AQUELE DISCO DO ROBERTO...
Roberto Carlos, o disco de 1971. Eleito pelo povo que lia a Rolling Stone, uma dos 5 grandes discos. Ouço-o após mais de 40 anos sem o escutar inteiro. Tanto tempo longe, preconceito meu? O de 1967 ouço de vez em quando, sem problemas, é um dos discos da minha vida. Vamos ouvir este aqui.
Primeira coisa que salta aos ouvidos: músicos excelentes. Principalmente o baixo. E a voz, claro. Roberto é um grande, grande cantor. Ele consegue mudar o tom de uma frase no meio da emissão, sem tomar fôlego. Entre 67-73 ele era O CARA. Depois resolveu substituir a canção POP brasileira por um tipo de versão tupi de Julio Iglesias. RC teimou em correr na raia de Julio e de Manolo Otero, Sergio Endrigo e que tais. Perdeu seu estilo. A orquestra sem sabor comeu tudo. Não é o caso aqui. Detalhes, uma obra prima irretocável, abre o LP. Magia: a letra fala de dor, de vingança, mas a melodia é leve, suave, bonita. Uma canção que mesmo tão consumida ainda revela frescor. Original ao extremo. Depois a banda toma rumo e voa em Dois e Dois, uma intepretação soul music ao nivel do Tim Maia. Um hiper hit em 1971. A Namorada é lembrança da jovem guarda, que então ele já meio que negava. RC fazia 30 anos e não temia ser mais velho. Voce Não Sabe O Que Vai Perder é a canção das rádios mais populares. RC nunca foi cafona, mais seus concorrentes eram. Esta canção, velha, a cara da rádio Tupi de 1971, lembra Paulo Sérgio, Marcos Roberto, Wanderley Cardoso, as vozes que ficavam a milhas de RC mas que sonhavam em atingir sua finesse. Traumas é onde ele fala do acidente de quando foi criança. Deprê assumido e sem frescura. Todos Estão Surdos tem uma das melhores linhas de baixo da história. Paulo César do Renato e seus Blue Caps sabia tudo. Uma obra prima de swing, black music de primeira. Depois tem Debaixo dos Caracois, canção que eu ouvia durante todo ano de 71 ao acordar. Minha ouvia no quarto. Não há como eu não lembrar. Mas, abstraindo a nostalgia, ela é linda. A voz de RC é doce. Se Eu Partir, de Tanto Amor, são Okays, mas a coisa pega fogo em De Tanto Amor. É dificil lembrar canção de dor de cotovelo mais bonita que esta. A melodia, logo no início, atinge o coração em cheio. RC canta como um anjo. É uma letra que expressa o amor cortês em sua clave frustrada. Eis a alma de RC aqui. UM rei triste. Amada Amante foi um single que minha mãe comprou na época. Ela ouvia dez, onze vezes seguidas. Eu ouvia junto.
RC foi na época o canto mais vendido do Brasil. Então, se voce quer comparar sua qualidade artísitica, compare com Ivete, Teló ou Anitta. Mas além de ser o maior vendedor, ele era a melhor voz. Então o compare com....Leonardo? Como aconteceu com Beatles, RC uniu em si três tipos de artista: o maior vendedor, o melhor cantor e o símbolo de uma época. Nunca mais tudo se uniu em um cara só. Nem aqui e nem lá fora no mundo pós Beatles.
Crescer tendo esse tipo de canção como onipresente em radio e TV fez de minha geração incuráveis romanticos. Não reclamamos disso não. RC é imortal.