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ANOS 90 HOJE? NÃO MAIS BB.
A década de 1990 foi divertida. Muito divertida. Os gérmens do politicamente correto já estavam lá, mas a gente não sabia disso. O que importava é que eram feitos, ainda, filmes como Dazed and Confused ou The Limey. Duas correntes corriam paralelas naquele tempo, uma delas era a do deprê gótico, mas ainda era um gótico que erguia a cabeça, que olhava nos olhos, que usava o estilo e não era usado por ele. A outra corrente era a da esperteza, feita de carros velozes, mulheres fatais e estradas cheias de pó. Essa corrente, muito americana, muito sexy, naufragou nos últimos dez anos. Foi extinta de tal maneira que hoje qualquer série de TV que mostre um cara fumando ou bebendo é considerada nostálgica. Filmes como os primeiros de Tarantino ou de Soderbergh se foram para sempre e bandas de rock se tornaram fofas. A impotência tornou-se comum. ------------ Ontem vi um post sobre a NASA. A NASA em 1960. Uma lousa imensa onde cinco cientistas fazem cálculos. Aquele era o computador que mandou os primeiros caras pro espaço: uma lousa. Fascinante né? Pois bem. Choveram comentários do tipo: cadê os negros? As mulheres foram exploradas! O que esses brancos machos sabiam? " HAVIA UM GRUPO DE MULHERES NEGRAS FAZENDO OS CÁLCULOS EM UMA SALA SECRETA" ( sim, uma mocinha disse isso ) ...... ----------------- Em outro post foram eleitos, por uma revista americana, os 10 maiores singles da história. Todos black music. Sem Beatles, Dylan ou Beach Boys, o que temos é Aretha, Otis, Marvin, Stevie Wonder, Beyoncé, James Brown, Outkast, Supremes, Prince, Whitney. Eu sempre defendi a beleza da black music, desde criança eu dizia aos meus amigos que Ray Charles tinha mais voz que Robert Plant, mas caramba!, o que está acontecendo? ------------------- Nos anos 90 havia ainda o bom humor de se poder dizer foda-se e uma série incorreta ao extremo como MARRIED WITH CHILDREN ia ao ar. Nessa série, um pai de família fracassado, vive seu dia a dia com uma esposa perua que nunca transa com ele, um filho virgem e uma filha idiota. O pai, Ed O'Neill em um daqueles momentos que definem uma era, ataca gordos, gays, mulheres, feministas, yuppies, vegetarianos, pacifistas, todos são alvo. Um de seus amigos é negro, então jamais acontece um ataque racial, mas fora isso a metralhadora verbal dispara sem cessar. O pai, Al Bundy, nunca é descrito como um tolo, ele é um cara que fracassou, amargo, desesperado, e com o qual nos sentimos parceiros de derrota. É um tempo onde ainda se podia rir com os republicanos e não se desumanizava sua existência. Os democratas ainda não haviam pirado, eram apenas os caras que davam as melhores festas. --------------------- Pensei tudo isso ouvindo Jon Spencer Blues Explosion, um tipo de rock muscular-macho-de estrada que nos anos 90 ameaçava fazer sucesso mas que nunca vingou. Quando o século virou o que deu certo foi o rock fofo tipo Coldplay ou a espécie de banda, muitas, engraçadinha, que reciclava os anos 80 sem o chique de 1981. Nunca mais houve um sex symbol rocker ( Casablancas? Ele era conhecido por quem? ), e em 2015 o estilo já não importava. Na corrida das duas tribos o que venceu foi o tristonho, o politicamente correto, o bonzinho. Eu não sei e não há como saber o que virá depois, mas acho que o espírito safado dos anos 90 nunca mais voltará. Estamos em 2023 e o século dos anos 90 já se foi a tempos. PS: Funk é safado? Não. Funk é apenas masturbação para gente que ama bandidagem ou pensa que ama. São corpos suados. Pornografia de desesperados. A safadeza de que falo possui cérebro, ela vê, ela observa, ela é cool. Pense em George Clooney até o ano 2000. Os anos 90 eram aquilo. Hoje não mais.
ASSISTINDO ERIC RHOMER EM 2021
Séries de TV são todas, hoje, educativas. Ninguém faz nada em TV que não tenha uma mensagem escolar. O moralismo impera e ele é bem raso. O andar de cima subestima a inteligência de todos. Sempre foi assim, sempre subestimaram, mas agora querem formatar seu público. Então toda atração e todo show será um pouco feminista, ecológico, igualitário ou pacifista. Ninguém liga a TV para perder tempo com coisas que não sejam aparentemente uteis. Por isso tanto programa de gastronomia, saúde, mecânica, decoração ou ciência. Por isso tudo que assisto é esporte, competição inutil. Mas mesmo nele há agora a onipresença da mensagem do bem. Ou esse povo do poder fuma muita erva e ouve REM ou eles sentem muita culpa por serem ricos. Eu apostaria em ambas as respostas. ------------------------ Após um longo tempo assisti ontem um filme de Eric Rhomer. Ele é aquele diretor francês chato que filmava gente conversando e não fazendo coisa nenhuma de util. Há um tipo de pessoa que o adora, aqueles que acham que o tédio é chique. Na verdade há outro tipo de pessoa que gosta dele: gente como eu, que gosta de ser voyeur de pessoas interessantes. O JOELHO DE CLAIRE é seu melhor filme. Talvez por ter atores melhores. Talvez por ser filmado na Suiça. ----------------------- Rhomer é moralista, todo filme seu tem uma conclusão que exibe uma moral. Mas ele não é educativo, sua moral é aquela das antigas igrejas e dos antigos filósofos. Para ele o que é certo é indiscutível. Ele pouco se importa com ecologia ou direitos das minorias. Ele se precocupa com o BEM e a JUSTIÇA. É tudo. --------------------------- Em estilo Rhomer seria um diretor bem contemporâneo. Nunca se fizeram tantos filmes estáticos ( falo dos filmes de festivais de cinema ). Gente falando sem parar é UP neste século. Mas Rhomer tem duas características que estão bem fora de moda hoje: ele filma gente comum. Ele foge do que é sensacional. Desse modo, vendo seus filmes, o típico consumidor de filmes de 2021, achará os personagens desinteressantes. Ninguém está morrendo. Ninguém se droga. Não há gays ou negros. Sem suicídio ou pais que surram os filhos. E, por isso, não há a grande cena de drama e dor. ------------------------- Rhomer consegue algo muito esquisito: ele é hiper artificial e ao mesmo tempo muito real. Artificial porque as pessoas falam posando, falam bonito demais, não ficam nunca à vontade. E muito real porque nossa vida é como em seus filmes: nada de grandes cenas, nada de momentos ousados e heroicos. Apenas pequenas descobertas e dores discretas em meio a prazeres não percebidos. ---------------- Vale entender.
A DOCE SATISFAÇÃO DAQUELES FILMES INTELIGENTES
Leio um longo texto sobre TESTEMUNHA DE ACUSAÇÃO. É um filme de 1960, do Billy Wilder, e é chamado de o melhor filme de Hitchcock que não foi feito por Hitchcock. Lembro bem dele, assisti duas vezes nos últimos dez anos. Tem um roteiro que faz gato e sapato da gente. É suspense, mas é acima de tudo inteligência. É um filme feito para quem tem 40 anos e leu algumas dúzias de bons livros. Há um prazer sublime em ver esse tipo de filme perfeito. Isso acontece, não tenho dúvida, por sentirmos estar diante de algo que fala nossa língua. Não é necessário nenhum tipo de adaptação interna, voce coloca-o para rodar e relaxa. A complexidade da trama e a excelência do todo fluem diretos pra dentro do seu cérebro. Voce o assiste sem se rebaixar e sem precisar se esforçar para entender o que aquele pretenso gênio quereria falar. Filmes assim são como doces conversas entre amigos que se conhecem a 20 anos.
Esse tipo de cinema se perdeu porque os filmes hoje, os mais sérios, são obrigados a ter uma função social. Uma mensagem. Algo que teoricamente ensine algo. Como dizia Oscar Wilde, não existe pior arte que aquela que se pensa util. No lugar da conversa doce entre amigos o que temos agora são discursos propostos a estranhos. Filmes sobre isso, filmes sobre aquilo. Nunca simplesmente um filme feito de modo inteligente, que conte uma história de modo coerente, adulto e envolvente.
Séries de TV têm menos vergonha em serem "apenas" brilhantes. Mas, é óbvio, elas começam a se tornar aulas sobre algum tema. Penso que Seinfeld hoje não seria sequer produzido. Qual o tema? A solidão de solteiros em NY? A segregação aos judeus? Uma ninfomaníaca? Kramer e Seinfeld têm um caso? Como assim??? É UMA SÉRIE SOBRE NADA???? NO WAY
Um cara dos anos 80 ficaria sem palavras se soubesse que neste exato momento vejo um programa na TV onde um bando de canadenses cozinha bifes. Cozinha era um apêndice em programas da manhã. Demolir casas ou construir motores era apenas trabalho. Mas o século realizou o sonho do capital: transformar trabalho em lazer. Atração de TV. Diversão. É um tempo estranho baby
Nada é mais idiota que assistir um programa onde gente comum decora uma sala. Ou faz uma piscina. Pior: eu assisto. Tem até um onde uma médica estoura espinhas.
Tenho certeza que um dia pagaremos para ver cachorros dormirem...espera...esse canal já existe.
GAME OF THRONES - HBO.
Esperei bastante tempo e agora assisto o box da série. Era óbvio que um dia eu iria topar com esta produção. George R.R. Martin escreveu um sub sub sub Tolkien. No lugar das mensagens religiosas temos sexo e sangue. É uma mixórdia de idade média sem misticismo algum. As mulheres são atrizes de filme pornô soft e se comportam como tal. Os atores são xerox de uma xerox de algum filme juvenil dos anos 70. O anão, bela criação de Peter Dinklage, é a única coisa a se salvar. Tem vida, tem humor, é tão crível que parece ser parte de outra série. O sucesso se deve ao sangue. Todos parecem músicos de alguma banda de hard heavy speed core. Quando um deles vai comer uma rena, se mostra o bicho sendo estripado e esfolado. Legal né!!!
Tem sexo, tem espada, tem sangue. Não tem magia. Mas então, se é tão ruim, porque assisto dois boxes seguidos...
Por dois motivos. Primeiro porque ele tem algo que nos prende de uma forma básica, visceral: o mal. Os vilões são odiáveis e assistimos para ver a vingança do bem sobre eles. A injustiça é exagerada, despudoradamente exagerada. Impulsivamente queremos seu fim, sua destruição. Noveleiros da Globo deveriam aprender aqui a criar emoção. E o segundo motivo é que com a grande melhora da tecnologia da tela de TV, houve uma melhora, natural, na imagem de coisas feitas para a TV. Até 1995, fazer TV era escrever bons diálogos. A partir de então, a fotografia para a TV começou a se tornar cuidadosa, porque os aparelhos podiam reproduzir uma boa imagem. Esta série tem cenários bons, imagens boas, e isso nos embala.
Dizem ser a coisa de maior sucesso nos últimos 5 anos. E 5 anos em TV equivale a uns 20 anos em cinema. É uma porcaria sem sentido nenhum. E ao mesmo tempo nos fisga e nos faz assistir. Isso é TV.
Tem sexo, tem espada, tem sangue. Não tem magia. Mas então, se é tão ruim, porque assisto dois boxes seguidos...
Por dois motivos. Primeiro porque ele tem algo que nos prende de uma forma básica, visceral: o mal. Os vilões são odiáveis e assistimos para ver a vingança do bem sobre eles. A injustiça é exagerada, despudoradamente exagerada. Impulsivamente queremos seu fim, sua destruição. Noveleiros da Globo deveriam aprender aqui a criar emoção. E o segundo motivo é que com a grande melhora da tecnologia da tela de TV, houve uma melhora, natural, na imagem de coisas feitas para a TV. Até 1995, fazer TV era escrever bons diálogos. A partir de então, a fotografia para a TV começou a se tornar cuidadosa, porque os aparelhos podiam reproduzir uma boa imagem. Esta série tem cenários bons, imagens boas, e isso nos embala.
Dizem ser a coisa de maior sucesso nos últimos 5 anos. E 5 anos em TV equivale a uns 20 anos em cinema. É uma porcaria sem sentido nenhum. E ao mesmo tempo nos fisga e nos faz assistir. Isso é TV.
REFILMAGENS
A coisa tá pobre demais. Refilmagens estão acontecendo a rodo. Nada errado. refilmagens sempre aconteceram e algumas são melhores que a original. O próprio Hitchcock refilmou para melhor um filme seu. Mas... depois de assistir as péssimas reprises de O MENSAGEIRO ( o de Losey é um belíssimo drama com soberbas atuações e uma trilha sonora de gênio ), e de LONGE DESTE INSENSATO MUNDO, ( o de Schlesinger esfria o drama de Thomas Hardy e o transforma num perfeito painel sobre o amor e as relações sociais, o novo é apenas um veículo que tenta dar a uma jovem atriz um grande papel ), assisto agora a heresia suprema: ousaram tocar em BRIDESHEAD REVISITED, obra sagrada da minha geração snob.
Vou falar por partes. O pior nessas refilmagens é que elas não retrabalham uma história. Esses filmes copiam. Todos eles copiam movimentos de câmera, cenários, movimentação dos atores e pasmem!!!!, até mesmo as expressões faciais! A impressão é que os atores não precisaram ler um roteiro, apenas decoraram um dvd. Em Brideshead isso chega ao cômico.
BRIDESHEAD é um livro problema de Evelyn Waugh. E Waugh, para quem não sabe, foi um dos mais populares dos escritores ingleses dos anos 40-60. Fazia parte da turma conservadora, a turma que nasce com Eliot e segue com Greene, Chesterton, Lewis, Tolkien, Orwell. Em 1981, seguindo o clima do tempo novo Thatcher, a BBC 2 produz e exibe a série de Waugh em 18 capítulos. No elenco o novato Jeremy Irons, a sagrada Claire Bloom e os dois maiores mitos do teatro inglês do século: John Gielgud e Laurence Olivier. Imediatamente a série virou mania inglesa e uma febre Brideshead se instaurou. A nova geração encontrava seu mundo: Oxford, campos verdes, bissexualismo, amor a tradição aristocrática e requinte no vestir. Até no rock a coisa chegou! Em 1983 David Bowie se veste em toda a excursão Serious Moolight como o Sebastian Flyte de Brideshead e grupos como Style Council, Depeche Mode, Spandau Ballet adotam clima e roupas da série. Bryan Ferry não. Ele vivia em Brideshead desde 1974.
Tudo isso chegou ao Brasil, em tempos pré TV a cabo e internet, em 1988. A TV Cultura, despretensiosamente comprou a série, não dublou e passou às quintas, 20 horas. Estourou no boca a boca. Logo o povo fashion estava se reunindo para assistir a série em grupo. Com chá e morangos com creme. A Folha deu a notícia. A coisa cresceu e em 1991 houve uma reprise.
Eu fui pego em 1988. Gravava em VHS e reassistia. N vezes. Para aquele tempo, alguma coisa ali nos seduzia como religião. Era o escape de um mundo feio e pobre. A série tinha Jeremy Irons como Charles Ryder, o estudante de classe média que se deixa seduzir pela família de seu amigo aristocrata, Sebastian Flyte. Flyte, gay, infantil e muito bêbado, seduziu toda a audiência. A frescura suave de Flyte virou mania. Uma frescura feita de paletós listrados, cabelo na testa, ursinho de pelúcia na mão, cardigans pendurados nos ombros e cílios longos. Anthony Andrews teve o papel de sua vida e nunca mais conseguiu se livrar dele.
Mas havia mais. O pai de Irons, um lunático hiper vitoriano, era feito pelo mito John Gielgud, numa atuação genial, e o pai de Sebastian era Laurence Olivier, em uma de suas últimas atuações. Claire Bloom era a mãe carola de Flyte. E a linda Diana Quick fazia a irmã sedutora de Sebastian. Havia ainda uma trilha sonora absolutamente mágica e imagens estupendas de Oxford e de Veneza. Uma série de TV digna dos maiores filmes da época.
Dito tudo isso, vejo a refilmagem para o cinema, de 2014. E logo vejo a repetição do vício: as cenas são idênticas! A câmera se coloca no mesmo lugar, os sets são os mesmos, e ridículo supremo: os atores imitam até as expressões faciais dos atores de 1981 !!!!!!!!
Não devem ter lido um roteiro, apenas assistido o dvd da série original !!!!!!
Mathew Goode no papel que foi de Jeremy Irons até se sai bem. Boa imitação. Mas o Sebastian Flyte da nova versão é um vexame... Anthony Andrews era uma criança grande, seu homossexualismo era sedutor por ser inocente. Ele tinha trejeitos de fragilidade, de mimo. de aristocrata. A gente nunca sabia se ele era gay de verdade ou apenas brincava de fazer sexo com um amigo. E mesmo assim, as cenas de 1981 eram mais explícitas. Beijocas e cama.
Aqui Ben Whishaw faz um Sebastian Flyte desmunhecado, uma bicha louca exagerada. Nada há de sedutor nele, é apenas ridículo. Emma Thompson consegue ser pior. O papel da mãe é feito de forma caricata. Uma máscara que nunca se move, fria, desumana, nunca convence. A pior atuação da ótima atriz.
Waaaallll.....mesmo assim, se você tem menos de 40 anos, aconselho que assista. Para quem não viveu a série em seu tempo, pode ser uma bela experiência. O filme, como o livro, fala de fé e de sua perda. Fala da decadência de uma civilização. Falsidade e desejo. E se eu conseguisse esquecer a série ( e é mágica a maneira como fui lembrando de falas e de cenas inteiras ), poderia ter achado este um muito bom filme.
PS: Só para comparação. No segundo capítulo se mostra pela primeira vez Oxford. A câmera voa sobre a cidade e vemos depois Charles Ryder chegando com bagagens à seu alojamento. A sensação é de êxtase. Aqui repetem toda cena. Tentam fazer igual. A sensação é de ....Ok, vamos em frente....
Esse o mistério da arte.
Vou falar por partes. O pior nessas refilmagens é que elas não retrabalham uma história. Esses filmes copiam. Todos eles copiam movimentos de câmera, cenários, movimentação dos atores e pasmem!!!!, até mesmo as expressões faciais! A impressão é que os atores não precisaram ler um roteiro, apenas decoraram um dvd. Em Brideshead isso chega ao cômico.
BRIDESHEAD é um livro problema de Evelyn Waugh. E Waugh, para quem não sabe, foi um dos mais populares dos escritores ingleses dos anos 40-60. Fazia parte da turma conservadora, a turma que nasce com Eliot e segue com Greene, Chesterton, Lewis, Tolkien, Orwell. Em 1981, seguindo o clima do tempo novo Thatcher, a BBC 2 produz e exibe a série de Waugh em 18 capítulos. No elenco o novato Jeremy Irons, a sagrada Claire Bloom e os dois maiores mitos do teatro inglês do século: John Gielgud e Laurence Olivier. Imediatamente a série virou mania inglesa e uma febre Brideshead se instaurou. A nova geração encontrava seu mundo: Oxford, campos verdes, bissexualismo, amor a tradição aristocrática e requinte no vestir. Até no rock a coisa chegou! Em 1983 David Bowie se veste em toda a excursão Serious Moolight como o Sebastian Flyte de Brideshead e grupos como Style Council, Depeche Mode, Spandau Ballet adotam clima e roupas da série. Bryan Ferry não. Ele vivia em Brideshead desde 1974.
Tudo isso chegou ao Brasil, em tempos pré TV a cabo e internet, em 1988. A TV Cultura, despretensiosamente comprou a série, não dublou e passou às quintas, 20 horas. Estourou no boca a boca. Logo o povo fashion estava se reunindo para assistir a série em grupo. Com chá e morangos com creme. A Folha deu a notícia. A coisa cresceu e em 1991 houve uma reprise.
Eu fui pego em 1988. Gravava em VHS e reassistia. N vezes. Para aquele tempo, alguma coisa ali nos seduzia como religião. Era o escape de um mundo feio e pobre. A série tinha Jeremy Irons como Charles Ryder, o estudante de classe média que se deixa seduzir pela família de seu amigo aristocrata, Sebastian Flyte. Flyte, gay, infantil e muito bêbado, seduziu toda a audiência. A frescura suave de Flyte virou mania. Uma frescura feita de paletós listrados, cabelo na testa, ursinho de pelúcia na mão, cardigans pendurados nos ombros e cílios longos. Anthony Andrews teve o papel de sua vida e nunca mais conseguiu se livrar dele.
Mas havia mais. O pai de Irons, um lunático hiper vitoriano, era feito pelo mito John Gielgud, numa atuação genial, e o pai de Sebastian era Laurence Olivier, em uma de suas últimas atuações. Claire Bloom era a mãe carola de Flyte. E a linda Diana Quick fazia a irmã sedutora de Sebastian. Havia ainda uma trilha sonora absolutamente mágica e imagens estupendas de Oxford e de Veneza. Uma série de TV digna dos maiores filmes da época.
Dito tudo isso, vejo a refilmagem para o cinema, de 2014. E logo vejo a repetição do vício: as cenas são idênticas! A câmera se coloca no mesmo lugar, os sets são os mesmos, e ridículo supremo: os atores imitam até as expressões faciais dos atores de 1981 !!!!!!!!
Não devem ter lido um roteiro, apenas assistido o dvd da série original !!!!!!
Mathew Goode no papel que foi de Jeremy Irons até se sai bem. Boa imitação. Mas o Sebastian Flyte da nova versão é um vexame... Anthony Andrews era uma criança grande, seu homossexualismo era sedutor por ser inocente. Ele tinha trejeitos de fragilidade, de mimo. de aristocrata. A gente nunca sabia se ele era gay de verdade ou apenas brincava de fazer sexo com um amigo. E mesmo assim, as cenas de 1981 eram mais explícitas. Beijocas e cama.
Aqui Ben Whishaw faz um Sebastian Flyte desmunhecado, uma bicha louca exagerada. Nada há de sedutor nele, é apenas ridículo. Emma Thompson consegue ser pior. O papel da mãe é feito de forma caricata. Uma máscara que nunca se move, fria, desumana, nunca convence. A pior atuação da ótima atriz.
Waaaallll.....mesmo assim, se você tem menos de 40 anos, aconselho que assista. Para quem não viveu a série em seu tempo, pode ser uma bela experiência. O filme, como o livro, fala de fé e de sua perda. Fala da decadência de uma civilização. Falsidade e desejo. E se eu conseguisse esquecer a série ( e é mágica a maneira como fui lembrando de falas e de cenas inteiras ), poderia ter achado este um muito bom filme.
PS: Só para comparação. No segundo capítulo se mostra pela primeira vez Oxford. A câmera voa sobre a cidade e vemos depois Charles Ryder chegando com bagagens à seu alojamento. A sensação é de êxtase. Aqui repetem toda cena. Tentam fazer igual. A sensação é de ....Ok, vamos em frente....
Esse o mistério da arte.
BREAKING BAD
Estou vendo a caixa de BREAKING BAD. Diversão em dose cavalar. Vocês percebem que é uma comédia? Dou sonoras gargalhadas! O personagem de Cranston é pura chanchada. Adoro!
Sempre leio que esta quarta ERA de Ouro da TV ( as outras foram em 55/58, 71/75 e 94/98 ), tem por característica o inusitado de seus temas. Que o cinema ficou careta e a TV ficou ousada. Well....mais ou menos.... Os temas podem ser diferentes, originais, mas a forma, o formato é o mais conservador possível. Vejam esta série: Fosse um longa para o cinema o roteiro seria tratado de duas maneiras, ou como filme metido à besta, ou como blockbuster.
Fosse arte, a narrativa seria não linear, os movimentos de câmera esquisitos, a trilha sonora invasiva, e as cenas teriam uma lentidão cruel. Fosse blockbuster teria mais mortes, mais produção e atores mais bonitos. Na TV, Breaking Bad é filmado como era filmado o cinema de antigamente, simplesmente se conta uma história da melhor forma possível. Sem manias de autor e sem exageros de produção. Pega-se o roteiro e se conta o que lá foi escrito. Só isso.
Daí a alegria de roteiristas. Daí a alegria dos espectadores. As ótimas séries de TV são fáceis de entender, boas de se olhar, simples e diretas, narram histórias, criam tipos, nos levam pela mão. Coisas que cineastas de hoje, pseudo-artistas em sua maioria, se recusam a fazer. Eles inventam. E erram muito.
A TV de agora é o cinema de ontem. Breaking Bad é um bom filme dos anos 70. Como são todos os outros. Cinema sem frescura.
Sempre leio que esta quarta ERA de Ouro da TV ( as outras foram em 55/58, 71/75 e 94/98 ), tem por característica o inusitado de seus temas. Que o cinema ficou careta e a TV ficou ousada. Well....mais ou menos.... Os temas podem ser diferentes, originais, mas a forma, o formato é o mais conservador possível. Vejam esta série: Fosse um longa para o cinema o roteiro seria tratado de duas maneiras, ou como filme metido à besta, ou como blockbuster.
Fosse arte, a narrativa seria não linear, os movimentos de câmera esquisitos, a trilha sonora invasiva, e as cenas teriam uma lentidão cruel. Fosse blockbuster teria mais mortes, mais produção e atores mais bonitos. Na TV, Breaking Bad é filmado como era filmado o cinema de antigamente, simplesmente se conta uma história da melhor forma possível. Sem manias de autor e sem exageros de produção. Pega-se o roteiro e se conta o que lá foi escrito. Só isso.
Daí a alegria de roteiristas. Daí a alegria dos espectadores. As ótimas séries de TV são fáceis de entender, boas de se olhar, simples e diretas, narram histórias, criam tipos, nos levam pela mão. Coisas que cineastas de hoje, pseudo-artistas em sua maioria, se recusam a fazer. Eles inventam. E erram muito.
A TV de agora é o cinema de ontem. Breaking Bad é um bom filme dos anos 70. Como são todos os outros. Cinema sem frescura.
SEI SHONAGON, DOWNTOWN ABBEY E LLOSA
Interessante entrevista com Mario Vargas Llosa. Ele tem uma definição do que seja essa moda de séries de tv que é perfeita: São boa diversão. Descansam. Mas nunca são arte.
Eu concordo. Tem gente que trata Downtown Abbey, que gosto, como arte. Por favor! Só se voce desconhece arte! É diversão pop. Apenas isso. De bom gosto e nada ofensiva a pessoas "esclarecidas". Nada mais que isso.
Llosa destaca Faulkner como o último grande autor moderno. Bem...Faulkner foi um gênio. E sua escrita ainda é a coisa mais complexa dos últimos 70 anos. Ele antecipou o mundo cheio de ruidos e de informação em que vivemos agora. A multiplicidade de pontos de vista e a ausência de uma verdade. Para Llosa só Faulkner pode ser comparado a Tolstoi e Cervantes nos últimos 70 anos. Maybe...
João Pereira Coutinho cita Evelyn Waugh. É um texto chato sobre crueldade, hipocrisia etc. O que me importa é que ele coloca Waugh lá em cima. Ora, que bom! Será que algum mocinho ao ler isso vai fazer o que eu fazia quando tinha 15 anos? Vai a enciclopédia saber quem foi Evelyn Waugh? Ou será que a preguiça e a falta de interesse venceram?
Recebo a nova Filosofia, revista mensal da editora Araguaia. Walter Benjamin. O modo de pensar do chinês clássico. O carnaval e Dionisos. Well...Benjamin é o mais atual de seus contemporâneos. Porque? Ele era o mais aberto. Não se dogmatizou. Se abriu para a religião, a ciência, a comunicação, as artes. Chineses pensam em termos de mudança. Pouco usam o verbo "ser". Usam "estar". Desse modo voce nunca é alguma coisa. Voce e o mundo estão em um momento que será sempre uma transformação.
Querer conhecer um modo de pensar é começar a estudar a lingua em que esse pensamento de expressa. O fato da gramática italiana ser pautada pela musicalidade dos sons, o fato do francês desejar a absoluta clareza dizem muito sobre o que eles são e de onde vieram.
Romero Freitas diz que o cinema é uma linguagem e que portanto ele não é palavra, música ou pintura. Ele diz por movimento. Lemos o movimento sem perceber. Se conseguimos narrar verbalmente e explicar racionalmente um filme isso significará que ele é falho. O cinema não pode ser explicado. Ele existe. Romero cita como exemplo dois momentos: o olhar de Monika para a câmera em Monika e o Desejo de Bergman; e todo o Joana D'Arc de Dreyer. O olhar de Monika diz o que? Ele diz, mas o que é dito? Impossível dizer. Impossível descrever. Nós vemos e sabemos o que ele diz. Mas não podemos dizer. Não podemos porque não é literatura. Não é filosofia. É puro cinema.
Flavio Paranhos diz em outro artigo, sobre justiça, que O Sol é Para Todos o comove ao ponto de chorar. É o único filme que lhe causa choro. Somos dois. Atticus Finch é o maior nobre do cinema.
Saiu e já comprei: O Livro de Cabeceira de Sei Shonagon. Escrito no ano 500 de nossa era, é o mais atual dos livros. Uma concubina observa a vida e a descreve num diário. Tudo o que ela escreve parece que foi escrito hoje. Sei Shonagon escreveu um tipo de blog afetivo 1500 anos atrás. Seu livro é um convite para revalorizar a vida.
Editora 34, custa 80 paus. Vale mais.
SÉRIES DE TV: UM CARECA COM PIRULITO E UM ANJO EM MEIO AO LIXO
Pessoas com mais de 30 anos cada vez mais trocam o cinema por séries de tv. Os motivos são muito simples, filmes de cinema são cada vez piores. A arte do diálogo foi jogada no lixo ( e veja isso, a maioria dos filmes de arte hoje são quase mudos.... ). Séries de tv têm diálogos. Diálogos que nem são muito bons, mas que pelo menos existem, estão lá. Roteiristas de cinema perderam a habilidade de exibir um caráter em cinco minutos. Gente como Ben Hecht ou Robert Riskin conseguia fazer isso. Em cinco minutos a gente já conhecia o cara, já estava capturado por ele. Agora não mais e é por isso que hoje tem tanta biografia no cinema, o caráter já é conhecido, não se precisa criar. Na tv o cara pode levar vários episódios para desenvolver uma personagem. E geralmente é o que ocorre. House levou meses para ser House. Seinfeld é o caso clássico. Depois de 3 anos é que ele virou O Seinfeld. No cinema são duas horas para criar, desenvolver e concluir. É uma habilidade quase morta.
Há um outro fato. As pessoas adultas saem cada vez menos. Filmes são vistos em casa. E em casa, para quem só assiste filmes "novos", é indiferente assistir um filme de cinema ou uma série de tv. Porque filmes novos se parecem cada vez mais com séries de tv. Séries ruins. Falam dos mesmos temas, e são filmados em digital, com imagem como a da tv. Zoons, closes e cenários pobres. Dificil saber visualmente o que é cinema e o que é tv. Claro, não falo de Pi ou de Lincoln, falo do filme médio, da grande maioria dos filmes. A única diferença entre esses filmes e as séries é o fato de que as séries desenvolvem mais os diálogos. Ou seja, vencem a disputa exatamente por serem mais "tv".
Porque o "defeito" da tv sempre foi esse. Ela falava demais. E num tempo em que o cinema ainda sabia falar, ela perdia por ser visualmente pobre. O cinema falava tão bem ou melhor que a tv, e tinha um cuidado em foto e cenografia que a tv jamais poderia ter. No século XXI não é assim. Nos acostumamos a um cinema tão indigente que a tv passou a parecer uma arte nobre. Quem assiste apenas a filmes novos logo verá só tv. E quer saber? Não tenho pena nenhuma do cinema. Ele cavou sua cova. Optou pelo caminho fácil. Que seja feliz.
No conforto de minha casa assisto a uma caixa com 6 discos de Kojak e a 4 caixas de Columbo. 28 dvds. As duas são o equivalente aos filmes de Scorsese e De Palma em tv.
Kojak demora mais pra gente gostar. Acontece com ele o fenômeno Seinfeld. Os primeiros episódios parecem sem rumo. A série começa como um tipo de Operação França dos pobres. Muita cena na rua e a exibição da NY pobre e suja de 1973. Mas então, súbito, Telly Savallas vai achando o tom e a série cresce. É um prazer ver um ator fazer história. Telly vinha do cinema, onde sempre fora um bandido. Aqui ele é um tira. Kojak, O Cara. Eu não a assisti na época, era criança, mas lembro do sucesso. Kojak virou marchinha de carnaval. Os homens imitavam Savallas. O cigarro preto e fininho virou mania ( marca More ), o pirulito na boca também ( ele tenta parar de fumar ). Copiava-se na rua o chapéu, os ternos, os óculos escuros e a mania de falar Baby. Telly Savallas acabaria por ganhar dois Globos de Ouro e um Emmy com a série. Ficaria cinco anos entre as cinco maiores audiências. Telly morreria em 1994. Acho que Tarantino adoraria filmar com ele. Kojak tem todo o clima dos filmes de Quentin. É uma delicia ver aqueles carrões e os bandidos extra-cool. Mas ninguém é mais cool que Theo Kojak.
Columbo é o anti-cool. Se Kojak é uma delicia, Columbo é uma obra de arte. Peter Falk foi um grande ator. Fazia parte da turma de John Cassavettes. E em 1971 começa na tv com Columbo. Para muita gente, uma das cinco melhores coisas que a tv já fez. Columbo é feio. Tem olho de vidro, fuma charutos baratos. O carro é velho e a roupa desalinhada. Modesto e nada violento. O tipo do boa praça. O que Falk faz aqui é genial. Ele transforma esse mala sem alça num tipo adorável. Voce ama Columbo. Não por acaso, em 1986 Wim Wenders ao filmar Asas do Desejo escolheu Columbo como um anjo que vivia na Terra. Columbo visita a Alemanha e Wenders o exibe como um homem que pode ver anjos. Nada mais justo.
Columbo tem ainda uma grande originalidade. Ele mostra o crime. Na primeira cena nos exibe o crime. Sabemos quem é o culpado e vemos que não há pista. Então do nada surge Columbo e o que nos pega é o prazer de ver como ele vai deduzindo e descobrindo aquilo que já sabemos. Um fino prazer. Falk ganhou 3 Emmys com o papel e mais 2 Globos de Ouro.
Columbo teve entre os atores que nele trabalharam gente como Myrna Loy, Ray Milland, Leonard Nimoy, Martin Sheen, John Cassavettes, Martin Landau, William Shatner; e na direção Steven Spielberg, Richard Quine e Richard Donner.
Kojak teve episódios dirigidos pelo pai de Sean Penn, Leo Penn e Harvey Keitel entre seus vilões.
Bem baby, me pego comprando um pirulito e alisando minha camisa. Andando pelas ruas me sentindo um cavalheiro: durão e muito frio. Minha lustrosa careca protegida por um elegante chapéu preto. E com a pergunta kojakiana nos lábios: "Diga quem te ama baby?"
Um raro prazer.
Há um outro fato. As pessoas adultas saem cada vez menos. Filmes são vistos em casa. E em casa, para quem só assiste filmes "novos", é indiferente assistir um filme de cinema ou uma série de tv. Porque filmes novos se parecem cada vez mais com séries de tv. Séries ruins. Falam dos mesmos temas, e são filmados em digital, com imagem como a da tv. Zoons, closes e cenários pobres. Dificil saber visualmente o que é cinema e o que é tv. Claro, não falo de Pi ou de Lincoln, falo do filme médio, da grande maioria dos filmes. A única diferença entre esses filmes e as séries é o fato de que as séries desenvolvem mais os diálogos. Ou seja, vencem a disputa exatamente por serem mais "tv".
Porque o "defeito" da tv sempre foi esse. Ela falava demais. E num tempo em que o cinema ainda sabia falar, ela perdia por ser visualmente pobre. O cinema falava tão bem ou melhor que a tv, e tinha um cuidado em foto e cenografia que a tv jamais poderia ter. No século XXI não é assim. Nos acostumamos a um cinema tão indigente que a tv passou a parecer uma arte nobre. Quem assiste apenas a filmes novos logo verá só tv. E quer saber? Não tenho pena nenhuma do cinema. Ele cavou sua cova. Optou pelo caminho fácil. Que seja feliz.
No conforto de minha casa assisto a uma caixa com 6 discos de Kojak e a 4 caixas de Columbo. 28 dvds. As duas são o equivalente aos filmes de Scorsese e De Palma em tv.
Kojak demora mais pra gente gostar. Acontece com ele o fenômeno Seinfeld. Os primeiros episódios parecem sem rumo. A série começa como um tipo de Operação França dos pobres. Muita cena na rua e a exibição da NY pobre e suja de 1973. Mas então, súbito, Telly Savallas vai achando o tom e a série cresce. É um prazer ver um ator fazer história. Telly vinha do cinema, onde sempre fora um bandido. Aqui ele é um tira. Kojak, O Cara. Eu não a assisti na época, era criança, mas lembro do sucesso. Kojak virou marchinha de carnaval. Os homens imitavam Savallas. O cigarro preto e fininho virou mania ( marca More ), o pirulito na boca também ( ele tenta parar de fumar ). Copiava-se na rua o chapéu, os ternos, os óculos escuros e a mania de falar Baby. Telly Savallas acabaria por ganhar dois Globos de Ouro e um Emmy com a série. Ficaria cinco anos entre as cinco maiores audiências. Telly morreria em 1994. Acho que Tarantino adoraria filmar com ele. Kojak tem todo o clima dos filmes de Quentin. É uma delicia ver aqueles carrões e os bandidos extra-cool. Mas ninguém é mais cool que Theo Kojak.
Columbo é o anti-cool. Se Kojak é uma delicia, Columbo é uma obra de arte. Peter Falk foi um grande ator. Fazia parte da turma de John Cassavettes. E em 1971 começa na tv com Columbo. Para muita gente, uma das cinco melhores coisas que a tv já fez. Columbo é feio. Tem olho de vidro, fuma charutos baratos. O carro é velho e a roupa desalinhada. Modesto e nada violento. O tipo do boa praça. O que Falk faz aqui é genial. Ele transforma esse mala sem alça num tipo adorável. Voce ama Columbo. Não por acaso, em 1986 Wim Wenders ao filmar Asas do Desejo escolheu Columbo como um anjo que vivia na Terra. Columbo visita a Alemanha e Wenders o exibe como um homem que pode ver anjos. Nada mais justo.
Columbo tem ainda uma grande originalidade. Ele mostra o crime. Na primeira cena nos exibe o crime. Sabemos quem é o culpado e vemos que não há pista. Então do nada surge Columbo e o que nos pega é o prazer de ver como ele vai deduzindo e descobrindo aquilo que já sabemos. Um fino prazer. Falk ganhou 3 Emmys com o papel e mais 2 Globos de Ouro.
Columbo teve entre os atores que nele trabalharam gente como Myrna Loy, Ray Milland, Leonard Nimoy, Martin Sheen, John Cassavettes, Martin Landau, William Shatner; e na direção Steven Spielberg, Richard Quine e Richard Donner.
Kojak teve episódios dirigidos pelo pai de Sean Penn, Leo Penn e Harvey Keitel entre seus vilões.
Bem baby, me pego comprando um pirulito e alisando minha camisa. Andando pelas ruas me sentindo um cavalheiro: durão e muito frio. Minha lustrosa careca protegida por um elegante chapéu preto. E com a pergunta kojakiana nos lábios: "Diga quem te ama baby?"
Um raro prazer.
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