A foto da capa já é uma delícia : Miss Beach rí, enquanto George Antheil entra em seu quarto pela janela. O livro vai nesse clima.
Sylvia Beach nasceu no fim do século XIX. Sua tia conheceu Whitman e guardou alguns manuscritos que Walt ia jogar no lixo. A família dela sempre foi importante, aquele tipo de família sangue-azul americana, da região que vai da Philadelphia à Rhode Island. Mas Sylvia logo se mostrou diferente e vai para Paris. Lá conhece Adrienne Monier, francesa dona de livraria, e resolve fundar uma livraria especializada em livros em inglês. Nasce a Shakespeare and Company. Livraria que vende, mas que também empresta livros. Os associados pagam uma taxa e podem pegar livros a vontade. Logo Sylvia se vê no centro da vida intelectual daquele tempo, os anos 15/35, em Paris, na margem esquerda do Sena, no centro do modernismo.
O texto é simples, leve e agradável. Ela vai falando de seus amigos, de suas vitórias, de seus hábitos. James Joyce ocupa mais da metade do livro. Apesar dela ser homossexual, Joyce é uma paixão gigantesca na vida de Sylvia. Por ele, ela se aventura em editar Ulysses, único livro que a Shakespeare editou, por ele, ela se endivida. Joyce é um enigma. Como acontece na bio de Ellman, ao terminarmos de ler este livro, somos incapazes de decidir se o irlandês foi um santo ou um crápula. Gênio com certeza. E de magnetismo irresistível.
Mas há mais. Há DH Lawrence, Gide, o amigo fiel Heminguay, Dos Passos, Erik Satie e suas manias, há Huxley, Maurois, Gershwin, Valéry, Cummings, Pound, Eliot, o esbanjador Fitzgerald. A melhor história é do músico de vanguarda americano Antheil. Ele morava no sótão da livraria e quando esquecia as chaves realmente entrava pela janela. Convidou os amigos para a estréia de sua nova obra, o Ballet Méchanique. A obra consistia de uma pianola programada tocando uma melodia sendo esmurrada pelo pianista, e em meio a tudo, uma hélice de avião fazendo perucas e chapéus da audiência voarem ( e ensurdecendo a galeria ). O que aconteceu nessa prémiere ? Ninguém ouviu a obra : do primeiro minuto ao seu final, o que se ouviu foram xingamentos, aplausos, vaias, murros, assovios e "vivas". O absoluto caos. ( Recordei de um texto- qual ? - que dizia que estamos perdendo o dom da emoção. O que nos faria hoje reagir assim ? O futebol ? ).
A livraria seria fechada por Beach em 1944, quando um oficial alemão, fã de Joyce, ameaçou confiscar tudo dele que lá havia. Antes que ele voltasse para cumprir a ameaça, Sylvia esconde todo o acervo e fecha. Passaria seis meses em campo de prisioneiros. Seus relatos da resistência são belíssimos.
Hoje, em Paris, existe uma Shakespeare and Company. No filme em que Ethan Hawke autografa livros ( qual o nome mesmo ? É com Julie Delpy... ) é lá que ele está. Mas não é a livraria de Sylvia Beach. Depois que ela fechou, um americano esperto abriu uma nova SeC em outro endereço. E eu que pensei que fosse a mesma...
Se voce ama livros vai gostar de ler este. Se voce ama a década de vinte, vai gostar de ler este. E se voce ama a vida, vai gostar de ler este.
Boa leitura.
Sylvia Beach nasceu no fim do século XIX. Sua tia conheceu Whitman e guardou alguns manuscritos que Walt ia jogar no lixo. A família dela sempre foi importante, aquele tipo de família sangue-azul americana, da região que vai da Philadelphia à Rhode Island. Mas Sylvia logo se mostrou diferente e vai para Paris. Lá conhece Adrienne Monier, francesa dona de livraria, e resolve fundar uma livraria especializada em livros em inglês. Nasce a Shakespeare and Company. Livraria que vende, mas que também empresta livros. Os associados pagam uma taxa e podem pegar livros a vontade. Logo Sylvia se vê no centro da vida intelectual daquele tempo, os anos 15/35, em Paris, na margem esquerda do Sena, no centro do modernismo.
O texto é simples, leve e agradável. Ela vai falando de seus amigos, de suas vitórias, de seus hábitos. James Joyce ocupa mais da metade do livro. Apesar dela ser homossexual, Joyce é uma paixão gigantesca na vida de Sylvia. Por ele, ela se aventura em editar Ulysses, único livro que a Shakespeare editou, por ele, ela se endivida. Joyce é um enigma. Como acontece na bio de Ellman, ao terminarmos de ler este livro, somos incapazes de decidir se o irlandês foi um santo ou um crápula. Gênio com certeza. E de magnetismo irresistível.
Mas há mais. Há DH Lawrence, Gide, o amigo fiel Heminguay, Dos Passos, Erik Satie e suas manias, há Huxley, Maurois, Gershwin, Valéry, Cummings, Pound, Eliot, o esbanjador Fitzgerald. A melhor história é do músico de vanguarda americano Antheil. Ele morava no sótão da livraria e quando esquecia as chaves realmente entrava pela janela. Convidou os amigos para a estréia de sua nova obra, o Ballet Méchanique. A obra consistia de uma pianola programada tocando uma melodia sendo esmurrada pelo pianista, e em meio a tudo, uma hélice de avião fazendo perucas e chapéus da audiência voarem ( e ensurdecendo a galeria ). O que aconteceu nessa prémiere ? Ninguém ouviu a obra : do primeiro minuto ao seu final, o que se ouviu foram xingamentos, aplausos, vaias, murros, assovios e "vivas". O absoluto caos. ( Recordei de um texto- qual ? - que dizia que estamos perdendo o dom da emoção. O que nos faria hoje reagir assim ? O futebol ? ).
A livraria seria fechada por Beach em 1944, quando um oficial alemão, fã de Joyce, ameaçou confiscar tudo dele que lá havia. Antes que ele voltasse para cumprir a ameaça, Sylvia esconde todo o acervo e fecha. Passaria seis meses em campo de prisioneiros. Seus relatos da resistência são belíssimos.
Hoje, em Paris, existe uma Shakespeare and Company. No filme em que Ethan Hawke autografa livros ( qual o nome mesmo ? É com Julie Delpy... ) é lá que ele está. Mas não é a livraria de Sylvia Beach. Depois que ela fechou, um americano esperto abriu uma nova SeC em outro endereço. E eu que pensei que fosse a mesma...
Se voce ama livros vai gostar de ler este. Se voce ama a década de vinte, vai gostar de ler este. E se voce ama a vida, vai gostar de ler este.
Boa leitura.