O PRELÚDIO, WILLIAM WORDSWORTH....SEM PALAVRAS...

   Abre os olhos e vê a luz invadir o quarto. Imediatamente o som dos pássaros toma seus ouvidos e voce pensa: - Eu não conheço esses pássaros! Sim, hoje, homem adulto, voce pensaria, se os notasse, -São Pardais, tão só vulgares Pardais! Mas então, naqueles tempos idos, voce saberia sem "o saber", que cada um dos Pardais é um Novo Pardal, completamente único e original. Daí seu interesse por todos eles. E lá fora, naquela manhã Única, voce os batiza. Confirma cada um deles como um Ele.
   O café sobre a mesa é mais um café. E enquanto se é servido voce brinca com a colher. Ela agora é uma catapulta e voce lança bolas de pão, em Fogo. à muralha da Mantegueira. Exércitos de invasores fazem aquilo que sabem fazer, Saqueiam a manteiga. Quando sua mãe impede a nova Bola de Fogo de ser lançada, bem, voce e seu irmão começam a tomar café como se agora fossem Dois Piratas. Migalhas são jogadas ao chão por Barba-Negra, que se serve de imensas canecas de Rum e engole nacos de Carneiro como se fossem Bolinhos de Chuva.
   Mas é lá fora que se faz a coisa.
   Todas as pessoas na rua são conhecidas e possuem um nome, mesmo que João seja para voce "O Menino da Bicicleta" ou que Lucinha seja agora "A Mais Linda com as Pernas Nuas". Todas as ruas levam ao Novo, e todas as Ruas lhe são conhecidas. Porque voce conhece a eterna Transformação que é a condição da Vida Bem Vivida. E ninguém te ensinou isso, voce Sabe. ( Um dia, terrível dia, vão te dizer que a vida é uma fórmula, que a morte é um destino e que tudo é como é... ). Mas voce Sabe, naqueles Tempos, que tudo o que os Homens Grandes pensam é Confusão Pra Passar o Tempo. E gente como Voce, Pequena, Sente que a Vida é Mais.
   As Nuvens Falam e a Tempestade tem um Caráter. Cada Pedra na Estrada de Terra tem uma fala em seu Teatro. Sua Mente Cria sem parar para pensar. O Medo, absoluto e imenso, toma todo o Universo quando voce olha uma ratazana morta no meio do lixo. E esse Pavor se transforma em esquecimento ao olhar uma Pipa que se solta da linha e voa a esmo por entre os Eucaliptos que não a capturam. Um bando de moleques corre pela Pipa e voce se lembra de Tom e Huck.
   Voce ainda não aprendeu o Tempo e essa Manhã lhe parece pra Sempre.
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   Walt Whitman pegou muito de Wordsworth. Ambos se soltam na estrada e vivem o olhar sobre as coisas. Ambos nos deixam um gosto de felicidade na alma quando descrevem as coisas. Agradecemos ao Mundo por ter dado luz aos dois Gigantes. A diferença é que o americano é voltado ao futuro, o inglês ao passado. Whitman de nada tem saudade, ele crê na vida que virá. Wordsworth lamenta o que se perdeu, ele vive feliz por poder recordar.
   Os lagos, as montanhas, so bosques. Wordsworth procura a solidão para lá se enamorar das sensações que a natureza lhe dá. Ele consegue ter instantes de Sublime por poder ainda acessar sua infância. Infância que não é inocência, é criação e conhecimento. O poeta procura a Surpresa e procura mais que isso AQUILO QUE NÃO PODE SER DITO POIS ESTÁ FORA DA LINGUAGEM. Para isso ele caminha: sobe morros, rema em lagos, adormece em relvados, fala com camponeses, se perde na neve. Anda por toda a Grã-Bretanha, mas também pela França, pela Alemanha, sempre a pé. E é feliz.
   Tempos finais, as fronteiras começavam a se fechar. Wordsworth se aterroriza com Londres: "Como podemos viver onde não sabemos os nomes de nossos vizinhos? Isso é impossível!!!" Bem-vindo à modernidade Wordsworth...
   O poema, longo, escrito na parte final de sua vida de 80 anos, narra sua vida. Infância, Oxford, viagens a pé. É uma obra-prima e é um prazer. Poema solto, sem rima e sem metro, quase prosa. Caça ao Sublime, acerta o alvo várias vezes.
   Tem de ler.