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LOU REED TRANSFORMER - VICTOR BOCKRIS

   A primeira vez em que ouvi falar de Lou Reed foi na revista POP, da Abril, em 1975. Uma matéria de 4 páginas coloridas. Na primeira foto a gente via Lou tocando guitarra. De cara já estranhei. O cara tinha cabelo curto, a expressão era de um tipo de bandido antipático e usava roupa preta. Em 75 ninguém no rock usava preto. O texto falava de seu sucesso e do Velvet. A banda de Lou, Andy e Cale já era mito então. O som deles era descrito como barulhento, sujo, anticomercial. No mundo de então, sem internet e MTV, tudo o que podíamos fazer era criar com a imaginação. Então imaginei que o som do Velvet fosse um tipo de Led Zeppelin ainda mais alto e pesado. Só os escutei cinco anos mais tarde, no fim de 1980.
  Comprei White Light no Museu do Disco, uma memorável noite no shopping Iguatemi. Pus na vitrola às 23 horas daquele sábado. Após cinco anos de imaginação o que veio não se parecia com nada do que eu havia escutado. Ou imaginado. Não era Heavy, nem Hard, nem Prog, nem Jazz, nem nada. Mas eu não estou aqui para falar desse disco, o mais amado, e sim para falar desta biografia. Foi Brian Eno quem criou a frase de que o Velvet vendeu pouco, mas cada disco vendido era uma nova banda criada. De Roxy Music à Patti Smith, de Buzzcocks à Talking Heads, todos beberam na fonte e nenhum deles se parece com o Velvet. A banda foi um milagre. O maior do rock.
  Lou foi eletrocutado por ordens dos pais. Ricos judeus de NY, eles queriam curar o filho da viadagem. O amavam a seu modo, e foram vítimas da psiquiatria da época. A mente de Lou foi afetada ( ele tinha 17 anos ). Se tornou alienado de si mesmo para sempre.
  Foi um universitário rebelde, briguento, boca suja. Muito desagradável. Ninguém se sentia à vontade perto dele. E mesmo assim namorou a menina mais linda de Syracuse. Por anos. Seu interesse em sexo era mínimo, o que ele queria era sair de casa e ser poeta. Caiu na vida. Se viciou em anfetaminas, em speed injetável e até a década de 90 esteve sempre chapado.
  Lou foi trabalhar numa gravadora porcaria e lá compunha pop lixo. Então formou uma banda mais de garagem. E se enturmou com Andy Warhol. Lou Reed sempre soube o que queria e sempre se uniu a quem podia o ajudar. Para depois descartar a pessoa sem remorso algum. Andy quis formar uma banda para musicar seus videos. Montou o Velvet dando à Lou a liderança. Vieram Mo Tucker, uma baterista que ninguém sabia de que sexo era, Sterling Morrison, um grande guitarrista, e John Cale, um músico erudito que desejava fazer no Velvet sinfonias do caos. Enquanto eles estiveram juntos foi histórico. De 1965 à 1967, sozinhos, eles mudaram para sempre a música do ocidente. Criaram do nada aquilo que entendemos por punk, indie, alternativo, bizarro, underground, sadomasoquismo chic, cool, dark, soturno, rockn roll. Mas Lou Reed sempre foi um merda, e estragou tudo.
  Chutou Andy. Por ciúmes de seu carisma. Chutou Nico, porque queria cantar sozinho. E, que merda Lou!!!!, chutou John Cale, e destruiu assim o verdadeiro Velvet Underground. O VU sem Cale é como Stones sem Keith ou Beatles sem John. Virou a banda de um cara só, Lou, e o terceiro disco, por melhor que seja, não é VU, é solo de Lou. A aventura sonora criada pelos quatro ( todos compunham tudo no estúdio, Lou assinava ), partiu. Nunca mais.
  Duas curiosidades: White Light foi gravado sem engenheiro de som. Os engenheiros da Verve não suportavam ouvir a gravação e iam pra rua, deixando tudo ligado sem comando, e voltavam após 3 horas. O disco realmente se gravou sozinho.
  White Light, nas palavras de Lou, é um disco sobre astrologia. Ele é de peixes e cada faixa representa a luta entre peixes e virgem. Assim, a faixa um é peixes, a dois é a resposta de virgem e a luta se derrama pelo resto do disco.
  Em 1970, quando a banda acaba com o banal Loaded, tentativa de fazerem do VU um novo Beatles; Lou deprimido vai morar com os pais. Depois de um ano e meio isolado e esquecido, volta graças a ajuda de Richard Robinson, influente crítico de rock e escritor que produz seu primeiro solo: Lou Reed. Um fracasso absoluto.
  Mas vinham novas da Inglaterra. Toda uma nova geração não-hippie adorava Lou. E ele foi apresentado a seu maior fã, David Bowie. E nasce TRANSFORMER. Produzido por Bowie e Mick Ronson, com o piano lindo de Ronson, a guitarra nasal de Ronson e os bcking vocals e violinos de....Ronson. Lou Reed se torna uma estrela em 1972. Mas...
  Claro que ele tinha de brigar com Bowie. Com Robinson. Com todos os críticos de rock. Ah...Lou...essa sua língua....Lou adorava odiar...chamava Dylan de chorão, Zappa de hippie medíocre, Alice Cooper de palhaço, e Bowie de invejoso...Ah Lou...
  Grava Berlin, o disco em que ele apostou tudo. E o disco fracassa. Os críticos são impiedosos. Quanta bobagem se escreveu na época! E Lou Reed desiste. O livro diz que ele NUNCA MAIS gravou nada com 100% de comprometimento. A ferida de Berlin ficou até o fim da vida. Uma frase de Lou define tudo: " Em 1965 eu realmente acreditei que a inteligência iria um dia mandar no rock...Não deu certo. Eu me iludi."
  Vieram dois discos ao vivo, Coney Island Baby, seu casamento com um travesti, Sally Can't Dance, Metal Machine Music ( sua melhor piada ), e o punk.
  Lou frequentava o CBGS. E lá, em janeiro de 1976, ele foi entrevistado por dois garotos de 16 anos. Eles lançaram o número um da revista PUNK com Lou na capa e pronto: Lou era o pai do punk, Lou era o cara. Os punks podiam atacar tudo, mas Lou e o Velvet não. ( Não vamos esquecer que John Cale produziu os primeiros discos de Patti Smith, Stooges, Modern Lovers ).
  E como sempre Lou estragou tudo. Hiper viciado em tudo, tudo, tudo, ( menos drogas de hippies: maconha e LSD ), seus discos eram lentos, chatos, mal gravados. Ele não soube ou não quis se aproveitar desse bom momento punk. Perdeu mais um barco.
  A história de Lou Reed é a história de um triunfo que reverbera sem fim, e de alguns poucos sucessos que ameaçam reviver o triunfo do começo. A impressão é que ele sempre teve medo do sucesso, medo de precisar segurar uma missão. E ao mesmo tempo tinha a vaidade de um Mick Jagger, queria ser amado, seguido, idolatrado. Nessa briga interna ele gastou quase toda sua energia. O pouco que restava ia para os discos e os shows.
  Mas ninguém nunca vai esquecer o VU. Fazem já longos 36 anos que os ouvi pela primeira vez. Nenhum dos meus amigos gostou. Só eu e meu irmão. Mas hoje, em 2016, meio século depois do auge da banda, eles continuam soando corajosos, esquisitos, darks, o símbolo de tudo o que é independente, sem compromissos...genial.
  Em toda a história do rock NADA se compara ao VU. E se John, Sterling, Nico, Mo eram parte vital da coisa, Lou era dono das letras, das ideias, da primeira fagulha.
  Não aceito a morte de Lou. Sua partida para mim foi mais dolorosa que a de Bowie. Esqueço que ele morreu. Não quero acreditar. Porque o rock fica vazio, bobo, estúpido sem ele.
  Lou Reed era um grande merda. Vaidoso, mentiroso, egocêntrico, injusto, violento, mau...mas todos nós o amamos. E isso é genial.

SO' GAROTOS....PATTI SMITH

A frase que revela a alma de Patti é dita quando ela diz que Robert não conseguia perceber o romantismo da febre, de se estar doente. Ela percebe. Patti é uma romantica. Rimbaud, Baudelaire, Rousseau são guias. Sua geração foi a ultima geração culta do rock. Depois existiram românticos, mas artísticos de verdade não.
O rock é coisa pura, energia sem razão. Isso é maravilhoso, isso foi único. Com Dylan o intelectualismo invadiu a coisa. Esse intelectualismo quase matou o rock, mas trouxe Zappa, Joni Mitchell e acima de tudo o VELVET UNDERGROUND. Patti nada tinha a ver com o mundo do rock. ComoLaurie Anderson, David Byrne ou August Darnell, sua praia é outra, a poesia. Patti poderia ser uma chata. Não é. Ingenua sempre. Uma pessoa adorável.
Sam Sheppard namorou Patti Smith! Isso é incrível! Para quem não lembra, Sam escreveu o roteiro de PARIS/TEXAS, fez o papel de Chuck Yeager em OS ELEITOS, e é marido de JESSICA LANGE desde os anos 80.
Não espere ler aqui sobre rock. Ele é sobre boemia. Sobre um casal apaixonado. Sobre o estranho Mapplethorpe e a boazinha Patti Smith. A Esta ira, e o modo como Rimbaud, Keith Richards e JESUS CRISTO guiaram a vida dessa menina sem igual.
O livro também mostra o contraste entre a década de 60 e a de 70. A primeira foi utópica, trágica e infantil. A dos 70 foi cínica, egocêntrica e centrada no culto às celebridades.
Eu lembro de quando saiu Horses. Causou surpresa por ser sem rótulo. Não era folk, nem hard, prog ou pop. Lançado em ano de transição, foi, ao lado de Born to Run, de Springsteen, disco do ano. Depois inventaram que ela era punk!???!!! Nunca foi! Patti ignora Stooges, MC5 E OS DOLLS. PATTI foi da mesma matriz de Lou Reed, arte, Andy Warhol, beats, cinema, franceses.
França... Faz falta essa influência boemia/Montmartre no rock de hoje. Ambição...
Devore o livro! É bom pacas!

AS MELHORES ENTREVISTAS DA ROLLING STONE ( BONO, JOHNNY CASH, COPPOLLA, OZZY, BRUCE...)

   As entrevistas são editadas para caber num livro médio. Isso tira todo o sabor delas. Ler este livro é como ver uma série de trailers de filmes que voce gostaria de assistir. Nada acrescentam. Portanto é um livro ruim e eu não costumo citar os livros ruins que leio ( creia, são muitos ). Mas vale a pena dizer que umas 3 ou 4 entrevistas valem a pena. 
 O livro começa com Pete Townshend, que em 1968 foi o primeiro entrevistado da revista. O repórter foi num show do Who e Pete não quebrou a guitarra. Intrigado, o jornalista perguntou a ele o porque. Veio desse papo a primeira entrevista da RS. ( Bons tempos em que uma estrela se deixava entrevistar de improviso ).
 John Lennon é very ugly. A cabeça dele estava um lixo em 1970. Ele se auto-glorifica. Sou um gênio, desde criança eu sabia disso e por aí vai. Pobre Paul que precisou conviver com esse pseudo-Goethe de Liverpool. É a figura mais ridicula de toda a história do rock. Mas, como ele fez meia dúzia de canções realmente boas, vou crer que aquele foi um momento de doença mental ou o que for. 
  Jim Morrison fala de álcool. Phil Spector é hilário. E tem ainda Bill Clinton, o Dalai Lama, Bill Murray, Tina Turner, Eric Clapton, Ray Charles, Brian Wilson, Keith Richards, Neil Young, Joni Mitchell, Kurt Cobain, Axl, Eminem e um vasto etc. Todas chatíssimas! Mas...
  Jack Nicholson fala de quando descobriu que sua irmã era na verdade sua mãe. George Lucas conta da sua expectativa para o lançamento de seu novo filme, Star Wars, e conta que seu objetivo é fazer com que o cinema americano saia da depressão dos filmes descrentes dos anos 60/70 e volte a acreditar em cowboys, heróis, que os jovens de 1977 tenham de volta a fé que ele viveu nos filmes de Erroll Flynn e John Wayne. Mais que isso, seu sonho é ter lojas onde tudo isso se conjugue: filmes, quadrinhos, bonecos e jogos sobre esse mundo de heróis. George sem perceber, tem nessa entrevista o insight sobre 2014.
  Leonard Bernstein é sempre cool. Fala de seu amor pela música. Há uma hilária conversa entre Truman Capote e Andy Warhol. Truman foi encarregado de escrever sobre o tour de 1972 dos Stones, mas não escreveu, então a revista manda Andy para saber o que houve. Truman gostou dos shows, mas não sentiu inspiração. Os dois se derramam em elogios a Jagger, mas o charme da coisa está em sua conversa sobre tudo e sobre nada. Os dois conversam passeando por NY, gravador ligado e sentimos a presença de Capote e Andy. Uma delicia!
  Mick Jagger impressiona. Ele conta que odeia se expor. Simples assim. As pessoas que façam o que quiserem, mas ele não gosta de falar de si-mesmo. Acho incrível e ao mesmo tempo noto que isso é verdade. Não há grandes fatos sobre a intimidade de Mick nesses 40 anos. Ele parece se expor no palco mas é teatro, máscara. Mick é um típico inglês vitoriano, reservado e familiar.
  Falei de entrevistas divertidas, mas agora falo das únicas entrevistas que revelam alma, vida, dor e poesia.
  Patti Smith é linda. Sei, ela parecia um garoto magro e agora parece uma bruxa. Leia o que ela fala e voce vai se apaixonar por ela. Patti conta sua história com Fred, seu marido, o que eles faziam nos anos 80, seu começo nos anos 70, sua vida com Mapplethorpe, a morte desse amigo genial, lentamente, de AIDS. O que ela pensa das novas bandas, sua poesia. São apenas cinco páginas que te tocam. Eis uma Dama. Eis algo que pode se aproximar da verdadeira genialidade.
  E lemos a entrevista de Bob Dylan feita em 2002. Raios caem do céu. Dylan fala como um velho que viu tudo. E não dá pra não dizer: é como escutar Walt Whitman em 2002. 
  Mas então? Falei tão bem de algumas entrevistas...então o livro é bom! Não. São 40 entrevistas. Destaquei 5. OK?

UMA VIDA QUE NÃO PODE MAIS SER VIVIDA...

    Tenho um amigo, não, não é Fernando Tucori, que me escreve dizendo que a vida que foi vivida por Iggy Pop ( ele me diz que queria renascer como Iggy, e eu lhe digo que então ele é um cara de coragem ), é uma vida hoje impossível. Não há a minima possibilidade de se ter uma vida como a dele e como a de toda a fauna a seu redor.
   Penso, temo que, ele esteja pensando o óbvio, a AIDS. Mas não. O que acontece é que perdemos o direito de sermos ofensivos. A ofensa se tornou uma coisa inofensiva ou burra. ( E me desculpe o inofensivo com ofensivo ).
   A turma de Andy Warhol viveu em absoluta liberdade e escândalo num tempo em que nobody vivia assim. Eles rearrumaram aquela coisa anos 20 para os anos 60 ( e os anos 60/70 são uma reedição dos anos 20 em chave POP, ou voce nunca notou que Cocteau, Picasso e Joyce vivem nas aventuras de Andy, Lou e David? ). Mas a turma de Andy foi a primeira a reviver os anos 20 em chave POP, usando video, TV, rock e moda. Como refazer isso hoje?
   Bowie foi o primeiro cara a nada ter a ver com o estereótipo do rock a conseguir ser um rock star. Ele não rezava a cartilha que segue os passos do rebelde da estrada, do caipira country, do blues, dos ingleses sonhando com Elvis. Ele é um ator que interpreta um rock star. Como repetir isso se hoje mesmo sem saber TODOS são atores, bons ou canastrões, brincando de ser Bowie, Dylan, Iggy ou Bolan. E como chocar alguém com androginia, drogas ou frases libertárias se nada mais há para se derrubar? A não ser que voce seja um idiota e choque pela via da ignorância, tipo falar bem de Hitler ou ser a favor de Bin Laden. Mas aí não é arte, é propaganda apelativa ou um caso psiquiátrico.
   Entre 60 e 80 o mundo viveu 20 anos de sexo sem medo. A sifilis se tornou curável, a gravidez podia ser evitada e a AIDS não existia. Pela primeira vez o sexo não se parecia com risco ou com causa de morte. Não mais baby. A doença mudou tudo e não a toa os bobinhos assexuados do rock higiênico surgem nesta época de covardia. Um Iggy pra valer, agora, seria falso. Tudo o que ele fizesse seria sombra de um saudosismo oco. Iggy apanhando no Texas de um bando de caipiras ( isso aconteceu em 76 ), seria hoje um fato de internet, seria visto por milhões e as vendas iriam disparar. O perigo rimando com lucro não é mais perigo, é Jackass. É um business.
   Candy, Cherry, Joe, Edie, Amanda, Wayne e Jim? Como? Never more...
   Quando voce sai hoje, voce sai para encontrar o perigo que inspira? Ou voce sai só pra detonar? Voce sai para ser livre? Ou só para dar uma trepada?
   Por isso nunca mais meu amigo. Entendo então sua frase. A geração de Andy ainda podia sonhar e com Lou ainda podia ter magnificos pesadelos. Música ainda era uma alucinação ( e eu alucinei muito com Low ). Agora música é apenas música. Boa, ruim, ótima, genial, mas existe apenas em seus 4 minutos de execução. Depois a gente deixa pra lá.
   15 minutos de fama para todos. Andy, voce foi genial ao intuir isso!
   Iggy existirá por 15 séculos.
   Ou mais.
     Ch ch ch ch Changes!

UM RAPAZ TIMIDO QUE PARECIA SER GAY

   Tony deFries era um advogado júnior que resolveu virar empresário de rock. Tomou nas mãos um tal de David Bowie.
   Em Londres foi levado um espetáculo de Andy Warhol. Uma peça com um bando de travestis e algumas mulheres. Tinha sexo real, sujeira, ofensas e frases sem sentido. Todos se falam e ninguém escuta. Num tempo em que ainda se criava polêmica real, as pessoas ainda tinham tabús para serem desafiados, a peça foi atacada por jornais e TV. O público ia em massa. Bowie foi com Tony. A ideia foi pega: levar aquilo para o rock.
   Bowie sempre disse: "Sou uma máquina Xerox! Nada crio, absorvo e misturo aquilo que vejo. Se sou triste é porque o mundo o é. Se sou glamouroso é porque o mundo é. Me amar é amar ao mundo e se voce me detesta é porque o mundo agora é detestável." David Bowie falava coisas como essas nas revistas. Frases assim, perto daquilo que Dylan ou Lennon diziam, são mais que inteligentes, são distanciadas, espertas, terrivelmente espertas.
   E em meio a isso tudo Bowie diz ser bissexual. E para o autor, Dave Thompson, essa foi sua jogada de mestre! Porque Bowie nunca foi gay ou bissexual. Se fosse teríamos montes de relatos de ex-amantes. Mas não. Nada. Bowie tem uma vida sexual fria, timida, distante. Mas ele "parece"gay e sempre fez questão disso. Com essa frase ele pegou a diferença, ele foi o primeiro cara a escancarar a sexualidade reprimida inglesa. Isso não era pouca coisa. Perto dele Jagger e Rod Stewart passaram a parecer conservadores. E Led, Beatles ou Who, terrivelmente machos. Bowie pegou o bando de teens reprimidos e os colocou nas mãos. 
  Tony deFries tem muito a ver com isso. Ele inventou um conceito que seria regra para sempre. Ser uma estrela antes de ser uma estrela. Viver como um superstar mesmo sem nada ter feito. Bowie andava com guarda-costas quando ninguém ainda o conhecia. Bowie andava de limousine ainda sem grana. E guiava a juventude mesmo sendo ignorado pela midia. Tudo isso na verdade coisa de Andy Warhol, mas Tony foi o primeiro a usar isso no rock. E Bowie foi o mais dócil dos artistas.
   E compunha! 3 discos em um ano!!!!
   Fato: Iggy Pop não gostava dos discos de Bowie. Mas Bowie não ligava, Pra ele, Iggy era o melhor cantor do mundo. E ele o tirou do buraco. Levou-o pra Londres. 
   Fato: Bowie ajudava todo mundo. Antes da fama, ele tirou o Mott the Hoople do desemprego. E lhes deu um hit de presente.
   Fato: Lou Reed usou Bowie para ganhar uma grana. E Bowie o tratava como um rei.
   Rapaz timido. Que tremia na frente de Lou, Iggy, e ficava mudo com Andy Warhol.
   PS: Se Bowie reflete o mundo, o que seria seu silêncio?

DANGEROUS GLITTER- DAVE THOMPSON, E O MUNDO NUNCA MAIS FOI COMO ANTES

   Tudo começa com Andy Warhol. Ele queria uma banda "assim tipo essa coisa, hum....rock" e um dos caras da Factory achou a tal banda. Era a banda de um tal de Lewis Reed, um cara que tomara eletrochoques aos 17 anos, por ordem do pai milionário, pra ver se "ele deixa de ser viado".  Reed gostava de Bob Dylan e compunha folks. E o melhor, era vaiado sempre.
   Nico era alemã e foi topar na Factory. Era o molde do que viria a ser uma descolada hoje. Namorada de Bob Dylan, atriz, modelo, cantora, atuara com Fellini. Andy resolveu botar Nico pra cantar as músicas "....uh....do Lou Reed, nada de Lewis..."
   Na Factory morava todo mundo: bichas, travestis, bandidos, cineastas, drogados, poetas, e os bobos também. Um cara de Gales apareceu por lá...John Cale era músico erudito, tão louco quanto Reed, com uma diferença, Cale detestava Bob Dylan. Andy botou ele na banda com sua viola torta e uns teclados ""tipo uh....Cage... John Cage. John e Lou se gostaram. Ambos liam as mesmas coisas.
   O primeiro show foi num congresso de psiquiatras. Foram vaiados. Nico ensinou Reed a ser cínico. a ter raiva, a ser cool. Vestidos de preto, eles queriam matar os hippies. Odiavam a costa oeste.
   Nico passou a namorar Brian Jones. E um dia levou a um show um outro namorado, um cara meio tosco de Detroit, um tal de James Osterberg. Ele tinha uma casa chamada Fun House, no mato, vivia lá com uns amigos. Nico foi pra lá e mudou o cabelo de James, lhe deu uns toques sobre atitude, e foi embora sem olhar pra trás. Foi dormir com Jim Morrison.
   O cara virou Iggy Pop e John Cale produziu seu primeiro disco. Iggy era uma besta. Um idiota. Genial.
   Lou Reed se achava o máximo. E por causa disso John Cale se foi. E com Cale se foi todo o ruído. E depois se foi Andy Warhol, e com ele se foi o fascínio chic. Lou ficou mais Dylan. E então, cansado de ser vaiado, de ser agredido, cansado do fracasso, foi pra casa.
   Na Inglaterra um cara metido a ator não sabia se queria ser Brando ou Elvis. Foi levado a New York para conhecer Andy Warhol. Estava doido para encontrar Lou Reed. Reed não lhe deu bola, foi snob com ele. Voltou pra Londres e continuou sendo um fracasso. Ele compunha canções lindas, mas era um tempo em que todo cara novo tinha de seguir o estilo progressivo ou hard rock. E ele, David Bowie, era apenas pop. Mas um pop esquisito, pop feito por quem tinha pretensão, cultura, gosto. E era poeta. David Bowie tentava fazer sucesso sem fazer concessão. E nada.
   Well....Marc Bolan era amigo de Bowie, e Marc abriu um caminho psicodélico. Violão e voz. Até que Tony Visconti insistiu para que ele usasse uma guitarra elétrica e Marc botou o glam nas paradas. Nascia o auge do rock inglês. A ilha nunca mais seria a mesma.
   Mas nesse momento, 1971, em que T.Rex estoura, Bowie ainda era um nada, Lou voltara a morar com os pais e Iggy estava morto para as gravadoras.
   E  então Bowie encontra Tony Visconti. E conhece o novo Jeff Beck, um tal de Mick Ronson...E então Bowie tem a ideia, fazer uma Factory inglesa!!!!!
   E o resto conto depois....

Femme Fatale -The Velvet Underground (Edie Sedgwick )



leia e escreva já!

Pop Art



leia e escreva já!

WHAMMM!....POP ART, BEM VINDO A NOSSO MUNDO!

   Quando no chatérrimo filme de Cronenberg o vampirinho fala sobre Mark Rothko desvenda-se a charada. É assim que Cronenberg se vê: Mark Rothko. Rothko fazia parte do expressionismo abstrato, a corrente mais chique da arte moderna dos anos 50. Pra quem não sabe, seus quadros eram misticos. Ele pintava duas faixas vermelhas sobre um fundo negro. E o cara tinha de ficar horas diante daquilo na esperança de entender e ter uma iluminação. Waaaaalllll....
   Enquanto Rothko era moda, um bando de ingleses estudava arte e descobria que tudo o que eles não queriam ser era Mark Rothko. Era a época da fome. A Inglaterra pós-guerra sofria o racionamento. Pouca comida, pouca energia. Em 1954 o racionamento acabou e o país viveu o maior surto de desenvolvimento da história humana. Imagine que voce vive numa Etiópia e de um dia pra outro voce cai numa Nova York. Qual sua reação? Euforia, otimismo, alegria e uma paixão doida por rótulos, por cores, por abundância, por juventude e sexo. Absoluta confiança no futuro. Eis a POP ART. O último momento alegre da arte.
   Foram apenas quatro anos de euforia. Mas que anos!!!! Entre 1960 e 1964 eles realmente celebraram o mundo. Uniram arte culta com quadrinhos, cinema, tv e propaganda. E atacaram todo o modernismo de Rothko, Pollock e De Kooning.
   Obra fundadora: O QUE TORNA OS LARES DE HOJE TÃO DIFERENTES E TÃO ATRAENTES? Richard Hamilton usa colagem. Um homem sarado, uma esposa sexy. Latas de comida, eletrodomésticos, cartazes, conforto, tv, revistas...a questão é: Pra que sair de casa? Pela primeira vez o mundo vem a sua casa. O melhor do mundo. O quadro é vivo, alegre, celebratório. Torna-se icone. Eduardo Paolozzi, Peter Blake, Pauline Boty. Suas obras são sexy, são jovens. Blake fará a capa de Sgt. Peppers e Hamilton uma série sobre as prisões dos Rolling Stones...Mas estou me antecipando. Quando em 1967 eles fazem esses trabalhos a alegria já se fora...Vamos a América.
   Sem conhecer a obra dos ingleses, ao mesmo tempo, surge a POP ART nos EUA. Com algumas diferenças. Ela já nasce crítica. Explicita desde o começo sua amarga nostalgia. Sim, eles celebram o consumo, o jovem, o mundo da comunicação, mas esse mundo é tingido com a nostalgia de sua infância. Esse traço logo aparece também na Inglaterra. Eles amam a juventude, mas essa juventude é a época já passada de seus 15, 17 anos. A POP ART passa a resgatar os objetos que deveriam ser esquecidos. Mas não o serão.
   Andy Warhol se torna o rei do movimento. Uma frase dele:  A POP ART É GOSTAR DAS COISAS. Pense bem. Parece uma frase boba. Mas pense. O que é ser POP? Amar as coisas. O que é ser Moderno? Odiar as coisas, desconstruir, ou, as ignorar. O POP ama os carros, as cidades, os supermercados, os objetos de consumo, a tv, o rock e os quadrinhos, as roupas, a moda, as revistas. O moderno abomina tudo isso. ( No mnndo de 2012, o moderno tenta unir as duas coisas e acaba no vazio. Ele ama e odeia tudo isso ao mesmo tempo. O POP hoje, gosta das coisas, mas não tem mais uma relação visceral com elas como tinha a POP ART ).
   Outra frase de Andy: NO FUTURO TODOS TERÃO 15 MINUTOS DE FAMA. Essa frase já é de sua fase critica. Todo idiota terá seus 15 minutos. Toda ideia absurda será lei por 15 minutos. Todo dogma durará 15 minutos....é um futuro de horror. Warhol anteviu o futuro/hoje. Postei uma entrevista em que ele e Edie comparecem no talk show de Merv Griffin em 1965. Edie era uma socialite que caiu nos braços da POP ART. Impressiona a atualidade dos dois. Enquanto Merv e etc parecem ser de 1965, Andy e Edie são de 2012. E que pessoas adoráveis eram os dois!!!!!
   E então. por volta de 1965 eles começaram a perceber que a tv trazia morte, guerra e dor para dentro dos lares. Que as drogas matavam. E que a revolução jovem e POP já era. É quando Andy faz sua série sobre a cadeira elétrica ( uma das obras mais assustadoras que já vi ) e Hamilton faz criticas so Vietnã em forma de cartoon. Jasper Johns, Tom Wesselman, David Hockney.... Todos passam a vender muito e a valer muito. Nenhum problema, desde o começo eles diziam em alto e bom som: Queremos vender! Queremos nos comunicar com o povo!!!
   Fato central: a POP ART quer a massa. Eles bradam que a arte do século XX perdeu conexão com a vida. Eles querem ser entendidos. O problema é que tudo aquilo se torna um maneirismo. Tudo passa a ser POP ART.
   Warhol funda a Fábrica, uma usina que fabricará ARTE. Arte é apenas um trabalho braçal. É lá que ele faz cinema ( cinema é só filmar ), faz música ( música é só tocar- Velvet Underground ) e happenings ( uma festa é arte ). Andy faz capas de rock: o da Banana do Velvet e Sticky Fingers dos Stones.
   O The Who usa as blusas de Jasper Johns. Aquele alvo no peito é uma invenção POP ART. Eu sou o alvo: compre-me.
   A POP ART fracassou? Se seu objetivo era o de celebrar, sim. Pois a festa durou apenas quatro anos e depois o que vimos foi uma melancólica repetição inconvincente. Mas eles foram vencedores em conseguir mostrar o quanto o modernismo se tornara velho, estático, morto. Escancararam as portas dos museus e das galerias e exibiram a vitalidade de novos tempos. Ao misturar ALTA ARTE com vulgaridades ( essas vulgaridades eram a tv, as revistas e o cinema ), deram a certidão de nascimento a tudo o que nasceria depois.
   Vejam o meu caso. Eu sofro de nostalgias de idade média e de era vitoriana. E ao mesmo tempo adoro cinema, tv, cartoons, HQ, dvd, internet, esportes, carros.... Moderno e infantil, conservador e além do agora, simbolista e imediatista, sonhador e pessimista...POP afinal.
   Tarantino, os Coen, Wes Anderson, todos são POP ART.
   Cronenberg, Paul Thomas Anderson, Lars, todos são Modernistas.
   O cinema dos POP é colorido. O cinema Modernista é preto e vermelho.
   Uns são elétricos, agitados, com mil ideias e com a vontade de se comunicar.
   O outro é solene, lento, fechado em si, cheio de simbolos e sentidos.
   POP e Moderno. Hamilton e Rothko. O velho embate.
   PS: Eastwood, Allen, Scorsese são clássicos. Todo esse papo pra eles é pura frescura.