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AMBROISE VOLLARD FALA DE SEUS ENCONTROS COM RENOIR

O amigo marchand, talvez o comerciante de arte mais mítico da história, escreve sobre suas conversas com Renoir. Agradáveis, reveladoras, solares. Como todo gênio, Renoir trabalha muito e ama seu trabalho. Para quem pensa que Renoir era um tipo de "amante da vida", uma surpresa: feliz ele foi, mas seu amor era pela pintura e ela tomava 99% do seu coração. Católico, Renoir dizia que os protestantes eram sombrios, enfadonhos, e que só conseguiam fazer coisas uteis. ( Não acho que ele estivesse errado. A alegria sensual em países como Alemanha ou USA é sempre um tipo de afronta ). Renoir, o homem que fez uma revolução, se mostra um conservador. Ele detesta carros, trens, a arte que vem depois dele, odeia a pressa, fábricas, barulho. Cercado de mulheres, principalmente a ex modelo que virou esposa, ele luta contra as visitas que não param de chegar, os compradores, a falta de tempo. Reumático, vemos o artista em sua cadeira de rodas, com os filhos Jean, o grande Jean Renoir, e Claude, que seria fotógrafo de cinema dos grandes. ------------------ Para quem não entende onde a revolução de Renoir: as cores. Eram consideradas erradas, fortes demais, não naturais. O desenho, era chamado de ruim, fraco, sem habilidade. Os temas eram chamados de vulgares. Mas ele logo venceu. Na maior parte de sua vida, quase 80 anos, foi rico. --------------------- Renoir foi o primeiro artista que chamei de favorito. Isso quando eu tinha 15 anos. Os nus voluptuosos conquistaram, óbvio, um adolescente que era meio tarado. As mulheres eram bonitas, alegres, felizes, radiantes. No livro Renoir não esconde o prazer de pintar uma bunda que reflete a luz. Seu horror era a pele opaca, sem brilho, sem cor. Depois eu descobri Gauguin, Matisse, Klee, mas Renoir foi o primeiro. ------------------- Outro fato interessante é pensar em como a pintura foi importante em certa época da história. E não foi por falta de riqueza na literatura ou na música. O impressionismo acontece no tempo de Flaubert, Mallarmée, Rimbaud, Debussy, Ravel, Bizet, isso para falar apenas da França. Entre 1860-1930, durante 70 anos, a pintura foi centro da vida intelectual. De Ingres e Delacroix até Picasso e Braque. Depois, talvez o cinema, as revistas, a popularização das câmeras fotográficas, mataram a pintura como arte central. Os novos pintores tentaram então expressar a alma ou o inconsciente e perderam o público. ------------------ Hoje volto a valorizar Renoir e não só eu. Ele se reabilita como clássico. Como monumento. Quem já viu uma tela de Renoir cara a cara sabe o efeito que ela causa. As cores parecem explodir, o desenho se move, ela nos chama, nos seduz, hipnotiza. E nos faz feliz. Era tudo o que ele queria. E venceu. Arte viva. Sensual, tem cheiro, canta, impressiona.

MARCEL CARNÉ/ POWELL/ TRUFFAUT/ MELHORES FILMES DA FRANÇA

   O BOULEVARD DO CRIME de Marcel Carné com Arletty, Jean Louis Barrault, Pierre Brasseur, Maria Casarés
Foi eleito, a coisa de cinco anos, o melhor filme francês de todos os tempos. Será? Esta foi a minha segunda visita a esse épico de 1945. Com mais de 3 horas, trata das paixões, misérias, ilusões de um trio ligado ao teatro. Arletty faz a atriz que todos amam, Barrault é Pierrot, o ator ingênuo que a adora. Brasseur é um ator-astro, cheio de si. Ao redor deles uma multidão de ladrões, nobres, escroques. Tudo lembra Balzac. É uma painel da França do fim do século XIX. Ruas com multidões, lixo e luxo. Tudo no filme é superlativo. A fotografia, o cenário, a música. E todos os atores. As interpretações são ao estilo francês puro, palavrosas e posadas. Hoje lembram cinema moderno, envelheceram tanto que viraram novidade. O roteiro, do poeta Jacques Prévert é brilhante. O filme varia entre poesia, drama pesado e comédia leve. Crime e vingança. É o maior filme da França? Não sei se é, mas o título não fica mal. Para mim existem 3 grandes filmes que merecem o título: este, Orfeu de Jean Cocteau e O Atalante, de Jean Vigo. Com vantagem para a obra-prima de Vigo. Claro que há ainda Clair, Renoir, Clouzot, Godard, Bresson, Melville, Tati, Truffaut...mas estes 3 são gigantes, amplos, completos. Cada um a seu modo, Vigo é intimista e simples, Cocteau é simbólico e hermético e Carné, belo e imenso.  Um filme que todos devem ver. Nota DEZ.
   CAPITÃO PIRATA de Gordon Douglas com Louis Hayward e Patricia Medina.
Aventura padrão de piratas dos anos 50 da Columbia. Pirata inglês se envolve no resgate de seus companheiros capturados por espanhol mal em ilha do Caribe. Nada de especial, produção pobre, mas para quem como eu adora filmes de piratas, não decepciona. Nota 5.
   ALEXANDRE O GRANDE de Robert Rossen com Richard Burton, Fredric March e Claire Bloom.
Há quem diga que Burton deveria ter sido o maior ator de todos os tempos. Mas ele se vendeu à Hollywood e perdeu tempo e vontade em filmes como este. Uma produção grande sobre Alexandre da Macedônia. O filme...bem, como levar a sério Burton de peruca loura? Rossen era um diretor metido a artista, mas este filme afunda em roteiro sem ação e personagens ralos. Só March se salva. Seu Filipe, pai de Alexandre é complexo, sutil e ao mesmo tempo dramático ao extremo. Nota 2.
   O RIO SAGRADO de Jean Renoir com Esmond Knight e Adrienne Corri
Renoir saiu dos EUA e foi a Inglaterra. De lá à India fazer este que é um dos filmes favoritos de Wes Anderson. E é realmente um filme mágico. E, como tudo de Renoir, de uma simplicidade absoluta. Uma familia inglesa vive na India à beira de um grande rio. Vivem de uma fábrica de juta. São cinco meninas e um garoto. Um americano chega e passa a ser cortejado. Uma tragédia ocorre, mas a vida continua. Renoir consegue nos fazer entender um conceito profundo sem falar quase nada. Imagens belas de Claude Renoir, irmão de Jean, e apesar dos atores ruins, o filme se eleva `grandes altitudes. É seu melhor filme. Disso não duvido. Nota DEZ.
   A NOITE AMERICANA de François Truffaut com Jacqueline Bisset, Jean Pierre Leaud, Valentina Cortese e Jean Pierre Aumont
Me apaixonei por cinema em 1978 vendo este filme na Sessão de Gala da Globo. Eu quis ser Truffaut. Durante uns 3 anos ele se tornou meu diretor fetiche. E 3 anos na adolescência são dez como adulto. Então posso dizer que Truffaut atingiu sua meta, mostrar o amor ao cinema de uma forma simples, ingênua  e pura. É claro que fazer um filme não é isto, mas o que Truffaut quis foi mostrar o amor à coisa, nunca um documentário sobre a feitura de um filme. Godard rompeu com François por causa deste filme. O que mostra a cegueira de Jean Luc. O filme é sublime, encantador, o conto de fadas dos que amam cinema. E tem uma das melhores trilhas da vida de Georges Delerue, o que não significa pouco, pois Georges foi sempre magnífico! Nota DEZ.
   OS CONTOS DE HOFFMAN de Michael Powell
Eis...Powell, o irriquieto, o corajoso, faz um dos mais arriscados filmes da história. Filma os contos de E.T.A.Hoffman em sua forma original, ou seja, como ópera, inteiramente cantado. E com cenários que são extremamente artificiais. O resultado é radical, voce adora ou odeia. Eu não me dou bem com ópera, mas adorei o filme. Porque ele é de uma beleza irreal, artificial, embonecada, brega, surpreendente, mágica. Se voce quer saber o que seja o romantismo eis o filme. Ele nos apresenta todo o universo de Hoffman, mas também de Shelley, Hugo, Lamartine...e chega até Poe. Vejo que George Romero é um de seus fãs e isso não me surpreende, este é um filme de horror. A beleza aqui é morta, espectral, como aquela de um cemitério. Se voce gosta desse mundo, veja. Se voce é um prático pés no chão, fuja correndo. Nota.........?

MAX OPHULS/ JASON REITMAN/ GEORGE CUKOR/ JAMES BROWN/ LUC BESSON/ MYRNA LOY/ JEAN RENOIR

   HOMENS, MULHERES E FILHOS de Jason Reitman
É um daqueles dramas que eu chamo de "drama do abat-jour pastel". Tudo filmado no escurinho, em tons pastéis, com as pessoas falando baixinho, com suas caras sem expressão. Tenho uma colega que é mormon. Incrível como a América é marcada por essas religiões da limpeza, do comedimento, da ordem. Tudo se parece com ela, as roupas, as caras, o modo de viver e de reagir. O filme tem cenas de sexo, claro que vestidas, o filme fala de um mundo interligado, claro que superficialmente. E ainda termina com cenas bastante apelativas, digna do pior de Party of Five. Aliás, eu tenho uma teoria de que Party of Five, com seus teens falando baixinho e seus climas pastéis ( e aqui as pessoas chegam a ler no escuro ), é a realização cultural americana mais influente dos últimos 30 anos. Mais que Sopranos, Pulp Fiction ou X Men. A trilha sonora é sonâmbula. Por outro lado, o filme não me cansou, não me entediou e me fez sentir pena daquilo que fazemos com os pobres adolescentes...pobrezinhos. Só que o buraco é bem mais embaixo. Nota 4.
   JAMES BROWN de Tate Taylor
Das biografias que não param de produzir, esta é das menos óbvias. Isso porque se evita a odisséia das drogas e álcool, que estragou a bio de tanta gente. O filme tem uma excelente recriação do Alabama negro da década de 30 e sabe usar as músicas sem exagero. Uma coisa ótima:: as cenas musicais sabem passar a energia do som de James Brown, o cara que mais mudou aquilo que se entende por pop music. Brown trouxe o ritmo para o centro do som e desse modo criou o som de nosso tempo. O filme não é triste, é bem editado e diverte. Legal. Nota 6.
   UM AMOR DE VIZINHA de Rob Reiner com Michael Douglas, Diane Keaton
Deus meu que filme vazio! O planeta está envelhecendo e é isto que oferecem a esse público? A batida história do cara viúvo, ranzinza, que conhece uma maluquinha divorciada e após muitas brigas ficam juntos. God! Isso já era velho em 1970! Tudo bem, nada impede mais um plot batido, desde que bem feito, fresh, vitalizado. Jack Nicholson e a mesma Diane fizeram isso muito bem em 2000. Aqui não! Nota 1.
   AS DUAS FACES DE JANEIRO de Houssein Amini com Viggo Mortensen e Kirsten Dunst.
Em 1960 René Clement fez o filme mais elegante da história do mundo. Com roteiro de Patricia Highsmith, O Sol Por Testemunha, um suspense digno de Hitch, teve a sorte de capturar a Europa em seu momento mais classudo. Era aquele classudo esportivo, leve, fresco, que foi destruído pela onda hippie a partir de 1966. Este filme, também baseado em Highsmith, tenta esse clima classudo todo o tempo. Se passa em 1962, a beira do Mediterrâneo, e os atores se vestem naquele estilo despojado com finésse da época. Mas assim como o suspense vira brutalidade, a elegância vira afetação. Fake ao extremo, mesmo o ótimo Viggo e uma Dunst linda de doer não salvam a gororoba. Fuja! Nota 1.
   3 DIAS PARA MATAR de Luc Besson com Kevin Costner, Amber Head e Connie Nielsen
Quer saber? Bom pacas! Muito bem dirigido em suas cenas de ação, que são poucas, o filme tem trama, tem suspense, surpresas e um Costner na ponta dos cascos. Vale muito a pena! É melhor que um monte de besteiras tratadas como arte só por sua lentidão e pretensão. Nota 7.
  NÚPCIAS DE ESCÂNDALO de George Cukor com Katharine Hepburn, Cary Grant, James Stewart.
A peça de Philip Barry deu dois filmes clássicos, este, o melhor, de 1940, e Alta Sociedade, de 1956. Kate fez a peça em NY e a comprou. O filme salvou sua carreira. Ela faz a mimada socialite prestes a se casar pela segunda vez. Cary, no auge do relax, é seu ex-marido e James Stewart ganhou um Oscar fazendo um repórter que vai cobrir a festa. Sinal dos tempos, um repórter num casamento rico é considerada coisa de extremo mal gosto! O filme é um souflé perfeitamente realizado: leve, gostoso, chic e inesquecível. Os diálogos voam como tiros de açucar e os atores parecem brilhar com papéis que pedem esse brilho. É um filme obrigatório para quem ama a palavra no cinema. A edição do dvd traz um doc sobre Kate que vale muito ser apreciado. Ela foi única! Nota DEZ.
  TOO HOT TO HANDLE de Jack Conway com Clark Gable, Myrna Loy e Walter Pigeon
Hummm....este filme choca um pouco por seu machismo, racismo, e sua defesa do mau caráter "legal". Se voce conseguir relativizar tudo isso terá um agitado filme de sucesso típico do mais pop dos anos 30. Clark é um fotógrafo de jornal que vive usando mentiras para vender suas fotos. Pigeon é seu rival. Myrna Loy é uma milionária que vai a Guiana para procurar o irmão perdido na selva. Clark era na época o modelo do macho sexy. Gary Cooper era mais bonzinho, Cary Grant mais chic, Charles Boyer o romantico, e Clark o homenzão. Dos 4 é hoje o mais ultrapassado. Mas o filme diverte, diverte como um tipo de cartoon absurdo, um pastelão onde tanta coisa acontece que a gente fica até tonto de ver. Nota 6.
   OS SETE SUSPEITOS de Johnathan Lynn com Tim Curry, Madeline Kahn, Christopher Lloyd
Um bando de tipos estranhos são convidados a uma casa. Lá, um por um começam a ser mortos. Vi o filme por causa de Tim Curry, ator que é sempre um show. Ele quase consegue salvar o filme, mas o roteiro, de John Landis, é um desastre! Mesmo o clima soturno é mal realizado. Nota 3.
   BOUDU SALVO DAS ÁGUAS de Jean Renoir com Michel Simon
Ah o sacrifício que a gente fazia pelo cinema....Eu tinha visto este filme numa cópia horrível nos anos 80, na TV. Era um borrão truncado. Aqui está a cópia nova! O filme brilha! É um dos clássicos de Renoir, e como todo filme de Renoir, ele nos desconcerta! Boudu é um vagabundo que cai no Senna. Recolhido por um senhor burguês, ele se mostra um homem irritante. Boudu seria um tipo de homem "foda-se", o cara que não tá nem aí, que não liga para educação ou bons modos. O filme fica assim duro de ver, porque Boudu nos irrita. Ele  mal agradecido, egoísta, sujo, mentiroso, um chato. Mas não sei porque, quando ele termina, e só quando termina, sentimos ter gostado do filme. Estranhamente, parece que pressentimos que havia algo ali. Bom, as cenas de rua são lindas! Renoir mostra a França de 1933, coisa rara então, e essas tomadas nos encantam. É um filme que preciso rever.
   LA RONDE de Max Ophuls com Simone Signoret, Gerard Philipe, Daniel Gelin, Danielle Darrieux, Simone Simon, Fernand Gravey e Jean-Louis Barrault
Lindo, alegre, mágico, encantador. Ophuls dá uma aula de cinema. Como diz PT Anderson no post abaixo, os personagens dão aos atores a possibilidade de atuar, Anderson mostra uma tomada, sem cortes, onde a câmera roda pelo set e deixa a atriz, Darrieux, atuar. Todd Haynes em outro post abaixo fala da beleza dos filmes de Ophuls. Este filme é uma dádiva, um presente, um prazer. Nota DEZ!

MASTROIANNI/ SEAN PENN/ MARILYN/ GERMI/ RENOIR/ JACQUES TATI

   QUINTETO IRREVERENTE de Mario Monicelli com Ugo Tognazzi, Philippe Noiret, Gastone Moschin
Delicioso! É a continuação de Amici Mei, sucesso feito sete anos antes. Os velhos amigos continuam aprontando suas pegadinhas de adolescentes eternos. Monicelli tinha o segredo da comédia. O filme é feliz. Se voce tem amigos antigos irá se identificar com algumas situações. Maravilhoso tempo de comédias adultas. Comédias que falam de coisas sérias sem jamais parecerem forçadas. Tognazzi dá um de seus shows habituais. É um filme que mostra a alma masculina de forma bem verdadeira. Nota 7.
   A VALSA DOS TOUREIROS de John Guillermin com Peter Sellers
Um dos vários desastres que Sellers estrelou. Tudo dá errado inclusive ele. Zero. PS Eu adoro Sellers.
   O SACI de Rodolfo Nanni
Uma raridade ( que com o dvd deixou de o ser ). É o primeiro filme infantil feito no Brasil. Conta o episódio do Saci no Sitio do Pica Pau Amarelo. Simples, bem feito, tem um gosto de nostalgia, de pé no chão. Ele captura maravilhosamente a infância como ela é. Ou era? Nanni virou professor de cinema na FAAP. Há uma boa entrevista com ele feita em 2006. Nota 6.
   O PRÍNCIPE ENCANTADO de Laurence Olivier com Marilyn Monroe e Laurence Olivier
Este é o filme cujos bastidores foram dramatizados em 2011 no filme que deu indicação ao Oscar para Michelle Williams. Aqui vemos Monroe como uma corista que é convidada por duque do leste europeu para jantar na embaixada. Os dois não combinam, se agridem, e quase se apaixonam ao final. Esse fim não é doce demais, chega a ser azedo. Olivier tem seu filme roubado por Marilyn que está muito inspirada. Ela entra em cena e o filme é só ela. Olivier se exercita em um de seus prazeres: inventar sotaques. Peça de Rattigan que aqui se deixa ver com prazer. Para quem gosta de Marilyn ou de coisas very british é obrigatório. Nota 6.
   DOIS VIGARISTAS EM NOVA YORK de Mark Rydell com James Caan, Diane Keaton, Elliot Gould e Michael Caine.
Poderia ser ótimo, mas tudo falha. Porque? Os personagens são mal escritos. Caan e Gould, no auge da fama, são dois malandros atrapalhados que tentam dar um golpe em Caine, o maior malandro da América. Keaton faz seu tipo habitual, uma feminista histérica. Caine está bem, faz um super star do roubo. Quando o excelente Golpe de Mestre ganhou um monte de Oscars e dinheiro em 1973, uma fila de produtores se formou. Todos queriam fazer o seu Golpe de Mestre. Este é um deles. Nota 1.
   DIVÓRCIO À ITALIANA de Pietro Germi com Marcello Mastroianni, Daniela Rocca e Stefania Sandrelli
Como é bom ver Marcello!!! Aqui ele é um siciliano, nobre decadente, que é casado com repulsiva esposa melosa. Ele se apaixona por sua jovem prima e vizinha. O filme, dirigido pelo expert Germi, é cheio de cortes abruptos, frases ferinas e varia entre o humor amargo e cenas patéticas. Marcello tem uma de suas grandes atuações. Seu tipo, de bigodinho fino, cabelo empastado, ansioso de desejo, atrapalhado, é inesquecível. Uma obra-prima de criação e de estilo de interpretar. Mas o filme é muito mais. Temos a trilha sonora de Rustichelli e um roteiro brilhante que foi indicado ao Oscar ( e na época era muito raro indicarem qualquer coisa não anglo-americana ). Nota 9.
   A REGRA DO JOGO de Jean Renoir com Gaston Modot e Marcel Dalio
O revejo para celebrar a lista da Sound and Sight em que ele é o quarto melhor filme. Tenho uma relação complicada com este filme. Quando o vi pela primeira vez não gostei. Na segunda vez eu gostei um pouco. Agora foi a terceira. E finalmente entendo onde está seu gigantismo. Vemos um aviador que quebra um recorde mundial. Logo o tema muda, é a relação de um casal muito rico que se trai amoralmente. Então vamos ao campo e o tema se torna uma caça aos coelhos. Mas surge um malandro e agora o foco é nos amores desse malandro com uma empregada casada. Vem então o tema da vingança e nessa altura já não sabemos do que trata o filme e esquecemos do tal piloto de avião. E é isso: o filme é o primeiro a não ter personagem central, tema ou enredo. Não tem hierarquia, não tem foco, nem moralidade. É absolutamente livre. Influência gigantesca sobre o cinema feito após 1960 ( que é quando ele é descoberto. Em seu tempo ninguém deu bola pra ele ). Sempre que voce assistir um filme com dúzias de personagens com histórias entrelaçadas e sem qualquer sentido de objetivo central, saiba, o diretor tem este filme como cartilha. Nota 9.
   AS FÉRIAS DE MONSIEUR HULOT de Jacques Tati
Falar o que? Nada acontece neste filme, mas e daí? Queremos que esse nada jamais termine. O que amamos é ver Hulot, ver aquela praia e conviver com aqueles personagens. Este filme, ainda hoje hiper original, é um dos mais prazerosos filmes já feitos. Tudo aqui é felicidade. Hulot vai passar férias na praia, e nós vamos com ele. É um dos mais amados filmes do cinema. Eu realmente o irei rever por toda a vida.. Nota MIL.
   AQUI É O MEU LUGAR de Paolo Sorrentino com Sean Penn, Frances McDormand e David Byrne
Sobre um astro dark do rock dos anos 80 perdido no mundo de hoje. Penn está ótimo. Ele faz uma mistura de Ozzy com Robert Smith e algo de Edward Mãos de Tesoura velho. Mas o filme é um lixo insuportável. A trilha sonora, fraca, é de David Byrne e ele aparece como ele-mesmo, um tipo de grã-mestre da arte...Como se pode fazer um filme tão boçal, morto, flácido, tolo, sem porque? Como pode algum crítico o elogiar? Arghhhhh!!!!!
  

OLIVIER/ VISCONTI/ RAY/ RENOIR/ CLAUDIA/ HUXLEY/ STAMP

ORGULHO E PRECONCEITO de Robert Z. Leonard com Greer Garson, Laurence Olivier, Maureen O'Sullivan e Edmund Gwenn
Olivier compõe um excelente Mr.Darcy. Sua mistura de timidez com altivez atinge a medida certa. O roteiro deste belo exemplo de produção MGM, ou seja, muito luxo, é de Aldous Huxley. Sim jovens, houve um tempo em que gente como Huxley, Faulkner e Hecht trabalhavam para Hollywood. O roteiro consegue condensar o romance de Austen em duas movimentadas horas. Não senti falta de nenhuma cena. Há uma versão recente deste livro igualmente boa. Nota 8.
VAGAS ESTRELAS DA URSA de Luchino Visconti com Claudia Cardinale, Jean Sorel e Michael Craig
Logo após o soberbo O Leopardo, Visconti fez este pesado drama sobre casal de irmãos que tem relação dúbia ( incesto? ). Claudia, estranhamente feia, é uma recém casada que leva o marido inglês a mansão onde ela e irmão cresceram. O irmão, meio doido, logo tenta voltar aos tempos de contato íntimo com a irmã. O filme não flui. Visconti tenta se renovar, pega alguns tiques da nouvelle-vague e se perde. O visual é estranho, às vezes se parece com tv. A questão é: quem se interessa por personagens tão vazios? Nota 4.
MORTE EM VENEZA de Luchino Visconti com Dirk Bogarde
Dificil falar desse filme. Porque? Por ser um dos mais esquizos filmes já feitos. E também por ser exemplo de um tipo de filme velho, morto, mumificado. Vamos aos porques. Ele é esquizo por ser ao mesmo tempo ruim e excelente. Excelente são as roupas de Piero Tosi, figurinista mais famoso do mundo. Um desfile de detalhes, cores, requinte, soberba. Excelente são os cenários e a fotografia de Pasqualino de Santis. Veneza no explendor. A produção reformou e restaurou um hotel de verdade para filmar o luxo de 1911. Excelente a trilha sonora de Mahler, de tristeza cósmica. Então a gente fica meio hipnotizado ( se voce for um esteta ) admirando o visual e escutando a trilha sonora. Mas por outro lado, o filme em si é risivel. Discussões filosóficas sobre arte, pedantes e redundantes; movimentos de câmera irritantes e atores conduzidos como zumbis empaturrados. O efebo é anódino e Bogarde interpreta Thomas Mann como um entediado burguês. Detalhe: é um filme com som à Jacques Tati: diálogos que não se ouvem e muito som ambiente, o que ressalta seu caráter visual, de turismo em Veneza. Não é um filme, é uma coleção de souvenirs de uma viagem de um velho. Fofocas: Visconti era tão perfeccionista, que na obra-prima O Leopardo, ele atrasou a filmagem em horas para que em cena as champagnes estivessem na temperatura exata. E observe em como Dirk Bogarde tem o rosto de Johnny Depp!!!!!!! Nota 5.
BILLY BUDD de Peter Ustinov com Terence Stamp, Peter Ustinov, Robert Ryan, Melvyn Douglas e Paul Rogers
Navios ao mar. Preto e branco fantástico de Robert Krasker. Um marujo ingênuo é recrutado para a guerra. No navio ele se verá em conflito com o mal nada ingênuo. Stamp faz um retrato preciso, seu marujo é exemplo do bem e do bronco, é tolo e é angelical. O filme jamais filosofa por nós. Ryan é o mal, e o mal vence. Uma aula de cinema. Nossa mente fica completamente ligada ao filme, ele diverte e faz pensar. O final é digno de grandes filmes, exato. Nota 9.
O ATALHO de Kelly Richardt com Michelle Willians, Bruce Greenwood e Paul Dano
Western de arte. Argh!!! Para mostar três meninas cruzando um riacho são gastos vários minutos. Há quem confunda arte com fazer sofrer. É o pensamento do jeca: se voce quer arte, sofra de tédio. Imagens escuras, múrmurios, ação lentíssima, pseudo-profundo. Um porre!!!! Pra que fazer isso? Nota ZEEEEEEERO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
A SALA DE MÚSICA de Satyajit Ray
Um nobre empobrecido. Um palácio sujo. Um rio vasto. E muita música. Com poucos elementos Ray faz um imenso filme. É cheio de falhas. Algumas cenas são excessivas e outras chegam perto da caricatura. Mas perto do valor de seu todo é uma obra de poesia cósmica e original. Cinema atemporal, belo e sincero. Nota 9.
O SEGREDO DO PÂNTANO de Jean Renoir com Dana Andrews, Walter Huston, Anne Baxter, Walter Brennan, Ward Bond
Pântanos. Belas imagens da água e lodo. Um jovem atrás de seu cão conhece condenado que lá se esconde. A história corre através dessa relação e da relação do jovem com seu pai e com sua vila. Renoir fugiu da França nazista e fez alguns filmes americanos. São bons filmes, mas não procure o estilo Renoir neles. São impessoais. Nota 6.

BRINQUEDO PROIBIDO/BURTON/TARZAN/MIDNIGHT COWBOY/YVES ROBERT

ON PURGÉ BEBÉS/ CHARLESTON de Jean Renoir
O primeiro é uma insuportável "comédia". Verborrágica, mal feita, chata de doer. O segundo é um curta mudo sobre visitante de outro planeta que encontra uma aficcionada por charleston. O ET é um negro africano que vem à Paris num disco voador. A França deste futuro renoireano é uma decadente Africa selvagem. O filme é muito divertido, e os dois dançam maravilhosamente bem. Inclusive um moonwalk !!!!!! Para quem gosta de jazz é obrigatório. nota zero e nota 5.
A GUERRA DOS BOTÕES de Yves Robert
Famosíssimo e premiado filme sobre o fim da infância. Trata-se de uma comédia e ele funciona. Numa zona rural, bando de meninos briga em guerras, cheias de táticas e militarismos vários, contra a turma do bairro rival. Os atores infantis e adolescentes estão perfeitos e o filme transpira uma poesia simples e serena de infancia muito feliz. Em contraste, os adultos estão todo o tempo ocupados com tolas rivalidades : percebemos que a rivalidade "de brinquedo" das crianças é muito mais vital. No fim, tememos pelo dramalhão e pela apelação, mas não, a mensagem é a de que a liberdade sempre vence e de que nada é mais livre que uma criança. Belo e necessário filme. nota 9. ( Há uma cena de nú que seria impensável hoje. )
MIDNIGHT COWBOY ( PERDIDOS NA NOITE ) de John Schlesinger com Jon Voight, Dustin Hoffman, Viva !, Brenda Vaccaro
É um pesadelo urbano em technicolor borrado. O filme nada envelheceu, infelizmente as cidades continuam as mesmas. Trata-se de uma maravilhosa parábola sobre a solidão ( o roteiro, do grande Waldo Salt, é perfeito ). O tolo cowboy ( um Voight que domina o filme em desempenho histórico ) é doido por mulheres e dinheiro. A ironia é que ele vai encontrar dinheiro em gays solitários e o amor com um tuberculoso repulsivo ( Dustin um pouco caricato demais. Mas talvez o filme precise de seu humor. Sem seu Ratzo, o filme seria insuportávelmente triste ). Acompanhamos sexo homo em cinema, festinha da turma de Andy Warhol ( maravilhosa !!!! ), mulheres casadas que só querem sexo e nossos heróis, completamente derrotados e esquecidos de sí-mesmos. Schlesinger, inglês vindo do new-cinema, dirige com olhar estrangeiro, observa sem se envolver; a trilha sonora tem John Barry, o cara que fez as trilhas de james Bond, e que cria aqui um tema de harmônica que se tornou universalmente aceito como um hino a solidão urbana. Quanto a famosa cena final : é uma das mais dolorosas já filmadas. Sentimos uma profunda compaixão por Voight. Tudo deu errado para esse cowboy. Em nível simbólico, o filme, ao ganhar toneladas de Oscars, marca o fim da América dos cowboys ( se fala de Gary Cooper no filme ) e dos imigrantes sonhadores ( é este o papel de Dustin ). É o réquiem das duas forças que fizeram o sonho americano. O filme é vasto, rico, nobre e profundamente amargo. nota 9.
TARZAN de WS VanDyke com Mareen O'Sullivan e Johnny Weissmuller
Era para ser um filme médio da Metro. O sucesso foi tanto que virou uma longa série de filmes. Johnny é o melhor dos Tarzans, ele é selvagem porém amável, forte, mas jamais idiota. Mas, quem diria que a atriz que eu considero a mais bela do cinema é a mãe de Mia Farrow ? Pois é, trata-se desta Jane, O'Sullivan, maravilhosa mistura de força interior e travessuras mimadas, de uma morena como só a Irlanda fazia. Ela é a Musa. O filme cria a clássica aventura de terra distante ( é de um tempo onde ainda existiam terras distantes. Não se precisava criar viagens no tempo ou intergaláticas para se chegar à aventura. ) É uma Africa de bichos se engolindo, selvagens ameaçadores, tesouros secretos e onde, chocante para nós, tudo que se move merece um tiro. Os caras atiram em tudo, sem dó. Jane tem uma clãssica fala racista: "- ...mas Tarzan não é um animal ! Ele é branco ! " Hoje dá pra rir de tanta tolice, na época era trágico. Jackie Robinson, Paul Robeson e Jesse Owens que o digam. nota 6.
EDWARD MÃOS DE TESOURA de Tim Burton com Johnny Depp, Dianne Wiest, Winona Ryder e Alan Arkin
O melhor é a trilha sonora de Danny Elfman. Temo que os filmes de Burton não sobrevivam ao tempo ( que é o único crítico que importa ). Apesar de seu imenso talento para criar um clima de fábula, apesar de seu genuíno amor ao cinema, seus filmes carecem de força, de fibra, de élan. Este é um exemplo : revendo-o agora, desejando adorá-lo, me pego gostando de sua bondade, do visual fake e hiper colorido, da mensagem singela. Mas ele é como um doce que passou do ponto, não dá vontade de quero mais. Gostamos, mas jamais amamos. Ainda emociona Winona cercada pelos flocos de neve, mas o filme é uma refilmagem de "Juventude Transviada" em Disneylização. O filme com James Dean é imensamente maior. Nota 6.
O BEIJO AMARGO de Samuel Fuller com Constance Towers
Há quem chame Fuller de gênio. Eu não. Diretor durão, teimoso, que "não deu certo", foi descoberto pela turma dos Cahiers em 59/60 ( Truffaut, Chabrol, Godard, Rhomer, Rivette ). Este filme é obra de um louco. A primeira cena, em jazz, mostra uma puta careca surrando um gigolô. Pois essa mulher, em cidade pacata, se torna enfermeira de crianças deficientes. E o filme vira drama edificante. Depois ela faz cafetina engolir dinheiro e se enamora de pedófilo milionário. O filme é tão neurótico, suas cenas filmadas de um modo tão abrupto e seco que não há como respirar. Você o repele. A diferença é que para os fãs de Fuller ( Wenders também o adora ) esse clima é fascinante. Para mim é apenas feio. nota 2.
A BESTA HUMANA de Jean Renoir com Jean Gabin, Simone Simon e Fernand Ledoux
Crime e paixão no ambiente ferroviário. Gabin é um doente mental que lá trabalha, Simone, linda, uma esposa infiel que cometeu um crime, e Ledoux é o marido corno e assassino, viciado em jogo. O elenco está bem, com excessão de Gabin que exagera no ar fatalista. As cenas documentais que mostram o trabalho nos trens e a vida nos bares são excelentes. Mas o drama em sí é banal. Renoir é bom diretor, irregular, às vezes genial, mas é super valorizado. nota 5.
BRINQUEDO PROIBIDO de René Clement com Brigitte Fossey e Georges Poujourdy
Quando em 59/60 Truffaut e Godard dominavam as telas e os textos da França ( e influenciavam toda a crítica do mundo ) Clouzot e Clement eram ridicularizados. Eram considerados velhos, acomodados, passados. Na verdade o que não lhes perdoavam era o fato de serem bem sucedidos, premiados, ricos. Clement ganhara dois Oscars, em 50 e 52, e este filme é o seu segundo Oscar ( ainda venceu em Veneza ). Trata-se, talvez, do maior filme já feito sobre a infância. Vamos a história : Uma estrada, 1940. Gente foge dos bombardeios nazis. Confusão de carros, carroças, e de aviões que atiram sem dó. Uma menina tem seus pais metralhados ( e seu cão também ). O filme acompanha o que ocorre com essa criança. Ela vai parar numa fazenda onde é acolhida. Mostra-se então a vida dos adultos a dela e de seu novo amigo, o filho do fazendeiro, de onze anos. Os dois se tornam companheiros e assistimos a delicada história dos dois. Eles se apaixonam, mas se apaixonam como só um menino de onze e uma menina de sete anos podem se apaixonar. Pauline Kael disse que se o filme acompanhasse apenas a história dos dois ele seria tão duro que ninguém conseguiria parar de chorar. Sábiamente, Clement mostra também a vida adulta ao redor, e a vida desses adultos é uma comédia, grossa, vulgar, real. O filme então não é um drama choroso, apesar da tristeza do tema; nem é uma fábula infantil sobre adultos cruéis ( eles nada têm de ruins ). É sobretudo um poema, belíssimo, sobre a solidão da infância, sobre o mal que um adulto pode fazer sem o saber, sobre a covardia da guerra, e é sobre a morte também. A diversão das crianças é construir um cemitério de animais, para que "seus corpos não fiquem na chuva". A morte trouxe a menina para a vida do menino, ele lhe dá um cemitério de presente, e corpos de bichos que morreram. O filme é devastador, mas repito, jamais se torna um drama.
A menina, Brigitte Fossey, tinha oito anos quando fez o filme. Sua atuação é um milagre. Nunca ví nada parecido. Ela depois se tornou atriz adulta, estando até em "O homem que amava as mulheres" de Truffaut. O menino está magnífico, um pequeno amigo, mentiroso, ladrão, gatuno apaixonado, rebelde. O final desta simples obra-prima é um dos maiores manifestos já feitos contra a guerra : nos dá um soco no queixo e se vai embora, abandonando-nos grogues em meio ao horror. O que foi feito dessa criança ? Porque ela não pode ser simplesmente feliz ?
Uma das maiores tragédias de nossa época é exatamente o fato de não permirtirmos as crianças que sejam crianças. Que vaguem sem rumo pelo tempo, pela rua, pela vida. Aqui elas fazem isso, em meio ao inferno, e conseguem ser quase felizes ( no absurdo ). Este é um filme que dignifica o cinema. É nobre, humano, de verdade, inteiro. Nos faz querer fazer o bem. Mas atenção : não é um drama ! nota Dez.

DE PALMA/PANDORA/RENOIR/JAGGER/FEITIÇO DO TEMPO/

SAUDAÇÕES de Brian de Palma com Robert de Niro e Gerrit Graham
Primeiro filme de Brian. Recém saído da escola, ele faz um longa que é retrato de seu tempo : amador, livre, caótico, ousado. Todos os temas que ele desenvolveria pelos 40 anos seguintes se encontram aqui : paranóia, sexo, realidade e imaginário, limites da liberdade. De Niro, muito jovem, já mostra o carisma que faria dele um ícone de sua geração. Um filme irregular, muito feliz, cheio de esperanças e de rebeldia alegre. Filho de Godard, Truffaut e Malle. Veja os extras! Nota 5.
IMPÉRIO DO CRIME de Joseph H. Lewis com Cornel Wilde, Richard Conte e Jean Wallace.
Uma obra-prima do filme noir. Escuridão e muita sombra, personagens angustiados, violência e sexo. Tudo filmado com exemplar sentido de clima, de sugestão, de ritmo, pelo subestimado Lewis. O roteiro, que trata de traição, funciona como uma bomba relógio : você espera todo o tempo pela explosão. Conte está sexy, cruel e estranhamente simpático. Há uma cena de sugestão de sexo oral surpreendentemente despudorada para a época e Jean faz uma heroína muito atraente. Em termos de filme noir, este é dos maiores. Nota DEZ.
PANDORA de Albert Lewin com Ava Gardner, James Mason, John Laurie.
Lewin era um excêntrico. Fez apenas dois filmes : Dorian Gray e este Pandora. E que filme louco!!! Ele trata de espíritos apaixonados, mulher fatal, touradas, maldições e Espanha. Tudo com a fotografia maravilhosa de Jack Cardiff, um dos maiores da história. Todas as cenas se passam no amanhecer ou no anoitecer, e o filme tem um ar de irrealidade hiper-colorida. Ava está bela como nunca, alguns closes chegam a se parecer com pinturas da renascença. Mason, grande ator, transpira tristeza neste drama poético exagerado e fascinante. Nada aqui faz sentido, mas o filme nos vicia como morfina. Um filme muito original que quase cai para o ridículo todo o tempo, mas que vence no final. Impressionantemente bonito. Nota DEZ.
3:10 TO YUMA de Delmer Daves com Glenn Ford, Van Heflin e Felicia Farr.
É superior a sua refilmagem com Crowe e Bale. É superior por ser mais seco, simples, direto. A fotografia, um preto e branco metálico, é muito eficiente e Glenn Ford tem um cinismo mais aliciante que o de Crowe. Um bom western. Nota 7.
ONDE ESTÁ A LIBERDADE ? de Roberto Rosselini com Totó.
De todos os diretores cult da história nenhum é técnicamente mais pobre que Rosselini. Chega a impressionar sua falta de habilidade para dirigir atores, para posicionar a câmera e principalmente para cortar. Sua fama se deve a sua coragem. A coragem de fazer filmes que ninguém queria fazer. Este trata do velho tema do presidiário que opta por voltar a prisão. Totó é ator gênio. Seu rosto, extremamente cômico, transmite dúzias de informações ao mesmo tempo. O filme é salvo por seu talento sem igual. Nota 5.
CANINOS BRANCOS de Randal Kleiser com Ethan Hawke e Klaus Maria Brandauer
Quem assistir esperando ver Jack London irá se decepcionar. O livro trata do cão-lobo, fala de evolucionismo. O filme é puro Disney. Boa paisagem, belo cão. Nota 3.
O FEITIÇO DO TEMPO de Harold Ramis com Bill Murray e Andie MacDowell.
O melhor crítico americano de hoje chama este filme de genial ( Roger Ebert ). Nem tanto. Mas ele merece a fama que tem. È aquele filme do dia que se repete para sempre. Murray, vítima desse encanto ( e o filme tem o mérito de não o explicar ) reage a princípio com desespero, depois se diverte, entra em depressão e aprende por fim a usar esse tempo. Descobre o outro. Este é chamado de o melhor retrato já filmado do que seria uma análise freudiana bem feita : um reviver de momentos que se eternizaram, até sua resignificação e superação. Bill é perfeito para fazer tipos derrotados e Andie nasceu para ser a ingênua feliz. O filme é muito melhor do que parece, chega a ter significados cosmológicos e existenciais. É um filme típico de "cinema independente esperto e cult" antes da aparição de Charlie Kauffman. Nota 7.
O HOMEM DO OESTE de Anthony Mann com Gary Cooper, Lee J. Cobb e Julie London.
Ninguém fez westerns como Mann. Seus filmes, econômicos, simples, possuem sempre a ressonância do teatro grego. São seres gigantescos, arquétipos sofredores, que lutam em vão contra os deuses do destino. Seu tema é o do homem tentando superar sua sina. Um tema de coragem. Nesses temas, o ambiente é sempre o oeste vazio, o espaço de solidão, o vácuo da busca. Cooper está soberbo. Ele faz aqui tudo aquilo que Clint começaria a fazer quinze anos mais tarde. O fracasso impera nos filmes de Anthony Mann. Diretor que em westerns só tem Ford em sua altura. Soberbo. Nota DEZ.
A CADELA de Jean Renoir com Michel Simon.
Este filme me fez finalmente entender o porque de tanto diretor de cinema chamar Jean de "o maior". Renoir filma adolescentemente. Ele é brincalhão, irresponsável, livre. Mas tudo a custa de talento, de saber-fazer, de risonha sorte. Os filmes dele têm tudo para dar errado, e dão certo! Este, história de homem mais velho arruinado por vagabunda que é apaixonada por gigolô, é brilhante. E feliz, estranhamente feliz. Uma história tão trágica, e que se torna feliz pelo brilho de Jean. Renoir... deve ter sido duro ser filho do grande pintor Auguste. Mas Renoir venceu. Dizem que ele era muito alegre, amante de boa comida, vinhos, mulheres bonitas. Seus filmes passam isso. Sem esteticismo, sem pedantismo e nenhum ponto de intelectualismo. Renoir simplesmente filma brincando. Ele ama filmar. Quanto a Michel Simon... basta "L'Atalante" para dar à ele o nome de melhor ator da história. Aqui Michel faz o que sabe, ser um gênio. Nota 8.
VELVET GOLDMINE de Todd Haynes com Ewan McGregor, Christian Bale.
Um emblema de minha infância. Podia e devia ser muito mais!!!! Mas é ok. Leia o que escrevi abaixo. Nota 7.
O MISTÉRIO DA TORRE EIFFEL de Julien Duvivier
Quanta invenção! Julien liga a câmera e filma a Paris-mito, a Paris de antes da guerra, a cidade que não existe mais. O filme, aventura rocambolesca sobre herança, vai de Nice à Paris, de circos à mansões. Cheio de alegria, de humor, de agilidade. Uma bela surpresa. nota 7.
PERFORMANCE de Donald Cammel com James Fox, Mick Jagger e Anita Pallemberg
O glitter nasce aqui. Jagger, diferente de todo rock-star da época, diferente de todo rock-star de hoje, é um monstro de dubiedade. Ele não se parece com um homem e nem com uma mulher, é hermafrodita. O filme trata disso : um gangster do sub-mundo londrino se esconde na casa de um ídolo pop decadente. Lá, seduzido por sex-drugs e magia, ele se transforma em Jagger, e Jagger se torna ele. ( Na vida real isso ocorreu : o Mick de Jumping Jack Flash morre em 1971. E renasce como o Big Boss do circo do rock ). Fox ficou tão doidão nas filmagens que largou a carreira e foi viver na India. O diretor se suicidou nos anos 80 e a linda e muito perigosa Anita era a esposa de Keith Richards na época ( que a roubou de Brian Jones, provocando sua dèbacle ). O filme é cheio de falhas, principalmente na fraca meia hora inical, mas depois cresce muito ( quando Mick e Anita surgem ) e é profundamente inspirador. Nota 7.

SPIRIT/ONIBABA/RENOIR/JASÃO E O VELO DE OURO

THE SPIRIT de F. Miller
Will Eisner criou o Spirit como um detetive noir. Ou um observador da sordidez humana. Uma genial criação, cheia de sombras e miséria. Este filme é um testemunho vivo do nível de idiotia que o cinema chegou. Uma bobagem feita por uma besta para um bando de deficientes mentais. O atorzinho desperta compaixão. nota muito abaixo de zero.
PAPAI NOEL AS AVESSAS dirigido por qualquer um. com billy bob thornton.
Isto deveria ser uma comédia. Mas não provoca qualquer riso. Elogia o mal caráter. Prova o fato: a América acabou. Se tornou um tipo de Brasilzão onde neva. Um país de "jeitinho ". nota zero!
SASKATCHEWAN de Raoul Walsh com Randolph Scott
Faroeste passado no Canadá. Paisagens deslumbrantes. Tem mensagem pró-indios e a competencia de Walsh, um diretor que vai lá e faz a ação acontecer. nota 6.
JASÃO E O VELO DE OURO de Don Chaffey
Os efeitos especiais de Ray Harryhausen tinham o encanto de brinquedos de armar : voce sabe que é um brinquedo, a diversão é ver o brinquedo se mover. Como extra, este filme traz Tom Hanks entregando Oscar especial a Harryhausen e dizendo : - Muitos dizem Cidadão Kane, muitos dizem Casablanca; pra mim é Jasão e o velo de Ouro !... nota 7.
ROMEU E JULIETA de Baz Luhrman com Leo di Caprio
Eu adoro este filme ! Muito superior a Moulin Rouge. Colorido, leve, encantador. nota 7.
A ÚLTIMA NOITE de Robert Altman com Kevin Kline, Meryl Streep, Woody Harrelson
Eis o último filme do mais livre dos cineastas. O que ele filma aqui ? Um programa de rádio do interiror dos USA. É só isso. Simples, e portanto digno. Mas ao mesmo tempo revela o maior defeito de Altman : desleixo. Longe de obras-primas como Mash, Short Stories ou Nashville. 4.
A CARRUAGEM FANTASMA de Victor Sjostrom
Antes de ser o ator de Morangos Silvestres, Sjostrom foi o maior diretor da Suécia e ídolo de Bergman. Esta é sua Obra máxima : um fantástico e lúgubre filme sobre a morte. Imagens de sonho, uma trilha de música eletrônica soturna, atores "tomados". Terrível. Um pesadelo. nota 7.
WOLWERINE com Hugh Jackman
É um ator legal. Dá vontade de ser amigo dele ( mas daí a ser grande ator existe imensa diferença. Quem quer ser amigo de Marlon Brando ? ). Os efeitos especiais destróem o filme : tudo parece falso, de plástico, irreal. É um Wolwerine domesticado, bastante boa-praça, o que aniquila sua originalidade. Mas Hugh é gente boa... nota 4.
ONIBABA de Kaneto Shindo
No Japão dos samurais, velha e nora vivem, em meio a mar de bambú, de roubos, assassinatos, pilhagem. A nora se torna amante de amigo do marido morto e o filme se faz bastante sensual. A velha intervém, e a calamidade final irrompe. Um filme muito ousado e cheio de beleza cruel, dura, sádica. O Japão dos anos 60, com seu terrorrismo de esquerda, era um país enlouquecido. Este filme, genial em seu radicalismo, prova isso. A trilha sonora é coisa de mestre. Nota 8.
SANTA FÉ de Irving Pichel com Randolph Scott
Fraco western de rotina. nota 2.
UMA FESTA NO CAMPO de Jean Renoir
Nunca entendí o porque de Renoir ser considerado o maior diretor da história do cinema ( principalmente pelos colegas diretores ). Assiti todos seus principais filmes, e embora eu goste de todos, nenhum eu chamaria de obra-prima. Mas este, curto, apenas 45 minutos, começa a mudar minha idéia. Lindo, com um ar de plena felicidade. Mostra o que era a França de Renoir-pai, de Monet, de Matisse. Alegre, safado, poético, solar. Quase um milagre em película. Detalhe: o assistente de direção é o gênio da fotografia : Henri Cartier Bresson, o que diz muito sobre suas imagens : nunca um rio foi melhor filmado. nota 8.
A FILHA DA ÁGUA de Jean Renoir
Eis o primeiro filme de Renoir. Mudo, conta as atribulações de uma orfã. No campo, em meio a ciganos, burgueses, camponeses. Não é considerado um dos melhores Renoir, mas, com surpresa, ele me conquistou. Cenas como a do quase estupro pelo tio ( com cortes rápidos e cruzados ) e do incendio na fazenda, são de estupenda genialidade. O filme flui como um sonho. É agradável, belo, poético e leve. A fotografia, cheia de estilo, seduz. Lhe colocaram uma trilha "francesa" que ajuda muito. Uma bela surpresa. Uma quase obra-prima. nota 9.

RENOIR/LOLITA/TRUFFAUT/KIRK DOUGLAS/LUMET

MULHER COBRA de robert siodmak
um clássico kitsch, referencia para Almodovar e filmes como Hairspray. os atores são hilários de tão ruins, os cenários são dignos da Imperatriz Leopoldinense e a história fala sobre maldições, erotismo e mitos. nota 1.
POSSUÍDOS de william friedkin
ashley judd no quase pior filme de todos os tempos. um filme que ofende qualquer inteligência mediana, com seu mix de modernices vazias, sustos previsíveis e diálogos de retardados. ZERO.
A CARRUAGEM DE OURO de jean renoir com anna magnani.
de todos os grandes é renoir o mais hiper-valorizado. seus filmes são bons, a regra do jogo é excelente, mas jean jamais é um gênio como muitos dizem. este é um filme de bela fotografia, humor leve e festeiro e com bonita mensagem pró-liberdade. mas não é genial ou especial. 6.
LOLITA de stanley kubrick com james mason, peter sellers, shelley winters e sue lyon.
todo aspecto político do delicioso livro de nabokov inexiste neste freudiano filme de kubrick. inexiste o humor que faz do livro uma obra genial e divertida, inexiste o barroquismo da linguagem do dandy nabokov, o que resta? uma lolita velha demais ( no livro ela tem 12 aparentando 11, aqui parece ter 17 ), um james mason sublime ( ele carrega o difícil personagem com leveza e humor- deve ter lido e entendido o livro ), um sellers asqueroso ( ter perdido o oscar é um vexame do prêmio ) e um clima geral de pesadelo e paranóia que o romance não tem.
mesmo com esses senões, é um filme adulto, bonito e que hipnotiza ( te conduz a algum lugar). 7.
O GAROTO SELVAGEM de truffaut.
seco e simples, truffaut dá a sensação de ter feito algo como um documentário de uma época em que não existia o cinema. nestor almendros dá um show de fotografia. 4.
DUELO AO SOL de king vidor com jennifer jones e gregory peck.
é western portanto é bom. uma ópera a cavalo, um história que beira o ridículo em seu exagero de taras e emoção. jennifer jones chegava a ser um crime de tão bonita e peck está ruim como sempre. mas se vê com prazer... nota 5.
ELEIÇÃO de alexander payne.
payne, coen, burton, hanson, wenders, clint, ridley, scorsese, wall e, o cinema de hoje tem alguns nomes interessantes, seu maior problema são atores ( muitos poucos tem algum carisma, o que abre campo para absolutas nulidades ) e o público atual, que não tem nenhuma sofisticação cinematográfica. este filme, com a maravilhosa reese witherspoon ( tenho um caso de paixão com ela- a melhor comediante de sua geração ) é uma diversão para adolescentes que- milagre- não fede a burrice e histeria. seu único defeito é que sua vilã ( reese ) que deveria ser irritante se torna adorável. nota 6.
MARCHA DE HERÓIS de john ford com john wayne e william holden.
o homero do cinema em filme menor. mas um filme menor de ford é um filme gigantesco para qualquer outro diretor. aqui ele trabalha com sua mitologia de heroísmo, liberdade e solidão. wayne está especialmente bem. filme para quem sabe o que significa uma palavra como virilidade. 7.
MACBETH de orson welles
talvez esta seja a melhor adaptação de shakespeare para a tela. um filme muito barato, um cenário apenas, poucos atores. sombras e escuridão, movimentos exatos de camera, falas claras e bem ditas, clima e emoção. uma aula de requinte, de cuidado, de perfeição. jeanette nolan como lady macbeth chega a arrepiar. 8.
ROMANCE E CIGARROS de john turturro com james gandolfini, kate winslet, susan sarandon. alguém precisa avisar kate que seu tipinho sujo já deu. ela faz sempre o mesmo personagem ( a gorducha gostosa ). este é um musical chato, vazio, pesadão, insuportável. ZERO.
EQUUS de sidney lumet com richard burton e peter firth.
lumet sabia filmar neuroses. este texto de shaffer foi imenso sucesso teatral em todo o mundo ( aqui feito por paulo autran e ewerton de castro ). burton está meio sonolento, mas sua voz era tão poderosa que ele leva o duro personagem do analista cansado com facilidade. um filme obrigatório para psicólogos, filósofos ou cinemamaníacos. um filme do tempo em que havia público sério para filmes simples, sem enfeites desnecessários. uma delícia intelectual. 7.
A SEREIA DO MISSISSIPI de truffaut com jean paul belmondo e catherine deneuve.
françois truffaut era fanático por hitchcock e aqui tenta fazer um filme de hitch. tenta criar um clima de vertigo. erra feio e dá vexame. o filme ´e aquilo que o mestre alfred nunca foi- chato. 1.
CAR WASH de michael schultz.
filme barato de latinos e negros dos loucos anos 70. a trilha sonora tem um arraso de ritmo e tudo aquilo que os filmes de tarantino e soderberg têm: funky. 3.
FUGA ALUCINADA de john hough com peter fonda.
um sub- vanishing point. 3.