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A LOVE SUPREME - JOHN COLTRANE

A geração nascida nos anos de 1940 ouvia muito jazz e assim, o sax de John Coltrane se tornou uma influência enorme no rock. Roger McGuinn em Eight Miles High solou como se sua guitarra fosse o saxofone de Coltrane, mas não só ele. De Robert Fripp à Jimi Hendrix, todo guitarrista pegou a liberdade solar, as notas abundantes, as harmonias orientais do músico de jazz. A Love Supreme, um dos muitos discos da curta e rica carreira de John Coltrane é, ao lado de Kind of Blue, de Miles, o disco mais famoso e mais vendido do estilo. Ouço-o após mais de 20 anos sem o escutar.-------------------------- John Coltrane era espiritual. Ele quer que ao ouvir seu som voce entre numa espécie de meditação profunda. O que ele faz com sons é aquilo que Jung chamava de Mandala, uma paisagem sonora que expressa o inconsciente coletivo. Cada nota, e são milhares, é parte de uma paisagem de energia pura. O ideal seria que sua alma flua entre e dentro dessas partículas sonoras. -------------- Muitos críticos na época atacaram esse som. Lembro de alguns falando que Coltrane destruíra o swing, que seu som não tinha balanço. Era um ruído que destruía o swing de uma banda cheia de calor e de beat. Elvin Jones na bateria, Jimmy Garrison no baixo e McCoy Tyner no piano, realmente eles são hot. E se voce quer saber de onde Mitch Mitchell tirou seu modo tão incrível de tocar bateria, foi daqui, de Elvin Jones. ------------------------ Hoje este disco é um clássico e não há mais crítico que não o aceite. Quanto a mim, Coltrane não é meu tipo de saxofonista preferido, eu sou da turma de Lester Young, notas longas, poucas notas, a transformação de cada nota em uma melodia. Mesmo meus guitarristas favoritos são assim, econômicos. Portanto é preciso dizer que A Love Supreme é, sim, uma obra prima, mas me incomoda sua sonoridade pouco Thelonious Monkiana. De qualquer modo, seria um despedício voce passar pela vida sem ter conhecido este album.

DUKE ELLINGTON-COUNT BASIE - FIRST TIME!...SE VOCE NÃO GOSTA DE BIG BANDS TENTE ESTE ALBUM

Demorou muito para eu aceitar o som das big bands do jazz. Elas me pareciam som de gente muito velha. Então, por volta de 1980, eu ouvia Miles e Mingus, mas não escutava Duke e Basie. O tempo passoum hoje é 2025, e o que parecia muito velho parece hoje cool. É assim que acontece, a coisa envelhece e depois de ser apenas "velha", é esquecida ou vira chique. Hoje o som muito velho, em jazz, parece ser algo como Spyro Gyra e Grover Washington, e penso que eles serão esquecidos. -------------- Se voce não gosta de Bandas esta é sua chance, um bom modo de começar. Em 1962 uniram as duas maiores bandas do jazz em um único disco. A primeira coisa que se nota é o som. Em 1962 o som dos discos de rock era muito ruim e percebemos que os albuns de jazz, como este, possuem uma qualidade sonora sensacional. O rock só em 1968-1969 passaria a ter status para ocupar o mesmo nível de produção. ----------------- Todas as 8 faixas aqui são exemplos do que é a sonoridade de uma banda: é quente, complexa, esfuziante. Mas comece pela faixa 5: Wild Man. É uma obra prima de Ellington. O andamento muda a todo momento, os timbres variam, o volume aumenta e depois se faz quase silêncio, é a exibição de um gênio. Basie esponde em seguida com Segue in C, outra obra prima, esta exibindo a especialidade de Basie, o ritmo, o beat. BDB de Ellington tem ataques de saxes que beiram o monstruoso. A bateria brilha. Por fim a marca registrada de Basie, Jumpin at The Woodside, groove sem fim. Depois disso, ouça as faixas de 1 a 4 e seja feliz. ------------------ Se isto não te fizer amar o som das bandas, bem , desista. Ou vá cuidar de seus ouvidos, talvez voce seja surdo.

NAT KING COLE - AFTER MIDNIGHT

Para quem acha que Cole é apenas o cantor POP de baladas com violinos e açucar, saiba que ele foi um bom e respeitado pianista de jazz e um cantor cheio de swing. Foi ele quem, nessa época, lançou Route 66 por exemplo. ---------------------- Neste disco, soberbo, ele toca seu piano e canta com sua voz magnífica uma coleção de canções jazzy, inclusive Route 66. Um trio de guitarra, bateria e baixo o acompanha e em cada uma das faixas há a participação de um músico da bande Duke Ellington. Just You Just Me é a melhor faixa do disco, mas todas as outras 15 são de impressionar. O clima é de fim de noite, sensual, sombras na calçada, bar vazio, frio, uma brisa, uma poça de água que voce pisa. Lonely One, It's Only a Paper Moon...são canções refinadas, criadas para durar, para fazer diferença. Ouvir este album é crescer na vida. É se alimentar de força pura.

INTERPLAY - BILL EVANS

Bill Evans é o melhor pianista do jazz? Para muita gente ele é. Bud Powell, Thelonious, Count Basie, John Lewis, Dave Brubeck, Horace Silver, Art Tatum, tem uma infinidade de grandes pianistas em jazz. Bill Evans é o mais delicado, pensativo, discreto, bonito em sua pureza quase erudita. E ao mesmo tempo, ele tem beat, improvisa com facilidade e gosto, jamais exagera. É lírico. Foi ele quem tocou piano, impressionista, bem Debussy, no Kind of Blue de Miles e então a carreira de Evans deslanchou. Morreu jovem, em 1980. Este disco, perfeito, tem o piston quente de Freddie Hubbard, a guitarra deliciosa de Jim Hall, o baixo preciso de Percy Heath e esse baterista, meu favorito, de gênio, chamado Philly Joe Jones. Para quem não sabe, Jones tocou com Miles Davis de 1952 a 1957 e só não tocou toda a vida porque as datas de gravação nunca batiam. Miles disse que Jones foi seu batera favorito, e olha que ele teve um time perfeito de bateras vida afora. Philly Joe Jones tem um swing agressivo, usa os pratos de um modo exuberante e bate na caixa com decisão e velocidade. É viciante. Ele tocou em centenas de discos, e felizmente temos muito o que ouvir de suas baquetas. -------------------- Interplay, disco de 1962, tem uma coisa refinada, tão cool que chega a suavizar o verão. Mas sempre com muito emoção, muito balanço e a agressiva sensualidade do jazz verdadeiro. Um grande disco.

LESTER YOUNG

Algumas informações sobre Lester Young. Ele engraxava sapatos aos 5 anos de idade e é o inventor de várias girias usadas até hoje. Talvez a mais conhecida é a palavra cool para designar o que é muito bom e ao mesmo tempo para poucos. Lester falava tanta gíria criada por ele mesmo, bread era dinheiro por exemplo, que sua fala se tornou lendária. Ele foi o melhor amigo de Billie Holiday e em época de pobreza chegou a morar com Billie e a mãe dela. Nunca foram para a cama. --------------- Lester bebia muito e morreu com menos de 50 anos, em um avião, de hemorragia provocada por alcoolismo, vindo de Paris para New York. Há um especial de TV, que posto acima, em que Lester faz um solo dois meses antes de morrer. Billie, que canta nesse clip, morreria cinco meses após Lester. Os produtores do especial choraram todos na sala de video enquanto Lester solava no especial ao vivo. O solo, extremamente simples e curto, é puro Lester Young. No clip há ainda Ben Webster e Gerry Mulligan. ----------------- Lester foi ídolo de Charlie Parker e tem músicas feitas em sua homenagem por Charles Mingus e Duke Ellington. ---------------- Não há sax mais cool que o dele.

PRES AND HIS CABINET - LESTER YOUNG

Disco raro da Verve de 1956. Meu saxofonista favorito, Lester Young, o rei do toque suave, do ritmo pensativo, é acompanhado por um grupo de gênios musicais e fazem juntos uma festa de puro prazer. ---------------- A guitarra de Barney Kessel brilha em Just You Just Me, faixa 1. Já aqui notamos que o album é um segredo de prazer e isso se confirma na faixa 2: Lester Leaps In. O baterista Jo Jones estraçalha e a canção, ao vivo, é quase uma festa pagã. O fogo explode nessa orgia de instrumentos em gozo dionisíaco. Não temo dizer que é um dos melhores momentos em jazz que escutei na vida. Harry Edison e seu trompete uivante se destaca na faixa seguinte, They Can't Take That Away From Me, uma das mais belas canções da América. Red Boy Blues é embelezada pelos dedos de Oscar Peterson e a seguinte tem a batera de Buddy Rich. Ao final Gigantic Blues, uma obra prima completa. ---------------- Lester Young se destacou nos anos de 1930, na bande de Count Basie e nos grupos de Billie Holiday. Ele fazia parte da gangue que circulava nas ruas de Kansas City e depois New York, com Billie, Jo Jones e Walter Page. Quando as bandas de swing sairam de moda Lester se adaptou e tocou em grupos menores. É um dos cinco pilares dos sopros em jazz e nunca saiu de moda. Ele é atemporal por ser o máximo em elegância cool.

MILES DAVIS AO VIVO NO BLACKHAWK

O quinteto toca no começo dos anos 60 em um restaurante, sim, tem gente que viu Miles tocar a dois metros de si, e entrega uma atuação de gala. O clima é intimista e o trompete de Miles soa como a coisa mais cool do universo. Ele toca suave mas nunca fraco. Seu som é noturno, frio, elegante ao extremo. É o Miles Davis ainda puro jazz. O auge de seu trompete. Hank Mobley é o sax. Tortuoso, ele mostra o que é a tal blue note, o que diferencia o toque do jazz do toque erudito europeu. O acorde é sempre torto, idefinido, floreado, áspero, sem a reta perfeição do classicismo. Wynton Kelly tem o piano cristalino e Paul Chambers é um dos meus top contra baixistas. Observe seu ritmo. Fica fácil se soltar, solar à vontade quando se tem esse ritmo seguro a te apoiar. A bateria é de Jimmy Cobb, um mestre irrepreensível. É um disco perfeito. Solam com naturalidade, nunca demais, sempre o certo. All Of Me é o cume dessa cordilheira de picos. Tem de ouvir pra crer.

BIRD OF FIRE - THE MAHAVISHNU ORCHESTRA

Segundo disco do grupo. Tão bom quanto Inner, seu primeiro album? Não. Seria muito difícil alcançar tanto valor. Mas é um grande disco. Jan Hammer, o tecladista, tem mais destaque aqui. E há uma faixa, linda, que homenageia Miles Davis. Billy Cobham prova mais uma vez ser o maior batera de todos. E John McLaughlin comanda tudo com sua guitarra inacreditável. Muita gente virou músico ao ouvir este grupo e Jeff Beck mudou seu estilo por causa deste disco. Voce deveria se deixar levar pela força, mágica e surreal, desta música que não é jazz nem rock, é atemporal. Depois Jan e Rick Laird sairiam da banda por desejarem mais espaço. Jerry Goodman já participa pouco aqui. Uma pena ter durado tão pouco! John voltaria em 1975 com uma nova Mahavishnu, mas não seria mais a mesma coisa. Foi um momento único, e que agora vemos, não poderia durar. Ouça.

Count Basie Orchestra Live in Milan 1960 - Part 2

Lester Young - Mean To Me (1958)

LESTER YOUNG 'Pennies from Heaven' 1950

LESTER YOUNG, O REI DO COOL

Lester Young tocava sax. E tinha um chapéu tipo "porky pie". Foi da orquestra de Count Basie, e Basie é meu pianista favorito. O piano de Basie tem poucas notas, apenas as necessárias. Ele não floreia como Oscar Peterson ou Teddy Wilson ou Art Tatum. Basie toca uma nota e isso é exatamente o que faz a diferença. Pouco. E o bastante. Thelonious Monk, meu outro pianista favorito tem o mesmo modo de deixar silêncios nos solos. Eu não gosto de música que não usa o silêncio. Quem enche o espaço de sons tem de saber tudo sobre o silêncio. Repare em Basie, há espaços vazios que dizem tudo. Ele faz um milagre: o silêncio tem ritmo!!!!! -------------------- Lester Young faz o mesmo no sax. E o saxofone é às vezes uma voz que fala demais. Dizem que o sax moderno foi inventado por dois caras: Lester Young e Coleman Hawkins. Hawkins abriu o caminho para o sax que fala muito, que floreia, que vai até o limite; Lester criou o sax que fala menos e fala suave. É a versão em sopro do piano de Basie. -------------------- Quando ele começa a tocar voce logo sabe, é Lester Young, Pres para os amigos. O toque é mínimo, o volume é suave, ele volteia sem ferir, e o principal: Lester toca fácil, nada parece requerer esforço físico. Ele não transpira, ele não ameaça perder o fôlego. Ele toca como quem joga gelo no copo. É simples, é discreto e é absolutamente perfeito. O saxofone na boca de Pres parece um instrumento que só existe para ele mesmo. Há o sax e há o sax de Lester Young. ---------------- Ele define o cool. Fazer muito fazendo quase nada. Chamar a atenção não querendo chamar nada. Intrigar sem querer ser notado. O cool em música passa sempre por Lester. É a voz contida, que nunca se esforça, que faz o mínimo, que mantém a frieza discreta, nunca afetada, simples e sem igual. Depois de Lester veio Ben Webster, Miles, e então o cool virou moda. -------------- Hoje nada é cool porque nada é discreto. Tudo vira hype ou desaparece. ----------------- Lester era amigo de Billie Holiday. E tocou muito com ela. Depois fez alguns discos com grupos pequenos. Ele é, como Bud Powell ou Eric Dolphy, heroi de quem conhece jazz. Escute.

O SATANISMO EM MÚSICA, ON THE CORNER- MILES DAVIS

Teo Macero, junto com Miles, pegava as fitas de gravação e as editava à vontade. Cortes, colgagens, loopings. On The Corner antecipa o som moderno dos anos de 1990. Gravado em 1972, foi desprezado em seu tempo, é o disco de Miles mais odiado por seus fãs dos anos acústicos. Jack deJohnete, o batera, preste atenção, o que ele toca é a batida drum and bass de 1995. Jungle, rap, eletro, DnB, tá tudo antecipado aqui. Este disco, simples, sem solos mirabolantes, é um feitiço. O que Miles quis? Uma obra que é só ritmo. Mais nada. Onde cada instrumento é um ritmo. Michael Henderson é o coração da coisa, seu baixo leva tudo. É um disco de baixista. O resto, e esse resto tem McLaughlin, Corea, Hancock, vai na onda do baixista. E há o trompete wah wah de Miles, e que diz esse trompete? ------------------- Eu vi um túnel vermelho que leva ao fundo do planeta. É um som dos infernos. Repare: o som parece MAU. Nunca escutei nada que soasse tão mau. Miles Davis compõe música para as esquinas negras de NY e o que sai é voodoo. Ele aproveita riffs de James Brown, de Sly Stone, mas eles são transformados em Miles e em Satanismo sonoro. Os críticos tinham razão, isto não é jazz. --------------- É o disco de Miles que menos vendeu e agora, hoje, é considerado um marco sonoro. ----------------- Eu não consigo parar de o reescutar. Hipnotizado e siderado por aquele som de percussão que surge como fosse um sorriso sacana. Pelos teclados sem sentido que harmonizam com nada. Os sopros que tentam se sobressair e que saem incógnitos. E a bateria, que bate e bate e bate e bate...... ------------------- Miles aqui não fez música. Produziu uma cerimônia negra e rubra. Quente como brasa e pra sempre como uma onda. Impossível saber qual o melhor disco de Miles em sua fase madita, aquela entre 1969-1975. On The Corner é sem par, sem paralelo e sem precedente. É uma das maiores coisas que ouvi. E sim, é uma coisa.

THE INNER MOUNTING FLAME - THE MAHAVISHNU ORCHESTRA

Após deixar Miles Davis de queixo caído, em gravações feitas em 1969-1970, o inglês John McLaughlin parte para sua carreira solo. Primeiro um disco acústico, Goal Beyond, e então sua banda, a Mahavishnu Orchestra. Primeiro, por que esse nome indiano? Ao contrário de tantos pop stars, a conversão de John ao hindusimo foi séria, profunda, cuidadosa. McLauglin nunca mais voltou a ser apenas John. Passou a usar branco, ser vegetariano e sua música mudou. Os shows que a Mahavishnu fazia, entre 1971-1974, eram, sempre lotados, uma experiência mística. Mas atenção! Se voce espera longos mantras indianos está enganado. É jazz rock agressivo. Poderoso, e com uma das mais perfeitas bandas da história. ----------------------- Viraram super grupo e foram o grupo no imenso mundo do jazz elétrico a conseguir sucesso vasto. Isso porque de todas vertentes do jazz elétrico de então, é a Mahavishnu a mais rock e a menos jazz. O Weather Report foi seu grande rival pelo sucesso, mas o Report é infinitamente mais jazz. ---------------- Isso não significa crítica à John, a Mahavishnu é maravilhosa! Veja este disco, seu primeiro. Já de cara você fica surpreso. É tanta energia bruta que sua mente se perde. Billy Cobham, talvez o maior baterista da história, ataca com um furor inesquecível. É um John Bonham do jazz. Só que muito mais veloz, ágil, jazz em excência. Mas há mais. Há o violino de Jerry Goodman, o baixo de Rick Laird e o teclado de Jan Hammer. Todos afiados, desafiadores. E, claro, a guitarra de McLaughlin, a maior da história do intstrumento. John toca rápido, toca urgente, aqui muito menos lírico do que seria mais tarde. É cerebral, é filosófico, e é, sim, rock. ------------------ Nas 8 faixas eles provam sua maestria. Noonward Race é minha favorita, mas o disco todo não perde punch. Nao há como não ficar tocado pela técnica deles, mas é técnica com emoção, com fogo e trovão. -------------------- Em 1971 foi uma enorme porrada. Encheram auditórios, venderam bem, se tornaram estrelas. Bons tempos em que música tão complexa era um hit.

MAN WITH A HORN - MILES DAVIS

Miles estava quieto desde 1976. Sem shows, sem discos, sumido. Em 1981 ele volta com este disco. A crítica, claro, odiou. Eu? Amei. É o disco mais balançado de Miles. Funky. Mas, ao contrário de discos como TUTU, aliás eu adoro TUTU, este disco não tem tanto teclado, a sonoridade não é tão anos 80. O destaque vai todo pro baixo, Marcus Miller, e bateria, Al Foster. O sopro de Miles está solto, esperto, renovado. Fat Man, a faixa que abre este grande disco, tem solo de guitarra de Mike Stern, arrasador. A faixa 2 tem introdução heavy metal, sim, metal, e então se transforma em jazz funk. E ainda há uma faixa cantada, uma canção de amor, veja só...---------------- Não há como não dançar com o que rola aqui e fiquei bem surpreso. Este é o melhor disco da fase final de Davis. E isso não é pouca coisa. O cara era cool, o cara era gênio. Ouça.

JACK JOHNSON - MILES DAVIS

Uma faixa de cada lado do vinil. A primeira agitada, a segunda introspectiva. Quando a coisa começa o que ouvimos é John McLaughlin tocar com uma fúria como nunca visto. Ele é o destaque dos primeiros minutos e de certo modo do disco todo. Miles adorava John e o deixava livre. Após este disco, feito em 1970, John partiria para o caminho solo e a Mahavishnu Orchestra. Jeff Beck considerava-o o melhor guitar do planeta. Talvez Jeff esteja certo. ------------ Michael Henderson tem uma missão ardua aqui, manter o ritmo do baixo incessante. Um looping que dura vinte minutos. O batera é Billy Cobhan, talvez o melhor batera de jazz pós 1970. Funk, tudo é funk, mas a guitarra é semi punk e então vem Miles. -------------- Ele entra com raiva, com punch, com ferocidade. Poucas vezes ele tocou tão bem. Seu piston emite acordes longos, arpejos sem fim, o fôlego no limite. É um timbre metálico, quase desagradável. Miles está inteiro neste disco. ---------------- Iggy Pop disse numa entrevista que sua vida foi marcada por este disco. Quando ele gravou Funhouse e depois Raw Power era este o disco que ele ouvia. Se voce não percebeu o que liga o som jazz funk daqui com o pré punk de Iggy eu explico. Substitua o piston pela voz de Iggy e voce vai começar a entender. -------------- Jack Johnson era um boxeador do começo do século XX e este disco é a trilha sonora de um doc sobre o boxeur. -------------- O lado dois é languido, relaxado e muito amargo. Quase uma sinfonia íntima à decadência. Miles Davis atinge uma maestria que nenhum outro jazz man atingiu. Eu disse em outro post que Agharta era o melhor disco do século XX. Ele é. Jack Johnson é um digno contendor. GENIAL.

Eric ̲D̲o̲l̲p̲h̲y̲ – O̲u̲t̲ T̲o̲ L̲u̲n̲c̲h̲! (̲1̲9̲6̲4̲)̲

OUT TO LUNCH - ERIC DOLPHY

Lançado em 1964, estamos aqui na terra do free jazz. Deus, eu adoro Eric Dolphy! Demorou muito para eu o conhecer, descobri só agora em 2023, mas caramba, ele era genial. Seu sopro, seja no sax alto, no clarinete baixo ou na flauta, é sempre feroz. Ele ataca o som, arremete nossos ouvidos e assim nos libera os sentidos. Acompanhado pelo trompete de Freddie Hubbard, a batera de Tony Willians, o vibrafone de Bobby Hutcherson e o baixo de Richard Davis, o som aqui produzido é como um tsunami sonoro. --------------- Tony Willians tocava nessa época com Hancock e Miles, Bobby enfrenta de frante o sopro de Eric, sem medo e Hubbard Vai fundo na coisa free. Quanto a Richard, ele faz acordes cheios no baixo, é uma das melhores gravações desse instrumento. Mas é Dolphy, no tempo em que ainda tocava com Mingus e logo viria a morrer, sua vida foi uma brisa, é Dolphy quem assombra. De Hat and Beard, tema feito em honra de Monk, até Straight up down, não há um só minuto menos que sublime. O disco, um dos grandes discos de uma época de gigantes, mantém sua tensão sem jamais esmorecer. O jazz de Dolphy é difícil porque ele exige tudo do executante e do ouvinte, ele vai direto aos nervos, é um jazz que parte da excitação física e almeja a espiritualidade pura. ---------------- Quem já viu Eric tocas sabe disso: ele era um xamã. Seu esforço, sempre no limite, como Coltrane, busca a superação da matéria e o encontro com a alma via som, via música. Para isso ele quebra tudo: ritmo, harmonia e melodia. O ritmo muda sem parar, a harmonia se desfaz e se cria, a melodia se mistura a tantos fragmentos melódicos que ela faz com que nos percamos. É uma beleza fluida. Voce precisa ser ativo, ir atrás e participar enquanto escuta. Há muito o que ouvir aqui. Procure.

THE CASE OF THE 3 SIDED DREAM IN AUDIO COLOR - RAHSAAN ROLAND KIRK

Pesquise na net e fique impressionado. Roland Kirk tem entre seus fãs Paul Weller ( The Jam ), Ian Anderson ( Jethro Tull ), Bjork, Zappa, Jimi Hendrix, Tricky e uma infinidade de gente de bandas indie. Este disco que agora ouço foi gravado em 1975. Infelizmente, alguns anos depois, ele sofreria um derrame que acabaria com sua carreira. --------------------- Kirk começou como saxofonista nos anos 50 e atingiu o sucesso na década de 60. Ele tocava até quatro instrumentos de sopro, AO MESMO TEMPO. Excêntrico, sua música, soul jazz, é acessiva e ao mesmo tempo de vanguarda. este disco, que na origem foi um vinil duplo com um lado sem som, tem vinhetas que separam as faixas, e é, de todos os discos com vinhetas, o único em que elas fazem sentido. É um disco brilhante a absolutamente atemporal. -------------- Ouça por exemplo Freaks for the festival. É funk, é jazz e é deliciosa. Todos os grooves te colocam pra dançar. High Heal Sneakers tem uma das melhores e mais simples linhas de baixo que já ouvi e a vinheta chamada Dream é fascinante. Portrait of Beautiful ladies é de uma beleza arrebatadora. Neste Kirk toca flauta. Ian Anderson diz que roubou dele seu modo de tocar flauta. ----------------- Há muito do espírito mais safado do jazz aqui. Kirk não é cerebral, ele é sexual. O cerebralismo matou o jazz. Embora seja às vezes genial, a frieza cerebral destruiu aquilo que mantinha o jazz vivo: o sexo, a sacanagem, a alegria. Kirk mantém tudo isso e é moderno ao mesmo tempo. Um belo disco de um músico, que descubro só agora, fantástico. Ouça meu querido.