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PEDRO MILOS FORMAN/ O MESTRE/ PRESTON STURGES/ STEVE MCQUEEN/ OSCAR 2013

   Antes vou falar sobre o Oscar de amanhã. Bem, cada ano ele se torna mais irrelevante, mas não dá pra ignorar. Neste ano tem um monte de filmes "bacaninhas" e nenhum filme ótimo. Pelo menos não estamos em nivel tão baixo quanto 2011, quando uma série de filmes de arte-lixo-fake concorreu ( e foram derrotados, felizmente, pelo Discurso do Rei, excelente ). Infantil o prêmio se torna cada vez mais, mas ás vezes ele ainda acerta. O melhor filme em inglês do ano não concorre a melhor filme ou direção. Anna Karenina é um filme sofisticado demais para um prêmio que se faz teen. O diretor Joe Wright faz mais um grande filme e dessa vez nos dá o prazer de uma féerie de cores e de sons. Arte superior. Porcos não apreciam pérolas. Dos indicados deve dar Argo, filme que tenho preguiça de ver. Ben Affleck será melhor diretor. Hollywood ama atores que dirigem. Se unirá a Warren Beaty, Clint Eastwood, Mel Gibson, Kevin Costner. Day-Lewis vencerá melhor ator e Emmanuelle Riva a melhor atriz. Anne Hathaway será coadjuvante e Seymour Hoffman o masculino. Ou seja, vai ser tudo um tédio mortal. Dos indicados eu adoraria ver a vitória de Os Miseráveis. É o único indicado que me surpreendeu. Muito melhor do que eu esperava, nada tem de xaroposo. Diretor votaria em Tom Hooper. Assim ele seria o segundo inglês na história a ter dois Oscars ( o primeiro é David Lean ). Melhor ator Hugh Jackman, de longe o melhor. Atriz Helen Mirren em Hitchcock. Jamais daria o coadjuvante para Anne, seria Amanda Seyfried e ator coadjuvante Christoph Waltz. Tá bom? Vamos aos filmes que assisti na semana....
   O MESTRE de Paul Thomas Anderson com Joaquim Phoenix, Philip Seymour Hoffman e Amy Adams
Anderson é um bom diretor mas ele precisa dar um tempo e viajar, descansar, se renovar. Seus filmes sempre foram chatos, mas em troca da chatice nos davam momentos de belo cinema. Ele criava. Ousava. Mas, ultimamente, seus filmes se tornam cada vez mais crispados, áridos, mal-humorados, solenes, quase mortos.  O cinema de Anderson sempre foi cristão. Todos os seus filmes falam sobre a perda do pai, a dor e a ressurreição. Às vezes de forma explícita, como em Magnólia, onde até a passagem bíblica da queda dos sapos comparece. Sangue Negro é o filme em que o diabo vence. Anderson entrega os pontos e admite, gnósticamente, que a partir de certo momento de nossa história Deus foi exilado. Puritano. O cinema de Anderson é hiper-puritano. Hawthorne e Melville são suas fontes. A ironia que dava a força vital a seus filmes vinha de Robert Altman, diretor que foi seu mestre. Boogie Nights e Magnólia são filmes à Altman feitos por um cara que nunca foi doidão. Com o tempo Anderson foi trocando a influência saudável de seu mentor hippie por um cinema mais clássico, um tipo de William Wyler intelectual. Não está dando certo. Mesmo admirando suas intenções, mesmo torcendo por ele, seus filmes são chatos, sempre chatos. Aqui, puritanamente, ele condena os falsos religiosos, os vendilhões do templo. Ótimas intenções, mas o tiro sai pela culatra. O único ser vivo em todo o filme é Seymour Hoffman. Ele parece ser humano e real. Todos os outros são tipos unilaterais, sofrem de sintomas, não são "ricos". Sem nota.
   AS TRÊS NOITES DE EVA de Preston Sturges com Henry Fonda e Barbara Stanwyck
O mundo inteiro não deve estar errado. Todos adoram esta comédia do mais valorizado dos diretores americanos. Mas eu não. Então concluo que o errado deva ser eu. Certo? Fonda faz seu tipo bom rapaz ingênuo, e Stanwyck é uma vigarista que o seduz. É um filme ok, mas não vi sua criatividade tão decantada. Nota 5.
   SHENANDOAH de Andrew V. McLaglen com James Stewart
Se voce suportar a carolice de seu começo, onde Stewart faz um pai de familia, viúvo, voce verá um bom filme de ação em sua parte final.  Ele, Stewart, tenta ser neutro na guerra de secessão, não consegue. A guerra invade sua vida e sua familia se despedaça. É filme da fase final da carreira de Stewart, ele atua no piloto automático, repete as falas como um Lincoln de segunda mão. Mas a parte final é boa, e tem uma bela fotografia. Nota 6.
   CROWN, O MAGNÍFICO de Norman Jewison com Steve McQueen e Faye Dunaway
Um dos filmes mais vaidosos e exibicionistas de todos os tempos. O ano é 1968. Steve McQueen era então O Cara. Uma mistura de Sean Connery com Paul Newmann. O inventor do cool, o feio atraente, o cara muito macho e muito sexy. Ele se exibe como um milionário que se torna fora da lei só para espantar o tédio. Faye vinha de Bonnie e Clyde. Era a atriz da moda. Faz uma sexy e elegante agente de seguros que tenta capturar McQueen. O fotógrafo do filme é Haskell Wexler, o mais moderninho de então. O filme é todo "esperto". A tela dividida em quadros, imagens fracionadas, ângulos arrojados. A trilha sonora é de Michel Legrand. Cheia de bossa, jazzistica, a trilha que hoje Soderbergh adora. E o diretor, Jewison, vinha de sucessos em série. Resultado de tudo isso? Um super-sucesso de box-office. Mas não é um grande filme. Tanta exibição faz dele uma coisa fria, distante, sem emoção. É como ver uma revista de moda, o filme é lindo, chic, gostosão, mas sem mais nada que essa casca. Nota 6.
   PEDRO, O NEGRO de Milos Forman
Uma obra-prima. Finalmente descubro uma obra-prima!!!! Há quanto tempo!!!!! Aleluia!!!!!!!!! Feito na libertária Tchecoslováquia de 1966, Milos Forman com este filme influenciou todo o novo cinema americano de então.  O filme parece documentário, parece reportagem. É jovem, é fresco, é vivo, é maravilhoso. Com câmera na mão e atores de rostos inesquecíveis. Pedro é um adolescente. Ele trabalha como vigia de mercado e tenta engatar namoro. Sempre calado, os enormes olhos em dúvida constante, Pedro é um dos mais perfeitos retratos de um adolescente já vistos em filme. Mas todos os outros também são ótimos. O pai, um durão que não o entende, a mãe, submissa, os amigos, feios, ansiosos, brigões, e as meninas. Há tanto amor pelos personagens que o filme chega a comover. E há humor, o humor tcheco, absurdo, ácido. A cena do Hóy ( quem assistir saberá do que falo ), é uma das mais hilárias que já vi. Creiam-me, é um filme obrigatório. Vendo-o voce entende o quão pouco é preciso para se fazer um grande filme. Voce percebe que arte e diversão podem andar juntas. Melhor que Estranho no Ninho ou que Amadeus, é o grande filme do grande Milos Forman. PS: Maravilhosas cenas nas ruas e nos mercados da Praga de então. Nota DEZ !!!!!!!
  

OLIVER REED/ STEVE CARELL/ SCOLA/ NICHOLAS RAY

   DEPOIS QUE TUDO TERMINOU de Michael Winner com Oliver Reed, Carol White, Orson Welles
Um publicitário bem sucedido larga tudo e volta a seu emprego antigo, editor de uma pequena revista literária. No processo ele abandona esposa, filha e duas amantes. Mas antigos contatos são insistentes...Os primeiros 50 minutos deste filme são gloriosos! Winner filma com vida, calor, dá movimento a tudo, surpreende com cortes magníficos. Mas ele não é um gênio e portanto não pode manter esse ritmo. O filme cai em seu tempo final. Mesmo assim jamais se torna banal, é um dos grandes filmes de seu tempo. Belo retrato da Londres de 1966, tem montes de cenas nas ruas. Winner prometia muito em seus primeiros filmes, mas naufragou. Nos anos 70 filmaria coisas com Charles Bronson. Oliver Reed era um dos atores não-shakespeareanos da época. Ele e Michael Caine trouxeram as ruas inglesas para as telas. Carol White era adorável. O filme dá vontade de ver outra vez. Nota 9.
   A TERRA DO NUNCA-A ORIGEM de Nick Willing com Rhys Ifan
Conversei com um amigo sobre a "falta da mentira", teoria de Wilde que na verdade é de Ruskin. Veja: o realismo mata o futuro. Explico. Quando um cineasta faz um filme que é "real", ele comete dois erros: primeiro que o real é incapturável. Segundo que o real é estéril. Ele pode até ser impactante, mas não fertiliza mentes. Umberto D é magnífico, mas De Sica é eterno pela poesia real e mentirosa de Ladrões de Bicicleta. O cinema de hoje morre em realidades tolas. Veja este filme. Pegaram Peter Pan e resolveram reescrever. O que fizeram? Deram explicações para tudo. Mataram o mito. Acho que foi Jung quem disse que o mundo moderno caça e mata mitos. Aqui Peter é um ladrão de rua. Gancho é o chefe do bando. E Neverland é um globo que caiu do céu. Ou seja, tudo é explicado da forma menos "mentirosa" possível. O nome disso? Falta de coragem. O efeito? Pasmaceira. Peter Pan, o livro, o desenho, tem milhares de significados, de possibilidades. Aqui temos apenas uma verdade. É isso e fim. A nota? É Zero e cale a boca.
   O HOMEM DO SPUTNIK de Carlos Manga com Oscarito, Jô Soares e Norma Bengell
O satélite russo cai no galinheiro de um caipira. Ele passa a ser paparicado por todos, russos, americanos e franceses. Jô Soares, jovem, faz uma soberba imitação do que seria um americano típico. Quem rouba o filme é Norma. Imita Brigitte Bardot e compõe uma das mulheres mais sensuais que o cinema já mostrou. Suas cenas explodem de lascívia ( nunca usei essa palavra ). O filme vale por ela. Nota 5.
   A VINGANÇA DE MILADY de Richard Lester com Michael York, Faye Dunaway, Oliver Reed, Richard Chamberlain
É uma grande produção e é um grande desastre. Em meio a ação, Lester, diretor dos filmes dos Beatles, não consegue manter nenhum interesse. Além do que York é um herói fraco. Faye se salva, está bonita e transpira maldade. A impressão é que ela está no filme errado. Ah sim, o tema são Os 3 Mosqueteiros. O filme vale um zero.
   PROCURA-SE UM AMIGO PARA O FIM DO MUNDO de Lorene Scafaria com Steve Carell e Keira Knightley
Faltam 3 semanas para o fim do mundo. Steve, faz um cara down como sempre, é abandonado pela esposa. A população pira. Pessoas se drogam, crianças bebem, muita gente rouba. Ele conhece uma moça doidinha ( como sempre. Hal Ashby criou uma tradição ). Ela quer ir ver os pais, vão juntos. É um filme tipico dos anos 70, fala de estradas novas e de romper laços; mas claro, tem o estilo de 2012, é vazio e nada tem a dizer. Mas se mantém, por um fio não afunda. Triste, tem uma cena linda ao som de The air that i breathe dos Hollies. A moça é fã de vinis e fala uma frase bonita sobre o que eles significam. Mas é gozado: isso é tudo o que ela tem, seus discos, mais nada. O final não é feliz, é o fim. Este filme passou por aqui? Não lembro. Vale a pena. Nota 6.
   A VIAGEM DO CAPITÃO TORNADO de Ettore Scola com Massimo Troisi, Ornela Mutti, Emmanuelle Beart e Vincent Perez
Que lindas são Ornella e Beart!!!! O filme fala de uma troupe de atores, que em carroça se apresenta em meio ao kaos do século XVI. Todo filmado em cenários fechados, ele tem um clima de sonho. Troisi, que morreria jovem logo após fazer O carteiro e o Poeta, domina o filme. É um ator maravilhoso. Tinha o dom de parecer comum, o que é raro em atores. Nota 7.
   A BELA DO BAS-FOND de Nicholas Ray com Robert Taylor, Cyd Charisse e Lee J. Cobb
Voce se lembra de Os Intocáveis de De Palma? Lembra da cena do taco de beisebol? Foi tirada daqui. Lee J. Cobb numa reunião mata com um pedaço de ferro um dos mafiosos da familia. A cena é a mesma. Este fala de um advogado que trabalha para a máfia. Seu mundo muda ao se apaixonar por garota de programa. Taylor tem o papel de sua vida. Duro como pedra, amoral, vemos lentamente, dia a dia, sua consciência começar a rugir. Ray dirige de forma explêndida. O filme não cessa de caminhar em sua trilha feita de crueldade e de cinismo. De ruim, as cenas musicais, são 3 cenas chatas. Mas duram apenas dois minutos, os outros cem compõe um dos fortes filmes noir. O tema de Ray está todo aqui: seus filmes falam de gente torta no lugar errado. Nota 8.