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DRACULA DE BRAM STOKER, O FILME DE COPPOLLA. E AINDA HENRY MILLER.

     Ando indicando filmes para uma menina de 22 anos. Ela me pediu uma lista de filmes dos anos 90, década de seu filme favorito, Pulp Fiction. Errei feio ao indicar Henry e June. Ela odiou profundamente. Eu não via o filme de Philip Kauffman a uns 15 anos e me surpreendi com sua tola pretensão. É pedante. É aquele tipo de filme que vende "os bons tempos da arte em 1936". Henry Miller morreu. Nos anos 80 todo mundo lia Miller. Fazia parte. Ler Miller, assim como Bukowski, Anais, Jack Kerouac, Ginsberg, era "de lei". Era tão óbvio entre os bacanas que virou clichê. Com muito sacrifício eu li Tropico de Câncer. Achei fake. Estou errado? Talvez. Paul Bowles é o Miller mais profundo. Lawrence Durrell também. As cenas de sexo em Henry e June são broxantes. Fred Ward não faz Henry Miller. Parece um Humphrey Bogart infantil. O filme tem Uma Thurman e Maria de Medeiros, duas Pulp Fictioners. Tarantino as escolheu aqui?
   Dracula eu vi duas vezes. Em 1994 e depois em 1998. Nunca mais. Seria outro erro? Coloco o DVD. Cores vermelhas e guerra na Romenia. O conde perde sua noive e amaldiçoa a igreja. Já no século XIX, Keanu Reeves vai vender terras na Transilvânia. Gary Oldman o espera. Hoje todos aqueles efeitos de imagem são clichê. Na época eu fiquei abobado. Trem que passa sobre a tela enquanto se escreve uma carta. Três rostos que se fundem em um. Lobos que correm como sombra. A riqueza barroca das imagens era uma novidade. Era sedução pura.
   Mas, e em 2020? O que senti? Visceralmente eu grudo os olhos na terra e sinto: Eis uma narração perfeita. O ritmo e as falas. Nos primeiros trinta minutos é uma aula de cinema. Londres e Drácula, vitorianismo e inferno, beleza e horror, tudo em equilíbrio. Acima de tudo, a beleza. O senso de imagem que vem de alguém que conhece o cinema mudo. Sim, em 2020 os primeiros trinta minutos são ainda melhores do que minha memória lembrava.
   Então Gary Oldman passeia por Londres. É um papel muito difícil. Pois facilmente pode cair no ridículo. Ele tem de ser feio e sexy. Hiper romântico e jamais bobo. Teatral sem ser grotesco. E Gary consegue. Sua atuação é brilhante. Controlado. O tempo todo controlado. Winona era a estrela da época e ela não fede nem cheira. Podia ser muito melhor. Mas não compromete. Após seus primeiros 30 minutos, em Londres, o filme se torna menos sensacional. Continua interessante.
   E vem Anthony Hopkins como Van Helsing. No auge da fama de "maior ator do mundo", Hopkins pega o filme e tenta transformar no "Anthony Hopkins show". O filme desaba. É como se ele estivesse no filme errado. Seu rosto e gestos exalam vaidade. Ele se exibe. Ele exagera. Ele destrói todas as cenas. Dracula passa a ser dois filmes: O maravilhoso filme de Gary Oldman, e a comédia barata de Hopkins. Queremos que Dracula vença.
   O final é de um romantismo que resgata o romance. Dracula é um filme sobre o amor que vence o tempo. E ele se redime. É um grande filme que ainda me emociona. Muito.
   Nele está a raiz de uma incontável procissão de produtos culturais. A geração da menina de 22 anos cresceu revendo este filme sem nunca o ter visto. Ela adorou.