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FALEMOS DE CAETANO E DE RITA
Eu não odeio Caetano e Rita. Mas hoje eu sei que eles me odeiam. E isso mudou tudo. --------------- Jung dizia que a individuação acontece quando vemos, inclusive, que nossos ídolos são falíveis. Eles eram apenas imagens-guias, muletas para minorar a dor de uma alma fraturada. Quando nos individuamos não mais precisamos deles. O processo é longo mas aqui no Brasil ele se encerra de modo violento. ------------------ As máscaras caíram nos últimos anos e os ídolos revelaram suas almas sem pudor. A imagem que hoje eles passam possui uma mistura de vaidade ditatorial e indiferença ao diferente. Pior: aquilo que eles chamam de democracia nada mais é que orgulho por comandar. Democrata é quem me segue. Aquele que se recusa a me obedecer não é democrata. ------------------- Diz também Jung que a alma individuada perde muitos dos "amigos" mas em compensação passa a fazer parte da "massa". Nada representa melhor meu estado atual que essa afirmação. Eu tinha dezenas de amigos, mas me via sempre como um ser superior à massa, portanto, fora dela. Hoje tenho apenas 3 ou 4 amigos, mas me vejo e me entendo como parte de uma comunidade planetária, a comunidade do "homem comum". ------------------ Caetano, assim como Rita, Cazuza, Gil, ficaram para trás. Dentro de mim eles vivem em um limbo, um tempo distante, mundo que aceito como parte de meu passado, mas que jamais poderá ser revivido. Olhar para eles é ver tudo que mais odeio no mundo: a aliança com a bandidagem, o relativismo do bem, o desprezo por valores que são eternos, o deboche. --------------- Eles me odeiam e eu sei que esse ódio é a confirmação do meu acerto. --------------- Por fim, li em algum lugar que nós somos aquilo de onde nascemos. Eu sou meu pai, meu avô, meu bisavô e minha mãe. E não há como ser diferente. Pois somos feitos do material, físico e espiritual, dos que nos precederam. O tijolo que nos fez, a pedra que nos sustenta veio da olaria e da pedreira que nos precedeu. A foto postada acima, alguns homens portugueses almoçando em pausa do trabalho, exibe em rostos e em alma a minha formação. Foi um longo caminho para os encontrar e uma árdua batalha para os amar. Me vejo neles. Adeus Cazuza. Voce não deixa a menor saudade.
BEM VINDO AO MUNDO REAL
Conheço críticos que nos anos 80 e 90 diziam que o grande mal da arte brasileira era a subserviência à Caetano Velloso e sua corte. Eles bufavam dizendo que todo novo cantor, banda ou escritor, tinha como ambição máxima receber as bênçãos de Cae e Gil. Diziam que aqui não havia ruptura, fim de ciclo. Que tudo girava em torno da corte baiana.
Hoje esses mesmos críticos estão alinhados com a corte.
Este não é um texto a favor ou contra. Juro que tento apenas olhar e descrever. Alguém tem de abrir um olho. Vamos a descrição.
Quero entender o motivo de tanto ódio. Por que um povo que ignorava Sarney, hoje quer ver morto Bolsonaro. Há algo de psicológico nisso. Há uma doença social. E eu sei, que pelo fato de 99% dos psicólogos sociais serem de esquerda, eles estão analisando a doença de ser Bolsonaro, e ignoram o ódio irracional ao presidente.
Não digo que ele seja bom. Talvez seja menos que razoável. O que me causa espanto é o tamanho do ódio. Eu vi os governos Figueiredo, Sarney, Collor e todos os demais. Nem Collor foi tão odiado. Por que?
Dizem que Bolsonaro é machista. Diria antes hetero ostensivo. Não o vi bater em mulher. Não o vi caçar algum direito feminino. Não o vi em orgias com 5 mulheres pagas. Sarney, Collor e Lula pareciam tão heteros quanto ele. O que seria então?
Dizem que ele é ignorante. Não vai ao teatro e não lê bons livros. Lula não lia nada. Não foi visto em museu ou teatro. Collor só frequentava festas de playboy. Itamar era alegremente bronco. Então onde Bolsonaro peca?
Já ficou claro não é? Ele cometeu o pecado de não beijar a mão de Caetano e Chico. Claro que estou usando símbolos. Collor e Figueiredo não fizeram isso. Mas o bronco Lula era amado porque foi prestar homenagens a eles. Mesmo não sabendo uma letra de Milton de cor.
Quem mais odeia Bolsonaro é quem não suporta o fato novo que acontece aqui e agora: a morte do formador de opinião. Quem o detesta são as pessoas que se vêm ameaçadas pela perda de sua importância intelectual. " Como esse bronco ousa me ignorar?"
O problema não é ele não ler. É ele ignorar quem escreve livros. Lula dava prêmios. Fazia festivais. Artistas são baratos. E Lula é esperto.
Bolsonaro foi eleito, como Trump, sem o apoio de formadores de opinião. E eles, assustados, não o perdoam por isso. Ele jogou na cara deles o quanto hoje eles são irrelevantes. E eles não podem suportar essa novidade.
O Brasil sempre teve duas elites que mandaram como reis e duques: Os ricos e os "letrados". Em terra de miseráveis, quem tem dois tostões é nobre e quem leu Jorge Amado se acha especial. Tanto o rico como o letrado têm na ponta da língua a frase: "Voce sabe com quem está falando? Voce não tem nível para me contradizer".
Bolsonaro e seus eleitores ignoraram os leitores de Chauí. Nem sequer a atacam. Ignoram sua existência. E vivem bem sem ela. Ela então grita.
Para o ego dos formadores de opinião, isso é insuportável.
A Globo ataca frontalmente, e na minha opinião se suicida com isso, ao governo não só por uma questão fiscal. Ela sabe que ele põe a perigo seu trono dourado. Mostra que ela já não dita regras. Lula foi ao Fantástico no dia da eleição. Foi dar uma exclusiva para a rainha do país. Bolsonaro rezou. Numa transmissão mambembe, ele transmitiu uma reza. Foi feio. Tosco. Foi Brasil.
Bolsonaro joga na cara desse povo, os classe média bem educados, esquerdistas no molde Partido Democrata da California, o que é o Brasil. Muito mais que Lula ou Itamar, ele é o tiozão caminhoneiro, o taxista, o guarda no sinal, o empreiteiro, o dono do açougue, o feirante. Lula era o homem do povo para uso de intelectuais culpados, Bolsonaro é o homem do povo que pouco se importa com intelectuais. Ele é absurdamente sincero.
O ódio a Bolsonaro é revelador. Mostra o preconceito das classes educadas, esnobes, egocêntricas, europeizadas e americanizadas , contra o homem comum, banal, simplório. Ele fala o que pensa e se atrapalha porque fala demais. Ele fala de um modo sujo, mal articulado, feio. Isso é motivo para tanto ódio? Não. Se ele pagasse tributo à realeza seria motivo apenas para risos. Como era o caso de Sarney ou de Itamar. O ódio é aquele do ego ferido. É insuportável para quem o sente.
Ele revela que seu curso de sociologia pode nada significar. Que suas leituras sobre Heidegger podem ser apenas masturbação. Que o mundo real pouco se importa com voce.
É claro que eu adoro livros etc etc etc. Mas por Deus! Como é possível tanta crueldade a alguém cujo único pecado é ser um bronco?
Esse ódio é possível a partir do momento em que ele ameaça seu senso de auto importância.
A partir do momento em que ele se elege contra todos os seus palpites.
E expõe, de forma humilhante, que voce não sabe prever, não influi mais e talvez esteja deixando de ser um "nobre leitor" e se tornando apenas mais um na multidão.
Bem Vindo ao mundo real.
Hoje esses mesmos críticos estão alinhados com a corte.
Este não é um texto a favor ou contra. Juro que tento apenas olhar e descrever. Alguém tem de abrir um olho. Vamos a descrição.
Quero entender o motivo de tanto ódio. Por que um povo que ignorava Sarney, hoje quer ver morto Bolsonaro. Há algo de psicológico nisso. Há uma doença social. E eu sei, que pelo fato de 99% dos psicólogos sociais serem de esquerda, eles estão analisando a doença de ser Bolsonaro, e ignoram o ódio irracional ao presidente.
Não digo que ele seja bom. Talvez seja menos que razoável. O que me causa espanto é o tamanho do ódio. Eu vi os governos Figueiredo, Sarney, Collor e todos os demais. Nem Collor foi tão odiado. Por que?
Dizem que Bolsonaro é machista. Diria antes hetero ostensivo. Não o vi bater em mulher. Não o vi caçar algum direito feminino. Não o vi em orgias com 5 mulheres pagas. Sarney, Collor e Lula pareciam tão heteros quanto ele. O que seria então?
Dizem que ele é ignorante. Não vai ao teatro e não lê bons livros. Lula não lia nada. Não foi visto em museu ou teatro. Collor só frequentava festas de playboy. Itamar era alegremente bronco. Então onde Bolsonaro peca?
Já ficou claro não é? Ele cometeu o pecado de não beijar a mão de Caetano e Chico. Claro que estou usando símbolos. Collor e Figueiredo não fizeram isso. Mas o bronco Lula era amado porque foi prestar homenagens a eles. Mesmo não sabendo uma letra de Milton de cor.
Quem mais odeia Bolsonaro é quem não suporta o fato novo que acontece aqui e agora: a morte do formador de opinião. Quem o detesta são as pessoas que se vêm ameaçadas pela perda de sua importância intelectual. " Como esse bronco ousa me ignorar?"
O problema não é ele não ler. É ele ignorar quem escreve livros. Lula dava prêmios. Fazia festivais. Artistas são baratos. E Lula é esperto.
Bolsonaro foi eleito, como Trump, sem o apoio de formadores de opinião. E eles, assustados, não o perdoam por isso. Ele jogou na cara deles o quanto hoje eles são irrelevantes. E eles não podem suportar essa novidade.
O Brasil sempre teve duas elites que mandaram como reis e duques: Os ricos e os "letrados". Em terra de miseráveis, quem tem dois tostões é nobre e quem leu Jorge Amado se acha especial. Tanto o rico como o letrado têm na ponta da língua a frase: "Voce sabe com quem está falando? Voce não tem nível para me contradizer".
Bolsonaro e seus eleitores ignoraram os leitores de Chauí. Nem sequer a atacam. Ignoram sua existência. E vivem bem sem ela. Ela então grita.
Para o ego dos formadores de opinião, isso é insuportável.
A Globo ataca frontalmente, e na minha opinião se suicida com isso, ao governo não só por uma questão fiscal. Ela sabe que ele põe a perigo seu trono dourado. Mostra que ela já não dita regras. Lula foi ao Fantástico no dia da eleição. Foi dar uma exclusiva para a rainha do país. Bolsonaro rezou. Numa transmissão mambembe, ele transmitiu uma reza. Foi feio. Tosco. Foi Brasil.
Bolsonaro joga na cara desse povo, os classe média bem educados, esquerdistas no molde Partido Democrata da California, o que é o Brasil. Muito mais que Lula ou Itamar, ele é o tiozão caminhoneiro, o taxista, o guarda no sinal, o empreiteiro, o dono do açougue, o feirante. Lula era o homem do povo para uso de intelectuais culpados, Bolsonaro é o homem do povo que pouco se importa com intelectuais. Ele é absurdamente sincero.
O ódio a Bolsonaro é revelador. Mostra o preconceito das classes educadas, esnobes, egocêntricas, europeizadas e americanizadas , contra o homem comum, banal, simplório. Ele fala o que pensa e se atrapalha porque fala demais. Ele fala de um modo sujo, mal articulado, feio. Isso é motivo para tanto ódio? Não. Se ele pagasse tributo à realeza seria motivo apenas para risos. Como era o caso de Sarney ou de Itamar. O ódio é aquele do ego ferido. É insuportável para quem o sente.
Ele revela que seu curso de sociologia pode nada significar. Que suas leituras sobre Heidegger podem ser apenas masturbação. Que o mundo real pouco se importa com voce.
É claro que eu adoro livros etc etc etc. Mas por Deus! Como é possível tanta crueldade a alguém cujo único pecado é ser um bronco?
Esse ódio é possível a partir do momento em que ele ameaça seu senso de auto importância.
A partir do momento em que ele se elege contra todos os seus palpites.
E expõe, de forma humilhante, que voce não sabe prever, não influi mais e talvez esteja deixando de ser um "nobre leitor" e se tornando apenas mais um na multidão.
Bem Vindo ao mundo real.
SOBRE BIOGRAFIAS CENSURADAS, BEAGLES E BLOCS PRETOS
Deve ser dificil ter 70 anos.Principalmente quando voce foi símbolo da juventude. Mais dificil ainda deve ser passar mais de 50 anos tomando whisky e jogando bola no sol. Cercado de puxa-sacos. A cabeça do Chico deve estar uma zona. Todo mundo sabe que gosto de Gil e que alguns discos do Caetano acho muito jóia rara. Mas a cabeça deles, por culpa de outros produtos, tipo azeite de dendê, também está pra lá de Marrakesh. E então eles, numa típica confusão que mistura preguiça, medo e amizade, resolvem ouvir o que Roberto Carlos tem a dizer...Qualquer um sabe que Roberto bota Elvis Presley e Michael Jackson no chinelo. Vive em Zanzibar faz tempo. Fique claro, eu adoro Roberto Carlos. Adoro sua voz e algumas múiscas que ele fez lá por 1970 são obras-primas do pop alto nível. Mas ele é um zumbi hoje. E vive num mundo de puxa-sacos e esotéricos freaks também. Eles querem censurar suas biografias? Não sejam tão duros com eles! Ignorem os vovôs. A verdadeira vilã se chama Paula...
Quanto aos beagles...Isso é a marcha da história baby. Não venham me chamar de racista pelo que vou falar. Uso o exemplo dos escravos e esses escravos podem ser brancos e amarelos também. Todos temos antepassados escravos, escravos dos gregos, dos celtas, dos romanos, dos chineses...O que digo é que daqui a cem anos nossos descendentes acharão tão revoltante o modo como tratamos os bichos como achamos a escravidão hoje. É o caminho natural. Irão olhar nossos matadouros com horror e pensarão "Como a gente de 2013 podia aceitar isso?" O cômico, e esperado, é que assim como os escravocatas usavam o motivo econômico como fato que devia manter a escravidão, falavam que libertar os negros deixaria o país falido, os anti-beagles falam que prescindir de bichos atrasaria a ciência. Ora! Pura preguiça! O Brasil, como foi no caso da escravidão, está ainda um século atrasado. Os animais terão direitos reconhecidos. Esse é o futuro, nossos netos irão ver e nos criticarão por nossa demora.
Quanto aos black-blocs, eles são a torcida organizada das ruas. Sujam a moral onde botam as patas.
E é só.
Quanto aos beagles...Isso é a marcha da história baby. Não venham me chamar de racista pelo que vou falar. Uso o exemplo dos escravos e esses escravos podem ser brancos e amarelos também. Todos temos antepassados escravos, escravos dos gregos, dos celtas, dos romanos, dos chineses...O que digo é que daqui a cem anos nossos descendentes acharão tão revoltante o modo como tratamos os bichos como achamos a escravidão hoje. É o caminho natural. Irão olhar nossos matadouros com horror e pensarão "Como a gente de 2013 podia aceitar isso?" O cômico, e esperado, é que assim como os escravocatas usavam o motivo econômico como fato que devia manter a escravidão, falavam que libertar os negros deixaria o país falido, os anti-beagles falam que prescindir de bichos atrasaria a ciência. Ora! Pura preguiça! O Brasil, como foi no caso da escravidão, está ainda um século atrasado. Os animais terão direitos reconhecidos. Esse é o futuro, nossos netos irão ver e nos criticarão por nossa demora.
Quanto aos black-blocs, eles são a torcida organizada das ruas. Sujam a moral onde botam as patas.
E é só.
PERFEITA TRADUÇÃO DO QUE SEJA O DESEJO: A TUA PRESENÇA, FAIXA DO DISCO QUALQUER COISA DE CAETANO VELOSO
É uma batida só. Que se repete e se repete e não muda e não sai. Não se transforma. Bumbo e um toque de violão. A voz. A voz é como um lamento ou uma prece. A voz é uma voz que sabe-se presa do desejo. Porque o desejo prende. E é um não.
Ele fala da presença. Pois o desejo faz da pessoa que se deseja uma presença que a tudo mata. Pois ela está em todo lugar e todo lugar deixa de ser todo lugar. Tudo vira uma única coisa: o desejo.
E a batida cresce e o desejo cresce.
Mas é arte, então o desespero é prece e a canção é quase uma espécie de reza. O desejo absoluto sempre chega a ser religião. E faz dessa negação de si uma confirmação de ser. Contradição.
Uns violinos zumbem. Negra e morena.
Quanto desejo pode um homem sentir?
Uma canção linda mais que bela linda e bela, desejo.
Mas quero falar de mais....
Depois tem Jorge da Capadócia. Que é uma prece de Jorge Ben e que pede proteção.
E tem surpresas: Eleanor Rigby em ritmo de samba.
For No One em ritmo de bossa-nova.
E Lady Madonna como MPB.
Não é homenagem aos Beatles. É pra Paul e pra Tom Jobim. Mostra que a Bossa cabe em tudo. E mais: as 3 ficaram muito, muito boas. For No One chega a ser genial.
Um PS: Minha mãe me disse para minha imensa surpresa que ela adora Seu Jorge. E eu nem sabia que ela sabia quem é o cara! Ela pede uns cds dele. Seu Jorge, devo admitir, sacou a coisa certa. Tudo aquilo que tenho escutado de mpb Seu Jorge misturou. Quem escutar a versão Caetano de Lady Madonna vai entender.
PS 2: Qualquer Coisa foi a primeira canção de MPB que gostei. Tem aquele tipo de rica orquestração que só aqui se fazia. Ela decola e voa. Eu tinha 11 anos. Mas só comprei o disco e fui o entender aos 18.
Sem PS agora: O cara canta muito! Este disco é quase só voz e violão.
É pra ouvir no escuro. E assobiar. Entre 1972 e 1982 Caetano foi infalível.
Tá dito.
Ele fala da presença. Pois o desejo faz da pessoa que se deseja uma presença que a tudo mata. Pois ela está em todo lugar e todo lugar deixa de ser todo lugar. Tudo vira uma única coisa: o desejo.
E a batida cresce e o desejo cresce.
Mas é arte, então o desespero é prece e a canção é quase uma espécie de reza. O desejo absoluto sempre chega a ser religião. E faz dessa negação de si uma confirmação de ser. Contradição.
Uns violinos zumbem. Negra e morena.
Quanto desejo pode um homem sentir?
Uma canção linda mais que bela linda e bela, desejo.
Mas quero falar de mais....
Depois tem Jorge da Capadócia. Que é uma prece de Jorge Ben e que pede proteção.
E tem surpresas: Eleanor Rigby em ritmo de samba.
For No One em ritmo de bossa-nova.
E Lady Madonna como MPB.
Não é homenagem aos Beatles. É pra Paul e pra Tom Jobim. Mostra que a Bossa cabe em tudo. E mais: as 3 ficaram muito, muito boas. For No One chega a ser genial.
Um PS: Minha mãe me disse para minha imensa surpresa que ela adora Seu Jorge. E eu nem sabia que ela sabia quem é o cara! Ela pede uns cds dele. Seu Jorge, devo admitir, sacou a coisa certa. Tudo aquilo que tenho escutado de mpb Seu Jorge misturou. Quem escutar a versão Caetano de Lady Madonna vai entender.
PS 2: Qualquer Coisa foi a primeira canção de MPB que gostei. Tem aquele tipo de rica orquestração que só aqui se fazia. Ela decola e voa. Eu tinha 11 anos. Mas só comprei o disco e fui o entender aos 18.
Sem PS agora: O cara canta muito! Este disco é quase só voz e violão.
É pra ouvir no escuro. E assobiar. Entre 1972 e 1982 Caetano foi infalível.
Tá dito.
OUTRAS PALAVRAS- CAETANO VELOSO, UM MAPA PARA O MAIS SECRETO
Assim como temos um "eu" que se manifesta para o mundo e um outro "eu" que nos é secreto e imutável; um país também tem uma face voltada ao globo e uma outra, íntima e imune ao tempo, que só é compreendida pelos filhos daquela terra. Não existe valor nessas duas faces, nenhuma é mais real ou melhor, ambas existem nessa comunhão volátil entre as duas, uma se comunicando com o tempo e o total, a outra impassível diante do que lhe é exterior. Ao escutar uma das grandes canções ( e são milhares ) de meu país, tomo contato com esse "eu" mais profundo. É como se ao ouvi-las me encontrasse na mais sólida das terras, e ao mesmo tempo no mais profundo e tênue dos sonhos. A música brasileira tem esse duplo poder: é sólida e real, mas ao mesmo tempo jamais parece acabada, pronta, definida, ela sempre mantém sua profunda ambivalência de tempo sem tempo e de verdade que se sonha. Ela não é melhor que o jazz ou mais aguda que o rock, mas ela é mais. É minha cara, é a sua cara, e eu te explico o porque. Mesmo que voce seja desses que acreditam ser "do mundo".
Ao escutar este disco, por exemplo. A gente escuta uma voz que repercute dentro, porque ela é um eco feito por alguém que viu, comeu e ouviu o que a gente viveu. Por mais que tenhamos comido hamburger e pop corn, por mais que tenhamos comprado discos de Led Zeppelin e Sonic Youth, e assistido a HBO e a FOX Life, essa voz que escutamos foi alfabetizada em nossa lingua, adormeceu com a voz de pais que falavam nossa fala e sonhou sonhos brasileiros em lingua brasileira. É um disco feito por alguém que sabe quem é Renato Aragão, Zico, Lula ou Portinari; de alguém que sabe o que é a Serra do Mar, uma chuva de verão e uma menina de bikini azul; é alguém que sabe o que significa ter nascido aqui e chutado uma bola na rua. E por isso, "só" por isso, ele falará direto dentro do seu "eu" mais escondido. Por mais que voce abomine seu sotaque baiano, ou sua pretensão "terceiro mundista", saiba, voce é farinha do mesmo saco. Por mais que voce se esforce, para um inglês voce pronuncia " Tea for Two" como um brasileiro.
Após cursar linguística, minha apreciação sobre este disco mudou radicalmente. Se antes eu amava aquilo que ele "foi" em minha vida, agora descubro o que ele "é" em invenção de palavras, de sentidos e a complexidade inesgotável que mora em seus sons vocálicos. É um tesouro guardado, e o mapa faz-se como canção. Doce. Com percussões delicadas, sempre, e um contra-baixo estilingado que embeleza ao dar ritmo. A canção do Brasil pode ser triste, alegre, angustiada ou sexy, mas jamais é estúpida, tentar encontrar na MPB a agressividade do rock é querer achar num pássaro a alma de um cavalo.
Por quatro anos de amor, Caetano foi meu guia e meu pai de santo. De Aninha, por Marina e até Gigi, foram noites de janela aberta sobre a cama cantando à Lua. Fui tão feliz que hoje até dói lembrar. E é tão raro, eu sei, ter tido tanto assim. Dou graças a minha sorte. Sei bem o que é o amor. Como eu amo esta canção! "Nú com a minha mùsica"... Ela anda como ônibus velho em estradas de poeira lá pros lados de Miracatu. Gingando lento de lá pra cá... Ela é como as janelas dos caboclos nos bananais. O horizonte do mangue e os meninos de bicicleta. E é o céu, o céu que é tudo e que sobe até bem pra mais.
"Nú com a minha música", é como o banho lento- ansioso antes de encontrar o amor.
E a música tem um assobio calmo, um violão lindo e uma percussão que só no Brasil.
A brisa anunciando a chuva, linda como a franjinha de Aninha, o olhar de Marina e a voz de Gigi. Estanca o sangue do tempo e recupera a Lua pra mim. Uma canção que me prepara para sempre amar.
Linda e tão doída. Uma canção que é uma prece, um caminho que vai de alma acima e não cai.
Talvez a gente não mereça mais nada assim...
Culminância de um disco perfeito, calor do meu sangue. Fé de que pode tudo ser.
Ao escutar este disco, por exemplo. A gente escuta uma voz que repercute dentro, porque ela é um eco feito por alguém que viu, comeu e ouviu o que a gente viveu. Por mais que tenhamos comido hamburger e pop corn, por mais que tenhamos comprado discos de Led Zeppelin e Sonic Youth, e assistido a HBO e a FOX Life, essa voz que escutamos foi alfabetizada em nossa lingua, adormeceu com a voz de pais que falavam nossa fala e sonhou sonhos brasileiros em lingua brasileira. É um disco feito por alguém que sabe quem é Renato Aragão, Zico, Lula ou Portinari; de alguém que sabe o que é a Serra do Mar, uma chuva de verão e uma menina de bikini azul; é alguém que sabe o que significa ter nascido aqui e chutado uma bola na rua. E por isso, "só" por isso, ele falará direto dentro do seu "eu" mais escondido. Por mais que voce abomine seu sotaque baiano, ou sua pretensão "terceiro mundista", saiba, voce é farinha do mesmo saco. Por mais que voce se esforce, para um inglês voce pronuncia " Tea for Two" como um brasileiro.
Após cursar linguística, minha apreciação sobre este disco mudou radicalmente. Se antes eu amava aquilo que ele "foi" em minha vida, agora descubro o que ele "é" em invenção de palavras, de sentidos e a complexidade inesgotável que mora em seus sons vocálicos. É um tesouro guardado, e o mapa faz-se como canção. Doce. Com percussões delicadas, sempre, e um contra-baixo estilingado que embeleza ao dar ritmo. A canção do Brasil pode ser triste, alegre, angustiada ou sexy, mas jamais é estúpida, tentar encontrar na MPB a agressividade do rock é querer achar num pássaro a alma de um cavalo.
Por quatro anos de amor, Caetano foi meu guia e meu pai de santo. De Aninha, por Marina e até Gigi, foram noites de janela aberta sobre a cama cantando à Lua. Fui tão feliz que hoje até dói lembrar. E é tão raro, eu sei, ter tido tanto assim. Dou graças a minha sorte. Sei bem o que é o amor. Como eu amo esta canção! "Nú com a minha mùsica"... Ela anda como ônibus velho em estradas de poeira lá pros lados de Miracatu. Gingando lento de lá pra cá... Ela é como as janelas dos caboclos nos bananais. O horizonte do mangue e os meninos de bicicleta. E é o céu, o céu que é tudo e que sobe até bem pra mais.
"Nú com a minha música", é como o banho lento- ansioso antes de encontrar o amor.
E a música tem um assobio calmo, um violão lindo e uma percussão que só no Brasil.
A brisa anunciando a chuva, linda como a franjinha de Aninha, o olhar de Marina e a voz de Gigi. Estanca o sangue do tempo e recupera a Lua pra mim. Uma canção que me prepara para sempre amar.
Linda e tão doída. Uma canção que é uma prece, um caminho que vai de alma acima e não cai.
Talvez a gente não mereça mais nada assim...
Culminância de um disco perfeito, calor do meu sangue. Fé de que pode tudo ser.
CINEMA TRANSCENDENTAL- CAETANO VELOSO ( O REINO DE EROS )
Sempre que estou feliz estou em sentimento erótico e sempre que me sinto em Eros ouço música de meu país. Pretensioso? O fato é que o ressentimento baixa de grau e então me permito ser o que sou desde sempre. Voce sabe, por aqui ninguém é mais vítima de ressentimento que Caetano. Tem uns criticos de rock que adoram falar mal dele ( crítico de rock falando de Caetano....é como crítico de cinema falar de teatro ou de pintura palpitar sobre arquitetura. O que um cara que opina sobre Rem e Clash tem a ver com Caetano? ). Ressentimento. Caetano canta muito, fala muito, sabe muito e pior, parece ser feliz. Imperdoável. Lembro que fui adolescente ressentido. Ateu, revoltado, anti-tudo, nada me irritava mais que aqueles bicho-grilos do Objetivo que amavam Caetano. Asquerosos. O que não queria perceber é que o que me irritava é que eles tinham tudo o que eu queria e não tinha. Parecia que eles estavam sempre em paz, rindo, parecia que rolava muito sexo, droga, folias e festas. Estavam sempre cantando, beijando, meio pelados e cheios de sol. Eu me ressentia e criava uma raiva anti-erótica sombria e mortal. Isso tudo mudou quando amei de verdade pela primeira vez e descobri o sol, o suor, eros e a felicidade. Este disco veio junto. Entendi. Não sou brasileiro. O Brasil não é meu país. Eu sou do Brasil. Por mais que engula litros de Henry James e Roxy Music, eu sou daqui. Sem ressentimentos, please.
As letras. Gringos diziam que era incompreensível como um país de iletrados podia ter uma música popular de letras tão sofisticadas. Tão profundas. É provável que essas letras ainda sejam escritas, mas não são mais populares. Regredimos. O ressentimento vingou-se de sua ignorância. Oração ao Tempo é filosofia profunda em forma de mpb. Caetano diz ter recebido toda a letra de seu inconsciente enquanto fazia a barba. Não vou citar aqui trecho nenhum da letra, seria injusto não citá-la inteira. Não conheço letra popular mais complexa.
O disco é todo solar. É pele bronzeada com gota de suor. Areia voando e cheiro de mar. Mas é todo voltado pra dentro, é auto-análise, é divagação aprofundada. Pretensioso? Qual o pecado desde que exista prazer? Uma canção de Jorge Mautner: O Vampiro. Eu amava Aninha e a ouvia todo dia. Feliz mas chorando de amor que crescia sem parar. A canção diz tudo. Não há melhor letra sobre a dor de amar e amar cada vez mais. " Voce é o estandarte da agonia/ Que tem a lua e o sol do meio dia". Só voz e violão e solidão. A voz dele parece cantar para mim e só pra mim. Outra canção é Elegia, baseada em John Donne. Erótica. Tropical. Feliz, muito feliz.
As mais belas rimas estão em Trilhos Urbanos. Todas as palavras se chamam umas às outra e andam como vento em ruas de verão. É uma aula completa sobre ritmo e poética. Tivesse nascido vinte anos antes e Caetano teria sido nosso melhor poeta "de livro". Mas ele cresceu com Caymmi, João e samba e deu no que deu. Além da voz, a voz que nunca desafina.
Vale dizer que ao escutar tudo isto durante meses todos os dias aos 15 anos o disco gravou-se em mim. E o reencontrando hoje, impregnado neste dia, de Bergson e de uma primavera que promete, percebo ser este disco mais "eu" que tantos outros eus que conheci em discos e livros desde então. Graças aos céus conheci este mundo a tempo. Nas faixas deste disco mora não só meu melhor lado, como brilha ao sol meu mais feliz mundo.
COMPOSITOR DE DESTINOS/ TAMBOR DE TODOS OS RITMOS/ TEMPO TEMPO TEMPO TEMPO/ ENTRO NUM ACORDO CONTIGO...
As letras. Gringos diziam que era incompreensível como um país de iletrados podia ter uma música popular de letras tão sofisticadas. Tão profundas. É provável que essas letras ainda sejam escritas, mas não são mais populares. Regredimos. O ressentimento vingou-se de sua ignorância. Oração ao Tempo é filosofia profunda em forma de mpb. Caetano diz ter recebido toda a letra de seu inconsciente enquanto fazia a barba. Não vou citar aqui trecho nenhum da letra, seria injusto não citá-la inteira. Não conheço letra popular mais complexa.
O disco é todo solar. É pele bronzeada com gota de suor. Areia voando e cheiro de mar. Mas é todo voltado pra dentro, é auto-análise, é divagação aprofundada. Pretensioso? Qual o pecado desde que exista prazer? Uma canção de Jorge Mautner: O Vampiro. Eu amava Aninha e a ouvia todo dia. Feliz mas chorando de amor que crescia sem parar. A canção diz tudo. Não há melhor letra sobre a dor de amar e amar cada vez mais. " Voce é o estandarte da agonia/ Que tem a lua e o sol do meio dia". Só voz e violão e solidão. A voz dele parece cantar para mim e só pra mim. Outra canção é Elegia, baseada em John Donne. Erótica. Tropical. Feliz, muito feliz.
As mais belas rimas estão em Trilhos Urbanos. Todas as palavras se chamam umas às outra e andam como vento em ruas de verão. É uma aula completa sobre ritmo e poética. Tivesse nascido vinte anos antes e Caetano teria sido nosso melhor poeta "de livro". Mas ele cresceu com Caymmi, João e samba e deu no que deu. Além da voz, a voz que nunca desafina.
Vale dizer que ao escutar tudo isto durante meses todos os dias aos 15 anos o disco gravou-se em mim. E o reencontrando hoje, impregnado neste dia, de Bergson e de uma primavera que promete, percebo ser este disco mais "eu" que tantos outros eus que conheci em discos e livros desde então. Graças aos céus conheci este mundo a tempo. Nas faixas deste disco mora não só meu melhor lado, como brilha ao sol meu mais feliz mundo.
COMPOSITOR DE DESTINOS/ TAMBOR DE TODOS OS RITMOS/ TEMPO TEMPO TEMPO TEMPO/ ENTRO NUM ACORDO CONTIGO...
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