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ACONTECEU NAQUELA NOITE, O FILME MAIS FELIZ DA HISTÓRIA

     Em 1934 os EUA eram um país muito, muito triste. Era a nação dos livros de John Steinbeck. Quebrado. Filas de sopa. Muito crime. Suicídios. O país tentava se reerguer e uma das apostas para isso foi a de não permitir que o espírito americano se quebrasse. Os EUA são assim: ao contrário da maioria das nações, quando a coisa aperta eles olham para o espelho e reafirmam aquilo que são. É como se eles necessitassem da crise para se renovar.
    O cinema participou dessa recuperação de várias formas. Uma delas foi a de fixar, recordar, afirmar o tal espírito da América. Frank Capra ganhou 3 Oscars durante essa crise. Ninguém fez mais pela democracia americana no cinema. Em 1934 ele ganhou o primeiro de seus prêmios. Aconteceu Naquela Noite foi o primeiro filme a vencer os 5 prêmios principais: filme, direção, ator, atriz e roteiro. Só 39 anos mais tarde, em 1975, Um Estranho no Ninho repetiria esse feito. Seria interessante comparar os dois filmes para ver o que mudou na América. Muito menos do que voce imagina. Ambos os filmes reafirmam o poder do indivíduo contra o sistema. Mas este texto não é sobre 1975. É sobre 1934. E em 34 ainda se podia apostar na alegria.
   Uma menina milionária foge do pai para se casar com um playboy. Na fuga ela conhece um jornalista desempregado. Os dois se odeiam e se ajudam. O resto voce já sabe. O tema lhe parece batido? Bem...a teoria literária diz que não existem mais de 20 temas para se narrar e todos estão na Bíblia. Desde os tempos de Lot e Set, a gente repete os temas. O que importa é como esse tema é narrado. Neste filme a narrativa chega à absoluta perfeição.
   Observe a edição. Cena a cena voce tem a sensação de que não há um segundo de filme desperdiçado. Ele não é rápido, não é lento, ele é exato. Tudo, tudo o que acontece tem a marca de profundo interesse. Primeiro acerto raro: O filme interessa. Os personagens são interessantes, todo coadjuvante é marcante, e cada diálogo parece ao mesmo tempo real e interessante. O filme é pura fantasia, mas parece realidade. Capra sabia como nenhum outro fazer isso. Seus melhores filmes parecem ser o mundo que queremos crer. Desse modo parecem mais reais que o realismo pode ser. Porque eles são aquilo que vive dentro de nós. Capra sabia, por intuição, qual era a verdade do coração médio. Populista no melhor sentido, ele traduzia em filmes aquilo que restara de bom em meio ao desespero. Isso era magia.
  O filme é, durante 90% do tempo, o mais feliz dos filmes. A fotografia brilha. Os contornos parecem de neon. Todos os personagens são vivos, não necessariamente felizes, porém vivos, cheios de energia. Claudette Colbert está frágil e adorável, a rica herdeira mimada que nada sabe da vida. Clark Gable rouba o filme. Ele é duro. Realista. Violento às vezes. E incrivelmente verdadeiro. É o cara que toda mulher queria ter como namorado e todo cara queria ter como amigo. Como Capra conseguiu criar isso? Com cenas despretensiosas e de extrema concisão. Por exemplo, a famosa cena da carona, uma obra prima de tempo e movimento. Toda a sequência da cantoria no ônibus, uma das cenas mais alegres do cinema. O modo como Clark Gable fala do livro que vai escrever, a troca de olhares entre os dois, a maneira como ele estende uma coberta entre os dois. Capra veio do cinema mudo, e como todo diretor que trabalhou só com imagens, ele sabia falar sem som.
  Talvez os melhores momentos do filme sejam os mais tristes, os 10% quase ao final. O casal vai chegando ao fim da viagem e a hora da separação se aproxima. Ela toma consciência do que sente e descobre que não quer chegar a seu destino. Observe como o filme muda. A fotografia fica mais escura, sem brilho, dura. Clark perde a agilidade, seu corpo fica pesado. Sentimos na alma a dor de um amor que nasce errado. Eles brigam, óbvio. O filme tem de desabar. Ficamos com raiva. Mas é tudo plano de Capra. Quando o final feliz acontece não nos sentimos enganados, nos sentimos vingados. Tem de ser assim. O fim tem de ser feliz. Não haveria outra possibilidade.
   Quando comecei minha coleção de DVDs, já 15 anos atrás, Frank Capra foi um dos últimos dos grandes que assisti. Eu tinha imensa má vontade com ele. Isso porque nos anos 70, quando comecei a ler jornal, críticos de cinema diziam ser ele um direitista quase fascista. Já gente como Rubens Ewald Filho dizia que Capra era um maravilhoso defensor da democracia americana. Direitista, liberal, usando seus filmes para afirmar o valor do individuo contra o sistema. Seguindo a maioria eu o queimei. Como queimei Hawks, McCarey e Ford, todos "de direita". Nos anos 80 essa bobagem se desfez e um diretor passou a ser medido pela sua obra e não por seu engajamento. Mas ficou um resquício em mim. O nome Capra me dava uma sensação de filme velho, piegas, tolo. Que surpresa quando assisti este filme pela primeira vez! Era leve, alegre, jovial, otimista, e celebrava as pessoas comuns, banais, o tal povo.
  É um filme festa. E como tal ele nos adverte de que o homem pode ser um ser feito de esperança. De sonho. E acima de tudo, de fé.

UMA DAS JÓIAS DE FRANK CAPRA: DO MUNDO NADA SE LEVA.

   Um grande empresário precisa derrubar um quarteirão de casas a fim de construir uma nova fábrica. Mas, um dos proprietários não quer sair de lá. Enquanto isso, o filho do tal magnata, se enamora de sua secretária. Mais tarde iremos saber que ela é filha do dono do tal imóvel, e que a família snob do rapaz irá pensar que tudo é um golpe do baú.
   Mas todo esse plot é secundário, o tema central é a família que vive na casa. Lá, cada um faz aquilo que deseja fazer. Desse modo, uma filha dança porque ama dançar, a esposa escreve porque gosta de usar a máquina de escrever. O marido da dançarina toca xilofone, há dois agregados que fabricam fogos de artifício. Todos são péssimos no que fabricam ou fazem, e nenhum busca reconhecimento algum. O que eles desejam é poder fazer, não ser alguma coisa. Para todos eles, ser é fazer.
  Capra faz um filme, vencedor do Oscar de 1938, que hoje seria considerado esquerdista. Ele ataca os industriais gananciosos, os politicos ladrões, a ambição e a fama. E defende, ardorosamente, a constituição, a justiça e os pequenos trabalhadores. Mas não se iluda, os valores de Capra sãos os dos bons imigrantes americanos: trabalho honesto, propriedade como um tipo de reino particular e o respeito à tradição. Chestertoniano até o osso.
  O elenco faz magia. Lionel Barrymore é o pai. Coleciona selos, foi rico, largou tudo para viver nessa casa maluca. James Stewart é o filho do magnata. Não poderia ser mais cativante, sua inocência é crível. Jean Arthur é a filha-secretária-namorada. O tipo do personagem que emancipou as mulheres nos anos 30. E temos ainda uma troupe de grandes atores, todos, de Ann Miller à Mischa Auer brilhantes! O filme nos faz felizes.
  Frank Capra foi o grande diretor popular dos anos 30. Seus filmes, feitos entre 1932-1939, afirmaram a politica de Roosevelt. Eram lições de civismo e de otimismo. Com William Wyler e John Ford, eles formavam a trinca mais poderosa do cinema de então. Após a guerra, onde serviu, Capra mudou, e seus filmes adquiram um amargor que antes era muito bem disfarçado. É dele o mais amado filme de natal de todos os tempos, IT'S A WONDERFUL LIFE, feito já com a acidez de 1946.
  Este filme é uma de suas jóias.

WYLER/ EASTWOOD/ CRONENBERG/ STURGES/ CAPRA/ SODERBERGH/ PINA/ CARY GRANT

   SUBLIME TENTAÇÃO de William Wyler com Gary Cooper, Teresa Wright e Anthony Perkins
Concorreu  a seis Oscars em 1956 e perdeu todos. Mas é um muito bom filme realizado pelo mais profissional dos diretores da América. Wyler tem uma impressionante lista de filmes, de sucessos e de prêmios. Aqui ele fala de uma familia de Quacres, que nos EUA da época da guerra civil, se recusam a lutar. O filme é lindo de se ver, cor e cenários são imagens ideais de um passado bucólico. Mas esse bucolismo é manchado pelo mundo. Perkins, muito jovem, está comovente como o filho que parte para a guerra. Ainda sem os tiques de Norman Bates, ele realmente prometia ser um novo tipo de ator, frágil, hesitante. Cooper prova mais uma vez ser um grande ator. Vemos em seus olhos a confusão de um pai que não sabe mais como agir. Cinema grande, vasto e muito satisfatório. Nota 8.
   OS ABUTRES TÊM FOME de Don Siegel com Shirley MacLaine e Clint Eastwood
No México, Clint encontra uma freira e a salva de ser violentada. Juntos, eles cruzam um deserto e lutam contra as tropas de Maximiliano. A trilha sonora é de Ennio Morricone e a foto de Gabriel Figueroa. Tem um jeitão de western italiano, um ar de não seriedade, de pastiche. Uma diversão apenas ok, feito em tempo em que tanto Clint como Shirley não eram levados a sério. Nota 6.
   UM MÉTODO PERIGOSO de David Cronenberg com Michael Fassbender, Keira Knightley e Viggo Mortensen
O elenco é bom, mas o roteiro de Hampton é banal. Caretésimo, se parece muito com aquelas séries solenes que a BBC fazia nos anos 70. No fundo, se a gente trocar os nomes dos personagens, é a velha história do filho que quer ser independente do pai. E do pai que, com sua autoridade ameaçada, passa a exigir obediência do filho. Tudo recheado por sofrido caso de amor. A criatividade passou muito longe daqui. Enfadonho. Nota 4 dada ao belo trabalho dos 3 atores.
   MOÇA COM BRINCO DE PÉROLA de Peter Webber com Scarlet Johansson e Colin Firth
Revisto agora se revela uma quase ridicula recriação de um momento crucial na história da arte: a gênese da mais famosa pintura de Vermeer, o mais valorisado dos pintores. Firth, que como provou em O DISCURSO DO REI, é um dos melhores atores em atividade, nada tem a fazer aqui. O pintor é tão real quanto o é o Jung de Fassbender. Tem a profundidade de um boneco de palha. Scarlet nunca esteve tão bonita, na verdade o filme é dela. Lento, sem emoção, monótono. Nota 1.
   CONTRASTES HUMANOS de Preston Sturges com Joel McCrea e Veronica Lake
Recém lançado em DVD, mostra o talento esfuziante de Sturges.  Um diretor de filmes escapistas, resolve fazer uma obra relevante. Parte então à estrada, para conhecer e viver a vida dos pobres. Mas seus empregados seguem sua estrada e ele não consegue ser um pobre. Acaba conhecendo uma aspirante a atriz e é preso quando sem documentos é confundido com assassino. Na prisão é que ele dará valor a seu trabalho, em uma cena simples e inesquecível. Este filme foi homenageado pelos Coen em E AÍ MEU IRMÃO...Preston Sturges vive hoje um momento especial, sua obra é finalmente reavaliada. Nota 9.
   ESSE MUNDO É UM HOSPÍCIO de Frank Capra com Cary Grant
Uma dupla de adoráveis velhinhas mata seus hóspedes com veneno. Grant é o sobrinho delas que não sabe o que fazer. Relançado agora, a Veja elogiou muito, assim como o Estado. Apesar de eu ser fã de Cary Grant, eu não gosto deste filme. É exagerado, nervoso demais, passa do tom. Capra voltara da segunda guerra mudado. Se antes seus filmes eram odes otimistas ao homem comum, aqui ele se mostra confuso. Cary parece estar em filme de Hawks, sua atuação maluca não se casa com a dos outros atores. Nota 3.
   SAN FRANCISCO de WS Van Dyke com Clarck Gable, Jeannette MacDonald e Spencer Tracy
Imenso sucesso dos anos 30, é um filme quase insuportável. Uma baboseira sobre dono de bar que se apaixona por moça "certinha" que quer ser cantora. Gable faz seu papel padrão, um machão sorridente e levemente mal caráter. Jeannette canta demais. E Tracy faz um padre que a aconselha. O filme se redime em seu final, a cidade de SF é destruída pelo terremoto de 1906. Os efeitos, por incrivel que pareça, ainda impressionam. O terremoto é mostrado com cortes espertos, paredes que caem e multidões em pânico. Funciona e muito bem. Mas até chegar a esse final emocionante o filme é um nada. Nota 3.
   IRRESISTÍVEL PAIXÃO de Steven Soderbergh com George Clooney, Jennifer Lopez, Don Cheadle e Luiz Gusman
A trilha sonora de David Holmes é um show em si mesma. Uma recriação das trilhas cool dos anos 70, ela mistura Schiffrin com Hayes e funk tipo Clinton. Estupenda! O roteiro é sobre um ladrão de bancos que se envolve com policial feminina. Clooney está excelente. Ainda em sua fase galã, ele dá uma aula de estilo. Adoro esse tipo de filme que Soderbergh sabe tão bem fazer. O filme tipo "espertinho", uma recriação de Steve McQueen com Peter Yates e Norman Jewison. Foi com este filme que a carreira de Steven foi salva. Revisto agora, ele ainda diverte, Nota 7.
   PINA de Wim Wenders
Quando Wenders acerta ele faz filosofia ( ASAS DO DESEJO ), ou poemas visuais ( PARIS TEXAS ). Aqui ele faz uma filosofia poética em movimento. O cinema de agora pode ser salvo se assumir seu caráter de pesquisa visual. Os ótimos HUGO e O ARTISTA enfatizaram esse fato. O futuro está na imagem e não em dramaturgia.  Este filme nos convence do futuro possível. O deslumbre de imagens que se movem. O cinema jamais poderá se renovar ao repetir os passos de tanta gente que já esgotou a linguagem dos dramas e dos simbolos. Ele sobreviverá em seu aspecto de espetáculo plástico. Seja o movimento sem palavras ( eis a modernidade corajosa e radical de O ARTISTA ), seja em sonho de beleza ( o jogo de Scorsese em HUGO ). Wenders lança a opção do movimento puro. Poesia possível. Nota 9.

DONEN/ CARY GRANT/ BURT LANCASTER/ AL PACINO/ POWELL/ CAPRA

ARABESQUE de Stanley Donen com Gregory Peck e Sophia Loren
No inicio dos anos 60 foi moda fazer filmes do tipo "mistério-policial-chic". Donen fez em 63 o melhor deles: Charada. Aqui ele tenta fazer um filme tão bom quanto aquele. Infelizmente não consegue ( Pudera! ninguém mais conseguiu fazer outro Charada.) Mas este Arabesque não é ruim. Diverte e é bonito de se ver. Sophia nunca esteve tão perfeita e Peck é sempre ok ( Embora não sirva pra comédia. Suas cenas de humor naufragam ). Stanley Donen é o soberbo diretor que ajudou Gene Kelly a fazer Cantando na Chuva e que depois provou sua maestria com Sete Noivas para Sete Irmãos. Donen sabia dar a seus filmes um toque sublime de leveza, brilho, chique, humor e muita inteligencia. Em 1994 foi homenageado no Oscar e sua dança com seu prêmio é dos melhores momentos da academia. Nota 6.
NIGHTFALL de Jacques Tourneur com Aldo Ray, Brian Keith e Anne Bancroft
Ótimo policial noir. Tourneur foi um daqueles caras que sabia fazer qualquer tipo de filme. O que ele dava a todos os seus trabalhos era senso de ação, clima, e boas interpetações. Este filme tem tudo isso, e mais um enorme fatalismo pessimista. Tudo dá errado para seus personagens vulgares. Uma excelente diversão. Nota 8.
O LADRÃO DE BAGDÁ de Michael Powell com Sabu, June Duprez
Em que pese a maravilha de foto ( Georges Perinal ), o filme é muito irregular. Na verdade Powell dirigiu apenas um quarto do filme. Korda e Whelan dirigiram o resto. Isso lhe dá uma alternancia de ritmos, climas que não evoluem. Mas funciona como fantasia solta e tem seus momentos. Mas não espere demais. Nota 5.
ESTE MUNDO É UM HOSPICIO de Frank Capra com Cary Grant, Peter Lorre, Raymond Massey
Um filme que é todo falho. É a versão nas telas de peça de imenso sucesso. Fala de duas velhinhas que aliviam a vida de velhos solitários: elas matam esses infelizes. Mas a comédia não funciona. O motivo? Todos os personagens são irritantemente histéricos. Mesmo o maravilhoso Cary Grant está fora do tom. Dá para se perceber seu desconforto. Nota 4.
O HOMEM DE ALCATRAZ de John Frankenheimer com Burt Lancaster e Telly Savallas
Baseado em fatos reais. Um homem anti-social, ruim, é preso. Ele odeia as pessoas e idolatra sua mãe ( uma assustadora/edipiana Thelma Ritter ). Na prisão, um diretor passa a persegui-lo ( um odiável Karl Malden ), porque ele não se encaixa em seu plano de prisões ultra-racionais. Por acidente, esse preso cria um canário na cela, e passa, com o tempo, a ser uma das maiores autoridades do mundo em ornitologia. Sem jamais sair da prisão. O filme é muito dificil. Todo filmado dentro das celas, sem sol, sem alegria, nada apelativo. Lancaster está contido, seco, bastante viril e o resto do elenco está a sua altura. Frankenheimer, um dos grandes da época, sabe filmar esse tipo de tema. A câmera testemunha, não julga, mostra e jamais escancara. Não é fácil acompanhar vida tão árdua, mas caraca! Vale muito a pena. Nota 7.
O IMPÉRIO DAS ARANHAS de John Bud Cardos com William Shatner É um thrash fuleiro sobre aranhas que matam e aprontam. É versão pobre de Os Pássaros. Voce se senta e se deixa ver, e de repente se pega gostando. Nota 5.
ANNA CHRISTIE de Clarence Brown com Greta Garbo
Peça de Eugene O'Neill, ou seja, pessimismo ao extremo. Garbo prova mais uma vez ser grande atriz. Faz um papel sem nenhum glamour. Mas o filme, feito no inico do cinema falado tem um enorme problema: seu peso. No começo do falado, os aparelhos de gravação de som eram imensos, isso fazia com que câmera e atores não pudessem se mover. O que temos são longas cenas sem movimento ( isso seria resolvido no ano seguinte ). Chato pacas! Nota Zero.
JUSTIÇA PARA TODOS de Norman Jewison com Al Pacino, Jack Warden e Christine Lahti
No tempo em que o cinema americano era adulto, se fez este filme. É sobre um advogado que tem de defender de processo por estupro, o juiz que ele mais detesta. O roteiro de Barry Levinson mistura drama pesado e comédia louca, funciona e muito. Jewison, diretor engajado, mostra a vida de travestis, pequenos ladrões, julgamentos falhos e escritórios cheios de processos infindáveis. Pacino vai enlouquecendo e sua atuação é das melhores coisas que ele já fez. A explosão que ele sofre no final é das cenas mais citadas pelos jovens atores. Mas há mais: o filme é maravilhosamente rico. Um juiz que tenta se enforcar, um outro fascista, um advogado que enlouquece, um travesti sensível, todos são meio loucos neste filme que parece faiscar em mil direções, mas que jamais se perde. Posso dizer que se voce é daqueles meninos que ainda não descobriram o cinema adulto dos 70, que ainda pensa que Rede Social e Cisne Negro são o máximo...bem, veja este filme e depois a gente conversa. Há aqui uma complexidade fílmica não afetada maravilhosa. E há Pacino. Nota 9.
NESTE MUNDO E NO OUTRO de Michael Powell com David Niven e Kim Hunter
Uma obra-prima. Fantasia pura e poesia soberba em filme que trata de espíritos e anjos sem jamais ser fofo ou lacrimoso. Sério e socialmente nobre, Powell era um gênio. Este filme, diferente de tudo o que voce já viu, é testemunho de alma sem igual. Ver e crer. Nota DEZ!!!!!!
PARALELO 49 de Michael Powell com Laurence Olivier, Raymond Massey e Leslie Howard
Um grupo de nazis, perdidos no Canadá, tentam escapar. Coragem de Powell, o filme, feito durante a segunda guerra, tem nazis como personagens centrais e mostra os alemães como não-vilões. O filme, claro, ataca o nazismo, mas exibe o fato de que os alemães não são todos ruins e mais, que há soldados alemães inocentes. Fora isso, é uma aventura de primeira com deslumbrantes paisagens canadenses. Mais um show de Powell. Nota 7.

AL PACINO/ DUSTIN HOFFMAN/ LUBISTCH/ CAPRA/ ERROLL FLYNN/ KIRK DOUGLAS

ZOMBIELAND de Ruben Fleischer com Jesse Eisenberg e Woody Harrelson
Jesse tem filmado muito. Falta ator com sua idade? Sua forma de atuação é sonambulica. Vamos dar nomes aos bois? Isto não é cinema. Não que eu saiba o que seja cinema, mas isto não é. Talvez possa ser chamado de brincadeira de internet ou game em telão. Aquelas coisas: humor chulo, visual pseudo-moderno e umas gostosas com pouca roupa ( e nada sexys ). Anuncia e exemplifica a crise do cinema de agora. O horror, o horror.... Nota Vácuo.
THE MECHANIC de Simon West com Jason Statham, Ben Foster e Donald Sutherland
É de bom tom se colocar atores dos anos 60/70 em filmes bobos. Dá uma pretensa dignidade à coisa. IanMcShane, Peter Fonda, Robert Duvall, Jon Voight têm sido muito usados nesses pequenos papéis de brilho falso. Jason ( ator de quem eu gosto. Ele é limitado, mas tem um resto do resto daquela frieza de Steve McQueen ), é um assassino profissional ( ser killer virou profissão de glamour ). Ele é enganado e mata seu mentor. O resto é ação. Adoro filmes de ação e me convenço cada vez mais ( com a ajuda de certos pensadores gregos ) que o valor absoluto da arte está no prazer que ela nos dá. Este filme não é um grande prazer, com certeza, mas é hora de percebermos que filmes de ação são cinema de imenso valor. Nota 4.
A LONGA NOITE DE LOUCURAS de Mauro Bolognini com Jean-Claude Brialy, Elsa Martinelli, Rossana Schiafino
O roteiro é de Pasolini. E pasolinianamente, mostra o submundo reles de Roma. Jovens roubam armas, andam com prostitutas, vendem as armas, perdem o dinheiro, o recuperam, gastam tudo em boate, voltam pra casa. Bolognini foi digno representante dos diretores italianos classe b. Um vasto campo que abrangia de Risi à Rossi, passando por Zampa e Lattuada. Aqui é sedutora a imagem de uma Itália cheia de favelas, ruas de terra e muita fome. Ao mesmo tempo vemos o nascimento do consumismo e da americanização ( o filme é de 1959 ). Mas, como sempre acontece com Bolognini, ele se deixa levar por um certo tédio, o filme perde o ritmo às vezes, e alguns cortes lhe fariam bem. Nota 6.
O ESPANTALHO de Jerry Schatzberg com Gene Hackman e Al Pacino
Pacino nunca foi tão engraçado. Há uma cena de "assalto" que é hilária!!! Mas o filme, feito no auge da contracultura, é triste, melancólico. É sobre um ex-presidiário ( Hackman na atuação de sua vida ) que conhece um marinheiro ( Pacino, melhor que aqui, raras vezes ). Os dois pegam carona juntos e passam a dividir sonhos. Hackman faz um tipo explosivo, do mal. Pacino é inocente, quase um bobo. Há muito de Laurel e Hardy nos dois. Com o correr do filme, Hackman se humaniza e Pacino após choque terrível se torna catatônico. É um filme que ama seus atores. Os dois têm tempo para improvisar, criar personas, nos impactar. Relembrando o filme agora ( assisti-o sete dias atrás ) o que me ficou são seus rostos, comoventes. Árido e muito doído, é um filme para quem ama filmes. Nota 8.
MARATONA DA MORTE de John Schlesinger com Dustin Hoffman, Roy Scheider e Laurence Olivier
Fez sucesso na época este thriller sobre criminosos nazi na América dos anos 70. Hoffman é torturado, enganado, perseguido e não precisa atuar. Olivier é o nazi e recebeu indicação ao Oscar. Não brilha, apenas está lá grunhindo. Scheider está excelente como o irmão que se vendeu aos nazis. ( Os nazis são agora traficantes de diamantes ). Schlesinger dirigiu 3 obras-primas em seu auge. Este não é seu melhor momento. Nota 6.
LADRÃO DE ALCOVA de Ernst Lubistch com Herbert Marshall, Miriam Hopkins, Kay Francis, Edward Everett Horton
Quando Lubistch, já diretor famoso, foi convidado a trabalhar na Paramount, o cinema americano mudou. Ele trouxe charme vienense a Hollywood. Aqui, vemos um casal de ladrões aplicar um golpe numa herdeira futil. Tudo é escapismo, tudo é chic, tudo é prazer. O modo como os dois ladrões se conhecem ( um rouba o outro e é roubado então ) é aula de ritmo. Também demonstra em imagens o nascimento de um afeto. Herbert Marshall é um tipo de ator completamente extinto. Seus modos são tão elegantes que hoje ele passaria por gay-afetado. Dá para notar também o modo como toda fala remete a sexo, sem que nada seja realmente dito. Críticos costumam apontar este como o melhor filme de Lubistch ( e alguns dizem ser ele o melhor dos diretores ), não acho. É uma comédia maravilhosa, mas ele faria ainda mais no futuro. De qualquer modo, a circulação de filmes como este justifica a criação do dvd. Nota 9.
ACONTECEU NAQUELA NOITE de Frank Capra com Clarck Gable e Claudette Colbert
A comédia de Capra é radicalmente diferente da de Lubistch. Aqui tudo é mais direto, mais febril e muito mais "sensível". Capra nunca é cínico. Este imenso clássico fala de casal que se encontra em ônibos inter-estadual. Ela é milionária em fuga do pai para se casar com noivo interesseiro. Ele é jornalista desempregado. E o filme é exemplo de perfeição: nada falha, não há um só minuto sem interesse, tudo, roteiro, elenco, direção, funciona com naturalidade. Perfeito. O casal acaba por se apaixonar e isso é muito convincente. Vemos passo a passo o nascer desse amor. Boas histórias são assim: acontecem como destino invencível. Nos convencem de que Tem de Ser desse Modo. Gable era feio e desajeitado, e mesmo assim consegue ser sempre sexy e simpático. Colbert, a mais mignon das atrizes, está apaixonante. O que mais se pode querer? Nota DEZ!
CONTRA TODAS AS BANDEIRAS de George Sherman com Erroll Flynn, Maureen O'Hara e Anthony Quinn
Erroll já estava meio inchado pelo álcool, mas mesmo assim usa seu charme desinteressado e domina o filme. Que trata de espião ( Flynn ) enviado pela marinha inglesa ao covil de piratas ( Quinn e Maureen ). Não é a ação o cerne do filme, é a relação entre Erroll e Maureen, relação que funciona. O filme é hiper colorido, alegre e bem produzido. É este o filme pop pelo qual o cinema de uma dada época deve ser julgado. É o equivalente aos filmes de terror em série e as comédias teen de agora. É por esse cinema que se avalia a saúde de uma época e não por suas excessões. Este leva nota 6.
ULYSSES de Mario Camerini com Kirk Douglas, Silvana Mangano e Anthony Quinn
É a Odisséia feita em Cinecitta. Filme tolo, com coadjuvantes fracos, mas que mostra também a imensa força do mito de Odisseu. As cena de sua volta à casa como mendigo, do affair com Circe e da vingança final são emocionantes mesmo aqui. Mas o filme no geral é constrangedor. Nota 3.

PROTÓTIPO DE FILME: ACONTECEU NAQUELA NOITE- FRANK CAPRA ( A ARTE É UM PRAZER OU É MASOQUISMO? )

Coisa maravilhosa tem acontecido nos últimos anos ( fato notado por Roger Ebbert ): toda uma geração de cinéfilos é criada pelo dvd. Filmes impossíveis de serem vistos se tornaram acessíveis e melhor, filmes clássicos, que tinham uma imagem deteriorada, hoje podem ser assistidos em imagem brilhante, graças a reconstituição para dvd. É o renascimento do cinema dos anos 20/30, filmes deteriorados sendo vistos hoje com sua beleza original.
Numa aula de linguística, quando é citado Bernard Shaw, me surpreendo com a quantidade de pessoas que viram MY FAIR LADY. Metade da turma. Filmes antes desbotados, hoje belíssimos.
ACONTECEU NAQUELA NOITE foi o primeiro filme a ganhar Oscars principais: filme, direção, roteiro, ator e atriz. Só quase 60 anos depois, com SILENCIO DOS INOCENTES, isso foi repetido. O filme de Capra venceu em 1934, e bateu uma concorrencia muuuuito forte. Revisto hoje, esta comédia romantica, mostra todo seu frescor, e, ao lado de LEVADA DA BRECA, é ainda o objetivo, o ápice, o everest, de toda comédia que trata de relações entre homem e mulher. Robert Riskin, o grande roteirista, criou a estrada, os outros a seguiram.
Claudette Colbert é uma rica herdeira que escapa do pai para se casar. Um jornalista durão, Clarck Gable, a ajuda sem saber quem ela é. Falando de forma bem simplificada, o filme é isso. Mas Capra, gênio que é, recheia o filme de dúzias de idéias. Não há uma só cena menos que boa, é um filme perfeito.
Vemos então a América da depressão, com seus tipos "do povo", tentando sobreviver. Ao mesmo tempo há uma gozação aos ricaços. O filme é também documentário sobre momento decisivo de um país. Comédia sempre, mas também aventura, drama, caixa de surpresas e nunca, jamais, óbvio. Alegre, feliz.
Os gregos acreditavam que a primeira função da arte é o prazer. Depois o pensamento e a união de ideais. Prazer. Para quem entende um pouco de arte, para quem já se deixou impressionar pela arte engajada, pela arte masoquista ou pela arte abstrata, o prazer acaba se revelando o valor mais sólido, aquilo que ao final, faz com que algo sobreviva. Mas entenda, não confunda prazer com superficialidade ou escapismo. Não seja tão jeca. Há prazer estético em Bergman e em Shakespeare. E há também a tal profundidade sofrida nos dois. Mas o prazer é acima de tudo o que rege sua fruição. Em Bergman e em Shakespeare, mesmo nos mais duros momentos, há sempre o prazer estético, a beleza, o dom de se saber fazer. E mais: o sofrimento jamais é gratuito.
Hoje há uma imensa massa de seres que pensam a arte como dever, como sofrimento, como masoquismo. Meu mais sincero desprezo a esses jecas do gosto. Como dizia Paulo Francis, são os caipiras que sofrem vendo Strindberg e pensam ser essa a tal cultura superior. Blá!
Voltando.... poucos filmes mostram de forma tão sublime o nascimento do amor. Amor real, que brota da diferença entre ele e ela. Gable mostra todo o verdadeiro charme viril de um homem que sabe se virar, e Claudette é a dondoca que cresce e descobre a vida. Ônibus, estradas, motéis... as cenas vão se sucedendo e algumas são clássicas ( a canção no´ônibos, a carona na estrada, o cobertor entre as camas ), o porque de ninguém conseguir mais fazer uma história assim depõe contra nosso cinema moderninho. Perto deste filme, as tolices de Kate Hudson ou de Reese Witherspoon são vergonhosas.
No seu final, as coisas se resolvem de forma graciosa, certa, leve e sem forçar a mão. Aliás nada parece forçado.
Um toque final sobre os atores. É fácil gostar deles. E é esse o maior mistério do cinema romantico. Ele funciona na proporção do quanto se gosta de seus personagens. Os dois aqui são amáveis. Os gregos estavam certos. Por mais que Haneke, Trier ou que tais reafirmem que a arte é para masoquistas, a arte é um prazer. Saber ter prazer, eis o anti-jequismo.

CAPRA/ WYLER/ STERNBERG/ WALTER HILL/ ROBIN HOOD/ BOORMAN

ESPERANÇA E GLÓRIA de John Boorman
Concorreu a monte de Oscars em 1987, mas perdeu todos para O ùltimo Imperador de Bertolucci. Raros filmes são tão bem fotografados quanto este. Os céus e as casas brilham em colorido estupendo ( de Philippe Rousselot ). O roteiro, meio autobio, fala do quanto as crianças londrinas se divertiam durante os bombardeios alemães na segunda guerra. Na época causou certo frisson este filme, por mostrar que em meio ao fogo e a voz de Churchill havia humor, alegria e diversão. È um belo filme do diretor de Inferno no Pacifico e Deliverance. Nota 7.
ROBIN HOOD de Ridley Scott com Russell Crowe
Houve um divertidíssimo Robin mudo com Fairbanks. Depois assisti o clássico com o insuperável Erroll Flynn, Robin alegre, cartoonesco; veio a série de tv inglesa com Richard Greene e o Robin romantico com Sean Connery e Audrey. Um desenho da Disney em 1973. Daí o típico Robin anos 80/90 com Kevin Costner e agora este Robin século XXI. Grande produção, tintas de inconformismo e um monumento à chatice. Pra que fazer este filme? Fuja!!!! Nota 2.
ALMA EM SUPLICIO de Michael Curtiz com Joan Crawford
Joan levou Oscar de atriz com este drama levemente noir sobre mãe que faz tudo por filha esnobe. Inclusive esconder um crime. O filme tem clima, um ar de destino-irresistível, moto que é o cerne de tudo que significa drama. Joan tinha rosto impressionante. Sofria com orgulho. O filme é base de toda dramaturgia rede Globo até hoje. Nota 7.
O CAPITÃO DE CASTELA de Henry King com Tyrone Power e Jean Peters
O que faz de uma aventura algo de especial ? Ação? Não. Um bom personagem. Como ocorre aqui, voce precisa gostar, se identificar e torcer muito pelo herói. Isso se consegue com um bom roteiro e ator de carisma. Este fala de nobre espanhol perseguido que vai tentar a vida no Mexico. Imenso sucesso, Tyrone mostra porque era rei na Fox. O filme avança sem parar. Delicioso. Nota 8.
ESPORAS DE AÇO de Anthony Mann com James Stewart, Robert Ryan e Janet Leigh
Atenção: eis uma obra-prima!!!!!! Os melhores westerns são os mais simples. Aqui temos cinco personagens. Stewart ( fantástico ) é o caçador de recompensas, Ryan ( soberbo ) o bandido capturado. Janet é a amiga do bandido e ainda temos dois ajudantes do "herói". Mas estamos no mundo de Mann: esse herói é antipático, amargo e violento. O que o move ? Dinheiro. O filme é perfeito. Nas paisagens áridas se desenvolve um sombrio drama entre os cinco. Ao mesmo tempo, eletrizante aventura. E para quem quer arte ( coisa que todo bom western traz de contrabando ) se mostra o caráter civilizador da mulher. É ela quem carrega o fardo da esperança. Filme para aplaudir. De pé. Nota DEZ !!!!!!!!
MACAO de Josef Von Sternberg com Robert Mitchum e Jane Russell
Aventura em porto chinês sobre homem aventureiro que tenta ganhar dinheiro. Jane é aventureira também. E cantora. O filme começa bem e vai perdendo fôlego. Sabe-se que Sternberg se desinteressou e Nicholas Ray assumiu a direção. Tem ainda a fascinante Gloria Grahame no elenco. Mas o filme é totalemte esquizofrenico. Nota 4.
EFEITO DOMINÓ de Roger Donaldson com Jason Statham e Saffran Burrows
Roger é diretor egresso dos anos 80, portanto é ação da velha escola: sem excesso de firulas. Fala de assalto a banco. Fala de crise politica. Traições. Tudo na Londres de 1970. Os sotaques são de doer, mas Jason consegue ser um sub-Bruce Willis aceitável. O filme peca por não conseguir empatia entre seu herói e seu público, mas é bastante ok. Nota 6.
O ÚLTIMO CHÁ DO GENERAL YEN de Frank Capra com Barbara Stanwyck e Nils Asher
Raridade recuperada para o dvd. Missionária americana é raptada por caudilho chinês. Ele está apaixonado, ela talvez esteja. Fuzilamentos, bombas e povo nas ruas. Os cenários são maravilhosos!!!! Parecem quadrinhos em P/b dos anos 30. Capra antes de seus filmes de sucesso. É um suntuoso romance inter-racial. Nota 6.
A LUZ É PARA TODOS de Elia Kazan com Gregory Peck, Dorothy McGuire e John Garfield
Melhor filme de 47 para o Oscar, este sucesso fala de repórter que se faz passar por judeu para escrever sobre anti-semitismo. É um filme frio. Peck não convence, é daquelas suas atuações em que parece estar com sono. Mas é um belo roteiro de Moss Hart. Kazan dá a tudo um aspecto jornalístico e nossa atenção é capturada. Exemplo da crise de consciencia que se abateu sobre a América após a segunda guerra. Nota 7.
LUTADOR DE RUA de Walter Hill com Charles Bronson e James Coburn
Um trem chega a cidade deserta. São os anos 30. Bronson é um lutador que vive de quebrar queixos. Coburn logo o empresaria. O tipo que Coburn faz é delicioso. O malandro de rua. Bronson, sempre de cara feia e quase mudo, convence como bruto de coração nobre. Este é o primeiro filme dirigido por Hill. Talvez seja seu melhor. Se fosse feito hoje ( ele é de 1975 ) era capaz de ser indicado a Oscar. Simples, modesto e bacana. Nota 6.
OS MELHORES ANOS DE NOSSA VIDA de William Wyler com Frederic March, Myrna Loy, Dana Andrews, Teresa Wright, Dorothy Malone
Há quem considere Wyler o melhor diretor que os EUA tiveram. Eu não discordaria. Devo ter visto mais de vinte filmes dele, e nenhum é menos que bom. Este é um dos seus maiores sucessos, e é um dos mais corajosos. E premiados, foram sete Oscars. Vemos três soldados voltando ao lar após a guerra. E acompanhamos a terrível dificuldade que eles têm para voltar a vida civil. Por motivo simples e complexo: na vida comum eles perdem a função. Um deles, que era tenente e herói de guerra, volta a ser desempregado e marido corneado. Um outro não consegue se adaptar a vida em familia classe média e a trabalho em banco, e há um marujo que perdeu as duas mãos ( e Harold Russel, o ator, realmente não tinha as duas mãos ) e sente-se um fardo para todos. O roteiro de Robert Sherwood opera um milagre: o que poderia ser dramalhão pesado se faz filme denúncia, sincero, mas que nunca cansa ou entristece. Wyler dá aula de direção: todos os atores brilham, e apesar das três horas de duração, voce não se entedia. Ele era mestre em pegar filmes complicados e fazê-los fluir. Até Ben-Hur ele conseguiu salvar. Então aqui vemos um esmiuçamento da vida desses três homens. O medo de se não ter utilidade, o não reconhecimento de seu heroísmo, a estranheza em se ter um lar, os pesadelos com as batalhas. Isto é aquilo que se chamava de "filmão". Valia cada centavo gasto. Belíssimo. Nota 9.

MY FAIR LADY/ FRED E GINGER/WALLACE E GROMITT/A FELICIDADE NÃO SE COMPRA

SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO de Max Rheinhardt e William Dieterle com Mickey Rooney, James Cagney, Olivia de Havillande, Joe E Brown, Dick Powell
Devo ter assistido num Natal aos 5 anos de idade. Suas imagens entraram em mim e passei minha vida pensando que fossem um sonho que tive. Ao assistir o DVD recordo tudo e vejo que não foi sonho, foi cinema. O visual é fantástico : fadas descem do céu, bosques que brilham, casacatas e lagos. Rooney aos 10 anos dá uma interpretação de gênio : seu Puck é aterrador. Um leprechaun de riso maldoso, um diabinho pulando e aprontando sem parar. O filme é desigual, tem momentos ruins. Mas tem outros ( Joe é humorista completo, James Cagney tem carisma para o papel ) que redimem tudo. Nota 7.
DANÇA COMIGO de Mark Sandrich com Fred Astaire e Ginger Rogers
Fred é psiquiatra que se apaixona por paciente. Todo fim de ano revejo musicais. São presentes que me dou. Este é delicioso, mas não é uma das obras-primas da dupla. Ginger era de uma sensualidade espertíssima ! Ela dá calor ao muito etéreo Astaire. Nota 8.
A HISTÓRIA DE VERNON E IRENE CASTLE de HC Potter com Fred Astaire e Ginger Rogers
É a bio de uma dupla de dançarinos que realmente existiu. Portanto, os dois têm de dançar no estilo 1910 dos Castle... é frustrante. Considerado o mais fraco da dupla, tem falta do humor que sempre abundou em seus outros trabalhos. Nota 6.
A ALEGRE DIVORCIADA de Mark Sandrich com Fred Astaire e Ginger Rogers
Ginger faz um tipo um pouco mais retraído, quase tímida. O filme é típico do estilo da dupla : ela o detesta, ele a ama, depois ela começa a amá-lo, vem um mal entendido e então o final feliz. Quando Fred canta NIGHT AND DAY para ela, a conquista. Vemos um orgasmo musical na tela ( que termina inclusive com um cigarro ). Essa cena é histórica : uma canção transforma indiferença em amor... e cremos no que vemos ! O filme é perfeito : os dois dançam e nos fazem rir, nos fazem rir e dançam. Os coadjuvantes brilham, os diálogos ricocheteiam, o filme é um iate de luxo. DEZ!
BROADWAY MELODY de Norman Taurog com Fred Astaire e Eleanor Powell
Dois amigos dançarinos disputam o amor de dançarina famosa. Powell, muito famosa na época, dança pesado. Seus pés têm chumbo. Fred dança poucas vezes, mas rouba o filme. Nota 6.
O MÁSKARA de Chuck Russell com Jim Carrey e Cameron Diaz
Porque este filme fez sucesso ? É tremendamente amador, mal dirigido, muito mal escrito e pior interpretado. A trilha sonora é de karaokê e os cenários de filminho pornô. Vai entender... Cameron, um pouco mais cheinha, nunca mais foi tão bonita. Nota 1.
WALLACE E GROMITT NA BATALHA DOS VEGETAIS de Nick Park
O cão, Gromitt, é criação de grande talento. Com poucos movimentos de sobrancelha ele transmite milhares de expressões. O roteiro mistura suspense e horror, cheio de humor. Uma delícia !!!!!! Nota 7.
MY FAIR LADY de George Cukor com Rex Harrison, Audrey Hepburn, Stanley Holloway, Gladys Cooper e Mona Washbourne
O mundo se divide em dois : os que desprezam esta obra-prima de Alan Jay Lerner, e os que a adoram. Não há meio termo : ou voce vê este filme como enfadonha frescura pseudo artística, ou voce a adora como exemplo perfeito de artesanato imortal. Eu fico com a segunda opinião, e ainda acrescento que é lembrete daquilo que perdemos nos últimos 40 anos : bom-gosto. O filme é aula de diversão adulta e elevada, suas músicas exemplo de genialidade. Rex e Audrey estão em pleno vigor : apaixonantes ! É um de meus cinco filmes favoritos. Nota... Ora ! Que nota dar ? Um mero número desmerece tanta perfeição.
A FELICIDADE NÃO SE COMPRA de Frank Capra com James Stewart, Lionel Barrymore, Donna Reed, Ward Bond
Capra, cineasta de imenso sucesso, voltou da segunda-guerra mudado. Seus filmes que eram odes à democracia, plenos de otimismo, adquiriram um travo amargo. Este foi fracasso de público e crítica na época, mas na década de 70, ao ser reprisado na TV no Natal, , foi descoberto e se tornou desde então um clássico desta época de festas. Não há filme atual sobre fim de ano que não o cite. O filme é pura fantasia, começa com estrelas conversando no céu. Stewart abre mão de seus sonhos para ajudar sua cidadezinha, o filme é a história de sua vida. James Stewart prova mais uma vez o que ele foi : o mais simpático dos astros. Seu George Bailey é complexo, mostra doçura e amargor. A cena em que ele grita com a filha no Natal é das coisas mais dolorosas já filmadas, choramos, não há como evitar. É um filme que nada teme : ele é piegas, tolo e infantil; e ao mesmo tempo é profundamente humano, verdadeiro e atemporal. Filme favorito de meu amigo Tucori ( que foi quem me convenceu a o assistir ) é uma aula de bons sentimentos e de bom, grande cinema. Nota DEZ.

LEONE/COEN/FRANK CAPRA

THE GOOD THE BAD AND THE UGLY de sergio leone com clint eastwood, elli wallach e lee van cleef. Foi Pauline Kael quem disse que assistir à um western italiano é tão estranho à um americano quanto assistir um filme sobre aborígenes da austrália. Cowboys com caras de napolitanos... Este é um divetidíssimo filme que marcou toda a geração de Tarantinos e Ritchies. Não é um western, é uma aventura passada num western made in europe. Fotografia maravilhosa de tonino delli colli e trilha famosa e excessiva de morricone. nota 9.
HIGH PLAINS DRIFTER de clint eastwood com o pro´prio. Dizer o que ? Belo, ágil, cheio de imperfeições, intrigante, quase ridículo, inesquecível e saboroso. nota 9.
THREE MULES FOR SISTER SARAH de don siegel com shirley maclaine e clint eastwood. juntar a adorável shirley ao taciturno clint é como colocar açucar em gim fizz. nota 2.
BUGSY MALONE de alan parker com jodie foster e scott baio. Um musical sobre gangsters dos anos 30. porém o filme é interpretado por crianças, em cenários diminuídos e as armas atiram chantilly. é o primeiro filme de parker e jodie está com 12 anos de idade. há um clima de pedofilia que hoje incomoda. mas é divertido. nota 5.
ARIZONA NUNCA MAIS de joel e ethan coen com nicolas cage, holly hunter, john goodman, frances mcdormand. os irmãos coen nunca foram tão bugs bunny como neste filme. um casal caipira rapta um filho de um figurão. mas, como acontece com os coen, tudo se complica. muito. cage está hilário, holly dá um show e a fotografia ( do futuro diretor sonnenfeld ) parece cartoon. um sucesso dos anos 80 e que é uma aula de edição e roteiro. nota 9.
LOUCURA AMERICANA de frank capra com walter huston. que diretor mágico capra foi !!!! um filme curto e simples, todo passado dentro de um banco. mas quanta fluidez, como os personagens são bem definidos, quanta graça e drama em tão poucas linhas. slumdog millionaire- alguém notou que ele é um capra de segunda ? - cheio de brilharecos e balangandãs ?.... fique com o otimista/ moralista original, o poeta frank capra. nota 7.
A MÃO QUE BALANÇA O BERÇO de curtis hanson com rebecca de mornay e annabella sciorra.
a fotografia, com sua cara de filme feito para a tv, estraga muito deste suspense com péssimos atores e roteiro banal. hanson faria depois o ótimo la confidencial e um dos meus mais adorados filmes : garotos incriveis. este leva nota 1.
CRY BABY de john waters com johnny depp, iggy pop, traci lords. rebeldes gays brigam com almofadinhas gays. garotas machudas participam. este filme, chato- flácido- tolo, é colorido como um clip das go go's e tão esquecível como seus discos. nota 1.
MULHERES E LUZES de fellini e lattuada com carla del poggio, giulieta masina e peppino de filippo. as cenas iniciais com o show mambembe são das melhores coisas que fellini já filmou. mas o filme todo, o primeiro do gênio, é de uma beleza estúpida. cenas de estrada e de trem inesquecíveis e uma visita ao circo para se guardar. nota 7.
CAMINHO DO DIABO de budd boeticher com randolph scott e maureen o'sullivan. um cowboy solitário se envolve em sequestro. de todos os diretores classe b que os críticos franceses salvaram do esquecimento, budd é o melhor. este filme, curto, barato, simples, tem tudo aquilo que o western precisa : ação, poesia e honra. a prova de que o talento pode transformar a banalidade em ouro puro. nota 8.
CASINO ROYALE de huston, mcgrath, annakin, parrish e guest com peter sellers, david niven, ursula andress, woody allen, orson welles. a trilha de burt bacharach é uma delicia! sexy e cafona, alegre e fofissima. o filme, que foi um desastre de critica e de bilheteria, precisou de cinco diretores para ser acabado. a história, cheia de furos, tem até woody allen ( hilário e já sendo woody allen ). mas eu me diverti muito! adorei seu ar de malicia ingenua, suas cores psicodélicas e seu desfile de garotas bonitas e atores admiráveis. é aquilo que onze homens e um segredo sempre quis ser. nota 6.