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ACDC, AUSTRÁLIA, NICK CAVE, INXS

Começo aqui a escrever alguns textos sobre gente do rock que acho que não teria a chance de escrever ainda. Tenho escutado muita coisa. Ontem por exemplo eu ouvi Billy Paul, Herbie Hancock, Ted Nugent, Kings of Leon, Queens of stone age e Michael Jackson. Não dá pra falar sobre tanta coisa, então vou seguir a ordem alfabética e falar do que me dê vontade de falar. --------------- Não existe coisa mais rock que o ACDC. Se voce não gosta de rock, fuja. E se voce acha que gosta, mas na verdade nunca sentiu a emoção rocknroll, fuja também. Isso porque mais que os Ramones, o ACDC é básico. Eles expõe o DNA da coisa. Fosse 30 anos mais jovem, Chuck Berry teria feito o que eles fizeram, e se fosse 10 anos mais novo, Keith Richards soaria assim. Ou não, porque o ACDC é tão australiano que chega a ser folclórico. Somente naquele país eles seriam possíveis. Isso porque eles são áridos como o deserto, puros como uma ilha e duros como gente criada no pub. O fato deles terem vendido 40 milhõe de discos é um dos maiores milagres do rock. São feios. São toscos. São repetitivos. E por isso são comoventes. ------------- A Australia é pura. Nick Cave é um pastor que só lá poderia existir. Nick é um pregador perdido numa vila poeirenta. O INXS eram garotos ingênuos conduzidos por Chris Thomas. O país é um pub. É uma estação de bus. É uma onda. E é inclemente. ------------- Ninguém faz boogie como fez Angus Young. Uma usina de riffs, ele joga fogo em qualquer acorde. Jamais ouça o ACDC como se eles fossem autores de LPs. Eles fazem riffs. E refrões. Por isso são irresistíveis em singles. A banda nunca produziu um disco perfeito, mas sim rocks perfeitos. No palco sua união cúmplice com seu público é tão forte como aquela produzida pelo The Who. O povo sabe o que vai rolar. Já viu aquilo antes. E mesmo assim tudo se repete mais uma vez. -------------- Em 1985, impregnado de Bowie e Roxy Music, eu vi o Rock in Rio na TV. Catequizado pela crítica esnobe, assisti o ACDC pronto para os odiar. Mas não deu. Eu pirei com aquilo. Era tanta energia, tanto pique, era uma coisa tão básica-real-viva que eu comecei a pular na sala feito um saci australiano. Irresistível. O vocal já era do Brian Johnson, e eu sei que Bon Scott era melhor. Mas caramba! Apesar de ser o vocal mais sem sex appeal da história, o cara era simpático demais! Riffs meu querido, a raiz mágica do rock. ---------------- O mais estranho é que apesar de tão simples não há como imitar o ACDC. Quando a banda acabar acabou o estilo. -------------- Em 1980 houve um documentário sobre a banda que passou nos cinemas daqui. Fui com meu irmão. 50% do tempo se mostrava Bon Scott bebendo. Ele literalmente se afogou em alcool. Sua voz é a definição de safadeza. A banda era como um grupo de teens num bordel vagabundo. Eles pareciam feder. Eram a coisa mais anti Roxy e Bowie que havia. Roupas ruins. Sotaque ruim. Eram 100% rocknroll. Não consigo lembrar banda alguma mais honesta. E por isso poucas ou talvez nenhuma foi mais amada que eles. O som faísca. ---------------- Posto um trecho de um show. É o de sempre. E é absolutamente glorioso. Angus, o cara que conseguiu jamais parecer uma estrela, brilha. O povo....eles celebram. É impressionante. Veja.

PELOS CAMINHOS DO INFERNO. AUSTRÁLIA.

Leio nos extras que este é o filme favorito de Nick Cave. Diz ele que não existe filme que mostre melhor o que é a Australia. Assisto-o então. Veio num box com mais dois filmes do movimento de renovação do cinema do país, ocorrido na década de 70. Estranho observar que na época essa onda passou despercebida aqui no Brasil. Nos anos 70 se falava em nossos jornais do novo cinema alemão, do australiano, nada. O cinema do país só entrou em nosso mapa nos anos 80 com Weir, Miller, Armstrong, Franklin. ------------------------------------ PELOS CAMINHOS DO INFERNO é de 1970. Ted Kotcheff, seu diretor, era canadense. Fez este filme na Australia com toda produção do país. Passou em Cannes, e desde então se tornou cult. Claro que Scorsese o conhece e chama-o de filme forte. Eu o achei estranho, esquisito, assustador...exatamente como a Australia é. -------------------------------------- Nick Cave adora o filme porque ele é uma aventura mas é também aula de sociologia. A história é simples: numa cidade minúscula, no meio do deserto, um professor sai de férias. Pensa em ir para Sidney. No caminho para em outra cidade, se envolve com jogo e bebida e entra num pesadelo sem fim. O filme é bonito porém terrível, interessante e desagradável, original e pop. Australiano até o osso. Em todas as cenas a gente acha que vai ver os caras do ACDC em algum canto. ( Em tempo: ele não é rocknroll....ele é gótico ). --------------------------------- Quando aconteceu a Olimpíada em Sidney, vários jornalistas ficaram encantados com a filosofia australiana de "mate". Mate é a palavra para amigo, colega, gente boa, parça. Diziam eles que qualquer desconhecido te chama de Mate, te chama para uma cerveja, te recebe e te ajuda. O filme é sobre isso. Mas essa coisa, o tal MATE, é visto aqui de dentro. E o que surge é a maldição de viver num lugar onde voce é obrigado a ser "um mate", um colega. Em cada buraco que o professor entra ele topa com um mate. Então, para seguir o costume, ele tem de se abrir, beber junto, jogar junto, caçar junto, e no processo ele se perde. Quando tenta recusar um novo mate vem a bronca. "Voce não vai beber da minha cerveja?"...e então ele cede. ---------------------------------- Tenho um amigo que mora lá desde 1999. Ele ama o país. Mas veja o que ele virou: bigode imenso, cabeça raspada, vive o tempo todo percorrendo o deserto em ralis de moto. ------------------------ Bebem demais no filme. Apenas cerveja. Mas litros e litros o tempo todo. Os lugares têm pó, moscas, são muito, muito quentes, e 99.9999% são homens. Eles jogam, apostam, bronqueiam, riem, mas não brigam. E bebem. Bebem. Bebem. E prezam acima de tudo a amizade masculina. Por que esse país é assim? -------------------------------------- A Australia joga por terra a tese, ridicula, de que o Brasil não deu certo por ser terra de degradados. De que para cá só vinha a escória de Portugal. Pois na Australia não ia apenas a escória, iam aqueles que escolhiam a imigração em lugar da forca. E creia, muitos preferiam a forca. ----------------------------------------- A Australia, em 1800, 1850, era o inferno. Quente, cheia de bichos esquisitos, as piores cobras e aranhas, selvagens ferozes, doenças, e era longe, além do fim do mundo. Tinha lepra, tinha febre, tinha o mal. Chegando lá, esses seres, assassinos, estupradores, loucos, maníacos, tinham de se unir para tentar sobreviver. Nascia o coneceito de mate. Eu posso não ir com sua cara, posso até mesmo te odiar, mas estamos juntos neste inferno, nesta sela, nesta prisão. Voce é meu mate. Meu camarada. Parceiro de solidão. -------------------------- Observe as diferenças: nos desertos dos USA seus moradores são desconfiados, unidos apenas na família, resistentes aos forasteiros. A raiz deles é a do pioneiro. Do cara qe foi pro Arizona porque quis. Tomou posse. Se fez. Esta terra é minha. Na Australia não. Esta terra não é minha e nem mesmo de Deus. Esta terra é dos outros. De todo esquisito que aqui vier. Esta terra nos vence. É livre e indomável. ------------------------------- Falar da diferença da Australia e do Brasil é simples. Os primeiros moradores de lá estavam condenados a morrer lá. Ou se uniam ou afundavam. Aqui todo colono estava de passagem. Ele poderia vir a morrer aqui, mas seu objetivo era retornar. Chegar aqui, pegar o que puder e partir. ------------------------- A atitude do australiano era a de esquecer logo a Inglaterra. Ela jamais seria vista outra vez. A do colono brasileiro era oposta: ignorar o Brasil e ter sempre em mente Portugal. Esperar pelo retorno. --------------------------- Em 2021 não à toa temos a Australia como o país do mundo que menos envia imigrantes para fora. Nem os USA têm tão pouca gente que sai do país para viver fora. Já no Brasil, nossa população não imigra apenas por não ter como partir. Se nosso povo tivesse dinheiro para isso, 40% iria embora. Aqui é posto transitório. ----------------------------- O filme é bom? O que voce acha?