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ALBERT FINNEY E ALAN BATES
Talvez seja a água cheia de ferrugem? Talvez a fome? Por Deus! O que havia na Inglaterra que produziu atores como Finney e Bates? Vejam o que ambos fazem nos filmes do quais falo abaixo! O desejo contido de Alan Bates, a vaidade sem freio de Finney!!!! As falas ditas com aparente naturalidade, mas ao mesmo tempo com o mais refinado apuro! Essa geração que cresceu nos bombardeios dos alemães....uma pena estarem partindo deste mundo....Havia uma mistura de grande tradição, aventura, medo, fome, disciplina, que deu à eles esse talento para ser POP e erudito, banal e sofisticados, tudo ao mesmo tempo.
Veja!
A BELEZA DENTRO DA REALIDADE: A NEW WAVE INGLESA NO CINEMA.
Aqui no Brasil a cultura francesa sempre mandou. Hoje, 2020, a americana tem seu poder, mas em lugares como a USP quem manda é ainda a França. Quando voce pega a lista de artigos a serem lidos no semestre, 70% são de autores franceses. O resto é dividio por russos e americanos. Ingleses quase não há. Por isso herdamos o desprezo, aqui absoluto, ao bom senso e a praticidade. Amamos complicar. Amamos leis. Amamos o selo de aprovação. -------------------------------------- Se em 1959 a Nouvelle Vague teve início, em 1958 começou a New Wave inglesa. Críticos como Godard e Truffaut nunca cansaram de criticar o cinema inglês. Pegamos essa opinião de carona. Nossos críticos da época, e nossos novos diretores, nada viam de novo no cinema britânico de então. Preferiam seguir Godard e às vezes o neo realismo italiano. Pena. Os filmes ingleses seriam perfeitos se usados como influência sobre o cinema paulista, por exemplo. Walter Hugo Khoury imitava Bergman e Antonioni em 1963. Seria muito bom se alguém imitasse John Schlesinger ou Tony Richardson. Mas não rolou. -------------------------------------------------- O cinema inglês sempre foi brilhante. Mas, diziam alguns, era um cinema que só tinha olhos para a classe média e para as cidades do sul. Ainda hoje percebemos isso. Quando se fala em cinema inglês se pensa em mais um filme baseado em Jane Austen ou Henry James. Mais um Shakespeare. Mais uma biografia de alguma rainha. Ou mais um Churchill na tela. Históricos, sempre filmes históricos. Quando não, são classe média. Filmes sobre um jovem publicitário ou uma jovem estilista, um morador do Soho ou de Chelsea. E mesmo quando fazem algo sobre crime ou drogas, veja bem, é algo sobre crime e drogas e não sobre a vida comum de gente nada especial. Não se faz nada sobre o povo real. Os 80% que trabalham nos pubs, fábricas e taxis. Somente Ken Loach e Mike Leigh têm obras sobre esse povo. Nas séries de TV nada é muito diferente. Downtown Abbey é cinema inglês dos anos 50. ---------------------------------------------------------- No Brasil não é diferente. Voce verá muito filme sobre gente pobre. Mas apenas sobre traficantes, travestis ou a favelada cômica, a Dona Jura do pedaço. Preconceito terrível: o pobre só importa quando se pode rir dele. Ou quando ele é marginal. Fora isso, os 90% restantes são irrelevantes. Não existem para os bacanas que fazem cinema. ---------------------------------------- Na Inglaterra era assim em 1957. Pobres só quando cômicos. ------------------------------------------------ Carol Reed. Michael Powell. Os filmes da Ealing Studios. Na Inglaterra dos anos 40 e 50 foram feitos alguns dos melhores filmes da história. David Lean. Hitchcock. Mas, é fato, são filmes hsitóricos ou policiais, filmes de fantasia ou sobre as dores dos muito ricos. Todos têm sotaque da BBC. Todos são very, very english. --------------------------------------------------------- Então surge a new wave. E ontem termino de ver 4 filmes do movimento. LOOK BACK IN ANGER. É a peça de Joe Osborne. O texto sobre um jovem em revolta contra tudo. Richard Burton passa o filme todo exalando ódio. O teatro dos angry young man. TUDO COMEÇOU NUM SÁBADO. De Karel Reisz. Albert Finney como o operário que não admite ser menos que um líder e um sedutor. Ele não ri. Ele tem desejo e só desejo. A KIND OF LOVING, o melhor dos quatro filmes, Alan Bates como o educado e muito jovem trabalhador de futuro, que vê sua vida mudar por causa de uma gravidez. THE ENTERTAINER, de Tony Richardson. Laurence Olivier como um ator passado, ridículo, sem talento, que insiste em não mudar. ----------------------------------------------------------------- A tábua de passar roupa. Quando a peça de Joe Osborne estreou foi um choque. No palco, no centro, apenas uma tábua de passar roupa e uma cadeira. O espetáculo consistia em um casal se agredindo. --------------------------------------------------------------------------------- Que Inglaterra era essa? Mal se entende o que Albert Finney fala!!! TUDO COMEÇOU NUM SÁBADO se passa em Nottingham. E a fala de Finney é a de lá. KIND OF LOVING é feito em Bolton. E a vida no norte, e no país norte é tudo que fica acima de Londres, é outra. -------------------------------------------------------- Nos extras um crítico diz que só se pode entender bandas como Smiths ou Joy Division, se olhar-se esses filmes. Morrissey fez todo o primeiro album de sua banda baseado em apenas um filme, A TASTE OF HONEY, e todas as capas e clips remetem ao norte do país. Segundo esse crítico, a cultura do norte, de Manchester, Liverpool, Newcastle, Bristol, Hull, deu origem à toda raiva e ansiedade da onda pop dos anos 60-70 e 80. A Inglaterra que se vê nesses filmes, cheia de fuligem, suja, pobre, repleta de crianças, perdurou até os anos 90. Quem tem 50 anos ou mais viveu essa cultura new wave. A onda do trabalhador que quer se divertir, que briga na rua, que exige respeito, que deseja coisas e não para de arrumar encrenca. E se deprime por não conseguir. A poesia desses filmes. O crítico fala da beleza que irrompe insuspetia dessas imagens. E termino falando disso. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Eu cresci anglófilo. Não sei o motivo. Quando brincava de soldado, aos 6, 7 anos, eu era sempre um soldado inglês, nunca americano e nunca um cowboy. Talvez tenha sido a beleza da bandeira. Ou os filmes de piratas. Não sei. O rock não foi, pois eu amava os Monkees e sabia que eram americanos. Talvez tenha sido o Joe 90? Não sei. ---------------------------------- Quando comecei a ver filmes de adultos, foi natural me apaixonar pelos filmes ingleses. E o que eu mais gostava é que achava a paisagem dos filmes parecida com aquela onde eu vivia. Não eram as calçadas largas de Los Angeles nem os prédios de New York, não era a classe média rica da Feiticeira ou de Jeannie. Nos filmes ingleses a paisagem era a dos bandos de crianças com nariz sujo. As cozinhas entupidas de caixas, e roupas e panelas sem lavar. As ruas cinzentas, estreitas, acanhadas e os imensos terrenos vazios ocupados por tijolos, mato, ratos, latas e muita lama. As camas parecem molhadas e os lençois usados demais. Banheiro não há. Se lavam na pia da cozinha. TV, quando existe, está no canto, na sala que serve como cozinha e lavanderia. Todos falam alto. Todos gritam. Voce sente o cheiro: suor. Meias sujas. Peixe frito. Muito cigarro. Nos pubs, apertados, eles bebem cerveja preta e gritam muito. Se ofendem. Apostam. Sonham. O sexo nunca é bom como foi pensado. As mulheres são feias. Frias. Sofridas. E mesmo assim, há beleza e vitalidade em tudo. As paisagens são de terrificante beleza. Wordsworth revivido. --------------------------------------------------------- Escrevi várias vezes que não há arte sem pobreza. É a fome o combustível da criação. Após os anos 90, quando finalmente toda ruína da segunda guerra foi reparada e a lembrança da fome morreu, a Inglaterra se tornou esse país meio frouxo que é hoje. Somente o imigrante tem ainda alguma vitalidade. Porque ele lembra da pobreza de seu país de origem. Ver esses filmes é ver um mundo que não existe mais.
PETER LORRE- OKJA- MALICK- JERRY LEWIS
CONVENÇÃO DAS BRUXAS de Nicolas Roeg com Anjelica Huston e Mai Zetterling.
Jim Henson, o gênio por trás dos Muppets, produziu este horror juvenil e para dirigir chamou Roeg, o diretor de Inverno de Sangue em Veneza. E funciona. Em clima de fábula, se conta a história de um garoto que se hospeda em hotel que está cheio de bruxas. Passou muito na Sessão da Tarde e é um bom filme. Tem clima, tem boa trilha sonora e ótimos atores ( Mr. Bean faz o gerente ).
REI ARTHUR de Guy Ritchie com Jude Law e Charlie Hunnam.
Guy dá uma super bola fora. Faz com Arthur o que fez com Holmes e dessa vez fala sozinho, este filme foi e é ainda o fiasco do ano. Começa com uma guerra sem graça, então vemos a Londres de 800 DC como um tipo de Londres de 2000, só que mais suja. Arthur é uma ex moleque de rua, um tipo de "transpotting" medieval. E Guy enche o filme de efeitos espertos tipo "Canos Fumegantes". Voce sente asco. Ele tira de Arthur todo o aspecto de magia e de lenda e bota no lugar o clima de modernismo, já demodée, de acid party 1998. Um absurdo lixo.
OKJA de Bon Joon Ho com Tilda Swinton, Paul Dano, Jake Gyllenhaal e An Seo Hyun.
Que linda surpresa! Brad Pitt produz este filme Netflix com coreanos. Ele começa parecendo ser banal, mas então se transforma em algo surpreendente. Uma corporação desenvolve um tipo de porco gigante. E dá espécimes para famílias os criarem. Dez anos depois, eles os querem de volta, mas uma menina não quer se separar dele. Ela o segue até NY. O filme, belo, tem humor e tem drama em doses fartas. E nunca parece tolo ou fofo. Há até uma sátira aos ativistas verdes. Os últimos dez minutos do filme são dignos de uma obra-prima. Poucos filmes atuais sabem encerrar sua história de uma maneira tão sublime. Lindo filme. Veja.
O ZOOLÓGICO DE VARSÓVIA de Niki Caro com Jessica Chastain e Daniel Bruhl.
Um dos mais chatos filmes sobre a guerra já feitos. Jessica é dono de um zoo e a guerra detona todos os bichos. Ela usa o zoo então, para esconder judeus. Dizem que é uma história real. O filme é tão mal feito que parece uma anedota sem graça.
UM GOLPE DAS ARÁBIAS de Jerry Paris com Jerry Lewis e Terry Thomas.
Um dos grandes fracassos de Jerry Lewis. Tenta ser um filme espertinho, daqueles tipos Gambit, estilo que se fazia muito por volta de 1970. Mas não tem bom roteiro e Jerry está impregnado de vaidade. A grande armadilha que destrói qualquer humorista: a vaidade.
SCROOGE de Ronald Neame com Albert Finney.
Adaptação musical de Dickens que dá a Finney, um ator excelente, sua pior atuação. O filme é chato. Muito chato.
CRIME E CASTIGO de Josef Von Sternberg com Peter Lorre, Edward Arnold e Marian Marsh.
Não é nada mal. Tem o clima de horror de Dostoievski e Lorre é um super ator. Impressiona a beleza de Marian Marsh. Talvez seja o menos Sternberg em estilo e fotografia dos filmes de Sternberg.
SONG TO SONG de Terrence Malick com Rooney Mara, Ryan Gosling, Michael Fassbender, Natalie Portman, Patti Smith,
Malick erra em tudo aqui. As falas são banais, as cenas se repetem, a fotografia é bonita mas nada interessante, a história não anda. O estilo dele tem essas características, mas seus filmes são bons quando ele tem algo para revelar. Aqui nada é revelado. O filme fala sobre o mundo vazio de gente que tem tudo. Quase insuportável.
Jim Henson, o gênio por trás dos Muppets, produziu este horror juvenil e para dirigir chamou Roeg, o diretor de Inverno de Sangue em Veneza. E funciona. Em clima de fábula, se conta a história de um garoto que se hospeda em hotel que está cheio de bruxas. Passou muito na Sessão da Tarde e é um bom filme. Tem clima, tem boa trilha sonora e ótimos atores ( Mr. Bean faz o gerente ).
REI ARTHUR de Guy Ritchie com Jude Law e Charlie Hunnam.
Guy dá uma super bola fora. Faz com Arthur o que fez com Holmes e dessa vez fala sozinho, este filme foi e é ainda o fiasco do ano. Começa com uma guerra sem graça, então vemos a Londres de 800 DC como um tipo de Londres de 2000, só que mais suja. Arthur é uma ex moleque de rua, um tipo de "transpotting" medieval. E Guy enche o filme de efeitos espertos tipo "Canos Fumegantes". Voce sente asco. Ele tira de Arthur todo o aspecto de magia e de lenda e bota no lugar o clima de modernismo, já demodée, de acid party 1998. Um absurdo lixo.
OKJA de Bon Joon Ho com Tilda Swinton, Paul Dano, Jake Gyllenhaal e An Seo Hyun.
Que linda surpresa! Brad Pitt produz este filme Netflix com coreanos. Ele começa parecendo ser banal, mas então se transforma em algo surpreendente. Uma corporação desenvolve um tipo de porco gigante. E dá espécimes para famílias os criarem. Dez anos depois, eles os querem de volta, mas uma menina não quer se separar dele. Ela o segue até NY. O filme, belo, tem humor e tem drama em doses fartas. E nunca parece tolo ou fofo. Há até uma sátira aos ativistas verdes. Os últimos dez minutos do filme são dignos de uma obra-prima. Poucos filmes atuais sabem encerrar sua história de uma maneira tão sublime. Lindo filme. Veja.
O ZOOLÓGICO DE VARSÓVIA de Niki Caro com Jessica Chastain e Daniel Bruhl.
Um dos mais chatos filmes sobre a guerra já feitos. Jessica é dono de um zoo e a guerra detona todos os bichos. Ela usa o zoo então, para esconder judeus. Dizem que é uma história real. O filme é tão mal feito que parece uma anedota sem graça.
UM GOLPE DAS ARÁBIAS de Jerry Paris com Jerry Lewis e Terry Thomas.
Um dos grandes fracassos de Jerry Lewis. Tenta ser um filme espertinho, daqueles tipos Gambit, estilo que se fazia muito por volta de 1970. Mas não tem bom roteiro e Jerry está impregnado de vaidade. A grande armadilha que destrói qualquer humorista: a vaidade.
SCROOGE de Ronald Neame com Albert Finney.
Adaptação musical de Dickens que dá a Finney, um ator excelente, sua pior atuação. O filme é chato. Muito chato.
CRIME E CASTIGO de Josef Von Sternberg com Peter Lorre, Edward Arnold e Marian Marsh.
Não é nada mal. Tem o clima de horror de Dostoievski e Lorre é um super ator. Impressiona a beleza de Marian Marsh. Talvez seja o menos Sternberg em estilo e fotografia dos filmes de Sternberg.
SONG TO SONG de Terrence Malick com Rooney Mara, Ryan Gosling, Michael Fassbender, Natalie Portman, Patti Smith,
Malick erra em tudo aqui. As falas são banais, as cenas se repetem, a fotografia é bonita mas nada interessante, a história não anda. O estilo dele tem essas características, mas seus filmes são bons quando ele tem algo para revelar. Aqui nada é revelado. O filme fala sobre o mundo vazio de gente que tem tudo. Quase insuportável.
O MEU ESPORTE : CAMINHAR POR ENTRE OS TUMULOS DAQUELES QUE FIZERAM ESPORTES POR TODA A VIDA
""o meu esporte favorito é caminhar entre os túmulos daqueles que passaram a vida fazendo esportes". Essa frase é de Peter O`Toole e eu não a conhecia. Leio hoje, na nova Isto É, um texto muito bom de Giron sobre Peter.
Conheço Giron desde 1987. Dele foi o melhor texto sobre Bryan Ferry escrito no Brasil. Na Folha. A Ilustrada de Suzuki.
"Produtores de cinema de Hollywood são todos porcos. Nunca conheci um que não fosse." Essa frase deve explicar as oito vezes em que Peter perdeu o Oscar. Well, ela condiz com aquilo que Peter dizia ser ( e era ), um esquerdista radical que amava tanto os grandes sucessos como as vaias apaixonadas. Teve logo os dois. Aplausos pelo Hamlet que fez em Londres, dirigido por Olivier, em 1964, e vaias em seguida, por um texto de vanguarda, feito em 65. Tomates voaram ao palco e o acertaram. De verdade!
Giron descreve maravilhosamente o modo como Peter atuava. Vendo-o logo sentiamos sua fragilidade. Apesar de alto, ele era quase feminino. Noel Coward chamou seu Lawrence da Arabia de Nancy da Arabia. Para fazer o papel, eu desconhecia isso, ele passou meses vivendo com beduinos.
Mas tudo mudava quando ele abria a boca e atuava. Era viril, mais que isso, agressivo. Gestos amplos, falas altas, quase a histeria. Giron atenta para os olhos de Peter. Belos.
Fiel a sua classe social e sua Irlanda natal, Peter sempre uniu esse seu espirito etereo com a agressividade da anarquia. Foi fiel a si-mesmo. Tinha de ser posto em geladeira. E nunca deixou de provocar.
Queria ser jornalista quando jovem. Aos 15 anos estava empregado. Mas foi ver Michael Redgrave em Lear e isso mudou sua vida. Quis ser ator! Na escola dramatica conheceu Alan Bates e Albert Finney. A melhor das turmas desde 1925. E os excessos vieram, bebida, mulheres, brigas.
Hollywood o queria como um novo Cary Grant. Ele foi ser Peter O`Toole.
Como disse Giron, sossego post-morten. Peter se cala agora.
Foi grande em tudo. Nunca no meio, nunca o banal.
Na mesma revista...
Quem viu o filme CADA UM FAZ O QUE QUER ( FIVE EASY PIECES ), de Bob Rafelson, sabe o que Belchior sentiu. Como Jack Nicholson, como Larry em O Fio da Navalha, ele se desvencilha das coisas da vida e acha seu mundo.
Em tempos mais liberais seria tudo bem aceito e nada misterioso. Em 2013 se torna o graaaande misterio!
Deu?
Conheço Giron desde 1987. Dele foi o melhor texto sobre Bryan Ferry escrito no Brasil. Na Folha. A Ilustrada de Suzuki.
"Produtores de cinema de Hollywood são todos porcos. Nunca conheci um que não fosse." Essa frase deve explicar as oito vezes em que Peter perdeu o Oscar. Well, ela condiz com aquilo que Peter dizia ser ( e era ), um esquerdista radical que amava tanto os grandes sucessos como as vaias apaixonadas. Teve logo os dois. Aplausos pelo Hamlet que fez em Londres, dirigido por Olivier, em 1964, e vaias em seguida, por um texto de vanguarda, feito em 65. Tomates voaram ao palco e o acertaram. De verdade!
Giron descreve maravilhosamente o modo como Peter atuava. Vendo-o logo sentiamos sua fragilidade. Apesar de alto, ele era quase feminino. Noel Coward chamou seu Lawrence da Arabia de Nancy da Arabia. Para fazer o papel, eu desconhecia isso, ele passou meses vivendo com beduinos.
Mas tudo mudava quando ele abria a boca e atuava. Era viril, mais que isso, agressivo. Gestos amplos, falas altas, quase a histeria. Giron atenta para os olhos de Peter. Belos.
Fiel a sua classe social e sua Irlanda natal, Peter sempre uniu esse seu espirito etereo com a agressividade da anarquia. Foi fiel a si-mesmo. Tinha de ser posto em geladeira. E nunca deixou de provocar.
Queria ser jornalista quando jovem. Aos 15 anos estava empregado. Mas foi ver Michael Redgrave em Lear e isso mudou sua vida. Quis ser ator! Na escola dramatica conheceu Alan Bates e Albert Finney. A melhor das turmas desde 1925. E os excessos vieram, bebida, mulheres, brigas.
Hollywood o queria como um novo Cary Grant. Ele foi ser Peter O`Toole.
Como disse Giron, sossego post-morten. Peter se cala agora.
Foi grande em tudo. Nunca no meio, nunca o banal.
Na mesma revista...
Quem viu o filme CADA UM FAZ O QUE QUER ( FIVE EASY PIECES ), de Bob Rafelson, sabe o que Belchior sentiu. Como Jack Nicholson, como Larry em O Fio da Navalha, ele se desvencilha das coisas da vida e acha seu mundo.
Em tempos mais liberais seria tudo bem aceito e nada misterioso. Em 2013 se torna o graaaande misterio!
Deu?
ALDRICH/ MILESTONE/ DONEN/ AUDREY/ OLIVIER/ OZON/ THOR
A MORTE NUM BEIJO de Robert Aldrich
Superestimado. Há quem o considere genial, histórico, moderno etc. Pra mim ele é um noir confuso, maneiroso, fake. Os atores parecem não levar a sério a história sobre material suspeito roubado. O detetive é Mickey Spillane, mas tudo parece muito forçado e até mesmo tolo. Nota 1. ( tem boa foto ).
ANJOS DA BROADWAY de Ben Hecht com Douglas Fairbanks Jr e Rita Hayworth
É vendido como noir, mas é um drama orignal, cruel, pessimista, dirigido pelo bom escritor e grande roteirista Hecht. A chuva pontua a história sobre um malandro de terceira que tenta dar um golpe em jogo de poker. Um homem tolo e falido e uma prostituta se juntam a ele. O filme é cheio de erros, não tem ritmo, mas é corajoso e original. Parece feito muito depois de seu tempo, tem ar de filme dos anos 70. Nota 5.
SEM NOVIDADE NO FRONT de Lewis Milestone
Só vi dois filmes que mostram realmente o absurdo da guerra: este e Glória Feita de Sangue, de Kubrick. Existem outros grandes filmes de guerra, mas todos eles têm heróis, ou usam humor, ou enfeitam estéticamente o que é apenas horror. Aqui há o inferno. As cenas de batalha são como documentário, os homens parecem realmente com medo, parece que morrem de verdade. É um clássico que nada perdeu com o tempo. Talvez hoje até pareça melhor. Nota DEZ.
MÉDICA, BONITA E SOLTEIRA de Richard Quine com Natalie Wood, Tony Curtis, Henry Fonda, Lauren Bacall
Com esse elenco o filme consegue ser vazio. Fala maliciosamente sobre revista masculina que tenta desmoralizar psicóloga que escreve sobre sexo. Curtis é o repórter que tenta a seduzir, Natalie a tal autora. Fonda faz um vizinho casado e Bacall é sua esposa. O humor era "apimentado", hoje parece apenas bobo. Tipo de filme irremediavelmente velho. Nota 3.
UM CAMINHO PARA DOIS de Stanley Donen com Albert Finney e Audrey Hepburn
Com roteiro de Frederic Raphael, este é realmente um filme ambicioso. Mostra a vida de um casal em vários momentos. Todos são intercalados, sem aviso nenhum vamos do inicio ao fim, do meio ao inicio, do meio ao fim de novo. O que une esses episódios é o fato de todos se passarem em estradas da Europa. Ela o conhece como mochileiro na França, e o filme mostra suas outras viagens, no final já ricos e entediados. Há algo de muito doloroso no filme, apesar do toque leve de Donen. Finney está agressivo demais, e Audrey muito passiva, o casal tinha de naufragar. Donen usa técnicas de flash-back à nouvelle vague, não parece o mesmo diretor de Cantando na Chuva. O filme é bastante insatisfatório, mas longe de ser ruim. Nota 5.
REI LEAR de Michael Elliott com Laurence Olivier, John Hurt, Diana Rigg e Colin Blakely
Como filme ( na verdade é tele-teatro ) é ok. Os cenários são pequenos e a imagem de tv, pobre. Mas o texto de Shakespeare é não só respeitado como bem interpretado. É um filme-peça que nos arrasa. A dor se acumula, os erros se atropelam. A maldade perde, mas o bem nada ganha. Um apocalipse! Olivier dá majestade a seu Lear, ele é tolo, egoísta, cego, mas é também um Rei. Qualquer humano interessado em linguagem, texto e sentido deve assistir. Nota DEZ.
POTICHE de François Ozon com Catherine Deneuve e Gerard Depardieu
Esposa, em 1977, tem de assumir o controle dos negócios da familia quando o marido é afastado. Depois ele volta. Depardieu é um deputado de esquerda. O filme deveria ser engraçado. Não é. Ozon faz um festival de cenas flácidas, bobas, vazias, até mesmo desagradáveis em sua inabilidade. Roteiro sem porque, seria apenas uma brincadeira? Um modo de Ozon poder usar cenários e roupas de 1977? Nota Zero.
A COR DA ROMÃ de Sergei Paradjanov
Um dos mais estranhos filmes que já vi. Não há diálogo ou ação. A câmera mostra quadros, cenas, em que os atores posam com os objetos. Letreiros se intercalam com as cenas. Fala sobre a vida de um poeta armênio. Por exemplo, quando se fala da adolescência do poeta, o que vemos é um quadro onde o poeta posa com flores, bules e uma moça. As cenas do mosteiro são perturbadoras, em meio a todo esse hermetismo colorido, Paradjnov consegue algo próximo do hipnotismo. Se voce não dormir, pode ter uma experiência próxima do êxtase. Aliás, um critico inglês diz que ver o filme é como tomar ecstasy. O diretor foi preso na antiga URSS, acusado de homossexualismo, o filme, maldito, era raro. Hoje mora em qualquer locadora. Vale a pena? Vale. PS: porque o cinema russo é tão diferente??? Nota 7.
THOR de Kenneth Branagh
Dá pra imaginar os executivos da Paramount/Marvel falando: "è sobre Thor, sabe como é, deuses do norte...", "Ah... tipo Shakespeare?"....., "Tive uma ideia! Chama aquele cara que fala de Shakespeare!", 'OK! Chama o Laurence Olivier pra dirigir!"....."Chefe....ele já morreu...." E então meteram Branagh no projeto. Mas retiraram de Thor tudo o que ele tinha de 'mistico". Os gibis antigos, de Lee e Kirby parecem mais adultos que este filme. Nosso tempo, que tem medo de tudo que pareça simbólico, reduziu Thor a um tipo de estudante da UCLA mimado, e Odin a um dono de fábrica confuso. Asgaard se parece com Metrópolis, um tipo de cenário dos Jetsons mais metido a besta. Fizeram de Troia uma guerra sem deuses, agora Thor é um deus sem espirito!!!! Natalie Portman está no filme fazendo suas caras e bocas de sempre, e Anthony Hopkins é Odin. Porque? Shakespeare, chefe!!!!! Nota 1. O martelo é cool.
Superestimado. Há quem o considere genial, histórico, moderno etc. Pra mim ele é um noir confuso, maneiroso, fake. Os atores parecem não levar a sério a história sobre material suspeito roubado. O detetive é Mickey Spillane, mas tudo parece muito forçado e até mesmo tolo. Nota 1. ( tem boa foto ).
ANJOS DA BROADWAY de Ben Hecht com Douglas Fairbanks Jr e Rita Hayworth
É vendido como noir, mas é um drama orignal, cruel, pessimista, dirigido pelo bom escritor e grande roteirista Hecht. A chuva pontua a história sobre um malandro de terceira que tenta dar um golpe em jogo de poker. Um homem tolo e falido e uma prostituta se juntam a ele. O filme é cheio de erros, não tem ritmo, mas é corajoso e original. Parece feito muito depois de seu tempo, tem ar de filme dos anos 70. Nota 5.
SEM NOVIDADE NO FRONT de Lewis Milestone
Só vi dois filmes que mostram realmente o absurdo da guerra: este e Glória Feita de Sangue, de Kubrick. Existem outros grandes filmes de guerra, mas todos eles têm heróis, ou usam humor, ou enfeitam estéticamente o que é apenas horror. Aqui há o inferno. As cenas de batalha são como documentário, os homens parecem realmente com medo, parece que morrem de verdade. É um clássico que nada perdeu com o tempo. Talvez hoje até pareça melhor. Nota DEZ.
MÉDICA, BONITA E SOLTEIRA de Richard Quine com Natalie Wood, Tony Curtis, Henry Fonda, Lauren Bacall
Com esse elenco o filme consegue ser vazio. Fala maliciosamente sobre revista masculina que tenta desmoralizar psicóloga que escreve sobre sexo. Curtis é o repórter que tenta a seduzir, Natalie a tal autora. Fonda faz um vizinho casado e Bacall é sua esposa. O humor era "apimentado", hoje parece apenas bobo. Tipo de filme irremediavelmente velho. Nota 3.
UM CAMINHO PARA DOIS de Stanley Donen com Albert Finney e Audrey Hepburn
Com roteiro de Frederic Raphael, este é realmente um filme ambicioso. Mostra a vida de um casal em vários momentos. Todos são intercalados, sem aviso nenhum vamos do inicio ao fim, do meio ao inicio, do meio ao fim de novo. O que une esses episódios é o fato de todos se passarem em estradas da Europa. Ela o conhece como mochileiro na França, e o filme mostra suas outras viagens, no final já ricos e entediados. Há algo de muito doloroso no filme, apesar do toque leve de Donen. Finney está agressivo demais, e Audrey muito passiva, o casal tinha de naufragar. Donen usa técnicas de flash-back à nouvelle vague, não parece o mesmo diretor de Cantando na Chuva. O filme é bastante insatisfatório, mas longe de ser ruim. Nota 5.
REI LEAR de Michael Elliott com Laurence Olivier, John Hurt, Diana Rigg e Colin Blakely
Como filme ( na verdade é tele-teatro ) é ok. Os cenários são pequenos e a imagem de tv, pobre. Mas o texto de Shakespeare é não só respeitado como bem interpretado. É um filme-peça que nos arrasa. A dor se acumula, os erros se atropelam. A maldade perde, mas o bem nada ganha. Um apocalipse! Olivier dá majestade a seu Lear, ele é tolo, egoísta, cego, mas é também um Rei. Qualquer humano interessado em linguagem, texto e sentido deve assistir. Nota DEZ.
POTICHE de François Ozon com Catherine Deneuve e Gerard Depardieu
Esposa, em 1977, tem de assumir o controle dos negócios da familia quando o marido é afastado. Depois ele volta. Depardieu é um deputado de esquerda. O filme deveria ser engraçado. Não é. Ozon faz um festival de cenas flácidas, bobas, vazias, até mesmo desagradáveis em sua inabilidade. Roteiro sem porque, seria apenas uma brincadeira? Um modo de Ozon poder usar cenários e roupas de 1977? Nota Zero.
A COR DA ROMÃ de Sergei Paradjanov
Um dos mais estranhos filmes que já vi. Não há diálogo ou ação. A câmera mostra quadros, cenas, em que os atores posam com os objetos. Letreiros se intercalam com as cenas. Fala sobre a vida de um poeta armênio. Por exemplo, quando se fala da adolescência do poeta, o que vemos é um quadro onde o poeta posa com flores, bules e uma moça. As cenas do mosteiro são perturbadoras, em meio a todo esse hermetismo colorido, Paradjnov consegue algo próximo do hipnotismo. Se voce não dormir, pode ter uma experiência próxima do êxtase. Aliás, um critico inglês diz que ver o filme é como tomar ecstasy. O diretor foi preso na antiga URSS, acusado de homossexualismo, o filme, maldito, era raro. Hoje mora em qualquer locadora. Vale a pena? Vale. PS: porque o cinema russo é tão diferente??? Nota 7.
THOR de Kenneth Branagh
Dá pra imaginar os executivos da Paramount/Marvel falando: "è sobre Thor, sabe como é, deuses do norte...", "Ah... tipo Shakespeare?"....., "Tive uma ideia! Chama aquele cara que fala de Shakespeare!", 'OK! Chama o Laurence Olivier pra dirigir!"....."Chefe....ele já morreu...." E então meteram Branagh no projeto. Mas retiraram de Thor tudo o que ele tinha de 'mistico". Os gibis antigos, de Lee e Kirby parecem mais adultos que este filme. Nosso tempo, que tem medo de tudo que pareça simbólico, reduziu Thor a um tipo de estudante da UCLA mimado, e Odin a um dono de fábrica confuso. Asgaard se parece com Metrópolis, um tipo de cenário dos Jetsons mais metido a besta. Fizeram de Troia uma guerra sem deuses, agora Thor é um deus sem espirito!!!! Natalie Portman está no filme fazendo suas caras e bocas de sempre, e Anthony Hopkins é Odin. Porque? Shakespeare, chefe!!!!! Nota 1. O martelo é cool.
brilhante, feliz, exultante: TOM JONES de Richardson
Sim meus meninos. Eu espero a trinta anos para poder assistir TOM JONES, este famoso e sumido filme de 1963, que venceu, mesmo sendo 100% inglês, os principais Oscars daquele ano ( filme, direção e roteiro ). Albert Finney infelizmente perdeu para Sidney Poitier, mas depois eu falo disso.
Você sabe que quando a gente espera tanto tempo por alguma coisa a chance de se decepcionar é enorme. Mas hoje tal coisa não aconteceu. Finalmente saiu o dvd e finalmente pude ver o tal filme. A única tristeza foi a de não ser uma versão restaurada. Mas vale!!!
Nesse tempo todo eu pude ler o livro de Henry Fielding. É de 1749 e é um dos livros chave do nascimento do romance moderno. Pois o romance precisou ser inventado, não pense que o homem sempre fez romances. Livro era coisa para religião, história, filosofia e poesia. Talvez DOM QUIXOTE já fosse um romance, mas isso é discutível. De qualquer modo, o livro é aquela coisa típica de seu tempo. É livre, picaresco, sensual, muito fantasioso, e crítico. Delicioso. E infilmável por sua abrangência.
Tony Richardson resolveu tentar. Ele era um jovem diretor da moda, no auge da fama, na Londres em seu último apogeu. Deixe eu dizer : deve ter sido super ter 20 anos na Londres de 63. Sabe como é... Beatles, Stones, Kinks, Who, Yardbirds, Them, Pretty Things, Small Faces, Mayall, Spencer Davis. As minissaias, Carnaby Street. Você tinha o melhor teatro do mundo, a melhor poesia, os pintores mais quentes, e os romancistas mais interessantes. Tudo estava em Londres!!!! E ainda ganharia a copa do mundo de futebol em 66 ! E no cinema você tinha acabado de criar o mais famoso herói do mundo ( Bond ), possuía os melhores atores e agora ( chorem franceses ! ) tinha diretores como Anderson, Reisz, Schlesinger e Boorman. E este Richardson, este jovem irado, que chamou então John Osborne para escrever o roteiro. Pra quem não sabe, Osborne era ao lado de Pinter, o grande nome do novo teatro. O roteiro deste filme é a tradução, moderna e bem-humorada, da Inglaterra de 1749, e da Grã-Bretanha de 63, a ilha que ainda tinha Jim Clark e George Best. ( Um escocês e um irlandês. Mas faziam parte da cena ).
O filme é uma ode à juventude. Ele brilha em exuberância, em alegria de viver. É profunda e absolutamente feliz. Seria impossível de ser feito hoje; tanta alegria ingênua nos ofende.
Há uma famosa cena de caçada que realmente merece toda sua fama. Nos sentimos dentro da caça e percebemos que os atores realmente se divertem com ela. Aliás, Richardson joga tudo para nos divertir. O filme tem uma profusão de cenas de brigas, duelos, namoros eróticos, correrias, fugas e bebedeiras. A câmera, às vezes trêmula, usada na mão ( achaste que fosse invenção recente ? ), às vezes voando em avião, outras correndo em trilho, em closes, em panorâmicas. Certas imagens são congeladas, e em outras os atores falam conosco. E tem uma maravilhosa cena em que Tom e uma mulher comem à mesa se seduzindo, porca e desajeitadamente, que vale seu Oscar. Aliás, esqueça os bonitinhos filmes de época, geralmente feitos com Kate Winslet ou Keira Knightley. Este filme se aproxima do que deve ter sido a vida em 1749. Ele é sujo, exagerado, desajeitado, obcecado por sexo e deliciosamente despudorado.
Tom é Albert Finney, ator da brilhante geração de Peter O'Toole, Terence Stamp, Sean Connery, Michael Caine, John Hurt, Alan Bates e Peter Finch. Formado na tradição teatral britânica ( muito jovem o ator já enfrentou de Shakespeare a Shaw, de Wilde a Beckett ), Finney passa uma coisa muito difícil para quem já tentou atuar : felicidade de se estar atuando. Ele flutua em cenas burlescas, passa todo o filme sendo chamado de "belo" e comendo todas as mulheres, mas nunca o vemos como vaidoso ou maldoso, Finney cria um personagem que é feito de jovialidade, alegria e fé em sí mesmo. Representa a jovem Inglaterra, ainda virgem do cinismo enfadonho de 1880.
Você, jovem imberbe, deve conhecer Finney do filme que deu o Oscar a Julia Roberts. Ele era o advogado que a ajuda. Esteve no policial de Lumet, aquele do ano passado. Fez o tio boa-vida de Russel Crowe no ruim filme de Ridley Scott. E principalmente : Albert Finney foi o pai, que nada mais é que um Tom Jones ancião, no Peixe Grande de Tim Burton. ( E agora eu percebo que Burton o chamou como homenagem a seu Tom. )
Mas o filme tem mais. Hugh Griffith como o chacareiro vizinho, sempre às voltas com suas caçadas, seus bichos e seus palavrões; tem a histórica Edith Evans, aquela que Olivier considerava a maior atriz da história, com cenas e frases de uma comicidade irresistível. Ninguém, jamais, pronunciou a língua inglesa como ela. Sua presença é solar. Mas há ainda Susannah York, a linda Susannah, atriz com quem eu queria casar aos 12 anos. Ela é tudo o que imaginamos que deva ser uma heroína de romance.
E então, após um milhão de voltas, de idas e de outras idas, o filme termina como deve terminar. E eu penso, após três décadas de espera, que se eu tivesse visto o filme aos 12 anos, ele teria sido meu filme favorito por muito tempo.
O que me resta é agradecer ao inventor do dvd.
Se você for assistir este filme já lhe aviso : não é arte. Guarde a arte para os artistas. É um filme para se divertir, para se admirar, para sorrir. Para gostar dele é preciso apenas uma coisa : um espírito leve e jovial. Eis um filme que se fosse gente eu chamaria de amigo. Prazer o conhecer.
Você sabe que quando a gente espera tanto tempo por alguma coisa a chance de se decepcionar é enorme. Mas hoje tal coisa não aconteceu. Finalmente saiu o dvd e finalmente pude ver o tal filme. A única tristeza foi a de não ser uma versão restaurada. Mas vale!!!
Nesse tempo todo eu pude ler o livro de Henry Fielding. É de 1749 e é um dos livros chave do nascimento do romance moderno. Pois o romance precisou ser inventado, não pense que o homem sempre fez romances. Livro era coisa para religião, história, filosofia e poesia. Talvez DOM QUIXOTE já fosse um romance, mas isso é discutível. De qualquer modo, o livro é aquela coisa típica de seu tempo. É livre, picaresco, sensual, muito fantasioso, e crítico. Delicioso. E infilmável por sua abrangência.
Tony Richardson resolveu tentar. Ele era um jovem diretor da moda, no auge da fama, na Londres em seu último apogeu. Deixe eu dizer : deve ter sido super ter 20 anos na Londres de 63. Sabe como é... Beatles, Stones, Kinks, Who, Yardbirds, Them, Pretty Things, Small Faces, Mayall, Spencer Davis. As minissaias, Carnaby Street. Você tinha o melhor teatro do mundo, a melhor poesia, os pintores mais quentes, e os romancistas mais interessantes. Tudo estava em Londres!!!! E ainda ganharia a copa do mundo de futebol em 66 ! E no cinema você tinha acabado de criar o mais famoso herói do mundo ( Bond ), possuía os melhores atores e agora ( chorem franceses ! ) tinha diretores como Anderson, Reisz, Schlesinger e Boorman. E este Richardson, este jovem irado, que chamou então John Osborne para escrever o roteiro. Pra quem não sabe, Osborne era ao lado de Pinter, o grande nome do novo teatro. O roteiro deste filme é a tradução, moderna e bem-humorada, da Inglaterra de 1749, e da Grã-Bretanha de 63, a ilha que ainda tinha Jim Clark e George Best. ( Um escocês e um irlandês. Mas faziam parte da cena ).
O filme é uma ode à juventude. Ele brilha em exuberância, em alegria de viver. É profunda e absolutamente feliz. Seria impossível de ser feito hoje; tanta alegria ingênua nos ofende.
Há uma famosa cena de caçada que realmente merece toda sua fama. Nos sentimos dentro da caça e percebemos que os atores realmente se divertem com ela. Aliás, Richardson joga tudo para nos divertir. O filme tem uma profusão de cenas de brigas, duelos, namoros eróticos, correrias, fugas e bebedeiras. A câmera, às vezes trêmula, usada na mão ( achaste que fosse invenção recente ? ), às vezes voando em avião, outras correndo em trilho, em closes, em panorâmicas. Certas imagens são congeladas, e em outras os atores falam conosco. E tem uma maravilhosa cena em que Tom e uma mulher comem à mesa se seduzindo, porca e desajeitadamente, que vale seu Oscar. Aliás, esqueça os bonitinhos filmes de época, geralmente feitos com Kate Winslet ou Keira Knightley. Este filme se aproxima do que deve ter sido a vida em 1749. Ele é sujo, exagerado, desajeitado, obcecado por sexo e deliciosamente despudorado.
Tom é Albert Finney, ator da brilhante geração de Peter O'Toole, Terence Stamp, Sean Connery, Michael Caine, John Hurt, Alan Bates e Peter Finch. Formado na tradição teatral britânica ( muito jovem o ator já enfrentou de Shakespeare a Shaw, de Wilde a Beckett ), Finney passa uma coisa muito difícil para quem já tentou atuar : felicidade de se estar atuando. Ele flutua em cenas burlescas, passa todo o filme sendo chamado de "belo" e comendo todas as mulheres, mas nunca o vemos como vaidoso ou maldoso, Finney cria um personagem que é feito de jovialidade, alegria e fé em sí mesmo. Representa a jovem Inglaterra, ainda virgem do cinismo enfadonho de 1880.
Você, jovem imberbe, deve conhecer Finney do filme que deu o Oscar a Julia Roberts. Ele era o advogado que a ajuda. Esteve no policial de Lumet, aquele do ano passado. Fez o tio boa-vida de Russel Crowe no ruim filme de Ridley Scott. E principalmente : Albert Finney foi o pai, que nada mais é que um Tom Jones ancião, no Peixe Grande de Tim Burton. ( E agora eu percebo que Burton o chamou como homenagem a seu Tom. )
Mas o filme tem mais. Hugh Griffith como o chacareiro vizinho, sempre às voltas com suas caçadas, seus bichos e seus palavrões; tem a histórica Edith Evans, aquela que Olivier considerava a maior atriz da história, com cenas e frases de uma comicidade irresistível. Ninguém, jamais, pronunciou a língua inglesa como ela. Sua presença é solar. Mas há ainda Susannah York, a linda Susannah, atriz com quem eu queria casar aos 12 anos. Ela é tudo o que imaginamos que deva ser uma heroína de romance.
E então, após um milhão de voltas, de idas e de outras idas, o filme termina como deve terminar. E eu penso, após três décadas de espera, que se eu tivesse visto o filme aos 12 anos, ele teria sido meu filme favorito por muito tempo.
O que me resta é agradecer ao inventor do dvd.
Se você for assistir este filme já lhe aviso : não é arte. Guarde a arte para os artistas. É um filme para se divertir, para se admirar, para sorrir. Para gostar dele é preciso apenas uma coisa : um espírito leve e jovial. Eis um filme que se fosse gente eu chamaria de amigo. Prazer o conhecer.
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