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O PRAZER DE OUVIR. LOVE OVER GOLD. DISCO DO AUGE DA TÉCNICA DE GRAVAÇÃO.

Uma das maiores tragédias da era do streaming é a morte da apreciação sonora. A gravação sonora evoluiu durante cem anos. Do cilindro de cera ao disco de vinil. Da Alta Fidelidade ao som estereofônico. E então os 48 canais nos anos 70. A High Fidelity teve seu ponto alto nos discos de Sinatra gravados entre 1956-1959. Se voce puder ouvir em vinil, em aparelho com dois alto falantes distantes um do outro, ouça. Quando os metais da orquestra de Billy May ou de Nelson Riddle começarem a soar voce vai entender o que digo. É como se 48 músicos estivessem na sua casa. Quanto ao som stereo, use fones de ouvido. Aconselho a escutar Dear Mr Fantasy do Traffic. Em vinil, claro. O grande salto de qualidade, o pico que foi perdido, se dá por volta de 1973. Os estúdios se tornam instrumentos, os engenheiros de som viram músicos, os LPs são transformados em caixas de surpresas sonoras. Aja, do Steely Dan talvez seja o mais sutil desses monumentos. Mas há centenas de discos feitos entre 1973-1983 que exemplificam esse ponto alto. A decadência começa com o barateamento dos teclados, mais ou menos em 1984, e depois com o CD, que realmente corta os agudos e graves que seriam "indesejáveis". Em nosso tempo, 2021, nada disso importa mais. Música é escutada na rua e no carro. A qualidade sonora pouco importa. Músicas são gravadas em ritmo de quem faz hamburger no Mac. Todos os artistas usam os mesmos engenheiros de som. Quando os usam. --------------------------------------------- LOVE OVER GOLD é o disco problema de uma banda que hoje tem a maldição de ser odiada por quem não a conhece. Dire Straits entre 1978 e 1982 era uma banda muito interessante. E este disco, o que menos vendeu, é de longe seu melhor. Ele exemplifica à perfeição aquilo que falo: é um ponto alto na possibilidade de se usar seus ouvidos. ------------------------- Feche-se no quarto e coloque seus fones de ouvido. Coloque o vinil. Ouça. E se encante. É um dos melhores discos para se viajar mentalmente. Ele é visual, todo som parece contar um filme. A guitarra de Mark Knopfler nunca soou tão cristalina. Ecos que flutuam sobre a água. A bateria de Pick Withers, gigante, tem a sonoridade chique e vibrante. Exata. Cada canção, são apenas cinco, é desenvolvida com calma. Um piano aqui, vibrafone que surge do vazio, violão cigano na noite, um synth discreto. A elegância é absoluta. E seus ouvidos são usados em sua verdadeira plenitude. A melhor faixa é Private Investigations, sussurros numa madrugada perdida. Voce mergulha nesses sons. --------------------------- Nesse derradeiro 1982 aconselho que voce também ouça o disco de Donald Fagen lançado nesse ano, talvez o disco mais trabalhoso já gravado. Mas há muito, muito mais. Isso é educação auditiva. Isso é sublime.