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O EGOÍSTA - GEORGE MEREDITH. O FEMINISMO
Este lindo e longo romance, publicado em 1879, vitoriano portanto, nos surpreende por dois motivos: Primeiro por defender abertamente o direito de uma mulher, o que na época não era tão comum na Inglaterra; e Segundo pelo fato de Meredith não ser citado como um autor moderno. George Meredith fez sucesso em vida e hoje é ainda famoso o bastante para ser editado no Brasil em pleno século XXI, mas não é lembrado ao lado de Ibsen ou Tolstoi como um autor psicólogo que olha a alma da mulher. ----------------------------- Não há dramalhão aqui, nada de lágrimas, o que é um alívio! O autor conta tudo de forma elegante, de certo modo aristocrático. Willoughby é o egoísta do título. Rico e de sangue azul, ele vive no campo, pois Londres transforma todos em anônimos. Noivo de Clara, ele a ama porque ela "é como ele é", são "almas irmãs", e para ele o mundo de fora não deve "manchar seu amor de anjos". Willoughby nunca percebe o quanto seu amor é egoísta. Os elogios a sufocam, os presentes a deixam com medo, ele se dedica à ela todo o tempo, mas logo percebemos que todo seu amor é o mesmo que se tem por uma posse. É um amor que faz com que Willowghby se sinta maior, mais poderoso e mais bonito. Inexiste nesse amor, que é sincero e real, o desejo de saber quem Clara é. Tudo que se deseja é a agradar. ------------------------------ Clara começa a se afundar em tédio e medo e logo rompe o noivado. Não é um romance russo, então ela não se mata. E não é um romance francês, então ela não arruma um amante. É inglês, ou seja, tudo é temperado com algum humor, muita finésse e sem cenas de trovões e lágrimas frias. Willoughby não é trágico, é ridículo, e Clara não é uma heroína, é apenas uma criança confusa. Mas é inteligente, e percebe a armadilha onde se meteu. Willoughby exige de todos, parentes, amigos e empregados, dedicação total, em troca ele os amará a seu modo: cuidando deles. Clara percebe que o amor de Willoughby é compra, é coleção de objetos raros, é produto com preço. ------------------ Ao lado dos dois há uma boa constelação de personagens interessantes. Desde ex namoradas de Willoughby ( todas o decepcionaram ), até eruditos que tentam não se envolver. Para definir esta obra basta uma palavra: tudo é Interessante. E divertido também. Ler um autor que escreve bem é um prazer sem preço.
O EGOÍSTA - GEORGE MEREDITH...ESSA COISA TÃO INGLESA...
Há um capítulo, neste longo romance, em que se homenageia o vinho do Porto. Odes e belas frases são ditas à esse vinho, o favorito pelos homens de gosto. E o único que melhora com o tempo. Por isso, é um vinho "conservador". Lendo esse ótimo capítulo tomos consciência de que o Porto é um símbolo da velha e alegre Inglaterra, símbolo tão forte como o fog. o guarda-chuva, a pontualidade, o chá e o livro de mistério. Outra ideia vem em sequência: o romance, em que pese a birra dos franceses, é também uma coisa bem "velha Inglaterra".
Aprendi com professores menos francófilos, que o romance foi inventado na Inglaterra do século XVIII e que Robinson Crusoe é o livro que dá forma àquilo que se produz até hoje. O romance é pensado como passatempo para pessoas razoavelmente instruídas ( as bem instruídas leriam poesia ), com tempo livre e algum dinheiro. Isso se mantém ainda, talvez hoje com o adendo de que o romance deve ter "alguma utilidade". Bem....lendo um romance como este, escrito pelo popular George Meredith, autor de fins do século XIX, sentimos como esse ato cotidiano de ler um longo romance se mescla ao estilo de vida britânico caseiro e conservador. Pois é nesse tempo, o vitoriano, que se instaura a noção do "Home sweet Home", o lar como castelo do homem e da mulher, paraíso a ser herdado pelos filhos, fortaleza contra o mundo hostil. É nesse mundo, de charutos, lareira e bibelôs, de biblioteca e sofás de couro, que se faz a cisão entre mundo de fora e mundo de dentro. Sentar-se à janela, confortavelmente, com um cão aos pés, lendo Meredith, ou Hardy, ou Doyle, é fazer parte desse lar vitoriano. Esse mundo, destruído na precariedade do mundo mutável de hoje, ainda respira na lembrança de filmes históricos e em novas ondas tipo Harry Potter e que tais.
Dito isso, O Egoísta é uma crítica ao tipo de dono de terras de nariz empinado, autoconfiante, duro, compenetrado. Um deles se torna noivo de uma linda moça, Clara, e descrê que ela possa não o amar e o obedecer. Mas Clara percebe sua vaidade, seu egoísmo, sua pose e tenta desfazer esse noivado. Clara, personagem que lembra as heroína de Henry James, é uma proto feminista. Quer ser livre. Livre para viver. O romance, todo ambientado nas terras do egoísta, é a história desse jogo de pensamentos e interesses, medos e vaidades. Meredith, profissional, competente, se dá um trabalho e o cumpre. Mostra à classe média o limite afetivo da classe alta. É uma delicia de leitura.
Aprendi com professores menos francófilos, que o romance foi inventado na Inglaterra do século XVIII e que Robinson Crusoe é o livro que dá forma àquilo que se produz até hoje. O romance é pensado como passatempo para pessoas razoavelmente instruídas ( as bem instruídas leriam poesia ), com tempo livre e algum dinheiro. Isso se mantém ainda, talvez hoje com o adendo de que o romance deve ter "alguma utilidade". Bem....lendo um romance como este, escrito pelo popular George Meredith, autor de fins do século XIX, sentimos como esse ato cotidiano de ler um longo romance se mescla ao estilo de vida britânico caseiro e conservador. Pois é nesse tempo, o vitoriano, que se instaura a noção do "Home sweet Home", o lar como castelo do homem e da mulher, paraíso a ser herdado pelos filhos, fortaleza contra o mundo hostil. É nesse mundo, de charutos, lareira e bibelôs, de biblioteca e sofás de couro, que se faz a cisão entre mundo de fora e mundo de dentro. Sentar-se à janela, confortavelmente, com um cão aos pés, lendo Meredith, ou Hardy, ou Doyle, é fazer parte desse lar vitoriano. Esse mundo, destruído na precariedade do mundo mutável de hoje, ainda respira na lembrança de filmes históricos e em novas ondas tipo Harry Potter e que tais.
Dito isso, O Egoísta é uma crítica ao tipo de dono de terras de nariz empinado, autoconfiante, duro, compenetrado. Um deles se torna noivo de uma linda moça, Clara, e descrê que ela possa não o amar e o obedecer. Mas Clara percebe sua vaidade, seu egoísmo, sua pose e tenta desfazer esse noivado. Clara, personagem que lembra as heroína de Henry James, é uma proto feminista. Quer ser livre. Livre para viver. O romance, todo ambientado nas terras do egoísta, é a história desse jogo de pensamentos e interesses, medos e vaidades. Meredith, profissional, competente, se dá um trabalho e o cumpre. Mostra à classe média o limite afetivo da classe alta. É uma delicia de leitura.
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