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HISTÓRIAS E SAGAS
Dou uma olhada nos comentários postados no youtube no vídeo de Bob Dylan postado abaixo. Entendo então o que Dylan significa para duas ou três gerações de americanos. Um homem fala que a canção tocou no enterro da filha, quando ela morreu aos 30 de overdose. O pai ria e chorava ao ouvor a canção. Um outro conta que ele servia no Texas, se preparando para o Vietnã, quando a ouviu a primeira vez. Há o homem que diz que ouvia o disco inteiro, todo dia, quando morou por um ano sozinho nas montanhas. São centenas de momentos cruciais na vida de pessoas que se encontravam com seu próprio eu ouvindo Dylan. Não há como comparar com alguém no Brasil. Roberto Carlos tem a universalidade de Dylan mas não seu alcance e Chico Buarque é parte da história de uma parcela ínfima do Brasil. Mas o que eu penso é outra coisa, nossa, brasileira, falta de história. ----------------------- Vietnã, Depressão de 29, duas guerras mundiais, o tempo do western, a corrida espacial, a corrida do ouro, os loucos anos 20, o Mississipi, a saga dos nativos, dos negros, o blues e o jazz, a independência...os USA tem tanta coisa para contar, tantos herois que humilham qualquer país com sua mesma idade. Aqui, perversamente, matamos toda nossa história, dos bandeirantes aos rebeldes da independência, dos abolicionistas à guerra de fronteira, tudo foi apagado ou deturpado e hoje nossa história vive em um limbo sem nomes e sem datas. Isso é trágico porque vivemos ouvindo falar de brasilidade, de Zumbi, de negritude, mas são palavras sem narração, sem sagas, sem detalhes, sem nada. Eliminam Pedro II e Pedro I, Princesa Isabel, Bonifácio, José do Patrocínio, o Barão de Mauá e deixam um vácuo onde nossa identidade se torna pó. Rondon, Lobato, têm histórias maravilhosas, mas ninguém as conta, pois eles são apenas "brancos que nada representam de autênticamente nacional". What? Quantos filmes teriam sido feitos nos USA com a vida de Rondon abrindo estradas no meio do nada? E a vida, milagrosa, de Raposo Tavares, Borba Gato, os Tamoios, a guerra contra os holandeses, o ouro em Minas. O Brasil era um inferno para um europeu e suas vidas aqui foram feitas de fé, violência e muita dor. Ah sim, ain....eles não eram daqui...leia mais rapaz, os nativos também não eram daqui, vieram do norte, da América Central e outras tribos do Pacífico. Ninguém é nativo de um lugar, todos rodam pelo mundo e fica no local quem vence. Isso é história. A história real. ---------------- Dylan é retrato e cantador da história dos USA. Os nossos pouco têm o que cantar então falam do mesmo sempre: o sol, a mulher, o fruto, a pobreza. É isso.
BOB DYLAN - NASHVILLE SKYLINE. O MELHOR DISCO DE DYLAN.
Lançado em 1969, este é meu disco favorito de Bob Dylan. --------------------- Após o acidente de moto acontecido em 1966, Dylan passou o ano psicodélico de 1967 sem dar sinal de vida e em 1968 voltou timidamente com The Band. Então em 1969 lança dois discos em seguida, Nashville é o segundo e os dois são country music, o que na época era uma coisa bem esquisita de se fazer. Muita gente ficou brava com Dylan por isso. Mas acabaram aceitando. E o LP vendeu muito bem. ---------------------- Bob Dylan nunca foi acomodado, sempre tentou mudar, e se para nós, brasileiros, todos disco americano com violão parece "country", nos USA todos sabem que o Dylan de 1962-1966 era folk e depois rock, e que folk e rock nada têm a ver com country. ------------------ Country era o som dos anti hippies e gente como Waylon Jennings ressaltavam isso. Mesmo Johnny Cash era uma figura estranha para o rock e se o The Byrds já havia quebrado a regra com o disco hiper country de 1968 Sweetheart of The Rodeo, disco que tem Gram Parsons, foi Dylan em 1969 que mudou o mundo rock e country para sempre. Para voce ter uma ideia, o que Dylan fez seria o equivalente ao Sepultura gravar um disco com Chitãozinho e Xororó. ----------------- O disco abre com Girl of North County e Johnny Cash divide os vocais com Bob. Pronto, estou ganho. É uma singela e linda canção caipira. Apenas 2:30 minutos. A segunda faixa é um country instrumental agitado. Instrumental!!!!! E o resto não muda o clima, é o disco mais alegre, mais curto, mais direto de Dylan. Ele mergulha na raiz de seu país e musicalmente faz o seu disco mais rico. Todas são faixas vivas, e a voz de Dylan nunca soou tão bem. Ele realmente canta aqui, e canta direito. ------------ Lay Lady Lay é o hit do album e não é a melhor música, embore eu a adore. É uma das canções da minha infância, ela tocava muito no rádio, então a conheço desde sempre. É difícil escolher a melhor canção, o disco não tem falhas. Se voce não gosta de Bob Dylan este é o disco para voce começar. É POP, é simples, é perfeito e acima de tudo, é lindo.
BOB DYLAN E O QUE É COOL
Surpreende o fato de que Bob Dylan sempre foi a muitos, muitos shows. Ele vai a Metallica ( gosta ), assim como ia a Roxy Music ( não gostava ). Numa entrevista recente, Dylan diz que a pessoa mais cool que ele já viu foi Miles Davis. Ele achava incrível o modo como ele se comportava no palco. A banda tocava durante algum tempo e quando lhe dava na telha, MIles entrava. Sem olhar para o público, ele fazia seu show de costas para a platéia. Depois, sumia. Era como se estivesse sozinho, pouco se lixando para quem havia pagado para o ver. Miles dizia que quem o assistia estava lá porque queria e que ele não devia nada à eles. Davis odiava essa coisa de dizer obrigado, fazer piadas, ser simpático. Ele tocava. A banda tocava. Isso era tudo. ------------------- Bob pegou muito dele.
BOD DYLAN, TIME OUT OF MIND
Este disco, histórico, foi produzido por Daniel Lanois, produtor associado de Brian Eno em Achtung Baby, o melhor disco do U2. Ou seja, Lanois é da escola que valoriza timbres e climas. E este disco é uma obra prima de timbres e de climas. Dizem que Dylan não gostou muito do resultado, que ele queria outro tipo de som, mas é um disco maravilhoso. Lanois deu ao instrumental um acabamento cheio de detalhes, o som vem como de outra dimensão, parece antigo e ao mesmo tempo é moderno. Quando a bateria ataca os pratos eles soam como fossem latas enferrujadas, mas ao mesmo tempo ecoam numa amplitude refinada, cuidada, que repercute e nos faz fixar todo o som. As guitarras tecem um labirinto de blues, country e fugas ciganas, enquanto o baixo conduz aquilo que poderia ser um kaos mas nunca é. Lanois deve ter tido um trabalho imenso em montar este trabalho, mas vamos falar agora de Dylan. ----------------- Este é seu melhor disco. E isto não deve te surpreender pois muita gente acha isso. Há quem chame do mais belo disco de despedida da vida da história. Voce sabe, ele não morreu em 1996, mas o disco é eterno. A mensagem fica e ela é belíssima. Dos grandes do rock, Dylan é, fora dos países de língua inglesa, o menos querido. Isso porque 80% de seu apelo moram nas letras, na palavra. Mas aqui temos um disco que é rico TAMBÉM em som, em música. É portanto o disco de Bob Dylan para ser ouvido por quem não gosta de Dylan. Longas, mas jamais enfadonhas, são 11 canções imensas. Variam entre tempos acelerados e tempos pensativos, mas ao contrário de seus outros discos, todas são musicalmente bem realizadas. As letras não estão sobre a melodia, estão casadas com a melodia. Cada faixa é como um conto magistral sobre um momento decisivo na vida de alguém e a música é digna do que se fala. Sim meu leitor, é um disco a prova de enjoo, vacinado contra o tédio, cheio da voz cavernosa do Dylan ancião. Ele fala da velhice, do cansaço, da proximidade do fim. Mas a música, ela anuncia a inspiração. ----------------- Todo grande artista tem um surto de produção na parte final da vida. Yeats é o exemplo maior desse fenômeno em literatura. Bob Dylan no rock. Desde este disco, 1996, ele produz sem parar. Canções de Natal, músicas de Sinatra, Cole Porter e Gershwin, novas composições. Ele não parou e esse final de vida já dura 27 anos. 27 ANOS!!!!!!!!! O homem é um titã. Ouça e entenda do que falo. -------------------Tenho uma queda imensa por seu disco de 1979 Slow Train Coming, disco que tem uma sonoridade exatamente oposta a desta obra. Slow é clean, limpo, cristalino, claro como o sol. Talvez seja, para mim, o mais querido LP de Bob Dylan. Mas eu sei, Time Out of Mind é melhor.
THE BYRDS.
Banda formada em 1965 por Roger McGuinn, o grupo tinha ainda Chris Hillman, David Crosby, Gene Clark. O sucesso veio grande e veio logo: Mr Tambourine Man, um cover de Bob Dylan que era melhor que o original. Com eles acontece então algo muito raro: o próprio alvo da homenagem, Dylan, se deixa influenciar pelos mais novos: Byrds, e passa a usar guitarras elétricas em seu som. Nasce o folk rock, invenção 100% de Roger McGuinn. --------------------- Roger, com sua Rickenbaker de 12 cordas, foi inspirado por George Harrison. Até ver o filme A HARD DAYS NIGHT, Roger era folk puro, anti rocknroll, estilo musical que ele achava ser alienado e escapista. Os Beatles mudaram sua visão e os Byrds mudaram o folk. A guitarra de McGuinn, um dos sons mais bonitos e influentes do rock, pairou como influência até os anos 80. TODO o indie rock americano da década de 1980, REM sobretudo, deveu seu som à guitarra de Roger McGuinn, influência sempre assumida por Peter Buck, o guitar player dos REM. ------------------ O primeiro disco, MR TAMBOURINE MAN chegou ao number one. O segundo TURN TURN TURN!, também. Mas a banda começou a se desfazer. Crosby saiu, depois Clark, por fim Hillman ( que foi fundar o estupendo Flying Burritto Brothers com Gram Parsons ). Acima de tudo, Roger era um insatisfeito. The Byrds, como aconteceu com tantas bandas da época, começou a atirar pra todo lado: influências de jazz, de música indiana, de eletrônica, de country de raiz. Em 1968, na década em que cada ano valia por dez, The Byrds já parecia uma banda muito, muito antiga. Isso com apenas 3 anos de estrada!!!! Não vendiam mais nada. Sweetheart At The Rodeo, de 1968, disco hiper country, com Gram Parsons no grupo, foi um fracasso de vendas. Roger nunca mais foi uma estrela de primeira. -------------- A cada década que passa, os Byrds ficam mais esquecidos. Mas não se engane, não há como entender os anos 60 sem ouvir The Byrds. Suas harmonias vocais são as mais perfeitas da história, sua guitarra é sublime e eles têm canções que viverão para sempre como testemunhos de nobreza. Talvez Younger Than Yesterday seja meu disco favorito, mas há ainda 5th Dimension...---------------- Posto 8 Mile High, último hit single deles. O solo de McGuinn foi inspirado pelos solos de sax de John Coltrane. É lindo e anuncia o psicodelismo californiano. Também nisso foram pioneiros. Tenho em minha coleção TUDO que eles gravaram até 1969, são 7 albuns que variam do perfeito ao razoável ( Mr Hyde é apenas razoável ). Nos anos 80 era chique ouvir The Byrds. Nos anos 90 já começaram a ser deixados de lado. Em 2022 são quase inexistentes. Faria bem ao que resta do rock reouvir The Byrds.
LEONARD COHEN LIVE IN LONDON 2008.
Primeiro deixemos claro: Leonard Cohen não tem nada a ver com rock. Quem leu a bio dele sabe disso. Nada em sua vida tem o espírito que guia TODO rocker, seja Iggy ou seja Dylan. Cohen queria ser escritor, queria cantar suas letras, nada nele vem do amor aos blues, ao country ou à estrada. Ouvindo suas canções, principalmente na melhor fase de sua carreira, a fase final, percebo que Cohen fazia o mesmo tipo de música que Paolo Conte, Joe Dassin, Harry Nilsson, a canção pop não rock, não funk, não soul, não country, a canção que é música, música bem feita. Seus músicos não são músicos de rock, sua presença de palco, cheia de humor, não é a do rock star. Leonard Cohen apresenta suas letras, como fazia Brassens, como fazia Gainsbourg. Penso que o final da vida de Cohen foi ideal. É o fim que Iggy Pop amaria ter ( e até flertou em alguns discos ) mas não poderá ter, e é o final que Bowie não teve tempo de criar. É preciso falar das letras de Leonard Cohen. Eu as adoro. Ao contrário de Dylan, quando Cohen fala de uma chama, a chama é uma chama mesmo, uma chama de fogo ou uma chama religiosa; já em Dylan essa chama pode ser tudo, depende do contexto ou do momento da vida de Bob Dylan. Cohen é direto, explícito, sólido. Isso porque ele se exercitava na prosa realista, no policial, no relato direto. As letras são então maravilhosamente claras, e ditas em sua voz, educada e de dicção precisa, faz de suas canções base para suas narrativas. Dylan coloca névoas em tudo, ele é profundamente simbólico. Cohen é transparente como Lou Reed. ( Os dois não se parecem em quase nada, Lou procura o choque e é ateu até os ossos, Cohen procura a elegância e é sempre religioso. Os dois sussurram e sabem brilhar no escuro ). --------------- Este CD duplo, ao vivo, é de uma beleza absoluta. Som sempre preciso, sopros e backing vocals, violões e um contra baixo sedutor. Cohen fala com a platéia, é engraçado, simpático, sedutor. É um show que toca o sublime. Confesso não gostar da inevitável Suzanne. Nem de So Long Marianne. Mas há a obra prima Tower of Song, a encantadora e encantatória The Gypsy's Wife, e muito, muito mais. Se as letras são das maiores do pop, as melodias possuem a fibra e a nuance que a voz de Cohen requer. Uma presença gigante. ---------------- Devo tecer uma diatribe aqui: é que Leonard Cohen é um dos queridinhos do tipo de ouvinte que mais me faz rir. O sujeito "inteligente e chique". Se Van Morrison virou o cantor dos filmes românticos dos anos 90 e Eric Clapton o guitarrista de sessentões ricos, Leonard Cohen é pior ainda. É o poeta dos velhos chiques que se enxergam como ainda tipos sedutores. Sedutores e perigosos. ( Fossem apenas velhos sedutores ouviriam Rod Stewart e Seal. Mas se acham perigosos, misteriosos, cultos demais. Ou seja, são um cliché ). Leonard Cohen, como os citados, não tem culpa alguma. Ele canta para adultos que já viram o inferno e que crêm na luz. Se o inferno é apenas a queda das ações ou a luz é um novo Mercedez, Cohen não tem culpa nenhuma. ------------------ Joe Cocker, uma voz milagrosa e um bêbado incurável se tornou cantor de motel. ------------------------- Entendo o porque de Leonard cantar sempre usando terno completo. Ele sabia ser do tempo de seu pai. Avisava não ser rock. E tinha a feitura correta, medida, adulta, bem feita que os bons alfaiates possuem. Dizem que os homens começaram a deixar de ser homens quando jogaram fora paletó e chapéu e passaram a se vestir como adolescentes eternos. Leonard Cohen era adulto. E HOMEM. Homem como homem é. Não um heroi. Um cowboy. Um soldado. Um homem que cresceu. Que envelheceu. Que ama as mulheres sem pudor algum. Um grande disco.
OS INGLESES SÃO POBRES E A MEMÓRIA NÃO MORRE
A geração inglesa que hoje tem entre 70-80 anos conheceu a fome em seus primeiros anos de vida. Eles têm memória da ração em lata ( spam ), do um ovo por semana, do leite em pó. Memórias felizes de quarteirões derrubados, espaços livres, vida na rua e centenas de milhares de crianças ( era o baby boom pós guerra ). Cresceram nas ruínas da guerra e jamais esquecem isso. Apaixonados pela comida farta da América, seus carros imensos, as casas grandes, a confiança na vida. O sol. Portanto, quando voce analisar um rock n roll star inglês dessa geração, tenha sempre isso em mente, ele foi pobre, muito pobre. E portanto, seu maior medo, eterno, é não só passar necessidade, como ver um dos seus em apuros. Eles festejam poder ter uma casa imensa, vários carros, mulheres ricas, joias e comida, muita comida. -------------- E apesar da boa educação da Inglaterra de então, são ex-suburbanos, ex-famintos, ex-moleques da rua. Para entender o que é sua história, tenha essa certeza: sua carreira é uma luta contra a carência. ---------------- Nenhum rock star inglês é realmente chique. Mesmo Bryan Ferry e David Bowie, os ícones do glamour, possuem uma breguice extrema. Ferry exagera tanto no chique, no ar de aristocrata, que trai sua insegurança. E Bowie sempre teve, principalmente em seus melhores momentos, algo do rapaz deslumbrado pela vida na cidade grande. Ele era exibicionista. Nada menos chique que isso. Isso que falo explica gente como Mick Jagger, que simplesmente não consegue parar de fazer dinheiro, que mesmo com tanto nos cofres ainda mantém um jeito brega de vestir e de ser. Não preciso falar de Elton John, Rod Stewart, Ozzy, Robert Plant, Ian Gillan e todo o resto. O próprio rock progressivo é uma tentativa de parecer culto e superior, atitude só prezada por quem se sente caipira e acossado por snobs. O rock inglês é filho de moleques famintos, crianças que ficaram ricas mais tarde. Nos EUA a história é completamente diferente. Toda esta minha conversa não faz sentido lá. -------------- O piano brega de Paul MacCartney, com um pano cheio de cores, é a lembrança do jovem faminto que ele foi. Assim como a carreira de Rod Stewart pós 1975, toda voltada para fazer dinheiro e ganhar mulheres. Mas não só eles. É brega Van Morrison com suas roupas ridículas, Pete Townshend e sua insegurança social, Ray Davies tentando parecer um dandy de 1910. Todos seguiram o mesmo caminho: um começo sincero e soberbo, confessional, ainda dentro do mundo duro e pobre da juventude inglesa de então, mas depois, quando a grana começa a chegar aos quilos e quilos, o desejo de não mais voltar a ser pobre toma conta e ser rico se torna mais importante que ser autêntico. -------------- Nada há aqui que os desabone. Eu sou como eles são. São humanos. Estão longe da estranha desumanidade mimada dos stars de 2021. -------------------- Há neles o orgulho de quem venceu. E isso é o mais importante. Em todos há o espírito do "VEJA MÃE! OLHA ONDE ESTOU!" Jeff Beck compra dúzias de carros antigos, aqueles que ele sonhava aos 12 anos e Jimmy Page mora em castelos, os que ele via no cinema e sonhava em morar. Não há muito espaço para compor um novo Immigrant Song quando seus dias são dedicados a usufruir seu novo status. ----------------- Rod Stewart foi um dos mais pobres, e por isso, seu deslumbre foi o maior. Quando se viu rico ele mergulhou na farra. O gênio, sim gênio, de seus primeiros discos morreu. Saiba que entre 1970-1974 era ele o artista mais nobre da ilha ( não, não era Bowie ). Pego aqui um CD do cara: GREAT ROCK CLASSICS OF OUR TIME. O Rod dos insuportáveis AMERICAN SONGBOOKS, caso voce não saiba ele vendeu toneladas da série de CDs que revivem as cançõea americanas clássicas, coisas que Sinatra e Fred Astaire cantavam. Esses Cds são de uma breguice soberba. Música para quem quer ser chique e não consegue ouvir os originais. Pois bem, aqui ele faz o mesmo com alguns rocks e pops. Um disco para vender mais alguns milhões. --------------------- Rod é o melhor cantor cover da história. Ao contrário de Bryan Ferry, outro cantor famoso por gravar covers, Rod não muda as canções radicalmente. Ferry as torna canções de Bryan Ferry, todas ficam parecendo composições dele mesmo. Rod não, ele canta dentro do formato imaginado pelo compositor. O diferencial é que ele canta sempre muito melhor que qualquer um. Por isso ele é o melhor intérprete de Bob Dylan da história. Ele dá à Dylan aquilo que Bob não tem: poder vocal para falar tudo que a canção pode dizer. IF NOT FOR YOU é o Dylan deste CD. Simples, alegre, confiante. Se com Dylan era ela uma linda canção, com Rod ela é perfeita. OH ROD!!!!! QUanta coisa maravilhosa voce não poderia ter feito!!!!! ---------------- O disco abre com Have you ever seen the rain, e não dá pra ser melhor que John Fogerty. Nem precisava ter gravado essa. Mas a gente sempre imaginou como seria Rod cantando Creedence, então okay. Depois vêm dois pontos baixos: Elvin Bishop e Chrissie Hynde. Fooled Around de Bishop é só uma cançãozinha boba, e I'll stand by you é daquelas coisas pavorosas que Chrissie fez depois que virou vegetariana e militante do bem. A Chrissie punk morreu em 1981. ------------------ Bob Seger é cantado com Still The Same, um linda canção e apesar de Bob ser um grande vocal, Rod a melhora. Profissional. Rod está ganhando dólares com dignidade. Mas às vezes não....cantar Its a Heartache, a horrenda música de Bonnie Tyler beira o apelativo. Rod canta uma peça de uma imitadora dele mesmo! Pra que? Por Caipirice.--------------- Day After Day é um dos amores da minha vida. Rod canta exatamente como na versão original. Não há um acorde diferente. A canção é uma obra prima, Rod a repete. Bem....em 1975 Rod Stewart nos deixou às lágrimas com uma versão mágica de First Cut is The Deepest, de Cat Stevens. Tantos anos depois ele revisita Stevens e canta Father and Son. Não é nem sobra do cantor de então, mas a composição de Cat é também menos genial. Então temos os Eagles e Best of My Love. Alguém disse que Rod canta com uma sedução maravilhosa, não houve cantor mais sedutor para as mulheres, sua voz as leva à cama. Aqui temos um cara que aos 70 anos ainda dá seus botes. E então vem If Not For You e a verdade se revela. É a única faixa onde Rod é ele mesmo. Um simples e ingênuo cantor. Vale todo o resto. ---------------- Não vou ouvir Love Hurts. Gram Parsons a gravou do modo perfeito e o Nazareth a destruiu para sempre. --------------- Na minha infância e adolescência, já disse isso, fomos educados a sofrer por amor. Os grandes sucessos, 80% deles, eram músicas feitas para chorar. Everything I Own é uma linda canção da mais chorosa das bandas, Bread. É uma canção tão linda que é impossível a estragar. Até Boy George ganhou dinheiro com ela. Rod nos dá um presente. ( Fico ainda mais tocado ao saber que a letra não é sobre uma mulher que deu tudo ao homem, é sobre o pai do autor, que havia morrido sem ver seu sucesso. David Gates, o compositor, agradece por tudo que o pai lhe deu ). Para fechar do CD, o óbvio: Van Morrison e mais uma de suas canções de motel. ----------------- A seleção diz muito sobre quem Rod é. Simples e direto. E fala mais sobre o que ele faz desde 1975: Produtos que vendem muito. Mas as faixas sobre Dylan, Bob Seger e o Bread mostram que ainda há um sopro de magia nele. E eu amo esse cara.
NOSSA! QUE INCRÍVEL! BOB DYLAN ESCOLHE A BANDA MAIS IMPORTANTE DA HISTÓRIA E VOCE VAI FICAR MUITO SURPRESO COM SUA ESCOLHA!
Meu título é irônico. Aliás, ironia é um dom que está em vias de extinção. Leio uma entrevista com Bob Dylan onde o escriba diz que a escolha que Dylan faz, a maior banda da história, é surpreendente. Dylan escolhe os Stones. E eu percebo a burrice do tal escriba. O que há com o jornalismo? O que há? Formados na net, é a primeira geração net, eles leram pouco e leram mal. Foram consumidores de tweets. Não pensam. Lançam afirmações. O mundo deles não é da análise do texto. É do slogan. O escriba imaginou que Dylan escolheria as bandas que lideram as listas de melhores discos de todos os tempos. Beatles. Beach Boys. Radiohead. Velvet Underground. -------------- Dylan diz que os Stones inauguram a era das bandas de rock. TODAS as bandas devem algo a eles. Desde a performance do cantor no palco, até o estilo de se usar uma guitarra, da mistura de música negra e country, do sexo como centro da coisa. Mais importante, Dylan diz que eles fizeram nascer e ao mesmo tempo são a última banda de rock. ------------ Há aí uma licença poética, mas é claro que o rock deixou a 20 anos de ser relevante. Tanto em termos de mercado, como em termos comportamentais. Nesse aspecto os Stones são sim aqueles que enterram uma era. A era deles mesmos. Dentro dela viveram desde Doors e Led Zeppelin, até Franz Ferdinand e Artic Monkeys. ---------------- Falar tudo isso é óbvio. O que penso é que um dos fatores do fim dessa era foi a morte da mídia física. Roqueiros, assim como o povo do jazz e do erudito, colecionam coisas. O público da música pop de hoje não. O rock vivia do colecionismo, do disco raro, do desejo não satisfeito. Quando isso é assassinado, e com ele a loja de discos, o rock perde, como dizia Benjamin, sua "aura". Despe a roupa de coisa especial e fica nú. Passa a ser consumido como água ou eletricidade. Se torna anônimo. O album perde sua vez. Uma faixa rumo ao esquecimento. --------------- Isso que falei é apenas um dos fatores. Quanto aos Stones....sim, concordo com Dylan. Na média eles são o centro da coisa. Inclusive por terem inventado o show moderno, em 1981, eu tava lá, foi a primeira vez que uma excursão deu lucro ANTES DE COMEÇAR, porque foi a primeira a ter patrocínio. Na época acharam isso esquisito, uma banda com patrocínio cheirava a prostituição. Tempos bobos né....a excursão de 1981 acabou sendo a melhor da história dos caras e talvez o começo do fim. Pela primeira vez palcos imensos, dinheiro para centenas de roadies, chamadas na TV etc etc etc.... --------------------- O escriba ficar surpreso com essa escolha é coisa de idiota. Pronto, escrevi agora como eles escrevem: curto, grosso e bobo. FIM.
HARD RAIN - BOB DYLAN E A ROLLING THUNDER REVUE
1976 foi o ano mais legal do século XX. O filme do Richard Linklater, Dazed and Confused diz isso. E todo mundo tipo Tarantino, Anderson e Burton concorda comigo. Well...voce pode dizer: Vocês acham isso porque em 1976 tinham 12, 15 anos...OK. Daí eu te respondo: Faz as contas e veja em que ano voce tinha 12. E me conta: Voce acha que foi o melhor ano de todos?
1976 foi cool porque via o nascimento de disco e punk ao mesmo tempo. Não era mais hippie, mas ainda era free. Foi nascimento da moda esporte também, principalmente skate e surf. Essas duas ondas ainda eram alternativas. O cinema clássico ainda estava vivo, mas já era moda Spielberg, Lucas, Alan Parker tava dando as caras, assim como Ridley Scott, John Carpenter, James Cameron, e a comédia tipo Saturday Night Live. Os atores quentes eram Paul Newman, Al Pacino, Burt Reynolds e Clint Eastwood. Em 1976 ver TV era muito bom, apesar de só ter 6 canais. Tinha uma montanha de séries: Baretta, Kojak, Columbo, SWAT, As Panteras, Starsky e Hutch, Cannon, O Homem do Fundo do Mar, MASH, Kolchak, Bill Cosby, Mary Tyler Moore, Happy Days.
1976 foi o bicentenário dos EUA e houve festa o ano todo por lá. Pra comemorar, BOB DYLAN excursionou o ano inteiro dentro do país. Ele tocou em New York, mas também em cafundós do Idaho ou de Iowa. A excursão recebeu o nome de The Rolling Thunder Revue e muita gente seguiu ele por todo o país. Dylan comemorou a América como cowboy, Whitman e beatnik, tudo ao mesmo tempo. Ele levava uma banda fixa de cinco músicos, mas dependendo do lugar, às vezes tinha 30 pessoas no palco. Alguns shows contaram com Neil Young. Outros com Joni Mitchell. Teve show com Van Morrison. Ou Gordon Lightfoot. Paul Simon. Robbie Robertson ou Neil Diamond. Os shows duravam 4, 5 horas. Não tinha roteiro. Podia acontecer até um desastre em meio a erros e chuva pesada.
Gravaram um disco. Hard Rain. Eu o comprei em maio de 1977. Matando aula, tava frio pacas. Fui numa loja de discos, faz tempo, ainda existia isso, na rua Teodoro Sampaio, e peguei um Eric Clapton, No Reason to Cry, um Robin Trower, Live, e o Hard Rain. Odiei. Muita gente odiou. A mixagem do disco era horrenda! Som de lata, de radinho de pilha. Era impossível ouvir aquela bagunça onde a voz zumbia como um pernilongo rouco e a bateria havia sumido. Era um disco sujo, porco, mal feito. Recordes de devolução. Fiquei puto. Foi meu primeiro Dylan e abominei.
1976 foi época de muito gibi. O Homem Aranha e O Demolidor estavam em fase ótima! A Abril tinha umas 15 revistas mensais e a EBAL mais de 25. Era quadrinho de monte! De Tarzan à Mandrake, eu lia tudo. E ainda colecionava as revistas de mulher pelada: Homem, Status, Ele e Ela, Fiesta e Lui. A gente ficava muito na rua.
2020 tem uma pandemia. E eu pego num sebo o cd de Hard Rain. Meu vinyl de 1976 eu troquei faz séculos. Ouço. Mick Ronson, da banda do Bowie, toca em Maggies Farm. Quer saber? Bob nunca esteve tão bem. Aos 36 anos ele estava tinindo. Quer saber? Minha imagem da América é o país de 1976: Josey Wales nas telas e os Eagles em primeiro lugar nas paradas. Dr J nas quadras.
1976 nunca acabou não é?
1976 foi cool porque via o nascimento de disco e punk ao mesmo tempo. Não era mais hippie, mas ainda era free. Foi nascimento da moda esporte também, principalmente skate e surf. Essas duas ondas ainda eram alternativas. O cinema clássico ainda estava vivo, mas já era moda Spielberg, Lucas, Alan Parker tava dando as caras, assim como Ridley Scott, John Carpenter, James Cameron, e a comédia tipo Saturday Night Live. Os atores quentes eram Paul Newman, Al Pacino, Burt Reynolds e Clint Eastwood. Em 1976 ver TV era muito bom, apesar de só ter 6 canais. Tinha uma montanha de séries: Baretta, Kojak, Columbo, SWAT, As Panteras, Starsky e Hutch, Cannon, O Homem do Fundo do Mar, MASH, Kolchak, Bill Cosby, Mary Tyler Moore, Happy Days.
1976 foi o bicentenário dos EUA e houve festa o ano todo por lá. Pra comemorar, BOB DYLAN excursionou o ano inteiro dentro do país. Ele tocou em New York, mas também em cafundós do Idaho ou de Iowa. A excursão recebeu o nome de The Rolling Thunder Revue e muita gente seguiu ele por todo o país. Dylan comemorou a América como cowboy, Whitman e beatnik, tudo ao mesmo tempo. Ele levava uma banda fixa de cinco músicos, mas dependendo do lugar, às vezes tinha 30 pessoas no palco. Alguns shows contaram com Neil Young. Outros com Joni Mitchell. Teve show com Van Morrison. Ou Gordon Lightfoot. Paul Simon. Robbie Robertson ou Neil Diamond. Os shows duravam 4, 5 horas. Não tinha roteiro. Podia acontecer até um desastre em meio a erros e chuva pesada.
Gravaram um disco. Hard Rain. Eu o comprei em maio de 1977. Matando aula, tava frio pacas. Fui numa loja de discos, faz tempo, ainda existia isso, na rua Teodoro Sampaio, e peguei um Eric Clapton, No Reason to Cry, um Robin Trower, Live, e o Hard Rain. Odiei. Muita gente odiou. A mixagem do disco era horrenda! Som de lata, de radinho de pilha. Era impossível ouvir aquela bagunça onde a voz zumbia como um pernilongo rouco e a bateria havia sumido. Era um disco sujo, porco, mal feito. Recordes de devolução. Fiquei puto. Foi meu primeiro Dylan e abominei.
1976 foi época de muito gibi. O Homem Aranha e O Demolidor estavam em fase ótima! A Abril tinha umas 15 revistas mensais e a EBAL mais de 25. Era quadrinho de monte! De Tarzan à Mandrake, eu lia tudo. E ainda colecionava as revistas de mulher pelada: Homem, Status, Ele e Ela, Fiesta e Lui. A gente ficava muito na rua.
2020 tem uma pandemia. E eu pego num sebo o cd de Hard Rain. Meu vinyl de 1976 eu troquei faz séculos. Ouço. Mick Ronson, da banda do Bowie, toca em Maggies Farm. Quer saber? Bob nunca esteve tão bem. Aos 36 anos ele estava tinindo. Quer saber? Minha imagem da América é o país de 1976: Josey Wales nas telas e os Eagles em primeiro lugar nas paradas. Dr J nas quadras.
1976 nunca acabou não é?
UMA DAS PIORES PRAGAS DOS ANOS 70
Em sites atuais, gente da minha geração, e de gerações bem mais novas também, tecem loas ao disco ao vivo. Tem até rankings, vários, que vão da Rolling Stone à All Music. Da BBC ao Times. Gostam de falar que bandas mais recentes não lançavam e não lançam discos ao vivo porque em shows não criam nada, apenas repetem o que foi já gravado. Acho que não. Penso que pararam de lançar Live In Concert a partir dos anos 90 simplesmente porque o DVD com o show se popularizou. Tão simples isso...
Nos anos 70 TODA banda e todo cantor lançava pelo menos um disco ao vivo. Ás vezes a cada 4 anos. 90% era um lixo. Lixo mesmo! E o motivo era simples: cocaína. A maioria desses discos são ego trips movida a pó. Músicas de 3 minutos viram exibicionismos de 15 ou mais minutos insuportáveis. Nem na época, com 12 anos de idade, eu suportava isso.
Tudo começou, claro, nos anos 60. E a culpa é de Eric Clapton. Cream foi a primeira banda a pegar uma musiquinha linda, pop, perfeita, e no palco esticar essa canção em até meia hora de "viagem cara, viagem"... Em alguns blues, como Crossroads, a coisa até fica legal, mas quando eles fazem Toad durar vinte minutos...aí o saco explode. Grateful Dead veio logo na cola. Há quem pense que foi a banda de Jerry Garcia quem inventou o ego trip. Mas não. Jerry pegou de Eric. O Dead explodiu ainda mais, tinha canção ao vivo que durava duas horas. Sim baby, duas malditas horas de improviso sem fim. Tem um disco deles, LIVE DEAD, com o pior solo de bateria já gravado. Há quem adore.
Ando ouvindo tudo que tenho, e hoje tentei ouvir dois discos que estão sempre entre os 10 mais citados entre os melhores ao vivo da história. LIVE AT FILLMORE EAST, dos Allman Brothers é geralmente o número um para os críticos, e MADE IN JAPAN, voce sabe de quem, é o mais citado como number one para o povo da Harley e barriga. O disco do Allman consegui escutar quase todo inteiro. O outro...só a primeira faixa. Deep Purple toca 7 músicas em um disco duplo, sendo que Starstrucker, que é uma ótima faixa, dura aqui 20 minutos e se torna insuportável. Um lado de vinyl inteiro. Pra quê??? Ego trip pura. The Mule tem um solo de bateria de uns 10 minutos. Ian Paice é jazzy, é excelente, e eu amo bateria. Mas o limite são 3 minutos. No máximo 3, por favor. Não há baterista, nem Buddy Rich, que mantenha o nosso interesse ligado solando por mais de 3 minutos.
O disco dos Allman Brothers, de 1971, é super amado. Por que??? Sim, é uma delicia o som da banda. Duane Allman é um mito e Derek Trucks, o outro guitarrista, é tão bom quanto. Greg Allman canta de verdade, tem voz, mas caramba!!!!! Pra que essa mania de parar tudo e ficar uma guitarra tocando solo à procura de um riff??? Whipping Post é mágica, mas não em 15 minutos!!!!!! De qualquer modo, ele é infinitamente melhor que Made in Japan.
Ah ! Ouvi também o disco ao vivo de Bob Dylan de 1976, Hard Rain. Postei video do show. Olhe.
Pior disco ao vivo dos anos 70? O do Led, claro. THE SONG REMAINS THE SAME é o mais ego dos egos. Eles não fazem música, apenas se exibem. O disco triplo dos Wings, de 1977 também é um horror. Mas que tal falar dos melhores?
ITS ALIVE! dos Ramones, 1977. Tem 28 faixas. 2 minutos cada uma. Talvez o melhor ao vivo de todos os tempos.
Viva! do Roxy Music. De 1976. Sem solos longos. Todas as faixas estão melhores que as originais.
Rory Gallagher, Irish Live! de 1974. Muito amado em listas de melhores. É realmente ótimo.
The Who live at Leeds, de 1970. Tem muito bla bla bla entre as faixas. Mas tem energia pra caramba. A versão de my generation é muito longa, mas não por causa de solos, são arranjos enfiados no meio da música. Funciona.
Wellcome to the Canteen, do Traffic. De 1971. Muito bom.
Tem ainda discos legais ao vivo do Robin Trower, The Band com Bob Dylan, um grupo com Eno e Manzanera, o do Bob Marley é ok. MC5, ótimo. Foghat ao vivo, muito bom.
Ah!!!! Fuja de David Bowie. Os dois ao vivo da década são muito ruins. O ao vivo dos Faces é das coisas mais nada a ver já gravadas. E é óbvio que estou ignorando as bandas progressivas. Nunca ouvi. Nem vou. Lou Reed também lançou dois ao vivo nesse tempo. Ruins. E tem Metallic KO do Iggy, que apesar do nome ótimo, é insuportável. E chega que este solo já deu né não?
PS: pode ouvir GET YER YAS YAS OUT. A versão de Midnight Rambler vale o disco. Mas que diabos Mick!!!! Pra que tanto disco ao vivo na carreira??
Nos anos 70 TODA banda e todo cantor lançava pelo menos um disco ao vivo. Ás vezes a cada 4 anos. 90% era um lixo. Lixo mesmo! E o motivo era simples: cocaína. A maioria desses discos são ego trips movida a pó. Músicas de 3 minutos viram exibicionismos de 15 ou mais minutos insuportáveis. Nem na época, com 12 anos de idade, eu suportava isso.
Tudo começou, claro, nos anos 60. E a culpa é de Eric Clapton. Cream foi a primeira banda a pegar uma musiquinha linda, pop, perfeita, e no palco esticar essa canção em até meia hora de "viagem cara, viagem"... Em alguns blues, como Crossroads, a coisa até fica legal, mas quando eles fazem Toad durar vinte minutos...aí o saco explode. Grateful Dead veio logo na cola. Há quem pense que foi a banda de Jerry Garcia quem inventou o ego trip. Mas não. Jerry pegou de Eric. O Dead explodiu ainda mais, tinha canção ao vivo que durava duas horas. Sim baby, duas malditas horas de improviso sem fim. Tem um disco deles, LIVE DEAD, com o pior solo de bateria já gravado. Há quem adore.
Ando ouvindo tudo que tenho, e hoje tentei ouvir dois discos que estão sempre entre os 10 mais citados entre os melhores ao vivo da história. LIVE AT FILLMORE EAST, dos Allman Brothers é geralmente o número um para os críticos, e MADE IN JAPAN, voce sabe de quem, é o mais citado como number one para o povo da Harley e barriga. O disco do Allman consegui escutar quase todo inteiro. O outro...só a primeira faixa. Deep Purple toca 7 músicas em um disco duplo, sendo que Starstrucker, que é uma ótima faixa, dura aqui 20 minutos e se torna insuportável. Um lado de vinyl inteiro. Pra quê??? Ego trip pura. The Mule tem um solo de bateria de uns 10 minutos. Ian Paice é jazzy, é excelente, e eu amo bateria. Mas o limite são 3 minutos. No máximo 3, por favor. Não há baterista, nem Buddy Rich, que mantenha o nosso interesse ligado solando por mais de 3 minutos.
O disco dos Allman Brothers, de 1971, é super amado. Por que??? Sim, é uma delicia o som da banda. Duane Allman é um mito e Derek Trucks, o outro guitarrista, é tão bom quanto. Greg Allman canta de verdade, tem voz, mas caramba!!!!! Pra que essa mania de parar tudo e ficar uma guitarra tocando solo à procura de um riff??? Whipping Post é mágica, mas não em 15 minutos!!!!!! De qualquer modo, ele é infinitamente melhor que Made in Japan.
Ah ! Ouvi também o disco ao vivo de Bob Dylan de 1976, Hard Rain. Postei video do show. Olhe.
Pior disco ao vivo dos anos 70? O do Led, claro. THE SONG REMAINS THE SAME é o mais ego dos egos. Eles não fazem música, apenas se exibem. O disco triplo dos Wings, de 1977 também é um horror. Mas que tal falar dos melhores?
ITS ALIVE! dos Ramones, 1977. Tem 28 faixas. 2 minutos cada uma. Talvez o melhor ao vivo de todos os tempos.
Viva! do Roxy Music. De 1976. Sem solos longos. Todas as faixas estão melhores que as originais.
Rory Gallagher, Irish Live! de 1974. Muito amado em listas de melhores. É realmente ótimo.
The Who live at Leeds, de 1970. Tem muito bla bla bla entre as faixas. Mas tem energia pra caramba. A versão de my generation é muito longa, mas não por causa de solos, são arranjos enfiados no meio da música. Funciona.
Wellcome to the Canteen, do Traffic. De 1971. Muito bom.
Tem ainda discos legais ao vivo do Robin Trower, The Band com Bob Dylan, um grupo com Eno e Manzanera, o do Bob Marley é ok. MC5, ótimo. Foghat ao vivo, muito bom.
Ah!!!! Fuja de David Bowie. Os dois ao vivo da década são muito ruins. O ao vivo dos Faces é das coisas mais nada a ver já gravadas. E é óbvio que estou ignorando as bandas progressivas. Nunca ouvi. Nem vou. Lou Reed também lançou dois ao vivo nesse tempo. Ruins. E tem Metallic KO do Iggy, que apesar do nome ótimo, é insuportável. E chega que este solo já deu né não?
PS: pode ouvir GET YER YAS YAS OUT. A versão de Midnight Rambler vale o disco. Mas que diabos Mick!!!! Pra que tanto disco ao vivo na carreira??
DYLAN E ENNIO
Grande comoção geral pela morte de Ennio Morricone. Já aviso que não sou fã. Ele compôs as trilhas dos westerns que todo mundo conhece e que todo mundo acha as melhores já feitas para westerns. Não são. Elmer Bernstein e Jerome Morros compuseram coisa bem melhor. Isso não significa que não goste da música dos tais filmes. Como não gostar? Como bom italiano, ele mistura tudo numa receita que acaba dando certo. Tem as guitarras de James Bond com vozes de Burt Bacharach. Percussão de Yojimbo com melodia de Max Steiner. Deu certo. E por ser....cômica? O povo ama.
Desde Wagner muita gente comenta que música italiana é sempre melada. Ennio fez algumas trilhas apelativas que pra mim são imperdoáveis. O italiano sempre quer uma lágrima sua. Ele se esforça por isso. A arte do país foi destruída muitas vezes por essa mania de achar que a lágrima é o maior dos prêmios. Rossini, Mascagni, Leoncavallo, até Vivaldi às vezes caía nisso. Verdi se deixou tomar também.
Nino Rota foi muito maior que Ennio. Tão melado quanto, mas muito mais belo. Nino voava.
Um nobre amigo me manda o disco novo de Bob Dylan. Surpresa! Bob melhorou a voz. Ele não tenta mais cantar. Ele ruge. O disco todo é um leão velho emitindo ainda seus urros guturais. É rock n roll puro. Bob é da geração que ainda faz rock não parecer paródia. Isso porque essa gente nascida entre 1940-1950 ouviu rock e só rock como referência. Não adquiriram o distanciamento que faz com que todo músico de rock nascido em 1960 ou 1990 pareça sempre estar reinterpretando criticamente algo já feito antes. O que é verdade.
Quando Bob fala de Jimmy Reed ele fala como quem conheceu Reed. Dylan e MacCartney. A idade nunca foi inimiga da arte. Pensava-se que seria ridículo cantar rock aos 40. Townshend e Jagger diziam isso num tempo em que ninguém tinha 30. Hoje a gente sabe que não. Dylan gravou discos aos 30 anos muito ruins. E desde que fez 60 tem acertado muito.
Me inquieta saber que algum imbecil irá dizer que Dylan é apenas um judeu branco macho. Mas quer saber? Isso vai passar! Este é um novo século, o XX se foi, e é normal que se tentem novos modos de viver e pensar. O lixo irá sumir e o que vale será preservado. Dylan será como Shelley ou Whitman. O novo século o poupará.
Desde Wagner muita gente comenta que música italiana é sempre melada. Ennio fez algumas trilhas apelativas que pra mim são imperdoáveis. O italiano sempre quer uma lágrima sua. Ele se esforça por isso. A arte do país foi destruída muitas vezes por essa mania de achar que a lágrima é o maior dos prêmios. Rossini, Mascagni, Leoncavallo, até Vivaldi às vezes caía nisso. Verdi se deixou tomar também.
Nino Rota foi muito maior que Ennio. Tão melado quanto, mas muito mais belo. Nino voava.
Um nobre amigo me manda o disco novo de Bob Dylan. Surpresa! Bob melhorou a voz. Ele não tenta mais cantar. Ele ruge. O disco todo é um leão velho emitindo ainda seus urros guturais. É rock n roll puro. Bob é da geração que ainda faz rock não parecer paródia. Isso porque essa gente nascida entre 1940-1950 ouviu rock e só rock como referência. Não adquiriram o distanciamento que faz com que todo músico de rock nascido em 1960 ou 1990 pareça sempre estar reinterpretando criticamente algo já feito antes. O que é verdade.
Quando Bob fala de Jimmy Reed ele fala como quem conheceu Reed. Dylan e MacCartney. A idade nunca foi inimiga da arte. Pensava-se que seria ridículo cantar rock aos 40. Townshend e Jagger diziam isso num tempo em que ninguém tinha 30. Hoje a gente sabe que não. Dylan gravou discos aos 30 anos muito ruins. E desde que fez 60 tem acertado muito.
Me inquieta saber que algum imbecil irá dizer que Dylan é apenas um judeu branco macho. Mas quer saber? Isso vai passar! Este é um novo século, o XX se foi, e é normal que se tentem novos modos de viver e pensar. O lixo irá sumir e o que vale será preservado. Dylan será como Shelley ou Whitman. O novo século o poupará.
A BOBAGEM DO TAL ROCK ADULTO E A VERDADE DO TALENTO...PENSANDO A MORTE DE GEORGE MICHAEL.
O coração de George Michael havia parado de bater a muito tempo. Assim como Prince, seu tempo acabou por volta de 1995. A era dos Clinton, de Seattle, das camisas de flanela enterrou o POP chique, vaidoso, hedonista dos dois e de tantos outros. A versão branca da música de Stevie Wonder, Marvin Gaye e Al Green não tinha mais vez. E o tipo de música de Prince, o negro feliz, vaidoso, satisfeito, sexy, se tornou o RAP, mais agressivo, mais masculino, mais suburbano. O público de George passou a ouvir música eletrônica, o de Prince, RAP.
Para piorar, George processou a Sony, num tempo em que gravadoras ainda mandavam em tudo. Fosse hoje ele não teria o menor problema, mas na época ele ficou isolado. Na geladeira. Quando voltou o mundo já mudara. Os anos 80 eram outro planeta. E as meninas, seu maior público, dançavam ao som de Ricky Martin, pois George já assumira sua condição gay. ( Ironia ).
Ele não se tornou um novo Elton John porque não tinha o gênio de compositor que Elton tem. George era uma voz perfeita. Listen Without Prejudice é seu melhor disco e em Praying For The Time ele atinge o sublime. Ouvir essa canção nos recorda que a beleza é aquilo que mais precisamos. Praying é a faixa que abre o disco. Quando a orquestra começa a tocar nos sentimos em outro mundo. Isso é genial.
A geração de George teve a pretensão de unir música popular adulta ao rock. Perceberam que mesmo Dylan era apenas um adolescente velho. Dylan podia ser genial, mas era um teen sempre. Pensaram em ser adultos copiando a postura de adultos. Bowie, Ferry, Robert Palmer, George, todos vestiram ternos, pegaram melodias Cole Porter- Gershwin- Berlin e pensaram que assim seu POP se tornaria adulto. O máximo que conseguiram era parecer adultos no lugar errado. Erraram de desejo e erraram o alvo, claro. Mas em meio a esse processo criaram um tipo de trilha sonora chique que nunca mais foi tentada por ninguém. ( OK, Amy sim... ). Sade, Paul Weller no Style Council, o Everything But The Girl, todos chegaram nesse hibridismo que jamais foi adulto, mas que era uma bela festa de adolescentes travestidos de Cary Grant.
O estranho é perceber que Al Green fez tudo isso 15 anos antes. E sem imitar ninguém.
Bowie saiu dessa e voltou a tentar ser um tipo de vampiro eletrônico. Vários deles se tornaram cantores de dvd. Ferry nunca saiu desse mundo. Vestiu bem e se sente em casa nele. E George sumiu. Alguns shows bonitos, tristes, intimistas. E o coração na voz. A voz...
Termino falando que Rick Parfitt morreu aos 69 dia 23. Sua banda era o STATUS QUO e essa banda nunca mudou. Desde 1970 eles fizeram e refizeram o mesmo disco, um boogie de pub, rock analfabeto de adolescente feliz. Eu amei essa banda na minha adolescência e voltei a escutar, muito, de 2012 em diante. Penso que nada é mais distante do mundo de George que eles. A música deles é diversão, diversão e só diversão. Com algumas baladinhas muito lindas. On The Level é o melhor disco.
Bom saber que a música POP pode ser tão variada.
Para piorar, George processou a Sony, num tempo em que gravadoras ainda mandavam em tudo. Fosse hoje ele não teria o menor problema, mas na época ele ficou isolado. Na geladeira. Quando voltou o mundo já mudara. Os anos 80 eram outro planeta. E as meninas, seu maior público, dançavam ao som de Ricky Martin, pois George já assumira sua condição gay. ( Ironia ).
Ele não se tornou um novo Elton John porque não tinha o gênio de compositor que Elton tem. George era uma voz perfeita. Listen Without Prejudice é seu melhor disco e em Praying For The Time ele atinge o sublime. Ouvir essa canção nos recorda que a beleza é aquilo que mais precisamos. Praying é a faixa que abre o disco. Quando a orquestra começa a tocar nos sentimos em outro mundo. Isso é genial.
A geração de George teve a pretensão de unir música popular adulta ao rock. Perceberam que mesmo Dylan era apenas um adolescente velho. Dylan podia ser genial, mas era um teen sempre. Pensaram em ser adultos copiando a postura de adultos. Bowie, Ferry, Robert Palmer, George, todos vestiram ternos, pegaram melodias Cole Porter- Gershwin- Berlin e pensaram que assim seu POP se tornaria adulto. O máximo que conseguiram era parecer adultos no lugar errado. Erraram de desejo e erraram o alvo, claro. Mas em meio a esse processo criaram um tipo de trilha sonora chique que nunca mais foi tentada por ninguém. ( OK, Amy sim... ). Sade, Paul Weller no Style Council, o Everything But The Girl, todos chegaram nesse hibridismo que jamais foi adulto, mas que era uma bela festa de adolescentes travestidos de Cary Grant.
O estranho é perceber que Al Green fez tudo isso 15 anos antes. E sem imitar ninguém.
Bowie saiu dessa e voltou a tentar ser um tipo de vampiro eletrônico. Vários deles se tornaram cantores de dvd. Ferry nunca saiu desse mundo. Vestiu bem e se sente em casa nele. E George sumiu. Alguns shows bonitos, tristes, intimistas. E o coração na voz. A voz...
Termino falando que Rick Parfitt morreu aos 69 dia 23. Sua banda era o STATUS QUO e essa banda nunca mudou. Desde 1970 eles fizeram e refizeram o mesmo disco, um boogie de pub, rock analfabeto de adolescente feliz. Eu amei essa banda na minha adolescência e voltei a escutar, muito, de 2012 em diante. Penso que nada é mais distante do mundo de George que eles. A música deles é diversão, diversão e só diversão. Com algumas baladinhas muito lindas. On The Level é o melhor disco.
Bom saber que a música POP pode ser tão variada.
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