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AURELIA - GERARD DE NERVAL

Nerval estava louco quando escreveu este texto. Louco e às portas do suicídio. Era a metade do século XIX. O texto é uma profusão de imagens belas e terríveis. Imagine Syd Barrett escrevendo sobre LSD em 1970. É isso. Paisagens hiper coloridas, seres mortos, profundezas abismais, celestiais paisagens, Deus e deuses, diabos, monstros. As frases jorram. Ele quer morrer e teme a morte. Apaixonado. Apavorado. -------------- Não há muito ais a dizer. É um texto sem enredo. São imagens. Sonho e pesadelo. E o fim.

SÍLVIA - GÉRARD DE NERVAL

Nascido no começo do século XIX e morto em 1848, Nerval simboliza como poucos o romantismo francês. E assim, ele viveu e morreu como romântico autêntico, louco e suicida. Sim, pois não há como ser romântico autêntico no mundo prático e real. Puro idealista, o romântico nega a realidade todo o tempo e vê seu Ego em tudo ao seu redor. Movimento que eu particularmente abomino, fui um romântico aos 15 anos, sei do que falo, meu romantismo era completo e exarcebado, esses partidários do Eu criaram tudo de mais abominável que existiu no século XX: o socialismo, o comunismo, o nazismo, o fascismo, o culto a celebridade, a contra cultura, todos movimentos baseados no idealismo, no compromisso com uma ideia mesmo que ela negue toda a prática. É no romantismo, graças a Rousseau, que a criança e o selvagem passa a ser vistos como seres sagrados, uma idiotice que pegou nas massas porque faz de qualquer idiota irracional um Ser Puro. ---------------- Era preciso estudo, trabalho e força para ser um Ser Superior no mundo clássico. Com o romantismo basta ser infantil ou selvagem. Weeeeellll.... voltando a Nerval, este livrinho simples, mal escrito, pobre, e por isso "puro", fala de um jovem que ama duas mulheres, uma atriz e uma moça do povo. No fim, claro, ele fica sem nenhuma e sentimos que ele amava apenas ele mesmo. Como bom romântico, nada existe no livro a não ser o narrador, personagens, paisagens, tudo existe como acessório ao grande narrador, o Ser Superior que sente mais que eu ou voce. Uma bobagem típica de adolescentes mas que em 1830, na França, passava por heroísmo. O narrador é bem bobinho, nada faz de excepcional, nada diz que pareça inteligente, mas sente, deus como ele sente! ---------------- Devo dizer que o romantismo alemão era bem menos tolo pois era místico, mais medieval e na Inglaterra ele tinha enredos melhores, pois era feito para as massas. Na França ele se tornou ARTE com A imensamente grande, esnobe, orgulhoso, sem qualquer compromisso com a realidade. Se imaginarmos que Balzac era contemporaneo de Nerval tomamos um susto. Balzac já antecipa o realismo com suas cifras, contas, lucros e perdas, jornais e fábricas. Nerval é 100% sentimentos, matas e luares. Um narcisista radical.