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O NASCIMENTO DA TRAGÉDIA - NIETZSCHE
Puxar a longa gaveta de ferro e aspirar o cheiro das fichas velhas, cada uma com as informações e o código de cada livro. Entregar a ficha à bibliotecária e pegar então o livro, no caso um pequeno, velho e gordo livro de capa marrom, dura, onde se lia O NASCIMENTO DA TRAGÉDIA. eRA 1992, e eu saía da biblioteca da FIAM, minha faculdade, rumo ao quintal da minha casa, onde debaixo do sol pálido de maio, vento frio, eu leria o texto em duas tardes. ----------------- Releio hoje, tanto tempo depois e é claro que ele não causa o mesmo efeito que causou naquele jovem, eu, dos anos 90. Nietzsche é romântico, mesmo odiando o romantismo, e sua empolgação apaixonada não me atinge como então. Um filósofo que nunca parece frio, eis sua grande diferença. Quem procurar esse calor em outros filósofos ficará perdido. Pois o alemão é dionisíaco, ou procura ser, é aqui que ele faz a distinção entre arte de Dionísio e a de Apolo. Uma sendo solar, correta, ingênua, otimista, e a outra pessimista e do transe orgiástico. Os gregos teriam se tornado cultores do belo e da harmonia apenas após viver o mundo de Dionísio, e o teatro teria sido o instrumento a fazer esse percurso. --------------- A música, a mais dionisíaca das artes, é reflexo da condição espiritual de um povo e de uma nação. -------------- Basicamente é isso, mas tudo escrito na prosa, ainda não poética, de Nietzsche. É seu primeiro e mais acessível livro.
A GAIA CIÊNCIA - NIETZSCHE
Nietzsche é um escritor ao estilo de Montaigne ou de Emerson. Portanto ele não é um filósofo, é um autor que filosofa. E nisso não há demérito algum. O pensamento de Nietzsche está tão presente em todo século XX ( mas não no XXI ), que falar daquilo que ele escreve se torna mesmo difícil. Tenho a sensação de que tudo aquilo que vou falar voce já sabe, já leu. --------------- A GAIA CIÊNCIA, talvez o livro mais acessível de Nietzsche, é como um dicionário do autor. Ele redige pensamentos sobre dados temas. Uma quase enciclopédia da mente do autor alemão até então. Vou a seguir falar de alguns temas que Nietzsche desenvolve no livro. -------------- Sobre a Miséria. Tempos sem grande sofrimento fazem com que as pessoas criem uma completa aversão a dor. Na modernidade mal suportamos a picada de um inseto. Por isso criamos arte infeliz, por isso sofremos na imaginação. Nosso espírito tem necessidade de enfrentar a dor, mas não sentimos ter mais força para isso, perdemos a confiança. Então exercitamos nossa alma atrávés da fantasia. Tempos duros criam uma arte feliz, forte, vitalista; tempos fáceis criam uma arte sem calor, sem força, infeliz. ------------- É preciso sofrer para se fazer grandes coisas, Jovens europeus, vivendo em mundo sem sofrimento, procuram algo que os faça sofrer, para assim se sentirem em ação, motivados. Esses jovens não sabem fazer nada de si próprios, não possuem vida e por isso vivem o sofriento dos outros. São gente à procura do sofrer. ( Se voce, jovem de 2023, pensou nesses suecos invadindo a Africa para salvar elefantes, franceses indo a Amazonia para salvar indios, sim, é exatamente isso. Vampirizar o sofirmento dos outros para tentar se sentir vivo. Incapaz de criar vida dentro de si mesmo, eles procuram com desespero viver a vida de outro ). ---------------- A ciência jamais poderá explicar o mundo porque ela humaniza tudo. Ela cria coisas que não existem: linhas, retas, tempo retilíneo, ou então imagina que os objetos lá fora se comportam como nós nos comportamos. A ciência é feita dentro do pensamento do homem e no ponto de vista do homem. É portanto impossível que ela possa conhecer a coisa em si, sem essa distorção. ---------------------- Durante a maior parte da história do homem, nada era mais terrível que ser isolado do meio. O progresso caminha para que estar isolado seja um privilégio de poucos. A história parte do grupo e termina na solidão absoluta. O bem, o belo, o bom era aquilo que o grupo elegia. Hoje esses valores se individulizam e portanto perdem o poder de nos guiar. Viver em solidão era inimaginável, a casa com tranca é uma invenção recente. --------------- Sempre que em um povo surge um imenso desprazer em viver, isso costuma se ligar a dieta. O budismo é a religião do arroz, nasce daí sua languidez e seu pessimismo. Todo vegetariano desconta sua avidez por proteínas em algum tipo de fanatismo, seja religioso ou seja político. A Europa mais vital sempre foi aquela da carne e do vinho. O que comemos tem uma importância central naquilo que sentimos. ( Pode-se dizer que vivemos a era do doce. Virá daí nossa terrível infantilidade? Nunca se comeu tanto açucar como em 2023. ) ----------------- O maior prazer é viver perigosamente. É essa a vida que vale a pena. Construa suas cidades sobre o Vesúvio. ---------------------- Vejo na Italia, nas ruas, nos prédios antigos, gente que viveu e que quis viver para sempre. Cada obra é o desejo imperioso de viver, de durar. É portanto uma civilização que amou tanto a vida que desejou viver a eternidade. Por isso tudo é feito para suportar o tempo. Já no resto da Europa vejo casas e prédios feitos para durarem poucos anos e serem logo destruídos. Não há neles prazer em durar. ---------------------- Weeellll.... há muito mais e Nietzsche vai sempre nessa toada: Força-Dor-Fé em si mesmo. Prazer na vida e sofrer em vida, pois sofrer é viver. E se é viver, não deve ser evitado. O homem como indivíduo que se afirma na luta, na crise, no vencer o obstáculo. Tempos de facilidade criando seres moles, sem vontade, fracos, tempos duros dando vida a homens que usufruem da plenitude. ---------------------- Nietzsche tem uma vantagem imensa sobre os outros filósofos, ele escreve bem, é um poeta. Kant ou Hobbes não seduzem ninguém, antes convencem; Nietzsche é sedutor. Seu pensamento seria uma cura para nosso tempo emasculado. Nunca fomos tão preguiçosos, portanto, covardes. Incapazes de viver um luto, uma maldição, criamos mentalmente dores que podem até mesmo nos matar ( muitos se matam por assumir um papel trágico-imaginário ). --------------- Leia.
EM BUSCA DA SOLIDÃO
O movimento mais importante da história humana é aquele que nos levou à solidão. Essa frase é de Nietzsche e eu ando o lendo com um prazer sublime. Irei então desenvolver essa ideia. ------------------ Se voce observar, mesmo hoje, um adolescente, irá notar que estar só é para ele um tipo de vergonha. de constrangimento. Esse é, pois, um sentimento arcaico que ainda sobrevive dentro dele. Observe agora uma favela. Por falta de escolha, a vida lá é totalmente comunitária. Todos vivem unidos a todos, e mesmo que voce não queira, sua vida é invadida pelas vozes, sons e atos dos vizinhos. Se então voce for a lugares onde o passado é mais vivo, aldeias indígenas, cidades da India ou núcleos tibetanos, irá perceber que ser excluído da comunidade é o pior castigo possível. Mais que isso, ser só é inimaginável, pois aquilo que cada membro da comunidade deseja, faz e teme é aquilo que o grupo deseja, faz e teme. ---------------------- Por 99% da história do homem a solidão foi o mais temido dos infernos. Mais que temer a solidão, era inimaginável que alguém pudesse a desejar. Desse modo, podemos dizer, com certeza, que a filosofia e a arte como as conhecemos, nascem no momento em que o homem se INDIVIDUALIZA. Em certo momento ele começou a ler em voz baixa ( a leitura durante séculos era feita apenas em voz alta, lia-se para ser ouvido por alguém ), morar com portas fechadas, falar em segredo, querer comer algo diferente do vizinho, e então pensar por si próprio. Esse movimento rumo à solidão começa mais ou menos em 500 AC no Ocidente. Artistas e escritores passam a fazer algo impensável: assinam sua obra! Se individualizam. ---------------------- O movimento é irrefreável. Estamos caminhando rumo à solidão total. Para isso nos livramos da corte de reis, das ruas com portas abertas, da Igreja como rebanho de ovelhas, e vemos agora o fim na família e das nações. Quando o GLOBALISMO fala em criar um mundo UNO ele não percebe estar criando um mundo UNO de pessoas distantes umas das outras. Se voce não tem uma nação, uma fé que te una á seu vizinho, se até mesmo seu sexo biológico é só seu, NADA fará de voce membro de uma comunidade. --------------- É por isso que todo movimento comunitário moderno acaba em Kaos ou decepção: Hippies, punks, veganos, e até mesmo socilistas. São movimentos que nascem como UNIÃO E IRMANDADE e se vêm depois numa espécie de SOLIDÃO EM GRUPO CADA UM NA SUA. --------------- A Direita mundial perdeu muito terreno por pregar a volta à família, à igreja, às velhas comunidades, quando na verdade seu apelo, seu Charme deveria ser falar, sem medo, daquilo que ela tem REALMENTE, no DNA, a solidão do EU Individualizado. Cada um criando sua vida e seu destino, o mais distante possível de governos, sindicatos ou modismos. --------------------- A riqueza e o poder de uma pessoa hoje é medida pelo quanto ela pode ter de solidão. Gente pobre TEM de viver em grupo. Gente rica usufrui do silêncio e da distância. Basta voltar 200 anos para ver que em 1823 gente rica NUNCA estava só e gente pobre vivia como numa granja. -------------- Toda invenção da tecnologia nos leva à solidão. Preciso citar exemplos? E no futuro, breve, a vida se fará em células auto suficientes e mesmo o trabalho e o ensino serão exercidos a sós. Quem quiser escrever um livro de sci fi relevante, que narre um momento revolucionário do futuro, passado em 2.200, que fale de um homem que ousa falar com um outro homem. Cara a cara. Se hoje ler em voz alta parece absurdo, falar com alguém será visto do mesmo modo. ---------------------- Nietzsche de certo modo elogia essa individualização. ( E essa é mais uma prova do quanto ele nunca foi fascista ). Mas ele sonha com a mesma individualização de Jung, a consciência de que há em voce uma originalidade criativa que deve ser libertada. E para isso é preciso negar o grupo. Nietzsche, como Jung, é sempre um aristocrata. O que ele pede é um movimento de aristocratização das massas, embora nenhum dos dois admita isso. O problema é que poucas pessoas têm o dom ou o interesse em se aristocratizar. Então o que vemos é que essa solidão atual e futura é aquela do ser vulgar, não criativo, comum. Uma solidão feita de depressão, negação, sem consolo. Uma solidão obrigatória, dada pela história do mundo, nunca escolhida e usufruida. Pior, solidão negada, vendida como "grupo social", " escolha", modernidade. ----------------- Se a Direita pode se vender como ideia de individualização, a Esquerda terá de trair a si mesma e inventar um tipo de socialismo de indivíduos, ideia que na verdade eles já vinculam, ideia que nada tem de socialista e muito tem de mera propaganda. ---------------------- Vale à pena tentar lutar contra esse movimento? Não, não vale. As forças da história são irrefreáveis. Mas por instinto haverá sempre aqueles que defenderão a família, a igreja, a vida em comunidade. Deveriam então perceber que são famílias sem pai ou mãe, sem refeições em grupo, sem proteção. Igrejas sem sentimento de doação e pertencimento e comunidades sem vínculos de gerações. O que digo é que o que nos resta de "velhas comunidades" já foi comido por dentro e delas só há a aparência. -------------- Melhor educar cada um para ser um Homem Criativo, um ser que ergue sua chama e constroi uma solidão só sua. ---------------- É isso.....
SCHOPENHAUER
O que é uma Nuvem? Quando voce a olha ela pode ser cinza, branca, laranja, rosa. Ela pode ter milhares de formatos. Mas a Nuvem será sempre a mesma: conjunto de gotículas no céu. Sua cor e sua forma são apenas momentos no tempo e no espaço. A nuvem, todas as nuvens, são sempre a mesma. O que importa, sua ESSÊNCIA, não muda. O que a Nuvem é, ela é para sempre. Eis a explicação que faz Schopenhauer para o Mundo das Ideias de Platão. As ideias são o mundo essencial e se abstrairmos o tempo e o espaço podemos entender o que são as realidades eternas. --------------- O mesmo vale para um rio, uma Montanha, e uma Pessoa. Elimine o tempo e o espaço de Antonio. O que ele será? Um Homem. Como eu e como voce. Essencialmente. Sua essência humana é imutável, constante, eterna. Podemos então dizer que o homem de 1.200 DC ou o homem de 2023 são idênticos. Retire coisas temporais como modo de falar, de vestir, retire o lugar, e voce terá o mesmo ser em sua essência. E esse nunca mudou e nem irá mudar um dia. Continua sendo uma pessoa que come, dorme, sonha, tem medo, reage ao medo, ataca, mata, deseja, faz sexo, ama, sente ciumes, inveja, tem filhos, mente. Tem um pai e uma mãe, crê ou descrê de Deus. Inventa. Faz guerra e paz. Defeca. Xinga. Anda em grupos. Foge das feras. Fica doente e morre. Tudo isso pode ser feito num castelo ou em frente a um computador, vestido com uma toga ou como drag queen, não importa nada esse momento no tempo e no espaço, em essência nada mudou, é o mesmo Ser nas mesmas condições. ------------- O vento muda a forma da nuvem, mas ela é ainda uma nuvem. O espaço faz o rio virar cachoeira ou inundar, mas é ainda e sempre um rio. ------------------- Demorou muito para que eu lesse Schopenhauer. Isso porque ele é um filósofo tão fora de moda neste século como é Nietzsche ( ser fora de moda em tempos medíocres é na verdade um ótimo sinal ). Se Nietzsche é fora de moda por advogar o individualismo radical, Schopenhauer é deixado de lado hoje por dizer que a tal mutabilidade da vida é uma ilusão. E em tempo que adora se sentir dono de seu corpo e de sua alma, dizer que nada muda é irritar profundamente os deslumbrados do querer é poder. -------------- Ah sim, Schopenhauer dizia que a Vontade é a única coisa que move a vida, que faz ela acontecer e existir. Mas não se deslumbre, essa vontade é impessoal. Vontade inconsciente, irrefreável, irracional. Persistimos na vida. Por que? Não importa. A Vontade move as estrelas. Por mais que Desejemos ser saudáveis, bons ou belos, a Vontade faz de nós aquilo que somos: Humanos. Era por isso que Freud tanto amava Schopenhauer. Substitua Vontade por Libido ou Desejo e voce terá a base de todo Freud. Somos todos dominados pela Vontade. Nietzsche chamaria de Vontade de Poder. ------------------------ Faça um exercício. Olhe para algo. Digamos uma mesa ou um livro. Elimine de seu olhar a consciência da utilidade desse objeto. Esqueça sua história. E principalmente abstraia a Relação que voce tem com ele. Voce não gosta ou desgosta daquilo. Não o conhece. Não sabe para quê ele serve. Pois sua utilidade, sua relação com voce é apenas uma contingência no tempo. Abstraindo tudo isso o que voce vê naquele Livro ou naquela Mesa? Sua essência. Um livro. Uma mesa. Como todos e todas são. Pois aparências mudam, mas não muda aquilo que aquilo é. -------------- Vamos mais ao fundo? Eu estou na escola que estudei em 1974. Mas hoje é 2023. Quase 50 anos mais tarde. Em 1974 eu tinha 12 anos. E as meninas não falavam palavrão. Usavam saia xadrez. Meias brancas. Hoje, 2023, elas falam palavrão e eu sou um velho. Elas usam calças rasgadas e chinelos. Perdem a virgindade aos 12 anos. Mas se eu olhar para elas e abstrair o que sinto, esquecer a minha história de vida, seus movimentos no tempo, sua superficialidade espacial, o que verei? Irei perceber que a Luana de 2023 é a Marcia de 1974. O mesmo medo. A mesma vaidade. O olhar e o tom da voz. A presença e o andar. A Essência. Mudou a gíria, roupa, o costume social, mas não aquilo que elas são: Humanas. Humanos jovens. Elas crescem. Comem muito. Sentem curiosidade. Não querem e querem ser adultos. Brincam. Riem. Pulam. E sentem desejo pelos meninos. ---------------------- Sendo mais radical. Se eu olhar para a mulher que hoje amo, e abstrair dela nossa história, a relação que tenho com ela, chegarei a essência dessa mulher. E entenderei que ela é a mesma que amei aos 20 anos, quando ela nem mesmo havia nascido. Em toda mulher que amei havia a mesma essência: o feminino que ansio possuir. Quem amei foi a mulher. --------------------- Há um momento em que Schopenhauer tem um insight magnífico. É quando ele explica o porque de nossas lembranças sempre parecerem tão boas e o passado se revestir de cores agradáveis para 99% das pessoas. Principalmente a infancia. Diz o filósofo: Na memória conseguimos sem esforço ver as coisas fora de tempo e sem relação conosco. Ao recordar uma tarde do passado, quando tínhamos 12 anos, não pensamos na utilidade daquela tarde, não queremos obter nada dela, o que vemos é uma tarde, voce nela, e um ato que nela aconteceu. Conseguimos então observar aquela cena, aquele passado, em sua essência, pois por ser passado nada queremos lá fazer ou mudar. Sentimos que o passado era melhor porque abstraimos o tempo e o espaço dele e podemos viver a essência daquilo que lembramos. E viver na essência é ter paz. ------------------------ Mudando de tema, saiba que Schopenhauer foi o primeiro filósofo a considerar a Música como a maior das artes. E ele explica o porque: Se a vida é Vontade, viver é estar sempre preso a um ciclo onde queremos-obtemos-queremos de novo-obtemos e queremos mais uma vez...sem fim. Se conseguimos sair desse ciclo sentimos tédio e do tédio vem o desespero. Se não saímos do ciclo, e quase ninguém sai, sentimos a eterna insatisfação. Pois bem, a Música é a única arte que nos alivia desse ciclo. Pois sua construção é o próprio ciclo. A música é COMO A VONTADE. E então, no texto, Schopenhauer passa a descrever como se escreve e se desenvolve uma peça musical. A construção de um desejo, a satisfação desse desejo, a repetição, a satisfação. O ciclo musical refletindo a condição essencial da vida de todos nós. Ela cria um caminho, um desejo, o resolve e então faz com que ele retorne. A música está tão inserida em nossa essência que é a única arte que pode ser usufruida diariamente sem com isso se desgastar. Queremos ouvir a mesma canção milhares de vezes, todo dia, ação que não acontece com um livro ou uma escultura. A música não nos cansa. Isso porque ela caminha ao nosso lado. Há nela o desvelar do que é superfluo e a revelação da verdade. ( óbvio que ele falava de Beethoven, e eu não sei se um funk de 2023 fala algo que não seja temporal e espacial ). ------------------- Schopenhauer amava a filosofia hindu e na sua ideia de essencia há muito de budismo. Tendo vivido no tempo de Goethe e de Beethoven, o filósofo encontrou fama apenas nos últimos dez anos de sua vida. Ele abriu caminho para a segunda onda do romantismo e deu espaço para a hiper valorização do músico como artista maior ( após sua morte teríamos o advento de Wagner e de Liszt ). Para encerrar, se voce pensa em ler Schopenhauer, aviso que como a maioria dos filódofos, sua escrita não é artística, portanto não agradável. Mas vale à pena. O fato de 2023 evitar sua leitura mostra o quanto este nosso tempo procura viver na aparência e jamais na essência.
SOBRE OS COVARDES
Quando Nietzsche falava sobre a valorização dos covardes e dos ressentidos, eu sei que ele tinha em vista muitos religiosos. O filósofo alemão percebia na religião uma forma de fugir às responsabilidades individuais e se refugiar no grupo. Nietzsche via também, com acerto, que a humildade escondia a vaidade e que o Reino dos ùltimos era uma vingança contra os fortes. Mas há algo que ele não percebeu ou não teve tempo de notar: a coragem que a religião requer. Os primeiros cristãos nada tinham de medrosos ou de acomodados. Minoria das minorias, eles eram mortos, perseguidos, acusados, viviam como ratos, escondidos em cavernas e buracos. Do mesmo modo, na Idade Média nada havia de fácil nos jejuns e nas guerras a que os cristãos se expunham. Havia a disposição em se obedecer e seguir algo que exigia imensos sacrifícios. Era sim uma forma de heroísmo. O problema é que no tempo de Nietzsche e no meio onde ele viveu, ser um luterano ou até mesmo um judeu rico nada tinha de desafiador. Era cômodo, pior, era hipócrita. --------------------- Para voce entender o que digo basta ir à USP ou a qualquer universidade moderna e OUSAR falar de Deus no meio de uma discussão filosófica. É necessário firmeza e coragem e provavelmente após a discussão voce será colocado de lado, como um tipo de "idiota parvo". Cada período histórico tem seu modo de ser covarde e se na Londres de 1900 ser gay era ato de desafio, na Londres de 2023 ser gay é quase uma rotina. O corajoso, como falo no post abaixo, segue aquilo que ele é, não importando a moda do grupo, a imposição dos amigos ou o momento histórico. Ele é um indivíduo e nisso tanto Nietzsche quanto Jung foram perfeitos. ------------- Por fim, para voce entender onde estamos, ontem falei a dois alunos que sou uma pessoa única e que eles também o são. Com horror e para minha surpresa, ambos disseram que NÃO QUEREM SER DIFERENTES, QUEREM SER COMO TODO MUNDO É. Weeellll....os dois têm 15 anos e se aos 15 anos adolescentes pensam assim, então o trabalho de repressão do poder atual está muito bem feito. É isso.
NIETZSCHE, JUNG E A PERSEGUIÇÃO AOS FORTES
Uma amiga me envia um texto de Nietzsche. Fico assombrado com aquilo que Nietzsche diz. É exatamente tudo que acontece no Ocidente hoje. Eis alguns trechos: " Os doentios são o grande perigo do homem, não os maus, as aves de rapina....são eles, sao os mais fracos aqueles que corroem a vida entre os homens, os que mais perigosamente questionam e destroem nossa confiança na vida e no homem..... Neste solo de auto desprezo cresce toda erva ruim,e tudo tão pequeno, tão insincero, tão ADOCICADO...Aqui pululam os vermes da inveja e do rancor, aqui a simples visão do vencedor é odiada! E que habilidade para esconder esse ódio!...Representar o amor, monopolizam a virtude, a justiça, a sabedoria, mas tudo que os move é o ódio....Rondam entre nós com sua censura, com a palavra justiça, exibindo suas almas belas, atacando os felizes....É uma vergonha ser feliz em tanta miséria, eis seu mote, sua censura, sua justiça....Não pode haver erro maior que os felizes, os bem sucedidos, os fortes começarem a duvidar de seu direito a ser feliz...... POIS FORA COM ESSE MUNDO AO AVESSO! FORA COM OS FRACOS! FORA COM A DITADURA DOS RESSENTIDOS!"-------------------------- Escrito em 1889, eis a antecipação do mundo de 2023, a ditadura, absoluta, completa, dos fracos, dos invejosos e dos ressentidos. Mundo onde toda exibição de força ou de auto suficiência é vista como ofensiva, cruel ou irresponsável. ---------------- Começo pelo óbvio: Casa e família. Esse sempre foi o sonho de todo ser humano, ter uma casa só sua e fazer uma família. Pois hoje nada é tão atacado e ridicularizado que esse desejo. Casa pra quê? Voce se vira, voce é livre, pra que ter uma casa? Em último caso, o estado cuida de voce! E família? Pra que? Família é o mal do mundo, fonte de neuroses, pra que isso? Una-se à uma rede de amigos, de amores, tenha um cachorro, família não! ------------- Não se engane: uma pessoa com uma casa e uma família é uma pessoa forte. Ela lutará para defender o que é seu. Ela morrerá para salvar o que tem. Uma pessoa sem lar e sem filhos é um fugitivo. Ou um ser que diz: Tanto faz!, para tudo. Ele é nômade e nômades não lutam por nada, eles se mudam. ----------------- Pessoas fracas odeiam a alegria, odeiam a força e odeiam a independência. Seu ideal é uma população que não as ofenda, que não lhes recorde de sua covardia e de sua fraqueza. Na pandemia vimos isso ao extremo, qualquer um que ousasse não ter medo, não se apavorar era taxado de vilão. Ora, se voce tem um pingo de cultura sabe que em toda história do mundo, o heroi a ser seguido sempre foi aquele que não tinha medo. Os fracos seguiam o destemido. imitavam seu modo de ser. E o que fazia o heroi? Se expunha ao perigo e mostrava que o mal não era tão horrível. Em 2019 o heroi foi chamado de anti-ciência, vilão, idiota ou INDIVIDUALISTA. Guarde essa palavra, individualista. É aí que a tirania se revela. Nada é mais odioso à ditadura que um indivíduo. --------------- Eu nada tenho de heroico, sou um covarde, mas durante toda a pandemia me obriguei a não ter medo. Eu andava pelas ruas, sempre, e sem máscara, tive uma vida normal. Minha mãe não foi contaminada por mim e nunca se usou alcool em casa. Porque fiz isso? Para me exibir? Não, por fidelidade à minha filosofia de vida. Sou um individualista que cultua herois. Eu não me perdoaria se me deixasse ser apavorado pelo poder dos ressentidos. Ressentidos que amaram a pandemia e sentem saudades dela até hoje e para sempre. ------------------------ Não se engane. A arte que se faz hoje, seja POP ou erudita, é toda feita para humilhar os fortes e idolatrar a fraqueza e o medo. Não há um só dia em que não se ameace a vida com um cometa, o aquecimento global ou um vírus que virá ( todos são desejos dos fracos, eles amam ver os fortes sentirem medo ). Filmes lembram todo tempo da maldade do homem "egoísta", o inferno que é viver, o sofrimento do "sensível e bom", o vazio que há na vida. Sempre existiram filmes tristes, mas o trágico mostrava que havia uma coisa chamada "superação", que era preciso coragem, e que, como diz Jung, é preciso se individualizar para ser forte. O problema é que hoje ensinamos as crianças que ser fraco é ser bom e ser forte é um mal. A conta na farmácia vai subir cada vez mais, as indústrias químicas agradecem. ------------------------ O mesmo com a música POP. Sempre houve a música triste, mas hoje todo artista POP não é apenas triste, ele é um doente mental. Uma criança-velha que cultua sua fraqueza fofa. ---------------- Aliás nada é mais desejado hoje que ser uma criança. Se antes o alvo era ter uma casa e uma família, hoje a meta é ficar no quarto brincando. Amiguinhos na rede, sexo virtual, um pet pra amar e um trabalho "divertido". O Estado agradece. Dominar crianças é mais fácil que dominar adultos. Crianças querem ser cuidadas. -------------------- A depressão se faz comum à todos porque nossa alma pede por realização e ela só se dá na vida adulta. Seja espiritualmente ou biologicamente, todo ser precisa amadurecer, crescer, chegar ao seu apogeu. Quando a pessoa é mutilada por um meio que a impede de crescer, de ser ela mesma, de ser forte e livre, ela se frustra e se deprime. Lhe colocam uma máscara de "bondade feliz e amorosa" e essa máscara sufoca. Estamos matando uma geração. -------------------- Perversamente nunca se falou tanto em ser voce mesmo, escolha seu sexo, sua vida, seu estilo, mas observe, voce pode ser o que quiser, desde que seja FRACO. Desde que pense no GRUPO. Desde que não ofenda ou se imponha. Isso não é liberdade! Isso é um jogo de crianças incentivado por adultos perversos. É uma castração feita com drogas recreativas e sexo sem tesão. Uma imensa palhaçada. --------------------------- Esse povo, fraco, ressentido, invejoso, vai censurar e estigmatizar todo aquele que for adulto, forte e feliz. Olha ao seu redor que voce verá isso acontecer em cada esquina, na mídia e na arte. Pior, nas escolas, lugar onde desde cedo se ensina que o mundo é ruim e toda figura histórica foi um monstro. --------------- Nietzsche estava certo e Jung sabia qual a cura. Se invidualize. Siga os fortes e os independentes. Seja ousadamente feliz. E jamais obedeça oa grupo. --------------- Depois falo mais sobre isto.
UM PORTUGUÊS CHAMADO JOÃO E ZORBA, O GREGO
João Casimiro Cristo era um português da região de Bragança. Nascido em 1908, ele, uma vez por mês, montava o burrico e saía pelas estradas de lama vendendo peixe seco. Desaparecia de casa por mais de quinze dias. Na jornada, ele visitava suas namoradas, sentia medo de bruxas, dos lobos e bêbado, deixava o burro andar por instinto em noites escuras como poço fundo. Voltava com algum dinheiro, abraçava a esposa, Helena, e sobrevivia o resto do mês com trabalhos de pedreiro. Um telhado para reformar aqui, uma janela ali. Tinha cinco filhos, quatro meninas e um menino. O rapaz, Mario, iria lutar na guerra de Moçambique e quase morrer lá, uma granada que lhe abriu a barriga. De volta à seu lugar, caiu da moto e ficou paraplégico. As filhas, uma delas minha mãe, emigraram duas para a França e duas para o Brasil. Aqui, em SP, minha mãe foi empregada doméstica de casal alemão. O que fez com que ela odiasse para sempre casais alemães ( mesquinhos ). Surgi de dentro dela. Com o sangue dos Cristos. ----------------------- Zorba, O Grego, de Nikos Kazantzakis caiu absolutamente em ostracismo. Seu heroi, Zorba, hoje seria domesticado pelo escritor e não o contrário. Pois no livro, o camponês grego, machista e impulsivo, salva o escritor de sua vida reprimida. Zorba o faz ver "que toda mulher precisa de um homem, pois todas são umas coitadinhas". ( Essa frase coloca qualquer pessoa nascida pós 1995 em estado de ódio puro ). Quando li esse livro, em 1988, ele salvou minha vida, pois vi logo que eu era o escritor e Zorba era meu avô. Foi o primeiro passo para uma dolorosa reconciliação com meu sangue. Pois eu passara a vida toda até então, eu tinha 26 anos, negando e odiando o passado de minha gente. Zorba fez nascer meu orgulho ancestral, fez com que eu percebesse tantos impulsos que vieram de meu avô ou antes dele. Meu nervosismo, o desejo de andar a esmo por aí, o caráter anti social, e ao mesmo tempo o prazer pelo papo de bar e as mulheres, o ar de brigão, a ansiedade por sair e escapar e até mesmo a intimidade com os bichos. Eu sou ele como sou meu pai, meu outro lado que é aquele que olha e se deita à espera ( meu pai era um pastor ) ----------------- Não indicarei à voce a leitura de Zorba porque é um livro tão distante de 2023 que seria melhor deixar ele preservado, escondido, e esperar um tempo menos policiado para o reabilitar. Se Zorba chama o escritor reprimdio de "empurrador de canetas", hoje somos apertadores de botões. Se as mulheres eram umas coitadinhas, hoje faz de conta que elas não precisam de ninguém. Se o dever de um homem como Zorba, era as agradar, elogiar e levar à cama, hoje o dever é as ignorar. Se Zorba ensinava ao escritor que viver era se jogar ao mundo do impulso puro e tentar ser único, hoje viver é ser solidário e fazer parte de um grupo focado em ser correto. Pois Zorba era a versão grega e iletrada do super homem de Nietzsche e nada hoje é mais fora de moda que ser um super homem ao estilo Nietzsche. O empurrador de canetas venceu. Por enquanto.
O NASCIMENTO DA TRAGÈDIA - NIETZSCHE ( SOBRE A DITADURA DOS ESCRAVOS )
Sempre que um aluno me pede dica de um filósofo eu indico Nietzsche. E para minha imensa surpresa, eles não o leram. Nos anos 70 e 80 todo mundo que tentava ler filosofia começava por Nietzsche e na sequência Schopenhauer. Hoje não. ------------------ Que momento glorioso, lembro ainda, foi aquela tarde, em maio de 1992, ao sol, livro emprestado da biblioteca da faculdade, lendo O NASCIMENTO DA TRAGÉDIA. Uma revelação! Eu podia então ser EU MESMO. Melhor ainda, meu desejo não era um Mal. -------------- Nietzsche antecipa Jung em mais de 20 anos. Para ele, nossa missão na Terra é a de sermos nós mesmos, desenvolver nossa potência, única, individual, ao máximo. Para isso é preciso não ser parte do rebanho, não se submeter ao grupo. Nada pode ser mais útil ao mundo de 2023 que Nietzsche. O fato dele ainda não estar sendo lacrado apenas prova que os lacradores não o conhecem. --------------- A irmã de Nietzsche, que sobreviveu até os tempos do Nazismo, fez um mal terrível ao irmão genial. Apaixonada pelo grupo dos camisas pretas, ela desvirtuou o pensamento do irmão e transformou o Super-Homem em super soldado. Nada poderia irritar mais ao filósofo do egoísmo que ver o seu indivíduo solitário ( ele não cansa de repetir que o Super Homem é um solitário ), marchar anonimamente, obediente, como um ganso de botas. Não existe no filósofo alemão a ideia de líder, de comandante, de ordem unida, de grupo seguindo um único pensamento. Por isso Nietzsche irrita tanto aqueles que acreditam em união, em ideologia, em mundo único. No pensamento de Nietzsche há apenas uma certeza: eu não sou voce, eu não preciso de voce, eu me basto. ---------------------- Para quem não o leu, neste livro ele conta o desvirtuamento daquilo que seria BOM e BELO. Para homens livres, bom é a coragem, a força, a ambição; e belo é o heroi que tem esses poderes. Para escravos, bom é a humildade, a fraqueza e a doçura e belo é quem sofre. Vem então sua denúncia aos judeus. Ele prova que até a escravidão pelos egípcios, para o povo de Moisés, bom era a força do heroi, o orgulho, o poder, e que ao se tornarem cativos, eles passam a ver como a maldade tudo aquilo que seus algozes eram: fortes e ambiciosos. Como consolo por sua situação, eles começam a idolatrar a fraqueza. O cristianismo, nascido sob a escravidão romana, faz o mesmo: tudo que simboliza o poder romano passa a ser O MAL, e tudo que é do ESCRAVO se faz O BEM. --------------- Esse pensamento me iluminou para sempre, pois jogou por terra a ideia que eu tinha de que a humildade era um bem natural. E de que a força era por natureza um mal. Nietzsche me liberou para me tornar aquilo que sou, trabalho que requer uma vida inteira. trabalho que justifica uma vida. ---------------- No mundo de 2023, onde devemos ser solidários, vegetarianos, bons, onde temos de aceitar todos e tudo ( desde que esse TODOS não seja um grupo de individualistas fortes ), mundo onde a hipocrisia do grupo tenta sufocar a força do indivíduo, onde tudo é regulado, medido e vigiado, nada é mais necessário que ler Nietzsche. Ele, se vivo, ficaria em estado de irritação profunda ao observar a parva atitude de nossos jovens de hoje e perceberia que Apolo, fingindo ser Dionisio, venceu. Pois o que vemos hoje são pessoas que PARECEM ser Dionisíacas, com seu hermafroditismo, drogas, orgias, mas que em face do estado são profundamente apolíneas, vivendo sem alegria real, condenando o individualismo verdadeiro, e pobres de força moral e física. Apolo, deus da ordem, do grupo, da razão fria, venceu Dionisio, deus do instinto, do individualismo, do desejo, do sangue e da carne. ---------------- Hoje odiamos tanto o Homem Superior, que até mesmo em simples filmes de herois o problematizamos e destruimos seu heroísmo. Podemos gostar de Batman ou de Wolverine, desde que eles sofram, sejam neuróticos, humildes, uns perdedores. O mesmo se dá com cantores, esportistas, líderes políticos. Aceitamos o fraco, o doente, a vítima, o infeliz. O forte, o alegre, aquele cheio de vitalidade nos é insuportável, pois ele joga em nossa cara a nossa covardia. ----------------- Sim meus queridos, vivemos no ocidente a pior das ditaduras: a ditadura do escravo, do fraco, do rancoroso, do covarde. Neste clima não há chance alguma para que um jovem se sinta livre para ser ele mesmo: um indivíduo que não segue ordens. Sejam ordens da moda, de um grupo social ou de seu professor. ------------- É preciso algum tipo de anarquismo. É necessário o fogo de Dionisio.
ESPIONAGEM NA INGLATERRA E UM LIVRO MUITO PERIGOSO
Acabo de ler que um dos serviços de contra espionagem inglês possui um comunicado onde se lê: " Qualquer pessoa que for vista com o livro 1984 de Orwell, ou obras de Joseph Conrad, Tolkien, CS Lewis será considerada uma perigosa extremista de direita. Livros que pregam a contra revolução não podem ser tolerados. " Pasmado? Eu não. Esse movimento não é novo e durante a pandemia foi bastante solidificado. Na crise do vírus, governos perceberam que a população é hoje facilmente comandada. Quem foi e é crítico será sempre chamado de extremista. E de direita, porque quem não aceita a "união pelo bem " só pode ser um egoísta e todo egoísta é direitista. ---------------- Um técnico mostra na NET, com imagens, que a AI, a inteligência artificial que começa a ser dada agora para uso geral, já está ideologizada. Se voce pede para o cérebro eletrônico criar um poema sobre Bolsonaro, ele responde não poder criar nada que seja sobre política. Mas se voce pede um sobre Lula, ele te dá um longo poema sobre o heroi. ---------------- Eu não fico surpreso e nem alarmado. O bom senso prevalecerá. A incompetência da esquerda destroi a ela mesma. Aliás, acabo de reler mais um livro de Evelyn Waugh, e ele não entra na lista da Inglaterra porque ninguém mais o lê. MALÍCIA NEGRA foi escrito em um tempo em que as pessoas discutiam, não cancelavam e fingiam ignorar. Seria interessante ver um lacrador de 2023, um típico comedor de ostras da Vila Madalena lendo este livro. Como um nazista, ele provavelmente o queimaria na calçada. A sátira demolidora de Waugh fala de um imaginário país africano onde a crueldade e a corrupção impera. O presidente só se preocupa em parecer chique e fino, gasta fortunas em decoração e palácios, seus aliados o traem por qualquer quantia, o exército é antigo e sem disciplina, os estrangeiros brancos vivem em ócio impotente e loucos para fugir do lugar, cenas e mais cenas de assassinatos, roubos, fugas, troca de favores. Fome e miséria para o povo, uma nova limusine para o líder. Waugh jamais pensa estar sendo racista, ele simplesmente cria uma ficção que espelha a realidade. A África dos anos 60 era exatamente aquilo e escrever sobre o que se via não era ofensivo ou proibido. Não era coisa de chato de direita. Era a época de Idi Amin comendo a carne de seus rivais e de guerrilhas dizimando quem não lutasse por elas. Não houve um só país da Africa negra que não fosse vítima de líderes metidos à besta. Waugh nos faz sentir nojo e rir amargo. Sim, o livro é uma comédia. -------------------- Estou surpreso por ainda não terem se metido a criticar Jung por sua fé na INDIVIDUAÇÃO. Talvez porque Jung foi tomado por charlatâes que só percebem nele aquilo que desejam ver. Já Eliot, assumidamente conservador, é complicado demais para um militante censor e por isso ainda não foi atacado. Toda censura é burra e ao mirar em Orwell ou Tolkien eles esquecem do muito mais perigoso, para eles, Nietzsche, o homem que pregava o indivíduo sobre tudo o mais. Literatura de valor é sempre anti grupal e aqueles que tentaram ou foram fortemente socialistas envelheceram rapidamente: Gorki, Brecht, Shaw. Neruda só é lido na América do Sul, continente que nunca irá sair de 1968, e Saramago já começa a exibir teias de aranha em sebos. Mesmo autores "de esquerda branda", quando lidos com isenção, revelam, se são muito bons, um individualismo imenso, um descompromisso com revoluções, uma desconfiança às promessas de união pelo bem. Os ingleses vão ter de queimar mais livros que os nazis queimaram em 38.
A ALEGRIA DE VIVER: RIGOLETTO
Há aqui toda a Itália. Não o país folclórico, aquele de Rossini, que aliás adoro, mas a Itália do campo, das flores, do sol marítimo, do desejo de amar. Nietzsche, em um dos seus mais espetaculares erros, disse que Wagner era Dionísio em música. Mais tarde ele percebeu que o alemão nada tinha da vitalidade do sol e do vinho. Wagner era nórdico, da neve, dos deuses do Valhala. No Mediterrâneo Nietzsche encontrou o espírito grego, solar, livre, na música de Bizet. O filósofo alemão não disse isso, mas essa vitalidade está presente aqui, desde 1851, no Rigoletto de Giuseppe Verdi, a ópera feliz. Profundamente italiana, profundamente erótica, cada minuto de música é desejo de respirar, de sentir calor na pele, de encontrar o amor. Tudo é invenção melódica, Verdi é gênio na criação de melodias que grudam na mente. Duas árias aqui se tornaram conhecidas do mundo, são hinos de nossa civilização, mas a obra, prima, tem mais, bem mais. A orquestra colore as vozes, que ao estilo italiano, são o centro e a alma da música. Coros e solistas, vozes femininas e masculinas, tudo é um encontro, uma celebração. Popular e erudito, esta é daquelas invenções que parecem ter sido criadas pela natureza. ( Observe como toda obra de gênio transcende quem a criou e se torna uma coisa viva e sem dono ). --------------- Carlo Maria Giulini, não há maestro mais indicado para estar aqui, rege a Filarmônica de Viena. Placido Domingo, em 1980, jovem, em seu auge, toma a obra para si. Há um momento, voz solista contra coro distante, que dá arrepios na alma. Gravação DG. Quem vive escutará.
ASSIM FALA ZARATHUSTRA - RICHARD STRAUSS
De forma básica a filosofia de Nietzsche diz que todos nós somos seres vivos, mas nem todos são homens. A maioria é um pato, uma ovelha ou um cão, mas para ser um homem é preciso ser livre, independente e trágico. Ser trágico significa ter consciência e de certo modo amar a precariedade da vida. Nosso destino é morrer, mas no caminho podemos ter a sabedoria de nos tornar homens. Essa filosofia, como todos sabem, é muito, muito perigosa. Na mente errada ela se transforma numa espécie de vaidade esnobe. Aquele que se considera um ser superior, um homem, olhará para os outros como meros animais. No extremo esse modo de pensar deu no Nazismo, mas toda tirania, inclusive todas de esquerda, tende a ver a massa como conjunto de bichos, burros e prontos para o abate, que precisam ser guiados rumo à verdade por algum ser iluminado, seja esse líder um general ou um intelectual. A filosofia de Nietzsche não tem culpa, pois todos esses assassinos não percebem ou não querem perceber o âmago de Nietzsche: O Individualismo. O homem que vê não vive dentro da sociedade, ele se isola mesmo entre outros seres. Guiar o rebanho é a negação absoluta de Nietzsche. O tal Super Homem volta as costas para a sociedade. Ele sabe que o caminho para a sabedoria é posse de cada um. O super homem está focado em seu percurso. Fazer política ou procurar formatar uma nação é coisa de lobo entre ovelhas, nada tendo a ver com a profunda humanidade do filósofo alemão. Tanto que ao perceber em Wagner o desejo de comandar uma revolução Nietzsche imediatamente rompe com ele. Não se iluda com o desserviço que seus herdeiros fizeram. A filosofia dele é irmã do budismo: cada um que encontre SEU guru e SEU caminho. ----------------- Richard Strauss não entendeu nada disso. Tão vaidoso quanto Wagner, de quem pegou muita influência, Strauss se via como um ser especial, superior, refinado, um heroi. Tanto que uma de suas obras fala das aventuras de um heroi, no caso, ele mesmo. No começo do século XX Strauss encarou colocar o livro de Nietzsche em música. Felizmente o filósofo já havia morrido. -------------------------- Não estou dizendo que a música é ruim. Strauss é um orquestrador maravilhoso. Aqui há música, muita música. É excitante, é instigante e jamais é entediante. É potente. Voce conhece seus primeiros acordes, a alvorada do homem. O modo como Strauss consegue levar adiante uma melodia que parece se encerrar em si mesma, é soberbo. Mas nada há de Nietzsche aqui. Strauss acha que o Super Homem é um tipo de alemão com espada e elmo, martelo e clava. Um homem que vence a neve, a fome e os inimigos. Nietzsche odiaria isso. O super homem de seua filosofia é um grego ou um romano, vive nú ao sol e bebe vinho. Ele dança. Ele navega. Ele pesca. A música de Zarathustra é mediterrânea. Jamais nórdica. Ela usa flauta, ela é leve e sensual, ela é quente. E trágica, claro, muito trágica. Ela dança à beira do vulcão, nunca à beira de uma geleira. Debussy está muito mais próximo de Nietzsche que Strauss. Ravel também. Alemães se irritam ao saber, mas França e Itália são mais super homem que a Alemanha. --------------- O cd que ouço tem a orquestra de Cleveland regida por Geroge Szell. Nota mil. Decca é a gravadora. Para completar o cd, temos Don Juan e As Alegres Aventuras de Till. Ambas são melhores que Zarathustra. São felizes. São sexy. São cheias de som. Ribombantes. Ouça.
RICHARD WAGNER, O HOMEM QUE DEU ORIGEM AO "WAGUINÃO"
Richard Wagner foi uma estrela tão grande, que no Brasil seu sobrenome virou nome e Wagner passou a ser "Guinão" ou "Waguininho". Ele levou a idolatria a níveis nunca vistos e conseguiu até mesmo criar Bayreuth, um festival anual onde desde então suas óperas são encenadas. A cidade alemã vive em função de Wagner. O último e o maior dos românticos, Wagner levou aos limites o sonho do romantismo: seu ego cresceu às alturas de Napoleão e sua obra se tornou paradigma. Tudo que veio após Wagner era consequência de sua obra. Mesmo aqueles como Verdi e Brahms que eram seus oponentes. Mas o que exatamente ele fez? ------------------------------- No campo puramente musical, ele libertou a orquestra da submissão ao canto. Quando ouvimos Rossini ou mesmo Mozart, notamos, surpresos, o quanto a orquestra é submissa a voz. Toda a ópera existe em função do cantor. O acompanhamento fica ao fundo, em Rossini e nos italianos em geral, bem ao fundo. Wagner faz da voz humana mais um instrumento. Voz e orquestra dividem atenção. Outro fato: tudo é cantado em alemão. Apesar da Flauta Mágica ser em alemão, toda ópera, de todo país, tinha de ser em italiano. Isso foi revolucionário, pois foi um ato de rebeldia nacionalista. Wagner afirmou a existência da nação alemã. E como tema de sua obra, criou uma mitologia germânica, o passado medieval alemão, passado que só existiu na sua cabeça. Afirmando seu ego Wagner afirma a Alemanha. --------------------------------- Nietzsche a princípio viu em Wagner o Super Homem, o ser superior dono de seu destino. Mas eles logo brigaram. Nietzsche começou a perceber em wagner o culto da morte e não da vida. Não havia sol no alemão e Nietzsche passou ao lado dos italianos, os solares mediterrâneos. ------------------------- Paulo Francis amava Wagner e gostava de dizer que ouvir Wagner sob efeito de maconha era uma experiência "muito louca". Como todo wagneriano, Francis ouvia Wagner em qualquer ocasião. Servia para amor e para guerra. Desculpe Francis meu heroi, mas ao ouvir Wagner ontem, versão Karl Bohm, Sinfônica de Viena, o odiei muito. A música de Wagner é para mim insuportável. Não faz sentido! Faço minha as palavras de seus críticos de 1880: é somente barulho. Melodias rudes, secas, sem sentido, desenvolvimento atabalhoado, pianíssimos e fortes que se sucedem sem parar....Wagner ama variar o volume e parece uma criança brincando com o botão de High and Low. Não consigo prestar atenção em Wagner. Não me diz nada. É aborrecido. Okay, sei que sou um leigo, mas por Jorge!, consigo sentir em Prokofiev a arte em seu barulho e na riqueza de Dvorak suas linhas melódicas. Nada sinto de bom em Wagner. Nada. Tudo é exagero. Tudo é histeria. Tudo é....sinto muito....adolescencia. --------------------------------------------- Wagner sonhou em criar a arte total: na ópera tudo seria superlativamente misturado: música, teatro, arquitetura nos cenários, pintura, literatura no texto. Dizem que o cinema fez de seu sonho uma realidade. Tendo a concordar, Wagner faria filmes se tivesse nascido 50 anos mais tarde. E talvez resida aí sua fraqueza. Como algumas boas trilhas sonoras de grandes filmes, sua música talvez pareça mais viva quando no palco. É preciso cenário. É preciso luz. É preciso cor. Então não seria a música de wagner música pura, mas sim música de cena. Ele daria um genial diretor de musicais na Hollywood dos anos 50. E nisso vai meu elogio sincero.
O CULTO AO MEDO
Nietzsche enlouqueceria outra vez em 2020. Nunca estivemos tão distantes da ideia que ele fazia do Superhomem.
A mim não surpreendeu a disposição das pessoas em crer no fim. Somos treinados nisso. Toda nossa cultura é
chorosa. Nietzsche tinha amor ao trágico, pois o trágico sofre sua missão em meio à dor. O trágico entra de
peito aberto e paga o que os deuses lhe cobram.
Nós fugimos da tragédia porque nem sequer imaginamos do que se trata. Preferimos o melodrama e a choradeira do
bebê. Não podemos ser Superhomens porque nem mesmo somos homens.
Sem questionar nos entregamos ao "fim do mundo". Foi como se esperássemos por isso. E muita gente sentiu a alegria
do destino cumprido. Não tivemos pudor algum em nos amordaçar, em baixar a cabeça, em obedecer. Nunca foi caso de
"tomar uma decisão em bem de todos", e sim o simples ato de obedecer sem pensar.
Educados para odiar a cultura "antiga", treinados para crer no "mundo que merece ser destruído", engolimos
passivamente a narrativa da destruição, do final dos tempos, da punição. Masoquistas.
Onde o indivíduo que dança à beira do abismo?
Onde o ser que afirma orgulhosamente sua força?
Nietzsche chora e voce ousa pensar ser partidário do mestre?
Seja um meteoro, seja o fim do ozônio, voce crê em qualquer coisa que te puna, te dê medo, te apequene.
Voce foi humilhado por um vírus de gripe.
O "Superhomem" se deixou dominar pela kriptonita mais banal e comum do planeta: o vírus.
Agora reza pelo milagre de uma vacina feita a toque de caixa.
Se uma nave espacial pousasse na Terra e esses ETs exigissem nossa rendição, voce ó pequeno bebê, choraria
desamparado e obedeceria entre soluços.
E provavelmente amaria o Senhor ET com a gratidão do frango de granja pelo tratador que lhe dá milho.
JUNG, TIPOS PSICOLÓGICOS
Estou lendo o TIPOS PSICOLÓGICOS de Jung. Aviso que não irei destrinchar o livro. Ele é vasto e toda redução o empobreceria demais. Farei vários textos, curtos, em que citarei uma ideia do livro. Voce que pense sobre ela.
A obra tem 600 páginas, estou na 170, agora ele analisa Nietzsche e o conceito de Apolo x Dionísio que o alemão escreveu. Antes disso, Jung, sempre uma mente enciclopédica, falou sobre filósofos medievais, gregos primitivos e Schiller. Destaco aqui duas afirmações:
1- A história do mundo e da civilização se explica pela divisão, dentro de nós e fora de nós, entre tipos INTROVERTIDOS E EXTROVERTIDOS. O conflito tem sido insolúvel, e é nessa guerra que se faz a história. Ideal contra prático. O idealista pensa e depois olha o mundo. E busca adaptar o mundo àquilo que ele crê ser a verdade. O prático vê o mundo e depois o conhece. Tenta se adaptar àquilo que o mundo é. Neste momento histórico, se voce pensou em esquerda e direita acertou. Jung, como Schiller e Nietzsche, sabe que são modos de ver o objeto inconciliáveis. Não há comunicação entre essas duas visões. Mas não se engane! Na vida pública hiper exposta e hiper calculada de 2020, o que parece ser introvertido pode ser um extrovertido oportunista; e um que se mostra como extrovertido, ser um idealista confuso. Jung adverte que saber qual seu "time" é ato de muito difícil diagnóstico. Uma dica: auto análise aqui está fadada ao fracasso.
2- A religião surge sempre como criação inconsciente que visa equlibrar o mundo. Desse modo, óbvio que uma religião como a cristã, baseada em amor ao próximo, revela que dentro do homem cristão existe o impulso pelo ódio ao próximo. Jung escreveu em 1920, pós primeira guerra: " Não me surpreende que dentro da civilização do pacifista Jesus Cristo, ocorra a pior das guerras " Imagine o que Jung pensou em 1945! Portanto, Jung sabe que se os gregos, por exemplo, criaram a religião clara e heroica do Olimpo, era porque eles se sentiam acossados por uma vida cheia de medo e de escuridão.
E chega aqui.
JIM MORRISON E AS CALÇAS DE COURO
Jim Morrison é o mesmo caso psico que acometeu Kurt Cobain, um rapaz talentoso e idealista que se viu subitamente transformado em algo que ele jamais quis ou imaginou poder ser. No caso de Kurt, ele tinha ideais punk. Já Jim era filho de seu tempo, ele tinha os ideais beatniks.
Morrison era bonito, era sexy e era muito cool. E coroando tudo isso, ele tinha voz. Morrison é a melhor voz branca do rock. Ele grita como um cantor de heavy metal e é suave como um astro pop. Sua dicção é perfeita e o timbre jamais falseia. Quanto a presença de palco, é ele quem cria o performer de palco realmente perigoso, sexy, ofensivo. É o inventor de Iggy Pop e de David Bowie.
Mick Jagger poderia ter esse posto, mas além de cantar menos, Jagger é irônico. Ele mesmo não se leva a sério e de certo modo foi isso que salvou sua sanidade. Jagger sempre parece rir de si mesmo, ele macaqueia. Jim era absolutamente sério e esse era seu ponto fraco. Jim Morrison se achava um poeta. Ele era solene. Chato às vezes. Incapaz de rir das besteiras que fazia ocasionalmente. Suas letras são ótimas para uma banda de rock de LA, mas como poesia simbolista, são infantis. Jagger sabia disso e ria. Morrison não queria saber e sofria por não ser levado a sério. Todo astro pop se afunda ao se levar a sério. De Lennon à George Michael, não há um só que não tenha afundado em auto piedade ou hostilidade burra ao não aceitar o fato de que seu trabalho é dirigido a semi analfabetos ou a jovens estudantes idealistas e ingênuos. Quando eles começam a se ver como novos William Blakes ou Nietzsches revividos a coisa entra em curto.
O primeiro disco dos Doors é muito bom. Ele sacoleja e é um prazer ouvir o teclado de Ray rodopiar pelo balanço jazz de Robby e John. A voz de Jim é brilhante. E tudo o que ela transmite é a angústia pura do desejo sexual. É apenas isso. E isso é fantástico. No segundo disco, ainda melhor, eles acrescentam o medo como tempero. É um disco sobre o pesadelo do desejo sem objeto. Strange Days é um album perfeito. Mas então o ingênuo Jim Morrison começou a brigar com seu status pop. Queria ser artista. Queria ser Rimbaud. E como não tinha o dom para tanto, jogou o que tinha no lixo.
Falei em Iggy e em Bowie.
Iggy, que é um grande leitor, sempre soube que rock é primitivismo. E foi realista o bastante para dar ao rock o que ele quer: sangue. Inteligente ao extremo esse Iggy. Já Bowie foi o artista que Jim quis ser e não pode. Bowie criou um artista pop. Uniu o pop mais pré fabricado à arte possível em meio tão simplório. Nunca houve cara mais astuto.
As pessoas gostam de dizer que Morrison teve sorte ao morrer. Que gordo e careca ele seria patético. Bem....Van Morrison é gordo e careca e não é patético. Talvez Jim fosse feliz ao saber que sua voz era o que o mantinha e não sua aparência. Talvez.
De todo modo, era preciso ser muito homem para usar calças de couro em 1966.
Morrison era bonito, era sexy e era muito cool. E coroando tudo isso, ele tinha voz. Morrison é a melhor voz branca do rock. Ele grita como um cantor de heavy metal e é suave como um astro pop. Sua dicção é perfeita e o timbre jamais falseia. Quanto a presença de palco, é ele quem cria o performer de palco realmente perigoso, sexy, ofensivo. É o inventor de Iggy Pop e de David Bowie.
Mick Jagger poderia ter esse posto, mas além de cantar menos, Jagger é irônico. Ele mesmo não se leva a sério e de certo modo foi isso que salvou sua sanidade. Jagger sempre parece rir de si mesmo, ele macaqueia. Jim era absolutamente sério e esse era seu ponto fraco. Jim Morrison se achava um poeta. Ele era solene. Chato às vezes. Incapaz de rir das besteiras que fazia ocasionalmente. Suas letras são ótimas para uma banda de rock de LA, mas como poesia simbolista, são infantis. Jagger sabia disso e ria. Morrison não queria saber e sofria por não ser levado a sério. Todo astro pop se afunda ao se levar a sério. De Lennon à George Michael, não há um só que não tenha afundado em auto piedade ou hostilidade burra ao não aceitar o fato de que seu trabalho é dirigido a semi analfabetos ou a jovens estudantes idealistas e ingênuos. Quando eles começam a se ver como novos William Blakes ou Nietzsches revividos a coisa entra em curto.
O primeiro disco dos Doors é muito bom. Ele sacoleja e é um prazer ouvir o teclado de Ray rodopiar pelo balanço jazz de Robby e John. A voz de Jim é brilhante. E tudo o que ela transmite é a angústia pura do desejo sexual. É apenas isso. E isso é fantástico. No segundo disco, ainda melhor, eles acrescentam o medo como tempero. É um disco sobre o pesadelo do desejo sem objeto. Strange Days é um album perfeito. Mas então o ingênuo Jim Morrison começou a brigar com seu status pop. Queria ser artista. Queria ser Rimbaud. E como não tinha o dom para tanto, jogou o que tinha no lixo.
Falei em Iggy e em Bowie.
Iggy, que é um grande leitor, sempre soube que rock é primitivismo. E foi realista o bastante para dar ao rock o que ele quer: sangue. Inteligente ao extremo esse Iggy. Já Bowie foi o artista que Jim quis ser e não pode. Bowie criou um artista pop. Uniu o pop mais pré fabricado à arte possível em meio tão simplório. Nunca houve cara mais astuto.
As pessoas gostam de dizer que Morrison teve sorte ao morrer. Que gordo e careca ele seria patético. Bem....Van Morrison é gordo e careca e não é patético. Talvez Jim fosse feliz ao saber que sua voz era o que o mantinha e não sua aparência. Talvez.
De todo modo, era preciso ser muito homem para usar calças de couro em 1966.
ELEGIAS DE FRIEDRICH HOLDERLIN, ALEMANHA, FRANÇA E INGLATERRA
È perigoso ler Holderlin. Ele nos carrega de volta pra Terra. Suavemente. Seus versos fazem esse trabalho por prazer. A Terra surge em sua obra como a Deusa que sempre tem sido e que insistimos em negar. Holderlin refaz o laço de vida. Ele via. Para nosso mundo, ele via demais pois via além.
Holderlin, Hegel e Schelling foram amigos de escola. Adultos foram os teóricos do romantismo. Cada um a seu modo. Holderlin seguiu ao campo e lá encontrou seus deuses. Ele não usava deuses, ele não acreditava em deuses, ele não se inspirava nesses deuses. Ele os via. Holderlin via a Grécia clássica na Alemanha. Stuttgart era Atenas. O Olimpo fora banido da Grécia, por ingratidão, e agora Zeus era alemão.
Essa a maldição do poeta. Os nazistas usaram Holderlin para dar aval a Alemanha Império do Mundo. Crianças decoravam trechos de seus poemas nas escolas. Ele era citado por Goebbels. Trechos, porque se o divulgassem por inteiro veriam que seu germanismo era bárbaro, individualista e libertário. Nietzsche que era fã de Holderlin sofreu o mesmo destino. Mal lido e mal usado pelos nazis.
O panteísmo de Nietzsche é influência de Holderlin. Os deuse vivem na vida. A vida é Zeus, é Afrodite e é Atena. E o sol, o vinho e a mata é vida.
Triste coincidência! Como Holderlin, Nietzsche também terminou sua vida louco. Não há como saber que tipo de doideira tinha Holderlin. Talvez hoje ele não fosse considerado um louco. Ou sim. Essa loucura foi outra maldição de Holderlin. Após sua morte sua obra passou a ser evitada. Era como se a super racional Europa de 1860 não pudesse suportar a lembrança de Holderlin. Assim como essa mesma Europa pensa nos deuses como apenas estátuas quebradas, ou personagens de HQ. Holderlin, e Nietzsche viam algo mais, recordavam e sentiam. Eles estão ao redor.
No começo do século XX reabilitaram Holderlin e hoje ele é o segundo grande nome da poesia em alemão. No país que tem Schiller, Heine e Rilke, Holderlin só perde para Goethe. Se Goethe incomoda a Alemanha por lembrar aquilo que poderia ter sido e nunca foi, Holderlin incomoda por sua alegria petulante e sua confiança desafiadora.
Sua voz á alta e seu tom é sempre o do caminhante. Ele não prega, ele nunca nos convida a ir junto, ele vai só. Com os deuses e com sua alma.
Pessoas mal informadas tendem a pensar que a França é romântica e que a Alemanha seja a terra da razão. Pois bem! Tudo na França é razão, começando por sua gramática. A França é marcada por Descartes, pelo jansenismo e logo pelo positivismo. Pensadores franceses pensam em termos de ação, de compromisso politico. Não a Alemanha. Com Lutero a nação se volta para um tipo de religião particular: todos podem falar com Deus e cada casa é uma igreja. Assim como Holderlin fala com Apolo ou com Dionisio, Mann irá atrás da beleza platônica, Hesse atrás de Buda e Freud procurará os fantasmas que vivem invisíveis na mente. Seja expressionismo ou romantismo, a arte alemã está sempre procurando o oculto, o segredo, aquilo que ninguém quer ver. Bruxas, vampiros, deuses ou medos, alemães não se contentam com o comum ou o óbvio. Em oposição aos franceses, que só querem perceber o que pode ser medido, ou dos ingleses, que só dão valor ao util, os alemães cultuam símbolos, traços secretos de passados ainda vivos. Anjos de Rilke ou demônios nazistas, tudo é bruma.
Esse o universo de Holderlin.
NIETZSCHE E O QUE IMPORTA NELE
A Alemanha começou a crescer muito por volta de 1880. De repente burgueses exibiam nas ruas suas posses. Vaidosos, posavam otimistas, eram arautos do futuro. Militares mandavam em tudo. Era um regime militarista, prussiano. E os artistas, até então centro da vida alemã, se viram jogados ao canto, longe do poder, longe do centro. Goethe e Wagner não eram mais os heróis da nação, esses heróis eram a familia Krupp e Bismarck. Reis da indústria e o militar que arquitetou a Alemanha.
Nietzsche surge nesse meio. Cheio de ressentimento. Filósofo sem sistema, jamais pode ser comparado a Kant ou a Hegel, ele está muito mais próximo de Pascal ou de Platão. Poeta-filósofo.
Ele era um saudosista. Queria fazer da Alemanha uma nova Grécia. Via em Wagner o deus que traria á Alemanha a vitalidade do Mediterrâneo. Nietzsche ansiava por vitalidade. Via a seu redor uma nação em queda. Não percebeu que quem caía era ele. A Alemanha se erguia industrialmente, os artistas se perdiam, aturdidos pela nova pátria ambiciosa, imperialista e materialista.
Nietzsche foi um gênio do aforismo. Mas há aí um perigo, seus aforismos servem para tudo. Um orientalista verá neles a confirmação de sua crença, e assim será com um ateu, um simbolista, um fascista, um anarquista, um liberal. Eles parecem servir a tudo e a todos. O que devemos ter em mente é o que na verdade eles eram.
Ele começa como pessimista, na escola de Schoppenhauer e ao final se torna um otimista, um cantor da alegria da carne e do fogo da vida. O que se manteve foi seu amor a beleza, ele sempre foi um esteta. Nietzsche idolatrava a beleza fisica do Mediterrâneo, a saúde dos corpos latinos, o sol. Ele via no cristianismo a negação de tudo isso, o culto a tristeza e a morte. Como diz Carpeaux, Nietzsche foi incapaz de compreender a humildade, via nela ressentimento. Mas tudo no alemão aponta por um desejo absoluto por fé, por religião. Ele a encontra numa espécie de retorno ao paganismo, ao primitivismo. Ressentido com a nova nação, Nietzsche sente nostalgia do barbarismo.
O ponto mais fraco de Nietzsche é aquele que ele considerava o mais forte, o Super-Homem. Esse ser seria para ele a salvação da Europa, a volta do europeu vital, da força do engenho e da vida. Engano que Burkhart logo percebeu e não aceitou ( Nietzsche era fã de Burkhart, o intelectual mais forte na Alemanha da época ), Burkhart viu que o Super-Homem seria o fim da Europa, um tipo de hiper-individualista que destruiria qualquer chance de união entre os homens.
Fato estranho passa a ocorrer com Nietzsche após sua morte. Ele passa a ser, principalmente na França, um tipo de advogado para o hedonismo. Mal entendido, uma casta de burgueses privilegiados passa a viver à beira mar uma existência "nietzschiana", ou seja, sem regras, sem culpas e sem deveres. O poeta alemão ficaria chocado ao ver a leviandade com que sua filosofia de negação se torna para essa gente um tipo de álibi para o "bom-viver". Tudo pode e Tudo sem Culpa, esses se tornam os slogans de Nietzsche, slogans que ele jamais assinaria em baixo.
Um grande poeta. Herdeiro de Holderlin, que ele adorava, último representante do humanismo puro na Alemanha, Nietzsche exerceu uma influência imensa sobre 90% da literatura feita entre 1900/1920. Genial criador de imagens, de frases, de efeitos, vivesse mais dez anos, se livre da loucura, ele teria encontrado o que? Em que alturas ele planaria?
Nietzsche, como Jesus, Tolstoi ou Darwin, não tem culpa do que fizeram com sua herança. O tempo lhe deu sentidos postiços e distorceu o que ele desejava.
Para ser entendido, deve ser lido sempre como um poeta. Poeta-filósofo, como o foi Platão. Poeta a procura da verdade. Em construção. Criança que descobre e pergunta, que nega e afirma, que se perde. Visto assim, ele foi imenso.
Nietzsche surge nesse meio. Cheio de ressentimento. Filósofo sem sistema, jamais pode ser comparado a Kant ou a Hegel, ele está muito mais próximo de Pascal ou de Platão. Poeta-filósofo.
Ele era um saudosista. Queria fazer da Alemanha uma nova Grécia. Via em Wagner o deus que traria á Alemanha a vitalidade do Mediterrâneo. Nietzsche ansiava por vitalidade. Via a seu redor uma nação em queda. Não percebeu que quem caía era ele. A Alemanha se erguia industrialmente, os artistas se perdiam, aturdidos pela nova pátria ambiciosa, imperialista e materialista.
Nietzsche foi um gênio do aforismo. Mas há aí um perigo, seus aforismos servem para tudo. Um orientalista verá neles a confirmação de sua crença, e assim será com um ateu, um simbolista, um fascista, um anarquista, um liberal. Eles parecem servir a tudo e a todos. O que devemos ter em mente é o que na verdade eles eram.
Ele começa como pessimista, na escola de Schoppenhauer e ao final se torna um otimista, um cantor da alegria da carne e do fogo da vida. O que se manteve foi seu amor a beleza, ele sempre foi um esteta. Nietzsche idolatrava a beleza fisica do Mediterrâneo, a saúde dos corpos latinos, o sol. Ele via no cristianismo a negação de tudo isso, o culto a tristeza e a morte. Como diz Carpeaux, Nietzsche foi incapaz de compreender a humildade, via nela ressentimento. Mas tudo no alemão aponta por um desejo absoluto por fé, por religião. Ele a encontra numa espécie de retorno ao paganismo, ao primitivismo. Ressentido com a nova nação, Nietzsche sente nostalgia do barbarismo.
O ponto mais fraco de Nietzsche é aquele que ele considerava o mais forte, o Super-Homem. Esse ser seria para ele a salvação da Europa, a volta do europeu vital, da força do engenho e da vida. Engano que Burkhart logo percebeu e não aceitou ( Nietzsche era fã de Burkhart, o intelectual mais forte na Alemanha da época ), Burkhart viu que o Super-Homem seria o fim da Europa, um tipo de hiper-individualista que destruiria qualquer chance de união entre os homens.
Fato estranho passa a ocorrer com Nietzsche após sua morte. Ele passa a ser, principalmente na França, um tipo de advogado para o hedonismo. Mal entendido, uma casta de burgueses privilegiados passa a viver à beira mar uma existência "nietzschiana", ou seja, sem regras, sem culpas e sem deveres. O poeta alemão ficaria chocado ao ver a leviandade com que sua filosofia de negação se torna para essa gente um tipo de álibi para o "bom-viver". Tudo pode e Tudo sem Culpa, esses se tornam os slogans de Nietzsche, slogans que ele jamais assinaria em baixo.
Um grande poeta. Herdeiro de Holderlin, que ele adorava, último representante do humanismo puro na Alemanha, Nietzsche exerceu uma influência imensa sobre 90% da literatura feita entre 1900/1920. Genial criador de imagens, de frases, de efeitos, vivesse mais dez anos, se livre da loucura, ele teria encontrado o que? Em que alturas ele planaria?
Nietzsche, como Jesus, Tolstoi ou Darwin, não tem culpa do que fizeram com sua herança. O tempo lhe deu sentidos postiços e distorceu o que ele desejava.
Para ser entendido, deve ser lido sempre como um poeta. Poeta-filósofo, como o foi Platão. Poeta a procura da verdade. Em construção. Criança que descobre e pergunta, que nega e afirma, que se perde. Visto assim, ele foi imenso.
ASSIM FALOU ZARATUSTRA - NIETZSCHE
Viver na corda sobre o abismo, como um bailarino, e ser odiado por ser só. Obedecer ao corpo e só ao seu corpo. E viver na pura verdade, a verdade da vontade. Eu sou meu corpo e é só com ele que vivo.
Nietzsche prega no deserto. Não sei se ele foi um dia entendido. Penso que ele não o queria.
Na ponta da corda, o animal, na outra ponta, o super-homem, fora da corda e longe do abismo, o rebanho, o homem sem individualidade.
Volta a Terra. O segredo do filósofo-poeta : o homem como ser-Terra. A vida é carne, a vida acontece agora, a vida é o sol. Quanto mais distantes da Terra/Mãe mais distantes da vida. Daí o fato de se ser só : desenvolver a individualidade ao máximo.
Igreja e Politica, as forças que fazem do homem apenas mais um, um fraco em meio a seus senhores. Igreja e Politica, véus que disfarçam as cores reais da vida.
( Para Nietzsche seria cômico um bando de ateus se unirem e fazer propaganda de seu ateísmo. Ser ateu é ter a coragem de ser só, de não precisar de companheiros de rebanho. Unir ateus em "fé" ao ateísmo é criar nova igreja. )
Como ele pensaria em Marxismo, Freudianismo, Darwinismo, Jungismo, existencialismo, como novas igrejas, com seus dogmas e seus fiéis dizendo amém.
A corda sobre o abismo. Colocar-se em prova. O SuperMan.
O homem precisa ir além, o homem precisa despir-se de toda ilusão, o homem precisa caminhar ao deserto. Para Nietzsche não existe a comunhão e esse foi seu grande erro : a vida acontece na Terra, sim, mas o SuperMan se completa no outro. O ódio de Nietzsche ao cristianismo fez com que ele ignorasse a suprema originalidade da fé cristã : amor. O filósofo alemão é incapaz de entender o amor.
Mas ele é muito atual ao dizer que o homem fraco abomina a Terra. Para esse ser, tudo o que é natural lhe é intolerável. A própria visão da corda sobre o abismo lhe é insuportável. Então, esse subHomem, pequeno e rancoroso, fará a sabotagem da vida, tentará negar a vida e destruirá a Terra. Fugirá da força titânica que é o fogo e o sangue da vida.
Há em Nietzsche a terrível nostalgia do paganismo. Nascido no mais racional dos séculos ( XIX ) houvesse nascido 40 anos depois, seria Friedrich colega de Hesse, Lawrence e Huxley, percorreria mais livremente o caminho do paganismo, provávelmente teria experiências alucinógenas e talvez vivesse bem mais. Mas no meio do século em que viveu, pensar na força pagã, em Dionisio, era viver sempre só.
O livro é poema que aspira a filsofia. E é filsofia que é poema. Biblia do século que nasceria com sua morte.
Continuamos sobre o abismo. E ele diz : Não olhe para baixo e nem para trás. Não anteveja o futuro. Caminhe rumo ao UberMann, o Homem sobre-humano, o ser que é todo Terra, que é todo de verdade, sem ilusão, de olhos claros e de gestos firmes. Não se lamenta, faz. Dono da alegria soberba de se saber vivo.
Ler este livro aos 15 anos é detestar para sempre tudo o que signifique "ser parte de um rebanho".
Ps: agora sim Laerte. Sua última opinião é ok.
Nietzsche prega no deserto. Não sei se ele foi um dia entendido. Penso que ele não o queria.
Na ponta da corda, o animal, na outra ponta, o super-homem, fora da corda e longe do abismo, o rebanho, o homem sem individualidade.
Volta a Terra. O segredo do filósofo-poeta : o homem como ser-Terra. A vida é carne, a vida acontece agora, a vida é o sol. Quanto mais distantes da Terra/Mãe mais distantes da vida. Daí o fato de se ser só : desenvolver a individualidade ao máximo.
Igreja e Politica, as forças que fazem do homem apenas mais um, um fraco em meio a seus senhores. Igreja e Politica, véus que disfarçam as cores reais da vida.
( Para Nietzsche seria cômico um bando de ateus se unirem e fazer propaganda de seu ateísmo. Ser ateu é ter a coragem de ser só, de não precisar de companheiros de rebanho. Unir ateus em "fé" ao ateísmo é criar nova igreja. )
Como ele pensaria em Marxismo, Freudianismo, Darwinismo, Jungismo, existencialismo, como novas igrejas, com seus dogmas e seus fiéis dizendo amém.
A corda sobre o abismo. Colocar-se em prova. O SuperMan.
O homem precisa ir além, o homem precisa despir-se de toda ilusão, o homem precisa caminhar ao deserto. Para Nietzsche não existe a comunhão e esse foi seu grande erro : a vida acontece na Terra, sim, mas o SuperMan se completa no outro. O ódio de Nietzsche ao cristianismo fez com que ele ignorasse a suprema originalidade da fé cristã : amor. O filósofo alemão é incapaz de entender o amor.
Mas ele é muito atual ao dizer que o homem fraco abomina a Terra. Para esse ser, tudo o que é natural lhe é intolerável. A própria visão da corda sobre o abismo lhe é insuportável. Então, esse subHomem, pequeno e rancoroso, fará a sabotagem da vida, tentará negar a vida e destruirá a Terra. Fugirá da força titânica que é o fogo e o sangue da vida.
Há em Nietzsche a terrível nostalgia do paganismo. Nascido no mais racional dos séculos ( XIX ) houvesse nascido 40 anos depois, seria Friedrich colega de Hesse, Lawrence e Huxley, percorreria mais livremente o caminho do paganismo, provávelmente teria experiências alucinógenas e talvez vivesse bem mais. Mas no meio do século em que viveu, pensar na força pagã, em Dionisio, era viver sempre só.
O livro é poema que aspira a filsofia. E é filsofia que é poema. Biblia do século que nasceria com sua morte.
Continuamos sobre o abismo. E ele diz : Não olhe para baixo e nem para trás. Não anteveja o futuro. Caminhe rumo ao UberMann, o Homem sobre-humano, o ser que é todo Terra, que é todo de verdade, sem ilusão, de olhos claros e de gestos firmes. Não se lamenta, faz. Dono da alegria soberba de se saber vivo.
Ler este livro aos 15 anos é detestar para sempre tudo o que signifique "ser parte de um rebanho".
Ps: agora sim Laerte. Sua última opinião é ok.
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