Pessoas com mais de 30 anos cada vez mais trocam o cinema por séries de tv. Os motivos são muito simples, filmes de cinema são cada vez piores. A arte do diálogo foi jogada no lixo ( e veja isso, a maioria dos filmes de arte hoje são quase mudos.... ). Séries de tv têm diálogos. Diálogos que nem são muito bons, mas que pelo menos existem, estão lá. Roteiristas de cinema perderam a habilidade de exibir um caráter em cinco minutos. Gente como Ben Hecht ou Robert Riskin conseguia fazer isso. Em cinco minutos a gente já conhecia o cara, já estava capturado por ele. Agora não mais e é por isso que hoje tem tanta biografia no cinema, o caráter já é conhecido, não se precisa criar. Na tv o cara pode levar vários episódios para desenvolver uma personagem. E geralmente é o que ocorre. House levou meses para ser House. Seinfeld é o caso clássico. Depois de 3 anos é que ele virou O Seinfeld. No cinema são duas horas para criar, desenvolver e concluir. É uma habilidade quase morta.
Há um outro fato. As pessoas adultas saem cada vez menos. Filmes são vistos em casa. E em casa, para quem só assiste filmes "novos", é indiferente assistir um filme de cinema ou uma série de tv. Porque filmes novos se parecem cada vez mais com séries de tv. Séries ruins. Falam dos mesmos temas, e são filmados em digital, com imagem como a da tv. Zoons, closes e cenários pobres. Dificil saber visualmente o que é cinema e o que é tv. Claro, não falo de Pi ou de Lincoln, falo do filme médio, da grande maioria dos filmes. A única diferença entre esses filmes e as séries é o fato de que as séries desenvolvem mais os diálogos. Ou seja, vencem a disputa exatamente por serem mais "tv".
Porque o "defeito" da tv sempre foi esse. Ela falava demais. E num tempo em que o cinema ainda sabia falar, ela perdia por ser visualmente pobre. O cinema falava tão bem ou melhor que a tv, e tinha um cuidado em foto e cenografia que a tv jamais poderia ter. No século XXI não é assim. Nos acostumamos a um cinema tão indigente que a tv passou a parecer uma arte nobre. Quem assiste apenas a filmes novos logo verá só tv. E quer saber? Não tenho pena nenhuma do cinema. Ele cavou sua cova. Optou pelo caminho fácil. Que seja feliz.
No conforto de minha casa assisto a uma caixa com 6 discos de Kojak e a 4 caixas de Columbo. 28 dvds. As duas são o equivalente aos filmes de Scorsese e De Palma em tv.
Kojak demora mais pra gente gostar. Acontece com ele o fenômeno Seinfeld. Os primeiros episódios parecem sem rumo. A série começa como um tipo de Operação França dos pobres. Muita cena na rua e a exibição da NY pobre e suja de 1973. Mas então, súbito, Telly Savallas vai achando o tom e a série cresce. É um prazer ver um ator fazer história. Telly vinha do cinema, onde sempre fora um bandido. Aqui ele é um tira. Kojak, O Cara. Eu não a assisti na época, era criança, mas lembro do sucesso. Kojak virou marchinha de carnaval. Os homens imitavam Savallas. O cigarro preto e fininho virou mania ( marca More ), o pirulito na boca também ( ele tenta parar de fumar ). Copiava-se na rua o chapéu, os ternos, os óculos escuros e a mania de falar Baby. Telly Savallas acabaria por ganhar dois Globos de Ouro e um Emmy com a série. Ficaria cinco anos entre as cinco maiores audiências. Telly morreria em 1994. Acho que Tarantino adoraria filmar com ele. Kojak tem todo o clima dos filmes de Quentin. É uma delicia ver aqueles carrões e os bandidos extra-cool. Mas ninguém é mais cool que Theo Kojak.
Columbo é o anti-cool. Se Kojak é uma delicia, Columbo é uma obra de arte. Peter Falk foi um grande ator. Fazia parte da turma de John Cassavettes. E em 1971 começa na tv com Columbo. Para muita gente, uma das cinco melhores coisas que a tv já fez. Columbo é feio. Tem olho de vidro, fuma charutos baratos. O carro é velho e a roupa desalinhada. Modesto e nada violento. O tipo do boa praça. O que Falk faz aqui é genial. Ele transforma esse mala sem alça num tipo adorável. Voce ama Columbo. Não por acaso, em 1986 Wim Wenders ao filmar Asas do Desejo escolheu Columbo como um anjo que vivia na Terra. Columbo visita a Alemanha e Wenders o exibe como um homem que pode ver anjos. Nada mais justo.
Columbo tem ainda uma grande originalidade. Ele mostra o crime. Na primeira cena nos exibe o crime. Sabemos quem é o culpado e vemos que não há pista. Então do nada surge Columbo e o que nos pega é o prazer de ver como ele vai deduzindo e descobrindo aquilo que já sabemos. Um fino prazer. Falk ganhou 3 Emmys com o papel e mais 2 Globos de Ouro.
Columbo teve entre os atores que nele trabalharam gente como Myrna Loy, Ray Milland, Leonard Nimoy, Martin Sheen, John Cassavettes, Martin Landau, William Shatner; e na direção Steven Spielberg, Richard Quine e Richard Donner.
Kojak teve episódios dirigidos pelo pai de Sean Penn, Leo Penn e Harvey Keitel entre seus vilões.
Bem baby, me pego comprando um pirulito e alisando minha camisa. Andando pelas ruas me sentindo um cavalheiro: durão e muito frio. Minha lustrosa careca protegida por um elegante chapéu preto. E com a pergunta kojakiana nos lábios: "Diga quem te ama baby?"
Um raro prazer.
Há um outro fato. As pessoas adultas saem cada vez menos. Filmes são vistos em casa. E em casa, para quem só assiste filmes "novos", é indiferente assistir um filme de cinema ou uma série de tv. Porque filmes novos se parecem cada vez mais com séries de tv. Séries ruins. Falam dos mesmos temas, e são filmados em digital, com imagem como a da tv. Zoons, closes e cenários pobres. Dificil saber visualmente o que é cinema e o que é tv. Claro, não falo de Pi ou de Lincoln, falo do filme médio, da grande maioria dos filmes. A única diferença entre esses filmes e as séries é o fato de que as séries desenvolvem mais os diálogos. Ou seja, vencem a disputa exatamente por serem mais "tv".
Porque o "defeito" da tv sempre foi esse. Ela falava demais. E num tempo em que o cinema ainda sabia falar, ela perdia por ser visualmente pobre. O cinema falava tão bem ou melhor que a tv, e tinha um cuidado em foto e cenografia que a tv jamais poderia ter. No século XXI não é assim. Nos acostumamos a um cinema tão indigente que a tv passou a parecer uma arte nobre. Quem assiste apenas a filmes novos logo verá só tv. E quer saber? Não tenho pena nenhuma do cinema. Ele cavou sua cova. Optou pelo caminho fácil. Que seja feliz.
No conforto de minha casa assisto a uma caixa com 6 discos de Kojak e a 4 caixas de Columbo. 28 dvds. As duas são o equivalente aos filmes de Scorsese e De Palma em tv.
Kojak demora mais pra gente gostar. Acontece com ele o fenômeno Seinfeld. Os primeiros episódios parecem sem rumo. A série começa como um tipo de Operação França dos pobres. Muita cena na rua e a exibição da NY pobre e suja de 1973. Mas então, súbito, Telly Savallas vai achando o tom e a série cresce. É um prazer ver um ator fazer história. Telly vinha do cinema, onde sempre fora um bandido. Aqui ele é um tira. Kojak, O Cara. Eu não a assisti na época, era criança, mas lembro do sucesso. Kojak virou marchinha de carnaval. Os homens imitavam Savallas. O cigarro preto e fininho virou mania ( marca More ), o pirulito na boca também ( ele tenta parar de fumar ). Copiava-se na rua o chapéu, os ternos, os óculos escuros e a mania de falar Baby. Telly Savallas acabaria por ganhar dois Globos de Ouro e um Emmy com a série. Ficaria cinco anos entre as cinco maiores audiências. Telly morreria em 1994. Acho que Tarantino adoraria filmar com ele. Kojak tem todo o clima dos filmes de Quentin. É uma delicia ver aqueles carrões e os bandidos extra-cool. Mas ninguém é mais cool que Theo Kojak.
Columbo é o anti-cool. Se Kojak é uma delicia, Columbo é uma obra de arte. Peter Falk foi um grande ator. Fazia parte da turma de John Cassavettes. E em 1971 começa na tv com Columbo. Para muita gente, uma das cinco melhores coisas que a tv já fez. Columbo é feio. Tem olho de vidro, fuma charutos baratos. O carro é velho e a roupa desalinhada. Modesto e nada violento. O tipo do boa praça. O que Falk faz aqui é genial. Ele transforma esse mala sem alça num tipo adorável. Voce ama Columbo. Não por acaso, em 1986 Wim Wenders ao filmar Asas do Desejo escolheu Columbo como um anjo que vivia na Terra. Columbo visita a Alemanha e Wenders o exibe como um homem que pode ver anjos. Nada mais justo.
Columbo tem ainda uma grande originalidade. Ele mostra o crime. Na primeira cena nos exibe o crime. Sabemos quem é o culpado e vemos que não há pista. Então do nada surge Columbo e o que nos pega é o prazer de ver como ele vai deduzindo e descobrindo aquilo que já sabemos. Um fino prazer. Falk ganhou 3 Emmys com o papel e mais 2 Globos de Ouro.
Columbo teve entre os atores que nele trabalharam gente como Myrna Loy, Ray Milland, Leonard Nimoy, Martin Sheen, John Cassavettes, Martin Landau, William Shatner; e na direção Steven Spielberg, Richard Quine e Richard Donner.
Kojak teve episódios dirigidos pelo pai de Sean Penn, Leo Penn e Harvey Keitel entre seus vilões.
Bem baby, me pego comprando um pirulito e alisando minha camisa. Andando pelas ruas me sentindo um cavalheiro: durão e muito frio. Minha lustrosa careca protegida por um elegante chapéu preto. E com a pergunta kojakiana nos lábios: "Diga quem te ama baby?"
Um raro prazer.