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A NATUREZA
Durante milhares de milhares de anos o homem olhou para a natureza sem a enxergar. Percebemos isso lendo qualquer texto mais antigo. Não se descreve a paisagem natural, o bosque ou a floresta, quando citados, são vistos como coisa humana. Cada árvore e cada rocha, rios e montanhas são deuses, portanto, humanos. Toda mata é apenas parte da sociedade humana, tem rosto, tem alma, tem caráter. O mesmo com estrelas, a lua e até mesmo a chuva. Tudo é gente, tudo é como nós mesmos somos. Isso começa a mudar lentamente na renascença e só toma forma que conhecemos no fim do século XVIII com os românticos. Apesar de ainda acharem que uma árvore é triste ou que a chuva chora, ou seja, ainda vêm na naturez um espelho do que sentem, já existe um olhar para fora. Pela primeira vez se tenta observar a floresta ou o mar com isenção, não vendo neles nada mais que aquilo que eles são: o exterior de nossa mente. Romances começam a descrever paisagens, páginas são gastas no simples prazer de se descrever uma chuva. Não subestime esse momento! Hoje esse movimento para fora continua a ocorrer e se antes víamos o homem em tudo que nos cerca, hoje não vemos o homem nem mesmo dentro do próprio homem. ------------- Wordsworth, que reeleio mais uma vez, é o poeta central desse momento. Explícitamente, sem simbolismo ou meio tom, ele afirma que a natureza deve ser olhada como ela é, sem os olhos dos livros e nem com o olhar da ciência. Deve-se largar livros e teorias e simplesmente ver. Isso em 1805, décadas antes de Thoreau ou Whitman. Estamos no tempo de Goethe e Beethoven, mundo em que ainda se via a natureza como algo do Demo ou Divino. --------------- Wordsworth usa a linguagem do camponês, pois diz ele que só quem é simples, de pouca cultura, consegue ainda usar a língua sem enfeites e símbolos inuteis. Ele valoriza também o sentimento da criança, é o primeiro poeta a fazer isso, antes dele ser poeta era ser hiper adulto, hiper civilizado, hiper culto. Para Wordsworth, tem a criança ainda a memória do outro mundo, do mundo melhor, e a aquisição de cultura faz com que ela esqueça tudo o que sabia. Wordsworth fala várias vezes da maravilha que era ver o mundo com o sentimento infantil, a vida que cores e sons tinham então. ( Hoje se sabe que a repetição nos embota, e é por isso que o azul ou o sol deixam de parecer tão mágicos, mas é uma bela teoria ). Muito antes que qualquer outro, Wordsworth associa a poesia com o manter a infância viva dentro de si. Fazer sobreviver o olhar virginal. -------------------- Não vou pedir para voce ler Wordsworth. Ninguém mais o lê. Poetas que pareciam populares a 30 anos, Pessoa, Vinicius, Baudelaire, Ginsberg, Whitman, hoje mal são citados nas escolas de letras. Se nem eles são lidos o que dizer de Wordsworth?
Uma pena, pois o exercício da leitura de poesia desenvolve nossa percepção e melhora nosso modo de pensar. Nos tornamos menos ansiosos e mais despertos, o que parece contraditório, mas é uma verdade. Bem....é isso aí.
O ADOLESCENTE BIRRENTO
Ele distribui folhetos onde prega a necessidade de ser ateu. Vegetariano, esbraveja pelo pacifismo. Ostenta orgulhoso a expulsão de sua escola de elite. É feminista. Mas abandonou uma namorada grávida e foi tão infiel que levou outra ao suicídio. Adolescente mimado e moderninho? Esta é a bio de Percy Bysshe Shelley. Se Byron foi o molde do adolescente satânico, Shelley é o molde do presidente de centro acadêmico. Mas os dois são diferentes.
Shelley não foi famoso em vida. Seus livros venderam mal. E enquanto Byron morreu em luta, Shelley se afogou no naufrágio de seu iate na Itália. Aos 30 anos. Sua influência comportamental começa apenas no inicio do século XX, com uma série de biografias romanceadas a alimentarem sua idolatria. Shelley passa a ser o corajoso adolescente rebelde, ateu e preocupado com os pobres. Inocente e sexy.
E sua poesia nisso? Eliot o demoliu nos anos 30. Demonstrou que tudo que ele escreveu teve a marca da infantilidade. Shelley escrevia bem, mas possuía mente de criança. Via o mundo como brinquedo onde ele era o herói que tudo podia. Nos seus poemas de amor fica fácil perceber que Shelley ama por ver na amada a si mesmo. Ele só ama quem é igual a ele. Daí a recorrência da imagem das almas gêmeas.
Mas algo há de genial. Ozymandias é sublime. Pouca coisa há que transmita melhor a tragédia do tempo que passa e destrói tudo. Quando esquecia de si mesmo, Shelley crescia.
Byron e Shelley são e foram os dois poetas mais famosos da Inglaterra. E não é snobismo dizer que dos grandes são os menos bons. Muitas vezes são ruins. John Keats é sempre excelente. Wordsworth é quase sempre maravilhoso. E mesmo Coleridge atinge alturas que Byron e Shelley jamais atingiram. Keats foi apenas um estudante de medicina que morreu aos vinte a poucos anos de tuberculose. E Wordsworth tem uma bio aborrecida e sem tragédias. Byron e Shelley tiveram vidas interessantes, e tornadas ainda mais complexas por biógrafos empolgados, viraram mitos. Os grandes poetas de quem não lê poesia. Quando a partir da década de 1930, estudar literatura passou a ser ler o texto e esquecer quem o escreveu, os dois românticos foram desvalorizados. Keats e Wordsworth finalmente elevados a seu devido lugar.
Porque na página diante de seus olhos, que é o que importa, eles são gigantes.
Byron e Shelley voce lê pensando em quem eles foram.
Shelley não foi famoso em vida. Seus livros venderam mal. E enquanto Byron morreu em luta, Shelley se afogou no naufrágio de seu iate na Itália. Aos 30 anos. Sua influência comportamental começa apenas no inicio do século XX, com uma série de biografias romanceadas a alimentarem sua idolatria. Shelley passa a ser o corajoso adolescente rebelde, ateu e preocupado com os pobres. Inocente e sexy.
E sua poesia nisso? Eliot o demoliu nos anos 30. Demonstrou que tudo que ele escreveu teve a marca da infantilidade. Shelley escrevia bem, mas possuía mente de criança. Via o mundo como brinquedo onde ele era o herói que tudo podia. Nos seus poemas de amor fica fácil perceber que Shelley ama por ver na amada a si mesmo. Ele só ama quem é igual a ele. Daí a recorrência da imagem das almas gêmeas.
Mas algo há de genial. Ozymandias é sublime. Pouca coisa há que transmita melhor a tragédia do tempo que passa e destrói tudo. Quando esquecia de si mesmo, Shelley crescia.
Byron e Shelley são e foram os dois poetas mais famosos da Inglaterra. E não é snobismo dizer que dos grandes são os menos bons. Muitas vezes são ruins. John Keats é sempre excelente. Wordsworth é quase sempre maravilhoso. E mesmo Coleridge atinge alturas que Byron e Shelley jamais atingiram. Keats foi apenas um estudante de medicina que morreu aos vinte a poucos anos de tuberculose. E Wordsworth tem uma bio aborrecida e sem tragédias. Byron e Shelley tiveram vidas interessantes, e tornadas ainda mais complexas por biógrafos empolgados, viraram mitos. Os grandes poetas de quem não lê poesia. Quando a partir da década de 1930, estudar literatura passou a ser ler o texto e esquecer quem o escreveu, os dois românticos foram desvalorizados. Keats e Wordsworth finalmente elevados a seu devido lugar.
Porque na página diante de seus olhos, que é o que importa, eles são gigantes.
Byron e Shelley voce lê pensando em quem eles foram.
INFÂNCIA E WORDSWORTH
Wordsworth teve uma longa vida. 1770 até 1850. Oitenta anos que no século XIX equivaleriam a viver uns 100 hoje. Sua melhor poesia foi feita entre 1790-1820, ou seja, enquanto sua memória ainda estava fresca. Wordsworth não escreve nada sobre sua infância como biografia, mas ele só é poeta quando revive o sentimento de ser uma criança. Mas não pense que ele compactua da moda de então, aquela de que toda criança é inocente. Não. O que o poeta inglês tenta preservar é a sensação de estar vivo DENTRO da vida e não FORA do elan vital. Para Wordsworth a vida só é plena enquanto somos crianças. O hábito mata esse dom. O tempo nos obriga a viver numa eterna repetição, e essas repetições destroem a memória. Nascemos vindos da divindade. Quanto mais jovens mais podemos sentir essa nossa origem.
Fazer poesia, para ele, é rememorar. A emoção e o casamento entre criança e natureza, na idade adulta, estão perdidos. Mas calmamente voce pode relembrar e assim reviver, mesmo que a distância e de um modo frio, o que foi aquele encanto natural.
Wordsworth faz assim dois movimentos na época revolucionários. Primeiro tira o poeta do pedestal do classicismo. Todo ser humano pode ter essa experiência. Pois toda infância vive dentro desse encanto. Segundo fato: Fazer poesia é memória e não arte de pura técnica. Essa é outra pedrada nos clássicos.
É aceito hoje que todo artista verdadeiro tem acesso à um tipo de espírito da infância. O homem tende a perder esse espírito com a idade. Segundo Wordsworth o que o degrada é a pura e simples repetição. Somos presos numa rotina diária que embota nossa emoção. Horários, estudo, ruídos da cidade, distrações, tudo nos faz ESQUECER. Para ele, a infância é sagrada simplesmente por estar próxima ao outro mundo, o universo de onde viemos. Esse porque é para mim o único ponto discutível do que Wordsworth diz. Para mim o simples fato de sermos jovens cria o encanto. Vemos tudo pela primeira vez, sentimos pela primeira vez. Para esse encanto não é necessária nenhuma memória de outro mundo. Mas, de todo modo, Wordsworth cria uma bela imagem poética. E quem poderá negar essa verdade?
Desse modo, em nossa vida de adulto, e agora quem fala sou eu e não o poeta inglês, só tem valor poético TUDO AQUILO QUE É ALGUMA RECORDAÇÃO DA INFÂNCIA. Não posso cometer o erro de dizer que minha experiência é a experiência de todos. Mas só consigo habitar o meu mundo de contentamento, paz e sensação de absoluto, quando mergulhado em algum tipo de rememoramento da infância. Ás vezes provo a felicidade total simplesmente por sentir em minha carne uma espécie de calor ou sono COMO DO DA MINHA MAIS REMOTA INFÂNCIA. É como se minha pele ou minha barriga voltasse a sentir o calor de uma tarde de 1970 ou o cheiro de uma fruta sentida em 1968. A sensação é de uma porta que se abre dentro de mim, e então olho dentro daquele mundo outra vez. O que vejo lá dentro não é alegria ou dor, felicidade ou melancolia, é A SIMPLICIDADE ABSOLUTA DE SE ESTAR VIVO. Eu não penso em nada de especial. Nenhum fato dramático é lembrado. O que sucede é somente uma sensação sem história. Um estar aqui. Viver.
A frase mais famosa de Wordsworth é a que diz O MENINO É PAI DO HOMEM. Isso porque todos nós tivemos um menino antes de ter um homem. Nascemos de um menino, fomos esse menino, ele veio antes e nos abriu as portas. Para não perder todo o encanto da vida, é necessário que esse menino-pai permaneça a nosso lado, mão com mão, sempre.
Isso me recorda muito as sessões de terapia que tive durante 1986-1989. Quem já fez sabe que 80% das sessões não são proveitosas. Mal nos lembramos delas. Mas que existem tardes em que uma porta se abre. Li mais de uma vez que a linguagem de nosso inconsciente é sempre poética. Nossa mente mais profunda fala e enxerga por poesia. Pois eu diria que ao tocar nosso inconsciente nos tornamos uma criança novamente. Nos tornamos básicos. Puro sentimento. Pura sensação. É aí que mora o pior medo. E a mais bela recordação.
Wordsworth intuiu isso. Ler esse poeta é sempre uma terapia.
Fazer poesia, para ele, é rememorar. A emoção e o casamento entre criança e natureza, na idade adulta, estão perdidos. Mas calmamente voce pode relembrar e assim reviver, mesmo que a distância e de um modo frio, o que foi aquele encanto natural.
Wordsworth faz assim dois movimentos na época revolucionários. Primeiro tira o poeta do pedestal do classicismo. Todo ser humano pode ter essa experiência. Pois toda infância vive dentro desse encanto. Segundo fato: Fazer poesia é memória e não arte de pura técnica. Essa é outra pedrada nos clássicos.
É aceito hoje que todo artista verdadeiro tem acesso à um tipo de espírito da infância. O homem tende a perder esse espírito com a idade. Segundo Wordsworth o que o degrada é a pura e simples repetição. Somos presos numa rotina diária que embota nossa emoção. Horários, estudo, ruídos da cidade, distrações, tudo nos faz ESQUECER. Para ele, a infância é sagrada simplesmente por estar próxima ao outro mundo, o universo de onde viemos. Esse porque é para mim o único ponto discutível do que Wordsworth diz. Para mim o simples fato de sermos jovens cria o encanto. Vemos tudo pela primeira vez, sentimos pela primeira vez. Para esse encanto não é necessária nenhuma memória de outro mundo. Mas, de todo modo, Wordsworth cria uma bela imagem poética. E quem poderá negar essa verdade?
Desse modo, em nossa vida de adulto, e agora quem fala sou eu e não o poeta inglês, só tem valor poético TUDO AQUILO QUE É ALGUMA RECORDAÇÃO DA INFÂNCIA. Não posso cometer o erro de dizer que minha experiência é a experiência de todos. Mas só consigo habitar o meu mundo de contentamento, paz e sensação de absoluto, quando mergulhado em algum tipo de rememoramento da infância. Ás vezes provo a felicidade total simplesmente por sentir em minha carne uma espécie de calor ou sono COMO DO DA MINHA MAIS REMOTA INFÂNCIA. É como se minha pele ou minha barriga voltasse a sentir o calor de uma tarde de 1970 ou o cheiro de uma fruta sentida em 1968. A sensação é de uma porta que se abre dentro de mim, e então olho dentro daquele mundo outra vez. O que vejo lá dentro não é alegria ou dor, felicidade ou melancolia, é A SIMPLICIDADE ABSOLUTA DE SE ESTAR VIVO. Eu não penso em nada de especial. Nenhum fato dramático é lembrado. O que sucede é somente uma sensação sem história. Um estar aqui. Viver.
A frase mais famosa de Wordsworth é a que diz O MENINO É PAI DO HOMEM. Isso porque todos nós tivemos um menino antes de ter um homem. Nascemos de um menino, fomos esse menino, ele veio antes e nos abriu as portas. Para não perder todo o encanto da vida, é necessário que esse menino-pai permaneça a nosso lado, mão com mão, sempre.
Isso me recorda muito as sessões de terapia que tive durante 1986-1989. Quem já fez sabe que 80% das sessões não são proveitosas. Mal nos lembramos delas. Mas que existem tardes em que uma porta se abre. Li mais de uma vez que a linguagem de nosso inconsciente é sempre poética. Nossa mente mais profunda fala e enxerga por poesia. Pois eu diria que ao tocar nosso inconsciente nos tornamos uma criança novamente. Nos tornamos básicos. Puro sentimento. Pura sensação. É aí que mora o pior medo. E a mais bela recordação.
Wordsworth intuiu isso. Ler esse poeta é sempre uma terapia.
O USO DA POESIA E O USO DA CRÍTICA - T.S. ELIOT
Este livro nos apresenta um série de palestras feitas por Eliot em Harvard, entre 1932-1933. Dryden é o primeiro poeta-crítico de quem ele fala. O que Eliot procura é investigar as definições e as utilidades antes dadas ao que seja poesia. No fim, a conclusão é de que não pode haver homogeneidade no que seja escrever ou ler poesia, mas se pode retirar alguns mitos, e é aí que mora o melhor do texto.
O poeta é influenciado pelo meio e pela memória, e talvez toda criação nasça da lembrança, da reelaboração de memórias soltas. Mas, para lermos e para entender poesia é preciso NÃO procurar encontrar o sentido o que se lê e não ler com o mapa da vida do poeta em mãos. Ler poesia é se jogar para dentro do texto e só levar em conta aquilo que está escrito, nada mais.
Uma das mais brilhantes teses é a que diz que POESIA NADA TEM A VER COM MISTICISMO OU RELIGIÃO. Claro, há poesia mística, mas a poesia não é uma substituta da experiência religiosa. Eliot diz que com a morte da igreja, sua crise, as pessoas tentam ter vivências religiosas FORA da religião.
Racine escrevia, como Shakespeare, para a diversão de boas e decentes pessoas. Hoje isso seria considerado banal. O poeta é visto como um tipo de guru ou de xamã, o que é um absurdo. Poetas, a maioria, escreve poesia conscientemente, como trabalho lento, e não como êxtases divinos.
Interessante observar que em 2016 cobramos experiências religiosas, sem religião, de shows de rock, psicólogos formais, filmes simbolistas, e até de encontros esportivos.
O poeta é influenciado pelo meio e pela memória, e talvez toda criação nasça da lembrança, da reelaboração de memórias soltas. Mas, para lermos e para entender poesia é preciso NÃO procurar encontrar o sentido o que se lê e não ler com o mapa da vida do poeta em mãos. Ler poesia é se jogar para dentro do texto e só levar em conta aquilo que está escrito, nada mais.
Uma das mais brilhantes teses é a que diz que POESIA NADA TEM A VER COM MISTICISMO OU RELIGIÃO. Claro, há poesia mística, mas a poesia não é uma substituta da experiência religiosa. Eliot diz que com a morte da igreja, sua crise, as pessoas tentam ter vivências religiosas FORA da religião.
Racine escrevia, como Shakespeare, para a diversão de boas e decentes pessoas. Hoje isso seria considerado banal. O poeta é visto como um tipo de guru ou de xamã, o que é um absurdo. Poetas, a maioria, escreve poesia conscientemente, como trabalho lento, e não como êxtases divinos.
Interessante observar que em 2016 cobramos experiências religiosas, sem religião, de shows de rock, psicólogos formais, filmes simbolistas, e até de encontros esportivos.
O PRELÚDIO- WILLIAM WORDSWORTH. VIAGEM, CRESCIMENTO E REVOLUÇÃO.
Se Yeats é o poeta que melhor expressa meu intelecto, então Wordsworth é aquele que fala dos meus olhos. Este poeta, símbolo maior do romantismo, escreveu na virada do século XVIII para o XIX aquilo que meus olhos percebem hoje. Ele olhava. Toda sua poesia é uma grande observação sobre as coisas. E a maneira como ele enxerga é "grande".
Wordsworth nasceu na região dos lagos, o norte da Inglaterra. Fascinado por tudo o que viu desde cedo, ele passou sua longa vida recordando cenas, descrevendo paisagens, desnudando observações. Das várias ideias sublimes que o poeta teve, talvez a maior seja a de que a inspiração vem da memória e que a impotência criativa pode ser curada ao se relembrar um momento de epifania. Wordsworth nunca chega a ser místico, mas a alma das coisas está sempre presente.
Nesta obra, longa e colorida, ele, como é seu hábito, caminha. Percorre o norte, mas também anda pelos Alpes, pela França, Londres e Paris. Devemos lembrar que é exatamente nessa época que é instituído o turismo. Wordsworth foi dos primeiros, senão o primeiro, a escrever sobre os Alpes como lugar de lazer, de prazer, de fruição. Depois ele anda pela França e descreve Paris, a cidade em tempos de revolução. O poeta fala do novo tempo, da liberdade, das ruas e das pessoas simples. Uma de suas várias fés e a de que o povo simples está muito mais perto da verdade que os letrados catedráticos. Nisso Wordsworth é profundamente democrático, e assim podemos entender porque Whitman é seu discípulo. Como o inglês mais velho, o americano caminha, ama a estrada e o povo, a liberdade. As diferenças são aquelas de país e de geração: Whitman ama a ideia de democracia, Wordsworth ama a democracia como modo de vida; Whitman viaja para ver gente, Wordsworth viaja para encontrar a verdade; o americano se entrega às pessoas, Wordsworth se dá a paisagem. São irmãos. O americano na versão protestante, da exaltação ao modo do púlpito e o inglês ao modo discreto, a reserva do homem do senso-comum.
O poema caminha também como uma quase auto-biografia. Ele fala da escola, da vida livre nos campos, das viagens e da maturidade. Reporta a revolução francesa, e também a industrialização de Londres. Se perde na metrópole, vê os tipos, os personagens, volta a sua vida interior, perde a inspiração, a recupera.
Diário íntimo, relato de excursão a pé, documento histórico. Esta obra, longa e clara, é um dos tesouros do mundo. Ler é um prazer.
Wordsworth nasceu na região dos lagos, o norte da Inglaterra. Fascinado por tudo o que viu desde cedo, ele passou sua longa vida recordando cenas, descrevendo paisagens, desnudando observações. Das várias ideias sublimes que o poeta teve, talvez a maior seja a de que a inspiração vem da memória e que a impotência criativa pode ser curada ao se relembrar um momento de epifania. Wordsworth nunca chega a ser místico, mas a alma das coisas está sempre presente.
Nesta obra, longa e colorida, ele, como é seu hábito, caminha. Percorre o norte, mas também anda pelos Alpes, pela França, Londres e Paris. Devemos lembrar que é exatamente nessa época que é instituído o turismo. Wordsworth foi dos primeiros, senão o primeiro, a escrever sobre os Alpes como lugar de lazer, de prazer, de fruição. Depois ele anda pela França e descreve Paris, a cidade em tempos de revolução. O poeta fala do novo tempo, da liberdade, das ruas e das pessoas simples. Uma de suas várias fés e a de que o povo simples está muito mais perto da verdade que os letrados catedráticos. Nisso Wordsworth é profundamente democrático, e assim podemos entender porque Whitman é seu discípulo. Como o inglês mais velho, o americano caminha, ama a estrada e o povo, a liberdade. As diferenças são aquelas de país e de geração: Whitman ama a ideia de democracia, Wordsworth ama a democracia como modo de vida; Whitman viaja para ver gente, Wordsworth viaja para encontrar a verdade; o americano se entrega às pessoas, Wordsworth se dá a paisagem. São irmãos. O americano na versão protestante, da exaltação ao modo do púlpito e o inglês ao modo discreto, a reserva do homem do senso-comum.
O poema caminha também como uma quase auto-biografia. Ele fala da escola, da vida livre nos campos, das viagens e da maturidade. Reporta a revolução francesa, e também a industrialização de Londres. Se perde na metrópole, vê os tipos, os personagens, volta a sua vida interior, perde a inspiração, a recupera.
Diário íntimo, relato de excursão a pé, documento histórico. Esta obra, longa e clara, é um dos tesouros do mundo. Ler é um prazer.
O OLHO IMÓVEL PELA FORÇA DA HARMONIA- WILLIAM WORDSWORTH. O POETA DA NATUREZA.
É um grande chavão dizer que Wordsworth é o grande poeta da natureza. Mas nada pode ser mais verdadeiro que isso. O inglês funda o romantismo inglês, e se na Alemanha ser um romântico significa ser um místico e na França ser um revolucionário, nas ilhas ser romântico é amar a natureza. E nisso ninguém se compara a Wordsworth.
Romancistas, filósofos, dramaturgos, contistas, cronistas, historiadores...e poetas. São os fazedores de versos aqueles que mais amamos. Nossa relação com eles é a mais visceral. Admiramos romancistas, nos exaltamos com filósofos, mas nos apaixonamos por poetas. E são eles os símbolos das nações. Goethe, Dante, Camões, Whitman, Hugo, Pushkin, cada um é a alma de um país ( Único adendo é a Espanha que tem Cervantes como sua alma maior ). E eu sou fiel a meu amor, Yeats é meu poeta, alma da Irlanda. Mas Wordsworth é tão grande quanto o irlandês, se não for ainda maior.
Ele leva a alturas abissais a relação do homem com a natureza. Esse amor apaga a dor porque apaga o individualismo. Nega o tempo, faz do presente a eternidade. O homem só é feliz na natureza. Reação a transformação do industrialismo, a fuga dos camponeses rumo às cidades, o poeta canta e dá luz àquilo que ele intuía: o fim de um mundo. O poeta é aquele que faz a memória viver. Como ele diz: O poeta olha para trás e para a frente. ( Não olha o agora ).
Ele canta a criança também, essa invenção romântica. Criança antes era apenas um aprendiz de adulto. Aqui ela se torna um ser sábio, alguém que sabe mais que o homem. "A criança é o pai do homem". Outra missão do poeta, fazer da criança uma presença constante e central.
Wordsworth é o mestre de Whitman. Ambos cantam a estrada aberta. A diferença é que o americano vive na América, claro, e isso significa mais espaço aberto e a fé na democracia. O inglês, europeu sempre, é mais cotidiano, mais voltado ao passado, tem um traço de saudade que inexiste em Whitman. Ambos são curativos, saudáveis, otimistas, confiantes, vivos.
Wordsworth é um de meus cinco poetas favoritos. Eu amo seu modo simples de falar, as imagens que só ele vê, a ligação que ele estabelece com a água, o céu e as pessoas do campo. Ele caminha e sente e canta e vive. Se maravilha, recorda, sonha e canta mais. Percebe como uma criança, sente a novidade, continua, persiste. E assim nos reabilita.
Na bela tradução de John Milton e de Alberto Marsicano, este é um livro precioso.
Romancistas, filósofos, dramaturgos, contistas, cronistas, historiadores...e poetas. São os fazedores de versos aqueles que mais amamos. Nossa relação com eles é a mais visceral. Admiramos romancistas, nos exaltamos com filósofos, mas nos apaixonamos por poetas. E são eles os símbolos das nações. Goethe, Dante, Camões, Whitman, Hugo, Pushkin, cada um é a alma de um país ( Único adendo é a Espanha que tem Cervantes como sua alma maior ). E eu sou fiel a meu amor, Yeats é meu poeta, alma da Irlanda. Mas Wordsworth é tão grande quanto o irlandês, se não for ainda maior.
Ele leva a alturas abissais a relação do homem com a natureza. Esse amor apaga a dor porque apaga o individualismo. Nega o tempo, faz do presente a eternidade. O homem só é feliz na natureza. Reação a transformação do industrialismo, a fuga dos camponeses rumo às cidades, o poeta canta e dá luz àquilo que ele intuía: o fim de um mundo. O poeta é aquele que faz a memória viver. Como ele diz: O poeta olha para trás e para a frente. ( Não olha o agora ).
Ele canta a criança também, essa invenção romântica. Criança antes era apenas um aprendiz de adulto. Aqui ela se torna um ser sábio, alguém que sabe mais que o homem. "A criança é o pai do homem". Outra missão do poeta, fazer da criança uma presença constante e central.
Wordsworth é o mestre de Whitman. Ambos cantam a estrada aberta. A diferença é que o americano vive na América, claro, e isso significa mais espaço aberto e a fé na democracia. O inglês, europeu sempre, é mais cotidiano, mais voltado ao passado, tem um traço de saudade que inexiste em Whitman. Ambos são curativos, saudáveis, otimistas, confiantes, vivos.
Wordsworth é um de meus cinco poetas favoritos. Eu amo seu modo simples de falar, as imagens que só ele vê, a ligação que ele estabelece com a água, o céu e as pessoas do campo. Ele caminha e sente e canta e vive. Se maravilha, recorda, sonha e canta mais. Percebe como uma criança, sente a novidade, continua, persiste. E assim nos reabilita.
Na bela tradução de John Milton e de Alberto Marsicano, este é um livro precioso.
WILLIAM WORDSWORTH- O PRELÚDIO. UM DOS ARQUITETOS DO EU.
Pai de Walt Whitman. Como Whitman, que veio 40 anos mais tarde, Wordsworth namora seu ego.
Ego, essa invenção moderna que fica cada vez mais obsoleta. Primeiro Montaigne. Então Rousseau. E Wordsworth. Depois desses três egocêntricos, todo escritor passou a colocar seu imenso eu entre o livro e o leitor. Montaigne desnuda sua cabeça e seu cotidiano. Rousseau exibe seu coração. E Wordsworth ignora tudo a não ser si-mesmo. Por mais que ele fale daquilo que vê, o que importa é o que ele sente ao ver o que percebe. Jamais sai de dentro de sua alma. O mundo se torna espelho.
Whitman leu Wordsworth, mas Walt era americano. ( Assim como Pessoa, herdeiro dos dois, era Luso e Atlântico ). Sendo americano, Whitman amplifica tudo. Whitman é maior ( não melhor ). O americano canta um continente, uma democracia, uma estrada sem fim. E tudo é ele.
Wordsworth nasceu no norte da Inglaterra, quase Escócia, na região dos lagos. Como Whitman, ele canta a estrada, a mata, a liberdade de ser solitário, as pessoas simples, os bichos, o mundo sem o homem, e o homem no mundo. Ele anda, caminha, vai à vida que é um caminho sinuoso. Mas a estrada de Wordsworth é curta. Ele anda pelos lagos, pelos bosques, pela natureza, mas é um caminho que leva de volta, que anda em círculos. Um jardim. Whitman quer ver toda a América. O inglês quer rever seu bosque. Whitman fala ao futuro. Wordsworth fala ao passado. Ele adora a infância. O pequeno e o discreto. Whitman é um pavão. Wordsworth é uma perdiz.
Lançou o romantismo na Inglaterra. Por volta de 1800. Viveria oitenta anos, mas sua obra foi toda feita na juventude. ( Ao menos a que mais importa ). Quando velho ele se tornou um conservador. O que lhe valeu a raiva de Keats. Este livro, em tradução portuguesa recente, é sua última obra relevante, já escrita aos 40 anos. Ele aqui relembra sua infância, adolescência e juventude. A mata, a escola e Cambridge. A hiper-sensibilidade à natureza, aos cheiros, aos sons, às pessoas. Ele é sempre feliz, alegre, confiante. E solitário. Wordsworth namora sua alma. Ele cresce quando só, ama estar só, consegue ter amigos, mas se recolhe para ser si-mesmo. Aí sua profunda revolução. O homem fora sociedade por 5000 anos. Agora, em 1800, ele era UM. Se antes o maior dos castigos era o ostracismo, agora a solidão é um prêmio. Ser só é um privilégio.
A escrita flutua, voa, alucina. O poema é longo ( 200 páginas ), dá voltas, anda em círculos. E faz sonhar. A gente anda, passeia, caminha com ele pelo tempo e pelo lugar. É delicia inesquecível. Inefável.
Um gigante que escreve sobre o particular. Que vê o mínimo. Eterno.
Ego, essa invenção moderna que fica cada vez mais obsoleta. Primeiro Montaigne. Então Rousseau. E Wordsworth. Depois desses três egocêntricos, todo escritor passou a colocar seu imenso eu entre o livro e o leitor. Montaigne desnuda sua cabeça e seu cotidiano. Rousseau exibe seu coração. E Wordsworth ignora tudo a não ser si-mesmo. Por mais que ele fale daquilo que vê, o que importa é o que ele sente ao ver o que percebe. Jamais sai de dentro de sua alma. O mundo se torna espelho.
Whitman leu Wordsworth, mas Walt era americano. ( Assim como Pessoa, herdeiro dos dois, era Luso e Atlântico ). Sendo americano, Whitman amplifica tudo. Whitman é maior ( não melhor ). O americano canta um continente, uma democracia, uma estrada sem fim. E tudo é ele.
Wordsworth nasceu no norte da Inglaterra, quase Escócia, na região dos lagos. Como Whitman, ele canta a estrada, a mata, a liberdade de ser solitário, as pessoas simples, os bichos, o mundo sem o homem, e o homem no mundo. Ele anda, caminha, vai à vida que é um caminho sinuoso. Mas a estrada de Wordsworth é curta. Ele anda pelos lagos, pelos bosques, pela natureza, mas é um caminho que leva de volta, que anda em círculos. Um jardim. Whitman quer ver toda a América. O inglês quer rever seu bosque. Whitman fala ao futuro. Wordsworth fala ao passado. Ele adora a infância. O pequeno e o discreto. Whitman é um pavão. Wordsworth é uma perdiz.
Lançou o romantismo na Inglaterra. Por volta de 1800. Viveria oitenta anos, mas sua obra foi toda feita na juventude. ( Ao menos a que mais importa ). Quando velho ele se tornou um conservador. O que lhe valeu a raiva de Keats. Este livro, em tradução portuguesa recente, é sua última obra relevante, já escrita aos 40 anos. Ele aqui relembra sua infância, adolescência e juventude. A mata, a escola e Cambridge. A hiper-sensibilidade à natureza, aos cheiros, aos sons, às pessoas. Ele é sempre feliz, alegre, confiante. E solitário. Wordsworth namora sua alma. Ele cresce quando só, ama estar só, consegue ter amigos, mas se recolhe para ser si-mesmo. Aí sua profunda revolução. O homem fora sociedade por 5000 anos. Agora, em 1800, ele era UM. Se antes o maior dos castigos era o ostracismo, agora a solidão é um prêmio. Ser só é um privilégio.
A escrita flutua, voa, alucina. O poema é longo ( 200 páginas ), dá voltas, anda em círculos. E faz sonhar. A gente anda, passeia, caminha com ele pelo tempo e pelo lugar. É delicia inesquecível. Inefável.
Um gigante que escreve sobre o particular. Que vê o mínimo. Eterno.
O PRELÚDIO, WILLIAM WORDSWORTH....SEM PALAVRAS...
Abre os olhos e vê a luz invadir o quarto. Imediatamente o som dos pássaros toma seus ouvidos e voce pensa: - Eu não conheço esses pássaros! Sim, hoje, homem adulto, voce pensaria, se os notasse, -São Pardais, tão só vulgares Pardais! Mas então, naqueles tempos idos, voce saberia sem "o saber", que cada um dos Pardais é um Novo Pardal, completamente único e original. Daí seu interesse por todos eles. E lá fora, naquela manhã Única, voce os batiza. Confirma cada um deles como um Ele.
O café sobre a mesa é mais um café. E enquanto se é servido voce brinca com a colher. Ela agora é uma catapulta e voce lança bolas de pão, em Fogo. à muralha da Mantegueira. Exércitos de invasores fazem aquilo que sabem fazer, Saqueiam a manteiga. Quando sua mãe impede a nova Bola de Fogo de ser lançada, bem, voce e seu irmão começam a tomar café como se agora fossem Dois Piratas. Migalhas são jogadas ao chão por Barba-Negra, que se serve de imensas canecas de Rum e engole nacos de Carneiro como se fossem Bolinhos de Chuva.
Mas é lá fora que se faz a coisa.
Todas as pessoas na rua são conhecidas e possuem um nome, mesmo que João seja para voce "O Menino da Bicicleta" ou que Lucinha seja agora "A Mais Linda com as Pernas Nuas". Todas as ruas levam ao Novo, e todas as Ruas lhe são conhecidas. Porque voce conhece a eterna Transformação que é a condição da Vida Bem Vivida. E ninguém te ensinou isso, voce Sabe. ( Um dia, terrível dia, vão te dizer que a vida é uma fórmula, que a morte é um destino e que tudo é como é... ). Mas voce Sabe, naqueles Tempos, que tudo o que os Homens Grandes pensam é Confusão Pra Passar o Tempo. E gente como Voce, Pequena, Sente que a Vida é Mais.
As Nuvens Falam e a Tempestade tem um Caráter. Cada Pedra na Estrada de Terra tem uma fala em seu Teatro. Sua Mente Cria sem parar para pensar. O Medo, absoluto e imenso, toma todo o Universo quando voce olha uma ratazana morta no meio do lixo. E esse Pavor se transforma em esquecimento ao olhar uma Pipa que se solta da linha e voa a esmo por entre os Eucaliptos que não a capturam. Um bando de moleques corre pela Pipa e voce se lembra de Tom e Huck.
Voce ainda não aprendeu o Tempo e essa Manhã lhe parece pra Sempre.
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Walt Whitman pegou muito de Wordsworth. Ambos se soltam na estrada e vivem o olhar sobre as coisas. Ambos nos deixam um gosto de felicidade na alma quando descrevem as coisas. Agradecemos ao Mundo por ter dado luz aos dois Gigantes. A diferença é que o americano é voltado ao futuro, o inglês ao passado. Whitman de nada tem saudade, ele crê na vida que virá. Wordsworth lamenta o que se perdeu, ele vive feliz por poder recordar.
Os lagos, as montanhas, so bosques. Wordsworth procura a solidão para lá se enamorar das sensações que a natureza lhe dá. Ele consegue ter instantes de Sublime por poder ainda acessar sua infância. Infância que não é inocência, é criação e conhecimento. O poeta procura a Surpresa e procura mais que isso AQUILO QUE NÃO PODE SER DITO POIS ESTÁ FORA DA LINGUAGEM. Para isso ele caminha: sobe morros, rema em lagos, adormece em relvados, fala com camponeses, se perde na neve. Anda por toda a Grã-Bretanha, mas também pela França, pela Alemanha, sempre a pé. E é feliz.
Tempos finais, as fronteiras começavam a se fechar. Wordsworth se aterroriza com Londres: "Como podemos viver onde não sabemos os nomes de nossos vizinhos? Isso é impossível!!!" Bem-vindo à modernidade Wordsworth...
O poema, longo, escrito na parte final de sua vida de 80 anos, narra sua vida. Infância, Oxford, viagens a pé. É uma obra-prima e é um prazer. Poema solto, sem rima e sem metro, quase prosa. Caça ao Sublime, acerta o alvo várias vezes.
Tem de ler.
O café sobre a mesa é mais um café. E enquanto se é servido voce brinca com a colher. Ela agora é uma catapulta e voce lança bolas de pão, em Fogo. à muralha da Mantegueira. Exércitos de invasores fazem aquilo que sabem fazer, Saqueiam a manteiga. Quando sua mãe impede a nova Bola de Fogo de ser lançada, bem, voce e seu irmão começam a tomar café como se agora fossem Dois Piratas. Migalhas são jogadas ao chão por Barba-Negra, que se serve de imensas canecas de Rum e engole nacos de Carneiro como se fossem Bolinhos de Chuva.
Mas é lá fora que se faz a coisa.
Todas as pessoas na rua são conhecidas e possuem um nome, mesmo que João seja para voce "O Menino da Bicicleta" ou que Lucinha seja agora "A Mais Linda com as Pernas Nuas". Todas as ruas levam ao Novo, e todas as Ruas lhe são conhecidas. Porque voce conhece a eterna Transformação que é a condição da Vida Bem Vivida. E ninguém te ensinou isso, voce Sabe. ( Um dia, terrível dia, vão te dizer que a vida é uma fórmula, que a morte é um destino e que tudo é como é... ). Mas voce Sabe, naqueles Tempos, que tudo o que os Homens Grandes pensam é Confusão Pra Passar o Tempo. E gente como Voce, Pequena, Sente que a Vida é Mais.
As Nuvens Falam e a Tempestade tem um Caráter. Cada Pedra na Estrada de Terra tem uma fala em seu Teatro. Sua Mente Cria sem parar para pensar. O Medo, absoluto e imenso, toma todo o Universo quando voce olha uma ratazana morta no meio do lixo. E esse Pavor se transforma em esquecimento ao olhar uma Pipa que se solta da linha e voa a esmo por entre os Eucaliptos que não a capturam. Um bando de moleques corre pela Pipa e voce se lembra de Tom e Huck.
Voce ainda não aprendeu o Tempo e essa Manhã lhe parece pra Sempre.
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Walt Whitman pegou muito de Wordsworth. Ambos se soltam na estrada e vivem o olhar sobre as coisas. Ambos nos deixam um gosto de felicidade na alma quando descrevem as coisas. Agradecemos ao Mundo por ter dado luz aos dois Gigantes. A diferença é que o americano é voltado ao futuro, o inglês ao passado. Whitman de nada tem saudade, ele crê na vida que virá. Wordsworth lamenta o que se perdeu, ele vive feliz por poder recordar.
Os lagos, as montanhas, so bosques. Wordsworth procura a solidão para lá se enamorar das sensações que a natureza lhe dá. Ele consegue ter instantes de Sublime por poder ainda acessar sua infância. Infância que não é inocência, é criação e conhecimento. O poeta procura a Surpresa e procura mais que isso AQUILO QUE NÃO PODE SER DITO POIS ESTÁ FORA DA LINGUAGEM. Para isso ele caminha: sobe morros, rema em lagos, adormece em relvados, fala com camponeses, se perde na neve. Anda por toda a Grã-Bretanha, mas também pela França, pela Alemanha, sempre a pé. E é feliz.
Tempos finais, as fronteiras começavam a se fechar. Wordsworth se aterroriza com Londres: "Como podemos viver onde não sabemos os nomes de nossos vizinhos? Isso é impossível!!!" Bem-vindo à modernidade Wordsworth...
O poema, longo, escrito na parte final de sua vida de 80 anos, narra sua vida. Infância, Oxford, viagens a pé. É uma obra-prima e é um prazer. Poema solto, sem rima e sem metro, quase prosa. Caça ao Sublime, acerta o alvo várias vezes.
Tem de ler.
ADEUS ÀS AULAS TRISTES
Foram meses estranhos. Muito estranhos. Logo na primeira aula eu já avisei a professora: Falar do movimento romântico era doloroso para mim. E eu preferia não ter de revisita-lo. Mas revisitei. E doeu.
Estranha figura essa mestra. Eu a detesto. Porque ela é radicalmente contra toda forma de religião. É radicalmente de esquerda. E ultra-feminista. Mas também a admiro. Porque ela é romântica. Fala da maior revolução mental que o planeta viveu, a de 1780/ 1790, época do nascimento da coisa, pela primeira vez a razão é colocada em xeque, pela primeira vez cada homem se sente no direito de pensar por si-mesmo. Nasce o individualismo, a criatividade é colocada como dom soberano. Pela primeira vez a solidão não é vista como danação e vergonha, mas como privilégio e desejo.
Rousseau anda em seu bosque e sente o que é Bom. Wordsworth anda pelos lagos ingleses e encontra o céu. Junto aos lagos Wordsworth se livra do peso da vida e reencontra sua infância. Vê sem julgar, observa como se nunca tivesse visto. Livre.
Mas nas aulas o que temos é Alvares de Azevedo...o mito da mulher pura e inacessível, as loucuras nos cemitérios, as putas. Ah meu Deus, como dói lembrar!!!
Porque eu fui um dos idiotas! Fui o tonto da familia, que andava no sitio, aos 18 anos, sózinho, botas na lama, tentando respirar de novo o ar dos meus livres 8 anos de idade. Fui o romântico ao extremo, que ficava doente na cama, com febre, e lia Hugo e Bronte sonhando com suas meninas pálidas e doentias, chorosas alucinações. Madrugadas solitárias e insones, a luz de velas, me sentindo o único romântico sobre a Terra. Eu disse que fui esse idiota!
Conseguia esquecer o mundo e viver só para mim. Conseguia ignorar minha familia. Sonhar todo o tempo. Então eu sei o que foi esse romantismo. Conheço o prazer inenarrável do sofrimento procurado. Meu sangue sabe do sabor doce do êxtase do alivio. Nada nessas aulas são coisas novas para mim. Eu já sabia que a infância funda e cria a poesia. E que saber brincar é saber criar.
Todos esses nomes me são conhecidos! Essas sensações provocadas me são passadas. Eu sei que a arte é a grande fonte de alivio. Um alivio de sacrificio. Já fui o inimigo.
E se passaram esses quatro meses. Essas 32 aulas. Essas 96 horas.
Adeus mestra, adeus romantismo, adeus lago, adeus criação.
Ou não?
Estranha figura essa mestra. Eu a detesto. Porque ela é radicalmente contra toda forma de religião. É radicalmente de esquerda. E ultra-feminista. Mas também a admiro. Porque ela é romântica. Fala da maior revolução mental que o planeta viveu, a de 1780/ 1790, época do nascimento da coisa, pela primeira vez a razão é colocada em xeque, pela primeira vez cada homem se sente no direito de pensar por si-mesmo. Nasce o individualismo, a criatividade é colocada como dom soberano. Pela primeira vez a solidão não é vista como danação e vergonha, mas como privilégio e desejo.
Rousseau anda em seu bosque e sente o que é Bom. Wordsworth anda pelos lagos ingleses e encontra o céu. Junto aos lagos Wordsworth se livra do peso da vida e reencontra sua infância. Vê sem julgar, observa como se nunca tivesse visto. Livre.
Mas nas aulas o que temos é Alvares de Azevedo...o mito da mulher pura e inacessível, as loucuras nos cemitérios, as putas. Ah meu Deus, como dói lembrar!!!
Porque eu fui um dos idiotas! Fui o tonto da familia, que andava no sitio, aos 18 anos, sózinho, botas na lama, tentando respirar de novo o ar dos meus livres 8 anos de idade. Fui o romântico ao extremo, que ficava doente na cama, com febre, e lia Hugo e Bronte sonhando com suas meninas pálidas e doentias, chorosas alucinações. Madrugadas solitárias e insones, a luz de velas, me sentindo o único romântico sobre a Terra. Eu disse que fui esse idiota!
Conseguia esquecer o mundo e viver só para mim. Conseguia ignorar minha familia. Sonhar todo o tempo. Então eu sei o que foi esse romantismo. Conheço o prazer inenarrável do sofrimento procurado. Meu sangue sabe do sabor doce do êxtase do alivio. Nada nessas aulas são coisas novas para mim. Eu já sabia que a infância funda e cria a poesia. E que saber brincar é saber criar.
Todos esses nomes me são conhecidos! Essas sensações provocadas me são passadas. Eu sei que a arte é a grande fonte de alivio. Um alivio de sacrificio. Já fui o inimigo.
E se passaram esses quatro meses. Essas 32 aulas. Essas 96 horas.
Adeus mestra, adeus romantismo, adeus lago, adeus criação.
Ou não?
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