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A EVA FUTURA - VILLIERS DE L'ISLE-ADAM

Poeta simbolista francês, Villiers de L'Isle-Adam tem uma das frases icônicas do simbolismo: " A vida? Meus criados a viverão por mim ". Essa frase se encontra em AXEL, obra tão poderosa que deu à Edmund Wilson nome de sua obra O CASTELO DE AXEL, texto capital sobre o simbolismo e o modernismo. Sim, pois é no simbolismo que vive a semente que dará ao mundo todo seu modernismo. É nele, como exemplifica a frase acima, que toma força a postura arrogante e "isolada" do artista moderno. É o momento histórico em que se faz a ruptura anunciada pelo romantismo: de um lado o mundo real, de outro o mundo da arte. Criados viverão a vida, artistas viverão sua arte, aquilo que eles criam para eles mesmos. --------------- Neste romance, em prosa, Thomas Edison, sim, ele mesmo, cria um robot-mulher. Lord Ewald tem uma namorada, a mulher mais bela do mundo. Mas há um problema: ela é tola. Então o amigo de Lord Ewald, Thomas Edison, inventor famoso, gênio do futuro, usa a imagem dessa bela mulher e a mente de todas as mulheres que existiram, para assim fazer nascer a mulher perfeita. Não estamos diante de um tipo de Frankenstein, a criação é feita de aço e plástico, porcelana e fios, é uma obra de engenharia, da eletricidade, da ciência moderna. O romance é, basicamente, a conversa entre Edison e Lord Ewald, onde se discutem os temas caros aos simbolistas: beleza, tempo, futuro, visões. É um texto incrivelmente esnobe. Não há, como era intenção do autor, um só grão de vida real. Tudo é artifício, as personagens são como obras perfeitas em seu comportamento, em suas falas, em suas aspirações. O nome de Edison é usado como símbolo do Super Cientista, nada tendo a ver com o homem real. Não há, talvez voce pense isso, crítica alguma à ciência. A vinda de uma EVA, de uma mulher perfeita, é vista como maravilha suprema. Um tipo de trabalho divino, milagre feito pela razão pura. -------------------- Simbolistas não aceitavam a vida das ruas porque mal a percebiam. Imersos em universo de símbolos, onde cada coisa é um mundo e cada mundo é outro mundo em potência, eles negavam o mundo como também negavam a própria vida. A mulher, vista aqui como EVA, a tentação, a víbora, o veneno que transforma, era entre eles o mais perfeito SÍMBOLO. ------------------ Como todo texto simbolista, o autor é contemporâneo de Oscar Wilde, há um capricho na descrição de ambientes exóticos, cheios de objetos raros, surpreendentes, únicos. O subsolo onde vive Hadaly, o androide que será EVA, é maravilhosamente imaginado por Villiers de L'Isle-Adam. Pássaros robots, sons súbitos, flores de vidro, câmaras de ébano, tudo é uma rica coleção de surpresas. E no centro desse NOVO PARAÌSO, Eden da ciência, a androide, que fala, que se move, que é bela como um sonho mas a qual falta o rosto, que será da amada imperfeita de Lord Ewald. -------------- O livro nunca é assustador. Não pense estar diante do horror de um crime. É um desfilar de maravilhas. Um poema frio. Uma prosa detalhada sobre um androide e seu criador. Uma criação de um simbolista.