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QUANTO MAIS VELHOS MAIS NOS TORNAMOS NÓS MESMOS
...quanto mais velhos mais nos tornamos nós mesmos, então morrerei mouro, no deserto, sem dúvidas na alma, à procura do fim. -------------- No post abaixo, sobre AS MIL E UMA NOITES, falo do assunto, o modo como a cultura árabe está tatuada na cultura latina. Roma e Atenas são a base da vida do Ocidente, mas o sentimento árabe tempera esse caldo, o excita, surge em cada palavra proferida. Minha origem, lusitana, traz a marca das mulheres de véu preto, das viúvas eternas, dos homens jogando cartas e as esposas na cozinha, do ciúme infernal, da princesa e da puta, da faca nos dentes. Mas há mais: a canção de amor doído, a atração do deserto, o amor exultante pela água, o terraço sombreado, as cores fortes, a pimenta, a dança que move a bunda, o violão, os silêncios que duram dias, as brigas em família por motivos de honra, o desejo pela não-ação, a fidalguia, o banho, a miragem.... -------------------- Diferença fundamental: na cultura cristã, é o futuro que trará a verdade. Jesus há de voltar, o bem vencerá o mal, os últimos serão os primeiros, no fim dos tempos o Reino se fará presente. Na cultura àrabe o futuro foi. Ele já aconteceu. No ano 500DC, Deus falou com Maomé e esse era o futuro. Portanto, já vivemos no mundo que virá. Na visão de mundo àrabe, progresso, evolução, não fazem sentido. O homem já está em seu apogeu. E entenda: eles não dizem com isso que o auge Passou e estamos na decadência. Não! Esse apogeu cessou o tempo. Decadentes somos nós, os ocidentais que não vemos a Verdade. Que corremos atrás de um futuro que já chegou a 1500 anos. Para eles, somos como um cão que corre atrás do próprio rabo. Passamos toda uma vida almejando algo que está aqui: o futuro. -------------- Por isso que é IMPOSSÍVEL vencer uma cultura assim. Por isso que ingleses eram enfeitiçados pela India, franceses pela Argelia: a fratura da nossa cultura ficava explícita, estamos aqui mas sempre queremos estar lá. Eles não. Eles estão aqui. E lá. Porque o tempo PAROU. -------------- Por isso é impossível a assimilação do imigrante, pois como alguém assimilará uma cultura que está à procura, que não achou, que anda "como tonta" e "não vê a verdade" ? Na melhor das hipóteses, na visão deles, somos crianças, crianças que criam brinquedos, carros-aviões-celulares, mas incapazes de ver o mundo real. Não se iluda, quando nossa civilização afundar, a deles permanecerá a mesma. Pois a raiz de seu pensamento está a salvo por ser estática. Ironico isso, não?
LIVRO DAS MIL E UMA NOITES, VOLUME 1 RAMO SÍRIO ( e a cultura da honra )
Tradução direta do árabe por Mamede Mustafa Jarouche. Eu li faz uns 10 anos a versão POP, aquela traduzida do francês por Malba Tahan. Essa versão, a que rodou o mundo e se tornou parte da cultura universal, é o melhor conjunto de narrativas que se possa achar. Por isso a fascinação de Borges. Nada explica melhor o amor do homem por ouvir histórias que esta obra. A princesa conta toda noite uma história para o Sultão, evitando desse modo que ele a mate pela manhã. Ou seja, a narrativa adia e vence a morte. Sem histórias nós morremos. Imaginar um mundo onde um pai não conta suas histórias para os filhos, onde não haja livros ou mesmo canções e RAP, é imaginar um mundo sem vida humana. O que define o ser humano é a capacidade de fabular e a necessidade de ouvir esse contar. Cinema, teatro ou epopéias, sem isso morremos. A qualidade de vida de um momento histórico é definido pela qualidade das histórias que são contadas. ------------------ A versão, esta, adulta, tem palavrões e mais sexo. O amor à criatividade é o mesmo. Não pense que a versão popular-antiga é infantil, ela não tem idade como não tem lugar. Esta é mais dura, aquela mais solta. Ambas são o que são, mágicas. Gênios, demos, poções, tudo vale, tudo pode acontecer. Mas é preciso falar, a maior parte das histórias tem a mesma motivação: um homem é chifrado por uma mulher. Não vamos negar o que se lê, a cultura árabe é toda centrada na honra do homem, e nada suja mais essa honra que um corno na cabeça. Descendentes dessa cultura, latinos carregam esse costume em seu gene. Espanha, Portugal, sul da França e da Itália sofreram imensa colonização árabe, ficaram os chifres. Na cultura celta as mulheres eram divididas pela tribo, o valor delas era ainda mais baixo, e por isso não havia o pavor da traição, de ser feito piada. Entre os árabes, a mulher pura tem valor sem preço, mas a traição coloca o homem como desonrado e a mulher que trai se torna digna de execução. Digamos que entre os celtas elas eram objetos de uso, e entre os árabes era princesas ou uma praga do demonio, sem meio termo. Por isso entre ingleses ou alemães, o tema da honra masculina não tem tanto valor. Já na minha cultura, tenho sangue árabe, basta olhar meu rosto para perceber, a honra está acima de tudo, e a honra maior é familiar: pai, irmãos, mãe e a mulher. Não se pode quebrar essa tradição. Nestes contos há ladróes e mentirosos que são até perdoados, o corno não tem como ser esquecido. É desonra para sempre. ---------------- Em 2023, neste nosso mundo, que na verdade é meio mundo, o Ocidental ou aquele que segue a cultura greco-latina, tudo está em crise. Vivemos a maior crise existencial desde o ano 1000, momento da idade média em que se definiu o que seriam os próximos mil anos. Nada está seguro agora, religião, arte, família, psique, tudo parece e está sendo dissolvido. O que virá em seguida? Dizem os astrólogos sérios que serão séculos de escravidão inconsciente. A nova etapa da história lembrará o antigo Egito, populações inteiras servindo a um grande senhor ( ou grande empresa ) em troca de sentido de vida, pão e circo. Um véu cairá sobre as pessoas e elas abrirão mão de sua particularidade. ------------- No mundo árabe nada disso faz sentido pois faz séculos que eles vivem basicamente do mesmo modo. Por detrás da Ferrari ou do brilho da cidade, o que existe é o tapete carregado para a reza, a mulher escondida, a ausência de alcool e de carne de porco, a certeza absoluta de se estar sempre certo. AS MIL E UMA NOITES não têm dúvidas, exitações, tudo é ação, tudo é de Deus, tudo é plano Divino. E por mais ateu que voce seja, tudo isso está dentro de nossos genes. My dear.
AZEITONAS - MORT ROSENBLUM
Mais que falar sobre o fruto sagrado, o que há de melhor neste livro é nos abrir a mente para a cultura do mediterrâneo. Há uma raiz, uma identidade em comum entre Espanha, sul da França, Itália, Grécia, Turquia, Croácia, Tunisia, Marrocos, Israel e Palestina. Inclui-se também Portugal e Chipre. Essa cultura, antiga como o Velho Testamento, se caracteriza pelo vinho, pelo pão, pelo amor ao sol e pelo culto à oliveira. Não exsite vida, como a conhecemos, nessa nações, sem o azeite, sem a azeitona, sem a árvore que para eles simboliza o espírito do Homem. ------------ Pois é a oliveira uma árvore indestrutível. Ela pode ser congelada na neve, esmagada por deslizamentos, queimada pelo fogo e mesmo assim renascerá. Voce pode cortar todos os seus galhos, serrar seu caule, ela irá brotar mais uma vez. Ela parecerá morta, mas a raiz, essa permanece. E volta a subir à luz da superfície. Oliveiras em Israel do tempo de Cristo. Oliveiras na Grécia do tempo de Aristóteles. Oliveiras na Espanha plantadas pelos romanos de César. Oliveiras do meu avô que estão lá desde sempre. -------------- Minha família, por parte de mãe, tinha oliveiras em Portugal. Ler estas histórias é para mim rememorar tudo que ouvi. Minha mãe, aos 8 anos, já ia colher as azeitonas no inverno gelado. As mãos congeladas agarrando os galhos para tirar os frutos. Essa imagem me persegue desde que nasci: O Tempo das Azeitonas. Só quem é de família desses lugares sabe como a oliveira é central para esses povos. Eles amam, servem, comem, vivem por e para elas. Não há no planeta nenhuma árvore tão central. ------------- Azeite para iluminar. Azeite para revitalizar a pele. Sabão de azeite. Azeite no pão, na sopa, na carne e na verdura. Azeite no doce, no peixe, na ave, no legume. Em casa tudo levava azeite. Não ter azeite era ser a pessoa mais pobre do mundo. Azeite no feijão, no arroz, beber azeite. Vida em forma de alimento. História que tem sabor. Quente, macio, vivo. Citado na Bíblia, na Ilíada, no Corão. Sempre sagrado: azeite e pão. Aldous Huxley disse: " As raízes penetram a rocha, abrem caminho, trazem a vida...eu amo todas as árvores, mas nada se compara a força da oliveira". ---------------- Voltando a Portugal, em 2016, minha mãe chorou por ver que suas oliveiras haviam sido todas arrancadas. ( Único modo de matar uma delas: arrancar a raiz central ). Vejo naquilo que minha mãe a prova viva do que este livro diz: Quando arrancam uma oliveira é arrancada a raiz de quem lá vive. Minha mãe não quer mais voltar à sua terra. Não é mais sua, as raízes foram retiradas. ------------ Na Palestina quando Israel desaloja uma comunidade arranca as oliveiras e planta novas. Eu entendo isso. Vi aqui em casa. ---------------- Agora, por ordem de Bruxelas, plantam milhares de oliveiras em Portugal. Decidiram que Portugal será produtor de azeite e só de azeite. Derrubam castanheiros, nogueiras, cortiças, uvas e pessegueiros, tudo será oliveiras. Mas ninguém as ama. São raízes estrangeiras. São impostas. Pior: o azeite será vendido como made in Italy. ( Sim, 80% do azeite vendido como italiano não vem da Itália ). ---------------- Vinho...o vinho é diferente. Embora tão velho como o azeite, ele virou moda desde a muito. Não é mais uma tradição de famílias, de todas as famílias do campo ao redor do Mediterrâneo. Perdeu sua alma. A azeitona manteve seu aspecto familiar, simbólico, sagrado. Até quando? Até quando houver barris de azeitonas em mercados de rua. Oliveiras em propriedades simples, onde se faz o azeite da casa. Árvores com centenas de anos. Velhos colhendo a mão na geada de dezembro. A união do mundo do sul da Europa com o passado-futuro árabe do continente. Mundo de sol, de instrumentos de corda, do mar sempre presente, de longas conversas sobre comida.
ÁRABES
Pessoas atéias nunca entendem o mundo completamente. Elas deixam de fora a religião, a força social da relgião, e por isso suas análises são sempre vazias. Erram previsões e narram o passado de um modo raso. Quando dão o braço a torcer e tocam no assunto "Deus", encaram a fé como nada mais que uma das muitas superstições do homem. Não estou aqui dizendo se Ele existe ou não, o que afirmo, com toda certeza, é que relgiões moldam o mundo. Mais que o dinheiro. ------------------- Para essas pessoas é impossível sequer passar perto de compreender o mundo árabe. Tentam explicar tudo em termos de "colonialismo ocidental", mas nunca entendem porque esse colonialismo irrita tanto o universo árabe. Para eles, os mouros, nõs somos infieis. E para eles, isso é imperdoável, ou no mínimo, risível. ------------- Na USP tive um ótimo professor que disse uma vez que o planeta é dividido, até hoje, entre a cultura de Aristóteles e a de Platão. Na Europa, e por consequência nas Américas, somos todos aristotélicos. Acreditamos na experiência e nos sentidos. No mundo árabe, todos são platônicos, o mundo real é o mundo ideal, onde Deus mora. O mundo dos homens é uma ilusão passageira. ----------------------- Um árabe rico pode ter carros de ouro, edifícios no centro de Londres, iates em Ibiza. Ele pode até se divertir com tudo isso. Mas para ele, de um modo como jamais iremos entender, tudo isso é ilusão. Esse príncipe árabe sabe que sua única verdade é Allah e que ele só é real, um homem real, quando em oração. Para ele, a verdade JÁ FOI ATINGIDA, é o Alcorão. Para ele não há a ideia de progresso moral ou espiritual, pois Maomé é o máximo que um homem pode ser e ninguém jamais será mais perfeito que ele. O futuro mora no ano de 500 DC, o tempo de Maomé. Para esse príncipe, somente o mundo da matéria-ilusório muda. E a própria mudança é um mal. O bem é estático, imutável, Allah. -------------- Quando ele nos olha vê o que? Um povo que não para de se mover a esmo. Que muda sempre para pior. E que se deixa capturar por todas as ilusões do mundo. Somos quase animais. Quase sem alma. --------------- Porque em meu mundo, em nosso mundo, tudo se move e tudo está além. Caminhamos para frente, não importa para onde. E somos enfeitiçados pelas coisas que vemos e tocamos. Cremos nos olhos. O progresso moral e espiritual nos guia, a certeza de que TEMOS DE criar e descobrir coisas novas. Ideias essas considerados de atroz tolice pelos árabes. Para eles o máximo de progresso real já aconteceu. E esse cume é sua civilização, aquela de Bagdá, Meca, Medina e de Riad. ----------------------- Deu pra entender? -------------- Por isso sua lei é sempre a lei de Deus, e sua moral é a mesma de 500 DC. Mudar isso seria abrir mão de seu mundo inteiro. Pois nesse mundo não pode haver uma mudança interna, ou seja, mudar aquilo que é real de fato: a alma. Ele pode brincar com videos games, usar roupas ocidentais, até mesmo deixar sua mulher trabalhar, mas ele tem a certeza que tudo isso é NADA, TOLICES. Pois ele-mesmo é exatamente igual a seus antepassados. Para sempre. Mesma fé. Mesmo ritual. Mesmas certezas. Mesmo modo de se comportar. Mesma LEI. Sem dúvida alguma. Sem questionar. Sem chance para se modificar. ---------------- Essa filosofia nos nega radicalmente. É como se nós, cristãos ou ateus, fossemos seres de um mundo que gira e rodopia sem parar, e eles, árabes, vivessem no mundo sólido, forte, cheio de raiz. Mal nos percebem. Podem nos aceitar, e a maioria o faz, mas seremos sempre uma espécie de crianças vadias. Tontos que dão cabeçadas e não percebem a verdade. ------------- Analisar o mundo do oriente sem levar em conta isso, é ser mais criança tonta que toda criança tonta pode ser.
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