Mostrando postagens com marcador mundo hoje. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador mundo hoje. Mostrar todas as postagens

O COOL MORREU?

Johnny Marr e Chrissie Hynde, numa conversa publicada na midia, dizem que acabou o "Cool". Ninguém mais é cool, isso infelizmente se extinguiu. Eles falam o que é isso e evitam dizer o porque da sua morte. ----------------- O que seja Cool, dito pelos dois, tem alguns erros. Ler no metrô nada tem de cool. É pose de quem quer parecer inteligente, muitas vezes é só isso, e querer parecer algo é a coisa menos cool que há. Resumindo, tudo que os dois chamam de cool é ser frio e silencioso, como um felino. Okay, pode ser, mas ser cool é bem mais profundo que isso. ------------------- Ser cool é não perder o controle. É manter o vulcão sem explodir. Preste atenção: ter a chama, mas não a deixar queimar. É a diferença entre Leonard Cohen e Neil Young. Entre Lou Reed e Patti Smith. O cool fala do inferno mas não parece ligar muito. Ele está lá, vê e sente, mas continua sob controle da razão. O não cool grita, cospe, chora, pula, gagueja. -------------------- Se voce ler meu post abaixo sobre a Covid vai entender que a pandemia foi a pá de cal sobre a atitude cool. Voce foi cobrado a ser histérico, canino, obediente. O cool era um ser sem empatia, um gato. ----------------- O cool jamais quer ser alvo de atenção e parece não dar atenção a ninguém. Ele fica na sombra, sem julgar, pouco ligando. Ele não faz ruído. Ele não segue ordens. Não obedece mas odeia revoluções e atos de niilismo. O cool é sexy porque voce nunca sabe o que ele pensa ou quer. Há sempre uma dúvida. E ele parece não se importar muito com ninguém. É cada umpor si. --------------- Steve McQueen foi o mais cool dos atores porque ele passava tudo isso. Um vulcão sob controle. Já atores como Brando ou De Niro são o anti cool, explodem o tempo todo como fossem adolescentes que beberam. Mesmo italianos podem ser cool. Nada mais cool que Mastroianni. E se falei de McQueen, me desculpe. Alain Delon era mais que ele. --------------- Uma pessoa feia quando é cool se torna mais cool que uma pessoa bonita. Porque ela passa uma impressão de superação. Ela é tão cool que superou esse nariz horrível. Ou essa boca torta. Penso em Gainsbourg. ---------------------- Chrissie diz que o rock não é mais cool. Todos são over. Exagerados. Grotescos. Histéricos. Ela está certa? Não, pois deve haver excessões. Mas sim, o mainstream é choroso em exagero ou um sexy pornô de puteiro barato. Nada menos cool. ---------------- Termino dizendo que nos anos 50 até o carnaval podia ser cool. Há fotos de bailes onde impera o espírito felino. Aliás, ver um bloco na Bahia não é diferente de ver um bando de viralatas na rua brigando por uma fêmea. Cool?

A COVID E A FALTA DE RESPEITO PELA HUMANIDADE

Era um sábado e eu estava andando numa imensa avenida, sem máscara. Onze da manhã, tudo fechado. Eu pagava pra ver. Eu sabia, usando aquilo que aprendera na escola, nada demais, que vírus são infinitamente menores que tecidos de pano, e que as máscaras eram somente placebo, modo de tranquilizar mentes doentias. Mas eu percebia, raciocinando, que algo não batia naquela história. Eu via muitos pedreiros trabalhando nas construções. Sem máscaras. E nas favelas os bares não fechavam. Gente bebia à vontade. Será que eles estavam morrendo? Eu percebia o pavor paranoico no olhar de pessoas que eu julgava racionais, um medo de morrer que beirava o grotesco. As pessoas abriam mão de sua nobreza em troca de uma segurança ilusória. Foi um momento vergonhoso na história da dignidade humana. Foi quando as pessoas provaram como em sua maioria nada são de muito especial. Apenas bichos apavorados. ------------------------ Usou-se muito a palavra empatia. Sem saber o que ela significa. Empatia é sentir a dor de uma criança que morre de fome na Namibia. É a solidariedade não necessária, ser amoroso a alguém que sofre um sofrimento que não te atinge, é ato voluntário. A empatia da Covid foi medo de ser contaminado. Confundiu-se empatia com covardia. ------------- Vivo com mãe de 84 anos, eu jamais usei alcool gel. Saí todos os dias para passear, todos os dias. E não a contaminei. Sorte? Não, não fui irresponsável, fui apenas racional. Não joguei no lixo um orgão que levamos milhões de anos para desenvolver. Quem usou seus neurônios sabe do que falo, mas para os usar, em 2020, 2021, era preciso coragem. A Covid provou a mim mesmo que sou corajoso. Mas nunca temerário. --------------------- Quanto às vacinas. Sim, fui obrigado e tomei duas doses a contragosto. Uma quase me matou. Senti as piores dores da minha vida. Sei hoje que estive perto da trombose e proibi minha mãe de a tomar. Ela tomou a inofensiva vacina Doria. De qualquer modo, só nos vacinamos em 2022. Devemos ter pego o virus antes. E mal o percebi. ------------------------ A pandemia acabou como tinha de ser. Como toda gripe termina: o corpo se adapta ao novo virus e ele fica inofensivo. Basta ler e pensar para saber isso. Mas o planeta foi tomado pelo histerismo e essa febre de pânico nunca mais saiu de nossos ombros. Tudo hoje é medo. Tudo é fim de mundo. Isso porque os crápulas do poder sabem que o modo mais barato de dominar a massa é a deixar em estado de pânico. Elas pedem socorro. O crápula finge ajudar. AS PESSOAS MAIS HONESTAS FORAM CHAMADAS DE IRRESPONSÁVEIS SEM CORAÇÃO. Não. Elas só queriam diminuir seu medo irracional. -------------------------------- Conheci 2 pessoas que, dizem, ter morrido de Covid. Uma eu sei que foi do coração. A outra era um amigo que viveu o tempo todo trancado em casa. Apavorado. Tenho uma prima que até hoje evita ir à rua. Empobrecemos. Emburrecemos. E creia, a humanidade perdeu toda sua fé em si mesma. E os crápulas não sentem mais nenhum respeito por nós.

TRUMP E O UCRANIANO, QUE IMPORTA NA EUROPA DE HOJE?

No mundo moral, aquele que se segue por um tipo de ética bondosa que na verdade é infantilidade raivosa, a humanidade seria isenta de opressão, livre de vigilância e plena em amor e irmandade. Sim, não ria, há quem leve isso a sério, e são exatamente esses que oprimem em nome do "bem", vigiam para defender a "liberdade" e atacam os dissidentes que não aceitam seu "amor" e sua "irmandade". ----------------- Trump e Zelensky deram ontem uma aula de história, mas como no mundo de 2025, ensinar história é proibido, pois este é um mundo que nega todo o passado como fosse tempo de "machos escravocratas", nada será aprendido do que foi exposto pelos dois diante das câmeras. -------------- O Ucraniano é o típico líder de 2025. Fala frases de efeito para seus iguais, posa de heroi, mas na verdade depende 100% da ajuda material e moral de algum líder velho e pragmático. Incapaz de perceber o que seja um acordo, onde se perde um pouco para ganhar alguma coisa, ele insiste em seu papel de heroi da resistência, uma resistência bancada por mesadas de um papai que ele odeia ( sim, é a síndrome do filho rebeldinho ). A Ucrânia jamais vencerá a Russia e hoje sabemos que os russos nunca estiveram perto de perder a guerra, guerra que eles levam a meio pau. ------------- Do outro lado temos o velho Trump, um homem muito esperto, que sabe que desde que o mundo existe, que a paz só é obtida quando uma super potência toma para si o poder e o dever de ditar ordens. Roma é o maior exemplo, mas a própria URSS provou isso. Quando ela ruiu tivemos guerras entre seus antigos comandados. A humanidade repete o que acontece individualmente em casa. O pai-mãe oprime, mas sem ele-ela nada é possível. É preciso alguma direção, alguma ordem, é preciso perceber o limite das coisas. Uma guerra não pode durar para sempre. ------------------- Trump e Putin são aliados? Sim, são. Ambos odeiam a Europa atual, um grupo de países decadentes, acomodados, que vivem em mundo feito de bons discursos e péssima realidade. O que a Europa queria com essa guerra era desgastar a Russia do macho Putin. Desgastar até a RUssia ruir. Ou seja, um típico plano de franceses covardes que se escondem em casa dando risadinha enquanto os EUA pagam sua guerrinha de brinquedo. --------------- O que a França não contava era a volta de Trump e um Trump que agora não quer mais pagar as contas de gente que odeia os USA. Chega de ser trouxa. --------------- A Europa que se vire. Que resolva seu problema com a imigração sem fim e as dívidas insolúveis. Que conviva com uma Russia gigantesca. Que venda tudo para chineses e sheiks árabes. A Europa é hoje uma cristaleira de casa da vovó. Pior, o europeu médio sente vergonha daquilo que garante o resto de relevância que eles ainda têm, seu passado. ------------ É difícil para um europeu admitir que a Russia é, desde pelo menos 1880, mais relevante que eles, e que os USA não precisam deles para nada.

HOMENS

Posto abaixo uma foto histórica. Soldados ingleses, no norte da Africa em 1944. Olhe com calma para a foto. O Jeep está detonado. Duas metralhadoras, do tipo que emperra. Mas principalmente olhe os rostos. São homens. Homens de 22 anos de idade. Não há neles nenhum vestígio da puberdade. O mais aterrador: eles hoje seriam alienigenas. ----------------- O ocidente se tornou um grande quarto de adolescente, e se em 2010 eramos todos meninos de 14 anos, em 2024 somos púberes de 11. Sexo ainda indefinido, muito medo, a vida como lugar de gente velha, velho que nunca serei, meu mundo é mágico. A natureza é boa e os adultos são maus. Essa é a condição de todo woke de hoje. Os adultos são gente como os judeus, os russos, os direitistas, os chineses. Vistos como "aqueles velhos ruins, sem coração". O que os wokes não percebem é que todo menino de 11 precisa de pais. Ou de uma instituição que os abrigue ( governo ). Wokes são garotos perdidos sem Peter Pan. O Gancho é Trump. Para manter o direito de brincar até morrer eles se venderiam alegremente a qualquer um que não lhes cobrasse nada. ---------------- Olhando o rosto dos soldados de 1944 voce percebe neles uma completa ausência de pose. A expressão é neutra. Eles não se vêm como heroi e portanto não são personagens. Como adultos, eles executam um trabalho que deve ser feito. Homens eram assim. Eles faziam o que alguém tinha de fazer. Não por prazer, ou nem mesmo por ideal. Era uma função. Eles funcionavam. Funcionavam para defender. Morriam como parte do trabalho a ser feito. O prazer, o brinquedo, a pose não entravam na equação. Era um mundo inimaginável para quem tem menos de 50 anos. --------------------- Na história do mundo, tudo é cíclico. E cada ciclo nega o anterior. Se hoje vemos tantos absurdos levados à sério, não se engane, tudo isso será varridos e substituído por seu oposto exato. E não vejo um oposto mais contrário ao modismo woke que o mundo do Islã. Quem viver verá.

DJOKO E A CORTINA DE FERRO

Para quem é da minha geração, esse é um sentimento difícil de vencer, e para quem é mais jovem, essa é uma situação cultural dura de transpor. -------------- A CORTINA DE FERRO, o muro real e virtual que separava mundo capitalista do mundo socialista, foi tão tenebroso-forte-brutal-absurdo, que até hoje, 34 anos após sua extinção, ainda enxergamos gente dos Balcãs, ou da Europa Oriental, como "europeus diferentes", quando não, europeus suspeitos. Djokovic quando surgiu, foi o patinho feio, patinho oriental, que estragava a rivalidade Espanha Suiça, Nadal Federer. Era cool torcer pelo muito alinhado Federer, e era bacana torcer pelo moderno Nadal. Djoko vinha da Sérvia, aquele lugar de guerras, de gente de cara feia, fechados, brutos, pouco confiáveis. Mas ele era bom. Na verdade era melhor ( e estou falando não de jogo, falo de tipo humano ). Pois como acontece com todo país sofrido, Djoko era, e é, mais humano que o suiço e mais corajoso que o espanhol. Federer e Nadal são europeus do século XXI, têm a cara e o comportamento dessa massa de pessoas que nasceu em mundo confortável, protegido, igualitário. Djoko nasceu no meio das marcas da guerra em país vilão e nada seguro. ------------------ Quando houve a pandemia, Djokovic, como homem livre que é, optou por não se vacinar. Expulso da Austrália como fosse um terrorista, muitos disseram que ele estava acabado. Como Lance Armstrong no ciclismo, que se dopou, Djoko seria página apagada na história do esporte. Para quem ainda é um homem que coloca a liberdade acima de qualquer valor, a liberdade de ser e de fazer, Djoko cresceu como homem íntegro. ----------------- Agora ele vence mais uma vez, e exibe seu cristianismo real. Wokes não entendem que a religião cresce quando é perseguida, toda religião, e que o cristianismo se enfraqueceu por ter se tornado a religião sem dificuldades. Agora que censuram expressões de fé, ela se faz mais potente. O religioso prova sua fé ao enfrentar o ateu furioso. ---------------- Djokovic irrita certos jornalistas bobos e formadores de opinião debiloides, porque ele joga em suas caras a consciência de sua covardia tão moderna. Todos eles vivem num tipo de berço cercado por puxa sacos e ninados pelas opiniões da manada. Seus egos são inflados com uma certeza infantil, a de que eles estão certos e por isso são O Bem. Quando um atleta não se vacina, não fica doente, vence e ainda mantém seus fãs, esses bobocas sentem uma rachadura em seu berço. Por serem estúpidos não se questionam, nunca se percebem como falíveis, porém se sentem dodoi. ----------------- Djokovc tem opinião. Tem fé. E pouco se importa com os donos da mídia. Isso é o que faz um Homem hoje. A luta é essa.

A NATUREZA HUMANA - ROGER SCRUTTON . E SOBRE UM TURCO.

Quando vemos uma pessoa temos a imediata certeza de que somos um EU e que ela é um VOCE. Mas ao mesmo tempo, sabemos que ela nos vê como um VOCE e que ela é um EU. Mais que desejar, travamos contato com o interior dessa pessoa, o exterior após um primeiro momento se torna aquilo que ele é, uma persona. Mais que a razão, o que define um Humano é essa certeza de ser um Eu e de estar vivendo em meio a VOCES. E assim, saber que há dentro deles a mesma realidade que há dentro do meu EU pois eles são seus próprios EUS. Este é o livro mais curto de Scrutton, e ao mesmo tempo seu texto mais difícil. Psicologia é o que norteia seu pensamento, e ele cita Wittgeinstein e Husserl, Descartes e Schoppenhauer. ------------ No mundo deste século há um movimento, proposital, de se quebrar essa corrente humana. A redução de todo fenômeno humano a simples hábitos evolutivos, faz com que a interioridade se reduza à um composto de genes e a subjetividade se torne mera evolução. O humano é aquele que ansia por ser livre e ao mesmo tempo participante de grupo, é o que se submete à lei por vontade própria e o que deseja aquilo que se esconde. Reduzir tudo isso à mera adaptação ao meio é matar aquilo que nos faz imensos. ---------------- Repare que tudo na modernidade tenta nos diminuir. Desde uma frase como " Diante do cosmos somos nada", até " Eis onde termina toda ambição", não há slogan que não procure incutir a certeza de nossa insignificância. Pior ainda, movimentos organizados como o que coloca um boxeador homem, que se acha mulher, em um ringue com uma mulher nascida mulher, reduz tudo à aparência, um tipo de brincadeira onde se ele se maquiar e usar roupas de mulher, será magicamente uma mulher. Não há modo mais eficiente de matar nossa interioridade que repetir incessantemente que a cor da pele me diferencia de voce, que o modo como me visto me faz diferente do que sou por nascimento, que posso ser me produzindo por fora hoje e agora. ----------------- Nessa absurda olimpíada, um atirador turco ganhou uma medalha de prata, e estranhamente ninguém fala do vencedor, mas apenas do turco. Dikec Yusuf. Isso porque ele competiu de chinelos, sem óculos e mira especiais ultra modernas, fuma durante a prova, tem barriga, e começou a atirar para ter o que fazer com seus filhos. Esse homem nada mais é que um macho de 1980 e por isso causa impressão ( Messi antes de conhecer Neymar era também um cara típico de 1980 e isso causava impressão ). Há nas pessoas uma saudade não assumida do pai típico, do chefe, do líder despretensioso. Mais que isso, da simplicidade sem afetação. Dikec parece adorável porque a imagem dele, um VOCE que vive dentro de nós, tem encontrado poucos Dikec por aí. Ele fumou um cigarro, tossiu e fez seu trabalho. Sem discurso, sem parecer inumano, sem representar grupo nenhum.

RETRATOS DE MEMÓRIA E OUTROS ENSAIOS - BERTRAND RUSSELL

Encontro um livro da Companhia Editora Nacional, publicado em 1958. Primeira surpresa, vejo que a editora tem 22 livros de Russell em catálogo. Outros tempos... ----------------- Russell nasceu em 1872 numa família de longa linhagem aristocrata. Estudou matemática e filosofia em Cambridge e ao longo de quase 100 anos, ele viveu até 1970!!!!, lúcido e produtivo, Bertrand Russell foi o intelectual central na cultura da Inglaterra. É famoso por sua obra, mas tembém por sua defesa da liberdade, da paz, da civilização. Estes textos, escitoe por ele aos 80 anos de idade, versam não só sobre fatos de sua vida, como também sobre política, educação, psicologia, filosofia e lógica. Ele fala também sobre pessoas que conheceu, seu avô que nasceu na época da queda da Bastilha e foi ministro, e gente como John Stuart Mill, Hegel, Lawrence, Shaw, Orwell, Wells. ------------- É pedagógico ler Russell porque ele escreve usando algo que atualmente não se usa: a lógica. Em estilo simples e conciso, ele nunca joga frases sem sentido, tudo tem de possuir um sentido claro e único. Quando ele fala de Liberdade, por exemplo, ele explica que liberdade é essa. ( No caso, a possibilidade de ter, fazer, falar e se mudar ). Socialista Fabiana, ou seja, não marxista, Russell faz ataques demolidores contra o comunismo. " Não posso aceitar nenhuma linha de pensamento que nasce no ódio. E tudo no comunismo é movido pelo ódio. Eles têm por objetivo a destruição e nunca apresentam nenhuma ideia sobre como construir. Não têm amor pelos pobres, mas antes um imenso desejo de destruir a riqueza". Depois dessa, nada mais há se falar sobre a coisa. -------------------- Russell não concorda com Hegel, que acha obscuro e metafísico, nem com Kant, que faz mero jogo de palavras. E talvez o melhor texto seja sobre Descartes. De uma maneira lógica ele demonstra que a frase " Penso, logo existo", não faz qualquer sentido. Russell demonstra, de modo sempre elegante, como se define o pensamento em um mundo pós quântico. -------------- Ele defende o tempo, antes da Primeira Guerra, em que se acreditava que o mundo evoluiria de modo lento, gradual e ordenado. Tempos felizes, otimistas, em que se acreditava que o destino do mundo era se tornar todo um tipo de Inglaterra, nações de parlamentos liberais. Russell diz que para ele é difícil aceitar um mundo tão diferente de sua juventude ( ele foi jovem em 1890-1910 ), um mundo, em 1958, que sofria a ameaça da Bomba, do totalitarismo, da falta de liberdade. ------------------ Várias vezes Russell fala de horrores de 1958 que são realidades ainda mais horrorosas hoje. Já na época ele percebia que " quanto mais organizada uma sociedade, mais pergio corre a liberdade, pois a vigilância aumenta, alimentada por burocratas que vivem dessa organização". Mas Russell é um otimista e diz que a vitória final é sempre do bem, isso porque o mal necessita de opressão e o homem só atinge alguma felicidade quando livre. Ele foi um grande, grande homem. PS: Socialismo Fabianista é uma corrente econômica que almeja e distribuição do bem estar sem a destruição da classe média. É um tipo de distribuição de lucros. Os socialistas marxismos os acham ingênuos. Os fabianistas achavam os marxistas utópicos e maldosos.

VOCE AINDA VAI TER SAUDADES DA REALIDADE...E NÃO HAVERÁ VOLTA

Recebi hoje um texto de um amigo e ele fala sobre a realidade, sobre o risco, sobre as relações reais. O que me inspirou a isto que agora escrevo. ----------------------------- Me relaciono com uma mulher muito, muito mais jovem que eu. Ela tem 26 anos. Ou seja, em 2008 ela tinha apenas 10. Falo 2008 porque foi quando entrei no orkut. Para ela, orkut é coisa da infancia, como era a TV para mim. ------------------- Pessoas com grande diferença de idade sempre enfrentam o choque de gerações. Mas entre eu e ela existe mais que um choque, nós somos de mundos tão diferentes que o choque nem acontece. Tento explicar o que acontece. -------------------- Mesmo a conhecendo tão bem, há algo nela que eu não consigo captar e nem mesmo dar um nome. Não brigamos e levamos tudo na razoável paz, mas falta alguma coisa. Nunca senti isso com mulher nenhuma. Já sofri, fui apaixonado, enganado, já me perdi, mas agora sinto algo vago, sem força, algo fantasmático. Como se uma sombra, mancha, algo que está mas não está. Me incomoda, mas não há como resolver com ela, pois ela nem percebe sua existência. ------------------- Então, ao ler o texto que me foi enviado, sinto algo. Algo que tem a ver não só com ela, como com todas as pessoas com menos de 30 anos com quem me relaciono. Eles têm POUCO CONTATO COM A REALIDADE. ----------------- Isso pode parecer tolice minha, afinal, é a geração que mais vê crimes ao vivo na rede, tragédias em tempo real, é a geração que mais fala da fome no mundo, da ecologia, dos direitos das minorias etc etc etc. Mas....isso tudo é informação, não é vivência. Mesmo que ela vá à guerra na Ucrânia, essa será uma experiência midiática, pois ela irá lá embuída de discursos já feitos e sentirá, e aí está a tragédia de sua geração, ela sentirá aquilo que ela ACHA QUE SE DEVE SENTIR. ------------------------ Mesmo sendo inteligente e tendo vindo da classe social mais sacrificada, eu sinto, e agora percebo, que ela vive com um pé SEMPRE fora da realidade. Ou melhor, uma perna fora. ---------------- Assim, quando vejo um por do sol, o que ela vê é a chance de uma foto. Quando servem um belo jantar, enquanto eu começo a comer, ela noticia nas redes o jantar. No meio de uma conversa séria, em que ela chora e o assunto é ela mesma, ela vê o que acabaram de mandar para ela, e então volta ao assunto do agora. É uma pessoa que nunca está aqui 100%, e pior, ela não sabe disso. Lendo sua mente espera saber o que está acontecendo lá longe, viajando ela pensa no que ficou aqui e aqui ela pensa no que vai ver além. Sua presença é leve como gás. Não há solidez, não há entrega absoluta ao momento, não há realidade. Desse modo, a sensação que tenho é que preciso, para estar com ela, jogar fora uma parte imensa de mim mesmo, e a falta que sinto é a falta disso, do mundo real, o mundo que acontece diante de meus olhos e não aquele intermediado por uma tela. ---------------- É irrecuperável. Pois assim como minha geração não tem consciência de sua pressa e do barulho em que vive e viveu sempre, eles não sabem que o mundo onde vivem nunca é o AGORA, mas sim o OUTRO LUGAR. ----------------------- Pior, aquele que vive ainda em uma razoável dose de realidade tende a irritar profundamente os FORA DO AGORA. Para eles, alguém como eu parece histérico, emocionado demais, sólido, pesado, uma presença que ameaça por parecer "violento", a violência do que vive aqui, na solidez sem fantasia. --------------------- No mundo real quando chove voce se molha e procura um abrigo. No mundo deles, quando chove voce se alegra pelas plantinhas, se preocupa com enchentes, pensa nas nuvens e na possível gripe. No meio de tanta coisa, voce não sente que está "apenas" molhado. O aqui da chuva e o agora da água fria. ------------------- O texto que li quase nada tem a ver com aquilo que falei aqui, mas ele catalizou esta minha percepção. ------------------ Quanto ao sexo...bem...para ela o sexo é apenas um gozo. Para mim é a coisa mais misteriosa do universo. E estranhamente, ele é mais real para mim, por ter peso e custo, e é quase nada para ela, por significar apenas o mesmo que comer um hamburger ou ir ao cinema. ------------------- Termino dizendo que as gerações futuras sentirão uma estranha tristeza de alguma coisa que não saberão o que é. Assim como nós sentimos uma vaga tristeza sem nome, talvez saudade de Deus ou do mundo da caça, eles sentirão algo pior: saudades da realidade. Saudades de quando se vivia e não se via.

A.I. É UM PERIGO?

Algumas semanas atrás eu ouvi, sem saber o que era, uma nova canção dos Beatles. Alimentaram a AI de informações sobre a banda e pediram para ela compor uma canção Lennon-MacCartney. A melodia era um POP decente, mas a letra saiu como uma espécie de Lovin Spoonfull piorado. Arco Iris dentro do meu bolso, flores no riacho...eles jamais comporam nada tão idiota! --------------- Um cara diz que a literatura está salva do AI, que é impossível criar um romance em AI. Será? Esse mesmo cara fala que roteiros de cinema já são feitos com ajuda da AI. Música POP hoje é feita com AI. E isso é culpa dos artistas que trabalham na área, suas criações nos últimos anos são tão banais, tão rasteiras que alimentar uma máquina com meia dúzia de roteiros premiados e pedir para ser feito um novo se tornou a piece of cake, mel na sopa. --------------- Mas eu não vejo porque o AI não faça um bom livro para quem lê romances comuns ou livros de auto ajuda banais. Dê a máquina alguns Tons de Cinza e meia dúzia de Dráculas que ele fará um romance de 600 páginas de Pop gótico. --------------- O provável é que a AI faça na arte aquilo que as máquinas em 1800 fizeram no artesanato. O pintor talentoso, o muito talentoso, continuou vendendo sua porcelana bonita, e 99% do público consumidor passou a comprar pratos feitos em série, por máquinas. O artesanato excelente sobreviveu, e bem mais caro, lógico, enquanto o artesanato apenas mediano foi substituído pela produção industrial. O AI jamais poderá escrever um novo Ulysses, mas ele fará todos os best sellers da semana. A máquina, alimentada com filmes de Bergman e Fellini não fará um novo Oito e Meio, mas conseguirá produzir um Roma. ---------------- Voce acha isso estranho? Eu acho normal, sem problemas. E claro, atores serão substituídos por imagens de AI ou robots com as feições de um Errol Flynn jovem ou uma Angelina Jolie imortal.

A ARTE MODERNA

Um homem coloca 8 baldes de plástico vermelho um sobre o outro. No chão há areia branca. Ele derruba os baldes e eles caem sobre a areia. O público aplaude. ---------------- Um homem, com uma pá, joga lama sobre um outro, que está de pé. É aplaudido. ------------------- Um senhor rabisca o chão com uma tora de carvão. ----------------- Isso é a arte de nossa civilização. O que ela significa? aquilo que o artista quiser. Ele é livre para dar o sentido que lhe aprouver. Basta ter cara de pau e saber mentir. -------------- O que realmente importa é: E o público? O que faz com que eles aceitem fazer parte numa farsa tão óbvia? ------------------ Danilo, é um nome aleatório, se arruma e vai à uma mostra de arte moderna. O fato dele ir à uma mostra de arte já faz com que seu ego se sinta superior e, melhor ainda, ele sente que sua noite foi cultural ( seja lá isso o que for ). Mais que arte, é arte moderna, e Danilo é sempre moderno, um cara à frente dos outros. Ele aprecia cada gesto do artista e aplaude, sentindo enquanto bate palmas o gozo por saber quem é Duchamp e Beuys e sua condição sensível, culta, refinada. Ele faz parte do clube, a congregação dos seres especiais que entendem o que é a arte moderna. Sua noite foi proveitosa, ele adquiriu cultura e sua alma se sente justificada. ---------------- Observe que tudo o que Danilo fez ou sentiu engloba o ego, a vaidade e o mundo social, seu mundo social. Tudo o que aconteceu foi superficial, ele foi porque é bom ir, ele gostou porque é certo gostar. Ele sacou tudo. Porque ele precisa sacar. ------------------- Postei abaixo a estátua de um menino sobre um cavalo. Ela é de Chipre e tem cerca de 2.200 anos. Foi feita com a intenção de ser exposta ao público, livremente. O que acontece com que a olha ou a olhou? Primeiro: Não há nada de esnobe nela ( aparentemente ). Todos a acharão bonita, porque ela é bonita de fato e a beleza é universal e indiscutível ( voce pode a questionar, mas sua opinião é apenas uma questão de provocação ). Há uma imensa habilidade ali e ninguém poderá dizer " Eu faria isso também". Quem fez a obra é um indivíduo habilidoso, ele estudou e trabalhou muito para chegar a tal resultado. Segundo: Ela não dá margem ao esnobismo fácil da arte dita moderna. Apreciar o cavalo e o menino não "parece" exigir nada além de saber olhar. O padeiro e o garçon a apreciarão. ----------------- Mas é então que surge a verdadeira sofisticação: Ela exige nada além de olhar e no mundo de hoje, olhar é muito difícil. ---------------- Fomos educados a olhar julgando, olhar criando conceitos, olhar procurando mensagens ocultas. A arte grega foi feita para olhar olhando, olhar vendo, olhar usando os olhos e deixando o espírito gozar. A experiência é sensual. ------------ Por mais que Danilo tente, essa sensação é para ele impossível, pois ao olhar o cavalo e o menino ele não vê a pedra trabalhada, ele pensa na idade da obra, na história cultural, na filosofia de então, em seu olhar analítico. Danilo jamais verá a beleza pura da obra prima que tem diante de si, pois Danilo foi amestrado a não olhar, e sim a "criar sentido". Por mais bela que seja a obra, e ela me deixa encantado, Danilo pensa no que significa o belo. ----------------- Somos horrivelmente velhos. As pessoas tendem a dizer que nosso mundo é infantil, ele não é. Infantil era o mundo grego, vitalista, puro, ingênuo. Somos velhos que pensam como velhos e procuram prazeres de velhos. Não gozamos mais com nosso sentidos simples, pensamos no gozo. Estamos sempre lá e nunca aqui. Estamos sempre antes ou além e jamais agora. A arte de Danilo é arte de quem perdeu a fé na vida. A alegria em criar. O dom de sentir sem pensar. A arte de Danilo é a arte do asilo.

A GRANDE BELEZA

Tudo que há tem seu fim. Não seria diferente com a cultura. A Ópera morreu faz mais de 50 anos, e mesmo que voce considere os balbucios atuais como atestado de vida, ninguém mais procura saber quais são os novos espetáculos que estrearam. Cantores super star, e houve muitos, não mais. Maria Callas e Pavarotti eram a Beyoncé da elite pensante. Elite pensante? Hoje usar esse nome seria um crime. Portanto aboliu-se a elite pensante. ---------------- O ballet é outra arte defunta. Sim, estreia uma nova companhia de dança, mas não há novos Margot Fonteyn e Nureyev, Baryshnikov e Martha Graham. Quando foi a última vez que voce saiu para ver um show de dança? ---------------------- O jazz acabou faz tempo. Marsalis foi a última estrela a surgir. Isso foi em 1980. Mesmo no jazz elétrico, que adoro, nada de novo nos últimos 40 anos que seja realmente inédito ou sensacional. Estrelas como Duke, Miles ou Dizzy, jamais outra vez. ---------------- Um amigo me diz que a ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS elege cantores pop e atrizes para seus postos porque não há escritores vivos no Brasil. Percebi então o óbvio aterrador: A dificuldade de achar um novo Jorge Amado ou Drummond, Erico Veríssimo ou Clarice Lispector. Falo de autores estrela que unem competência artística. Pior, esse amigo me conta que o brasileiro, cada vez mais iletrado, corre o risco de falar uma língua-dialeto, sem grandes obras escritas. Uma língua marginal, uma fala oral da taba. Ninguém lê mais. E os que ainda fazem isso, se perdem em biografias vazias ou livros "uteis". ---------------- Caso voce não saiba, o rock morreu. Os velhuscos Stones ainda excursionam porque são a última banda de estádios na ativa. Rock é hoje museu. Jovens bandas são arqueólogos. ( E a idade chegou. Mick Jagger está cantando bem mais baixo e lento ). ----------------- Revi A GRANDE BELEZA e o filme é tão bom quanto eu lembrava ser. Não cabe aqui falar dele, pois o apreciei em seu tempo, procure no índice. Mas na saga de Jep, o escritor de um livro só, o homem maduro que procurou a vida toda pela grande beleza, sem perceber que ela se apresentava todo o tempo debaixo das coisas, há algo de terrível se visto em 2024. A beleza hoje é um pecado. Ninguém mais vai ao cinema à procura de algo belo ou mesmo bonito. Mulheres não tentam mais ser lindas, elas querem ser sexy ou saudáveis, e isso não é A Beleza, dom que inspira e faz parar e apreciar. A arquitetura busca chocar ou ousar e duvido muito que voce, ao ser perguntado sobre o que achou de um filme X, tenha respondido, LINDO. --------------- Não há mais canções bonitas ou séries de TV que buscam a beleza. Nas ruas vemos a afirmação dp feio como valor. É como se a beleza tivesse se tornado uma qualidade não desejada, uma característica velha, conservadora, imposta, artificial. ----------------- Quem pensa assim é aquele moço com cabelo rosa, roupa sintética e drogas químicas, um cara nada natural. Ele não foi educado a apreciar o belo e não percebe que mesmo na natureza O BELO existe e é valorizado no sexo e na reprodução. Pois O BELO é VIDA, é durável, é paz entre batalhas. A beleza é sempre grande, ela nos faz respirar. -------------- Haverá um renascimento da beleza? As pessoas deixarão de pagar para serem ofendidas pela feiúra? Penso que não. Penso que a beleza se foi, como se foi a coragem e a ousadia. Hoje se dá à ousadia o nome negativo de arrogância e à coragem se diz ser irresponsãvel. A beleza será chamada de Elitismo e elitismo será anti democrático. ---------------- Mas ela sempre existirá. Pois mesmo que o homem não mais a produza, ela viverá para sempre no planeta e no Cosmos e na vida de quem olhar debaixo dos dias.

ANDROIDES, BEATLES E O SEXO

Vejo na Net uma coleção de novas canções do Beatles. Pensei que fossem descobertas de algum arquivo secreto, mas não, são criações de AI. Música, letras e vozes "como dos Beatles". Uma delas fala em "arco iris no meu bolso" e outra conta um dia entre "jovens maravilhosos". As letras são péssimas e as melodias parecem tortas, mas ao mesmo tempo eu penso: para uma geração criada com músicas tão ruins, isso parecerá muito aceitável. Mais importante, esse novo Beatles poderá compor e existir para sempre. ---------------------- No último milênio foram os filósofos e artistas que viveram sob holofotes. Apesar de Newton, Edison e Einstein, os cientistas não eram as estrelas. Neste milênio a arte é algo beeeem secundário e a ciência é a estrela. Elon Musk é de longe a figura mais interessante e relevante do planeta, e não à toa ele tem feito o trabalho que deveria ser de um artista. Recentemente ele previu que em 30 anos haverão androides que não poderão ser distinguidos dos humanos. Se ele previu 30, imagino que serão 20 anos. Como Elon sempre fala o que pensa, ele disse que a maioria desses androides serão usados para o sexo. Waaaallll....isso me faz pensar.... ---------------------- Primeiro: a beleza desses robots será enlouquecedora. Humanos estão se tornando cada vez mais feios, basta andar pelas ruas, e isso me faz achar que a beleza física será toda delas. Se voce é psicólogo comece a se preparar para tratar os obcecados sexuais por androides. Consequência óbvia, filhos serão ainda mais raros entre os ricos. Mas haverá um mercado de robots de segunda mão. Este tem um dedo a menos e esta perdeu um olho, preço mais baixo. -------------------- Androides para passear, androide especializado em sexo oral, androide que ama apanhar, tudo com aquele rosto de mangá japonês. Voce envelhece, ela nunca. -------------- Logo surgirão os defensores dos direitos dos androides. Que direitos? Poderei ter um harém? Uma com seios imensos, outra com eles pequenos? ---------------- Se voce tem menos de 60 anos, voce verá o começo desse mundo e se voce tem menos de 50, voce terá de se acostumar à ele. Para quem nasce agora, viver entre androides sem saber se aquele policial é um deles ou não será questão comum. ---------------- Tentarão corromper androides no Brasil? O androide brasileiro será mentiroso? As bundas de nossas androides serão absurdamente grandes? Haverá androide trans? Que tipo de crime será a destruição de um androide? O mesmo que destruir um bem ou matar um cão? ---------------- Meu androide cortará minha grama, passeará com o Rex e ainda fará sexo comigo? -------------- Meu tédio será ainda maior? -------------------- Elon Musk tem uma frase maravilhosa: Ainda não sabemos até onde a mente humana pode chegar, e por isso devemos ir até o nosso limite. ------------------ Criar androides é um passo imenso adiante. Porque além da recreação, serão eles a mergulhar nas fossas oceânicas, chegar em Marte ou explorar minas perigosas. A mente humana, longe ainda de seu limite, terá de criar toda uma nova moral e uma nova sensibilidade para lidar com esse novo mundo. É assustador e é fascinante. E será um salto tão grande como aquele da invenção da escrita. Quem viver verá. E eles viverão. Pra sempre.

CIGARROS SÃO SUBLIMES - RICHARD KLEIN. UMA HISTÓRIA CULTURAL DE ESTILO E FUMAÇA

Este livro, lançado em 1998, faz parte da coleção da editora Rocco, PRAZERES E SABORES. Comprei imaginando que ia ler algo risonho, elegante, solar, sobre o ato de fumar. Mas não. É um interessante relato filosófico, sociológico e artístico sobre o cigarro. Sua chegada à Europa, sua popularização, o modo como ele modificou o planeta. ----------------- Primeiro fato: Eu nunca havia percebido, mas a literatura, o cinema, a música do século XX foi feita por gente que fumava de 40 a 60 cigarros por dia. É óbvio que a nicotina e o ritual do parar para acender, pensar, pausar o trabalho, ser envolto por fumaça, tem imensa influência em tudo que se produziu no período. Mais que tudo, o começar ao fumar, aos 12 ou 13 anos, foi a última "iniciação" á vida adulta que nossa cultura produziu. Fumar era ser homem, e quando as mulheres passaram a fumar, portar um cigarro passou a ser afirmação de força. ------------------ Eu também nunca havia pensado naquilo que se processa na mente quando acendemos um cigarro. O tempo é pausado e tomamos posse do relógio. Tudo cessa, o cigarro sai do maço, o fogo é aceso, a primeira baforada, a ilha se cria. Mais ainda, ao fumar o ser se joga à morte ( todo fumante sabe que está a se matar ). A morte é escolhida livremente, de modo consciente. É como se fosse afirmada a grande liberdade: eu tenho minha própria morte em mãos. Eu sou dono do meu tempo. ---------------------- No tempo do livro, 1998, já se fechava o cerco ao fumante. O cigarro começava a ser visto como vilão. O fumante como um tipo de ser sujo, um pária. Klein adivinha que isso faria parte de um cerco maior, o cerco à liberdade. Todo rebelde, todo inconformado portava um cigarro. Essa imagem começava a ser desconstruída. ------------ Ao mesmo tempo se favorecia o uso da maconha. E há aí a perversão: o maconheiro é pouco viril, conformado, lento, pouco agressivo. O fumante de tabaco é nervoso, viril, questionador. Bogart e John Wayne são diferentes de Cheech and Chong. O mundo do poder quer bilhões de Cheech and Chong. --------------- Se o garoto virava adulto ao fumar, optou-se pelo não ser adulto. Drogas que são brinquedos. Recreativas. O século XXI é o século do adulto como criança eterna. ------------------ Morrer de câncer no pulmão aos 60 anos era uma escolha. Hoje se morre de Alzheimer ou demência aos 80. A ansiedade, que era controlada pelo fumo, hoje é domada pela comida. As pessoas são mais gordas porque não fumam. Se eram gastos bilhões com doenças do tabaco, hoje se gastam bilhões com doenças da gordura. No nosso tempo, 2024, criou-se a certeza, covarde, de que ter uma vida boa é ter uma vida longa. Nunca foi e não é. Ter uma vida boa é ter uma vida livre. Completamente livre. ---------------- E a imagem da liberdade ainda é a do cara sem camisa e sem capacete, andando de moto na praia, sem protetor solar e com um cigarro entre os dentes que sorriem. Houve um pico de liberdade entre 1950-1990. Depois passou. E continua a passar. O Controle se fez maior em esportes ( cheios de regras morais e de comportamento ), arte ( artistas malditos parecem hoje crianças birrentas ), política ( não se aceita mais uma oposição real, apenas a consentida ), sexo ( perdeu seu poder de ofender e de criar medo e coragem ), diversão ( apenas aquelas que são aceitas pela moda e pela cultura pop ). O cigarro saiu de cena anunciando que esportistas, artistas, famosos, se tornariam cada vez mais impessoais e cada vez menos originais. Um Cruyff fumando um cigarro à beira do campo é hoje tão distante como é o surgimento de uma seleção que mude todo o futebol para sempre. --------------- Nos deixamos capturar. Não haverá retorno do "faça e deixe fazer". O mundo sem fumaça é bem menos colorido. ------------------ PS: não sou um fumante.

COMO O PODER SE FAZ HOJE?

Não existe grupo social, e nem mesmo grupo animal, onde a hierarquia seja deixada de lado. Provável que o primeiro líder tenha sido o melhor caçador e que depois disso aquele que conseguia falar com os deuses tenha sido alçado a condição de chefe. Da mistura desses dois veio a aristocracia. Para dominar seu povo, não sou contra a liderança mas sou particularmente contra o líder covarde, o chefe começou a sofisticar seu modo de domínio. O mais óbvio era eleger um inimigo e se alçar ao cargo de "defensor contra o perigo". Muitas vezes esse perigo era real, mas outras se usava a fantasia para assustar o povo e assim continuar deixando-os em posição dependente. Judeus são um caso típico de inimigo fantasioso. Bruxas, monstros e azares variados são outro. Povo assustado é povo fraco. --------------------- Já nos tempos do cristianismo entendeu-se que um povo que se vê como culpado pede por ser oprimido. Povo fraco não pensa em liberdade e desde então, por séculos, usou-se a culpa como modo de dominar sem grande esforço. O remorso pela culpa pede punição. ----------------- No final do século XIX e radicalmente durante todo o século XX o poder foi obrigado a usar a força explícita para poder se manter. Isso porque a culpa entrou em declínio. Pela primeira vez o povo clamava por felicidade e liberdade total. O desenvolvimento do capitalismo trouxe ao planeta uma riqueza jamais imaginada e no ocidente nunca tão poucos passaram fome. Por toda história humana, viver era sentir fome,porém por volta de 1960 isso acabou para mais de 70% do ocidente. Os líderes, para manterem seu poder, precisaram criar perigos absurdos ( ETs, cometas, perigo comunista, perigo fascista, doenças, ameaça de falta de água... ). Tudo isso unia o povo debaixo de uma liderança, mas pelo fato de que agora podiam se alimentar direito e assim ter como pensar, o povo logo pedia felicidade e liberdade. --------------- O que vemos nestes tristes anos do século XXI é uma nova forma de opressão, bem mais sutil. A marginalização da BELEZA e a transformação da vida em uma espécie de prisão domiciliar. --------------- Como qualquer filósofo grego já sabia, e muita gente boa desde então repetiu, a beleza eleva o pensamento, expande a alma e dá ao homem coragem. Demorou muito para os líderes perceberem que quando eles promoviam a beleza, ato que deveria ser homenagem a si mesmo, eles sem querer elevavam seu povo. A visão da beleza acende o desejo, desejo por mais beleza, por mais vida, por crescimento. A beleza é por isso sempre erótica, pois ela fertiliza. Quem viveu na beleza exige mais da vida. ------------- Primeiro passo para o domínio no século XXI: Belo é relativo, criação artificial. O conceito de belo só existe nos olhos de quem vê e cada um que aprenda a apreciar "belezas alternativas", modo hipócrita de falar "que cada um engula o feio". Arte, música, arquitetura, moda, passaram a ser um opressivo culto ao feio, ao desarmônico, ao desagradável. A mente, sem erotismo algum, se encolhe, não há expansão, a vida fica MESQUINHA. ------------------ Segundo ato de domínio: Enfiar as pessoas em eficientes celas para morar. Os novos apartamentos não são "studios" e nem mesmo barracos se favela, são celas de presídio. Dormir, falarna net, ver TV em celas acostuma a alma e a mente a ter espaço limitado, a pensar curto, a VER APENAS AQUILO QUE ESTÁ PERTO E É SEU, ou seja, nada. Na cela voce nada tem e por isso nada teme perder. Quem nada tem a perder tem duas escolhas: arriscar ou pouco se importar. Voce arrisca quando acuado, mas a cela te dá a ilusão da vida digital, te amortece, e ao optar pelo não se importar o PODER SORRI, ERA ESSE O OBJETIVO. --------------------- Sem posses físicas e sem filhos voce não se preocupa com o futuro, passa a ter uma vida de eterna juventude, prazer imediato. O chefe do povo te dá esse prazer barato: jogo, sexo, droga, viagens. E uma série de TV com jogo, sexo, drogas. ------------------ Voce está preso baby. As paredes são idênticas às do seu vizinho. As ruas possuem luminosos e prédios cinzas que te oprimem. O metrô é um buraco frio. E todos os seus amigos falam exatamente o mesmo que voce. Mesmas opiniões, mesmos assuntos, mesmos desejos. ---------------- Como adivinhou Aldous Huxley, o poder do futuro fará com que o oprimido ame aquilo que o oprime. É 2024. O futuro é aqui.

O PRETO E O BRANCO

O que vejo é uma pele negra, e nada mais que isso. Tal característica nada significa para mim e nunca nada importou em minha vida. Basta raciocinar: Se voce diz que te devo desculpas por sua antiga escravidão, então sua alma é diferente da minha e não apenas sua pele. Haveria algo em seu interior que mantém a identidade dos escravos de 1860. Alma, DNA ou seja lá o que for, uma vez escravo sempre escravo. É claro que para mim isso não faz qualquer sentido. Para mim voce tem a mesma alma, DNA que eu. Nada no seu cérebro, espírito ou modos é diferente dos meus. ------------ Mas digamos que voce esteja certo. Sua alma, eternamente escrava, seu DNA, marcado com a chaga da escravidão. Sendo assim, e seguindo esse pensamento, então eu tenho do espírito daqueles que foram escravizados pelos norte africanos na idade média. Tenho a chaga dos que foram estuprados pelos romanos. Vou eternamente ter direito à vingança sobre os povos bárbaros que mataram e escravizaram minha família. Mais que isso, devo aceitar o fato de que sou DIFERENTE de voce, de que não somos participantes da mesma matéria ou o que seja. Sua alma é outra, estrangeira à minha. -------------- Eu considero esse pensamento mais que horroroso, profundamente idiota. Mas entenda, quem o divulgou nada tinha de idiota, ele era esperto. Seu objetivo era desunir, e conseguiu. Ele sabe que um povo desunido em grupos que se odeiam será dominável. ----------------- Homens e mulheres, negros e brancos, heteros e gays, asiáticos e índios, TODOS são gente que vive AQUI E AGORA, com uma alma como a minha, desejos como os meus e medos em comum. Propor algo diferente disso é imbecilidade ou maldade pura.

VOCÊS PENSAM?

Assusta muito o modo como as pessoas pensam hoje. Elas não tentam pensar em profundidade e jamais procuram ajuda para pensar melhor. Jovens consideram seu intelecto pronto e nada que fuja daquilo que eles já sabem, ou melhor, pensam saber, lhes importa. Em 2005 eu falava que a divisão das pessoas em tribos iria cegar a percepção dos outros, dos fora da tribo, e em 2010 notei que as comunidades na internet faziam com que um participante de um grupo de cinema anos 2000 passasse a achar que tudo feito antes de 2000 não existia. A coisa em 2024 piorou muito. -------------------------------- O pensamento se atrofiou e esta é a geração que pela primeira vez é menos inteligente que a anterior. São dados da ONU. O que ocasionou isso? Primeiro o fato de que ao publicar e receber vinte curtidas qualquer um passa a se sentir dono da verdade. É a mais frágil inflação de ego da história, mas ela acontece. Esse narciso irá então ler e seguir apenas quem concorda com ele, porque ele é dono da verdade não é? Faz-se um círculo: minha ignorância é mantida porque voce a apoia e eu te apoio por me apoiar. Qualquer um que for diferente desse círculo será jogado fora, pois ele ameaçará a segurança da ciranda egocêntrica. Um segundo fator de castração do pensamento é o próprio meio. Vivendo na rede, nossa mente se torna visual, apressada e unilateral. A tela não tem profunidade. Ela não para de se mover. E não perde tempo com buscas que podem dar em nada. ---------------------- Desse modo, por não mais pensar além da superfície, vemos o crescimento de pensamentos infantis como os que se seguem. ---------------- A psicanálise foi criada por um homem branco da Europa, logo ela não serve para uma mulher preta dos USA. Por que não trocar History por Herstory? No século XIX houve escravidão, logo todo homem branco do século XIX era escravocrata. Na matemática africana, dois mais dois não são quatro, pois essa soma não foi criada lá. Eu não preciso ouvir Bach porque Bach acreditava em Deus e eu não. Tudo que é novo é melhor que aquilo que é velho, pois se não fosse não teria sido feito. --------------- Esses são exemplos de pensamentos que não se pensam, frases soltas sem porque, mas que ao serem emitidas são consideradas claras e lógicas por quem as emite. E pior, por serem ditas por alguém de determinado grupo, elas são apoiadas pelos colegas sem qualquer questionamento. Eu pergunto: a quanto tempo voce não lê uma notícia baseada em investigação profunda e não em um imenso "parece que" ou "eu creio que" ? ------------------------- Convivo com gente que ao ouvir eu dizer algo como: Aquilo é mais bonito que aquilo, respndem automaticamente com um " voce tem preconceito". Preconceito a que? Ao que é feio? Não. O preconceito que eles me acusam, sem que o percebam, é o preconceito que eles têm contra qualquer um que olhe-julgue-e emita uma opinião própria. ---------------------- Como dizia Huxley, a ditadura perfeita é aquela em que os oprimidos não só amam a opressão como desejam cada vez mais limites. A ditadura do pseudo prazer sem fim, ditadura que domina a classe média e é desejada por todos os de fora, é a mais perfeita construção fascista de toda a hsitória. Drogas, sexo e esportes em troca do embotamente e da passividade absoluta. Voce se sente livre para transar em grupo ou ser um multi poli humano, voce engole drogas prescritas e outras recreativas, voce ouve música 100% do tempo, voce se cansa na academia, voce viaja o mundo todo, voce TEM DE SER feliz e LIVRE, e gente feliz e livre não pode reclamar....não é? Pois se reclamar o errado só pode ser ele e não o mundo onde ele vive, mundo que lhe dá tudo. ----------------- Como um jovem vivendo nessa mundo permissivo e festivo poderá aceitar alguém que lhe cobre algo? Qualquer frase óbvia que vá contra seu falso prazer, será vista como "repressora", antiquada, quando não "fascista". Nada poderá ser dito que coloque em dúvida seu mundo, pois a dúvida desmancha a ilusão tão frágil. Um homem menstrua e uma mulher é igual um homem. Não importa a biologia ou o fato de que uma mulher possa ser MELHOR que um homem, o que se deve dizer é que CADA UM É O QUE DESEJA SER. O pesamento deles é tão pueril que não percebem que falam em cada um ser o que deseja ser e ao mesmo tempo que todos são iguais. Duas ideias que se anulam, pois se sou o que EU desejo nunca serei como VOCE é. Mas esse é um raciocínio óbvio que eles não podem ter. Assim como não entendem que ao dar chances melhores a um determinado tipo físico voce está diferenciando ele de todo o resto. É como se todo o tempo jogassem na cara de todos "ELE NÃO É COMO VOCE". O objetivo do racismo não é esse? Mostrar que aquele homem não é como eu? -------------------- Eu me livrei da BOLHA de maneiras simples e objetivas. Não dando mais a menor importância para aquilo que é moda. Não me unindo a grupos que nada proponham de sacrifício. ( Não existe prazer sem preço e nem verdade sem coragem ). Provando por mim mesmo aquilo que não conheço e nunca me guiando por intermediários. E principalmente observando minha reação ao que ocorre no mundo. Ser coerente, condição que apenas o raciocínio nos dá.

THE BIG CHILL - O REENCONTRO, FILME DE LAWRENCE KASDAN seu melhor filme

Quando feito, em 1983, filmes ainda não se valiam de músicas já famosas para conseguir criar um clima favorável. A partir da década de 90 isso se tornou lugar comum. Um filme como QUASE FAMOSOS é muito valorizado pela verdadeira chantagem emocional que ele faz usando músicas míticas. Não há como não achar uma cena linda se ele for exibida ao som de sua banda favorita. Tarantino fez toda sua carreira sabendo disso e eu ficaria aqui horas falando de filmes queridos que se valeram da verdadeira apelação musical. --------------- Em 1983 isso ainda era raro. Kasdan, diretor da turma de Spielberg, aparecia na época como novo bom diretor. Ele acabou não sendo o que se esperava, e este é seu melhor filme. Começar ao som de I Heard Through de Grapevine com Marvin Gaye ajuda muito. Amigos que estão por volta dos 35 anos recebem a notícia do suicídio de um deles. E essa morte os faz se reencontrar após cerca de 10 anos. Ex jovens universitários de 1971, 72, eles são, em 1983, adultos bem vestidos, atrás de sucesso, de dinheiro, de um rumo, sendo alguns bem sucedidos, outros não. Todos eles fumam maconha, jogam futebol, ouvem rock e assim passam o fim de semana juntos. O filme tem algo de muito bom: Não procura nada de melodramático ou sensacional. Tudo ocorre sem forçar nada. Pouco se fala da morte do amigo, pouco se chora, pouco se faz filosofia barata. Na verdade o que move o filme é o sexo, natural, inseguro, amigável. -------------- Essa naturalidade, que acabo de elogiar, é também o ponto fraco do filme. Esperamos o motivo do porque dele ter sido feito, esperamos uma explosão de raiva e de dor, e quando termina sentimos que algo foi deixado de lado. Ele não tem nenhum grande momento. ------------ Kevin Costner é o corpo enterrado no começo do filme. Suas cenas foram cortadas e assim este não é seu verdadeiro primeiro filme. Kevin Kline já era uma estrela em 1983 e ele rouba o filme facilmente. Aliás, como sempre fez. Kline é um ator adorável, um dos raros atores que consegue passar alegria genuína na tela. Glenn Close é sua esposa, e os dois são os mais ajustados e os mais ricos entre eles. Ex radicais ativistas, hoje vivem em paz. William Hurt faz algo muito raro num ator: Ser discreto sendo doentio. Ele faz um ex soldado do vietnã impotente, doido, drogado, e Hurt compõe esse personagem sem exibir o tipo "doido perigoso exagerado". Se contém, cria alguns gestos discretos recorrentes. É uma grande atuação. Há ainda Jeff Goldblum, hilário como o amigo chato e Meg Tilly é a ex namorada do cara que se matou, bem mais jovem que todos eles, de certo modo ela é o olhar da geração dos anos 80 sobre os ex hippies dos anos 60-70. Meg está natural, atraente, selvagem, apaixonante. ----------------- O enterro é ao som de you cant always keep what you want, dos Stones e eu ouço pensando que em 1969 a banda atingiu um tipo de grandeza genial que ninguém mais conseguiu. Penso também que é muito estranho um filme falar do Mítico Passado, passado esse que na época, em 1983, era velho de apenas 15 anos! Seria como fazer hoje um filme sobre "Os bons e velhos tempos de 2009!!!!" ---------------- Na verdade o mundo mudou demais entre 70 e 83. ------------------- 2024, o mundo do agora, é um mundo criado pelos caras da mesma geração dos caras do filme. Este planeta é comandado exatamente pela mesma turma, Gates, Musk, Obama, Merkel e Spielberg. Bom filme.

O QUE É SEU, OU: PORQUE VOCE DEVERIA TER CDS E DVDS

O óbvio: basta um maluco arrogante stalinista tomar o poder e todos os filmes que ele não quiser que voce veja irão desaparecer. Os filmes ou músicas que estão nos menus de redes digitais podem ser evaporados do planeta. Se o dono da Net quiser, adeus filme obscuro de 1928 ou adeus filme pseudo machista de 1970. Voce nunca mais o verá. -------------- Há filmes que voce não acha em lugar nenhum. Nem no youtube. Ter a chance de ver um filme numa rede paga, por um ou dois anos, não te faz dono desse filme. Ele sairá da rede e voce o esquecerá. Mais óbvio que tudo: foi o VHS e a fita pirata que destruíram a censura completamente e se contentar com filmes dados por serviços digitais te faz refém da vontade dos programadores. Se eles quiserem censurar voce vai fazer o que? ----------------- Lembro quando ...E O VENTO LEVOU foi retirado dos cursos de cinema nos USA. Eu imediatamente ofereci minha cópia para quem quisesse ver. Isso que fiz se chama liberdade. Eu tenho o filme e eu faço com ele o que eu quero, mesmo que um censor tente calar a obra de 1939 eu a manterei viva. --------------- Nunca confie em grupos econômicos que podem ser dominados por políticos ou pela moral do dia. Tenha seus filmes, seus discos, seus livros em casa, sólidos, livres, escolhidos por voce e eternamente a disposição de sua vontade. É isso.

PARIS É UMA FESTA - HEMINGUAY

Heminguay não tem sobrevivido ao mundo babaca de 2024. Os covardes da minha geração, que o leram e amaram a 40 anos atrás, hoje fingem preferir Zelda à Scott. Quanto aos novos leitores, bem... esses não pegam em livro algum que não tenha sido liberado pelo professor de sociologia ou o crítico da Folha. O horizonte desses caras não abrange escritores agressivamente heteros e que se ocupavam com o mundo da ação, jamais com a teoria absurda. Uma menina na Net fala de sua nova igreja, as Lesbotodistas, igreja feita para lésbicas, negras, tatuadas e "com óculos". Se essa igreja fosse uma piada seria supimpa, mas adivinhe: é a sério. -------------- O ocidente foi tomado pelos bundinhas e países como Russia e China riem disso. O complexo de culpa abriu espaço para que as pseudo vítimas tomassem todas as pautas da velha esquerda. O que vemos é o mundo deles não o meu ou o de Heminguay. PARIS É UMA FESTA era lido por todos que amavam ler e o que a obra transmite é uma bela vontade de viver. Lido por uma aluno que conheço, um jovem de 23, artista musical, tudo que é percebido é " a insuportável falta de consciência social desse autor branco e macho ". Toda beleza das descrições de Paris, toda o amor que o autor tem por seu trabalho é jogada no lixo. Se minha geração tinha o vício da arrogancia, sou de uma geração em que todos se viam como artistas, a atual nada mais é que um grupo de patrulheiros ideológicos. Nada criam, apenas vigiam e acusam. ------------------ Tenho um amigo que não toma banho porque limpeza é um valor da direita. Felizmente há cds de Miles Davis que posso ouvir quando quero.

DERRUBAR ÁRVORES - THOMAS BERNHARD. A ARTE MORRE SEM A CORAGEM.

Causa nojo, ódio, vergonha, asco, ver um monte de artistas, mortos sem o saber, lambendo os pés, puxando o saco, sorrindo para um chefe de estado que lhe dá um dinheirinho para montar sua peça ou publicar seu livrinho. Não existe arte sem coragem, sem a coragem de não ser dependente de ninguém e esses mortos não sabem que fedem a cadáveres. Venderam sua alma, o talento, que talvez tenham tido um dia, foi destruído pelos sorrisos de prostituta barata dados ao deputado, ao industrial que premia os melhores, ao ministro que na verdade os odeia e ri deles em casa. Artistas que babam quando percebem um bolso cheio disposto a investir em sua alma podre. ---------------- Neste livro Thomas Bernhard solta seus cachorros sobre um grupo de pessoas em um jantar feito em honra a um ator famoso. Por mais de 250 páginas tudo o que acontece é um incessante ataque aos convidados desse jantar. Mas porque ele aceitou ir ao tal jantar? Porque um dia ele foi um deles e após 30 anos uma amiga em comum se matou. O enterro foi pela manhã e no cemitério ele não teve como dizer não. E foi. ---------------- A falsidade vaidosa de todos explode, os beija mão, os elogios sem fim que são derramados aos colegas, a falta de fibra, de caráter, de honra, de verdade. O texto, que não dá trégua, é um pesadelo que mistura rostos feios com cenas de morte, palavras falsas e agressividade mal disfarçada, hipocrisia e talento castrado. ------------ Para quem é do Brasil esse livro cai como uma luva pois não há país com uma arte mais impotente que este. Um Thomas Bernhard brasileiro é impossível pois toda nossa arte ( Okay, 95% ) puxa o saco de todo político que lhes dê dinheiro e lambe o pé da realeza baiana estabelecida. A arte do Brasil é um feudo. ------------- " Todos os artistas austríacos se deixam comprar pelo estado e assim, com o peito cheio de condecorações, jamais atingem o topo de sua arte, pois sabem que são indignos da arte que um dia juraram servir." Frase de Bernhard. Coloque a carapuça em todo artista brasileiro. Fim.