O PRELÚDIO- WILLIAM WORDSWORTH. VIAGEM, CRESCIMENTO E REVOLUÇÃO.

   Se Yeats é o poeta que melhor expressa meu intelecto, então Wordsworth é aquele que fala dos meus olhos. Este poeta, símbolo maior do romantismo, escreveu na virada do século XVIII para o XIX aquilo que meus olhos percebem hoje. Ele olhava. Toda sua poesia é uma grande observação sobre as coisas. E a maneira como ele enxerga é "grande".
  Wordsworth nasceu na região dos lagos, o norte da Inglaterra. Fascinado por tudo o que viu desde cedo, ele passou sua longa vida recordando cenas, descrevendo paisagens, desnudando observações. Das várias ideias sublimes que o poeta teve, talvez a maior seja a de que a inspiração vem da memória e que a impotência criativa pode ser curada ao se relembrar um momento de epifania. Wordsworth nunca chega a ser místico, mas a alma das coisas está sempre presente.
  Nesta obra, longa e colorida, ele, como é seu hábito, caminha. Percorre o norte, mas também anda pelos Alpes, pela França, Londres e Paris. Devemos lembrar que é exatamente nessa época que é instituído o turismo. Wordsworth foi dos primeiros, senão o primeiro, a escrever sobre os Alpes como lugar de lazer, de prazer, de fruição. Depois ele anda pela França e descreve Paris, a cidade em tempos de revolução. O poeta fala do novo tempo, da liberdade, das ruas e das pessoas simples. Uma de suas várias fés e a de que o povo simples está muito mais perto da verdade que os letrados catedráticos. Nisso Wordsworth é profundamente democrático, e assim podemos entender porque Whitman é seu discípulo. Como o inglês mais velho, o americano caminha, ama a estrada e o povo, a liberdade. As diferenças são aquelas de país e de geração: Whitman ama a ideia de democracia, Wordsworth ama a democracia como modo de vida; Whitman viaja para ver gente, Wordsworth viaja para encontrar a verdade; o americano se entrega às pessoas, Wordsworth se dá a paisagem. São irmãos. O americano na versão protestante, da exaltação ao modo do púlpito e o inglês ao modo discreto, a reserva do homem do senso-comum.
  O poema caminha também como uma quase auto-biografia. Ele fala da escola, da vida livre nos campos, das viagens e da maturidade. Reporta a revolução francesa, e também a industrialização de Londres. Se perde na metrópole, vê os tipos, os personagens, volta a sua vida interior, perde a inspiração, a recupera.
  Diário íntimo, relato de excursão a pé, documento histórico. Esta obra, longa e clara, é um dos tesouros do mundo. Ler é um prazer.