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WALLS AND BRIDGES, O MELHOR DISCO DE JOHN LENNON
Em 1974 John Lennon estava um caco. Sem Yoko, eles haviam brigado, ele vivia bêbado. Seus companheiros de copo eram Keith Moon, Ringo Starr, Elton John e principalmente Harry Nilsson. Todos conhecidos por seus excessos. ( Moon e Nilsson eram alcoolotras radicais, Elton estava na sua fase cocaína ). Lennon chamaria no futuro essa fase de seu "Lost Weekend " alusão ao filme de Billy Wilder. --------------- Nesse clima ele lançou o disco Walls and Bridges, disco que vendeu muito mas que foi meio esnobado pelos críticos. Eu conheço tudo que John gravou e para mim este é não só seu melhor trabalho solo, como um dos grandes discos da melhor década. Ele abre com Goin Down on Love e voce não imagina o que era ouvir isso no rádio pela primeira vez. Era rica, era complexa, era surpreendente. Mudava de tom, mudava de ritmo, se recompunha. Tinha percussão, metais, tinha rock e era esquisita. Lembrava os melhores trabalhos dos Beatles. A faixa seguinte fora fruto de uma aposta. Elton John gravou com John Whatever Gets you Thru the Night e apostou que ela seria número um na Billboard. John duvidou e disse que se ela fosse, ele apareceria de surpresa no palco em show de Elton. A faixa chegou a número um e Lennon aparece no Madison Square Garden, no meio de um show do Elton, sem avisar. Cantaram 3 faixas e essa foi, sem que ningém se desse conta, a última aparição de Lennon em um palco. Dezembro de 1974. Whatever Gets era outra surpresa quando surgiu no rádio. Era alegre e histérica, meio gay e tolinha. Deliciosa e eufórica. A cara dos anos 70. -------------- Para quem não sabe Harry Nilsson foi um gênio e Old Dirt Road é da dupla Lennon-Nilsson. É a alma do album. Linda de matar, triste de doer, tem uma guitarra slide sublime ( Jesse Ed Davis ) e aquele fundo de orquestra que Nilsson era mestre em usar. A voz de John está magnífica, é triste, é rock, tem um fundo de ironia, é voz de quem perdeu ( o que irrita em John é sua mania de exibir feridas ao público, mas aqui é tudo tão bonito que a gente perdoa ). A próxima, What You Got, tocava em anúncio de TV. É rocknroll. É agitada. Funciona à perfeição após o bode da faixa anterior. Dá até pra dançar. Bless You é uma faixa que poderia ser cantada por Al Green. Ou por Luther Vandross. Seria sexy. Seria soul de motel. Na voz de Lennon, voz incapaz de soar sexy, é bela porém incompleta. Scared é mais uma grande faixa. Um lobo uiva duas vezes e a orquestra entra como em sonho. Lennon repete várias e várias vezes que sente medo, muito medo. Dizem que seu afastamento do trabalho, entre 1975-1980, se deveu a crises de pânico. Se for verdade, eu penso que não, esta faixa entrega tudo. É pesada, soturna, mas é cheia de beleza. Quando inspirado, John Lennon era uma fábrica de produzir coisas bonitas em meio a frases simples. Scared é um exemplo de talento. Se Paul MacCartney é um mestre em produzir harmonia de cristal, John fazia beleza no lodo. E essa beleza é superlativa em Dreams, uma das músicas mais bonitas já gravadas. O som da bateria harmonizado com os violinos que "sonham" é das construções musicais que só um imenso dom, um talento sem limites, faria. Dreams me encantava quando tocava no rádio, em 1974, e me encanta agora, uma vida inteira mais tarde. É perfeita como música acabada e completa. Surprise é a faixa menos boa do disco inteiro. Apenas uma brincadeira rocker. Nada ruim, mas destoa. Steel and Glass é terrível. Terrível no sentido de ser assustadora. Os metais estão precisos, a música progride como destino. John sente medo outra vez. Sou apaixonado por essa faixa desde que a ouvi pela primeira vez, 1980, logo após sua morte, que foi quando comprei o album. Sei que escrevi sobre esta obra uns 10 anos atrás, mas o valor da grande arte é sua capacidade de ser eternamente comentada. Hoje sou outro e o album tem outro valor para mim. Beef Jerky é esquisita e é instrumental. E depois temos mais uma faixa que é puro Nilsson: Nobody Loves you when you're Down and Out. Só John e Nilsson poderiam fazer uma faixa com esse título. É uma longa lamentação de Lennon, pura auto piedade. Ele lambe feridas sem pudor. Mas eu adoro, porque musicalmente é uma maravilha. A massa sonora lembra o melhor de Phil Spector ( John foi o único Beatle que aprendeu com ele. Paul jamais deixou de seguir George Martin, um estilo muito mais refinado que o de Spector ). Essa massa de guitarras, violinos, metais, percussão, se arrasta como se tudo fosse uma imensa ressaca. E é uma ressaca sim. A canção é como uma dupla de amigos cantando na rua às 6 da manhã, com dor de cabeça, dor de corno, dor de viver. É adulta e é feita em espírito adolescente. É uma obra de arte. ---------------------- Minha opinião é que Lennon se afastou dos palcos e do trabalho por ter vivido um "momento de Voltaire". Desde sempre Lennon fora um rebelde ingênuo, um revolucionário enganado, e em 1975, após o inferno de 1974, ele viveu aquilo que Voltaire descreve ao fim de Candido: Ao final de tudo, o melhor é que cada um cuide de seu jardim. Em crise, percebendo a tolice de seus companheiros, ele se volta ao jardim, à família, à casa. Vai criar o filho, fazer pão, ver TV. Uma das raivas que sua morte nos legou é que não assistimos a segunda parte de sua vida. ------------- Walls and Bridges é o momento em que o Lennon chato e infantil morre.
UM ANO BEBENDO, O NASCIMENTO DO INDIE E UM AMERICANO LEGAL.
Ouço falar de Bob Seger desde 1980. Eu comprava as Rolling Stone gringas e ele sempre estava bem colocado nas paradas. Não tinha curiosidade nenhuma em o escutar. Sabia que era um tipo de Bruce Springsteen dos pobres. Eu achava isso. Achava errado. É legal voce ter mais de 50 anos e ainda descobrir gente que não conhecia. Ter ainda toda uma discografia pra descobrir. Me surpreendi muito ao ver um disco de Bob Seger entre os discos que meu irmão me deixou. Ele não tinha nada de Bruce. Ouço Seger então. Poxa! O homem é bom!
Bob Seger começou antes de Bruce, em 1970, cantando um tipo de rock de garagem. A partir de 1976 se tornou estrela nos EUA. O som que ele fazia então tinha tudo a ver com Bruce e ao mesmo tempo nada a ver. Seger é mais intimista, não faz hinos. E, apesar de entregar tudo no palco, ele é um pouco mais contido, quase nada, mas é sim. O som de Seger tem uma elegância pop que Bruce raramente tem. Bruce é mais visceral. Bob é mais simples. As canções de Seger vão diretas no coração. São sofridas. São belas. Quando o vinil duplo termina dá vontade de ouvir mais. Eis um cara pra eu ir atrás.
Ninguém, dentre os gênios do rock, que são poucos, gravou tanta coisa ruim como Paul MacCartney. Ele grava desde 1963, são 55 anos. Imagino que ele deva ter uns 55 discos. Talvez 35 pós Beatles. Desses todos, ele tem 4 ou 5 bons. E mais de 20 muito, muito ruins. E quando Paul é ruim, ele é o mestre da ruindade. Red Rose Speedway e Wild Life são tão ruins que parece até proposital. Tudo soa tão meloso, tão inocente e piegas, tão feitos em capricho, que a gente fica pensando que Paul gravava sem escutar a si mesmo. Os refrões são chatos, as melodias comuns e ele canta com sono. London Town tem o single London Town, que é lindo, uma canção de 1978 com a mágica harmonia que só Paul sabe criar. Um gosto de melancolia e de leveza, de London Town. Adoro muito! Mas o resto do LP, do London Town é constrangedor. Mas...
Ouço MacCartney, lp de 1970, o primeiro. E pesquiso sobre ele na internet. Leio esta opinião em geral: Um disco massacrado em 1970. Na época dos solos perfeitos, das letras com "conteúdo", o disco foi considerado pobre, mal tocado, esquálido e indulgente. Mas, agora, desde 2000 em diante, o LP é tido como "O PRIMEIRO DISCO INDIE DA HISTÓRIA". Juro que leio isso. E ele é!!!
Gravado em casa, com um gravador de 4 canais, Paul canta e toca todos os instrumentos. E fala coisas simples: rotina, amor, memória, filhos, solidão. Deus Meu! Que disco bonito!!!! Delicado. Valentine Day, Every Night, Junk, Glasses...são todas tão bonitas, tão atemporais, tão "indie". É a sonoridade que 90% das bandas inglesas tentam ter. Ouça. É como chá ao gramado. Violão, um piano, uma bateriazinha...
Em 1974 Yoko largou John e ele passou o ano inteiro bebendo. Em 75 ela voltou e ele se trancou no apto. O resto voce sabe.
Ele bebia com seus amigos: Elton John, Keith Moon e Harry Nilsson. Todos grandes bebedores. Na época eu era criança e ganhei o disco que Moon, John e Nilsson gravaram em 1974: Pussy Cats. O disco tem a capa mais feia da história. Mas é fascinante! Não o ouvia desde mais ou menos 1978. Compro o cd. Meu lp sumiu a muito. Um amigo o roubou.
Nilsson era uma estrela na época. Fazia até filmes. Ficou famoso em 1969 com Everybodys Talkin, a linda canção de Perdidos Na Noite, o filme com Voigt e Dustin Hoffman. Without You que Nilsson lançou em 1972 é uma das canções que mais vendeu na década. Mas Pussy Cats vende quase nada...Que posso dizer? O disco é amargo como tudo que Nilsson fez. E ao mesmo tempo é histérico. São dez canções que variam do sublime ao desleixo. Nada nele é banal. Posto Dont Forget Me. Se não te pegar...esquece.
Bob Seger começou antes de Bruce, em 1970, cantando um tipo de rock de garagem. A partir de 1976 se tornou estrela nos EUA. O som que ele fazia então tinha tudo a ver com Bruce e ao mesmo tempo nada a ver. Seger é mais intimista, não faz hinos. E, apesar de entregar tudo no palco, ele é um pouco mais contido, quase nada, mas é sim. O som de Seger tem uma elegância pop que Bruce raramente tem. Bruce é mais visceral. Bob é mais simples. As canções de Seger vão diretas no coração. São sofridas. São belas. Quando o vinil duplo termina dá vontade de ouvir mais. Eis um cara pra eu ir atrás.
Ninguém, dentre os gênios do rock, que são poucos, gravou tanta coisa ruim como Paul MacCartney. Ele grava desde 1963, são 55 anos. Imagino que ele deva ter uns 55 discos. Talvez 35 pós Beatles. Desses todos, ele tem 4 ou 5 bons. E mais de 20 muito, muito ruins. E quando Paul é ruim, ele é o mestre da ruindade. Red Rose Speedway e Wild Life são tão ruins que parece até proposital. Tudo soa tão meloso, tão inocente e piegas, tão feitos em capricho, que a gente fica pensando que Paul gravava sem escutar a si mesmo. Os refrões são chatos, as melodias comuns e ele canta com sono. London Town tem o single London Town, que é lindo, uma canção de 1978 com a mágica harmonia que só Paul sabe criar. Um gosto de melancolia e de leveza, de London Town. Adoro muito! Mas o resto do LP, do London Town é constrangedor. Mas...
Ouço MacCartney, lp de 1970, o primeiro. E pesquiso sobre ele na internet. Leio esta opinião em geral: Um disco massacrado em 1970. Na época dos solos perfeitos, das letras com "conteúdo", o disco foi considerado pobre, mal tocado, esquálido e indulgente. Mas, agora, desde 2000 em diante, o LP é tido como "O PRIMEIRO DISCO INDIE DA HISTÓRIA". Juro que leio isso. E ele é!!!
Gravado em casa, com um gravador de 4 canais, Paul canta e toca todos os instrumentos. E fala coisas simples: rotina, amor, memória, filhos, solidão. Deus Meu! Que disco bonito!!!! Delicado. Valentine Day, Every Night, Junk, Glasses...são todas tão bonitas, tão atemporais, tão "indie". É a sonoridade que 90% das bandas inglesas tentam ter. Ouça. É como chá ao gramado. Violão, um piano, uma bateriazinha...
Em 1974 Yoko largou John e ele passou o ano inteiro bebendo. Em 75 ela voltou e ele se trancou no apto. O resto voce sabe.
Ele bebia com seus amigos: Elton John, Keith Moon e Harry Nilsson. Todos grandes bebedores. Na época eu era criança e ganhei o disco que Moon, John e Nilsson gravaram em 1974: Pussy Cats. O disco tem a capa mais feia da história. Mas é fascinante! Não o ouvia desde mais ou menos 1978. Compro o cd. Meu lp sumiu a muito. Um amigo o roubou.
Nilsson era uma estrela na época. Fazia até filmes. Ficou famoso em 1969 com Everybodys Talkin, a linda canção de Perdidos Na Noite, o filme com Voigt e Dustin Hoffman. Without You que Nilsson lançou em 1972 é uma das canções que mais vendeu na década. Mas Pussy Cats vende quase nada...Que posso dizer? O disco é amargo como tudo que Nilsson fez. E ao mesmo tempo é histérico. São dez canções que variam do sublime ao desleixo. Nada nele é banal. Posto Dont Forget Me. Se não te pegar...esquece.
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