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O CINEMA ÚNICO DE MAX OPHULS

ERA moda na virada do século XX para o XXI a Viena de 1900. Queriam fazer um paralelo, como se este nosso tempo tivesse algo a ver com o hiper chique período de Klimt e Schoenberg. Estamos em alma muito mais próximos da virada do XVII para o XVIII. Max Ophuls é representante desse tempo. Seus filmes nos mostram o que foi aquele tempo. VEJO uma caixa com 4 filmes do mestre, lançadas em 2020 pela Versátil. Mais que filmes, são educação. Os filmes refinam nossa visão, afinam nossos ouvidos e despertam nosso gosto. A RONDA é dos filmes mais elegantes já feitos. Único diretor que pode ser comparado à Max é Michael Powell. Mas Powell é inglês, sua elegância é a do vitorianismo, assexuada. Raramente Powell fala abertamente de sexo, e quando o fez perdeu seu público. Sexo em Powell é desafio, consequência típica de um puritano. Sexo em Ophuls é prazer, sempre prazer, mesmo quando termina em dor. Anton Walbrock, o maravilhoso ator alemão que atua em tantos filmes de Powell está em filme de Ophuls. Isso não é casual. A BELEZA é superlativa. Há sofrimento em Ophuls, mas não há neurose. O mundo aqui é não freudiano. A valsa é o segredo deste cinema. Cada um dos filmes é como uma dança organizada. Max Ophuls é famoso por seus movimentos de câmera, e de Wes Anderson à Todd Haynes, não há esteta que não o admire. O problema é que o esteticismo desses diretores é, na maioria das vezes, apenas exibicionismo e homenagem. Em Ophuls é um modo de viver e de contar uma história. A CAMERA CANETA. É assim que muitos se referem à camera de Ophuls. Em época de máquinas grandes e pesadas, anos 50, ele já fazia a camera valsar. Ela não para. Corre pelas casas, voa entre rostos, revela cenários de luxo, dialoga com quem assiste. A melhor palavra para descrever as imagens é essa: LUXO. Os filmes de Ophuls são objetos de luxo. UM DOS FILMES se chama O PRAZER. É a própria filosofia de Max. Sua obra é uma ode à vida e as mulheres. Poucos diretores revelam tamanho amor às mulheres. E tanta compreensão por elas. São o centro do mundo e dos filmes. Klimt amaria estes filmes. VEJA esses filmes. Nada é mais apropriado para nossa época, tempo que ama o gozo mas não o prazer.

GUSTAV KLIMT, AQUELE MUNDO QUE PERDEMOS.

   Viena não foi o mundo. Não era o mundo. Não é o mundo. Viena era um mundo de burgueses muito ricos que amavam a Kultura. Um grupo de judeus que lutava para ser e ter o melhor da Europa. Viena era católica. E tinha o rigor dos luteranos. Era sensual. E hipócrita. Bonita e dourada. Acima de tudo, Viena era Wittgeinstein, Mahler, Freud e Klimt. Essa cidade não irá ser repetida. Morreu em 1914.
  Klimt pintava mulheres. Porque as mulheres são Tudo. A coisa era religiosa: a Arte era aquilo que iria salvar o homem. Era a única coisa real que nos poderia reencontrar o inefável. E a mulher era o símbolo da beleza. E do mal. Ele cria a Mulher Fatal. A mulher como manipuladora de homens. O convite à morte. E a porta para a Vida. Toda arte é erótica - esse o lema de Klimt.
  Seus quadros são montanhas de símbolos. Ouro e sexo. Deuses e morte. Mas sempre a afirmação da vida. Klimt ama seu jardim. Com o tempo será chamado de "decorativo", superficial, secundário. Hoje é central. O tempo é seu amigo.
  Em seu tempo foi famoso. E ficou rico. Fazia duas estradas: retratos para os ricos judeus, pinturas provocantes e escandalosas para as galerias. Mas não pense que os retratos eram simples comércio: são geniais. Klimt pintou alguns dos quadros mais eróticos do mundo. E as mulheres mais belas de seu tempo ( inclusive a irmã de Wittgeinstein ).
  Dânae é a mulher mais linda já pintada. Digna de Zeus.
  Dúbio e misterioso o mundo que deu vida à Klimt.
  Sorte ainda termos seus quadros.
  ( Escrito após a leitura de um dos livros da Taschen sobre o artista. )