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O NASCIMENTO DA MÚSICA OCIDENTAL. ORFEU- CLAUDIO MONTEVERDI
Não exagero com esse título que postei acima. Monteverdi absorveu o que pode da música anterior a sua época e aprefeiçoando violino e violoncelo, enriquecendo a orquestra, criou aquilo que entendemos como "nossa música". Ouvir sua obra tem sabor de coisa antiga, muito antiga, o que é delicioso, mas ao mesmo tempo percebemos que há ali um esforço por renovação. O modo como as vozes são usadas e acompanhadas, a harmonia, é já a nossa. --------------- Orfeu é uma ópera de 1607. Contemporânea de Shakespeare portanto. E ao contrário de tanta música da época, Orfeu se ouve hoje não como "obrigação" histórica, mas como prazer. Ela ainda emociona. Ela é de uma beleza cristalina, simples, profunda, dolorosa sem jamais ser deprimente. É uma obra prima. Os temas instrumentais são breves, porém inesquecíveis. Remetem sempre à clareza. Monteverdi escreve música como poesia, o que ele quer dizer é dito dentro de uma métrica exata. Lembramos e sentimos estar diante de obra antiga, mas ao contrário da música medieval, não se trata de uma beleza monótona, e sim de obra viva. As vozes cantam melodias criativas, a emoção não parece distante. É clássico, felizmente não existe aqui o exagero de emoção do romantismo, estamos longe desse momento. É emoção de "cortesão", emoção educada. A música de Monteverdi é uma aula de elegância, de apuração refinada, de bom gosto ao extremo. ---------------- A gravação que ouço, recente, tem por maestro Claudio Cavina. Vozes de Mirko Guadagnini e Emanuela Galli. Sem falhas. Usam-se instrumentos de época, o que neste caso é bom. Usar instrumentos antigos em Mozart ou Beethoven sempre parece forçado, mas usa-los em música de 1607 me parece correto. Uma orquestra moderna aqui daria à música espírito de obra sem tempo ou momento histórico. Ela parece ser e é de 1607. E anuncia o parto daquilo que nos emociona em sua arte. ---------------- Tenho me educado para entender e apreender o sabor da arte da ópera. Não é uma coisa natural para minha geração. Fomos a primeira geração educada para apreciar a música de 3 minutos ou o LP dividido em momentos breves. Ao contrário do que crê a maioria, o prazer é um aprendizado. Confia-se demais no instinto, se crê que a arte, como o sexo, é um prazer natural, que existe ou não existe em cada um de nós. Não é assim! A fruição, o gosto, o amor ao prazer da arte e da cultura são aprendidos, educados, treinados. ( E falemos a verdade, o sexo também se aprende ). Então, já que a vida é breve, que se aprenda aquilo que é o topo dos prazeres mentais e espirituais. E a música é um dos mais completos. Ouvir Monteverdi é um dos ápices dessa educação. E eu estou chegando lá. É lindo.
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