros e piadas. O cinema compensava cada tostão gasto pelo povão em suas salas. Os atores dão aquilo que esse povo espera : Gable é o macho, Jean a vagabundinha engraçada, Russel a classuda e ainda tem Wallace Beery como o vilão e Robert Benchley de porre. Isto era a TV da época, um produto fácil de vender. Mas que belo produto!!!! Nota 7.
SHANE de George Stevens com Alan Ladd, Jean Arthur, Van Heflin, Jack Palance
Esta crítica é para meu amigo Fernando. É a quarta vez que vejo Shane ( OS BRUTOS TAMBÉM AMAM ) e é a quarta vez que me emociono. Tudo é mito neste filme : o herói é Lincoln e será Kennedy, a esposa é toda esposa fiel, o marido é o pioneiro, o garoto é o filho arquétipo e o vilão é o MAL. Tem gente que acha que Shane é um fantasma, ou um anjo. Pode ser que sim. Para mim, ele significa o que temos de melhor em nós. Mas vamos ver o trabalho de Stevens. Note como cada tomada se parece com uma pintura. O cão no canto esquerdo, o cavalo no direito, o menino ao centro, o céu imaculado. A morte do cara na lama : o marrom em contraste com o azul, a imagem baixa, o vilão enorme. Plasticamente o filme é irretocável. Mas há mais : os diálogos são curtos, básicos, o que entendemos está no gestual dos atores e nos olhares que se cruzam todo o tempo. Ouvimos milhares de coisas que nunca serão ditas. Shane é amado pela mulher do fazendeiro, mas jamais será dito.
O filme é, depois de CIDADÃO KANE, aquele que mais teve livros publicados sobre seu significado. George Stevens foi, com David Lean, o mais perfeccionista dos diretores. Shane é um monumento ao cinema, um monumento ao western. Seu final, após aquele duelo que é uma aula de edição, é uma ode ao homem e ao heroísmo. Shane se encerra como aquilo que sempre foi, um mito. O roteiro pega todos os chavões e os limpa, purifica. Nos dá a raiz das coisas, o que importa. Não enfeita, revela. Shane é aula de honestidade, tanto de Stevens como diretor, como de Shane como personagem. O filme é aula de saúde.
Enquanto o mundo valer a pena Shane será cultuado. Com os filmes de Ford e Capra, ele mostra o que temos de melhor. Amar este filme é amar o bem. Nota ZILHÕES DE MILHÕES.
UMA MULHER É UMA MULHER - GODARD
Quando John Lennon encontrou Yoko ele perdeu toda sua leveza. Quando Godard perdeu Anna Karina tudo de colorido e vivo que ele tinha se foi. O filme "UMA MULHER É UMA MULHER" é um poema de cores fortes, música sinfonica, amor simples, livros e filosofia. O filme é homenagem a Anna, a mulher que é uma mulher, a mais bela das mulheres.
Godard irrita aqueles que vêm um filme para serem iludidos. Em seus filmes você jamais irá acreditar que o que está na tela é real. Marianne é todo o tempo Anna Karina e Emile é Brialy. A emoção nascerá de vermos Anna na tela, de olharmos o que Godard faz em 80 minutos, do que Belmondo é. Esse tipo de cinema existe apenas pelo mundo do cinema. Ele não quer ser mundo real, não quer nos iludir. Você vê um filme.
Marianne é artista de strip-tease ( o filme nada tem de erótico ) e quer ter um filho. Ela tem dois namorados. Briga com um e é amiga do outro. Mas nada disso importa. O que nos fascina é o som do filme. Godard brinca com o som da rua, com a trilha sonora que sempre entra na hora errada. Ele brinca com os diálogos que são artificiais. Tudo o que o anti-Godardiano chama de irritante é exatamente aquilo que o Godardiano ama.
O filme é Anna Karina. Por todo o tempo nós a amamos. Ela faz caretas para a câmera, chora, rí, grita, posa, dança, frita um ovo, canta, dorme, discute, anda pela rua, se veste, beija, brinca. O filme é uma homenagem a amada. O filme é retrato de amor. E o amor é uma mulher. E ela é amada por ser uma mulher. E uma mulher é uma mulher. E Anna é essa mulher.
A alegria do amor descoberto resplandece por todo o filme. Tudo nele é alegria. Mesmo as brigas são felizes. As cores são vibrantes, as citações intelectuais são brincadeiras, as ruas parecem sorrir. Os figurantes flutuam na tela. Raros filmes demonstraram tão nitidamente a sensação do amor que nasce. O filme é absolutamente jovem.
Mas não procure nele a poesia da lágrima ou o envolvimento visceral com a vida de Marianne. Não. O que há é Anna, Jean e Belmondo. O que se vê é um diretor genial em seu auge brincando com o cinema. Uma mulher fascinante em technicolor. A emoção vem da consciencia desse trabalho.
Godard é influência subterrânea no cinema de hoje porque todo bom diretor atual brinca com a tela. Dos Coen a Tarantino, de Woody Allen a Todd Haynes ( as excessões são Clint e Almodovar. Nada têm de Godard ). Todos eles nos mostram um mundo que só existe na tela, todos brincam com diálogos, cores, citações e performances, todos têm a tal "alegria de filmar". Jean Luc ensinou que uma câmera é um brinquedo. ( Lição tomada de Welles ). Godard falou que o único mundo do cinema é o próprio cinema. E nos disse : isto é apenas um filme.
UMA MULHER É UMA MULHER é absolutamente delicioso.
Godard irrita aqueles que vêm um filme para serem iludidos. Em seus filmes você jamais irá acreditar que o que está na tela é real. Marianne é todo o tempo Anna Karina e Emile é Brialy. A emoção nascerá de vermos Anna na tela, de olharmos o que Godard faz em 80 minutos, do que Belmondo é. Esse tipo de cinema existe apenas pelo mundo do cinema. Ele não quer ser mundo real, não quer nos iludir. Você vê um filme.
Marianne é artista de strip-tease ( o filme nada tem de erótico ) e quer ter um filho. Ela tem dois namorados. Briga com um e é amiga do outro. Mas nada disso importa. O que nos fascina é o som do filme. Godard brinca com o som da rua, com a trilha sonora que sempre entra na hora errada. Ele brinca com os diálogos que são artificiais. Tudo o que o anti-Godardiano chama de irritante é exatamente aquilo que o Godardiano ama.
O filme é Anna Karina. Por todo o tempo nós a amamos. Ela faz caretas para a câmera, chora, rí, grita, posa, dança, frita um ovo, canta, dorme, discute, anda pela rua, se veste, beija, brinca. O filme é uma homenagem a amada. O filme é retrato de amor. E o amor é uma mulher. E ela é amada por ser uma mulher. E uma mulher é uma mulher. E Anna é essa mulher.
A alegria do amor descoberto resplandece por todo o filme. Tudo nele é alegria. Mesmo as brigas são felizes. As cores são vibrantes, as citações intelectuais são brincadeiras, as ruas parecem sorrir. Os figurantes flutuam na tela. Raros filmes demonstraram tão nitidamente a sensação do amor que nasce. O filme é absolutamente jovem.
Mas não procure nele a poesia da lágrima ou o envolvimento visceral com a vida de Marianne. Não. O que há é Anna, Jean e Belmondo. O que se vê é um diretor genial em seu auge brincando com o cinema. Uma mulher fascinante em technicolor. A emoção vem da consciencia desse trabalho.
Godard é influência subterrânea no cinema de hoje porque todo bom diretor atual brinca com a tela. Dos Coen a Tarantino, de Woody Allen a Todd Haynes ( as excessões são Clint e Almodovar. Nada têm de Godard ). Todos eles nos mostram um mundo que só existe na tela, todos brincam com diálogos, cores, citações e performances, todos têm a tal "alegria de filmar". Jean Luc ensinou que uma câmera é um brinquedo. ( Lição tomada de Welles ). Godard falou que o único mundo do cinema é o próprio cinema. E nos disse : isto é apenas um filme.
UMA MULHER É UMA MULHER é absolutamente delicioso.
RETRATO DA LOUCURA, WEEK END- GODARD
Eu odiei, odiei, odiei este filme ! Nunca nada me deixou tão irritado, tão enojado, tão perturbado em um filme. Filme que faz todo o sentido, que esbanja talento, mas que me irrita por ser um filme MAU.
Filmes ruins me dão tédio. Despertam meu desprezo. Mas este, me dá ódio. Pois é um filme que vai contra TUDO aquilo que acredito.
Não procure uma história nele. Mas não é esse seu problema. O que me irrita é que em seu inicio este filme me seduz, para depois jogar em minha cara pura maldade. Sangue fake, mortes às dúzias ( inclusive algumas reais ), palavras de ordem. O filme prega, aberta e cruamente, a revolução. Mas não é uma revoluçãozinha, é a morte da burguesia. E para isso, Jean-Luc prega a validade de atentados, sequestros, bombas, sabotagem e guerrilha. Negros e árabes devem matar quem os oprimiu, pois a liberdade só nasce da violência.
O filme é todo nesse tom. Começa com um letreiro dizendo ter sido achado no lixo e que se trata de um filme de merda. O que vemos são burgueses, escravos dos carros e da moda, das marcas de roupas, perdidos em colossal e sanguinolento engarrafamento. Desastres e corpos abundam e mais ao final um grupo terrorista mata e come turistas ingleses. A revolução domina as imagens, que são tecnicamente brilhantes, mas que proclamam o FIM DO CINEMA.
E não foi da boca pra fora : após este filme, Godard ficaria anos sem fazer um filme "normal". Para ele, o cinema morria lá, em WEEK END.
Algumas tiradas: o casal burguês encontra Emily Bronte e Lewis Carrol na floresta. Os dois escritores falam por símbolos, de forma livresca, poética; mas tudo o que o casal quer ouvir é onde fica Orville ( cidade onde precisam ir para matar a mãe de um deles e receber uma herança ). Ateiam fogo em Bronte e pegam carona com imigrantes africanos. São momentos assim que fazem com que eu prossiga vendo o filme. Mas logo são jogadas mais palavras de ordem, mais revolução radical, mais fim-do-mundo.
Que caminho percorreu Jean-Luc ! De ACOSSADO, um policial existencialista, ainda pop, passando pelos maravilhosos filmes com ANA KARINA, até chegar na explosão criativa e genial de PIERROT LE FOU. Tudo nele era alegria, juventude, brilho e talento. Para então, após tantos filmes em tão poucos anos ( sete filmes em quatro anos ! ) ele explodir tudo, destruir o cinema, amputar sua carreira, berrar ódio aos quatro ventos, com este mau, odioso, repulsivo WEEK END.
Após isto, teríamos o incêndio : as barricadas, o caos, a anarquia, o vale tudo de 1968. REICH/ MAO/LACAN no poder. Nos anos seguintes perceberíamos que o exagero se instalara. A revolução, como toda revolução verdadeira, passara dos limites. Se tornara assassina. Reich era um charlatão, Mao um carrasco, Lacan um egocêntrico indecifrável. Os Baader Meinhoff, os Setembro Negro, os Exército Simbionês, os Brigadas Vermelhas, se mostrariam como grupos enlouquecidos, distantes dos ideais libertários ( e ingênuos ) de gente como Godard, Loach, Foucault e Pinter. Os inspirados slogans de 68 ( É PROIBIDO PROIBIR, FAÇA AMOR NÃO FAÇA A GUERRA e principalmente o genial A IMAGINAÇÃO NO PODER ) foram mortos e enterrados em 71/72. WEEK END é o início da morte, o grito da agonia, o erro que anuncia o caos.
Mas é preciso.
Para conhecermos o dinossáurico mundo histérico que foi dominante, antes da deprê radical se instalar e nos tornar caramujos de jardim cibernético. Um mundo onde existiam inimigos declarados, ódios totais e mortais, paixões pelas quais se morria e se matava. Opções, escolhas, vidas possíveis.
Hoje se morre por um celular e se mata por um par de tênis. Agora fingimos amizade e compreensão à todos, condenamos todo ato natural e não pensado e posamos de bonzinhos. Não gritamos, suspiramos. Não daríamos a vida por nada, e por isso, ninguém vai morrer por nós. Não pregamos maldades, mas transformamos o mundo numa bola de aço inox, liso, frio, impessoal, entediantemente uniforme.
WEEK END é odioso porque me mostra algo que perdemos : CORAGEM. A coragem de ser ruim, mau, de errar, de botar a cara pra bater, DE CRER NUMA IDÉIA E IR ATÉ O LIMITE COM ELA.
WEEK END é vivo. E eu, zumbi plugado em aparelhos moderninhos, odeio o que cheira e fede, e creia, este filme fede, como fede...
Filmes ruins me dão tédio. Despertam meu desprezo. Mas este, me dá ódio. Pois é um filme que vai contra TUDO aquilo que acredito.
Não procure uma história nele. Mas não é esse seu problema. O que me irrita é que em seu inicio este filme me seduz, para depois jogar em minha cara pura maldade. Sangue fake, mortes às dúzias ( inclusive algumas reais ), palavras de ordem. O filme prega, aberta e cruamente, a revolução. Mas não é uma revoluçãozinha, é a morte da burguesia. E para isso, Jean-Luc prega a validade de atentados, sequestros, bombas, sabotagem e guerrilha. Negros e árabes devem matar quem os oprimiu, pois a liberdade só nasce da violência.
O filme é todo nesse tom. Começa com um letreiro dizendo ter sido achado no lixo e que se trata de um filme de merda. O que vemos são burgueses, escravos dos carros e da moda, das marcas de roupas, perdidos em colossal e sanguinolento engarrafamento. Desastres e corpos abundam e mais ao final um grupo terrorista mata e come turistas ingleses. A revolução domina as imagens, que são tecnicamente brilhantes, mas que proclamam o FIM DO CINEMA.
E não foi da boca pra fora : após este filme, Godard ficaria anos sem fazer um filme "normal". Para ele, o cinema morria lá, em WEEK END.
Algumas tiradas: o casal burguês encontra Emily Bronte e Lewis Carrol na floresta. Os dois escritores falam por símbolos, de forma livresca, poética; mas tudo o que o casal quer ouvir é onde fica Orville ( cidade onde precisam ir para matar a mãe de um deles e receber uma herança ). Ateiam fogo em Bronte e pegam carona com imigrantes africanos. São momentos assim que fazem com que eu prossiga vendo o filme. Mas logo são jogadas mais palavras de ordem, mais revolução radical, mais fim-do-mundo.
Que caminho percorreu Jean-Luc ! De ACOSSADO, um policial existencialista, ainda pop, passando pelos maravilhosos filmes com ANA KARINA, até chegar na explosão criativa e genial de PIERROT LE FOU. Tudo nele era alegria, juventude, brilho e talento. Para então, após tantos filmes em tão poucos anos ( sete filmes em quatro anos ! ) ele explodir tudo, destruir o cinema, amputar sua carreira, berrar ódio aos quatro ventos, com este mau, odioso, repulsivo WEEK END.
Após isto, teríamos o incêndio : as barricadas, o caos, a anarquia, o vale tudo de 1968. REICH/ MAO/LACAN no poder. Nos anos seguintes perceberíamos que o exagero se instalara. A revolução, como toda revolução verdadeira, passara dos limites. Se tornara assassina. Reich era um charlatão, Mao um carrasco, Lacan um egocêntrico indecifrável. Os Baader Meinhoff, os Setembro Negro, os Exército Simbionês, os Brigadas Vermelhas, se mostrariam como grupos enlouquecidos, distantes dos ideais libertários ( e ingênuos ) de gente como Godard, Loach, Foucault e Pinter. Os inspirados slogans de 68 ( É PROIBIDO PROIBIR, FAÇA AMOR NÃO FAÇA A GUERRA e principalmente o genial A IMAGINAÇÃO NO PODER ) foram mortos e enterrados em 71/72. WEEK END é o início da morte, o grito da agonia, o erro que anuncia o caos.
Mas é preciso.
Para conhecermos o dinossáurico mundo histérico que foi dominante, antes da deprê radical se instalar e nos tornar caramujos de jardim cibernético. Um mundo onde existiam inimigos declarados, ódios totais e mortais, paixões pelas quais se morria e se matava. Opções, escolhas, vidas possíveis.
Hoje se morre por um celular e se mata por um par de tênis. Agora fingimos amizade e compreensão à todos, condenamos todo ato natural e não pensado e posamos de bonzinhos. Não gritamos, suspiramos. Não daríamos a vida por nada, e por isso, ninguém vai morrer por nós. Não pregamos maldades, mas transformamos o mundo numa bola de aço inox, liso, frio, impessoal, entediantemente uniforme.
WEEK END é odioso porque me mostra algo que perdemos : CORAGEM. A coragem de ser ruim, mau, de errar, de botar a cara pra bater, DE CRER NUMA IDÉIA E IR ATÉ O LIMITE COM ELA.
WEEK END é vivo. E eu, zumbi plugado em aparelhos moderninhos, odeio o que cheira e fede, e creia, este filme fede, como fede...
cinema livre, vida livre
Bande à Part de Godard.
O filme é chato. Verbo demais, imagem de menos.
MAS.......................................................................................
Numa lanchonete, o trio de ladrões perde o fio da meada e não tem mais o que falar. Fazem então, um minuto de silêncio... juro que é genial. Eu juro que esse minuto é uma lição de liberdade, de se brincar com o cinema e por consequencia, com a vida.
Em seguida, um deles coloca um jazz na jukebox e os 3 dançam.
Uma dança linda. Alegre, bonita...2 deles páram de dançar ( lógicamente quando Jean gritou corta. Mas Anna Karina continua a dançar só. Momentos assim fazem o cinema valer a pena ).
O final é on the road e o filme é cheio de erros e momentos preguiçosos.
Mas a cena na lanchonete justifica tudo!
E tem Anna...
O filme é chato. Verbo demais, imagem de menos.
MAS.......................................................................................
Numa lanchonete, o trio de ladrões perde o fio da meada e não tem mais o que falar. Fazem então, um minuto de silêncio... juro que é genial. Eu juro que esse minuto é uma lição de liberdade, de se brincar com o cinema e por consequencia, com a vida.
Em seguida, um deles coloca um jazz na jukebox e os 3 dançam.
Uma dança linda. Alegre, bonita...2 deles páram de dançar ( lógicamente quando Jean gritou corta. Mas Anna Karina continua a dançar só. Momentos assim fazem o cinema valer a pena ).
O final é on the road e o filme é cheio de erros e momentos preguiçosos.
Mas a cena na lanchonete justifica tudo!
E tem Anna...
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