Mostrando postagens com marcador mundo hoje. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador mundo hoje. Mostrar todas as postagens
A IDEOLOGIA DO BRASIL
Passe décadas falando à um povo, via filmes, novelas, livros, que a favela é "cultura", que a malandragem é "ingênua", que ser pobre tem seu lado bom e que os ricos, no fundo, invejam a alegria nada neurótica do pobre. Passe décadas dizendo que "toda riqueza é roubo". Passe vidas falando que o pobre transa melhor, canta melhor, joga bola melhor, sorri mais bonito. Faça isso. ---------------- O PODER agradece. E não foi por acaso. Fazendo isso voce cria um povo que não pensa em mudar, pensa apenas em viver. Voce cria uma sociedade que jamais irá incomodar quem está em cima, pois estar por baixo é "cultura nacional". E pior, quem tentar mudar isso, será taxado de "anti povo", traidor da brasilidade. --------------- Pesquisei dados de desenvolvimento da América Latina e fiquei pasmo. Fazem 50 anos que o país não cresce. Quando não, ele recua. Até o Peru tem dados melhores. Falo em renda real. Em indicadores de educação. Em saude e violência. O Brasil regrediu em tudo. E o pobre, cheio de ginga, em sua cultura nacional, feita de vocabulário pobre, sonhos de consumo imediato e dívidas impagàveis, pouco sabe onde está o erro. Aferrados à sua identidade de pobre, ele odeia o bem sucedido, o pragmático, o real. Foi criada, por meia dúzia de bilionários, a ideologia do Brasil: voce tira do Zé e devolve 10% ao Zé, e ele agradece pelo roubo. Beija sua mão e elogia seu programa social. Para manter essa miséria moral, investe-se em ilusões: a favela é vida. O crime é brasilidade. O feio e malfeito são a Estética Nacional. Orgulhe-se dela. O primeiro mundo é mau, quem quer isso por aqui? Temos o que eles não têm: A alegria! Viva!!!!!!!!! -------------- Eu, sinceramente, não vejo a menor chance de que isso mude. O Brasil, fosse uma pessoa, seria um narcisista total, voltado à um ego que o devora e o destroi sem que ele perceba. O self do país, irrecuperável, jaz perdido em algum momento entre a Independência em 1822 e a República em 1889.
24 HORAS NA VIDA DE UMA MULHER E OUTRAS NOVELAS - STEFAN ZWEIG. Nós não pensamos mais. E a culpa não é da internet.
Um grande livro com algumas novelas e alguns contos desse importante autor alemão. Zweig, como voce sabe, foi na primeira metade do século XX, um dos autores mais lidos do mundo. Amigo de Freud, ele morreu no Brasil fugido do nazismo. Ler Zweig é travar contato com uma inteligência enorme. Sua prosa, rica, cheia de detalhes, profundamente psicológica, dá retratos precisos, completos, reais, de pessoas em crise. Em um conto ele explica de modo sublime, o exato momento em que duas meninas de 12 e 13 anos perdem a fé na vida e se tornam "adultas". Em outra história, ele narra a transformação de um jovem cheio de vida e de paixão em uma pessoa sem fé no futuro. Ler Zweig é aprender sobre a mente e o sentimento das pessoas. Ele é sábio. Sem jamais se exibir como mestre ou guru. Ele simplesmente narra e descreve. Com riqueza. ------------------- Agora vem à minha mente: o que houve? Porque hoje nada se escreve de tão sábio? Porque entramos na era do cinismo, como se não valesse mais a pena narrar nada, como se a vida de uma pessoa fosse isenta de interesse. Não se engane! Isso aconteceu não porque nosso mundo é pior. Não porque estamos presos na net. Não. O fato é que nossa educação, no geral, é terrivelmente pior. Falo da educação verbal, o uso da língua, o vocabulário, o saber conversar. A culpa não é da pressa, sejamos mais objetivos, a educação humanística é muito, muito pior. ------------------- Quantas palavras uma pessoa culta usa em seu dia a dia? Sem vocabulário não se transmite o que se quer dizer. O que se fala fica pelo meio. Incompleto. Nossos livros são assim. Não dizem, balbuciam. ------------------- Desse modo nossos possíveis grandes personagens não são descritos. Ficam apenas como sombras ou pior, o que ouvimos é somente a voz de autor, sempre presente, única voz que parece real. E mesmo essa, fala mal. ------------------- A educação falha, preguiçosa, pobre, vem travestida de crítica ao passado, quando na verdade é impotência diante do passado. Incapaz de se ombrear com Zweig, o autor finge desprezar Zweig. ----------------- Causa espanto o quanto mudamos! O pensamento abrangente de um autor de então nos humilha. Faziam com que a vida se mostrasse maior, mesmo em sua dor ou em sua miséria. Hoje, mesmo um autor muito bom como Houellebeq, passa o tempo dizendo o quanto nada pode ser dito porque nada faz nenhum sentido. Ele conta histórias vazias de gente vazia. E eu pergunto: porque o desespero de Kafka rendia textos densos e complexos e o de Houellebeq, mesmo sendo bom, é bom por seu vazio bem feito? A resposta é tão óbvia que parece pueril: uma falha na educação formal, um ambiente que favorece o discurso raso, uma conversação que dá valor à objetividade, mesmo que seja mal articulada. Pensamos mal porque aprendemos pouco.
QUANDO TUDO ACABA
Quando tudo acaba voce tem seu corpo. E é isso que este século nos diz. Voce terá seu corpo e uma conexão com a rede. O resto não importa. Por isso corpos gordos ou corpos na academia. Por isso tatuagens ou barbas. Tudo focado no SEU corpo e sempre no seu. Tudo dentro do seu smart phone: todos os seus discos, livros, filmes, lembranças, amigos. Do que mais voce precisa? -------------------- Eu amo o corpo dela. Mas tenho MEUS livros filmes discos e minhas lembranças ocupam gavetas. Minha vida material é meu corpo mas é também meus objetos. Tento assim RESISTIR. Ainda creio em ter meu território no planeta. Ocupar espaço. REQUISITAR UM LOCAL MEU E SÓ MEU. --------------- Eu não sou um corpo com uma conexão na net. Eu não sou dono do meu corpo. Eu sou parte do cosmos e não sou dono deste corpo, não. Sou dono das minhas coisas, do meu lugar, do meu espaço. Não sou meu corpo, sou o que faço e o que adquiro. Sou o que eles não querem que eu seja: dono. Proprietário. Independente de redes e de fornecimento de dados. Sou voraz.
isaiah Berlin e O ROMANTISMO
Isaiah Berlin foi um dos mais importantes intelctuais do século XX. Estou lendo um livro que transcreve quatro palestras feitas sobre o Romantismo. Para Berlin, o romantismo foi e é o mais importante movimento da história. Somos hoje aquilo que ele, o romantismo, criou. O homem que existia antes de 1780 nos é quase incompreensível. ------------------ Basta dizer o seguinte: para a arte de antes, originalidade era um valor irrelevante. Quando Da Vinci ou Giotto criam uma novidade, o obejtivo é alcançar uma VERDADE, e não SER ORIGINAL. Toda vida moral, intelctual, filosófica, de então, busca o APRIMORAMENTO, a perfeição. Com o romantismo, a criação ÚNICA, ORIGINAL, SEM IGUAL passa a ser o maior valor. É o momento decisivo em que o EGO sobressai ao SOCIAL. -------------------- Vamos pensar outra vez. Voce consegue, tataraneto do romantismo, entender que Shakespeare não tinha problema algum em unir duas peças italianas e daí compor uma peça? Que isso não era plágio mas sim aperfeiçoar, embelezar o que já havia e era de todos? Voce consegue entender que até 1780, mais ou menos, um artista, um filósofo, se sentava para trabalhar pela verdade, pelo bem, pela beleza e não para criar algo de novo? E que quando surgia algo de inédito, o objetivo não era SER ÚNICO, mas sim chegar à um OBJETIVO? O Bem. A Verdade. O Real. -------------------- Essa maneira de dar valor, de apreciar e produzir arte ou ideias, nos é incompreensível. Pois filhos do romantismo que somos, vemos a VIDA como busca por expressão. Queremos ser NÓS MESMOS, nos expressar com liberdade, ter um IDEAL e nesse ideal viver. Amamos gente que morreu, se sacrificou por um ideal e não entendemos que martires anteriores ao romantismo não se sentiram e jamais foram vistos como HEROIS individuais, mas antes como PARTES DE UM MOVIMENTO COLETIVO. A figura do heroi isolado, único e original nasce em fins do século XVIII. Alexandre, César, Joana D'Arc ou Carlos Magno não eram olhados como INDIVÍDUOS ORIGINAIS, mas como partes de um momento, componentes de uma coletividade, inspirados por deuses ou por Deus, não SERES SEM PARALELO. ------------------------ Havia um DESTINO, e Marco Antonio ou Dante seguia seu destino. Somento ao longo do romantismo se criou a ideia de que Dante era único, Marco Antonio lutava para ser ele mesmo ou que Cleopatra era consciente de seu valor. ------------------------ O romantismo inaugura o maior namoro da história do homem, o romance dele com seu ego. O que importa não é meu destino, meus deuses, meu grupo, o que importa é meu EU. E esse eu cria. Cria sua vida. Cria seu destino. Cria seu código moral. Cria seu VIDA. ------------------ E vejam que ainda nem falei da razão! Pois se antes o homem admirável era dono de sua razão, agora é admirável aquele que sente, que se comove, que age por emoção. O amor, antes um dos fatos da vida, passa a ser o centro da vida. O amor passa a ser parte de tudo. Se luta por amor à pátria, se morre por amor à um ideal, se compõe por amor à arte, tudo é amor e por isso tudo se torna nobre se for feito em nome de algum amor. Até a ciência passa a ser feita por amor ao conhecimento. Entenda, para um homem de 1600 isso não fazia sentido. Se fazia ciência para se saber algo. Se compunha uma canção por honra à Deus ou como um trabalho prazeroso. Até mesmo se casava por acerto racional ou afeto amigável. A hiper valorização do amor, dando à ele um poder que nunca houve antes, é invenção do romantismo. Faço um desafio: leia Fielding, Cervantes, Sófocles, mesmo Dante, e voce perceberá que mais importante que o amor é o dever, a honra, a vida social. Mesmo em Shakespeare, se voce ler sua peça mais "romatica", Romeu e Julieta, voce irá perceber que o amor ocupa muito menos espaço que 150 anos de romantismo nos fizeram crer. ---------------------------- O homem solitário que cria sua arte apesar de tudo. O ego lutando contra o meio. A sedução do sofrimento, da pobreza, da doença "por amor à algo". A beleza como valor que arrebata e não como algo que nos educa. São centenas de características romanticas tão cotidianas, aparentemente tão naturais, que não percebemos que foram criadas recentemente e surgiram em apenas 50 anos de mudanças. Da hiper valorização da juventude, à paixão pelo que é novo e original, tudo é invenção romântica. -------------- Falarei mais em outro post.
OS VELHOS COMUNAS
Os velhos comunas eu respeito. Porque apesar de errados em economia, eles eram cultos, viris, corajosos e ingênuos. Até os anos 80, enquanto ainda havia a URSS, ser comunista era falar de economia. O capitalismo era falho, sem planejamento, cruel, e o comunismo seria humano. Pregavam a estatização de tudo, o fim da posse privada, e a destruição dos USA. Tudo que era do consumo POP lhes era odiável, pois todo POP era capitalismo. Por isso na URSS havia tanto destaque a ballet, Opera, musica erudita, museus, xadrez, era uma cultura anti capital, anti POP. Defendiam a erudição e ao mesmo tempo o folclore, pois amavam sua saga histórica, sua bandeira. Eram aguerridos. ------------- Com a queda do muro, em crise, sem mais poder defender a superioridade econômica do comunismo, todo o velho partido foi colocado na sombra e um novo tipo de esquerda surgiu. Ela evita falar de economia e quando fala é bastante vaga, concentra seu discurso em temas leves, temas que na verdade não deveriam fazer a menor diferença, pois eram privados. É como se a esquerda fofa estatizasse a vida íntima, e então passasse a ser do estado o discurso afetivo, a prática sexual, o dicionário de termos permitidos, a história passada, o coração da família e a educação. Falando desses temas, basicamente comportamento social, a esquerda se tornou tão distante da velha esquerda como sempre foi o capitalismo. ----------------- A tática rumo à revolução deixou de ser a do confronto cara a cara explícito, e passou a ser a do enfraquecimento da população ocidental. Gerações de pessoas que pensam apenas em sexo, conforto, bichos fofos e fazer turismo. A revolução não tem mais a tática de ser mais forte, mas sim a de enfraquecer Europa e América. Os velhos comunas jamais aceitariam isso. Sabem que vencer um povo fraco nada tem de valor. ----------------- Por isso que o PCO, por exemplo, surpreende tanto. Eles odeiam os USA, comunas raiz nem jeans usam, e ao mesmo tempo não aceitam censura, corrupção, roubo, trapaças. São velhos comunistas éticos, o oposto de malandros como os pseudo esquerdistas do PSOL e afins. --------------- Pois a esquerda, assim como a direita, virou apenas um modo de reunir um bando de gente que quer dinheiro, poder e puxa sacos ao redor. Não há um ideal, um objetivo e eles nem disfarçam mais. ---------------- É por isso que nesse vazio surge uma nova direita que vende um ideal, um objetivo, objetivo esse que nada mais é que um retorno à um mínimo de certeza moral. Aturdidos, a esquerda não entende como o grupo menos idealista por tradição, os capitalistas, conseguem hoje vender a ideia de um ideal. E de uma moral. ---------------- Enquanto isso, os últimos reais comunas, todos expulsos de PT, PSOL, PC do B e PDT, entendem que essa esquerda malandra é apenas isto: capitalistas malandros que usam ideias sedutoras para angariar votos e que de social não possuem nem a mais vaga ideia.
O COOL MORREU?
Johnny Marr e Chrissie Hynde, numa conversa publicada na midia, dizem que acabou o "Cool". Ninguém mais é cool, isso infelizmente se extinguiu. Eles falam o que é isso e evitam dizer o porque da sua morte. ----------------- O que seja Cool, dito pelos dois, tem alguns erros. Ler no metrô nada tem de cool. É pose de quem quer parecer inteligente, muitas vezes é só isso, e querer parecer algo é a coisa menos cool que há. Resumindo, tudo que os dois chamam de cool é ser frio e silencioso, como um felino. Okay, pode ser, mas ser cool é bem mais profundo que isso. ------------------- Ser cool é não perder o controle. É manter o vulcão sem explodir. Preste atenção: ter a chama, mas não a deixar queimar. É a diferença entre Leonard Cohen e Neil Young. Entre Lou Reed e Patti Smith. O cool fala do inferno mas não parece ligar muito. Ele está lá, vê e sente, mas continua sob controle da razão. O não cool grita, cospe, chora, pula, gagueja. -------------------- Se voce ler meu post abaixo sobre a Covid vai entender que a pandemia foi a pá de cal sobre a atitude cool. Voce foi cobrado a ser histérico, canino, obediente. O cool era um ser sem empatia, um gato. ----------------- O cool jamais quer ser alvo de atenção e parece não dar atenção a ninguém. Ele fica na sombra, sem julgar, pouco ligando. Ele não faz ruído. Ele não segue ordens. Não obedece mas odeia revoluções e atos de niilismo. O cool é sexy porque voce nunca sabe o que ele pensa ou quer. Há sempre uma dúvida. E ele parece não se importar muito com ninguém. É cada umpor si. --------------- Steve McQueen foi o mais cool dos atores porque ele passava tudo isso. Um vulcão sob controle. Já atores como Brando ou De Niro são o anti cool, explodem o tempo todo como fossem adolescentes que beberam. Mesmo italianos podem ser cool. Nada mais cool que Mastroianni. E se falei de McQueen, me desculpe. Alain Delon era mais que ele. --------------- Uma pessoa feia quando é cool se torna mais cool que uma pessoa bonita. Porque ela passa uma impressão de superação. Ela é tão cool que superou esse nariz horrível. Ou essa boca torta. Penso em Gainsbourg. ---------------------- Chrissie diz que o rock não é mais cool. Todos são over. Exagerados. Grotescos. Histéricos. Ela está certa? Não, pois deve haver excessões. Mas sim, o mainstream é choroso em exagero ou um sexy pornô de puteiro barato. Nada menos cool. ---------------- Termino dizendo que nos anos 50 até o carnaval podia ser cool. Há fotos de bailes onde impera o espírito felino. Aliás, ver um bloco na Bahia não é diferente de ver um bando de viralatas na rua brigando por uma fêmea. Cool?
A COVID E A FALTA DE RESPEITO PELA HUMANIDADE
Era um sábado e eu estava andando numa imensa avenida, sem máscara. Onze da manhã, tudo fechado. Eu pagava pra ver. Eu sabia, usando aquilo que aprendera na escola, nada demais, que vírus são infinitamente menores que tecidos de pano, e que as máscaras eram somente placebo, modo de tranquilizar mentes doentias. Mas eu percebia, raciocinando, que algo não batia naquela história. Eu via muitos pedreiros trabalhando nas construções. Sem máscaras. E nas favelas os bares não fechavam. Gente bebia à vontade. Será que eles estavam morrendo? Eu percebia o pavor paranoico no olhar de pessoas que eu julgava racionais, um medo de morrer que beirava o grotesco. As pessoas abriam mão de sua nobreza em troca de uma segurança ilusória. Foi um momento vergonhoso na história da dignidade humana. Foi quando as pessoas provaram como em sua maioria nada são de muito especial. Apenas bichos apavorados. ------------------------ Usou-se muito a palavra empatia. Sem saber o que ela significa. Empatia é sentir a dor de uma criança que morre de fome na Namibia. É a solidariedade não necessária, ser amoroso a alguém que sofre um sofrimento que não te atinge, é ato voluntário. A empatia da Covid foi medo de ser contaminado. Confundiu-se empatia com covardia. ------------- Vivo com mãe de 84 anos, eu jamais usei alcool gel. Saí todos os dias para passear, todos os dias. E não a contaminei. Sorte? Não, não fui irresponsável, fui apenas racional. Não joguei no lixo um orgão que levamos milhões de anos para desenvolver. Quem usou seus neurônios sabe do que falo, mas para os usar, em 2020, 2021, era preciso coragem. A Covid provou a mim mesmo que sou corajoso. Mas nunca temerário. --------------------- Quanto às vacinas. Sim, fui obrigado e tomei duas doses a contragosto. Uma quase me matou. Senti as piores dores da minha vida. Sei hoje que estive perto da trombose e proibi minha mãe de a tomar. Ela tomou a inofensiva vacina Doria. De qualquer modo, só nos vacinamos em 2022. Devemos ter pego o virus antes. E mal o percebi. ------------------------ A pandemia acabou como tinha de ser. Como toda gripe termina: o corpo se adapta ao novo virus e ele fica inofensivo. Basta ler e pensar para saber isso. Mas o planeta foi tomado pelo histerismo e essa febre de pânico nunca mais saiu de nossos ombros. Tudo hoje é medo. Tudo é fim de mundo. Isso porque os crápulas do poder sabem que o modo mais barato de dominar a massa é a deixar em estado de pânico. Elas pedem socorro. O crápula finge ajudar. AS PESSOAS MAIS HONESTAS FORAM CHAMADAS DE IRRESPONSÁVEIS SEM CORAÇÃO. Não. Elas só queriam diminuir seu medo irracional. -------------------------------- Conheci 2 pessoas que, dizem, ter morrido de Covid. Uma eu sei que foi do coração. A outra era um amigo que viveu o tempo todo trancado em casa. Apavorado. Tenho uma prima que até hoje evita ir à rua. Empobrecemos. Emburrecemos. E creia, a humanidade perdeu toda sua fé em si mesma. E os crápulas não sentem mais nenhum respeito por nós.
TRUMP E O UCRANIANO, QUE IMPORTA NA EUROPA DE HOJE?
No mundo moral, aquele que se segue por um tipo de ética bondosa que na verdade é infantilidade raivosa, a humanidade seria isenta de opressão, livre de vigilância e plena em amor e irmandade. Sim, não ria, há quem leve isso a sério, e são exatamente esses que oprimem em nome do "bem", vigiam para defender a "liberdade" e atacam os dissidentes que não aceitam seu "amor" e sua "irmandade". ----------------- Trump e Zelensky deram ontem uma aula de história, mas como no mundo de 2025, ensinar história é proibido, pois este é um mundo que nega todo o passado como fosse tempo de "machos escravocratas", nada será aprendido do que foi exposto pelos dois diante das câmeras. -------------- O Ucraniano é o típico líder de 2025. Fala frases de efeito para seus iguais, posa de heroi, mas na verdade depende 100% da ajuda material e moral de algum líder velho e pragmático. Incapaz de perceber o que seja um acordo, onde se perde um pouco para ganhar alguma coisa, ele insiste em seu papel de heroi da resistência, uma resistência bancada por mesadas de um papai que ele odeia ( sim, é a síndrome do filho rebeldinho ). A Ucrânia jamais vencerá a Russia e hoje sabemos que os russos nunca estiveram perto de perder a guerra, guerra que eles levam a meio pau. ------------- Do outro lado temos o velho Trump, um homem muito esperto, que sabe que desde que o mundo existe, que a paz só é obtida quando uma super potência toma para si o poder e o dever de ditar ordens. Roma é o maior exemplo, mas a própria URSS provou isso. Quando ela ruiu tivemos guerras entre seus antigos comandados. A humanidade repete o que acontece individualmente em casa. O pai-mãe oprime, mas sem ele-ela nada é possível. É preciso alguma direção, alguma ordem, é preciso perceber o limite das coisas. Uma guerra não pode durar para sempre. ------------------- Trump e Putin são aliados? Sim, são. Ambos odeiam a Europa atual, um grupo de países decadentes, acomodados, que vivem em mundo feito de bons discursos e péssima realidade. O que a Europa queria com essa guerra era desgastar a Russia do macho Putin. Desgastar até a RUssia ruir. Ou seja, um típico plano de franceses covardes que se escondem em casa dando risadinha enquanto os EUA pagam sua guerrinha de brinquedo. --------------- O que a França não contava era a volta de Trump e um Trump que agora não quer mais pagar as contas de gente que odeia os USA. Chega de ser trouxa. --------------- A Europa que se vire. Que resolva seu problema com a imigração sem fim e as dívidas insolúveis. Que conviva com uma Russia gigantesca. Que venda tudo para chineses e sheiks árabes. A Europa é hoje uma cristaleira de casa da vovó. Pior, o europeu médio sente vergonha daquilo que garante o resto de relevância que eles ainda têm, seu passado. ------------ É difícil para um europeu admitir que a Russia é, desde pelo menos 1880, mais relevante que eles, e que os USA não precisam deles para nada.
HOMENS
Posto abaixo uma foto histórica. Soldados ingleses, no norte da Africa em 1944. Olhe com calma para a foto. O Jeep está detonado. Duas metralhadoras, do tipo que emperra. Mas principalmente olhe os rostos. São homens. Homens de 22 anos de idade. Não há neles nenhum vestígio da puberdade. O mais aterrador: eles hoje seriam alienigenas. ----------------- O ocidente se tornou um grande quarto de adolescente, e se em 2010 eramos todos meninos de 14 anos, em 2024 somos púberes de 11. Sexo ainda indefinido, muito medo, a vida como lugar de gente velha, velho que nunca serei, meu mundo é mágico. A natureza é boa e os adultos são maus. Essa é a condição de todo woke de hoje. Os adultos são gente como os judeus, os russos, os direitistas, os chineses. Vistos como "aqueles velhos ruins, sem coração". O que os wokes não percebem é que todo menino de 11 precisa de pais. Ou de uma instituição que os abrigue ( governo ). Wokes são garotos perdidos sem Peter Pan. O Gancho é Trump. Para manter o direito de brincar até morrer eles se venderiam alegremente a qualquer um que não lhes cobrasse nada. ---------------- Olhando o rosto dos soldados de 1944 voce percebe neles uma completa ausência de pose. A expressão é neutra. Eles não se vêm como heroi e portanto não são personagens. Como adultos, eles executam um trabalho que deve ser feito. Homens eram assim. Eles faziam o que alguém tinha de fazer. Não por prazer, ou nem mesmo por ideal. Era uma função. Eles funcionavam. Funcionavam para defender. Morriam como parte do trabalho a ser feito. O prazer, o brinquedo, a pose não entravam na equação. Era um mundo inimaginável para quem tem menos de 50 anos. --------------------- Na história do mundo, tudo é cíclico. E cada ciclo nega o anterior. Se hoje vemos tantos absurdos levados à sério, não se engane, tudo isso será varridos e substituído por seu oposto exato. E não vejo um oposto mais contrário ao modismo woke que o mundo do Islã. Quem viver verá.
DJOKO E A CORTINA DE FERRO
Para quem é da minha geração, esse é um sentimento difícil de vencer, e para quem é mais jovem, essa é uma situação cultural dura de transpor. -------------- A CORTINA DE FERRO, o muro real e virtual que separava mundo capitalista do mundo socialista, foi tão tenebroso-forte-brutal-absurdo, que até hoje, 34 anos após sua extinção, ainda enxergamos gente dos Balcãs, ou da Europa Oriental, como "europeus diferentes", quando não, europeus suspeitos. Djokovic quando surgiu, foi o patinho feio, patinho oriental, que estragava a rivalidade Espanha Suiça, Nadal Federer. Era cool torcer pelo muito alinhado Federer, e era bacana torcer pelo moderno Nadal. Djoko vinha da Sérvia, aquele lugar de guerras, de gente de cara feia, fechados, brutos, pouco confiáveis. Mas ele era bom. Na verdade era melhor ( e estou falando não de jogo, falo de tipo humano ). Pois como acontece com todo país sofrido, Djoko era, e é, mais humano que o suiço e mais corajoso que o espanhol. Federer e Nadal são europeus do século XXI, têm a cara e o comportamento dessa massa de pessoas que nasceu em mundo confortável, protegido, igualitário. Djoko nasceu no meio das marcas da guerra em país vilão e nada seguro. ------------------ Quando houve a pandemia, Djokovic, como homem livre que é, optou por não se vacinar. Expulso da Austrália como fosse um terrorista, muitos disseram que ele estava acabado. Como Lance Armstrong no ciclismo, que se dopou, Djoko seria página apagada na história do esporte. Para quem ainda é um homem que coloca a liberdade acima de qualquer valor, a liberdade de ser e de fazer, Djoko cresceu como homem íntegro. ----------------- Agora ele vence mais uma vez, e exibe seu cristianismo real. Wokes não entendem que a religião cresce quando é perseguida, toda religião, e que o cristianismo se enfraqueceu por ter se tornado a religião sem dificuldades. Agora que censuram expressões de fé, ela se faz mais potente. O religioso prova sua fé ao enfrentar o ateu furioso. ---------------- Djokovic irrita certos jornalistas bobos e formadores de opinião debiloides, porque ele joga em suas caras a consciência de sua covardia tão moderna. Todos eles vivem num tipo de berço cercado por puxa sacos e ninados pelas opiniões da manada. Seus egos são inflados com uma certeza infantil, a de que eles estão certos e por isso são O Bem. Quando um atleta não se vacina, não fica doente, vence e ainda mantém seus fãs, esses bobocas sentem uma rachadura em seu berço. Por serem estúpidos não se questionam, nunca se percebem como falíveis, porém se sentem dodoi. ----------------- Djokovc tem opinião. Tem fé. E pouco se importa com os donos da mídia. Isso é o que faz um Homem hoje. A luta é essa.
A NATUREZA HUMANA - ROGER SCRUTTON . E SOBRE UM TURCO.
Quando vemos uma pessoa temos a imediata certeza de que somos um EU e que ela é um VOCE. Mas ao mesmo tempo, sabemos que ela nos vê como um VOCE e que ela é um EU. Mais que desejar, travamos contato com o interior dessa pessoa, o exterior após um primeiro momento se torna aquilo que ele é, uma persona. Mais que a razão, o que define um Humano é essa certeza de ser um Eu e de estar vivendo em meio a VOCES. E assim, saber que há dentro deles a mesma realidade que há dentro do meu EU pois eles são seus próprios EUS. Este é o livro mais curto de Scrutton, e ao mesmo tempo seu texto mais difícil. Psicologia é o que norteia seu pensamento, e ele cita Wittgeinstein e Husserl, Descartes e Schoppenhauer. ------------ No mundo deste século há um movimento, proposital, de se quebrar essa corrente humana. A redução de todo fenômeno humano a simples hábitos evolutivos, faz com que a interioridade se reduza à um composto de genes e a subjetividade se torne mera evolução. O humano é aquele que ansia por ser livre e ao mesmo tempo participante de grupo, é o que se submete à lei por vontade própria e o que deseja aquilo que se esconde. Reduzir tudo isso à mera adaptação ao meio é matar aquilo que nos faz imensos. ---------------- Repare que tudo na modernidade tenta nos diminuir. Desde uma frase como " Diante do cosmos somos nada", até " Eis onde termina toda ambição", não há slogan que não procure incutir a certeza de nossa insignificância. Pior ainda, movimentos organizados como o que coloca um boxeador homem, que se acha mulher, em um ringue com uma mulher nascida mulher, reduz tudo à aparência, um tipo de brincadeira onde se ele se maquiar e usar roupas de mulher, será magicamente uma mulher. Não há modo mais eficiente de matar nossa interioridade que repetir incessantemente que a cor da pele me diferencia de voce, que o modo como me visto me faz diferente do que sou por nascimento, que posso ser me produzindo por fora hoje e agora. ----------------- Nessa absurda olimpíada, um atirador turco ganhou uma medalha de prata, e estranhamente ninguém fala do vencedor, mas apenas do turco. Dikec Yusuf. Isso porque ele competiu de chinelos, sem óculos e mira especiais ultra modernas, fuma durante a prova, tem barriga, e começou a atirar para ter o que fazer com seus filhos. Esse homem nada mais é que um macho de 1980 e por isso causa impressão ( Messi antes de conhecer Neymar era também um cara típico de 1980 e isso causava impressão ). Há nas pessoas uma saudade não assumida do pai típico, do chefe, do líder despretensioso. Mais que isso, da simplicidade sem afetação. Dikec parece adorável porque a imagem dele, um VOCE que vive dentro de nós, tem encontrado poucos Dikec por aí. Ele fumou um cigarro, tossiu e fez seu trabalho. Sem discurso, sem parecer inumano, sem representar grupo nenhum.
RETRATOS DE MEMÓRIA E OUTROS ENSAIOS - BERTRAND RUSSELL
Encontro um livro da Companhia Editora Nacional, publicado em 1958. Primeira surpresa, vejo que a editora tem 22 livros de Russell em catálogo. Outros tempos... ----------------- Russell nasceu em 1872 numa família de longa linhagem aristocrata. Estudou matemática e filosofia em Cambridge e ao longo de quase 100 anos, ele viveu até 1970!!!!, lúcido e produtivo, Bertrand Russell foi o intelectual central na cultura da Inglaterra. É famoso por sua obra, mas tembém por sua defesa da liberdade, da paz, da civilização. Estes textos, escitoe por ele aos 80 anos de idade, versam não só sobre fatos de sua vida, como também sobre política, educação, psicologia, filosofia e lógica. Ele fala também sobre pessoas que conheceu, seu avô que nasceu na época da queda da Bastilha e foi ministro, e gente como John Stuart Mill, Hegel, Lawrence, Shaw, Orwell, Wells. ------------- É pedagógico ler Russell porque ele escreve usando algo que atualmente não se usa: a lógica. Em estilo simples e conciso, ele nunca joga frases sem sentido, tudo tem de possuir um sentido claro e único. Quando ele fala de Liberdade, por exemplo, ele explica que liberdade é essa. ( No caso, a possibilidade de ter, fazer, falar e se mudar ). Socialista Fabiana, ou seja, não marxista, Russell faz ataques demolidores contra o comunismo. " Não posso aceitar nenhuma linha de pensamento que nasce no ódio. E tudo no comunismo é movido pelo ódio. Eles têm por objetivo a destruição e nunca apresentam nenhuma ideia sobre como construir. Não têm amor pelos pobres, mas antes um imenso desejo de destruir a riqueza". Depois dessa, nada mais há se falar sobre a coisa. -------------------- Russell não concorda com Hegel, que acha obscuro e metafísico, nem com Kant, que faz mero jogo de palavras. E talvez o melhor texto seja sobre Descartes. De uma maneira lógica ele demonstra que a frase " Penso, logo existo", não faz qualquer sentido. Russell demonstra, de modo sempre elegante, como se define o pensamento em um mundo pós quântico. -------------- Ele defende o tempo, antes da Primeira Guerra, em que se acreditava que o mundo evoluiria de modo lento, gradual e ordenado. Tempos felizes, otimistas, em que se acreditava que o destino do mundo era se tornar todo um tipo de Inglaterra, nações de parlamentos liberais. Russell diz que para ele é difícil aceitar um mundo tão diferente de sua juventude ( ele foi jovem em 1890-1910 ), um mundo, em 1958, que sofria a ameaça da Bomba, do totalitarismo, da falta de liberdade. ------------------ Várias vezes Russell fala de horrores de 1958 que são realidades ainda mais horrorosas hoje. Já na época ele percebia que " quanto mais organizada uma sociedade, mais pergio corre a liberdade, pois a vigilância aumenta, alimentada por burocratas que vivem dessa organização". Mas Russell é um otimista e diz que a vitória final é sempre do bem, isso porque o mal necessita de opressão e o homem só atinge alguma felicidade quando livre. Ele foi um grande, grande homem.
PS: Socialismo Fabianista é uma corrente econômica que almeja e distribuição do bem estar sem a destruição da classe média. É um tipo de distribuição de lucros. Os socialistas marxismos os acham ingênuos. Os fabianistas achavam os marxistas utópicos e maldosos.
VOCE AINDA VAI TER SAUDADES DA REALIDADE...E NÃO HAVERÁ VOLTA
Recebi hoje um texto de um amigo e ele fala sobre a realidade, sobre o risco, sobre as relações reais. O que me inspirou a isto que agora escrevo. ----------------------------- Me relaciono com uma mulher muito, muito mais jovem que eu. Ela tem 26 anos. Ou seja, em 2008 ela tinha apenas 10. Falo 2008 porque foi quando entrei no orkut. Para ela, orkut é coisa da infancia, como era a TV para mim. ------------------- Pessoas com grande diferença de idade sempre enfrentam o choque de gerações. Mas entre eu e ela existe mais que um choque, nós somos de mundos tão diferentes que o choque nem acontece. Tento explicar o que acontece. -------------------- Mesmo a conhecendo tão bem, há algo nela que eu não consigo captar e nem mesmo dar um nome. Não brigamos e levamos tudo na razoável paz, mas falta alguma coisa. Nunca senti isso com mulher nenhuma. Já sofri, fui apaixonado, enganado, já me perdi, mas agora sinto algo vago, sem força, algo fantasmático. Como se uma sombra, mancha, algo que está mas não está. Me incomoda, mas não há como resolver com ela, pois ela nem percebe sua existência. ------------------- Então, ao ler o texto que me foi enviado, sinto algo. Algo que tem a ver não só com ela, como com todas as pessoas com menos de 30 anos com quem me relaciono. Eles têm POUCO CONTATO COM A REALIDADE. ----------------- Isso pode parecer tolice minha, afinal, é a geração que mais vê crimes ao vivo na rede, tragédias em tempo real, é a geração que mais fala da fome no mundo, da ecologia, dos direitos das minorias etc etc etc. Mas....isso tudo é informação, não é vivência. Mesmo que ela vá à guerra na Ucrânia, essa será uma experiência midiática, pois ela irá lá embuída de discursos já feitos e sentirá, e aí está a tragédia de sua geração, ela sentirá aquilo que ela ACHA QUE SE DEVE SENTIR. ------------------------ Mesmo sendo inteligente e tendo vindo da classe social mais sacrificada, eu sinto, e agora percebo, que ela vive com um pé SEMPRE fora da realidade. Ou melhor, uma perna fora. ---------------- Assim, quando vejo um por do sol, o que ela vê é a chance de uma foto. Quando servem um belo jantar, enquanto eu começo a comer, ela noticia nas redes o jantar. No meio de uma conversa séria, em que ela chora e o assunto é ela mesma, ela vê o que acabaram de mandar para ela, e então volta ao assunto do agora. É uma pessoa que nunca está aqui 100%, e pior, ela não sabe disso. Lendo sua mente espera saber o que está acontecendo lá longe, viajando ela pensa no que ficou aqui e aqui ela pensa no que vai ver além. Sua presença é leve como gás. Não há solidez, não há entrega absoluta ao momento, não há realidade. Desse modo, a sensação que tenho é que preciso, para estar com ela, jogar fora uma parte imensa de mim mesmo, e a falta que sinto é a falta disso, do mundo real, o mundo que acontece diante de meus olhos e não aquele intermediado por uma tela. ---------------- É irrecuperável. Pois assim como minha geração não tem consciência de sua pressa e do barulho em que vive e viveu sempre, eles não sabem que o mundo onde vivem nunca é o AGORA, mas sim o OUTRO LUGAR. ----------------------- Pior, aquele que vive ainda em uma razoável dose de realidade tende a irritar profundamente os FORA DO AGORA. Para eles, alguém como eu parece histérico, emocionado demais, sólido, pesado, uma presença que ameaça por parecer "violento", a violência do que vive aqui, na solidez sem fantasia. --------------------- No mundo real quando chove voce se molha e procura um abrigo. No mundo deles, quando chove voce se alegra pelas plantinhas, se preocupa com enchentes, pensa nas nuvens e na possível gripe. No meio de tanta coisa, voce não sente que está "apenas" molhado. O aqui da chuva e o agora da água fria. ------------------- O texto que li quase nada tem a ver com aquilo que falei aqui, mas ele catalizou esta minha percepção. ------------------ Quanto ao sexo...bem...para ela o sexo é apenas um gozo. Para mim é a coisa mais misteriosa do universo. E estranhamente, ele é mais real para mim, por ter peso e custo, e é quase nada para ela, por significar apenas o mesmo que comer um hamburger ou ir ao cinema. ------------------- Termino dizendo que as gerações futuras sentirão uma estranha tristeza de alguma coisa que não saberão o que é. Assim como nós sentimos uma vaga tristeza sem nome, talvez saudade de Deus ou do mundo da caça, eles sentirão algo pior: saudades da realidade. Saudades de quando se vivia e não se via.
A.I. É UM PERIGO?
Algumas semanas atrás eu ouvi, sem saber o que era, uma nova canção dos Beatles. Alimentaram a AI de informações sobre a banda e pediram para ela compor uma canção Lennon-MacCartney. A melodia era um POP decente, mas a letra saiu como uma espécie de Lovin Spoonfull piorado. Arco Iris dentro do meu bolso, flores no riacho...eles jamais comporam nada tão idiota! --------------- Um cara diz que a literatura está salva do AI, que é impossível criar um romance em AI. Será? Esse mesmo cara fala que roteiros de cinema já são feitos com ajuda da AI. Música POP hoje é feita com AI. E isso é culpa dos artistas que trabalham na área, suas criações nos últimos anos são tão banais, tão rasteiras que alimentar uma máquina com meia dúzia de roteiros premiados e pedir para ser feito um novo se tornou a piece of cake, mel na sopa. --------------- Mas eu não vejo porque o AI não faça um bom livro para quem lê romances comuns ou livros de auto ajuda banais. Dê a máquina alguns Tons de Cinza e meia dúzia de Dráculas que ele fará um romance de 600 páginas de Pop gótico. --------------- O provável é que a AI faça na arte aquilo que as máquinas em 1800 fizeram no artesanato. O pintor talentoso, o muito talentoso, continuou vendendo sua porcelana bonita, e 99% do público consumidor passou a comprar pratos feitos em série, por máquinas. O artesanato excelente sobreviveu, e bem mais caro, lógico, enquanto o artesanato apenas mediano foi substituído pela produção industrial. O AI jamais poderá escrever um novo Ulysses, mas ele fará todos os best sellers da semana. A máquina, alimentada com filmes de Bergman e Fellini não fará um novo Oito e Meio, mas conseguirá produzir um Roma. ---------------- Voce acha isso estranho? Eu acho normal, sem problemas. E claro, atores serão substituídos por imagens de AI ou robots com as feições de um Errol Flynn jovem ou uma Angelina Jolie imortal.
A ARTE MODERNA
Um homem coloca 8 baldes de plástico vermelho um sobre o outro. No chão há areia branca. Ele derruba os baldes e eles caem sobre a areia. O público aplaude. ---------------- Um homem, com uma pá, joga lama sobre um outro, que está de pé. É aplaudido. ------------------- Um senhor rabisca o chão com uma tora de carvão. ----------------- Isso é a arte de nossa civilização. O que ela significa? aquilo que o artista quiser. Ele é livre para dar o sentido que lhe aprouver. Basta ter cara de pau e saber mentir. -------------- O que realmente importa é: E o público? O que faz com que eles aceitem fazer parte numa farsa tão óbvia? ------------------ Danilo, é um nome aleatório, se arruma e vai à uma mostra de arte moderna. O fato dele ir à uma mostra de arte já faz com que seu ego se sinta superior e, melhor ainda, ele sente que sua noite foi cultural ( seja lá isso o que for ). Mais que arte, é arte moderna, e Danilo é sempre moderno, um cara à frente dos outros. Ele aprecia cada gesto do artista e aplaude, sentindo enquanto bate palmas o gozo por saber quem é Duchamp e Beuys e sua condição sensível, culta, refinada. Ele faz parte do clube, a congregação dos seres especiais que entendem o que é a arte moderna. Sua noite foi proveitosa, ele adquiriu cultura e sua alma se sente justificada. ---------------- Observe que tudo o que Danilo fez ou sentiu engloba o ego, a vaidade e o mundo social, seu mundo social. Tudo o que aconteceu foi superficial, ele foi porque é bom ir, ele gostou porque é certo gostar. Ele sacou tudo. Porque ele precisa sacar. ------------------- Postei abaixo a estátua de um menino sobre um cavalo. Ela é de Chipre e tem cerca de 2.200 anos. Foi feita com a intenção de ser exposta ao público, livremente. O que acontece com que a olha ou a olhou? Primeiro: Não há nada de esnobe nela ( aparentemente ). Todos a acharão bonita, porque ela é bonita de fato e a beleza é universal e indiscutível ( voce pode a questionar, mas sua opinião é apenas uma questão de provocação ). Há uma imensa habilidade ali e ninguém poderá dizer " Eu faria isso também". Quem fez a obra é um indivíduo habilidoso, ele estudou e trabalhou muito para chegar a tal resultado. Segundo: Ela não dá margem ao esnobismo fácil da arte dita moderna. Apreciar o cavalo e o menino não "parece" exigir nada além de saber olhar. O padeiro e o garçon a apreciarão. ----------------- Mas é então que surge a verdadeira sofisticação: Ela exige nada além de olhar e no mundo de hoje, olhar é muito difícil. ---------------- Fomos educados a olhar julgando, olhar criando conceitos, olhar procurando mensagens ocultas. A arte grega foi feita para olhar olhando, olhar vendo, olhar usando os olhos e deixando o espírito gozar. A experiência é sensual. ------------ Por mais que Danilo tente, essa sensação é para ele impossível, pois ao olhar o cavalo e o menino ele não vê a pedra trabalhada, ele pensa na idade da obra, na história cultural, na filosofia de então, em seu olhar analítico. Danilo jamais verá a beleza pura da obra prima que tem diante de si, pois Danilo foi amestrado a não olhar, e sim a "criar sentido". Por mais bela que seja a obra, e ela me deixa encantado, Danilo pensa no que significa o belo. ----------------- Somos horrivelmente velhos. As pessoas tendem a dizer que nosso mundo é infantil, ele não é. Infantil era o mundo grego, vitalista, puro, ingênuo. Somos velhos que pensam como velhos e procuram prazeres de velhos. Não gozamos mais com nosso sentidos simples, pensamos no gozo. Estamos sempre lá e nunca aqui. Estamos sempre antes ou além e jamais agora. A arte de Danilo é arte de quem perdeu a fé na vida. A alegria em criar. O dom de sentir sem pensar. A arte de Danilo é a arte do asilo.
A GRANDE BELEZA
Tudo que há tem seu fim. Não seria diferente com a cultura. A Ópera morreu faz mais de 50 anos, e mesmo que voce considere os balbucios atuais como atestado de vida, ninguém mais procura saber quais são os novos espetáculos que estrearam. Cantores super star, e houve muitos, não mais. Maria Callas e Pavarotti eram a Beyoncé da elite pensante. Elite pensante? Hoje usar esse nome seria um crime. Portanto aboliu-se a elite pensante. ---------------- O ballet é outra arte defunta. Sim, estreia uma nova companhia de dança, mas não há novos Margot Fonteyn e Nureyev, Baryshnikov e Martha Graham. Quando foi a última vez que voce saiu para ver um show de dança? ---------------------- O jazz acabou faz tempo. Marsalis foi a última estrela a surgir. Isso foi em 1980. Mesmo no jazz elétrico, que adoro, nada de novo nos últimos 40 anos que seja realmente inédito ou sensacional. Estrelas como Duke, Miles ou Dizzy, jamais outra vez. ---------------- Um amigo me diz que a ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS elege cantores pop e atrizes para seus postos porque não há escritores vivos no Brasil. Percebi então o óbvio aterrador: A dificuldade de achar um novo Jorge Amado ou Drummond, Erico Veríssimo ou Clarice Lispector. Falo de autores estrela que unem competência artística. Pior, esse amigo me conta que o brasileiro, cada vez mais iletrado, corre o risco de falar uma língua-dialeto, sem grandes obras escritas. Uma língua marginal, uma fala oral da taba. Ninguém lê mais. E os que ainda fazem isso, se perdem em biografias vazias ou livros "uteis". ---------------- Caso voce não saiba, o rock morreu. Os velhuscos Stones ainda excursionam porque são a última banda de estádios na ativa. Rock é hoje museu. Jovens bandas são arqueólogos. ( E a idade chegou. Mick Jagger está cantando bem mais baixo e lento ). ----------------- Revi A GRANDE BELEZA e o filme é tão bom quanto eu lembrava ser. Não cabe aqui falar dele, pois o apreciei em seu tempo, procure no índice. Mas na saga de Jep, o escritor de um livro só, o homem maduro que procurou a vida toda pela grande beleza, sem perceber que ela se apresentava todo o tempo debaixo das coisas, há algo de terrível se visto em 2024. A beleza hoje é um pecado. Ninguém mais vai ao cinema à procura de algo belo ou mesmo bonito. Mulheres não tentam mais ser lindas, elas querem ser sexy ou saudáveis, e isso não é A Beleza, dom que inspira e faz parar e apreciar. A arquitetura busca chocar ou ousar e duvido muito que voce, ao ser perguntado sobre o que achou de um filme X, tenha respondido, LINDO. --------------- Não há mais canções bonitas ou séries de TV que buscam a beleza. Nas ruas vemos a afirmação dp feio como valor. É como se a beleza tivesse se tornado uma qualidade não desejada, uma característica velha, conservadora, imposta, artificial. ----------------- Quem pensa assim é aquele moço com cabelo rosa, roupa sintética e drogas químicas, um cara nada natural. Ele não foi educado a apreciar o belo e não percebe que mesmo na natureza O BELO existe e é valorizado no sexo e na reprodução. Pois O BELO é VIDA, é durável, é paz entre batalhas. A beleza é sempre grande, ela nos faz respirar. -------------- Haverá um renascimento da beleza? As pessoas deixarão de pagar para serem ofendidas pela feiúra? Penso que não. Penso que a beleza se foi, como se foi a coragem e a ousadia. Hoje se dá à ousadia o nome negativo de arrogância e à coragem se diz ser irresponsãvel. A beleza será chamada de Elitismo e elitismo será anti democrático. ---------------- Mas ela sempre existirá. Pois mesmo que o homem não mais a produza, ela viverá para sempre no planeta e no Cosmos e na vida de quem olhar debaixo dos dias.
ANDROIDES, BEATLES E O SEXO
Vejo na Net uma coleção de novas canções do Beatles. Pensei que fossem descobertas de algum arquivo secreto, mas não, são criações de AI. Música, letras e vozes "como dos Beatles". Uma delas fala em "arco iris no meu bolso" e outra conta um dia entre "jovens maravilhosos". As letras são péssimas e as melodias parecem tortas, mas ao mesmo tempo eu penso: para uma geração criada com músicas tão ruins, isso parecerá muito aceitável. Mais importante, esse novo Beatles poderá compor e existir para sempre. ---------------------- No último milênio foram os filósofos e artistas que viveram sob holofotes. Apesar de Newton, Edison e Einstein, os cientistas não eram as estrelas. Neste milênio a arte é algo beeeem secundário e a ciência é a estrela. Elon Musk é de longe a figura mais interessante e relevante do planeta, e não à toa ele tem feito o trabalho que deveria ser de um artista. Recentemente ele previu que em 30 anos haverão androides que não poderão ser distinguidos dos humanos. Se ele previu 30, imagino que serão 20 anos. Como Elon sempre fala o que pensa, ele disse que a maioria desses androides serão usados para o sexo. Waaaallll....isso me faz pensar.... ---------------------- Primeiro: a beleza desses robots será enlouquecedora. Humanos estão se tornando cada vez mais feios, basta andar pelas ruas, e isso me faz achar que a beleza física será toda delas. Se voce é psicólogo comece a se preparar para tratar os obcecados sexuais por androides. Consequência óbvia, filhos serão ainda mais raros entre os ricos. Mas haverá um mercado de robots de segunda mão. Este tem um dedo a menos e esta perdeu um olho, preço mais baixo. -------------------- Androides para passear, androide especializado em sexo oral, androide que ama apanhar, tudo com aquele rosto de mangá japonês. Voce envelhece, ela nunca. -------------- Logo surgirão os defensores dos direitos dos androides. Que direitos? Poderei ter um harém? Uma com seios imensos, outra com eles pequenos? ---------------- Se voce tem menos de 60 anos, voce verá o começo desse mundo e se voce tem menos de 50, voce terá de se acostumar à ele. Para quem nasce agora, viver entre androides sem saber se aquele policial é um deles ou não será questão comum. ---------------- Tentarão corromper androides no Brasil? O androide brasileiro será mentiroso? As bundas de nossas androides serão absurdamente grandes? Haverá androide trans? Que tipo de crime será a destruição de um androide? O mesmo que destruir um bem ou matar um cão? ---------------- Meu androide cortará minha grama, passeará com o Rex e ainda fará sexo comigo? -------------- Meu tédio será ainda maior? -------------------- Elon Musk tem uma frase maravilhosa: Ainda não sabemos até onde a mente humana pode chegar, e por isso devemos ir até o nosso limite. ------------------ Criar androides é um passo imenso adiante. Porque além da recreação, serão eles a mergulhar nas fossas oceânicas, chegar em Marte ou explorar minas perigosas. A mente humana, longe ainda de seu limite, terá de criar toda uma nova moral e uma nova sensibilidade para lidar com esse novo mundo. É assustador e é fascinante. E será um salto tão grande como aquele da invenção da escrita. Quem viver verá. E eles viverão. Pra sempre.
CIGARROS SÃO SUBLIMES - RICHARD KLEIN. UMA HISTÓRIA CULTURAL DE ESTILO E FUMAÇA
Este livro, lançado em 1998, faz parte da coleção da editora Rocco, PRAZERES E SABORES. Comprei imaginando que ia ler algo risonho, elegante, solar, sobre o ato de fumar. Mas não. É um interessante relato filosófico, sociológico e artístico sobre o cigarro. Sua chegada à Europa, sua popularização, o modo como ele modificou o planeta. ----------------- Primeiro fato: Eu nunca havia percebido, mas a literatura, o cinema, a música do século XX foi feita por gente que fumava de 40 a 60 cigarros por dia. É óbvio que a nicotina e o ritual do parar para acender, pensar, pausar o trabalho, ser envolto por fumaça, tem imensa influência em tudo que se produziu no período. Mais que tudo, o começar ao fumar, aos 12 ou 13 anos, foi a última "iniciação" á vida adulta que nossa cultura produziu. Fumar era ser homem, e quando as mulheres passaram a fumar, portar um cigarro passou a ser afirmação de força. ------------------ Eu também nunca havia pensado naquilo que se processa na mente quando acendemos um cigarro. O tempo é pausado e tomamos posse do relógio. Tudo cessa, o cigarro sai do maço, o fogo é aceso, a primeira baforada, a ilha se cria. Mais ainda, ao fumar o ser se joga à morte ( todo fumante sabe que está a se matar ). A morte é escolhida livremente, de modo consciente. É como se fosse afirmada a grande liberdade: eu tenho minha própria morte em mãos. Eu sou dono do meu tempo. ---------------------- No tempo do livro, 1998, já se fechava o cerco ao fumante. O cigarro começava a ser visto como vilão. O fumante como um tipo de ser sujo, um pária. Klein adivinha que isso faria parte de um cerco maior, o cerco à liberdade. Todo rebelde, todo inconformado portava um cigarro. Essa imagem começava a ser desconstruída. ------------ Ao mesmo tempo se favorecia o uso da maconha. E há aí a perversão: o maconheiro é pouco viril, conformado, lento, pouco agressivo. O fumante de tabaco é nervoso, viril, questionador. Bogart e John Wayne são diferentes de Cheech and Chong. O mundo do poder quer bilhões de Cheech and Chong. --------------- Se o garoto virava adulto ao fumar, optou-se pelo não ser adulto. Drogas que são brinquedos. Recreativas. O século XXI é o século do adulto como criança eterna. ------------------ Morrer de câncer no pulmão aos 60 anos era uma escolha. Hoje se morre de Alzheimer ou demência aos 80. A ansiedade, que era controlada pelo fumo, hoje é domada pela comida. As pessoas são mais gordas porque não fumam. Se eram gastos bilhões com doenças do tabaco, hoje se gastam bilhões com doenças da gordura. No nosso tempo, 2024, criou-se a certeza, covarde, de que ter uma vida boa é ter uma vida longa. Nunca foi e não é. Ter uma vida boa é ter uma vida livre. Completamente livre. ---------------- E a imagem da liberdade ainda é a do cara sem camisa e sem capacete, andando de moto na praia, sem protetor solar e com um cigarro entre os dentes que sorriem. Houve um pico de liberdade entre 1950-1990. Depois passou. E continua a passar. O Controle se fez maior em esportes ( cheios de regras morais e de comportamento ), arte ( artistas malditos parecem hoje crianças birrentas ), política ( não se aceita mais uma oposição real, apenas a consentida ), sexo ( perdeu seu poder de ofender e de criar medo e coragem ), diversão ( apenas aquelas que são aceitas pela moda e pela cultura pop ). O cigarro saiu de cena anunciando que esportistas, artistas, famosos, se tornariam cada vez mais impessoais e cada vez menos originais. Um Cruyff fumando um cigarro à beira do campo é hoje tão distante como é o surgimento de uma seleção que mude todo o futebol para sempre. --------------- Nos deixamos capturar. Não haverá retorno do "faça e deixe fazer". O mundo sem fumaça é bem menos colorido. ------------------ PS: não sou um fumante.
COMO O PODER SE FAZ HOJE?
Não existe grupo social, e nem mesmo grupo animal, onde a hierarquia seja deixada de lado. Provável que o primeiro líder tenha sido o melhor caçador e que depois disso aquele que conseguia falar com os deuses tenha sido alçado a condição de chefe. Da mistura desses dois veio a aristocracia. Para dominar seu povo, não sou contra a liderança mas sou particularmente contra o líder covarde, o chefe começou a sofisticar seu modo de domínio. O mais óbvio era eleger um inimigo e se alçar ao cargo de "defensor contra o perigo". Muitas vezes esse perigo era real, mas outras se usava a fantasia para assustar o povo e assim continuar deixando-os em posição dependente. Judeus são um caso típico de inimigo fantasioso. Bruxas, monstros e azares variados são outro. Povo assustado é povo fraco. --------------------- Já nos tempos do cristianismo entendeu-se que um povo que se vê como culpado pede por ser oprimido. Povo fraco não pensa em liberdade e desde então, por séculos, usou-se a culpa como modo de dominar sem grande esforço. O remorso pela culpa pede punição. ----------------- No final do século XIX e radicalmente durante todo o século XX o poder foi obrigado a usar a força explícita para poder se manter. Isso porque a culpa entrou em declínio. Pela primeira vez o povo clamava por felicidade e liberdade total. O desenvolvimento do capitalismo trouxe ao planeta uma riqueza jamais imaginada e no ocidente nunca tão poucos passaram fome. Por toda história humana, viver era sentir fome,porém por volta de 1960 isso acabou para mais de 70% do ocidente. Os líderes, para manterem seu poder, precisaram criar perigos absurdos ( ETs, cometas, perigo comunista, perigo fascista, doenças, ameaça de falta de água... ). Tudo isso unia o povo debaixo de uma liderança, mas pelo fato de que agora podiam se alimentar direito e assim ter como pensar, o povo logo pedia felicidade e liberdade. --------------- O que vemos nestes tristes anos do século XXI é uma nova forma de opressão, bem mais sutil. A marginalização da BELEZA e a transformação da vida em uma espécie de prisão domiciliar. --------------- Como qualquer filósofo grego já sabia, e muita gente boa desde então repetiu, a beleza eleva o pensamento, expande a alma e dá ao homem coragem. Demorou muito para os líderes perceberem que quando eles promoviam a beleza, ato que deveria ser homenagem a si mesmo, eles sem querer elevavam seu povo. A visão da beleza acende o desejo, desejo por mais beleza, por mais vida, por crescimento. A beleza é por isso sempre erótica, pois ela fertiliza. Quem viveu na beleza exige mais da vida. ------------- Primeiro passo para o domínio no século XXI: Belo é relativo, criação artificial. O conceito de belo só existe nos olhos de quem vê e cada um que aprenda a apreciar "belezas alternativas", modo hipócrita de falar "que cada um engula o feio". Arte, música, arquitetura, moda, passaram a ser um opressivo culto ao feio, ao desarmônico, ao desagradável. A mente, sem erotismo algum, se encolhe, não há expansão, a vida fica MESQUINHA. ------------------ Segundo ato de domínio: Enfiar as pessoas em eficientes celas para morar. Os novos apartamentos não são "studios" e nem mesmo barracos se favela, são celas de presídio. Dormir, falarna net, ver TV em celas acostuma a alma e a mente a ter espaço limitado, a pensar curto, a VER APENAS AQUILO QUE ESTÁ PERTO E É SEU, ou seja, nada. Na cela voce nada tem e por isso nada teme perder. Quem nada tem a perder tem duas escolhas: arriscar ou pouco se importar. Voce arrisca quando acuado, mas a cela te dá a ilusão da vida digital, te amortece, e ao optar pelo não se importar o PODER SORRI, ERA ESSE O OBJETIVO. --------------------- Sem posses físicas e sem filhos voce não se preocupa com o futuro, passa a ter uma vida de eterna juventude, prazer imediato. O chefe do povo te dá esse prazer barato: jogo, sexo, droga, viagens. E uma série de TV com jogo, sexo, drogas. ------------------ Voce está preso baby. As paredes são idênticas às do seu vizinho. As ruas possuem luminosos e prédios cinzas que te oprimem. O metrô é um buraco frio. E todos os seus amigos falam exatamente o mesmo que voce. Mesmas opiniões, mesmos assuntos, mesmos desejos. ---------------- Como adivinhou Aldous Huxley, o poder do futuro fará com que o oprimido ame aquilo que o oprime. É 2024. O futuro é aqui.
O PRETO E O BRANCO
O que vejo é uma pele negra, e nada mais que isso. Tal característica nada significa para mim e nunca nada importou em minha vida. Basta raciocinar: Se voce diz que te devo desculpas por sua antiga escravidão, então sua alma é diferente da minha e não apenas sua pele. Haveria algo em seu interior que mantém a identidade dos escravos de 1860. Alma, DNA ou seja lá o que for, uma vez escravo sempre escravo. É claro que para mim isso não faz qualquer sentido. Para mim voce tem a mesma alma, DNA que eu. Nada no seu cérebro, espírito ou modos é diferente dos meus. ------------ Mas digamos que voce esteja certo. Sua alma, eternamente escrava, seu DNA, marcado com a chaga da escravidão. Sendo assim, e seguindo esse pensamento, então eu tenho do espírito daqueles que foram escravizados pelos norte africanos na idade média. Tenho a chaga dos que foram estuprados pelos romanos. Vou eternamente ter direito à vingança sobre os povos bárbaros que mataram e escravizaram minha família. Mais que isso, devo aceitar o fato de que sou DIFERENTE de voce, de que não somos participantes da mesma matéria ou o que seja. Sua alma é outra, estrangeira à minha. -------------- Eu considero esse pensamento mais que horroroso, profundamente idiota. Mas entenda, quem o divulgou nada tinha de idiota, ele era esperto. Seu objetivo era desunir, e conseguiu. Ele sabe que um povo desunido em grupos que se odeiam será dominável. ----------------- Homens e mulheres, negros e brancos, heteros e gays, asiáticos e índios, TODOS são gente que vive AQUI E AGORA, com uma alma como a minha, desejos como os meus e medos em comum. Propor algo diferente disso é imbecilidade ou maldade pura.
Assinar:
Postagens (Atom)