AS FLORES DO MAL - CHARLES BAUDELAIRE ( COM WALT WHITMAN )

Baudelaire mudou a poesia para sempre, mas isso não impede que eu não goste dele. Releio seu mais famoso livro, completo, e não sinto emoção alguma. Seu demonismo me parece inofensivo, seu sensualismo sempre culpado e ele não tem a principal característica que mais amo em um poeta: o jogo formal com os sentidos das palavras. Ele não luta com o vocabulo na tentativa de extrair dele o que é oculto. Baudelaire expõe seu EU, um ego romântico do tamanho de seu talento e isso me repele. ----------------- Sim, ele é um gênio e não estou aqui para negar isso. Digo apenas que ele não me emociona e pior que isso, não expande minha mente. ---------------- Ao mesmo tempo que Baudelaire e Rimbaud criavam a sensibilidade moderna, egocêntrica e sofrida, Walt Whitman desenvolvia nos USA o egocentrismo como espelho. Whitman via no país a si mesmo e amava em cada um o seu próprio fantasma. A democracia de que ele tanto fala e o desejo de poder amar a todos amando seu próprio corpo. ----------------- Duas visões opostas: o francês é noturno e mortal, o americano é solar e comunitário. Baudelaire penetra no desejo, Whitman coloca todo seu desejo para fora. Infelizmente o Brasil se tornou Baudelaire. A vitalidade de Whitman nos é estrangeira. Whitman foi o maior poeta da segunda metade do século XIX, Keats foi o maior da primeira metade, mas nós, como toda América Latina optamos por afundar no subjetivismo impotente do romantismo fatalista da França. Logo mais falo de Rimbaud, um estrangeiro na Europa, um caso que confirma o que falo. --------------------- Baudelaire dá status de requinte à falta de elan vital de certos poetas tristonhos e isso os conquistou. Para esses, Whitman chega a ser ofensivo. Ironia da vida, Baudelaire é agressivamente hetero e Whitman é alegremente gay. Poetas são muito mais fingidos do que imaginamos. E por falar em fingimento, Pessoa é Whitman perdido no minúsculo Portugal, saudoso da amplidão, desafogando no mar sua nostalgia pela planície sem fim. ------------------ É isso.