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JACK JOHNSON - MILES DAVIS
Uma faixa de cada lado do vinil. A primeira agitada, a segunda introspectiva. Quando a coisa começa o que ouvimos é John McLaughlin tocar com uma fúria como nunca visto. Ele é o destaque dos primeiros minutos e de certo modo do disco todo. Miles adorava John e o deixava livre. Após este disco, feito em 1970, John partiria para o caminho solo e a Mahavishnu Orchestra. Jeff Beck considerava-o o melhor guitar do planeta. Talvez Jeff esteja certo. ------------ Michael Henderson tem uma missão ardua aqui, manter o ritmo do baixo incessante. Um looping que dura vinte minutos. O batera é Billy Cobhan, talvez o melhor batera de jazz pós 1970. Funk, tudo é funk, mas a guitarra é semi punk e então vem Miles. -------------- Ele entra com raiva, com punch, com ferocidade. Poucas vezes ele tocou tão bem. Seu piston emite acordes longos, arpejos sem fim, o fôlego no limite. É um timbre metálico, quase desagradável. Miles está inteiro neste disco. ---------------- Iggy Pop disse numa entrevista que sua vida foi marcada por este disco. Quando ele gravou Funhouse e depois Raw Power era este o disco que ele ouvia. Se voce não percebeu o que liga o som jazz funk daqui com o pré punk de Iggy eu explico. Substitua o piston pela voz de Iggy e voce vai começar a entender. -------------- Jack Johnson era um boxeador do começo do século XX e este disco é a trilha sonora de um doc sobre o boxeur. -------------- O lado dois é languido, relaxado e muito amargo. Quase uma sinfonia íntima à decadência. Miles Davis atinge uma maestria que nenhum outro jazz man atingiu. Eu disse em outro post que Agharta era o melhor disco do século XX. Ele é. Jack Johnson é um digno contendor. GENIAL.
ACONTECE OUTRA VEZ: IN A SILENT WAY, MILES DAVIS
Gravado no dia 26 de fevereiro de 1969, sim, em um dia, IN A SILENT WAY é mais uma aterradora obra prima elétrica de Miles. Na época, puristas de jazz torceram o nariz, hoje ele é unaminidade, é um ponto alto da vida do gênio Miles Davis. Aos 42 anos de idade, cercado de jovens cheios de futuro, Miles nos dá o mais simples dos discos, composto de apenas 4 ou 5 riffs que se repetem em looping enquanto os músicos tecem breves e pacatos solos. Músicos? Se por volta de 1958 Miles lançava Coltrane, Cannonbal Adderley e Sonny Rollins, aqui estão presentes todos os nomes que farão o jazz dos anos 70: Chick Corea, Herbie Hancock, Wayne Shorter, Joe Zawinul, John McLaughlin, Tony Wilians. Cool, sempre extra cool, Miles deixa que os outros brilhem. John McLaughlin, guitarrista que Jeff Beck considerava o melhor da história, é o solista que mais se destaca. Vindo do blues inglês, muito jovem, meio desconhecido, ele começa sua carreira no jazz neste disco. Daqui ele iria para o estrelato na sua Mahavishnu Orchestra. -------------------- No futuro toda nossa música será feita de modo individual. Um programa de AI, com seus dados, irá compor música só para voce, ao seu gosto. Mas, caso ainda haja espaço para música "em geral", Miles Davis será o cara a ser estudado quando se falar em música do século XX. Em meio a Bartok, Cole Porter, Beatles, Hendrix ou Rap, Miles Davis é o centro irradiador do espírito da época. Irriquieto, fértil, suave e demoníaco. --------------- Neste disco, há um momento, breve, em que Tony Willians se solta. Estranhamente a bateria é contida por quase todo o tempo, ela marca o beat de modo discreto. Então ela quebra essa regra e bate mais forte. Imediatamente meus pelos do braço se erguem e minha cabeça começa a balançar. Como em Agharta o duende se faz presente. Miles conseguiu de novo, tudo preparado para esse momento: transe. -------------- São quatro temas desenvolvidos em grooves que usam riffs curtos e simples de baixo e bateria. Três teclados rodam transitando entre e dentro desses riffs e a guitarra sola dando beleza à coisa. Os sopros, Shorter e Miles solam pouco e quando solam criam paz e equilíbrio na coisa toda. É um quase funk, um tipo de soul jazzístico. É como uma miragem. A música surge incorpórea e se desfaz em sopro. Sim, é uma viagem, mas não é música doida ou psicodélica, há controle aqui, precisão, o som é limpo, refinado. O duende surge apenas quase ao final, no momento em que Tony Willians ergue as baquetas e bate mais forte. Sublme é a palavra. ----------------- Alguns meses atrás eu falei que Agharta é o maior disco já gravado em qualquer estilo de música. In a Silent Way chega muito perto disso. E talvez seja melhor.
JOHN MCLAUGHLIN, ELECTRIC GUITARIST
De todos os grandes guitarristas nenhum tem sido mais esquecido pela moda que John McLaughlin. E eu não ficaria surpreso se voce, jovem, não o conhecesse. ( Esquecido apenas pela moda, pois os prêmios não param de cair em seu colo ). -------------- Jeff Beck, o guitar player dos guitar player, considera John o melhor de todos, vivos ou mortos. E noto no estilo de McLaughlin algo do que Jeff faz. Técnica, capacidade de fazer o que quiser, velocidade, timbre metálico, limites fleixíveis, prazer ao tocar. A diferença entre os dois é o blues. Jeff Beck jamais abriu mão completamente de seu começo de carreira. O blues está sempre perto de seu toque, mesmo que venha transformado em soul ou funky. Já John McLaughlin abandonou o rock, e com ele o blues, totalmente. O que ele toca desde 1970 é jazz, jazz rock, jazz pop, mas sempre jazz. --------------- John nasceu no interior da Inglaterra durante a guerra de 1940. No começo dos anos 60, companheiro de geração do trio Eric-Jimmy-Jeff, tocou blues com Jack Bruce e Ginger Baker. Mas não era sua praia. Enquanto seus companheiros partiam para o rock, as drogas e a fama, John partiu para o jazz. Fez nome no underground e para surpresa geral, Miles Davis o chamou. Ficou famoso. No começo dos anos 70 descobriu o budismo e foi rebatizado como Mahavishnu. Alcançou a fama mundial com a Mahavishnu Orquestra, grupo que tinha Billy Cobham na bateria e Jan Hammer nos teclados. É aí, na minha puberdade, 1976, que o conheço. McLaughlin tinha fama então, para rivalizar com Page ou Clapton. Mas seu interesse era a iluminação espiritual. E para ele, a luz vinha tocando sua guitarra de dois braços. ---------------- Era uma época sem internet e com LPs caros. Então eu lia sobre John, mas nunca tinha como o escutar. Até que em 1979 comprei um disco solo dele, este Electric Guitar, lançado em maio daquele ano por aqui ( é de 1978 ). Odiei. Não tinha vocais e na época era inviável eu gostar de música sem vocal. E era jazz. Me pareceu sem sentido, vazio, não possuia riffs, refrões, nada. Me livrei logo do disco. Troquei por revistas de mulher pelada. ------------------ Reescuto este disco hoje, 43 anos mais tarde. Não lembrava de nada, claro, mas sentia que poderia agora o apreciar. E foi o que aconteceu. John toca tão bem, é tão absurdo o que ele faz, que me posto fascinado. É como John Coltrane na guitarra. Milhões de notas por segundo. Ele faz o que deseja. ------------- Cada faixa, são sete, tem uma banda diferente com ele. Só feras. Quem mais se destaca é Tony Willians, o jovem batera de Miles e de Hancock na faixa 5, a suingada are you the one?, faixa que tem ainda o baixo de Jack Bruce. Na faixa seis Stanley Clarke faz miséria no baixo enquanto Chick Corea voa no teclado. Mas há mais, bem mais: Billy Cobham, Carlos Santana, Jack de Johnette, Alphonso Johnson e vasto e nobre etc. Sobre tudo soa a guitarra de Mclaughlin, dedilhada ou em wha wha, quase acústica ou pesada, lírica ou glacial. ---------------- Sem pudor algum, John fez sua carreira se desgrudar do mainstream e focou no jazz e nas experiências sonoras. Sempre penso nele ao lado de Robert Fripp, um guitarrista tão genial e tão indiferente à fama quanto John. Se nos anos 70 ninguém chegou nem perto da fama de Page e Clapton, McLaughlin e Fripp desenvolveram estilos e timbres únicos e com técnica perfeita. Jamais quiseram o trono de rei da guitarra. Estavam ocupados em tocar.
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