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MÚSICA RUIM E FILMES COMUNS
Estava com uns amigos conversando, quando de repente eu falei: Incrível como a música hoje é tão ruim, tão constrangedora, que aquilo que antes parecia muito ruim, hoje parece uma coisa tão boa. Dei um exemplo cantando: " Sai da minha aba sai pra lá...." Sim, citei o SPC, Só Pra Contrariar. -------------------- Imediatamente vieram à cabeça canções como Pimpolho, Carrinho de Mão, Haja Amor. Luiz Caldas e Salgadinho pareciam ser muito bons. É saudosismo? Sim, é. ( Apesar que as pessoas que estavam comigo variavam entre os 30 e os 35 anos, ou seja, em 1995 elas eram bebês ). ---------------- Não é apenas saudosismo. É questão de comparação. As letras se esforçavam para ter alguma beleza e a alegria era genuína. Pablo Vittar, DJ qualquer coisa, MC qualquer "inho" ou a nova cantora top não são alegres, são histéricos. Eles fingem alegria em meio ao desespero. É uma euforia agressiva, violenta, pornográfica, alegria em que os dentes não surgem em sorriso, eles surgem em mordidas. -------------- O pagode dos anos de 1990 procurava a alegria e a malandragem sem crime, e o sertanejo tentava atingir a verdade do peão. Filhos de um país que ainda ensinava a ler e a escrever, eles conseguiam falar alguma coisa. A realidade era narrada em forma de anedota. Ouvindo agora, em meio a tanto lixo, é isso que percebemos: eles sabiam falar. -------------------- A música que os substituiu não diz mais nada. A voz, sempre balbuciante, repete ao infinito um refrão que não faz sentido nenhum. Nada narram porque nada conseguem observar. Desprovidos de linguagem verbal, tudo que eles fazem é afirmar sensações primárias. " Tou louco", " Estou com desejo", "Quero voce", "Vamos transar". Usando uma lingiagem ainda mais simples que aquela que escrevi, eles nada mais têm a dizer. São apenas animais que se guiam pelo instinto geral. -------------------- No pagode de 95 havia um esforço para narrar. O Pimpolho é uma personagem maravilhosa e a Abelha que deseja pousar na sua Flor é um conto malicioso. A alegria nascia no prazer de se descrever. Eram letrados. ------------------------- Na música feita nos USA ou na Europa se dá o mesmo. Por isso que hoje qualquer rock star dos anos 70, mesmo os mais banais em seu tempo, aqueles que nós detestávamos, parecem ser cool. Falo de ABBA, de DR HOOK, de DOOBIE BROTHERS, de Barry White, Hall and Oates, entre centenas. Nomes que em 1978 eram chamados de brega, lixo, dejetos, primários, e que hoje parecem ser " o cara". Porque isso aconteceu? --------------------- Nas linhas de Kiss you all over-Exile, ou de When you are in love with a beautiful woman - Dr Hook, o que se vê é uma letra que conta alguma coisa, que descreve algo e melodias feitas com extremo profissionalismo. Não esqueçamos: na época dos grandes estúdios de gravação, para uma canção ser gravada era preciso ser muito profissional. Daí a valorização daquilo que era desprezado então. Perto das canções de 2023, refrões que se repetem ao infinito, sem arranjos, sem desenvolvimento, sem introdução, uma coisa banal como Dancing Queen passa a ter ares de arte Pop. ----------------- Não se engane. Em 1978 ABBA era lixo escutado por tias sem gosto. Pop de bom nível era Elton John e Paul Simon. Donna Summer e Grace Jones não eram nem mesmo consideradas. Eram música para quem não ligava para música. ---------------------- Voce pode dizer o mesmo sobre o cinema. Filmes comuns em 1974 são tratados hoje como arte e filmes muito ruins se tornaram cult. Por que? Não se engane. O motivo se deve ao muito, muito baixo padrão deste século.
AQUELE DISCO DO ROBERTO...
Roberto Carlos, o disco de 1971. Eleito pelo povo que lia a Rolling Stone, uma dos 5 grandes discos. Ouço-o após mais de 40 anos sem o escutar inteiro. Tanto tempo longe, preconceito meu? O de 1967 ouço de vez em quando, sem problemas, é um dos discos da minha vida. Vamos ouvir este aqui.
Primeira coisa que salta aos ouvidos: músicos excelentes. Principalmente o baixo. E a voz, claro. Roberto é um grande, grande cantor. Ele consegue mudar o tom de uma frase no meio da emissão, sem tomar fôlego. Entre 67-73 ele era O CARA. Depois resolveu substituir a canção POP brasileira por um tipo de versão tupi de Julio Iglesias. RC teimou em correr na raia de Julio e de Manolo Otero, Sergio Endrigo e que tais. Perdeu seu estilo. A orquestra sem sabor comeu tudo. Não é o caso aqui. Detalhes, uma obra prima irretocável, abre o LP. Magia: a letra fala de dor, de vingança, mas a melodia é leve, suave, bonita. Uma canção que mesmo tão consumida ainda revela frescor. Original ao extremo. Depois a banda toma rumo e voa em Dois e Dois, uma intepretação soul music ao nivel do Tim Maia. Um hiper hit em 1971. A Namorada é lembrança da jovem guarda, que então ele já meio que negava. RC fazia 30 anos e não temia ser mais velho. Voce Não Sabe O Que Vai Perder é a canção das rádios mais populares. RC nunca foi cafona, mais seus concorrentes eram. Esta canção, velha, a cara da rádio Tupi de 1971, lembra Paulo Sérgio, Marcos Roberto, Wanderley Cardoso, as vozes que ficavam a milhas de RC mas que sonhavam em atingir sua finesse. Traumas é onde ele fala do acidente de quando foi criança. Deprê assumido e sem frescura. Todos Estão Surdos tem uma das melhores linhas de baixo da história. Paulo César do Renato e seus Blue Caps sabia tudo. Uma obra prima de swing, black music de primeira. Depois tem Debaixo dos Caracois, canção que eu ouvia durante todo ano de 71 ao acordar. Minha ouvia no quarto. Não há como eu não lembrar. Mas, abstraindo a nostalgia, ela é linda. A voz de RC é doce. Se Eu Partir, de Tanto Amor, são Okays, mas a coisa pega fogo em De Tanto Amor. É dificil lembrar canção de dor de cotovelo mais bonita que esta. A melodia, logo no início, atinge o coração em cheio. RC canta como um anjo. É uma letra que expressa o amor cortês em sua clave frustrada. Eis a alma de RC aqui. UM rei triste. Amada Amante foi um single que minha mãe comprou na época. Ela ouvia dez, onze vezes seguidas. Eu ouvia junto.
RC foi na época o canto mais vendido do Brasil. Então, se voce quer comparar sua qualidade artísitica, compare com Ivete, Teló ou Anitta. Mas além de ser o maior vendedor, ele era a melhor voz. Então o compare com....Leonardo? Como aconteceu com Beatles, RC uniu em si três tipos de artista: o maior vendedor, o melhor cantor e o símbolo de uma época. Nunca mais tudo se uniu em um cara só. Nem aqui e nem lá fora no mundo pós Beatles.
Crescer tendo esse tipo de canção como onipresente em radio e TV fez de minha geração incuráveis romanticos. Não reclamamos disso não. RC é imortal.
AMOROSO JOÃO GILBERTO + LETS GET LOST CHET BAKER
Estou começando a ler um livro, me parece sublime, sobre a morte da gravação do música clássica. O autor, estiloso, bem humorado, conta a história da gravação de músicos e compositores clássicos, desde Caruso, até a morte do mercado, nos anos 90. Sou de uma época, fim dos anos 70, começo dos 80, em que jornais ainda tinham, uma vez por semana, espaço para os lançamentos eruditos DA SEMANA!!!! A Decca chegava a lançar dez discos por semana. Mas não é disso que vou falar....a música erudita gravada começou a morrer quando ela foi barateada. Mozart em ritmo de jazz, Bach tocado em banjo, Sting cantando Kurt Weill, os tenores mandando cantigas de natal. Os novos donos das gravadoras trocaram a busca pelo excelente vendável por aquilo que dava lucro depressa. Lembro da primeira vez que entrei na HI Fi Discos, loja do Shopping Iguatemi. Era 1977. Havia uma sessão só com LPs de Stockhausen. --------------------------- Se a música de Mahler foi barateada, a bossa nova sofreu algo de ainda pior. Para um menino de 14 anos, bossa nova é a musiquinha que toca no Pão de Açúcar. Trilha sonora dos apartamentinhos das mocinhas de cabelo curto que cultivam plantinhas na cozinha e comem quinoa com beterraba. Basta ter uma vozinha doce e infantil e tocar um sambinha que voce é bossa nova. É o equivalente brasileiro aos CDs dos grandes trechos de ópera ou Vivaldi em sintetizador. ---------------------------- Tento imaginar João Gilberto colocando doze novas faixas na rede. Com a qualidade sonora dos aplicativos. Sem o menor controle sobre divulgação e produção. Música vendida como energia elétrica ou água encanada. Ou pior que tudo, arte de graça. Humilhação. ---------------------------- Bossa Nova nunca foi uma vozinha doce cantando um sambinha bom. Bossa Nova era o absoluto controle da respiração, da frase, da afinação e do ambiente. Arte puramente cerebral. Quando João canta aqui o SAMBA EM BRANCO E PRETO, quase um suicídio em forma de versos, ele não está expressando dor. Ele está apenas cantando. Sua voz é um instrumento, mezzo trompete messo flauta, o que ele faz é abstrato. O que lhe importa é o som das sílabas, o VOU não é IR, é um som: voooou...sibilante, baixo, suspirado, divinamente afinado. Não lhe importa o que signifique a palavra vou, importa o som do V+O+U: vou. ------------------------------- Tendo fama de música de gente frouxa, gente sem osso, sem fibra, de bobocas que falam de barquinhos, na verdade a bossa nova quando feita com verdade e talento, é música de gente fria, distante, pessoas que sublimam. É a harmonia vencendo a expressão. A forma é mais importante que a emoção. ------------------------------- Nada representa um fracasso maior que a bossa nova. Ela durou quatro anos e depois se torna pastiche, cliché e maneirismo. Pior, não deu frutos. Se tornou uma saudade, algo que aponta sempre o passado. Não a toa tanto filme americano usa bossa nova, suja e mal feita, como chavão para cenas passadas nos anos 60. Tanto quanto Burt Bacharach e Beatles, ela é a cara de uma época. -------------------------------- Amoroso, disco gravado em 1977, nos USA, é bonito. E ser bonito era o alvo da bossa nova. Que engraçado...alguém hoje faz um disco almejando ser bonito? Simplesmente bonito, sem mensagem, sem motivo, sem missão a mais, apenas criar beleza...--------------------------------------------- Chet Baker veio antes da bossa nova e a influenciou. E depois foi influenciado por ela. O disco que ouvi, a trilha do filme de Bruce Weber, não é bonito. Chet canta feio. Mas o piano e o contra baixo são lindos. Moon and Sand, que abre o LP, é uma faixa maravilhosa. Mas depois vence o masoquismo. Ouvir um cantor de voz destruída é um ato sadomasoquista. Não me agrada mais. O disco é uma homenagem torta. Não se deve exibir um artista em momento tão baixo. Não é elegante. ------------------------------------------- Me lembra o disco da estrela do Bowie. Hey, vamos ver Bowie morrer! Tou fora disso. Pornografia. ------------------------- Bossa Nova jamais é pornografia. Há uma capa de civilidade e de comedimento entre o cantor e quem o escuta. Ela é erótica sempre, e por isso não pode ser pornô. Tá bom?
MORAES MOREIRA ERA UM CARA LEGAL
Em meus mais de 50 anos de vida, afirmo sempre sem o menor medo de errar, que o Brasil nunca foi tão feliz como no período que vai de 1977 até 1983. Se voce quiser pode repetir a ladainha: Bah! Ditadura! Ok. Mas imagino que voce tenha uns 35, 25 anos né? Sim, havia uma ditadura, e nessa época eu tinha muita raiva dela. Não podíamos votar, e havia a odiada censura. Eu ficava frustrado com o fato de não podermos ver um nu frontal na Playboy. Nem na Ele e Ela. Era minha adolescência. Era isso que me atingia.
Eu lia dois jornais por dia, o Jornal da Tarde e a Folha da Tarde. Voce não vai acreditar, mas tinha jornal que chegava às bancas de madrugada, 5 da manhã, e outros, como os dois citados, às 10 horas. Então eu sabia que havia censura, proibições, perseguições. Mas creiam-me, o clima geral era de otimismo absoluto. Foi o último período de otimismo neste país.
Se voce duvida e acha que penso assim porque aos 15, 20 anos tudo parece colorido, ouça a MPB feita então. Por mais que Gonzaguinha seja amargo, os discos de Caetano, Gil, Gal, são de desbunde. É o auge do hedonismo. Em 1977 começou a lenta abertura. A volta dos exilados. É a época de Moraes Moreira.
Em 1971-1972 ele já havia lançado ao mundo o melhor disco já gravado nesta terra brasileira: Acabou Chorare. Um disco que ainda hoje me causa orgulho de ser daqui. Ouvir esse LP é como encontrar a si mesmo. Tratamento junguiano que resolve tudo em meia hora. A partir de 1977, em carreira solo mas nunca solitária, Moraes cria a trilha sonora da felicidade. Nunca fomos tão felizes. E a gente sabia disso.
Um parênteses aqui: Não foi uma época fácil pra mim. Fui um adolescente tímido e hiper solitário. Então eu passei por esses anos como um tipo de convidado que não aproveita a festa. Voltemos ao texto...
Tinha topless nas praias. E mulher pelada no carnaval. A gente sabia que Bethânia e Simone eram lésbicas. Que Ney e Clodovil eram gays. Mas e daí? Tinha Zico e tinha Chacrinha, então o Brasil era o país mais feliz do mundo. A gente realmente acreditava nisso. O Rio era o melhor lugar do mundo para se nascer e a Bahia era um lugar onde ninguém era triste. Por seis anos a gente viveu nessa certeza. Era o Brasil pobre mas sorridente. Isso era certo? Era errado? Não sei. O que sei era que Gabeira e Brizola tinham voltado, Glauber elogiava os generais e nossa ditadura era um esculacho. Brasileiro não sabe fazer nem ditadura direito. Nas ruas e nos bares, sempre lotados, se falava alto e se ria muito. Na rua Augusta a paquera era ostensiva e madrugada adentro. A gente dormia na praça, bêbados. E Moraes e A Cor do Som cantavam pra gente.
Teve Queen com Freddie Mercury em janeiro de 1981 no Morumbi. Gente de 15 anos ainda podia ir. Assisti entre 1980 e 1983 uns 3 shows do Moraes. O do ginásio do Ibirapuera foi o melhor. Todo mundo entupido de lança perfume e maconha. Como disse, a ditadura brasileira foi um esculacho. Eu voltava a pé pra casa. A gente, mesmo a classe média, tinha poucos bens e não sabia disso. Depois dos shows eu cruzava 10 km de ruas escuras, sozinho. Cantando alto.
Todo domingo tinha jogo no Morumbi. Um ingresso custava o mesmo que um bilhete de cinema: quase nada. Então todo mundo ia. 100 mil pessoas em jogo médio. Eu levava rojão e bandeirão. O povo da escola todo lá. Depois do jogo ainda dava pra jogar bola na rua. A vida era na rua.
Bazar Brasileiro foi o disco da época. Forró do ABC. Deus me fez brasileiro, o documento da raça, na festa da alegria...
Na praia dava pra morar ainda. Praia era zona livre, sem divisão e sem preço. E as festas: Natal, Páscoa, Ano Novo, Juninas, eram na rua, enfeitadas, grátis, sem frescura.
Mas em 1984 inventaram os anos 80 e a gente ficou fresco, metido, bobo. Pior, inventaram a tal hiper inflação, e esse foi um trauma muito pior que a ditadura. Nunca nos recuperamos. Os anos 80 trouxeram à tona o pior do Brasil: roubo. Corrupção. Cinismo. E um fatalismo atroz. A MPB hedonista virou rock brasileiro. Ficamos sérios. Ficamos velhos. Ficamos chatos demais.
Moraes permaneceu. Ele ainda apostava na alegria.
Morreu dormindo. Uma benção.
Voce foi o brasileiro em seu melhor.
Eu lia dois jornais por dia, o Jornal da Tarde e a Folha da Tarde. Voce não vai acreditar, mas tinha jornal que chegava às bancas de madrugada, 5 da manhã, e outros, como os dois citados, às 10 horas. Então eu sabia que havia censura, proibições, perseguições. Mas creiam-me, o clima geral era de otimismo absoluto. Foi o último período de otimismo neste país.
Se voce duvida e acha que penso assim porque aos 15, 20 anos tudo parece colorido, ouça a MPB feita então. Por mais que Gonzaguinha seja amargo, os discos de Caetano, Gil, Gal, são de desbunde. É o auge do hedonismo. Em 1977 começou a lenta abertura. A volta dos exilados. É a época de Moraes Moreira.
Em 1971-1972 ele já havia lançado ao mundo o melhor disco já gravado nesta terra brasileira: Acabou Chorare. Um disco que ainda hoje me causa orgulho de ser daqui. Ouvir esse LP é como encontrar a si mesmo. Tratamento junguiano que resolve tudo em meia hora. A partir de 1977, em carreira solo mas nunca solitária, Moraes cria a trilha sonora da felicidade. Nunca fomos tão felizes. E a gente sabia disso.
Um parênteses aqui: Não foi uma época fácil pra mim. Fui um adolescente tímido e hiper solitário. Então eu passei por esses anos como um tipo de convidado que não aproveita a festa. Voltemos ao texto...
Tinha topless nas praias. E mulher pelada no carnaval. A gente sabia que Bethânia e Simone eram lésbicas. Que Ney e Clodovil eram gays. Mas e daí? Tinha Zico e tinha Chacrinha, então o Brasil era o país mais feliz do mundo. A gente realmente acreditava nisso. O Rio era o melhor lugar do mundo para se nascer e a Bahia era um lugar onde ninguém era triste. Por seis anos a gente viveu nessa certeza. Era o Brasil pobre mas sorridente. Isso era certo? Era errado? Não sei. O que sei era que Gabeira e Brizola tinham voltado, Glauber elogiava os generais e nossa ditadura era um esculacho. Brasileiro não sabe fazer nem ditadura direito. Nas ruas e nos bares, sempre lotados, se falava alto e se ria muito. Na rua Augusta a paquera era ostensiva e madrugada adentro. A gente dormia na praça, bêbados. E Moraes e A Cor do Som cantavam pra gente.
Teve Queen com Freddie Mercury em janeiro de 1981 no Morumbi. Gente de 15 anos ainda podia ir. Assisti entre 1980 e 1983 uns 3 shows do Moraes. O do ginásio do Ibirapuera foi o melhor. Todo mundo entupido de lança perfume e maconha. Como disse, a ditadura brasileira foi um esculacho. Eu voltava a pé pra casa. A gente, mesmo a classe média, tinha poucos bens e não sabia disso. Depois dos shows eu cruzava 10 km de ruas escuras, sozinho. Cantando alto.
Todo domingo tinha jogo no Morumbi. Um ingresso custava o mesmo que um bilhete de cinema: quase nada. Então todo mundo ia. 100 mil pessoas em jogo médio. Eu levava rojão e bandeirão. O povo da escola todo lá. Depois do jogo ainda dava pra jogar bola na rua. A vida era na rua.
Bazar Brasileiro foi o disco da época. Forró do ABC. Deus me fez brasileiro, o documento da raça, na festa da alegria...
Na praia dava pra morar ainda. Praia era zona livre, sem divisão e sem preço. E as festas: Natal, Páscoa, Ano Novo, Juninas, eram na rua, enfeitadas, grátis, sem frescura.
Mas em 1984 inventaram os anos 80 e a gente ficou fresco, metido, bobo. Pior, inventaram a tal hiper inflação, e esse foi um trauma muito pior que a ditadura. Nunca nos recuperamos. Os anos 80 trouxeram à tona o pior do Brasil: roubo. Corrupção. Cinismo. E um fatalismo atroz. A MPB hedonista virou rock brasileiro. Ficamos sérios. Ficamos velhos. Ficamos chatos demais.
Moraes permaneceu. Ele ainda apostava na alegria.
Morreu dormindo. Uma benção.
Voce foi o brasileiro em seu melhor.
BEM VINDO AO MUNDO REAL
Conheço críticos que nos anos 80 e 90 diziam que o grande mal da arte brasileira era a subserviência à Caetano Velloso e sua corte. Eles bufavam dizendo que todo novo cantor, banda ou escritor, tinha como ambição máxima receber as bênçãos de Cae e Gil. Diziam que aqui não havia ruptura, fim de ciclo. Que tudo girava em torno da corte baiana.
Hoje esses mesmos críticos estão alinhados com a corte.
Este não é um texto a favor ou contra. Juro que tento apenas olhar e descrever. Alguém tem de abrir um olho. Vamos a descrição.
Quero entender o motivo de tanto ódio. Por que um povo que ignorava Sarney, hoje quer ver morto Bolsonaro. Há algo de psicológico nisso. Há uma doença social. E eu sei, que pelo fato de 99% dos psicólogos sociais serem de esquerda, eles estão analisando a doença de ser Bolsonaro, e ignoram o ódio irracional ao presidente.
Não digo que ele seja bom. Talvez seja menos que razoável. O que me causa espanto é o tamanho do ódio. Eu vi os governos Figueiredo, Sarney, Collor e todos os demais. Nem Collor foi tão odiado. Por que?
Dizem que Bolsonaro é machista. Diria antes hetero ostensivo. Não o vi bater em mulher. Não o vi caçar algum direito feminino. Não o vi em orgias com 5 mulheres pagas. Sarney, Collor e Lula pareciam tão heteros quanto ele. O que seria então?
Dizem que ele é ignorante. Não vai ao teatro e não lê bons livros. Lula não lia nada. Não foi visto em museu ou teatro. Collor só frequentava festas de playboy. Itamar era alegremente bronco. Então onde Bolsonaro peca?
Já ficou claro não é? Ele cometeu o pecado de não beijar a mão de Caetano e Chico. Claro que estou usando símbolos. Collor e Figueiredo não fizeram isso. Mas o bronco Lula era amado porque foi prestar homenagens a eles. Mesmo não sabendo uma letra de Milton de cor.
Quem mais odeia Bolsonaro é quem não suporta o fato novo que acontece aqui e agora: a morte do formador de opinião. Quem o detesta são as pessoas que se vêm ameaçadas pela perda de sua importância intelectual. " Como esse bronco ousa me ignorar?"
O problema não é ele não ler. É ele ignorar quem escreve livros. Lula dava prêmios. Fazia festivais. Artistas são baratos. E Lula é esperto.
Bolsonaro foi eleito, como Trump, sem o apoio de formadores de opinião. E eles, assustados, não o perdoam por isso. Ele jogou na cara deles o quanto hoje eles são irrelevantes. E eles não podem suportar essa novidade.
O Brasil sempre teve duas elites que mandaram como reis e duques: Os ricos e os "letrados". Em terra de miseráveis, quem tem dois tostões é nobre e quem leu Jorge Amado se acha especial. Tanto o rico como o letrado têm na ponta da língua a frase: "Voce sabe com quem está falando? Voce não tem nível para me contradizer".
Bolsonaro e seus eleitores ignoraram os leitores de Chauí. Nem sequer a atacam. Ignoram sua existência. E vivem bem sem ela. Ela então grita.
Para o ego dos formadores de opinião, isso é insuportável.
A Globo ataca frontalmente, e na minha opinião se suicida com isso, ao governo não só por uma questão fiscal. Ela sabe que ele põe a perigo seu trono dourado. Mostra que ela já não dita regras. Lula foi ao Fantástico no dia da eleição. Foi dar uma exclusiva para a rainha do país. Bolsonaro rezou. Numa transmissão mambembe, ele transmitiu uma reza. Foi feio. Tosco. Foi Brasil.
Bolsonaro joga na cara desse povo, os classe média bem educados, esquerdistas no molde Partido Democrata da California, o que é o Brasil. Muito mais que Lula ou Itamar, ele é o tiozão caminhoneiro, o taxista, o guarda no sinal, o empreiteiro, o dono do açougue, o feirante. Lula era o homem do povo para uso de intelectuais culpados, Bolsonaro é o homem do povo que pouco se importa com intelectuais. Ele é absurdamente sincero.
O ódio a Bolsonaro é revelador. Mostra o preconceito das classes educadas, esnobes, egocêntricas, europeizadas e americanizadas , contra o homem comum, banal, simplório. Ele fala o que pensa e se atrapalha porque fala demais. Ele fala de um modo sujo, mal articulado, feio. Isso é motivo para tanto ódio? Não. Se ele pagasse tributo à realeza seria motivo apenas para risos. Como era o caso de Sarney ou de Itamar. O ódio é aquele do ego ferido. É insuportável para quem o sente.
Ele revela que seu curso de sociologia pode nada significar. Que suas leituras sobre Heidegger podem ser apenas masturbação. Que o mundo real pouco se importa com voce.
É claro que eu adoro livros etc etc etc. Mas por Deus! Como é possível tanta crueldade a alguém cujo único pecado é ser um bronco?
Esse ódio é possível a partir do momento em que ele ameaça seu senso de auto importância.
A partir do momento em que ele se elege contra todos os seus palpites.
E expõe, de forma humilhante, que voce não sabe prever, não influi mais e talvez esteja deixando de ser um "nobre leitor" e se tornando apenas mais um na multidão.
Bem Vindo ao mundo real.
Hoje esses mesmos críticos estão alinhados com a corte.
Este não é um texto a favor ou contra. Juro que tento apenas olhar e descrever. Alguém tem de abrir um olho. Vamos a descrição.
Quero entender o motivo de tanto ódio. Por que um povo que ignorava Sarney, hoje quer ver morto Bolsonaro. Há algo de psicológico nisso. Há uma doença social. E eu sei, que pelo fato de 99% dos psicólogos sociais serem de esquerda, eles estão analisando a doença de ser Bolsonaro, e ignoram o ódio irracional ao presidente.
Não digo que ele seja bom. Talvez seja menos que razoável. O que me causa espanto é o tamanho do ódio. Eu vi os governos Figueiredo, Sarney, Collor e todos os demais. Nem Collor foi tão odiado. Por que?
Dizem que Bolsonaro é machista. Diria antes hetero ostensivo. Não o vi bater em mulher. Não o vi caçar algum direito feminino. Não o vi em orgias com 5 mulheres pagas. Sarney, Collor e Lula pareciam tão heteros quanto ele. O que seria então?
Dizem que ele é ignorante. Não vai ao teatro e não lê bons livros. Lula não lia nada. Não foi visto em museu ou teatro. Collor só frequentava festas de playboy. Itamar era alegremente bronco. Então onde Bolsonaro peca?
Já ficou claro não é? Ele cometeu o pecado de não beijar a mão de Caetano e Chico. Claro que estou usando símbolos. Collor e Figueiredo não fizeram isso. Mas o bronco Lula era amado porque foi prestar homenagens a eles. Mesmo não sabendo uma letra de Milton de cor.
Quem mais odeia Bolsonaro é quem não suporta o fato novo que acontece aqui e agora: a morte do formador de opinião. Quem o detesta são as pessoas que se vêm ameaçadas pela perda de sua importância intelectual. " Como esse bronco ousa me ignorar?"
O problema não é ele não ler. É ele ignorar quem escreve livros. Lula dava prêmios. Fazia festivais. Artistas são baratos. E Lula é esperto.
Bolsonaro foi eleito, como Trump, sem o apoio de formadores de opinião. E eles, assustados, não o perdoam por isso. Ele jogou na cara deles o quanto hoje eles são irrelevantes. E eles não podem suportar essa novidade.
O Brasil sempre teve duas elites que mandaram como reis e duques: Os ricos e os "letrados". Em terra de miseráveis, quem tem dois tostões é nobre e quem leu Jorge Amado se acha especial. Tanto o rico como o letrado têm na ponta da língua a frase: "Voce sabe com quem está falando? Voce não tem nível para me contradizer".
Bolsonaro e seus eleitores ignoraram os leitores de Chauí. Nem sequer a atacam. Ignoram sua existência. E vivem bem sem ela. Ela então grita.
Para o ego dos formadores de opinião, isso é insuportável.
A Globo ataca frontalmente, e na minha opinião se suicida com isso, ao governo não só por uma questão fiscal. Ela sabe que ele põe a perigo seu trono dourado. Mostra que ela já não dita regras. Lula foi ao Fantástico no dia da eleição. Foi dar uma exclusiva para a rainha do país. Bolsonaro rezou. Numa transmissão mambembe, ele transmitiu uma reza. Foi feio. Tosco. Foi Brasil.
Bolsonaro joga na cara desse povo, os classe média bem educados, esquerdistas no molde Partido Democrata da California, o que é o Brasil. Muito mais que Lula ou Itamar, ele é o tiozão caminhoneiro, o taxista, o guarda no sinal, o empreiteiro, o dono do açougue, o feirante. Lula era o homem do povo para uso de intelectuais culpados, Bolsonaro é o homem do povo que pouco se importa com intelectuais. Ele é absurdamente sincero.
O ódio a Bolsonaro é revelador. Mostra o preconceito das classes educadas, esnobes, egocêntricas, europeizadas e americanizadas , contra o homem comum, banal, simplório. Ele fala o que pensa e se atrapalha porque fala demais. Ele fala de um modo sujo, mal articulado, feio. Isso é motivo para tanto ódio? Não. Se ele pagasse tributo à realeza seria motivo apenas para risos. Como era o caso de Sarney ou de Itamar. O ódio é aquele do ego ferido. É insuportável para quem o sente.
Ele revela que seu curso de sociologia pode nada significar. Que suas leituras sobre Heidegger podem ser apenas masturbação. Que o mundo real pouco se importa com voce.
É claro que eu adoro livros etc etc etc. Mas por Deus! Como é possível tanta crueldade a alguém cujo único pecado é ser um bronco?
Esse ódio é possível a partir do momento em que ele ameaça seu senso de auto importância.
A partir do momento em que ele se elege contra todos os seus palpites.
E expõe, de forma humilhante, que voce não sabe prever, não influi mais e talvez esteja deixando de ser um "nobre leitor" e se tornando apenas mais um na multidão.
Bem Vindo ao mundo real.
1973, UM ANO FODA PARA A MPB ( AINDA NÃO LI ESTE LIVRO, VERSÃO BRAZUCA DO 1965 )
1973 foi um ano foda. Escolheram esse ano pra fazer um livro. Os gringos optaram por 1965. Sim, para o pop estrangeiro eu teria escolhido 1972, mas ok, 65 foi foda também. Pra MPB tem de ser 73, não tem opção. Foi o ano dos Secos e Molhados e isso justifica tudo. Mas foi também o ano do Steve McLean, que era brasileiro, do samba dito "joia", do Benito di Paula, do Martinho e dos Originais do Samba. Da Clara Nunes. Foi o ano da Rita Lee e do Raul Seixas. Maracatu Atômico e Antonio Carlos e Jocafe. Foi ano do brega legal de Odair José. "Irmão, vamos seguir com fé, tudo que ensinou, o homem de Nazaré..." essa é do Antonio Marcos. " De onde ela veio pra onde ela vai...oooo não tem ninguém...", foi um ano muito romântico!
Fora do Brasil foi ano do Dark Side of The Moon, do Houses of The Holy, do Billion Dollar Babies, do Berlin, do For Your Pleasure, do Alladin Sane, do Sabbath Bloody Sabbath, do Goodbye Yellow Brick Road, isso só em rock branco. A banda revelação do ano foi o Queen. 1973 foi mais foda ainda porque eu liguei o rádio pela primeira vez.
Estava sozinho em casa numa manhã de sábado e pela primeira vez girei o botão, ele fez clic, e ouvi rádio por vontade própria pela primeira vez. Mais ainda, girei o dial até a Difusora! E escutei " Leve...muito leve leve leve pluma....muito leve leve pluuuumaaaa...." Agora eu era dono do meu gosto musical.
Diz um psicólogo que aquilo que a gente ama aos 11 anos a gente ama pra sempre. Então 1973 é pra sempre.
Fora do Brasil foi ano do Dark Side of The Moon, do Houses of The Holy, do Billion Dollar Babies, do Berlin, do For Your Pleasure, do Alladin Sane, do Sabbath Bloody Sabbath, do Goodbye Yellow Brick Road, isso só em rock branco. A banda revelação do ano foi o Queen. 1973 foi mais foda ainda porque eu liguei o rádio pela primeira vez.
Estava sozinho em casa numa manhã de sábado e pela primeira vez girei o botão, ele fez clic, e ouvi rádio por vontade própria pela primeira vez. Mais ainda, girei o dial até a Difusora! E escutei " Leve...muito leve leve leve pluma....muito leve leve pluuuumaaaa...." Agora eu era dono do meu gosto musical.
Diz um psicólogo que aquilo que a gente ama aos 11 anos a gente ama pra sempre. Então 1973 é pra sempre.
PAVÕES MISTERIOSOS- ANDRÉ BARCINSKI....FOI ASSIM, MAS FOI BEM MAIS
Caro André, o grande mérito de seu livro é o de tocar em assunto pouco explorado. Tem gente com menos de 40 anos que acha que MPB começa com Bossa Nova, salta sobre os anos 70 e continua com rock e Ivete. Eu lembro que até meus 18 anos eu não comprava música em português. Tinha preconceito. Às vezes até gostava, mas não tinha coragem de assumir. Muito menos de consumir. Mas então joguei tudo ao ar e comprei meus primeiros discos de MPB: Secos e Molhados e Pepeu Gomes. E comecei então a comprar muito. Era 1980 e eu tive muita sorte. O que se achava nas lojas era exatamente o melhor do Brasil, aquilo que fora gravado entre 1972-1979. Você tenta André explicar porque a música desse período é tão boa, e desculpe, você acerta e erra feio. Acerta quando diz que por serem menos profissionais, as gravadoras davam maior liberdade aos artistas. Ok. Mas hoje você grava um cd em casa e nem por isso nós temos novos Acabou Chorare...Você erra ao dizer que as rádios FM ajudaram a qualidade musical. É exatamente o contrário! As FMs destruíram a diversidade. Rádios AM como a Difusora e a Excelsior tocavam de Benito di Paula à Led Zeppelin, de James Brown à Ednardo. Isso nos dava uma imensa abertura mental. Você ligava o rádio para ouvir a nova do Bowie, e na espera acabava ouvindo Caetano, Alice Cooper e Slade. Nas FM o padrão de "bom gosto" era muito mais restrito. E hoje....bem...hoje o ouvinte escolhe o que deseja ouvir e acaba ouvindo a mesma coisa por toda a vida.
Belchior merecia mais espaço. Ele foi um estouro em 1976. Mas ok...Devo dizer que você fala de Lulu Santos mais que o devido. Mas ok...Agora, ao falar da Disco você derrapa. Dá pra notar um certo preconceito. E não precisava falar do ato verdadeiramente fascista que rolou nos EUA com a queima de discos de discoteque no campo de beisebol. Foi um ato contra latinos, negros e gays. Além do que a Disco nunca morreu. Ela continuou com Madonna, MJ, Prince, e continua com Beyonce. Onde existir gente misturada dançando sons negros que não sejam RAP haverá disco. Se o Village People ou Sylvester fizeram sucesso só por 3 anos, devo dizer que o América, Bread ou Moby Grape são bandas de rock que também não fizeram hits por muito mais que isso.
Outro erro André: Você às vezes se estica em assuntos que nada têm a ver com o tema do livro. Para que falar de coisas de fora do Brasil! O livro é curto demais, falta espaço, fale mais daquilo que importa! ( A crise nas gravadoras em 1980 não veio por causa do fim da disco. Veio por terem se tornado absurdos os custos de produção de um disco de rock. Bandas ficavam até um ano em estúdio!!!!! E pensar que Sinatra gravava um LP inteiro em duas sessões de seis horas! )
Mas adorei o livro. Tanto que o li em apenas uma sentada. Não consegui parar. E sua descrição do que foi ouvir Ritchie pela primeira vez, em 1983, bate com a minha lembrança. Era um disco brasileiro que falava de frio, noite, e que lembrava a sonoridade do Roxy Music! Foi um choque de chique.
A MPB entre 72 e 79 foi surpreendente, rica, poética, engraçada, trágica e sempre inspiradora. Ainda dá lições de criação e de gosto nos dias de hoje. Feliz de quem a escuta.
Valeu!
Belchior merecia mais espaço. Ele foi um estouro em 1976. Mas ok...Devo dizer que você fala de Lulu Santos mais que o devido. Mas ok...Agora, ao falar da Disco você derrapa. Dá pra notar um certo preconceito. E não precisava falar do ato verdadeiramente fascista que rolou nos EUA com a queima de discos de discoteque no campo de beisebol. Foi um ato contra latinos, negros e gays. Além do que a Disco nunca morreu. Ela continuou com Madonna, MJ, Prince, e continua com Beyonce. Onde existir gente misturada dançando sons negros que não sejam RAP haverá disco. Se o Village People ou Sylvester fizeram sucesso só por 3 anos, devo dizer que o América, Bread ou Moby Grape são bandas de rock que também não fizeram hits por muito mais que isso.
Outro erro André: Você às vezes se estica em assuntos que nada têm a ver com o tema do livro. Para que falar de coisas de fora do Brasil! O livro é curto demais, falta espaço, fale mais daquilo que importa! ( A crise nas gravadoras em 1980 não veio por causa do fim da disco. Veio por terem se tornado absurdos os custos de produção de um disco de rock. Bandas ficavam até um ano em estúdio!!!!! E pensar que Sinatra gravava um LP inteiro em duas sessões de seis horas! )
Mas adorei o livro. Tanto que o li em apenas uma sentada. Não consegui parar. E sua descrição do que foi ouvir Ritchie pela primeira vez, em 1983, bate com a minha lembrança. Era um disco brasileiro que falava de frio, noite, e que lembrava a sonoridade do Roxy Music! Foi um choque de chique.
A MPB entre 72 e 79 foi surpreendente, rica, poética, engraçada, trágica e sempre inspiradora. Ainda dá lições de criação e de gosto nos dias de hoje. Feliz de quem a escuta.
Valeu!
TIM MAIA, OS DISCOS
Tim Maia pra mim é uma rua de terra onde eu andava no meio de muita gente, lixo e música. Os rádios ligados e Gostava Tanto de Voce rolava. Tim e Jorge Ben, Simonal e RC, esses eram os ídolos do povo jovem. Eu era criança, meu negócio era Monkees. Well...Se a gente pensar que o povo jovem hoje vai numas de sertanejo ou axé, funk ou Michel Teló....acho que piorou um bocadinho.
Quando criança eu não gostava do Tim. Achava ele favela. Eu nasci já esnobe. Fazer o que? Mamãe passou sugar ni mim...Só na adolescência, que coincidiu com a baixa de Tim, é que comecei a gostar do cara. Lembro de ver ele, na fase Racional, tocando batera na tv Cultura e me deixando tonto de suingue. Fosse americano Tim Maia seria grande como Stevie Wonder. Pior é que ele sabia disso desde cedo. Ninguém, repito, ninguém tem a voz de Tim. Ele chega ao nível Otis Redding. Matador no balanço, matador na dor de cotovelo.
Tenho escutado os dois primeiros cds no carro. Trânsito parado, calor. Boto os cds e começo a cantar. Intensamente. Tim tem isso. Ele é intenso e voce, no carro, sem medo do ridiculo, abre os braços e solta o vozeirão. Cantando Tim eu engrosso a voz. Me sinto gordão. De Mulato Power. Balanço tudo e tô nem aí. Nada é mais suingue que esses dois discos. Objetivos. Certeiros.
Tim Maia é um gênio.
Quando criança eu não gostava do Tim. Achava ele favela. Eu nasci já esnobe. Fazer o que? Mamãe passou sugar ni mim...Só na adolescência, que coincidiu com a baixa de Tim, é que comecei a gostar do cara. Lembro de ver ele, na fase Racional, tocando batera na tv Cultura e me deixando tonto de suingue. Fosse americano Tim Maia seria grande como Stevie Wonder. Pior é que ele sabia disso desde cedo. Ninguém, repito, ninguém tem a voz de Tim. Ele chega ao nível Otis Redding. Matador no balanço, matador na dor de cotovelo.
Tenho escutado os dois primeiros cds no carro. Trânsito parado, calor. Boto os cds e começo a cantar. Intensamente. Tim tem isso. Ele é intenso e voce, no carro, sem medo do ridiculo, abre os braços e solta o vozeirão. Cantando Tim eu engrosso a voz. Me sinto gordão. De Mulato Power. Balanço tudo e tô nem aí. Nada é mais suingue que esses dois discos. Objetivos. Certeiros.
Tim Maia é um gênio.
TIM MAIA, O FILME. ( E ALGO SOBRE AS BIOS DE ARTISTAS )
Os primeiros minutos são muito ruins. A gente não consegue gostar do Tim Maia número dois. A voz é caricata. Mas o filme fica bom quando Tim é feito por outro ator. Toda a meninice, a ida aos EUA, a volta, a dureza em SP, o reencontro com RC. Toda essa parte, mais de 30 minutos, dá prazer. Bom. Bem bom. Mas...Como toda bio é preciso mostrar os males do sucesso, a queda, o reerguimento e a morte. Tudo muito óbvio, muito chato, muito arrastado. O diretor sente prazer em exibir tanta droga? Tanta chatice explícita? Tudo poderia ser encenado em 10 minutos. Mas não, é uma hora de lixo.
Os atores estão bem legais. Menos o segundo Tim e o Roberto Carlos. Que é aquilo? Cartum? Casseta e Planeta? O filme não é uma comédia, mas RC é. Dá a impressão que ele caiu no filme errado. Well...É legal nesse tipo de filme ver caras que a gente gosta revividos. Adorei ver o Carlos Imperial. O ator tem todos os trejeitos e a voz. Espero que a molecada se ligue em quem foi esse ícone. Impera foi o cara!
Tim Maia foi muito mais que aquilo que o filme mostra. Muito mais. De qualquer modo o crime é bem menor que aquele feito contra Gainsbourg, contra Ray Charles ou contra Jim Morrison. O gênero bio, sempre óbvio, tem nos dado muitos filmes chatos. O pior foi feito em 2005, Cole, a vida de Cole Porter, um caro, longo e bisonho mastodonte. Mesmo tendo Kevin Kline dando show como Cole.
Esse molde de filme vem no mínimo desde os anos 50 quando James Stewart e Anthony Mann fizeram um excelente The Glenn Miller Story. Os melhores sobre músicos, mais recentes, foram aquele sobre Dylan, de Todd Haynes e o filme sobre Johnny Cash, óbvio, jamais chato. Nos anos 90 houve Great Balls fo Fire, ótima bio de Jerry Lee Lewis.
Existem muitos filmes bons sobre escritores. E também sobre pintores. As bios sobre esportistas costumam ser emocionantes. Mas as bios de músicos sempre seguem esse esquema de morte, flash back, luta, sucesso, drogas, queda e superação. Aff....Que tédio!
Pena é que tão cedo ninguém fará outro filme sobre Tim.
Os atores estão bem legais. Menos o segundo Tim e o Roberto Carlos. Que é aquilo? Cartum? Casseta e Planeta? O filme não é uma comédia, mas RC é. Dá a impressão que ele caiu no filme errado. Well...É legal nesse tipo de filme ver caras que a gente gosta revividos. Adorei ver o Carlos Imperial. O ator tem todos os trejeitos e a voz. Espero que a molecada se ligue em quem foi esse ícone. Impera foi o cara!
Tim Maia foi muito mais que aquilo que o filme mostra. Muito mais. De qualquer modo o crime é bem menor que aquele feito contra Gainsbourg, contra Ray Charles ou contra Jim Morrison. O gênero bio, sempre óbvio, tem nos dado muitos filmes chatos. O pior foi feito em 2005, Cole, a vida de Cole Porter, um caro, longo e bisonho mastodonte. Mesmo tendo Kevin Kline dando show como Cole.
Esse molde de filme vem no mínimo desde os anos 50 quando James Stewart e Anthony Mann fizeram um excelente The Glenn Miller Story. Os melhores sobre músicos, mais recentes, foram aquele sobre Dylan, de Todd Haynes e o filme sobre Johnny Cash, óbvio, jamais chato. Nos anos 90 houve Great Balls fo Fire, ótima bio de Jerry Lee Lewis.
Existem muitos filmes bons sobre escritores. E também sobre pintores. As bios sobre esportistas costumam ser emocionantes. Mas as bios de músicos sempre seguem esse esquema de morte, flash back, luta, sucesso, drogas, queda e superação. Aff....Que tédio!
Pena é que tão cedo ninguém fará outro filme sobre Tim.
VOCÊ, O GRANDE TIM MAIA.
Descendo a rua de terra, um monte de caras e de vozes chegam até mim. As janelas estão abertas e por elas saem sons de choro, de riso, de panelas de pressão em ação. Cheiro de feijão e de bife fritando. Cachorro vadio, moscas, muitas moscas. Uma água suspeita corre rente a sarjeta que ainda é um plano para um dia ser feita. Meus pés em sandálias de couro sentem a dor das pedrinhas pontudas que insistem em entrar debaixo da sola do pé. Gente sobe, gente desce. Olha lá! Da rua dá pra ver a cama de uma tia. A pesada madeira marrom. Uma cama enorme, do tipo que nunca vai poder sair do quarto. E um rádio, pousado na janela, joga para esse céu sem fim uma canção.
VOU MORRER DE SAUDADE!
Foi devagar. Os negros foram entrando no rádio e tomaram as telas de TV na sequência. Não eram mais negros de cabelo liso e de terninho cinza. Nem os bambas de camisa listrada e chapéu branco. Esses novos negros não choravam e nem faziam piada. Cantavam. E tinham cabelo de preto, voz de preto e raiva de preto. De todos eles ninguém era mais preto folgado que Timaia. Timaia era como eu o conhecia e ele era tão desafiador que eu sentia medo dele. Aos 8 anos eu temia o negão. Hoje, agora, não.
EU HAVIA ESQUECIDO MAS HOJE É O DIA DOS SANTOS REIS.
1971 viu o dominio do negro folgado. Porque ele foi um susto. Um negão que botava toda voz no chinelo. Ouvir Timaia é bom, cantar junto é melhor ainda. O cara trouxe uma mistura de baião com soul music. De Bossa com Yeah Yeah Yeah. Ele vinha de Sam Cooke e de Estácio. O disco, o segundo dele, é curto e direto. Lindo como uma rua de terra cheia de crianças em manhã vagabunda de verão. Janelas abertas pras moscas entrarem.
Ninguém usa metais como ele, e no meio tem até um xilofone maneiríssimo! E uma sessão de cordas que antecipa a discoteque. Os violinos sibilam....
E sim, tem a voz. Quente, suada, vagabunda. Uma voz que pode dizer toda bobagem, ela vai soar como lei. A voz surge, sem esforço, e toma conta de todo o espaço. Ecoa na cabeça, combina com a alma, lava tudo com lava de som. Queima. Sexo.
Um monte de anos depois este disco continua a esquentar.
Mágico ano da MPB.
VOU MORRER DE SAUDADE!
Foi devagar. Os negros foram entrando no rádio e tomaram as telas de TV na sequência. Não eram mais negros de cabelo liso e de terninho cinza. Nem os bambas de camisa listrada e chapéu branco. Esses novos negros não choravam e nem faziam piada. Cantavam. E tinham cabelo de preto, voz de preto e raiva de preto. De todos eles ninguém era mais preto folgado que Timaia. Timaia era como eu o conhecia e ele era tão desafiador que eu sentia medo dele. Aos 8 anos eu temia o negão. Hoje, agora, não.
EU HAVIA ESQUECIDO MAS HOJE É O DIA DOS SANTOS REIS.
1971 viu o dominio do negro folgado. Porque ele foi um susto. Um negão que botava toda voz no chinelo. Ouvir Timaia é bom, cantar junto é melhor ainda. O cara trouxe uma mistura de baião com soul music. De Bossa com Yeah Yeah Yeah. Ele vinha de Sam Cooke e de Estácio. O disco, o segundo dele, é curto e direto. Lindo como uma rua de terra cheia de crianças em manhã vagabunda de verão. Janelas abertas pras moscas entrarem.
Ninguém usa metais como ele, e no meio tem até um xilofone maneiríssimo! E uma sessão de cordas que antecipa a discoteque. Os violinos sibilam....
E sim, tem a voz. Quente, suada, vagabunda. Uma voz que pode dizer toda bobagem, ela vai soar como lei. A voz surge, sem esforço, e toma conta de todo o espaço. Ecoa na cabeça, combina com a alma, lava tudo com lava de som. Queima. Sexo.
Um monte de anos depois este disco continua a esquentar.
Mágico ano da MPB.
SOBRE BIOGRAFIAS CENSURADAS, BEAGLES E BLOCS PRETOS
Deve ser dificil ter 70 anos.Principalmente quando voce foi símbolo da juventude. Mais dificil ainda deve ser passar mais de 50 anos tomando whisky e jogando bola no sol. Cercado de puxa-sacos. A cabeça do Chico deve estar uma zona. Todo mundo sabe que gosto de Gil e que alguns discos do Caetano acho muito jóia rara. Mas a cabeça deles, por culpa de outros produtos, tipo azeite de dendê, também está pra lá de Marrakesh. E então eles, numa típica confusão que mistura preguiça, medo e amizade, resolvem ouvir o que Roberto Carlos tem a dizer...Qualquer um sabe que Roberto bota Elvis Presley e Michael Jackson no chinelo. Vive em Zanzibar faz tempo. Fique claro, eu adoro Roberto Carlos. Adoro sua voz e algumas múiscas que ele fez lá por 1970 são obras-primas do pop alto nível. Mas ele é um zumbi hoje. E vive num mundo de puxa-sacos e esotéricos freaks também. Eles querem censurar suas biografias? Não sejam tão duros com eles! Ignorem os vovôs. A verdadeira vilã se chama Paula...
Quanto aos beagles...Isso é a marcha da história baby. Não venham me chamar de racista pelo que vou falar. Uso o exemplo dos escravos e esses escravos podem ser brancos e amarelos também. Todos temos antepassados escravos, escravos dos gregos, dos celtas, dos romanos, dos chineses...O que digo é que daqui a cem anos nossos descendentes acharão tão revoltante o modo como tratamos os bichos como achamos a escravidão hoje. É o caminho natural. Irão olhar nossos matadouros com horror e pensarão "Como a gente de 2013 podia aceitar isso?" O cômico, e esperado, é que assim como os escravocatas usavam o motivo econômico como fato que devia manter a escravidão, falavam que libertar os negros deixaria o país falido, os anti-beagles falam que prescindir de bichos atrasaria a ciência. Ora! Pura preguiça! O Brasil, como foi no caso da escravidão, está ainda um século atrasado. Os animais terão direitos reconhecidos. Esse é o futuro, nossos netos irão ver e nos criticarão por nossa demora.
Quanto aos black-blocs, eles são a torcida organizada das ruas. Sujam a moral onde botam as patas.
E é só.
Quanto aos beagles...Isso é a marcha da história baby. Não venham me chamar de racista pelo que vou falar. Uso o exemplo dos escravos e esses escravos podem ser brancos e amarelos também. Todos temos antepassados escravos, escravos dos gregos, dos celtas, dos romanos, dos chineses...O que digo é que daqui a cem anos nossos descendentes acharão tão revoltante o modo como tratamos os bichos como achamos a escravidão hoje. É o caminho natural. Irão olhar nossos matadouros com horror e pensarão "Como a gente de 2013 podia aceitar isso?" O cômico, e esperado, é que assim como os escravocatas usavam o motivo econômico como fato que devia manter a escravidão, falavam que libertar os negros deixaria o país falido, os anti-beagles falam que prescindir de bichos atrasaria a ciência. Ora! Pura preguiça! O Brasil, como foi no caso da escravidão, está ainda um século atrasado. Os animais terão direitos reconhecidos. Esse é o futuro, nossos netos irão ver e nos criticarão por nossa demora.
Quanto aos black-blocs, eles são a torcida organizada das ruas. Sujam a moral onde botam as patas.
E é só.
ÁFRICABRASIL- JORGE BEN, COMPLICAM OS BOÇAIS, JORGE SIMPLIFICA
Em 1976 Jorge resolveu eletrificar. Pegou a guitarra e chamou uma nova banda ( Dadi entre eles ). Homem-Gol. O que ele sempre anunciara se explicitou: ritmo dominando melodia. Ritmo inclusive no sentido das palavras. A letra interessa se ritmar, não rimar. O Homem -Alegria revela seu segredo: Ser feliz é ritmar, ser infeliz é perder compasso. Como diz Octavio Paz, a vida é um ritmo. Só não sabe quem sai do compasso. Surdo de alma.
Menos misticismo aqui. Jorge deixa de lado sua fascinação por Hermes e a alquimia e mergulha mais em São Jorge Guerreiro e Zumbi-que-vai-chegar. O disco é de briga. Briga de Jorge, briga de ginga centra ginga, briga de sorrisos. Grandes artistas são vozes de uma espaço. Eles brotam do chão e do ar para dar voz àquele local. Jorge Ben é a voz do Rio. Ele só poderia ser de Madureira. Pensar em Jorge nascido em outro espaço é como pensar em Goethe não-alemão ou em Debussy não-francês. Condensação de uma alma local. Jorge é samba, futebol, mar, calor, sorriso, malandragem, Rio.
O disco pulsa. E a guitarra manda. Ela é usada como percussão. Mais que em James Brown, a guitarra é espancada, ribombada, baqueteada, ritmada. Sapeca. A banda é do cacete! Cavaleiro do Cavalo Imaculado tem uma linha de baixo que é obra-prima de swing. E a percussão desaba. Africabrasil Zumbi, faixa final, é um escândalo. Jorge agride com a voz, se enraivece, lança raios e lavas e a gente dança enquanto isso. ( Um segredo que Jorge cedo sacou: A Dança é o caminho mais direto ao céu. Quer conhecer tua alma? Dança! ).
Zico merece a Camisa 10 da Gávea. Não se fazem mais jogadores como Zico. Não se fazem mais músicas para jogadores como as que Jorge fez. Mas também não se cantam mais meninas como as que Jorge cantou-canta. Ele não cata as meninas. Ele chega chegando. Não ganha uma mulher. Ele se deixa levar...
Estudante de alquimia e de filosofias herméticas, Jorge sabe que magia é transformar e que portanto a natureza é mágica por ser transformação que se transforma. Viver é transformar e quem não muda, quem não faz de noite dia ou de chuva sol está morto. Esse o segredo de Hermes, mudar pedra em ouro, lágrima em riso e dor em renascimento. Jorge fez isso na música. Do nada se fez som e do som se fez ritmo. O ritmo vira dança e o corpo que dança vira alma que se torna imagem e se desfaz. A música é som que quer ser vida e a dança é vida tornada música. Faz-se o círculo. Jorge sabe.
Profundezas abissais? Não. O mais sábio faz simples aquilo que um boçal complicaria. Ele é simples.
PORQUE O PÂNICO É TÃO RUIM? DADI É MEU MOMENTO FELIZ.
Quem desejar saber o que é o Brasil hoje que assista o Pânico. O programa exemplifica a perfeição os dois tipos de humor que existem: o humor alegre e revigorante e o humor maldoso e triste. As pessoas assistem o programa na esperança de rir. Algumas riem, nenhuma sente alegria. Nada nele é feito com leveza, com felicidade, com prazer. O riso, quando vem, é aquele riso que diz: "Que bosta que essa gente idiota é! Ainda bem QUE EU NÃO SOU ASSIM!". Eles são incapazes de uma cena de humor em que alguém não seja ridicularizado. São tão tristes que confundem rir com humilhar. A alegria passa longe daqueles caras.
Isso se explicita no modo como eles tratam "as gostosas". As "grandes ideias" são sempre as mesmas, mostrar como elas são imbecis. Com certeza na adolescência eles foram muito desprezados pelas gostosas da classe. É um pseudo-humor vingativo. Triste portanto. E nada lá é mais triste que o rosto maquiado e sempre emburrado de um sujeito de barbinha cujo nome esqueci. Azedo, maldoso, infeliz, é o cara que "bola" as maldades estúpidas contra um gordinho bobo alegre e as gostosas "idiotas". Humor? Não, infelicidade vingativa.
Humor do bom ( sim, sou moralista! A moral é o que nos salva queridões ), é sempre feliz. É o momento em que o humorista se expõe e diz ao mundo: "Sim, eu sou assim, mas estamos todos no mesmo barco!" No Pânico a frase é: "Voces são assim, eu sou mais esperto que todos voces seus trouxas!" Nada mais Brasil-Brasilia que isso. O riso do Pânico é a zombaria de um senador corrupto e impune.
Saindo do inferno.... Dadi esteve na Cultura. Naquele programa que entrevista gente no escuro. Ensaio. Quem é Dadi? Dadi é feliz, Dadi é alegre, brasileiradamente alegre. Por toda a minha vida tenho o acompanhado e ele nunca envelhece. Começou a tocar em 1971, num dos melhores discos da história do mundo, ACABOU CHORARE, dos Novos Baianos, o mais feliz dos discos. Contrabaixista, foi morar com a troupe lá no sitio dos caras. A vida deles era futebol de manhã e música de tarde. Depois ele foi tocar com Jorge Ben. Ou seja, saiu da alegria e foi para a felicidade. Linhas de baixo insinuantes. Conheci Dadi quando ele foi em 1979 para a Cor do Som. Da felicidade para a leveza pura. Ele já devia ter 30 anos, mas parecia ter 15. A Cor Do Som foi um big big big sucesso. Principalmente entre o pessoal da escadaria do Objetivo e da praia do Arpoador. Tenho seus discos. Todas as faixas falam de alegria. Cores, visuais, gatas e viagens astrais. Hippies? Talvez. Mas do tipo A, os felizes. Meio Lebowski.
Era um Brasil que prometia. Tropical e livre, parecia que íamos ser exmplares. Um Tahiti gigante, um Hawaii aqui. Mal sabíamos que enquanto nos sentíamos felizes a coisa era combinada. Desandou. Nos anos 80 a coisa foi ficando cada vez mais mal humorada. Deu no Pânico.
Toda geração tem seu momento Copacabana. A hora em que tudo parece "lindo leve e solto". A minha foi entre 1978/1983. Quer dizer, eu espero que todos tenham tido esse momento. Quem não viveu seu ano, ou anos, bossa-nova-tudo-lindo, que vá pedir emprego no Pânico. Com certeza seu sonho é se vingar do meu sorriso. Eu era aquele cabeludo que sorria nas escadarias do Objetivo. E voce era o ressentido que zombava da minha alegria.
Isso se explicita no modo como eles tratam "as gostosas". As "grandes ideias" são sempre as mesmas, mostrar como elas são imbecis. Com certeza na adolescência eles foram muito desprezados pelas gostosas da classe. É um pseudo-humor vingativo. Triste portanto. E nada lá é mais triste que o rosto maquiado e sempre emburrado de um sujeito de barbinha cujo nome esqueci. Azedo, maldoso, infeliz, é o cara que "bola" as maldades estúpidas contra um gordinho bobo alegre e as gostosas "idiotas". Humor? Não, infelicidade vingativa.
Humor do bom ( sim, sou moralista! A moral é o que nos salva queridões ), é sempre feliz. É o momento em que o humorista se expõe e diz ao mundo: "Sim, eu sou assim, mas estamos todos no mesmo barco!" No Pânico a frase é: "Voces são assim, eu sou mais esperto que todos voces seus trouxas!" Nada mais Brasil-Brasilia que isso. O riso do Pânico é a zombaria de um senador corrupto e impune.
Saindo do inferno.... Dadi esteve na Cultura. Naquele programa que entrevista gente no escuro. Ensaio. Quem é Dadi? Dadi é feliz, Dadi é alegre, brasileiradamente alegre. Por toda a minha vida tenho o acompanhado e ele nunca envelhece. Começou a tocar em 1971, num dos melhores discos da história do mundo, ACABOU CHORARE, dos Novos Baianos, o mais feliz dos discos. Contrabaixista, foi morar com a troupe lá no sitio dos caras. A vida deles era futebol de manhã e música de tarde. Depois ele foi tocar com Jorge Ben. Ou seja, saiu da alegria e foi para a felicidade. Linhas de baixo insinuantes. Conheci Dadi quando ele foi em 1979 para a Cor do Som. Da felicidade para a leveza pura. Ele já devia ter 30 anos, mas parecia ter 15. A Cor Do Som foi um big big big sucesso. Principalmente entre o pessoal da escadaria do Objetivo e da praia do Arpoador. Tenho seus discos. Todas as faixas falam de alegria. Cores, visuais, gatas e viagens astrais. Hippies? Talvez. Mas do tipo A, os felizes. Meio Lebowski.
Era um Brasil que prometia. Tropical e livre, parecia que íamos ser exmplares. Um Tahiti gigante, um Hawaii aqui. Mal sabíamos que enquanto nos sentíamos felizes a coisa era combinada. Desandou. Nos anos 80 a coisa foi ficando cada vez mais mal humorada. Deu no Pânico.
Toda geração tem seu momento Copacabana. A hora em que tudo parece "lindo leve e solto". A minha foi entre 1978/1983. Quer dizer, eu espero que todos tenham tido esse momento. Quem não viveu seu ano, ou anos, bossa-nova-tudo-lindo, que vá pedir emprego no Pânico. Com certeza seu sonho é se vingar do meu sorriso. Eu era aquele cabeludo que sorria nas escadarias do Objetivo. E voce era o ressentido que zombava da minha alegria.
SÓ COM AZEITE
E a gente reclamava do Benito di Paula!!!!
O tal Show da Virada mostra aquilo que é a música deste tempo. Tá bom cara, eu sei que o underground tem coisa muito melhor! Mas arte é sempre atemporal, o que se torna retrato de seu tempo é aquilo que ouvimos na rua, nas novelas, nos comerciais, no rádio, em todo canto. Os anos 80 tiveram Husker Du, The X e o sublime Lloyd Cole, mas o retrato do tempo é Michael Jackson e Madonna.
E o que temos em 2012/2013? Um monte de cantores barrigudos que são chamados de lindos, com suas calças justas e seus paletós ( que minha mãe diz se parecerem com pano de chão ), estourando de tão justos. As melodias variam do sempre igual ao sempre ruim. TODOS são bobíssimos. Pior é o que eles tentam falar! O assunto é um só: sexo. Sexo como festa, sexo como gozo, sexo como corno, mas sempre o sexo. Não existe mais nada nesse mundo de bundas gordas e rostos sorridentes.
Os nomes que vou citar são ruins, mas digo com dor na alma, perto do Ximbinha, são gênios!
Silvio Brito, Wando, Gilliard, Peninha, Agepê, Guilherme Arantes, Originais do Samba, Benito di Paula...esses os Ximbinhas de 1978.
Em 1974 eu escutava aos domingos de manhã as 10 Mais da Rádio América AM, mais popular era impossível. Secos e Molhados, Roberto Carlos, Raul Seixas, Tutti Frutti, e os cantores brasileiros que cantavam em inglês: Steve MacLean e Crystian. Desses nomes, alguns são geniais, todos são muito melhores que qualquer das duplas atuais.
Se eu apelar posso dizer que o Show da Virada de 1970 teria Simonal, Tim Maia e Tony Tornado. Que se passa?
Mudo de canal e vejo um festival inglês ( não é Glastonbury ). Afff!!!! TODAS as bandas imitam punks de 1978 !!!! TODAS, sem excessão! Chegam até a cuspir, pular e fazer caras e bocas dos Stiff Little Fingers ou de Howard Devotto. Qué isso nego???? A história do rock acabou? Paramos em 1987 e daí pra frente é só imitação? As discotecagens em Manchester '87 foram o fim? Todo o resto, seja Nirvana, Radiohead ou Dandy Warhols, apenas misturas de coisas velhas com sotaquezinhos novos?
Então vamos jogar fora essa bosta e partir pra outra coisa! Música do Iraque, dos ciganos, do Haiti, tudo menos essa merda de cópias do Sham 69 ou dos Stranglers. Calça skinny com All Star!!! Again!!!!!!
Repetimos o mesmo faz tanto tempo que se em 67 fosse assim Mick Jagger se vestiria como Chaplin !!! E cantaria como Al Jolson !!!
Carla Bardi, AZEITE DE OLIVA. É isso, tudo que voce precisa saber sobre ele. Belas fotos e boas receitas. Vem embalado em lata de azeite. Lindo. E nada caro. Adorei !!!
É o que falo: Música e Cinema estão um lixo, mas os livros....Que beleza!!!!!!
Bonne Anné !!!!
O tal Show da Virada mostra aquilo que é a música deste tempo. Tá bom cara, eu sei que o underground tem coisa muito melhor! Mas arte é sempre atemporal, o que se torna retrato de seu tempo é aquilo que ouvimos na rua, nas novelas, nos comerciais, no rádio, em todo canto. Os anos 80 tiveram Husker Du, The X e o sublime Lloyd Cole, mas o retrato do tempo é Michael Jackson e Madonna.
E o que temos em 2012/2013? Um monte de cantores barrigudos que são chamados de lindos, com suas calças justas e seus paletós ( que minha mãe diz se parecerem com pano de chão ), estourando de tão justos. As melodias variam do sempre igual ao sempre ruim. TODOS são bobíssimos. Pior é o que eles tentam falar! O assunto é um só: sexo. Sexo como festa, sexo como gozo, sexo como corno, mas sempre o sexo. Não existe mais nada nesse mundo de bundas gordas e rostos sorridentes.
Os nomes que vou citar são ruins, mas digo com dor na alma, perto do Ximbinha, são gênios!
Silvio Brito, Wando, Gilliard, Peninha, Agepê, Guilherme Arantes, Originais do Samba, Benito di Paula...esses os Ximbinhas de 1978.
Em 1974 eu escutava aos domingos de manhã as 10 Mais da Rádio América AM, mais popular era impossível. Secos e Molhados, Roberto Carlos, Raul Seixas, Tutti Frutti, e os cantores brasileiros que cantavam em inglês: Steve MacLean e Crystian. Desses nomes, alguns são geniais, todos são muito melhores que qualquer das duplas atuais.
Se eu apelar posso dizer que o Show da Virada de 1970 teria Simonal, Tim Maia e Tony Tornado. Que se passa?
Mudo de canal e vejo um festival inglês ( não é Glastonbury ). Afff!!!! TODAS as bandas imitam punks de 1978 !!!! TODAS, sem excessão! Chegam até a cuspir, pular e fazer caras e bocas dos Stiff Little Fingers ou de Howard Devotto. Qué isso nego???? A história do rock acabou? Paramos em 1987 e daí pra frente é só imitação? As discotecagens em Manchester '87 foram o fim? Todo o resto, seja Nirvana, Radiohead ou Dandy Warhols, apenas misturas de coisas velhas com sotaquezinhos novos?
Então vamos jogar fora essa bosta e partir pra outra coisa! Música do Iraque, dos ciganos, do Haiti, tudo menos essa merda de cópias do Sham 69 ou dos Stranglers. Calça skinny com All Star!!! Again!!!!!!
Repetimos o mesmo faz tanto tempo que se em 67 fosse assim Mick Jagger se vestiria como Chaplin !!! E cantaria como Al Jolson !!!
Carla Bardi, AZEITE DE OLIVA. É isso, tudo que voce precisa saber sobre ele. Belas fotos e boas receitas. Vem embalado em lata de azeite. Lindo. E nada caro. Adorei !!!
É o que falo: Música e Cinema estão um lixo, mas os livros....Que beleza!!!!!!
Bonne Anné !!!!
NOITES TROPICAIS- NELSON MOTTA, UM CARA LEGAL
Eu não havia percebido até então, mas Nelson Motta está em dois momentos muito rocknroll da minha vida. O primeiro é em 1973, quando o vejo apresentar o programa SÁBADO SOM na tv Globo à tarde. Foi o primeiro programa na tv brasileira com clips de rock estrangeiro. Nelsinho aparecia de cabelão, já trintão mas aparentando uns 18 anos. Apresentava a banda a ser exibida, dava um breve histórico. Era um cara sorridente, simpático, sempre de altíssimo astral. Nelson Motta jamais mudou. Continua sorridente, leve, e só se tornou "um coroa" após os 60 anos. Ah sim, o segundo momento rock foi em 1981, quando na tv Bandeirantes ele apresentava o moderníssimo MOCIDADE INDEPENDENTE. Um programa new wave, hiper editado, que apresentava grafiti, videos, poesia, sexo, funk e pirações nas noites de sábado, 21 horas. Foi um fiasco e durou só dois meses. Mas eu vi.
Neste livro Nelson conta sua vida. Ou deveria. Na verdade ele fala de todo mundo que ele conheceu. E ele mesmo passa ao lado. Nelson sempre foi um grande conquistador. Do tipo passivo. As mulheres o pegavam, Muitas. Por ser sorridente, do bem, calmo e relax. E o livro é como ele: solar. Alegremente escrito, sedutor e despretensioso. Show.
Tem tanta história boa que fica dificil pra mim falar de alguma. Começa lá no fim dos anos 50, a única época na história do Brasil em que a inteligência dava hibope. Os anos JK. Havia na música uma enorme distãncia entre a zona sul e a zona norte ( não que isso seja bom ). Na zona sul se ouvia jazz, na zona norte samba. E samba do tipo canção, de vozeirão. Na zona sul tudo era bossa-nova. Na zona norte nem se sabia o que era isso. E em apenas 3 anos essa primeira bossa se torna "velha". É chamada de elitista. Vem uma nova bossa, politizada, de esquerda. A mpb será marcada para sempre por essa divisão: direita e esquerda, politizada e alienada.
Nelson conviveu com essas duas panelas. Na verdade conviveu com quase todas. Da bossa de esquerda veio Elis Regina e Chico Buarque. E ao mesmo tempo surgia no suburbio e em SP a Jovem Guarda, que era de direita e alienante. Imensa divisão: gostar de Roberto Carlos é ser burro. Só um cara quebra esse preconceito: Jorge Ben. Jorge, sempre quieto, calado, calmo, é o cara que é enigma. Para a turma da USP, ele é um "autêntico". O que ele faz é samba, é raiz, é Brasil. Mas para a Jovem Guarda ele é pop. Se apresenta no programa de tv de Roberto, é rock. Na verdade Jorge Ben é Jorge Ben. Um gênio intuitivo. Ele era o futuro. Mais que Elis, Edu Lobo ou Vandré. Mais que Eduardo Araújo ou Simonal.
E houve Tim Maia. Amigo de rua de Erasmo Carlos, com 16 anos foi pros EUA. Lá foi logo preso e cumpriu pena. E enquanto isso seu amigo Erasmo se tornava estrela no Brasil. Recebendo essas noticias por carta, Tim em nada acreditava. Quando voltou viu que era real. Apareceu na Jovem Guarda mas ninguém gostou. Ele estouraria só em 1970. Tim Maia era soul, era funk, era a maior voz do país. As melhores histórias do livro falam dele.
Uma delas: Quando moleque Tim trabalhava entregando marmitas na rua. Levava as marmitas numa vara, pendurada nos ombros. No caminho ele ia bicando todas as marmitas. Um feijão aqui, um bife lá, um doce...Vem daí seu problema de peso.
Nelson fala da tv Record. Do marketing com a Jovem Guarda, da prisão de Erasmo ( corrupção de menores ) e das brigas com outro programa da casa, O Fino, de Elis Regina, que odiava Roberto Carlos. Aliás ela também abominava bossa-nova e foi rival feroz de Caetano Veloso. Só nos anos 70 ela reveria suas posições e até gravaria esse povo. Nos virulentos anos 60 o que mais se sentia era raiva.
Belas histórias da Jovem Guarda, em que pela primeira vez patroas e empregadas eram vistas juntas num teatro. Depois do show as patroas iam com os cantores às boates dançar. Mas, puritanas e esnobes, não faziam sexo com eles. Erasmo e os outros iam aos lugares mais populares depois que as patroas se iam, onde aí sim, levavam as suburbanas à cama. O maior comedor era Jerry Adriani, que inclusive foi namorado de Maria Bethânia (!!!!!! ), e de Nara Leão ( que fazia parte dos inimigos da Jovem Guarda ).
Nelson foi casado com Elis e com Marilia Pêra. E teve um zilhão de amores famosos ( que ele, elegante, não conta ). Nos anos 70 ele manda histórias hilárias de Raul Seixas e Paulo Coelho, dos festivais de rock desastrosos, da ditadura, dos Secos e Molhados e das casas noturnas que fundou.
A Dancing Days foi a primeira disco do Brasil. Um Shopping na Gávea lhe cedeu o local de graça. Na casa ele cria garçonetes/cantoras que serão as Frenéticas. Com ingressos baratos e sem consumação, a casa une globais e surfistas, gente da zona norte e sambistas, playboys e modelos, domésticas e prostitutas. Depois a Dancing Days se muda pro morro da Urca e o sucesso aumenta. Se vai de bondinho, a pista é ao ar livre e se vê o Rio lá de cima.
Em 1980 ele abre a PAULICÉIA DESVAIRADA em SP. Essa eu conheci. Julio Barroso de Dj, uma parede de telas de tv, zebras e onças, sujeira chique. Muuuuuito pó e new wave.
Como tinha de ser, quando entram os anos 80 a coisa piora. Muita droga, muita ego trip, a explosão do rock. Nelsinho fala de Lobão, de Lulu Santos e da Gang Noventa. Ele namorou a estonteante May East. E lá no fim do livro ele volta a Tim, que fica como um tipo de espírito doidão que acompanha a história desde 1958 até 1998.
Falo que todos deveriam ler este livro. É divertido, é informativo, é duca. Nelson Motta escreve fácil, leve, escreve ágil e a gente fica sabendo de um monte de porques, coisas que nos marcam até hoje, enquanto se diverte. Como ele falava no começo de SÁBADO SOM:
- Alô Alô juventude animada!!!! Vamos ler que é de primeira!
Neste livro Nelson conta sua vida. Ou deveria. Na verdade ele fala de todo mundo que ele conheceu. E ele mesmo passa ao lado. Nelson sempre foi um grande conquistador. Do tipo passivo. As mulheres o pegavam, Muitas. Por ser sorridente, do bem, calmo e relax. E o livro é como ele: solar. Alegremente escrito, sedutor e despretensioso. Show.
Tem tanta história boa que fica dificil pra mim falar de alguma. Começa lá no fim dos anos 50, a única época na história do Brasil em que a inteligência dava hibope. Os anos JK. Havia na música uma enorme distãncia entre a zona sul e a zona norte ( não que isso seja bom ). Na zona sul se ouvia jazz, na zona norte samba. E samba do tipo canção, de vozeirão. Na zona sul tudo era bossa-nova. Na zona norte nem se sabia o que era isso. E em apenas 3 anos essa primeira bossa se torna "velha". É chamada de elitista. Vem uma nova bossa, politizada, de esquerda. A mpb será marcada para sempre por essa divisão: direita e esquerda, politizada e alienada.
Nelson conviveu com essas duas panelas. Na verdade conviveu com quase todas. Da bossa de esquerda veio Elis Regina e Chico Buarque. E ao mesmo tempo surgia no suburbio e em SP a Jovem Guarda, que era de direita e alienante. Imensa divisão: gostar de Roberto Carlos é ser burro. Só um cara quebra esse preconceito: Jorge Ben. Jorge, sempre quieto, calado, calmo, é o cara que é enigma. Para a turma da USP, ele é um "autêntico". O que ele faz é samba, é raiz, é Brasil. Mas para a Jovem Guarda ele é pop. Se apresenta no programa de tv de Roberto, é rock. Na verdade Jorge Ben é Jorge Ben. Um gênio intuitivo. Ele era o futuro. Mais que Elis, Edu Lobo ou Vandré. Mais que Eduardo Araújo ou Simonal.
E houve Tim Maia. Amigo de rua de Erasmo Carlos, com 16 anos foi pros EUA. Lá foi logo preso e cumpriu pena. E enquanto isso seu amigo Erasmo se tornava estrela no Brasil. Recebendo essas noticias por carta, Tim em nada acreditava. Quando voltou viu que era real. Apareceu na Jovem Guarda mas ninguém gostou. Ele estouraria só em 1970. Tim Maia era soul, era funk, era a maior voz do país. As melhores histórias do livro falam dele.
Uma delas: Quando moleque Tim trabalhava entregando marmitas na rua. Levava as marmitas numa vara, pendurada nos ombros. No caminho ele ia bicando todas as marmitas. Um feijão aqui, um bife lá, um doce...Vem daí seu problema de peso.
Nelson fala da tv Record. Do marketing com a Jovem Guarda, da prisão de Erasmo ( corrupção de menores ) e das brigas com outro programa da casa, O Fino, de Elis Regina, que odiava Roberto Carlos. Aliás ela também abominava bossa-nova e foi rival feroz de Caetano Veloso. Só nos anos 70 ela reveria suas posições e até gravaria esse povo. Nos virulentos anos 60 o que mais se sentia era raiva.
Belas histórias da Jovem Guarda, em que pela primeira vez patroas e empregadas eram vistas juntas num teatro. Depois do show as patroas iam com os cantores às boates dançar. Mas, puritanas e esnobes, não faziam sexo com eles. Erasmo e os outros iam aos lugares mais populares depois que as patroas se iam, onde aí sim, levavam as suburbanas à cama. O maior comedor era Jerry Adriani, que inclusive foi namorado de Maria Bethânia (!!!!!! ), e de Nara Leão ( que fazia parte dos inimigos da Jovem Guarda ).
Nelson foi casado com Elis e com Marilia Pêra. E teve um zilhão de amores famosos ( que ele, elegante, não conta ). Nos anos 70 ele manda histórias hilárias de Raul Seixas e Paulo Coelho, dos festivais de rock desastrosos, da ditadura, dos Secos e Molhados e das casas noturnas que fundou.
A Dancing Days foi a primeira disco do Brasil. Um Shopping na Gávea lhe cedeu o local de graça. Na casa ele cria garçonetes/cantoras que serão as Frenéticas. Com ingressos baratos e sem consumação, a casa une globais e surfistas, gente da zona norte e sambistas, playboys e modelos, domésticas e prostitutas. Depois a Dancing Days se muda pro morro da Urca e o sucesso aumenta. Se vai de bondinho, a pista é ao ar livre e se vê o Rio lá de cima.
Em 1980 ele abre a PAULICÉIA DESVAIRADA em SP. Essa eu conheci. Julio Barroso de Dj, uma parede de telas de tv, zebras e onças, sujeira chique. Muuuuuito pó e new wave.
Como tinha de ser, quando entram os anos 80 a coisa piora. Muita droga, muita ego trip, a explosão do rock. Nelsinho fala de Lobão, de Lulu Santos e da Gang Noventa. Ele namorou a estonteante May East. E lá no fim do livro ele volta a Tim, que fica como um tipo de espírito doidão que acompanha a história desde 1958 até 1998.
Falo que todos deveriam ler este livro. É divertido, é informativo, é duca. Nelson Motta escreve fácil, leve, escreve ágil e a gente fica sabendo de um monte de porques, coisas que nos marcam até hoje, enquanto se diverte. Como ele falava no começo de SÁBADO SOM:
- Alô Alô juventude animada!!!! Vamos ler que é de primeira!
RECONCILIAÇÃO E UM CHORO MUSICAL
Para a felicidade faz-se necessária a reconciliação. Sem ela não há como.
Acordar ouvindo a música que vem do quarto. A luz entra pela minha janela e no vizinho um cachorro preto dá um latido. O galo canta no meu quintal. No teto do meu quarto há um friso de madeira. Imagem de Cristo com um coração vermelho. E vem música do quarto de meu pai.
Ele sempre acorda com o rádio ligado. Chorinho. O despertador dele faz um tic-tac ensurdecedor.
Da cozinha vem cheiro de café. Coado em coador de pano velho. As xícaras são de louça verde-água. Meu pai bate a colher na xícara após mexer o café. Pela porta aberta da cozinha entra sol. Estou de pijama. Móveis de fórmica verde e fogão vermelho. Na parede de azulejo branco há um termômetro com um desenho de uma baleia: SFC, Campeão Paulista de 1969.
Nas gaiolas dos canários meu pai sopra as cascas do alpiste. E troca a água dos bebedouros. Ele os pega nas mãos e beija suas cabeças. Quem não teve pai que cuida de canários nunca vai saber o que é ter um pai que cuida de canários.
Voltar pra casa. Tantas canções falam de voltar pra casa. Essa casa de canários e de chorinhos não existe mais. Esse país de canários e de chorinhos não existe mais.
Andando pela rua escuto chorinho vindo da mercearia. A cadência malemolente do pandeiro casando com o dedilhar suave das cordas. E a flauta que voa entre as notas. Música que tem perfume e cor. E da rua entro no barbeiro. Ele coloca uma lata de açúcar sobre a cadeira. Sento sobre a lata e ele corta meu cabelo. Descubro que isso não dói.
Em casa meu pai bota graxa na bomba do poço. Com um pincel. Enquanto faz isso ele assobia um chorinho alegre.
Quem não teve um pai que assobia um chorinho alegre enquanto põe graxa na bomba do poço não sabe o que é ter um pai que assobia enquanto põe graxa na bomba do poço. Que tem 14 metros de fundura e onde jogo pedras pra ouvir a água fazer "tchum".
O paraíso que ansiamos é o retorno á casa. Ao lar. Que é impossível, eu sei. Mas a reconciliação com esse mundo é o único modo de se começar a ser feliz. Abraçar o menino de pijamas e admitir o amor ao homem que cuida dos canários.
Sobre as parreiras que se entrelaçam numa armação de ferro, ele joga uma lona pesada. A sombra se faz sobre a terra seca. Entro agachado. Aqui dentro a sombra que refresca e as folhas das parreiras. Lá fora o sol forte castigando as alfaces e as couves altas. Deito sobre a terra e afasto as pedras. Do vizinho vem a narração de uma novela de rádio. As vozes do narrador, do mocinho e da namorada sofredora. Fecho os olhos e nada penso. Minha mãe começa a estender lençóis brancos. Eles voam ao vento. Olho as mãos dela esticando lençóis. Faz-se uma parede de pano branco que voa. Vela de navio. Volto a fechar os olhos e deitar sobre a terra. Uma lagartixa preta corre entre as barras de ferro que sustentam a parreira. A lona esquenta e começa a cheirar como lona quente.
Se eu ganhar um bilhão e namorar as vinte mulheres mais lindas e interessantes do mundo, ainda assim, sonharei com essa tarde. Porque o homem é o único bicho que tem infância. Mais que isso.
E uma enchadada na lama faz com que milhões de minhocas gordas apareçam. E os filhotes de pato correm e começam a engolir todas elas. Alguns deles comem tanto que o papo incha e toca na lama preta. Patos são burros. E os pombos brancos voam em formação no céu. Meu pai cria pombos de pés rosa. Pombos do mato, limpos e de bicos claros. Gordos.
Começa a amanhecer. Meu pai liga o rádio. Um pandeiro e uma flauta.
Eu pensei que a vida fosse sempre assim.
Ela é.
Acordar ouvindo a música que vem do quarto. A luz entra pela minha janela e no vizinho um cachorro preto dá um latido. O galo canta no meu quintal. No teto do meu quarto há um friso de madeira. Imagem de Cristo com um coração vermelho. E vem música do quarto de meu pai.
Ele sempre acorda com o rádio ligado. Chorinho. O despertador dele faz um tic-tac ensurdecedor.
Da cozinha vem cheiro de café. Coado em coador de pano velho. As xícaras são de louça verde-água. Meu pai bate a colher na xícara após mexer o café. Pela porta aberta da cozinha entra sol. Estou de pijama. Móveis de fórmica verde e fogão vermelho. Na parede de azulejo branco há um termômetro com um desenho de uma baleia: SFC, Campeão Paulista de 1969.
Nas gaiolas dos canários meu pai sopra as cascas do alpiste. E troca a água dos bebedouros. Ele os pega nas mãos e beija suas cabeças. Quem não teve pai que cuida de canários nunca vai saber o que é ter um pai que cuida de canários.
Voltar pra casa. Tantas canções falam de voltar pra casa. Essa casa de canários e de chorinhos não existe mais. Esse país de canários e de chorinhos não existe mais.
Andando pela rua escuto chorinho vindo da mercearia. A cadência malemolente do pandeiro casando com o dedilhar suave das cordas. E a flauta que voa entre as notas. Música que tem perfume e cor. E da rua entro no barbeiro. Ele coloca uma lata de açúcar sobre a cadeira. Sento sobre a lata e ele corta meu cabelo. Descubro que isso não dói.
Em casa meu pai bota graxa na bomba do poço. Com um pincel. Enquanto faz isso ele assobia um chorinho alegre.
Quem não teve um pai que assobia um chorinho alegre enquanto põe graxa na bomba do poço não sabe o que é ter um pai que assobia enquanto põe graxa na bomba do poço. Que tem 14 metros de fundura e onde jogo pedras pra ouvir a água fazer "tchum".
O paraíso que ansiamos é o retorno á casa. Ao lar. Que é impossível, eu sei. Mas a reconciliação com esse mundo é o único modo de se começar a ser feliz. Abraçar o menino de pijamas e admitir o amor ao homem que cuida dos canários.
Sobre as parreiras que se entrelaçam numa armação de ferro, ele joga uma lona pesada. A sombra se faz sobre a terra seca. Entro agachado. Aqui dentro a sombra que refresca e as folhas das parreiras. Lá fora o sol forte castigando as alfaces e as couves altas. Deito sobre a terra e afasto as pedras. Do vizinho vem a narração de uma novela de rádio. As vozes do narrador, do mocinho e da namorada sofredora. Fecho os olhos e nada penso. Minha mãe começa a estender lençóis brancos. Eles voam ao vento. Olho as mãos dela esticando lençóis. Faz-se uma parede de pano branco que voa. Vela de navio. Volto a fechar os olhos e deitar sobre a terra. Uma lagartixa preta corre entre as barras de ferro que sustentam a parreira. A lona esquenta e começa a cheirar como lona quente.
Se eu ganhar um bilhão e namorar as vinte mulheres mais lindas e interessantes do mundo, ainda assim, sonharei com essa tarde. Porque o homem é o único bicho que tem infância. Mais que isso.
E uma enchadada na lama faz com que milhões de minhocas gordas apareçam. E os filhotes de pato correm e começam a engolir todas elas. Alguns deles comem tanto que o papo incha e toca na lama preta. Patos são burros. E os pombos brancos voam em formação no céu. Meu pai cria pombos de pés rosa. Pombos do mato, limpos e de bicos claros. Gordos.
Começa a amanhecer. Meu pai liga o rádio. Um pandeiro e uma flauta.
Eu pensei que a vida fosse sempre assim.
Ela é.
PERFEITA TRADUÇÃO DO QUE SEJA O DESEJO: A TUA PRESENÇA, FAIXA DO DISCO QUALQUER COISA DE CAETANO VELOSO
É uma batida só. Que se repete e se repete e não muda e não sai. Não se transforma. Bumbo e um toque de violão. A voz. A voz é como um lamento ou uma prece. A voz é uma voz que sabe-se presa do desejo. Porque o desejo prende. E é um não.
Ele fala da presença. Pois o desejo faz da pessoa que se deseja uma presença que a tudo mata. Pois ela está em todo lugar e todo lugar deixa de ser todo lugar. Tudo vira uma única coisa: o desejo.
E a batida cresce e o desejo cresce.
Mas é arte, então o desespero é prece e a canção é quase uma espécie de reza. O desejo absoluto sempre chega a ser religião. E faz dessa negação de si uma confirmação de ser. Contradição.
Uns violinos zumbem. Negra e morena.
Quanto desejo pode um homem sentir?
Uma canção linda mais que bela linda e bela, desejo.
Mas quero falar de mais....
Depois tem Jorge da Capadócia. Que é uma prece de Jorge Ben e que pede proteção.
E tem surpresas: Eleanor Rigby em ritmo de samba.
For No One em ritmo de bossa-nova.
E Lady Madonna como MPB.
Não é homenagem aos Beatles. É pra Paul e pra Tom Jobim. Mostra que a Bossa cabe em tudo. E mais: as 3 ficaram muito, muito boas. For No One chega a ser genial.
Um PS: Minha mãe me disse para minha imensa surpresa que ela adora Seu Jorge. E eu nem sabia que ela sabia quem é o cara! Ela pede uns cds dele. Seu Jorge, devo admitir, sacou a coisa certa. Tudo aquilo que tenho escutado de mpb Seu Jorge misturou. Quem escutar a versão Caetano de Lady Madonna vai entender.
PS 2: Qualquer Coisa foi a primeira canção de MPB que gostei. Tem aquele tipo de rica orquestração que só aqui se fazia. Ela decola e voa. Eu tinha 11 anos. Mas só comprei o disco e fui o entender aos 18.
Sem PS agora: O cara canta muito! Este disco é quase só voz e violão.
É pra ouvir no escuro. E assobiar. Entre 1972 e 1982 Caetano foi infalível.
Tá dito.
Ele fala da presença. Pois o desejo faz da pessoa que se deseja uma presença que a tudo mata. Pois ela está em todo lugar e todo lugar deixa de ser todo lugar. Tudo vira uma única coisa: o desejo.
E a batida cresce e o desejo cresce.
Mas é arte, então o desespero é prece e a canção é quase uma espécie de reza. O desejo absoluto sempre chega a ser religião. E faz dessa negação de si uma confirmação de ser. Contradição.
Uns violinos zumbem. Negra e morena.
Quanto desejo pode um homem sentir?
Uma canção linda mais que bela linda e bela, desejo.
Mas quero falar de mais....
Depois tem Jorge da Capadócia. Que é uma prece de Jorge Ben e que pede proteção.
E tem surpresas: Eleanor Rigby em ritmo de samba.
For No One em ritmo de bossa-nova.
E Lady Madonna como MPB.
Não é homenagem aos Beatles. É pra Paul e pra Tom Jobim. Mostra que a Bossa cabe em tudo. E mais: as 3 ficaram muito, muito boas. For No One chega a ser genial.
Um PS: Minha mãe me disse para minha imensa surpresa que ela adora Seu Jorge. E eu nem sabia que ela sabia quem é o cara! Ela pede uns cds dele. Seu Jorge, devo admitir, sacou a coisa certa. Tudo aquilo que tenho escutado de mpb Seu Jorge misturou. Quem escutar a versão Caetano de Lady Madonna vai entender.
PS 2: Qualquer Coisa foi a primeira canção de MPB que gostei. Tem aquele tipo de rica orquestração que só aqui se fazia. Ela decola e voa. Eu tinha 11 anos. Mas só comprei o disco e fui o entender aos 18.
Sem PS agora: O cara canta muito! Este disco é quase só voz e violão.
É pra ouvir no escuro. E assobiar. Entre 1972 e 1982 Caetano foi infalível.
Tá dito.
CARNAVAL
Não existe mais samba enredo que vire sucesso popular. Eu ainda peguei o tempo de "Nesse palco iluminado/ Só dá Lalá/ És presente imortal....", ou então, "É hoje o dia/ Da alegria/ E a tristeza/ Nem pode pensar em chegar..." E eu adorava uma que dizia, "O carnaval é a maior caricatura/ Na folia o povo esquece a amargura...."
Samba enredo é hoje apenas um tipo de marchinha militar com a única função de fazer o povo evoluir. Desfiles de escolas de samba perderam qualquer traço de espontaniedade. Os desfiles se tornaram competição, têm tática, meta e planejamento; o deslumbre visual se aprimorou, o maravilhoso kaos dionisíaco se foi. Apolo é o deus do carnaval das escolas e dos trios da Bahia. A estupenda e estúpida comunhão de suores e de alegrias foi substituída por uma organizada e burocratizada bebedeira geral.
Acompanhei os desfiles dos anos 70/80. Sem sambódromo, eram feitos na avenida. As toscas arquibancadas de madeira podiam ruir e o povo invadia o asfalto e não deixava a escola andar. Para isso existia o abre-alas, para abrir caminho na multidão. A platéia assistia a escola como se estivesse dentro dela, se podia tocar as fantasias. Um kaos que fazia com que sempre houvesse atraso e lembro de um desfile ( 1977? ) que acabou às 15 horas de segunda-feira!!! Era menos bonito que hoje, mas era lindo. Havia suspense, voce nunca sabia o que podia acontecer. Carros quebravam, a bateria atravessava ( não havia sistema de som ), se chovesse a pista alagava, tudo de errado podia vir. Mas em compensação, quando dava certo, voce via o povo entrar na escola e levar o samba junto. Eram palmas e cantoria vindo da arquibancada para a escola e vice-versa. Por estarem passando muito perto tudo era uma coisa só. Era lindo. A escola passava e o povo ia atrás.
Quem desfilava era da comunidade, poucos famosos desfilavam, e esses poucos frequentavam a escola o ano inteiro. E o legal é que cada uma tinha seu estilo. A Portela era metida a aristocrata, toda séria e cheia de pose; a Mangueira era a falida, de uma digna pobresa, a rainha da tradicionalidade, brega e de raiz; o Salgueiro era excêntrico. A mais ousada, inovadora, doida de pedra. O Império Serrano sempre comia pelas beiradas, vinha na empolgação, caprichava nos sambas. A Mocidade tinha a melhor bateria e a Imperatriz era a mais fria e sem carisma. Quando veio o furacão Beija-Flor, em 1976, todas entraram em crise e perderam o rumo. O carnaval mudava para sempre com Joãozinho Trinta. O luxo se fazia rei, mulheres nuas e destaques sobre os carros. Todas as outras se beijaflorizaram e a diversidade foi pras cucuias. Que pena...
Comecei a me interessar pelos desfiles pra ver mulheres sem roupa. Mas depois comecei a achar aquilo tudo muito emocionante. E lembro de até ter chorado com os desfiles da Portela em 81 e da Mocidade em 89. Mas desisti faz tempo. Tá tudo exatamente igual.
Na Tv, 1981 foi alucinante. Algum maluco na TVE do Rio teve a idéia de cobrir todo o carnaval do cidade ao vivo, sem interrupções, todos os quatro dias. É isso mesmo: de sábado à terça, 24 horas no ar, só carnaval e só na cidade. Isso fazia com que eles passassem blocos da zona norte e desfiles de fantasias de todo clube metropolitano. Eram bastidores de festas, ruas sendo preparadas, rodas de samba em botecos, desfiles de escolas do grupo 3. Voce imagina o que era arriscado transmitir carnaval às nove da manhã de segunda-feira? Sempre ao vivo. De noite voce ouvia os narradores esgotados, avisando que iam dormir quatro horas para logo voltar à folia. Era uma maratona de revesamento, era uma das coisas mais loucas e soberbas que a TV já ousou. E deu certo. Lembro de Clóvis Bornay comendo uvas... Isso que voce leu, Bornay comendo uvas e falando abobrinha, pois não havia mais nada de interessante para passar às 18 horas de terça-feira, então tome Bornay na sua sala e tome desfile de fantasia infantil em Paquetá. Carnaval tem de ser assim: cheio de erros, de desafios, de bobagens, e sempre lindo. A equipe de Fernando Pamplona deu um show!!! 76 horas no ar sem parar, sem nada pré-gravado, nas ruas, correndo para onde houvesse folia. Mesmo os que estavam nas ruas do Rio não se sentiram tão dentro do clima de carnaval do Rio como aqueles que sintonizavam a TVE.
Carnaval é também guerra de água nas ruas quentes de meu bairro, são os bailes do Flamengo que a TV passava, e que com seus exageros de sexo ajudaram a derrubar a censura. Foram os desfiles que eu via em Santos, na rua, bestificado pela força que uma bateria tem ao vivo. Que show de rock que nada, a zueira é uma bateria completa. Voce fica dias com aquela batida dentro da cabeça. Carnaval era também se fantasiar para correr pelas ruas, jogando confete nos poucos carros e rir e rir e rir...
E pra voce que odeia carnaval mas adora Keith Richards ou Ozzy, saiba que se eles aqui estivessem estariam na rua, vendo, ouvindo, fazendo. Se perdendo entre as curvas da mulata e alucinando com o ritmo do surdo. O Carnaval verdadeiro não é pra amadores.
Samba enredo é hoje apenas um tipo de marchinha militar com a única função de fazer o povo evoluir. Desfiles de escolas de samba perderam qualquer traço de espontaniedade. Os desfiles se tornaram competição, têm tática, meta e planejamento; o deslumbre visual se aprimorou, o maravilhoso kaos dionisíaco se foi. Apolo é o deus do carnaval das escolas e dos trios da Bahia. A estupenda e estúpida comunhão de suores e de alegrias foi substituída por uma organizada e burocratizada bebedeira geral.
Acompanhei os desfiles dos anos 70/80. Sem sambódromo, eram feitos na avenida. As toscas arquibancadas de madeira podiam ruir e o povo invadia o asfalto e não deixava a escola andar. Para isso existia o abre-alas, para abrir caminho na multidão. A platéia assistia a escola como se estivesse dentro dela, se podia tocar as fantasias. Um kaos que fazia com que sempre houvesse atraso e lembro de um desfile ( 1977? ) que acabou às 15 horas de segunda-feira!!! Era menos bonito que hoje, mas era lindo. Havia suspense, voce nunca sabia o que podia acontecer. Carros quebravam, a bateria atravessava ( não havia sistema de som ), se chovesse a pista alagava, tudo de errado podia vir. Mas em compensação, quando dava certo, voce via o povo entrar na escola e levar o samba junto. Eram palmas e cantoria vindo da arquibancada para a escola e vice-versa. Por estarem passando muito perto tudo era uma coisa só. Era lindo. A escola passava e o povo ia atrás.
Quem desfilava era da comunidade, poucos famosos desfilavam, e esses poucos frequentavam a escola o ano inteiro. E o legal é que cada uma tinha seu estilo. A Portela era metida a aristocrata, toda séria e cheia de pose; a Mangueira era a falida, de uma digna pobresa, a rainha da tradicionalidade, brega e de raiz; o Salgueiro era excêntrico. A mais ousada, inovadora, doida de pedra. O Império Serrano sempre comia pelas beiradas, vinha na empolgação, caprichava nos sambas. A Mocidade tinha a melhor bateria e a Imperatriz era a mais fria e sem carisma. Quando veio o furacão Beija-Flor, em 1976, todas entraram em crise e perderam o rumo. O carnaval mudava para sempre com Joãozinho Trinta. O luxo se fazia rei, mulheres nuas e destaques sobre os carros. Todas as outras se beijaflorizaram e a diversidade foi pras cucuias. Que pena...
Comecei a me interessar pelos desfiles pra ver mulheres sem roupa. Mas depois comecei a achar aquilo tudo muito emocionante. E lembro de até ter chorado com os desfiles da Portela em 81 e da Mocidade em 89. Mas desisti faz tempo. Tá tudo exatamente igual.
Na Tv, 1981 foi alucinante. Algum maluco na TVE do Rio teve a idéia de cobrir todo o carnaval do cidade ao vivo, sem interrupções, todos os quatro dias. É isso mesmo: de sábado à terça, 24 horas no ar, só carnaval e só na cidade. Isso fazia com que eles passassem blocos da zona norte e desfiles de fantasias de todo clube metropolitano. Eram bastidores de festas, ruas sendo preparadas, rodas de samba em botecos, desfiles de escolas do grupo 3. Voce imagina o que era arriscado transmitir carnaval às nove da manhã de segunda-feira? Sempre ao vivo. De noite voce ouvia os narradores esgotados, avisando que iam dormir quatro horas para logo voltar à folia. Era uma maratona de revesamento, era uma das coisas mais loucas e soberbas que a TV já ousou. E deu certo. Lembro de Clóvis Bornay comendo uvas... Isso que voce leu, Bornay comendo uvas e falando abobrinha, pois não havia mais nada de interessante para passar às 18 horas de terça-feira, então tome Bornay na sua sala e tome desfile de fantasia infantil em Paquetá. Carnaval tem de ser assim: cheio de erros, de desafios, de bobagens, e sempre lindo. A equipe de Fernando Pamplona deu um show!!! 76 horas no ar sem parar, sem nada pré-gravado, nas ruas, correndo para onde houvesse folia. Mesmo os que estavam nas ruas do Rio não se sentiram tão dentro do clima de carnaval do Rio como aqueles que sintonizavam a TVE.
Carnaval é também guerra de água nas ruas quentes de meu bairro, são os bailes do Flamengo que a TV passava, e que com seus exageros de sexo ajudaram a derrubar a censura. Foram os desfiles que eu via em Santos, na rua, bestificado pela força que uma bateria tem ao vivo. Que show de rock que nada, a zueira é uma bateria completa. Voce fica dias com aquela batida dentro da cabeça. Carnaval era também se fantasiar para correr pelas ruas, jogando confete nos poucos carros e rir e rir e rir...
E pra voce que odeia carnaval mas adora Keith Richards ou Ozzy, saiba que se eles aqui estivessem estariam na rua, vendo, ouvindo, fazendo. Se perdendo entre as curvas da mulata e alucinando com o ritmo do surdo. O Carnaval verdadeiro não é pra amadores.
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