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What A Woman! (a/k/a Commit A Crime)

LONDON SESSIONS-HOWLIN WOLF and HARD AGAIN-MUDDY WATERS

"Voce é a lua da minha noite". "As estrelas brilham por voce". "O meu coração tic tac por voce". E então: "Eu vou me afastar de voce antes que cometa um crime". O último trecho é de Howlin Wolf, os outros das canções de rádio da época. Grande letristas, como Cole Porter ou Kurt Weill escreviam literatura ( os trechos ruins que citei não são deles, são coisas comuns dos anos 40 e 50 ), letras maravilhosas, sublimes, tristes ou eufóricas, mas o blues dava a radiografia de um tipo de vida ignorada, a vida dos pobres, dos negros pobres, mas não só deles. " Eu estou com uma arma na mão procurando quem me traiu". Para jovens classe média americanos e depois ingleses, isso parecia um filme noir, uma porrada na porta do quarto, isso parecia sexo. --------------- Pois Cole, Gershwin e Berlin escreviam sobre amor, e muitas vezes sobre erotismo. O blues falava de sexo. Não havia espaço para champagne, sedas ou conversas espertas. Era a violência do ciúme, o furor do desejo, a urgência da fome por carne. ------------ Em 1970 lançaram um disco chamado LONDON SESSIONS. O primeiro volume foi feito para homenagear Chuck Berry e o segundo Howlin Wolf. Estou com o disco de Wolf na mão. Quem o acompanha é Charlie Watts, Bill Wyman, Stevie Winwood e Eric Clapton ( ano cheio para Eric. Em 70 ele lançou seu primeiro disco solo, acompanhou John Lennon ao vivo, esteve nesta homenagem e ainda teve espaço para lançar Layla ). A voz de Wolf é a melhor do blues, é a mais viril e a que transmite mais verdade. Cada palavra tem peso, tem presença, vemos a ação acontecer. Wang Dang Doodle é talvez o ponto mais alto, mas não há falhas. -------------- Em 1977 Johnny Winter, o selvagem guitarrista albino, resolveu pagar tributo a Muddy Waters. Hard Again fez sucesso e até grammy ganhou. Winter, um guitarrista diabólico, dá espaço à Muddy, é uma celebração. Eu sei que Waters é o rei do blues, minha preferência por Howlin é questão pessoal, e portanto este é um disco obrigatório. Se voce não conhece Winter não sabe o que perdeu até agora, e Muddy é o próprio Mannish Boy. --------------- Faria um bem danado ao mundo se Howlin e Muddy fossem ensinados nas escolas. Eles têm tudo que falta a molecada de 2022: atitude, coragem, força, desejo. Ouça.

Howlin' Wolf - The Red Rooster

LONDON SESSIONS - HOWLIN WOLF

Eu não gosto de blues chique. Aquele tipo de blues feito nos anos 80, para publicitários e jornalistas. Muito bem gravado, solos cristalinos, vocais macios. É entediante. Chato. Nega tudo que o blues de fato é: música tosca. ------------- O blues é tosco porque em seu espírito há pouco espaço para invenções. São poucos acordes que se repetem, frases que fazem eco, temas sempre os mesmos. O que o redime, o que faz do blues algo de apaixonante é sua paixão, sua verdade, o perigo. Perigo porque o blues de verdade vive na margem, no limite, na quase marginalidade, no outlaw. ------------- Howlin Wolf tem a voz do perigo, da briga, da ofensa. É sujo. Dizem que ele batia nos músicos que errassem. Dizem que ele era forte como um touro. Dizem lendas e blues são lendas turvas. Em 1970 resolveram lançar, na Inglaterra, uma séries de LPs em homenagem aos mestres do rock e do blues. London Sessions. Músicos famosos acompanhando os veteranos. Falam que o dedicado a Bo Diddley foi um desastre. O disco de Chuck Berry um sucesso de vendas. E este, o de Wolf, o melhor. Quem o acompanha é Charlie Watts e Bill Wyman, Ian Stewart e Steve Winwood, e ainda Eric Clapton na guitarra. Generoso, Clapton sola pouco, o disco é do veterano. E é selvagem. A voz de Wolf repercute como voodoo. É blues de verdade. Safado e no fio da faca. Uma pistola na sua testa. Howlin Wolf foi, ao lado de Muddy, o melhor de todos.