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LLOYD COLE - DON'T GET WEIRD ON ME
Escrevi em outro post que uma boa banda ou artista POP tem em média 3 grandes anos, depois ele passa a reciclar aquilo que fez. Há excessões. Os Rolling Stones tiveram 7 grandes anos e o Led Zeppelin também os mesmos sete. Se voce olhar com isenção, verá que gente como U2 ou Pearl Jam foram inspirados durante 3 anos, depois tudo foi um grande refazer. Lloyd Cole foi grande em 1984, 1985 e 1986. Os tais 3 anos de média. O disco do qual falo agora é de 1991, seu segundo solo após o fim de sua banda, os Commotions. Eu sou apaixonado por Rattlesnakes e Easy Pieces, os discos de 84-86 da banda. Mas, como Cole é um grande cara, é óbvio que nada do que ele faz pode ser ignorado. Este disco tem alguns momentos de sublime beleza. Lloyd Cole entende o que seja belo. Não nega sua raça. ---------------- Nas seis primeira faixas ele usa uma banda convencional de rock. O baterista e o guitarrista são Fred Maher e Robert Quine, os dois vindos da banda de Lou Reed, músicos que tocaram na obra prima que é New York. Mas não espere que Lloyd faça aqui um disco à Lou Reed. O som nessas faixas é POP bonito, meio rock meio folk, o estilo que ele seguia em 1984 porém com menos euforia e menos ingenuidade. Menos belo. Nas 5 faixas seguintes ele usa uma orquestra arranjada por Paul Buckmaster, e aí a coisa fica belíssima! --------------- Buckmaster é figura importante do rock e do Pop. Em 1969 foi ele quem fez os arranjos de Space Oddity de Bowie e em 1970 trabalhou na orquestra que acompanhava Elton John em Your Song. Nas décadas seguintes continuou sendo chamado para escrever aquele modo sublime com que ele embala e enlaça melodias inspiradas. Neste disco ele usa seu dom com elegância e discrição. Lloyd Cole faz uma mescla de Burt Bacharach com Leonard Cohen. Funciona às maravilhas, são 5 grandes canções. É um belo disco.
MAGIC AND LOSS, LOU REED
Difícil de ouvir. Se voce não entende inglês e ficar apenas na melodia, eis um disco lindo. As músicas, feitas no mesmo estilo de New York, o grande album de 1989, são delicadas, calmas, cheias de belos acordes de guitarra semi-acústica. Lou canta e declama ao mesmo tempo, e sua voz, em 1992, está em seu melhor momento, grave, firme, absoluta. Mas as letras....as letras... Lou fala de câncer, de hospital, de cinzas, de morte. Como ele sempre fez, toda a vida, descreve, Lou descreve sem emoção, distante, porém observador apurado. Se fala de radiação, drogas para dor, carne que se dissolve, despedidas, dor, desespero. Na época Lou perdera dois amigos e o disco é para eles. Como Lou Reed fizera antes ( Penso em The Bells, Street Hassle ) ele grava um disco que é perfeito, magnífico, belíssimo, mas ao mesmo tempo quase impossível de ouvir, por causa de sua dor, sua pornográfica descrissão da morte, sua escuridão. Um mergulho no vazio e uma busca por magia, por alívio, por algum sentido. ------------ Que Deus nos salve dessa dor e que Deus me poupe de mergulhar neste disco outra vez. Lou Reed envelheceu lindamente, mas eu me abstenho de o acompanhar. PS: Na época alguns críticos o acusaram de forçar a mão. Acharam o disco quase fake. E estranhamente, 1992 era tempo grunge, foi um dos discos que mais vendeu em toda obra de Lou Reed. Não percebi nada de forçado. O pesadelo parece real. Quanto a ter vendido bem, em se tratando de Lou Reed....bem....em 92 até o Sonic Youth vendia.
UMA NOITE ETERNIZADA PARA SEMPRE OU MAIS UM POUCO...
Ela levou um gravador. Pesou e o rolo de fita atrapalhou sua noite. Mas valeu a pena. A banda não faltou. Era 1969 e havia por volta de 60 pessoas no lugar. Ela ficou sentada numa das mesas, bem na frente do palco e ligou o PLAY REC. Agora chove e é uma primavera da década de 2020. os anos vinte de outro século. Não há como haver uma gravação AO VIVO mais ao vivo que esta que voa pelo meu quarto. Estranhamente, Lou Reed parece ter 18 anos aqui. Eu sei, nessa noite ele já tinha 26, mas a gravação passa uma energia tão real, há uma PRESENÇA tão volátil, que fico testemunhando um cara de 18 anos tentando não desistir. Em 69 o Velvet já era. Andy era outro, Nico se fora, John Cale não havia mais e Tucker saíra para ser mãe. A onda passara. Em apenas 2 anos tudo mudara. De ESTRELA DO FUTURO eram os esquecidos do passado distante. Só dois anos cara! Mas nos anos 60 dois anos eram dois séculos! O que era IN em 67 era agora OUT. E o Velvet, IN para os mais antenados de NY, era agora, em 69, menos que OUT. Vozes ao redor: um cara diz estar muito doido, outro pede cocaína. Uma menina ri. Conversam enquanto a guitarra sola. Tá tudo gravado. A banda toca como se fossem novatos, o povo não tá nem aí. Engraçado, eles não sabem não sabiam que mais de 50 anos passados aquela noite ainda tá viva, aqui no Brasil. São 45 minutos de show e eles tocam bem, rocknroll de verdade. Billy Yule tem uma bateria de baile, bem legal, e Doug Yule, pobre Doug, tava tão apaixonado por Lou que imitava a voz e o jeito do cara. Ele canta duas faixas. Alguém pede Heroine e Lou diz que esta banda não toca Heroine. O set é perfeito, mas quem liga? Não param de falar, esse bando de malucos no Max. O CD não mente, eles estavam lá pelas drogas, a banda é apenas o som do lugar. Mas uma menina levou um gravador e fixou pra sempre aquilo tudo. TODOS OS DISCOS AO VIVO DEVERIAM SER ASSIM. Porque isto é um documentário de uma noite incapturável e memorável e eterna e inexistente. Sobre uma banda que começou acabando e vive para sempre por nunca ter dado certo. Caramba! Que bela definição acabo de encontrar: a banda que nunca deu certo. Mas que perdura e dura. Senhores, que puta disco!
VU THE VELVET UNDERGROUND.....FAIXAS PERDIDAS E REENCONTRADAS
1985. Jesus and Mary Chain nas paradas. E Lloyd Cole. Então lançam um disco com 10 faixas perdidas do Velvet Underground. Era o momento certo, porque essa galera amava o VU. E para minha imensa surpresa, a banda de Lou Reed volta a viver. Mais incrível ainda: nos anos 80 o VU desbanca os Beatles como o grupo mais influente do mundo. Na década seguinte eles ficariam solidificados como uma das top 5 para sempre. Mas em 1985, que ótimo, os VU pareciam novos. Ao lado de bandas dark eles eram a coisa autêntica. ----------- Eu comprei VU correndo! E ouvi todo dia por quase um ano. Eis o que sinto o escutando em 2021. -------------------- É passado. O mundo amestrado de agora nada tem a ver com a força primitiva de Lou e seus caras. O VU era uma banda suicida e em 2021 até o suicídio parece domado. Drogas hoje são recreação ou modo de fuga para o medo. Em VU elas são o que são: modo tenebroso de morrer aos poucos. Há prazer, mas há uma cuspida na própria face. Lou não foge da sujeira como não foge do ruído. Nada há de fake aqui. O perigo ainda não era uma diversão. Ele era horrível. ------------------i cant stand it é a coisa mais pop que eles fizeram. É 1968 e no meio da alegria burra dos hippies ele se desespera. Não há guitarra mais ácida. A batera, Maureen Tucker, é uma seringa. Não dá pra ficar mais. Fist sex e chicotes sem anestesia. Em 2021 isso é moda de meninas de 17 anos viciadas na internet. ------------------------- Stephanie Says e Lisa Says em seguida. Lou é doce. Ele usa pomada antes de penetrar. Sorry baby, não há como falar de Lou sem ser de verdade. Lou é doce como açucar cheio de fezes de moscas. E mesmo assim o filha da puta produz beleza. ---------------- Ocean....a coisa mais próxima de psicodelismo que Lou ousou desfazer. É muito foda. ATENÇÃO....todas as versões aqui são melhores que em seus discos oficiais. São gravações de prima, em 1968. ----------------- Foggy Notion é uma das coisas mais safas que já foi feita por alguém. É mais que alegre, é eufórica. A gente escuta 20 vezes seguidas. Pra repetir depois. ------------- Temptation Inside my Heart.... no mundo ideal teria sido number one Billboard em 69. Nunca foi. Percussão e timbre de guitarra são o céu de meus ouvidos. Se essas faixas tivessem sido lançadas como album em 69 teríamos um dos grandes discos da época dos grandes discos. --------------- one of these days é uma canção bêbada e pasmem, Lou tem poucas canções bêbadas. Surreal. -------------- andys chest reapareceria em Transformer radicalmente modificada por Mick Ronson. Aqui ela é 100% Reed. Ouve. ------------------ im stick with you....é um disco perfeito. ------------------ VU é o LP mais pop dos VU. E é tão bom quanto qualquer um dos outros 4. Ouvir em 2021 esta obra prima é lembrar da amarga vida que se amava viver então. Ninguém cantou a amargura de modo tão corajoso. Lou cantava na bosta, e Lou tinha a espinha sempre ereta. Ele era foda. Ele é foda. Pra sempre.
NEW YORK - LOU REED
Era o ano de 1990 e eu lia na Folha de SP que Lou Reed lançava seu melhor disco solo. André Forastieri acho, escrevia em página inteira uma elegia ao artista. Dizia que Lou nunca cantara tão bem e que sua guitarra lembrava às vezes ZZ Top e às vezes Johnny Marr... well...comprei o disco então e não escutei nada de Marr e nem de Gibbons ( o tal ZZ Top se chama Billy Gibbons ). Mas na época eu achava que palavra impressa era sempre a verdade, então achei que eu é que não sabia ouvir. --------------- Mike Rathke é quem sola a guitarra no disco. Lou Reed faz apenas a base. Mas me parece que André não leu o encarte ( se não foi o André me desculpe, mas tenho 98% de crença ter sido ele ). De qualquer modo meu chute é bem mais certeiro que o dele. Lou não demonstrou influências de ZZ Top. Lou nem mesmo tentou solar. Ele parou de solar em 1973. E só voltou a tocar guitarra solo em seus discos após 1993. --------------- Eu amo barítonos. Começando com Jim Morrison, barítonos são as minhas vozes mais queridas. Iggy Pop, Bowie às vezes, Johnny Cash, Philip Oakey, JJ Cale ( um barítono enfraquecido ), e Lou Reed, um barítono contido. Em New York sua voz soa clara, nítida, cada sílaba dita em detalhe, cada R ou TH pronunciado com rigor. Mas não só sua voz: as cordas de baixo e guitarra são ouvidas como se fossem orquestras. O disco é nu como um LP de JJ Cale ( há muito de Cale aqui em sua simplicidade confiante ), e ao mesmo tempo, nessa simplicidade nua vive a complexidade dos timbres e dos acordes profundamente explorados. Cada faixa é um mundo e cada mundo tem seu universo sonoro. Não, nada há de ZZ Top aqui. Nem de Marr. O que temos é 100% Reed, polaroides de uma cidade que é ele mesmo, uma city self. A beleza e´superlativa. De Dirty Boulevard à Strawman, tudo é deliciosamente Lou Reediano. ------------- Sim, é um disco obrigatório e sim, é uma obra prima. Mas Transformer é melhor e Berlin é mais poderoso. Busload of Faith só poderia ser de Lou Reed e Hold On também. Grandes artistas fazem coisas que só eles poderiam fazer, mais ninguém. Quem mais cantaria algo como Xmas in February? Lou Reed mistura, sempre, cinismo com delicadeza, violência abafada com explicitação de raiva. Ele era um cara ruim, quem leu sua bio sabe disso, e era adorável. A gente adorava ser desafiado por Lou Reed. Não há ninguém nem remotamente parecido com ele. Ele era um molde. Feito por ele mesmo. --------------------- Em 1990 eu adorei New York. Trinta e um anos depois eu ainda adoro. Acho que não vou viver mais 31. Mas sei que ele durará isso tudo e mais um pouco.
A MAIOR EXPERIÊNCIA MUSICAL DA MINHA VIDA
Os móveis da sala eram novos. Todos eles. Então havia cheiro de pano e aço novo. Vidro. A noite era quente e era sábado. Nove da noite, 1981. Numa loja do Shopping Iguatemi, Museu do Disco, eu navegara entre capas de discos muito raros e muito caros. Importados dos EUA e da GB. The Who. Grateful Dead. Hendrix. Nada disso existia por aqui em vinyl. Mas o que mais me impressionava eram os discos de art rock: John Cale. Eno. Fripp. Então vi um disco de uma banda que eu ouvia falar desde meus 13 anos de idade, o tal Velvet Undergorund. Comprei White Light White Heat sem jamais ter escutado nem um segundo do som deles. Paguei caro, em dinheiro de hoje cerca de 300 reais. Na sala de casa botei na vitrola nova, com caixas de som imensas. O selo do LP era azul e creme, da MGM. Sabe voce o que é botar a agulha sobre um sulco que contém som que voce nunca ouviu e não faz a mínima ideia de como é? Suspense. Respiração presa. Seria essa banda barulhenta? Um tipo de Led Zeppelin? Punk rock? Como seria? White Light...que porra é essa? Um pianinho e um monte de som abafado ao fundo. Que péssima mixagem!!!! Oooooooh...white light....oooooooooh white heat.....Então era isso? Divertido! Então The Gift. Um cara falando enquanto toca uma rebolativa guitarra ácida. Sexy. Ousado. Louco. ---------------- O famoso lado B mudou minha vida. Ruído. Barulho. Avalanche sonora. Kaos. Pesadelo. Escuridão. O Paulo que saiu do outro lado deste disco não era mais o mesmo. Ouvir esse disco foi meu buraco de coelho. Audições diárias pelos meses seguintes. No escuro. Me perdendo. O som me soterrando. Toneladas de ruído. Minha heroína em forma de vinyl. ------------------------------------------------------------------Eu fui maluco por rock a vida inteira. Falo pra todos que quiserem ouvir: ninguém gostou mais de rock que eu. Voce pode ter gostado igual, mais que eu, não. Lembro da primeira vez em que ouvi cada um dos discos que me marcaram. Lembro da hora do dia, como estava o clima, onde escutei, o que senti, que idade eu tinha. Nenhum disco me marcou mais que o segundo disco do Velvet Underground. White Light White Heat. ----------- Mais que apenas som, o Velvet era a porta para um universo. --- Todd Haynes está lançando um doc sobre esta banda.
...E POR FALAR EM PESSOA COOL.....
Ontem fez 7 anos que o cara mais cool do rocknroll morreu. Ele nasceu rico e por ser muito efeminado, o pai
o internou e autorizou várias sessões de eletrochoque. Saiu de casa e ganhava a vida escrevendo canções pop
que eram vendidas a artistas mega pop. Se enturmou com a galera das artes visuais, video e pintura, e o pai do
POP ART lhe montou uma banda. A ideia era fazer trilha sonora para happenings. Vaidoso, ele logo se livrou da
cantora e depois da banda inteira. Falido, lançou um disco super fiasco e foi salvo por um fã. Daí pra frente fez
sempre o que quis. Sem jamais posar de vítima, sem jamais perder a pose, sem nunca apelar para a emoção dos fãs.
Ao contrário de Bruce Springsteen ou dos Rolling Stones, ele jamais parece querer agradar. Como Miles Davis fazia,
ele apresentava seu show e fuck you para quem não gostasse. Fãs inclusos. Sim my man, é Lou Reed o cara.
Antes de, digamos 1970, mesmo artistas super inteligentes, gente como Ray Davies ou Pete Townshend, tinham sempre
uma certa postura de: Poxa! Se eu fizer isso voces vão me amar? Quando não a performance tipo: Não sou mesmo o
máximo? Jim Morrison foi o primeiro cara no rock a usar a indiferença como charme e Lou Reed deu o passo adiante.
Lou não era indiferente, era ausente.
Ele gravou vários discos chatos e várias obras geniais. Todos são extra cool. A voz gelada. As letras distanciadas.
O som sob controle. Mesmo o ruído em White Light White Heat é não casual. Há método ali.
Hoje até Snoopy Dog é chamado de cool. Como disse em outro post, o adjetivo cool se tornou sinônimo de " eu gosto".
Mas se voce quer saber o que é cool como estilo de viver, ao ver um artista, pense sempre: Qual seu coeficiente de
Lou Reed?
TIMBRES, AMBIENTAÇÕES, CLIMAS.
Conversava eu com um amigo quando foi citada a célebre frase de Brian Eno: "A música POP não deve ser valorizada por melodia ou harmonia, nisso a música erudita é muito melhor; mas sim pela originalidade de seus timbres."
Como prometido, faço aqui uma breve explanação de algumas canções que me marcaram e me marcam por seus timbres.
( Antes um adendo: A música pop do século XXI tem tido uma uniformidade de timbres irritante. Parece que todos os estúdios e todos os produtores usam os mesmos equipamentos e as mesmas técnicas...Aliás, não parece, é fato ).
The Spencer Davies Group - gimme some lovin.
Não tem como não falar dessa faixa de 1966. Mais que tudo, o grande gênio deste som é Jimmy Miller. Ele quem produziu esta canção que esbanja ambientação. Podemos ver o local onde os músicos estão. Há uma abundância de vozes, de sons de percussão e um órgão que soa como faca. É um marco da gravação elétrica. Feche os olhos e enxergue os caras tocando.
Steely Dan - hey nineteen.
O Steely Dan usa em cada faixa de seus LPs formações diferentes de músicos. Como num menu, Fagen e Brecker escolhem o som que cada músico pode dar. O som de hey 19, faixa de 1980, gravada em LA, 38 canais, usa os músicos de estúdio mais foda que o dólar podia comprar. Mas acima de tudo ela é elegante. Começa com aqueles acordes de guitarra e se espalha em um dos melhores sons de bateria já gravados. A música é quase nua, usa o silêncio e os backing vocals são dos céus. Todos os timbres são fortes em presença e ao mesmo tempo discretos, por isso elegantes. Uma aula de bom gosto.
10CC - i'm not in love.
É uma das canções mais importantes do pop de todos os tempos. Levou cinco meses para ser gravada. O quarteto, gente que produziu Yardbirds entre outros, perfeccionista ao extremo, faz uma canção maravilhosa usando apenas vozes como melodia. Essas vozes, apenas duas, são multiplicadas ao infinito. De fundo, um piano elétrico delicado e um baixo que parece tocado por um anjo. Eno fala de ambientação, estamos no Eden aqui. O momento em que a melodia cessa e depois retorna é assombroso. O final sempre me faz pensar que a música pop foi criada para um dia dar luz a esta canção perfeita.
Lou Reed - Vicious.
Mick Ronson e Ken Scott são os responsáveis por este rock de um timbre nunca mais igualado ( ok, David Essex tem um disco com som parecido ). A guitarra de Mick é aquosa, plástica, suave; enquanto a bateria rebombeia ao redor do som. É preciso criar novas palavras para falar de som tão novo. Repare como a voz de Lou, "machona", noturna, detonada e sábia, faz contraste com o som da instrumentação de Ronson. O solo é tão maravilhoso que seria digno do melhor de Jeff Beck. Voce pode ouvir isto 300 vezes. Nunca vai enjoar.
( amanhã tem mais )
Como prometido, faço aqui uma breve explanação de algumas canções que me marcaram e me marcam por seus timbres.
( Antes um adendo: A música pop do século XXI tem tido uma uniformidade de timbres irritante. Parece que todos os estúdios e todos os produtores usam os mesmos equipamentos e as mesmas técnicas...Aliás, não parece, é fato ).
The Spencer Davies Group - gimme some lovin.
Não tem como não falar dessa faixa de 1966. Mais que tudo, o grande gênio deste som é Jimmy Miller. Ele quem produziu esta canção que esbanja ambientação. Podemos ver o local onde os músicos estão. Há uma abundância de vozes, de sons de percussão e um órgão que soa como faca. É um marco da gravação elétrica. Feche os olhos e enxergue os caras tocando.
Steely Dan - hey nineteen.
O Steely Dan usa em cada faixa de seus LPs formações diferentes de músicos. Como num menu, Fagen e Brecker escolhem o som que cada músico pode dar. O som de hey 19, faixa de 1980, gravada em LA, 38 canais, usa os músicos de estúdio mais foda que o dólar podia comprar. Mas acima de tudo ela é elegante. Começa com aqueles acordes de guitarra e se espalha em um dos melhores sons de bateria já gravados. A música é quase nua, usa o silêncio e os backing vocals são dos céus. Todos os timbres são fortes em presença e ao mesmo tempo discretos, por isso elegantes. Uma aula de bom gosto.
10CC - i'm not in love.
É uma das canções mais importantes do pop de todos os tempos. Levou cinco meses para ser gravada. O quarteto, gente que produziu Yardbirds entre outros, perfeccionista ao extremo, faz uma canção maravilhosa usando apenas vozes como melodia. Essas vozes, apenas duas, são multiplicadas ao infinito. De fundo, um piano elétrico delicado e um baixo que parece tocado por um anjo. Eno fala de ambientação, estamos no Eden aqui. O momento em que a melodia cessa e depois retorna é assombroso. O final sempre me faz pensar que a música pop foi criada para um dia dar luz a esta canção perfeita.
Lou Reed - Vicious.
Mick Ronson e Ken Scott são os responsáveis por este rock de um timbre nunca mais igualado ( ok, David Essex tem um disco com som parecido ). A guitarra de Mick é aquosa, plástica, suave; enquanto a bateria rebombeia ao redor do som. É preciso criar novas palavras para falar de som tão novo. Repare como a voz de Lou, "machona", noturna, detonada e sábia, faz contraste com o som da instrumentação de Ronson. O solo é tão maravilhoso que seria digno do melhor de Jeff Beck. Voce pode ouvir isto 300 vezes. Nunca vai enjoar.
( amanhã tem mais )
...E AO FIM...
E no fim da vida o ciclo se fecha. Ele encontra o amor da sua vida e ela lhe traz um sentido de espiritualidade que ele nunca conheceu. E seus discos, os do novo século, talvez sejam os melhores.
Laurie Anderson era de uma New York que ele nunca conhecera. A cidade de Robert Wilson, do pessoal que se ajudava, que se cuidava, que conversava e produzia muito. Wilson, o melhor diretor de teatro da cidade, encomenda trabalhos para ele, e Lou, vejam só, que sempre adorou trabalhar sob encomenda, se vê musicando Poe, Lulu de Wedekind. Agora, por Laurie, ele é mais calmo, menos autoritário, menos impaciente. Ele aprende a escutar.
Cada disco dela é um recado para ele e cada disco dele é uma declaração de amor para ela. O ciclo se completa. Após Shelley, Sylvia, Rachel...Laurie. Finalmente alguém tão genial como ele. Quase.
O livro acaba desse jeito. Após sua morte, em 2013, Laurie faz cerimônias de 7 semanas, o tempo que a alma demora para partir daqui. John Cale, o amigo mais odiado, o mais roubado por Lou, comparece. Reconciliação.
Eu não quero ser Lou. Sua vida foi um pesadelo. Ele era destrutivo, impossível de conviver, sabotador e desleal, muito desleal.
Mas, com Dylan e Neil Young, atingiu o cume. E lá do alto, que bom, teve seus dez anos de paz.
Laurie Anderson era de uma New York que ele nunca conhecera. A cidade de Robert Wilson, do pessoal que se ajudava, que se cuidava, que conversava e produzia muito. Wilson, o melhor diretor de teatro da cidade, encomenda trabalhos para ele, e Lou, vejam só, que sempre adorou trabalhar sob encomenda, se vê musicando Poe, Lulu de Wedekind. Agora, por Laurie, ele é mais calmo, menos autoritário, menos impaciente. Ele aprende a escutar.
Cada disco dela é um recado para ele e cada disco dele é uma declaração de amor para ela. O ciclo se completa. Após Shelley, Sylvia, Rachel...Laurie. Finalmente alguém tão genial como ele. Quase.
O livro acaba desse jeito. Após sua morte, em 2013, Laurie faz cerimônias de 7 semanas, o tempo que a alma demora para partir daqui. John Cale, o amigo mais odiado, o mais roubado por Lou, comparece. Reconciliação.
Eu não quero ser Lou. Sua vida foi um pesadelo. Ele era destrutivo, impossível de conviver, sabotador e desleal, muito desleal.
Mas, com Dylan e Neil Young, atingiu o cume. E lá do alto, que bom, teve seus dez anos de paz.
LOU REED TRANSFORMER - VICTOR BOCKRIS
A primeira vez em que ouvi falar de Lou Reed foi na revista POP, da Abril, em 1975. Uma matéria de 4 páginas coloridas. Na primeira foto a gente via Lou tocando guitarra. De cara já estranhei. O cara tinha cabelo curto, a expressão era de um tipo de bandido antipático e usava roupa preta. Em 75 ninguém no rock usava preto. O texto falava de seu sucesso e do Velvet. A banda de Lou, Andy e Cale já era mito então. O som deles era descrito como barulhento, sujo, anticomercial. No mundo de então, sem internet e MTV, tudo o que podíamos fazer era criar com a imaginação. Então imaginei que o som do Velvet fosse um tipo de Led Zeppelin ainda mais alto e pesado. Só os escutei cinco anos mais tarde, no fim de 1980.
Comprei White Light no Museu do Disco, uma memorável noite no shopping Iguatemi. Pus na vitrola às 23 horas daquele sábado. Após cinco anos de imaginação o que veio não se parecia com nada do que eu havia escutado. Ou imaginado. Não era Heavy, nem Hard, nem Prog, nem Jazz, nem nada. Mas eu não estou aqui para falar desse disco, o mais amado, e sim para falar desta biografia. Foi Brian Eno quem criou a frase de que o Velvet vendeu pouco, mas cada disco vendido era uma nova banda criada. De Roxy Music à Patti Smith, de Buzzcocks à Talking Heads, todos beberam na fonte e nenhum deles se parece com o Velvet. A banda foi um milagre. O maior do rock.
Lou foi eletrocutado por ordens dos pais. Ricos judeus de NY, eles queriam curar o filho da viadagem. O amavam a seu modo, e foram vítimas da psiquiatria da época. A mente de Lou foi afetada ( ele tinha 17 anos ). Se tornou alienado de si mesmo para sempre.
Foi um universitário rebelde, briguento, boca suja. Muito desagradável. Ninguém se sentia à vontade perto dele. E mesmo assim namorou a menina mais linda de Syracuse. Por anos. Seu interesse em sexo era mínimo, o que ele queria era sair de casa e ser poeta. Caiu na vida. Se viciou em anfetaminas, em speed injetável e até a década de 90 esteve sempre chapado.
Lou foi trabalhar numa gravadora porcaria e lá compunha pop lixo. Então formou uma banda mais de garagem. E se enturmou com Andy Warhol. Lou Reed sempre soube o que queria e sempre se uniu a quem podia o ajudar. Para depois descartar a pessoa sem remorso algum. Andy quis formar uma banda para musicar seus videos. Montou o Velvet dando à Lou a liderança. Vieram Mo Tucker, uma baterista que ninguém sabia de que sexo era, Sterling Morrison, um grande guitarrista, e John Cale, um músico erudito que desejava fazer no Velvet sinfonias do caos. Enquanto eles estiveram juntos foi histórico. De 1965 à 1967, sozinhos, eles mudaram para sempre a música do ocidente. Criaram do nada aquilo que entendemos por punk, indie, alternativo, bizarro, underground, sadomasoquismo chic, cool, dark, soturno, rockn roll. Mas Lou Reed sempre foi um merda, e estragou tudo.
Chutou Andy. Por ciúmes de seu carisma. Chutou Nico, porque queria cantar sozinho. E, que merda Lou!!!!, chutou John Cale, e destruiu assim o verdadeiro Velvet Underground. O VU sem Cale é como Stones sem Keith ou Beatles sem John. Virou a banda de um cara só, Lou, e o terceiro disco, por melhor que seja, não é VU, é solo de Lou. A aventura sonora criada pelos quatro ( todos compunham tudo no estúdio, Lou assinava ), partiu. Nunca mais.
Duas curiosidades: White Light foi gravado sem engenheiro de som. Os engenheiros da Verve não suportavam ouvir a gravação e iam pra rua, deixando tudo ligado sem comando, e voltavam após 3 horas. O disco realmente se gravou sozinho.
White Light, nas palavras de Lou, é um disco sobre astrologia. Ele é de peixes e cada faixa representa a luta entre peixes e virgem. Assim, a faixa um é peixes, a dois é a resposta de virgem e a luta se derrama pelo resto do disco.
Em 1970, quando a banda acaba com o banal Loaded, tentativa de fazerem do VU um novo Beatles; Lou deprimido vai morar com os pais. Depois de um ano e meio isolado e esquecido, volta graças a ajuda de Richard Robinson, influente crítico de rock e escritor que produz seu primeiro solo: Lou Reed. Um fracasso absoluto.
Mas vinham novas da Inglaterra. Toda uma nova geração não-hippie adorava Lou. E ele foi apresentado a seu maior fã, David Bowie. E nasce TRANSFORMER. Produzido por Bowie e Mick Ronson, com o piano lindo de Ronson, a guitarra nasal de Ronson e os bcking vocals e violinos de....Ronson. Lou Reed se torna uma estrela em 1972. Mas...
Claro que ele tinha de brigar com Bowie. Com Robinson. Com todos os críticos de rock. Ah...Lou...essa sua língua....Lou adorava odiar...chamava Dylan de chorão, Zappa de hippie medíocre, Alice Cooper de palhaço, e Bowie de invejoso...Ah Lou...
Grava Berlin, o disco em que ele apostou tudo. E o disco fracassa. Os críticos são impiedosos. Quanta bobagem se escreveu na época! E Lou Reed desiste. O livro diz que ele NUNCA MAIS gravou nada com 100% de comprometimento. A ferida de Berlin ficou até o fim da vida. Uma frase de Lou define tudo: " Em 1965 eu realmente acreditei que a inteligência iria um dia mandar no rock...Não deu certo. Eu me iludi."
Vieram dois discos ao vivo, Coney Island Baby, seu casamento com um travesti, Sally Can't Dance, Metal Machine Music ( sua melhor piada ), e o punk.
Lou frequentava o CBGS. E lá, em janeiro de 1976, ele foi entrevistado por dois garotos de 16 anos. Eles lançaram o número um da revista PUNK com Lou na capa e pronto: Lou era o pai do punk, Lou era o cara. Os punks podiam atacar tudo, mas Lou e o Velvet não. ( Não vamos esquecer que John Cale produziu os primeiros discos de Patti Smith, Stooges, Modern Lovers ).
E como sempre Lou estragou tudo. Hiper viciado em tudo, tudo, tudo, ( menos drogas de hippies: maconha e LSD ), seus discos eram lentos, chatos, mal gravados. Ele não soube ou não quis se aproveitar desse bom momento punk. Perdeu mais um barco.
A história de Lou Reed é a história de um triunfo que reverbera sem fim, e de alguns poucos sucessos que ameaçam reviver o triunfo do começo. A impressão é que ele sempre teve medo do sucesso, medo de precisar segurar uma missão. E ao mesmo tempo tinha a vaidade de um Mick Jagger, queria ser amado, seguido, idolatrado. Nessa briga interna ele gastou quase toda sua energia. O pouco que restava ia para os discos e os shows.
Mas ninguém nunca vai esquecer o VU. Fazem já longos 36 anos que os ouvi pela primeira vez. Nenhum dos meus amigos gostou. Só eu e meu irmão. Mas hoje, em 2016, meio século depois do auge da banda, eles continuam soando corajosos, esquisitos, darks, o símbolo de tudo o que é independente, sem compromissos...genial.
Em toda a história do rock NADA se compara ao VU. E se John, Sterling, Nico, Mo eram parte vital da coisa, Lou era dono das letras, das ideias, da primeira fagulha.
Não aceito a morte de Lou. Sua partida para mim foi mais dolorosa que a de Bowie. Esqueço que ele morreu. Não quero acreditar. Porque o rock fica vazio, bobo, estúpido sem ele.
Lou Reed era um grande merda. Vaidoso, mentiroso, egocêntrico, injusto, violento, mau...mas todos nós o amamos. E isso é genial.
Comprei White Light no Museu do Disco, uma memorável noite no shopping Iguatemi. Pus na vitrola às 23 horas daquele sábado. Após cinco anos de imaginação o que veio não se parecia com nada do que eu havia escutado. Ou imaginado. Não era Heavy, nem Hard, nem Prog, nem Jazz, nem nada. Mas eu não estou aqui para falar desse disco, o mais amado, e sim para falar desta biografia. Foi Brian Eno quem criou a frase de que o Velvet vendeu pouco, mas cada disco vendido era uma nova banda criada. De Roxy Music à Patti Smith, de Buzzcocks à Talking Heads, todos beberam na fonte e nenhum deles se parece com o Velvet. A banda foi um milagre. O maior do rock.
Lou foi eletrocutado por ordens dos pais. Ricos judeus de NY, eles queriam curar o filho da viadagem. O amavam a seu modo, e foram vítimas da psiquiatria da época. A mente de Lou foi afetada ( ele tinha 17 anos ). Se tornou alienado de si mesmo para sempre.
Foi um universitário rebelde, briguento, boca suja. Muito desagradável. Ninguém se sentia à vontade perto dele. E mesmo assim namorou a menina mais linda de Syracuse. Por anos. Seu interesse em sexo era mínimo, o que ele queria era sair de casa e ser poeta. Caiu na vida. Se viciou em anfetaminas, em speed injetável e até a década de 90 esteve sempre chapado.
Lou foi trabalhar numa gravadora porcaria e lá compunha pop lixo. Então formou uma banda mais de garagem. E se enturmou com Andy Warhol. Lou Reed sempre soube o que queria e sempre se uniu a quem podia o ajudar. Para depois descartar a pessoa sem remorso algum. Andy quis formar uma banda para musicar seus videos. Montou o Velvet dando à Lou a liderança. Vieram Mo Tucker, uma baterista que ninguém sabia de que sexo era, Sterling Morrison, um grande guitarrista, e John Cale, um músico erudito que desejava fazer no Velvet sinfonias do caos. Enquanto eles estiveram juntos foi histórico. De 1965 à 1967, sozinhos, eles mudaram para sempre a música do ocidente. Criaram do nada aquilo que entendemos por punk, indie, alternativo, bizarro, underground, sadomasoquismo chic, cool, dark, soturno, rockn roll. Mas Lou Reed sempre foi um merda, e estragou tudo.
Chutou Andy. Por ciúmes de seu carisma. Chutou Nico, porque queria cantar sozinho. E, que merda Lou!!!!, chutou John Cale, e destruiu assim o verdadeiro Velvet Underground. O VU sem Cale é como Stones sem Keith ou Beatles sem John. Virou a banda de um cara só, Lou, e o terceiro disco, por melhor que seja, não é VU, é solo de Lou. A aventura sonora criada pelos quatro ( todos compunham tudo no estúdio, Lou assinava ), partiu. Nunca mais.
Duas curiosidades: White Light foi gravado sem engenheiro de som. Os engenheiros da Verve não suportavam ouvir a gravação e iam pra rua, deixando tudo ligado sem comando, e voltavam após 3 horas. O disco realmente se gravou sozinho.
White Light, nas palavras de Lou, é um disco sobre astrologia. Ele é de peixes e cada faixa representa a luta entre peixes e virgem. Assim, a faixa um é peixes, a dois é a resposta de virgem e a luta se derrama pelo resto do disco.
Em 1970, quando a banda acaba com o banal Loaded, tentativa de fazerem do VU um novo Beatles; Lou deprimido vai morar com os pais. Depois de um ano e meio isolado e esquecido, volta graças a ajuda de Richard Robinson, influente crítico de rock e escritor que produz seu primeiro solo: Lou Reed. Um fracasso absoluto.
Mas vinham novas da Inglaterra. Toda uma nova geração não-hippie adorava Lou. E ele foi apresentado a seu maior fã, David Bowie. E nasce TRANSFORMER. Produzido por Bowie e Mick Ronson, com o piano lindo de Ronson, a guitarra nasal de Ronson e os bcking vocals e violinos de....Ronson. Lou Reed se torna uma estrela em 1972. Mas...
Claro que ele tinha de brigar com Bowie. Com Robinson. Com todos os críticos de rock. Ah...Lou...essa sua língua....Lou adorava odiar...chamava Dylan de chorão, Zappa de hippie medíocre, Alice Cooper de palhaço, e Bowie de invejoso...Ah Lou...
Grava Berlin, o disco em que ele apostou tudo. E o disco fracassa. Os críticos são impiedosos. Quanta bobagem se escreveu na época! E Lou Reed desiste. O livro diz que ele NUNCA MAIS gravou nada com 100% de comprometimento. A ferida de Berlin ficou até o fim da vida. Uma frase de Lou define tudo: " Em 1965 eu realmente acreditei que a inteligência iria um dia mandar no rock...Não deu certo. Eu me iludi."
Vieram dois discos ao vivo, Coney Island Baby, seu casamento com um travesti, Sally Can't Dance, Metal Machine Music ( sua melhor piada ), e o punk.
Lou frequentava o CBGS. E lá, em janeiro de 1976, ele foi entrevistado por dois garotos de 16 anos. Eles lançaram o número um da revista PUNK com Lou na capa e pronto: Lou era o pai do punk, Lou era o cara. Os punks podiam atacar tudo, mas Lou e o Velvet não. ( Não vamos esquecer que John Cale produziu os primeiros discos de Patti Smith, Stooges, Modern Lovers ).
E como sempre Lou estragou tudo. Hiper viciado em tudo, tudo, tudo, ( menos drogas de hippies: maconha e LSD ), seus discos eram lentos, chatos, mal gravados. Ele não soube ou não quis se aproveitar desse bom momento punk. Perdeu mais um barco.
A história de Lou Reed é a história de um triunfo que reverbera sem fim, e de alguns poucos sucessos que ameaçam reviver o triunfo do começo. A impressão é que ele sempre teve medo do sucesso, medo de precisar segurar uma missão. E ao mesmo tempo tinha a vaidade de um Mick Jagger, queria ser amado, seguido, idolatrado. Nessa briga interna ele gastou quase toda sua energia. O pouco que restava ia para os discos e os shows.
Mas ninguém nunca vai esquecer o VU. Fazem já longos 36 anos que os ouvi pela primeira vez. Nenhum dos meus amigos gostou. Só eu e meu irmão. Mas hoje, em 2016, meio século depois do auge da banda, eles continuam soando corajosos, esquisitos, darks, o símbolo de tudo o que é independente, sem compromissos...genial.
Em toda a história do rock NADA se compara ao VU. E se John, Sterling, Nico, Mo eram parte vital da coisa, Lou era dono das letras, das ideias, da primeira fagulha.
Não aceito a morte de Lou. Sua partida para mim foi mais dolorosa que a de Bowie. Esqueço que ele morreu. Não quero acreditar. Porque o rock fica vazio, bobo, estúpido sem ele.
Lou Reed era um grande merda. Vaidoso, mentiroso, egocêntrico, injusto, violento, mau...mas todos nós o amamos. E isso é genial.
82 É UMA BOA IDADE PARA MORRER ( LEONARD COHEN )
Rilke disse que nós humanos não podemos ver anjos porque a visão de tanta beleza seria para nós completamente insuportável. Anjos terríveis.
A música de Leo tinha essa coisa horrível. Era fria, distante, trágica e perversa. E ao mesmo tempo era linda, porque sabíamos que quem cantava, cantava para seus anjos.
Leo agora vê seus anjos judaicos. Suzanne lhe abre as portas dos céus e Leo pode fazer suas perguntas mais uma vez. Talvez agora alguém as responda. Mas penso que não mais importa.
A vida inteira Leonard Cohen amou a morte. Não como um suicida, que a odeia tanto que se afoga em seu horror. Ele a amou como se ama uma mulher. Com fascínio, medo, respeito e desejo. Ele pensava sempre no lado de lá.
A morte, essa prostituta, levou Lou Reed e sádica, raptou Bowie de nós. Agora, entre véus, seduzida, pega Leo pela mão e o leva em valsa.
Nenhuma morte me parece tão justa.
A música de Leo tinha essa coisa horrível. Era fria, distante, trágica e perversa. E ao mesmo tempo era linda, porque sabíamos que quem cantava, cantava para seus anjos.
Leo agora vê seus anjos judaicos. Suzanne lhe abre as portas dos céus e Leo pode fazer suas perguntas mais uma vez. Talvez agora alguém as responda. Mas penso que não mais importa.
A vida inteira Leonard Cohen amou a morte. Não como um suicida, que a odeia tanto que se afoga em seu horror. Ele a amou como se ama uma mulher. Com fascínio, medo, respeito e desejo. Ele pensava sempre no lado de lá.
A morte, essa prostituta, levou Lou Reed e sádica, raptou Bowie de nós. Agora, entre véus, seduzida, pega Leo pela mão e o leva em valsa.
Nenhuma morte me parece tão justa.
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