1984

Este foi meu primeiro ano na faculdade. E foi o ano mais "bonito" da minha vida. Eu era esnobe. Muito esnobe. Me achava o cara mais especial do mundo. E percebo agora que meu radar sempre foi muito forte. ( Mais esnobismo ? ) Pois se eu fui tão esnobe, devo dizer que 1984 foi um ano esnobe em geral. Basta dizer que todo mundo naquela faculdade se via como artista. Eram dúzias de artistas plásticos, de video makers ( era a coisa mais IN da época ), líderes de bandas, modelos, fotógrafos, futuros gênios da propaganda. O Brasil era bem isolado do mundo então, e 1984 foi nosso 1968 atrasado. Um desbunde. Quem era new wave usava roxo e rosa, quem era dark usava preto e maquiagem, quem pegava onda vestia calça limão e blusa da Sundek. Se dava bandeira, se ostentava uniforme da tribo. Foi nesse ano que criei meu conceito de Roxy. Eu virei maníaco pelo Roxy Music e tudo que eu gostava tinha de ser Roxy. Música Roxy, meninas Roxy, filmes Roxy. Embora as sombras dessa bobagem juvenil me acompanhem até hoje, 1984 foi o único ano Roxy em minha vida. Não houve tempo em que eu tenha escrito tanto, e relendo tudo agora, levo um susto: quem era aquele eu tão afetado? Em 1984 explodiram Madonna e Michael Jackson. Foi ano do Purple Rain do Prince e da trilha de Ghost Busters. O cinema tinha sucesso sobre sucesso: Dirty Dancing, Máquina Mortífera, Mad Max 2, Entre Dois Amores, Amadeus, Paris Texas. As coisas rolavam depressa. Duran Duran já era brega. Police não existia mais. Human League parecia passado. Nesse ano comprei o Low do Bowie e me apaixonei pelo Transformer do Lou Reed. Eu comprava cerca de 8 LPs por semana. A maioria de bandas recém nascidas. 90% das quais ninguém mais lembra. Mas o meu disco do ano foi Avalon, do Roxy Music, disco de 1982 na verdade. Domingos, no fim da tarde, tinha o programa New Beat,apresentado por Kid Vinil e Fernando Naporano. Só novidades de Londres. Foi onde ouvi Steve Strange e Orange Juice. Era um mundo bastante gay, mesmo sendo hetero, a gente gostava de viver entre dois mundos. Tive uma paixão em novembro desse ano que destruiu toda fantasia. O mundo real veio me buscar em 1985. Mas como disse, 84 foi bonito. Para todos nós.