MÚSICA RUIM E FILMES COMUNS

Estava com uns amigos conversando, quando de repente eu falei: Incrível como a música hoje é tão ruim, tão constrangedora, que aquilo que antes parecia muito ruim, hoje parece uma coisa tão boa. Dei um exemplo cantando: " Sai da minha aba sai pra lá...." Sim, citei o SPC, Só Pra Contrariar. -------------------- Imediatamente vieram à cabeça canções como Pimpolho, Carrinho de Mão, Haja Amor. Luiz Caldas e Salgadinho pareciam ser muito bons. É saudosismo? Sim, é. ( Apesar que as pessoas que estavam comigo variavam entre os 30 e os 35 anos, ou seja, em 1995 elas eram bebês ). ---------------- Não é apenas saudosismo. É questão de comparação. As letras se esforçavam para ter alguma beleza e a alegria era genuína. Pablo Vittar, DJ qualquer coisa, MC qualquer "inho" ou a nova cantora top não são alegres, são histéricos. Eles fingem alegria em meio ao desespero. É uma euforia agressiva, violenta, pornográfica, alegria em que os dentes não surgem em sorriso, eles surgem em mordidas. -------------- O pagode dos anos de 1990 procurava a alegria e a malandragem sem crime, e o sertanejo tentava atingir a verdade do peão. Filhos de um país que ainda ensinava a ler e a escrever, eles conseguiam falar alguma coisa. A realidade era narrada em forma de anedota. Ouvindo agora, em meio a tanto lixo, é isso que percebemos: eles sabiam falar. -------------------- A música que os substituiu não diz mais nada. A voz, sempre balbuciante, repete ao infinito um refrão que não faz sentido nenhum. Nada narram porque nada conseguem observar. Desprovidos de linguagem verbal, tudo que eles fazem é afirmar sensações primárias. " Tou louco", " Estou com desejo", "Quero voce", "Vamos transar". Usando uma lingiagem ainda mais simples que aquela que escrevi, eles nada mais têm a dizer. São apenas animais que se guiam pelo instinto geral. -------------------- No pagode de 95 havia um esforço para narrar. O Pimpolho é uma personagem maravilhosa e a Abelha que deseja pousar na sua Flor é um conto malicioso. A alegria nascia no prazer de se descrever. Eram letrados. ------------------------- Na música feita nos USA ou na Europa se dá o mesmo. Por isso que hoje qualquer rock star dos anos 70, mesmo os mais banais em seu tempo, aqueles que nós detestávamos, parecem ser cool. Falo de ABBA, de DR HOOK, de DOOBIE BROTHERS, de Barry White, Hall and Oates, entre centenas. Nomes que em 1978 eram chamados de brega, lixo, dejetos, primários, e que hoje parecem ser " o cara". Porque isso aconteceu? --------------------- Nas linhas de Kiss you all over-Exile, ou de When you are in love with a beautiful woman - Dr Hook, o que se vê é uma letra que conta alguma coisa, que descreve algo e melodias feitas com extremo profissionalismo. Não esqueçamos: na época dos grandes estúdios de gravação, para uma canção ser gravada era preciso ser muito profissional. Daí a valorização daquilo que era desprezado então. Perto das canções de 2023, refrões que se repetem ao infinito, sem arranjos, sem desenvolvimento, sem introdução, uma coisa banal como Dancing Queen passa a ter ares de arte Pop. ----------------- Não se engane. Em 1978 ABBA era lixo escutado por tias sem gosto. Pop de bom nível era Elton John e Paul Simon. Donna Summer e Grace Jones não eram nem mesmo consideradas. Eram música para quem não ligava para música. ---------------------- Voce pode dizer o mesmo sobre o cinema. Filmes comuns em 1974 são tratados hoje como arte e filmes muito ruins se tornaram cult. Por que? Não se engane. O motivo se deve ao muito, muito baixo padrão deste século.